ERIKA ROCHA FERREIRA LIMA Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-graduação do CEFOR/ISC/UNILEGIS como parte das exigências do Curso de Especialização em Orçamento Público Brasília 2008 CEFOR/ISC/UNILEGIS 2008 1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título: A mensuração do impacto dos gastos efetuados com recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP na redução das desigualdades sociais no Brasil Autor: Erika Rocha Ferreira Lima Finalidade/Natureza: monografia para conclusão do Curso de Especialização em Orçamento Público Instituição: Tribunal de Contas da União Data: 15/02/2008 Orientador: Antônio Teixeira de Barros 2. APRESENTAÇÃO O tema a ser estudado será o efeito dos gastos públicos na redução das desigualdades sociais no Brasil; o objeto, a mensuração do impacto das despesas orçamentárias efetuadas à conta do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP nessas desigualdades. O problema da pesquisa consiste em verificar e mensurar o efeito dos gastos realizados com recursos do FCEP na desigualdades de desenvolvimento social do Brasil no período de 2001 a 2007. De acordo com o relatório que subsidiou o Acórdão TCU n.º 2203/2006 – Plenário, o crescimento nominal das despesas realizadas à conta do FCEP nos exercícios de 2001 a 2005 foi de aproximadamente 156%. O FCEP, com vigência até o ano de 2010, foi criado pela Emenda Constitucional n.º 31/2000, que introduziu os artigos 79 a 83 no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). O objetivo do Fundo, definido no art. 79 do ADCT, é “viabilizar a todos os brasileiros acesso a níveis dignos de subsistência”, a ser atingido com a aplicação dos recursos em “ações suplementares de CEFOR/ISC/UNILEGIS nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar e outros programas de relevante interesse social voltados para melhoria da qualidade de vida”. Conforme “Nota Técnica Sobre a Recente Queda da Desigualdade de Renda no Brasil” (IPEA, 2007, p.13), no período de 2001 a 2004, a desigualdade de renda familiar per capita apresentou queda contínua e substancial, alcançando seu menor nível nos últimos trinta anos. Esse e os demais resultados da Nota Técnica foram obtidos a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que é coletada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e consiste na principal fonte de informação sobre concentração de renda no Brasil. Segundo o IPEA (2007), a desconcentração de renda no período estudado levou a uma expressiva redução da pobreza e da extrema pobreza. Conforme o IPEA (2007), um dos fatores determinantes de redução do grau de concentração de renda no Brasil em 4% entre 2001 e 2004 foi atribuída ao aumento do valor dos programas de transferências de renda, o que explicaria 35% dessa redução apresentada no período. Destaque-se que conforme a Nota Técnica do IPEA (2007), embora não haja um índice de desigualdade seguramente melhor que os outros, o mais utilizado é o coeficiente de Gini. Sua construção é baseada na “curva de Lorenz”, a qual é obtida a partir da ordenação crescente das pessoas segundo o seu nível de renda. A hipótese a ser considerada no trabalho de pesquisa por mim proposto é a de que as despesas efetuadas com recursos do FCEP tenham tido impacto positivo na redução das desigualdades sociais, com efeitos tanto na distribuição de renda, medido pelo índice de Gini, quanto em outros indicadores sociais, mensurados pelo Índice de Desenvolvimento Humano - IDH. Segundo informações no sítio oficial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD na internet, o objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH é oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento. O IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano, que não abrange todos os aspectos de desenvolvimento. CEFOR/ISC/UNILEGIS Além de computar o PIB per capita, depois de corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país, o IDH também leva em conta dois outros componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero a um. O IDH foi publicado pela primeira vez em 1990, sendo recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975, tornou-se um índice-chave dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no Brasil, tem sido utilizado pelo governo federal e por administrações estaduais e municipais. 3. PROBLEMA Qual o efeito dos gastos efetuados com recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP na redução das desigualdades sociais no Brasil no período de 2001 a 2007? Qual efeito verificável sobre a renda e sobre outros aspectos de desenvolvimento social como saúde e educação? 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral Mensurar o efeito dos gastos efetuados com recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP na redução das desigualdades sociais no Brasil no período de 2001 a 2007. Relacionar o efeito desses gastos sobre a renda do país e sobre outros aspectos de desenvolvimento social como saúde e educação. 4.2 Outros Objetivos Avaliar a efetividade da aplicação dos recursos destinados ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP na redução das desigualdades sociais no Brasil. CEFOR/ISC/UNILEGIS 5. JUSTIFICATIVA No âmbito do Tribunal de Contas da União, Acórdão TCU n.º 2203/2006 – Plenário foi realizada fiscalização sobre possíveis gastos realizados pelo Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP incompatíveis com os objetos a ele propostos, não tendo sido encontradas irregularidades. Ressalte-se que a legislação que disciplina a aplicação de recursos do FCEP permite uma interpretação bastante abrangente, notadamente ao que se refere ao art. 79 do ADCT e à Lei Complementar n.º 111/2001. Os respectivos diplomas legais expressam que o objetivo do Fundo é viabilizar aos brasileiros acesso a níveis dignos de subsistência, sendo eleitas ações nas quais os recursos deveriam ser direcionados, ou seja, ações de nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar e outros programas de relevante interesse social, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Destaque-se que, conforme Neri (2000), o Brasil além de possuir uma grande parte da população pobre da América Latina, apresenta um grande potencial para erradicar a pobreza: o relativamente alto PIB per capita brasileiro, combinado com um alto grau de desigualdade da renda, geraria condições favoráveis para políticas redistributivas, o que coloca a importância de se estudar a pobreza no caso brasileiro. Segundo o autor, existe alta sensibilidade dos índices de desigualdade e pobreza a mudanças em certos instrumentos de política (por exemplo, mudanças no salário mínimo e nas taxas de inflação). Conforme Rocha (2003), p.31, o Brasil se situa numa posição intermediária entre os países nos quais a renda nacional é insuficiente para garantir o mínimo considerado indispensável a cada um de seus cidadãos e os países desenvolvidos, nos quais as necessidades básicas são atendidas e o conceito de pobreza relevante é definido a partir da renda média. A autora destaca que a renda per capita brasileira de R$ 3.500,00 no ano de 2000 seria superior a um valor realista para definição da linha da pobreza; portanto, a incidência de pobreza absoluta decorreria da forte desigualdade na distribuição da renda. 6. REVISÃO DE LITERATURA CEFOR/ISC/UNILEGIS Uma breve síntese da relação entre pobreza e desigualdades sociais será elaborada com base em Werthein (2004) e Rocha (2003). Os fatores determinantes de redução do grau de concentração de renda no Brasil entre 2001 e 2004 serão explicitados com base em IPEA (2007). A análise dos gastos efetuados com recursos do FCEP em sede de direito financeiro e orçamentário e de administração dos recursos públicos será elaborada com base em Machado Jr. (2008) e Giacomoni (2007). A análise das informações obtidas no SIAFI, no IPEADATA e no sítio do PNUD na internet será elaborada por meio do tratamento estatístico e econométrico dos dados, com o objetivo de verificar a correlação entre os gastos efetuados com recursos do FCEP e a evolução dos índices de desigualdade de renda e de desenvolvimento humano no período de 2001 a 2007. A construção, avaliação e uso de modelos econométricos será baseada em Pindyck (2004) e Hill (2003), com o uso do software econométrico Eviews. O modelo mais adequado será definido a partir da coleta de dados. 7. METODOLOGIA A metodologia compreende pesquisa documental e análise de dados de séries temporais, com tratamento estatístico das informações. A pesquisa documental abrange legislação e literatura especializada, assim como documentos e dados elaborados por instituições de pesquisa e ensino, notadamente o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. Dados acerca da execução financeira do FCEP serão obtidas por meio de consultas ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal – SIAFI. A análise das informações coletadas deve centrar-se no estudo da legislação de interesse, associada a uma compreensão geral da finalidade das despesas efetuadas à conta do Fundo, de acordo com sua classificação orçamentária, notadamente por programa e projeto/atividade, e da consulta ao cadastro de ações elaborado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (http://www.planejamento.gov.br). Considera-se que a avaliação dos recursos do FCEP de acordo com sua aplicação nos programas de governo permite a identificar os objetivos pelos quais as despesas estão sendo efetivadas. Identificada a finalidade da CEFOR/ISC/UNILEGIS despesa por meio do programa correspondente, é possível verificar a correlação destas despesas com os índices de desigualdade e desenvolvimento humano. A construção, avaliação e uso de modelos econométricos para análise dos dados será baseada em Pindyck (2004) e Hill (2003), com o uso do software econométrico Eviews. O modelo mais adequado será definido a partir da coleta de dados. 8. CRONOGRAMA Coleta de Dados: 20/05/2008 Análise e interpretação: 20/08/2008 Redação do trabalho final: 20/10/2008 9. BIBLIOGRAFIA BRASIL. Transitórias Constituição – (1988). ADCT. Ato das Disposições Disponível Constitucionais em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em 20 nov. 2007. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão TCU n.º 2203/2006 – Plenário. Disponível em: <http://contas.tcu.gov.br/portaltextual/PesquisaFormulario>. Acesso em 25 fev. 2008. GIACOMONI, James. Orçamento Público. São Paulo: Atlas, 2007. HILL, R. Carter; GRIFFITHS, William E.; JUDGE, George G. Econometria. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. MACHADO JÚNIOR, J. Teixeira; REIS, Heraldo da Costa. A Lei 4.320 Comentada. 31 ed. rev. e atual. com comentários à lei de responsabilidade fiscal. Rio de Janeiro: IBAM, 2003-2003. ROCHA, Sonia. Pobreza no Brasil: afinal, de que se trata? Rio de Janeiro: editora FGV, 2003. PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L.. Econometria: modelos e previsões. Rio de Janeiro: Campus, 2004. CEFOR/ISC/UNILEGIS WERTHEIN, Jorge; NOLETO, Marlova Jovchelovich, (Org.) Pobreza e desigualdade no Brasil: traçando caminhos para a inclusão social. Pierre Sané et al. 2 ed. Brasília: Unesco, 2004. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Sistema de Contas Nacionais. 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Nota Técnica Sobre a Recente Queda da Desigualdade de Renda no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, março de 2007. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/publicacoes/notastecnicas/notatecnica9va.pdf>. NERI, Marcelo. In: HENRIQUES, Ricardo (Org.). Desigualdade e Pobreza no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2000. <http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/livros/desigualdadepobrezabrasil/capitulo18.pdf>. Acesso em 25 fev. 2008. PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. 2007. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/>. Acesso em: 10 nov. 2007. IPEADATA. Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 2000. Apresenta base de dados macroeconômicos, financeiros e regionais do Brasil, a qual é mantida pelo Ipea. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br>. Acesso em: 10 nov. 2007. SISTEMA INTEGRADO DE ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA DO GOVERNO FEDERAL – SIAFI. Desenvolvido pela Secretaria do Tesouro Nacional em conjunto com o Serviço Federal de Processamento de Dados – SERPRO. Disponível em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/execucao.asp>. Cadastro de ações elaborado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br>. CEFOR/ISC/UNILEGIS ANEXO A mensuração do impacto dos gastos efetuados com recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP na redução das desigualdades sociais no Brasil Estrutura da monografia Introdução Contextualização do tema, do objeto e apresentação do problema de pesquisa a ser analisado. Capítulo 1 Apresentação dos dados e metodologia utilizada para análise dos dados: tratamento estatístico e econométrico, com o objetivo de verificar a correlação entre os gastos efetuados com recursos do FCEP e a evolução dos índices de desigualdade de renda (índice de Gini) e de desenvolvimento humano (IDH) no período de 2001 a 2007. A construção, avaliação e uso de modelos econométricos será baseada em Pindyck (2004) e Hill (2003), com o uso do software econométrico Eviews. O modelo mais adequado será definido a partir da coleta de dados. Capítulo 2 Resultados da aplicação do modelo econométrico aos gastos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza – FCEP. Capítulo 3 Discussão da análise dos dados. Capítulo 4 Conclusões sobre a correlação dos gastos efetuados à conta do FCEP com o índice de Gini e com os índices de desenvolvimento humano (IDH) no Brasil de 2001 a 2007. CEFOR/ISC/UNILEGIS