BRASIL QUINHENTISTA 1549 A 1599: FÉ E EDUCAÇÃO NA CATEQUESE. Admilson G. de Almeida Núcleo de Estudo e Pesquisa em História e Filosofia da Educação Doutorando Orientador. Prof.: Dr. José Maria de Paiva 1. Introdução. Portugal através de seus colonizadores chegou à nova terra, que no futuro se chamaria Brasil. Depois de verificar a presença de índios gentis, o rei reconhece que a catequização poderia ser de profunda valia para a coroa portuguesa, assim como para a fé católica. Segundo Paiva (1982, p.11) “A principal cousa que me moveu a mandar povoar as ditas terras do Brasil foi para que a gente dela se convertesse à nossa santa fé católica”. Diante desse propósito e com a expansão marítima crescendo em larga escala nesse período, novas regiões são descobertas pelos desbravadores. Esses desbravadores muitas vezes padres jesuítas, que tiveram a missão de lançar a semente da religião e da fé cristã, tinham uma visão de mundo sustentada na crença cristã na qual tudo pertence a Deus. No Brasil, a origem das instituições escolares pode ser localizada com a chegada dos jesuítas que criaram na então colônia portuguesa a primeira escola brasileira. Estamos considerando a educação jesuítica como confessional, pois estava diretamente agregada à fé católica; a catequese era uma metodologia do processo educacional. Os padres jesuítas acreditavam nas transformações comportamentais dos índios através desse processo metodológico. Para os padres jesuítas, educação é transformação. A passagem para essa mudança era a prática educativa. Esse recurso foi a porta utilizada pela ordem de Loiola para modificar uma sociedade tribal em uma outra mais organizada pela disciplina e pelo trabalho. Os jesuítas ao se envolverem com os índios, observaram que esses nativos precisavam ser humanizados e se propuseram a torná-los homens educados, segundo a perspectiva europeia, homens que não fizessem uso da antropofagia, do canibalismo, da nudez, da poligamia, da feitiçaria entre outros hábitos selvagens. Esse processo envolvia a aprendizagem e o desenvolvimento de novos hábitos, principalmente na alimentação, na higiene, no cuidado com saúde e realização de alguns ofícios; como tocar o sino, plantar e colher e acima de tudo rezar. Na colônia a relação de convivência priorizava a criança, pois essa se mostrava atraída pelo novo e para os jesuítas se constituía uma passagem mais curta para alcançar o objetivo proposto. Essa estratégia aplicada pelos padres jesuítas gradativamente proporcionava ao indígena um caráter de um verdadeiro cristão e servidor dos novos senhores. Aprendiam atitudes ligadas à religiosidade cristã, cooperação, ordem e disciplina. Há uma profunda percepção, que para mudar o indígena em um ser culto, europeu, inteligente e civilizado era necessária uma prática ou um método de ensino a longo prazo, permanente e repetitivo sempre na perspectiva de construção de novos hábitos culturais. Os métodos pedagógicos desenvolvidos pelos inacianos são aspectos da história que merecem uma atenção especial. Para isso o presente trabalho além de descrever, também vai analisar as atuações dos jesuítas a partir da concepção educacional. Foi justamente por esse viés que eles contribuíram com as modificações de uma realidade antropológica, cultural e social. Com base nessa fundamentação educacional os missionários católicos foram responsáveis pela criação e manutenção da primeira rede de ensino confessional no país, com objetivo de integração da cultura local com a cultura europeia e pela manutenção da fé católica. 2. Objetivo. O objetivo dessa pesquisa diz respeito ao aponta para o trabalho dos padres jesuítas na conquista de novas almas para o cristianismo. O que de fato eles faziam e como faziam para levar a educação e a catequese (fé), para os índios no Brasil no período de 1549 a 1599? Esses por sua vez, como a receberam? Quais foram as principais reações e transformações diante do novo? A partir dos resultados das questões, a pesquisa pretende conhecer as possíveis mudanças ocorridas no cotidiano dos índios, na vida social, religiosa e familiar, principalmente dos que viviam nas aldeias construídas pela ordem inaciana e a contribuição da fé à essa nova forma de comportamento. Para fundamentar todo esse processo utilizamos de informações oriundas das cartas escritas pelos primeiros jesuítas no Brasil, a partir de 1549 até 1599, como por exemplo os relatos de Anchieta, Nóbrega e dos escritos de outros autores pesquisadores do período colonial brasileiro. 3. Desenvolvimento Nas cartas jesuíticas é relatado que, quinze dias após a chegada na cidade de Salvador, já funcionava uma escola de ler e escrever. Essa visão política educacional era defendida pelo padre Manoel da Nóbrega, que foi o responsável pela primeira missão da Companhia de Jesus no Brasil. Inaugurou com a ajuda de cinco companheiros, a primeira escola brasileira na Bahia. Seu objetivo era unir o ensino da doutrina cristã a uma escola de ler e escrever, (fé e educação, catequese e instrução). Esse colégio foi fundando na Bahia, inicialmente para receber somente meninos, mais tarde foi elevado a colégio canônico, com nome de colégio de Jesus. Oliveira (2011, p.4) ressalta que “Nobrega se empenhou na sua realização, determinando desde 1550 que se construíssem casas para se recolherem e ensinarem os moços e em benefício da catequese e pelo sossego da terra”. Os colégios estabelecidos pelos padres jesuítas, formam centros de desenvolvimento da doutrina por meio dos missionários que percorreram centenas de quilômetros visitando as aldeias. Os padres jesuítas demonstraram bastante criatividade no processo de educação e catequização dos índios brasileiros, as cartas jesuíticas relatam que usavam como recurso didático, as danças, músicas e representações indígenas. Foi o padre Anchieta que contribuiu com o processo educacional do homem indígena, por sua quantidade de obras. Fontes primárias, como as cartas dos primeiros jesuítas, indicam que ele utilizava o teatro como uma ferramenta didática pedagógica a serviço da educação e da propagação da fé. Conhecemos por meio das cartas que o ideal jesuítico era a propagação da fé e assim como toda a Companhia de Jesus usavam um método de ensino o próprio, conhecido como Ratio Studiorum. Esse foi o primeiro sistema de educação minucioso organizado pela igreja na idade Moderna, com objetivos bem definidos: aplicar, desenvolver e estimular os princípios pedagógicos que visam formar e educar um cristão. O processo educacional será o principal meio de evangelização utilizado pela Companhia de Jesus para manter a fé e a hegemonia da igreja em todos os lugares da terra. A igreja católica altamente preocupada com propagação do evangelho e da fé, começa a explorar novos horizontes na perspectiva de evangelizar novos fieis. A educação é um processo fortemente marcado pela igreja católica. Esse modelo educacional é totalmente adotado de forma oficial por Portugal, mesmo sofrendo críticas dos intelectuais escolásticos. 3. Considerações Finais A fé e a educação no Brasil quinhentista, no período de 1549 a 1599, nos proporcionou um amplo conhecimento sobre o papel da Companhia de Jesus na catequese dos índios que aqui habitavam. A Fé dos padres jesuítas, exercendo um intenso trabalho para doutrinar, ensinar e catequizar essa população dentro de uma cultura europeia, foi uma missão que sem dúvida envolveu o processo educacional, mas o que realmente moveu esse processo foi a fé, pois a mesma sem obras é considerada morta. Os jesuítas que aqui chegaram trazendo em suas bagagens a missão e a obra de modificar pela pregação cristã o mundo novo em um mundo cristão católico, receberam total apoio da igreja e do estado, pois um dos objetivos dessas instituições consistia sobretudo na sustentação da fé, proporcionando assim a plena continuidade do reino da graça de Deus. Essa era a fé dos jesuítas, ensinar o caminho da salvação, ensinar sobre o reino de Deus, não deixar os indígenas sem conhecer o que eles conheciam e acreditavam. Foi a educação a ferramenta usada para o desenvolvimento da catequese. A proposta desse trabalho é, justamente nessa direção, mostrar a educação e a fé no século XVI e suas raízes no Brasil quinhentista. Iniciando pela Europa, pelos movimentos religiosos que abriram caminhos para uma reforma religiosa, pelo papel do Concilio de Trento, pela criação da Companhia de Jesus, que formou homens que desbravaram o mundo para conquistar novas almas para a continuidade do cristianismo católico. Para conhecer essa realidade foi necessário fazer uso das documentações jesuíticas e dessa forma foi possível conhecer a organização social, os costumes, os valores indígenas e, acima de tudo o encontro com os portugueses. E a partir desse processo conhecer mais sobre o conceito de fé e como a mesma pode movimentar a vida de pessoas, com o único propósito: obedecer ao mando de Deus que se constitui em levar a verdade a todos os povos em qualquer lugar. Assim foi a construção desse trabalho, mergulhar nos documentos históricos, nesse caso especifico, nas cartas produzidas pelos jesuítas, para conhecer a realidade, a cultura e visão desses desbravadores, que, sem medo de enfrentar o desconhecido ou seja pela fé, se lançaram integralmente no cumprimento da missão. 4. Referências ANCHIETA, José de. Cartas: informações, fragmentos históricos e sermões. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988a. CANBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: editora UNESP.1999. COSTA, Célio Juvenal. A racionalidade jesuítica em tempos de arredondamento do mundo: o Império Português (1540-1599). Tese de doutoramento. Piracicaba: Universidade Metodista de Piracicaba, 2004. GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. Ática São Paulo 1999. NÓBREGA, M. da. Cartas do Brasil. Itatiaia; Edusp, SP 1988. OLIVEIRA, Amanda M B. de. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial. 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