A FUGA PARA OS QUILOMBOS
Mariana Giacomoni1
Antes da Abolição, jornais noticiavam constantemente a fuga e a captura de
escravos fugidos, como ilustra o trecho abaixo do "Velho Brado do Amazonas", de
1851:
"Não é desconhecido à polícia a notícia de existirem dois grandes quilombos entre Epinegé e
Arauaia, e outros lugares assim infestados de semelhante mal, que diariamente se acoutam
escravos fugidos e desertores, tanto que há dias foi capturado uma porção de escravos e um
desertor que se dirigiam para o supradito Epinegé seduzidos por um José Sapateiro que se
acha também preso. Esperamos ao bem conhecido zelo da polícia, que mande sem demora
alguma, assaltar o dito quilombo, com gente armada de pólvora e bala, fazendo apreender
todos os que nele se acharem, destruindo e arrasando para nunca mais ter serventia alguma,
pois não só deve ser garantido a propriedade dos cidadãos deste distrito, como gozar da
segurança pública, que lhe é devida, e pela qual é responsável a mesma polícia perante o país"
( In : "Velho Brado do Amazonas", Belém, ano 1, nº 77, 29/05/1851. Apud Salles, 1971: 210-211).
Desde que eram tirados de sua terra natal os negros africanos passavam por maus
tratos e condições desumanas, o sofrimento ao qual eram submetidos iniciava-se no
navio negreiro, onde alguns deles chegavam a se atirar ao mar para morrer e não ter
que passar por tamanha crueldade, no entanto este era apenas o início de um longo
caminho ao qual eram obrigados a viver sob torturas.
Ao chegarem ao Brasil, eram vendidos a brancos que, a partir de então, eram seus
senhores, senhores aos quais tinham que obedecer ou então eram castigados
fisicamente, o principal castigo era o açoitamento no tronco diante dos demais
escravos, para que esses percebessem o que lhes aconteceria caso desacatassem
alguma ordem.
A princípio isso era considerado normal, era aceito por toda a sociedade, no entanto,
quando alguns brancos perceberam que isso era uma tremenda desumanidade, e
alguns negros não suportavam mais viver nessas condições, começaram a surgir
alguns manifestos contra, que, a princípio, não tinham força alguma.
Então, com o tempo os negros passaram a se organizar, e a alternativa era fugir
para quilombos (mocambos), o que demonstrava a resistência à escravidão, ali eles
se organizavam e viviam livres, mantendo sua cultura, e sobrevivendo com os
alimentos que plantavam. Um dos problemas é que mesmo depois de estarem nos
quilombos, os escravos podiam ser capturados por militares e trazidos novamente
para as fazendas.
O quilombo mais conhecido e marcado historicamente foi o Quilombo dos Palmares,
o qual era liderado por Zumbi dos Palmares, que nasceu no quilombo e mais tarde
tornou-se líder dos negros, um grande lutador contra a escravidão, que a vida inteira
defendeu totalmente sua raça. Até que foi assassinado por brancos. A partir de
então a data de seu falecimento (20 de novembro) é comemorada como o Dia da
Consciência Negra.
Hoje em dia ao ouvir essas histórias ficamos indignados por saber como as pessoas
tinham coragem de fazer isso com seres humanos somente pelo fato de terem uma
cor diferente, no entanto é mais difícil ainda imaginar e aceitar que ainda existam
pessoas que pensem desse modo.
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1
Acadêmica do segundo período de engenharia ambiental na Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Câmpus Francisco Beltrão.
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