EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE VACAS COM PROPIONATO DE CÁLCIO
NA DIETA SOBRE A GLICEMIA, PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE
Luiz Romulo Alberton1, Maurício Fanin2; Márcio Oro3 Robson Savanhago3; William
Del Conte Martins2
1 Médico Veterinário, Professor Titular do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Paranaense ([email protected])
2 Alunos do Programa de Mestrado em Ciência Animal da Universidade
Paranaense
3 Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária da Unipar
Rod. BR 480 km 14, CEP 87.502-970.Brasil.
Recebido em: 30/09/2013 – Aprovado em: 08/11/2013 – Publicado em: 01/12/2013
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da suplementação com Propionato de
Cálcio (PC) na dieta de vacas em lactação, sobre o Extrato Seco Total (EST),
Extrato Seco Desengordurado (ESD), Gordura, Proteína, Densidade, Glicemia
(mg/dL) e Produção de leite (Kg) ajustada para 3,5% de gordura (PLA3,5%). Foram
utilizadas 12 vacas da raça Holandesa em três fases distintas da lactação. As
amostras de leite foram colhidas durante 12 dias para controle, seguidos por mais 12
dias de fornecimento de PC. As colheitas foram realizadas pela manhã em dias
alternados, analisadas mecanicamente por ultrassom, e glicemia medida através de
tiras em glicosímetro. Não houve diferença estatística para as porcentagens de EST.
A inclusão de PC incrementou significativamente (p<0,01) os níveis de ESD. A
adição de PC incrementou significativamente (p<0,01) os níveis de proteína em
animais que se encontravam nos terços inicial e médio da lactação. A densidade do
leite em animais no terço inicial e médio de lactação foi significativamente maior
(p<0,05) no período de suplementação com PC. A PLA 3,5% foi significativamente
maior no período de fornecimento de PC. Com relação à glicemia (mg/dL), o PC
induziu à níveis glicêmicos significativamente menores (p<0,01). Houve correlação
negativa entre o teor de ESD e a Glicemia (p<0,01); já com relação a PLA3,5% e
glicemia houve também correlação negativa, embora não significativa. Conclui-se
que a suplementação com PC em dietas de vacas em lactação aumenta
significativamente os teores no leite de ESD, proteína e densidade além de
promover aumento na produção diária.
PALAVRAS-CHAVES: ácido propiônico, lactação, qualidade do leite, vacas
EFFECTS OF SUPPLEMENTATION OF COW DIET WITH CALCIUM
PROPIONATE ON BLOOD GLUCOSE, MILK PRODUCTION AND COMPOSITION
ABSTRACT
The aim of this paper is to evaluate the effect of supplementation with Calcium
Propionate (CP) on the diet of dairy cows on the Total Dry Extract (TDE), Nonfat Dry
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Extract (NDE), Fat, Protein, Density, Glycemia (mg/dL) and Milk production (Kg)
adjusted to 3.5% fat (PLA3.5%). A total of 12 Holstein cows were used in three
different lactation phases. The milk samples were collected during 12 days for
control, followed by further 12 days of CP supplementation. The collections were
performed in the morning in alternate days, then were mechanically analyzed by
ultrasound, and had glycemia measured with glucometer strips. There were no
statistical differences for the TDE percentages. The inclusion of CP significantly
increased (p<0.01) TDE levels. The addition of CP significantly increased (p<0.01)
protein levels in animals that were in the early and middle lactation thirds. Milk
density in animals in the early and middle lactation thirds was significantly higher
(p<0.05) during the period of CP supplementation. PLA 3.5% was significantly higher
during the period of CP supplementation. Regarding glycemia (mg/dL), CP induced
significantly lower glycemic levels (p<0.01). There was a negative correlation
between NDE and Glycemia (p<0.01); yet, when considering PLA3.5% and glycemia,
there also was a negative correlation, although not significant. It can be concluded
that CP supplementation in the diets of dairy cows significantly increases the content
of NDE, protein and density in milk, as well as promoting an increase in daily
production.
KEYWORDS: propionic acid, cows, milk quality, lactation
INTRODUÇÃO
Com todas as expectativas de crescimento na produção de leite mundial e
principalmente nacional, devem ser considerados alguns fatores, não só
aumentando a quantidade, mas também a qualidade do leite. Com esta visão foi
elaborado o Plano Nacional de Qualidade do Leite (PNQL). Neste sentido, foi
publicada a instrução normativa (IN) n° 51, na qual se definiram regulamentos
técnicos para a produção, identidade, qualidade, coleta e transporte dos diversos
tipos de leite. Esta normativa foi editada pelo MAPA - Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, em setembro de 2002, e entrou em vigor em julho de
2005 nas regiões sul, sudeste, e centro-oeste do País, que recentemente foi
substituída pela IN 62 em 01 de janeiro de 2012 (NAKAMURA et al., 2012).
Para o pagamento do leite, muitos países priorizaram o teor de gordura,
levando em conta a demanda de manteiga. Hoje devido à mudança na utilização do
leite de 30% para o queijo e 15% para o leite em pó, e também, pela redução do
consumo de produtos com gordura, o pagamento está sendo feito sobre o teor
protéico, pois alguns países, além da qualidade higiênica, já adotaram como
referência o extrato seco desengordurado (IBARRA, 2010).
O leite é formado por 87% de água; 13% de sólidos totais ou extrato seco
total (Proteínas 3,5%; Lactose 4,8%; Gordura 4,0% e Minerais 0,7%). A lactose é o
principal glicídio do leite. É um dissacarídeo composto pelos monossacarídeos Dglicose e D-galactose. A glicose que a vaca necessita como precursor para a síntese
de lactose é oriunda da fermentação de carboidratos pelo rúmen formando os ácidos
graxos voláteis: acético, propiônico e butírico, para depois ser produzida no fígado
pela neoglicogênese, principalmente pelo metabolismo do ácido propiônico e de
alguns aminoácidos, já a galactose, é originada da própria glicose. Para a formação
de uma molécula de lactose, ocorre uma ligação de uma molécula de glicose e outra
de galactose, que é feita pela enzima lactose sintetase. A secreção de lactose
dentro do lúmen alveolar causa a entrada de água, exercendo importante controle
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de volume de leite. Cada micrograma de lactose do leite arrasta aproximadamente
10 vezes o peso em água. Por isso a lactose é um dos principais determinantes do
volume do leite, pois ela representa 50% da pressão osmótica controlando a entrada
de água no leite (FONSECA & SANTOS, 2000).
Já a gordura do leite é composta principalmente por triglicerídeos, que
são formados por ácidos graxos ligados ao glicerol (98% da gordura total),
originados essencialmente pelo acetato e butirato produzidos pela fermentação
ruminal. Esses triglicérides presentes no leite são sintetizados nas células epiteliais
da glândula mamária, sendo que os ácidos graxos que compõem esses
triglicerídeos podem vir de duas fontes: a partir de lipídeos de origem do sangue e
pela síntese nas células epiteliais. Aproximadamente 25% dos ácidos graxos do leite
são derivados da dieta e 50% do plasma sanguíneo. O resto é elaborado na
glândula mamária a partir de precursores, principalmente de acetato (FONSECA &
SANTOS, 2000; GONZÁLES et al., 2001).
As proteínas representam entre 3% e 4% dos sólidos encontrados no
leite. A proteína como a gordura tem um potencial de variação muito grande, sempre
que o percentual de gordura sobe no leite a proteína também é influenciada a subir
(BLOCK, 2000).
Existem vários tipos de proteínas no leite, sendo a principal, a caseína
(que perfaz cerca de 80% das proteínas lácteas), apresenta alta qualidade
nutricional e é muito importante na fabricação dos queijos. A caseína constitui 77%
do nitrogênio total ou 82% da proteína verdadeira (BLOCK, 2000).
A proteína do leite é sintetizada na glândula mamária a partir de
precursores transportados no sangue. Parte das albuminas e das imunoglobulinas é
transferida diretamente do sangue. Os aminoácidos são os principais precursores
utilizados para sintetizar a proteína do leite (CHASE & OVERTON, 2011). A caseína
do leite é secretada pelas células alveolares na forma de micelas, que são
agrupamentos de várias moléculas de caseína ligadas a íons, como o fosfato de
cálcio. As proteínas do soro são aquelas que estão solúveis na água presente no
leite; ao contrário da caseína que se encontra em suspensão na forma de micelas.
As proteínas do soro incluem aquelas específicas que são encontradas no próprio
soro e aquelas que também estão presentes no sangue que são elas: αlactoalbumina (responsável pela síntese de lactose) β-lactoglobulina, albumina,
imunoglobulina (função imunológica), lactoferrina (carreador de ferro),
ceruloplasmina (carreador de cobre), prolactina (Hormônio), lactogênio placentário
(Hormônio). A composição das proteínas do leite em relação à proteína total é
respectivamente de 19% de proteínas do soro, 45% de α-caseína, 24% de βcaseína, e 12% de κ-caseína (FONSECA & SANTOS, 2000).
A densidade é o peso específico do leite, determinado por dois grupos de
substâncias: de um lado a concentração de elementos em solução e suspensão e de
outro lado a porcentagem de gordura. Como a água apresenta densidade de 1 g/mL,
a gordura possui densidade abaixo desse valor, e a densidade do sólido nãogorduroso apresenta valores superiores, a densidade final do leite depende do
balanço desses componentes. Os valores normais médios de densidade situam-se
entre 1,028 a 1,032 g/mL, no entanto variações individuais normais podem ser
observadas, com valores entre 1,024 e 1,036 g/mL. O teste da densidade pode ser
útil na detecção de adulteração do leite, uma vez que a adição de água causa
diminuição da densidade, enquanto a retirada de gordura resulta em aumento da
densidade (GONZÁLES et al., 2001).
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Muitos fatores podem ser extremamente importantes no que respeito à
variação de qualidade e quantidade de leite, os fatores são de ordem fisiológica,
hereditária e ecológica. A composição do leite pode variar conforme a raça do
animal, práticas de ordenha, diferenças entre os quartos do úbere, variações durante
o período de lactação, nutrição, épocas do ano, idade e número de parições,
variações climáticas, doenças e idade do animal. Neste sentido NAKAMURA et al.,
(2012) analisando a correlação das variáveis climáticas e a qualidade do leite
encontraram efeito negativo das altas temperaturas sobre os sólidos totais do leite.
Já NOBREGA & LANGONI (2011) estudando o desempenho de vacas
Jersey e Holandesa, descreveram que os níveis de gordura, proteína, sólidos totais
e produção leiteira foram influenciados tanto pela raça como pela estação,
apresentando tendências similares para ambas raças em ambas estações.
Outra pesquisa realizada com vacas em lactação, analisando a produção
e a composição do leite onde a dieta continha diferentes níveis de farelo de algodão
de alta energia em substituição ao farelo de soja. A substituição do farelo de soja
pelo farelo de algodão não influenciou a eficiência de utilização e o balanço de
nitrogênio, ou o teor de nitrogênio uréico no leite e de nitrogênio uréico no soro. A
produção média de leite (14,03 kg/dia) e a produção média de leite corrigida para
3,5% de gordura (14,68 kg/dia) não foram influenciadas pelos níveis de farelo de
algodão alta energia na dieta nem houve diferença na eficiência alimentar (ALVES et
al., 2010).
PEREIRA & SERAFIM (2012) comparando o uso de ionóforos com o uso
do PC já formulado em sal, mostraram que os ionóforos agem suprimindo a
formação do metano e aumenta a produção ruminal de ácido propiônico,
decrescendo a relação acetato/propiônico, pois fazem com que as bactérias Gram +
que são produtoras de acetato e butirato morram na presença dos ionóforos, e as
Gram – que são precursoras do propionato, não seja afetado pelos ionóforos. Já o
PC em forma de sal, entra direto no rúmen sendo absorvido e transportado para o
fígado via sistema porta onde é convertido em glicose.
O PC pode servir como um precursor gliconeogênico no momento em que a
vaca está no balanço energético negativo. No parto, o PC aumenta a glicose no
sangue 24 horas após a sua administração, e reduz os ácidos graxos não
esterificados durante os dois primeiros dias pós-parto (KARA et al., 2009).
O PC, além de ser uma fonte de três carbonos para síntese de glicose pelo
fígado, também fornece cálcio que será absorvido no intestino delgado e pode
ajudar na prevenção de hipocalcemia pós-parto (SANTOS & SANTOS, 2013). Foi
administrado PC oralmente para vacas leiteiras como duas doses ao parto e,
novamente, 12h após o parto ou ao parto e novamente 24 horas depois do parto
para o tratamento de febre do leite e hipocalcemia subclínica (KARA, et al. 2009).
De acordo com o que foi exposto, objetivou-se neste estudo avaliar os
efeitos da suplementação com propionato de cálcio sobre os componentes do leite,
proteína, extrato seco desengordurado e densidade, a produção diária de leite e a
glicemia dos animais suplementados em diferentes estágios de lactação, já que os
estudos disponíveis na literatura, em sua maioria, são realizados com vacas em
período de transição e/ou pós-parto imediato.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi dividido em duas etapas, sendo que a primeira foi
realizada num período de 12 dias, que teve por finalidade o acompanhamento dos
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animais com coletas de amostragem para controle. A segunda etapa, também de 12
dias, foi o período de fornecimento do PC a ser testado, para comparação com os
resultados do período controle.
Foram utilizadas 12 vacas da raça holandesa, subdivididas em três
grupos de quatro animais em diferentes estágios de lactação. O primeiro grupo se
encontrava no início da lactação, o segundo grupo na metade e o terceiro grupo no
terço final. Tais animais eram submetidos ao sistema de semi-confinamento,
recebiam água à vontade e alimentação concentrada no cocho durante o dia e, à
noite depois da segunda ordenha, eram soltos no pasto com apenas volumoso e
água a vontade. A alimentação era constituída de silagem de milho e concentrado
com farelo de soja, milho, bicarbonato e sal mineralizado, fornecida na proporção de
um quilo de ração para cada três quilos de leite produzido por animal. O alimento era
fornecido três vezes ao dia, de manhã logo após a ordenha ao meio dia e a noite,
após a segunda ordenha. Já o PC era misturado à ração concentrada, fornecido
uma vez ao dia, após a primeira ordenha.
Os animais eram submetidos a duas ordenhas (mecânica) diárias, sendo
a primeira às 7h 00 min da manhã e a outra às 17h 00 min. Após a ordenha, os
animais eram encaminhados até o curral com água em abundância e cama, onde
recebiam a alimentação, e permaneciam até a segunda ordenha.
As coletas de leite eram realizadas três vezes por semana, sempre no
período da manhã, sendo que as amostras eram coletadas diretamente do copo
medidor da ordenhadeira, onde ali se encontra uma fração de todo o leite do animal,
sempre no final da ordenha. Depois de identificada, a amostra de 50 mL, era
armazenada em uma caixa de isopor resfriada. As amostras eram encaminhadas ao
laboratório de análise de leite na fábrica de laticínios1, onde foram realizados, por
meio de ultrassom2 os exames para determinar o porcentual de extrato seco total
(EST), extrato seco desengordurado (ESD), gordura, proteína, a e densidade (g/L).
Também foi obtida a produção de leite (Kg) individual no medidor da ordenhadeira.
A produção de leite (Kg) foi corrigida para 3,5% de gordura utilizando a fórmula PLA
3,5%=(0,432 + Kg leite) + (0,1623 x Kg leite x teor de gordura) (EVANS et al.,1993).
Para as análises dos níveis glicêmicos, foi colhido sangue por venopunção da veia
coccígea, através de agulhas 25X7, em seguida uma gota era colocada nas tiras
reagentes específicas e a leitura feita em glicosímetro3. Estas mensurações foram
feitas diariamente, durante o período do experimento, logo após a ordenha da
manhã.
Para análise estatística foi utilizado o método ANOVA, e correlação linear de
Pearson por meio do software BioEstat 5.3®.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos para os componentes, densidade, produção do leite, e
glicemia estão sumarizados na tabela 1, onde é possível comparar os resultados
com o período controle.
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TABELA 1. Porcentagem dos principais componentes do leite, densidade e
produção ajustada para 3,5% de gordura de vacas suplementadas
com PC na dieta em diferentes fases da lactação.
Período
EST%
ESD%
Gordura%
Proteína%
Densidade
PLA 3,5%
Glicemia
mg/dL
Controle
Inicial
Médio
Final
Média
12,04±0,82
12,36±0,93
12,58±1,22
12,32±1,01
8,47±0,26
8,56±0,13
9,07±0,20
b
8,70±0,20
3,51±0,81
3,81±0,86
3,60±0,91
3,64±0,86
3,11±0,09
3,13±0,04
3,31±0,07
b
3,18±0,07
1031,35±1,4
1031,7±4,61
1033,6±1,26
b
1032,2±1,28
32,35±4,43
35,56±6,35
33,51±6,48
34,10±6,02
71,33±4,67
73,25±6,12
66,93±5,40
a
69,53±6,91
Tratame
nto
Inicial
Médio
Final
Média
11,99±0,85
12,25±0,44
12,69±0,90
12,32±0,81
8,77±0,15
8,80±0,08
9,17±0,10
b
8,91±0,11
3,22±0,71
3,29±0,59
3,51±0,79
3,34±070
3,21±0,05
3,22±0,03
3,36±0,03
a
3,26±0,04
1032,5±0,69
1032,7±0,54
1033,9±0,73
a
1033,0±0,66
35,38±1,30
36,65±4,44
36,91±2,72
36,50±3,30
63,85±4,60
64,92±6,2
60,71±4,70
b
63,82±5,61
P<0,01
Ns
P<0,01
P<0,01
P<0,05
P<0,01
*
ns
b
a
*não significativo estatisticamente.
Na tabela 2 estão sumarizados os resultados obtidos utilizando a correlação
linear de Pearson para os níveis glicêmicos e os componentes e produção do leite.
TABELA 2. Análise da correlação entre os níveis glicêmicos e os
teores de extrato seco desengordurado (ESD), gordura e
produção ajustada para 3,5% de gordura em vacas
suplementadas com PC na dieta.
Fator
ESD
Gordura
PLA 3,5%
Glicemia mg/dL r (r2)
-0,39 (0,15)
0,02 (0,00)
-0,17 (0,03)
P
p<0,01
ns
ns
De acordo com os dados apresentados na Tabela 1, a adição de PC na
alimentação dos animais não interferiu na porcentagem de EST, no entanto,
incrementou os níveis de ESD, mostrando média geral maior no período do
fornecimento do produto (8,91) em relação ao período controle (8,70), diferença
estatisticamente significativa no terço inicial e médio da lactação (p<0,01) e no final
da lactação (p<0,05).
Este resultado confronta com aqueles obtidos por COSTA et al., (2005),
QUEIROZ et al., (2008), em trabalhos alterando a dieta de vacas em lactação, com
diferentes tipos de volumosos e concentrados, analisando a interferência na
qualidade do leite. Os resultados obtidos por estes pesquisadores mostraram que
nenhum dos alimentos fornecidos alterou a qualidade do leite de modo superior e
alguns deles mostraram-se instáveis. Já em estudo conduzido por OLIVEIRA. et al.,
(2001) e PINA et al., (2006) alterações na alimentação dos animais, tiveram
resultados inferiores.
Analisando os resultados da porcentagem de gordura, verificou-se que o teor
foi menor no período suplementado (3,34) em relação ao controle (3,64), embora a
diferença não tenha sido estatisticamente significativa. O porcentual de gordura do
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leite varia em função de diversos fatores (estágio de lactação, alimentação, raça,
etc.) tornando esta variável mais instável que os porcentuais de proteína e lactose
Esta diminuição no percentual de gordura, pode ocorrer devido a redução na
circulação de ácidos graxos não esterificados como cita MANDEBVU et al., (2003).
Também, o teor de gordura é inversamente proporcional à produção de leite, ou
seja, quanto maior a produção de leite pelo animal, menor será a concentração de
gordura. A composição da dieta, com pouca fibra e muito concentrado, além de
aumentar a taxa de propionato no rúmen, eleva o equilíbrio energético líquido, em
função de maior ingestão de energia e redução na secreção de gordura (BAUMAN &
GRIINARI, 2003). Isto corrobora com os resultados obtidos neste estudo.
CARVALHO et al., (2012) não encontraram diferença significativa nos níveis
de gordura, comparando os diferentes estágios de lactação, porém, observaram
redução de 25% no nível de gordura de animais em final de lactação com produção
de 30 litros, em relação à animais com produção de 15 litros.
Para os níveis de proteína, a inclusão do produto mostrou resultado positivo
no leite com média geral superior na semana testada (3,26) em relação à semana
controle (3,18), diferença estatisticamente significativa (p<0,01) em animais que se
encontravam no terço inicial e médio da lactação, no entanto o aumento não foi
significativo para animais em final de lactação. Este aumento na proteína do leite,
conforme relato de GONZALEZ et al., (2001) e DÜRR (2002), pode estar
relacionado com o uso de dietas mais energéticas, como era esperado com a
inclusão do PC na dieta dos animais estudados.
Da mesma forma, a densidade (g/L) do leite foi maior com o uso do PC, com
uma média geral de (1033,06), em relação à média geral sem o uso do produto
(1032,23), estatisticamente significativa para animais que se encontravam no terço
inicial (p<0,01) e médio da lactação (p<0,05). Já a densidade, em animais no final de
lactação, embora tenha sido maior com o uso do PC, a diferença não foi
estatisticamente significativa. A densidade do leite depende do teor de gordura, que
a diminui, e da presença de sólidos não-gordurosos, especialmente a lactose, os
quais a aumenta (BRITO et al., 2007; MARQUES et al., 2010). Esta afirmação
reforça os resultados obtidos com este experimento, em que houve diminuição nos
níveis de gordura, aumentando a densidade e o ESD.
Ao longo do tempo várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas com o intuito
de aprimorar a qualidade do leite. Dentre elas, SANTOS et al., (2001) e VARGAS et
al. (2002) adicionaram lipídios na ração de vacas leiteiras, para avaliar resultados na
produção e composição do leite, os índices de gordura, proteína, lactose, sólidos
totais, sólidos desengordurados e densidade, não foram afetados pelo aumento de
lipídios na dieta e nem pelas diferentes fontes de lipídios. Recentemente, usando o
PC, estudo semelhante foi conduzido por PERALTA et al. (2011), no entanto, não
foram encontradas diferenças na composição do leite das vacas suplementadas,
diferindo dos resultados encontrados neste trabalho.
Com relação a PLA 3,5% verificou-se que, houve aumento significativo
(p<0,05) quando se comparou a média diária dos animais em tratamento (36,5) com
a dos animais no período controle (34,10).
OLIVEIRA et al., (2004) encontraram aumento na produção de leite quando
utilizaram PC na dieta, corroborando com os resultado obtidos neste estudo.Quanto
à glicemia, observou-se redução nos níveis glicêmicos (mg/dL) nos animais quando
suplementados (63,82) em relação ao período controle (69,53) (p<0,01).
Sabe-se que, o ácido propiônico é umas das principais substâncias que
aumentam os níveis glicêmicos nas vacas. MULLINIKS et al. (2011), encontraram
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um aumento linear na concentração de glicose sanguínea. Porém, no presente
trabalho, os resultados contrariam aquele estudo e, são semelhantes aos
encontrados por WATERMAN et al. (2006), cujas pesquisas sugerem que a
diminuição da glicemia ocorra devido ao aumento da produção, em função de maior
demanda de glicose pela glândula mamária. Esta hipótese pode ser reforçada pelos
resultados obtidos na análise de correlação (Tabela 2), em que a glicemia teve
correlação negativa (r= -0,39; p<0,01) com o ESD e, embora não significativa
estatisticamente, também com a PLA 3,5% (r=-0,17).
Apesar da diminuição dos níveis glicêmicos nos animais, observou-se que
nem um desses animais desviou dos níveis citados por LIMA et al. (2012) como
sendo normais, entre 40 e 80 mg/100mL, assim evitando que ocorresse algum caso
de cetose pelos níveis baixos de glicose no sangue como citado por KARA (2013).
Os resultados deste estudo, embora confronte com outros estudos
publicados, indicam que o uso de PC interferiu diretamente na qualidade do leite,
aumentando as porcentagens de extrato seco desengordurado e proteína além da
densidade, podendo ser utilizado com objetivo de melhorar a qualidade do leite,
diminuir o índice de cetose em vacas pós parto e hipocalcemia (KARA et al., 2009) e
consequentemente fornecer matéria prima de melhor qualidade para as fábricas de
laticínios, bem como um produto lácteo de melhor qualidade para os consumidores.
CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo indicaram que a adição de PC na dieta de vacas
em lactação foi capaz de aumentar significativamente a produção de leite e os níveis
de: proteína, extrato seco desengordurado (ESD) e densidade do leite em animais
em terço inicial e médio da lactação.
AGRADECIMENTOS
Ao IPEAC – Instituto de Pesquisa e Ambiência Científica da Unipar pelo apoio
financeiro para execução deste estudo.
Aprovado pelo comitê de ética sob protocolo n. 24.907.
REFERÊNCIAS
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L.S.; LEONEL, F.P.; PAULA, N.F. de.; Substituição do farelo de soja por farelo de
algodão de alta energia em dietas para vacas leiteiras em produção: consumo,
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Brasileira de Zootecnia, v.39, n.3, p.532-540, 2010.
BAUMAN, D. E.; GRIINARI, J. M. Nutritional regulation of milk fat synthesis. Annual
Review of Nutrition, v. 23, p. 203-227, 2003.
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