Revista Adusp Janeiro 2006 Escola Florestan Fernandes, marco na história do MST Antonio Biondi Jornalista Daniel Garcia No décimo aniversário da morte do sociólogo, a criação da Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP), faz o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra avançar em seu projeto de educação popular e amplia o diálogo com as universidades públicas brasileiras, por meio de vários convênios 15 I Revista Adusp Janeiro 2006 naugurada em janeiro de 2005, no município de Guararema (no Vale do Paraíba, a cerca de 60 km de São Paulo), a Escola Nacional Florestan Fernandes é tida como um marco nas conquistas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ao reunir em um mesmo espaço cursos de formação para integrantes do MST e de outros setores e entidades ligados ao campo e às lutas sociais, a escola, cuja construção foi iniciada em 2000, representa um importante avanço nas iniciativas de educação popular no Brasil. A criação da escola permitiu a ampliação do diálogo entre diversas universidades públicas, especialmente a USP, e os movimentos sociais. Pensada e construída sob a concepção de que reforma agrária e direito à educação estão intimamente ligados, a escola juntou-se às várias iniciativas de homenagem ao sociólogo pioneiro, educador e militante destacado do Partido dos Trabalhadores que foi Florestan, realizadas em 2005 (vide p. 23). Os cursos da escola vão dos livres aos de pós-graduação, passando pelos de graduação e especialização. As parcerias que viabilizam cada um deles são várias, contemplando desde financiamentos oriundos do Ministério do Desenvolvimento Agrário até convênios com instituições de ensino médio e superior, que garantem a certificação das autoridades educacionais. A exceção são os cursos livres, elaborados e aprovados no âmbito da escola. 16 Fotos: Daniel Garcia Instalações da Escola, que já conta com 4 salas de aula e um auditório para 200 pessoas Em julho de 2005, a escola já oferecia nove cursos, ligados sobretudo à área de Humanas (vide quadro). Maria Gorete, da coordenação da escola, explica que o objetivo é abarcar todas as áreas, desenvolvendo uma educação voltada para o campo. Segundo ela, à perspectiva do acesso à educação, somam-se as possibilidades de “discutir métodos de formação e questionar a produção de conhecimento ligada às empresas e voltada a poucos”. Natural de Oeiras, no Piauí, militando no MST desde 1986, Maria Gorete explica que a escola também se propõe “permitir mudanças estruturais na qualidade de vida dos sem-terra”. Talvez por isso, os cursos apresentam uma alternância de períodos concentrados de aulas na escola com atividades desenvolvidas pelos estudantes em suas cidades de origem. Três elementos têm sido priorizados para organizar a escola: a auto-gestão, a disciplina consciente e a liberdade para produzir conhecimento. A escola conta com uma coordenação geral e com a coordenação pedagógica, ambas fixas; uma coordenação política; uma coordenação por curso; e um conselho que se reúne duas vezes ao ano. Possui, ainda, equipes ligadas à auto-gestão, dedicadas às áreas de cultura e segurança, por exemplo, cujos integrantes provêm dos cursos realizados a cada época. Revista Adusp Janeiro 2006 Daniel Garcia Alunos descansam. Ao fundo, os alojamentos Cursos da Escola Nacional Florestan Fernandes Curso Tipo Convênio/entidade História Educação no Campo Agroecologia Gestão em organizações sociais e cooperativas História História da Luta de Classes Pedagogia da Terra Produção da Teoria Sociologia Rural Mestrado Especialização Especialização UFPB/Pronera Diversas Fatec Graduação Fundação Santo André Graduação Graduação Graduação Graduação Livre UFPB/Pronera Diversas Diversas Diversas — Livre — Economia política na agricultura Curso de Especialização em Agroecologia, dirigido aos técnicos que trabalham nos assentamentos e em pequenas propriedades, busca desenvolver um modelo de produção alternativo à monocultura Os integrantes do movimento que colaboram permanentemente com a organização da escola (administração, cozinha, pedagogia, manutenção) são cerca de 20. Cabe-lhes a gestão de uma área que comporta quatro salas de aula, um auditório para 200 pessoas, um telecentro, uma biblioteca, um laboratório, uma sala de cinema, área de vivência, quatro alojamentos com capacidade total para 200 pessoas e um refeitório. Estão previstas, ainda, a inauguração de uma sala de cul- tura, a construção de uma praça, de um segundo auditório para até 1.000 pessoas e de mais quatro alojamentos, dobrando a capacidade atual. A escola encontra-se em permanente construção, inclusive no que diz respeito aos programas dos cursos. Marcelos Alves, de Chapecó, Santa Catarina, há dez anos no MST, faz o curso de Especialização em Agroecologia, dirigido aos técnicos que trabalham nos assentamentos e em pequenas propriedades. O curso busca desenvolver um modelo de produção alternativo à monocultura e que, portanto, não seja excludente. “Buscamos uma alternativa que considere os interesses dos agricultores e que dialogue com o meio-ambiente e com a produção de alimentos de forma saudável”, resume. Em uma atividade do curso, os estudantes realizaram uma “mística” em que cada um plantava uma semente de feijão, às quais eram atribuídas características: “amor”, “vida”, “educação”, “agroecologia”, dentre outras. Como o nome sugere, as “místicas” são uma espécie de ritual inspirado nas práticas da Igreja Católica. A aula seguinte, sobre história da agricultura, foi ministrada pelo economista João Pedro Stédile, membro da coordenação nacional do MST. Elizabeth Rocha, de Vitória da Conquista, na Bahia, há dezessete anos no MST, esteve em Guararema em junho, para o início do curso livre de Sociologia Rural. Foram duas semanas de aula. A segunda etapa do curso na escola estava prevista para outubro de 2005, e a terceira para 2006. “Entre as etapas, vamos relacionar o que é estudado aqui com nossas práticas nos assentamen- 17 Revista Adusp Janeiro 2006 tos e acampamentos”, explica. Segundo Elizabeth, os primeiros dias do curso são dedicados ao conceito de sociologia, com base na leitura de clássicos como Weber, Durkheim, o próprio Florestan e especialmente Marx. Ela reconhece que tem de fazer malabarismos para estudar tudo em pouco tempo, participar ativamente das aulas e ainda colaborar com a gestão da escola. A estudante Regilma Santana veio de Imperatriz, no Maranhão, para cursar a Graduação em Gestão em Organizações Sociais e Cooperativas. Coube ao professor Jason Borba, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, ministrar as aulas de história da economia, as primeiras do curso, e que, como relata Regilma, traçaram um panorama do surgimento do capitalismo e ajudaram a “lançar um olhar em direção às transformações sociais e ao socialismo que realmente queremos construir”. A solidariedade do fotógrafo Sebastião Salgado permitiu comprar o terreno da escola. E um sonho com bóias-frias levou a professora Heloísa Fernandes, filha de Florestan, a voltar à atividade docente e apoiar a nova escola Os tijolos aparentes utilizados na construção da escola foram produzidos no próprio terreno onde ela se localiza. Ele foi comprado com os recursos arrecadados com a venda de fotografias de Sebastião Salgado 18 Daniel Garcia Daniel Garcia Maria Gorete Heloísa Fernandes em dezenas de países. A mão-deobra e demais recursos empregados nas edificações vieram da solidariedade de militantes e entidades. Em abril de 2005, um encontro que reuniu quase 200 intelectuais foi realizado no local, definindo o envolvimento inicial deles e abrindo espaço para sugestões e indicações de como os professores e professoras poderiam colaborar futuramente. Para a professora Lisete Arelaro, do Departamento de Administração Escolar da Faculdade de Educação da USP, “o sentimento de solidariedade e coletividade presentes na escola refletem bem o que o MST acredita”. O MST convidou a família de Florestan para participar da inauguração do espaço, em janeiro. Mas a filha do sociólogo, a também professora Heloísa Fernandes, que em meados da década de 1990 deixou de dar aulas no Departamento de Sociologia da Faculdade de Filoso- fia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), hesitou em comparecer. Desde o falecimento de Florestan, Heloísa dedicava-se essencialmente a fazer teares. “Não dava mais aulas. Havia deixado de ser intelectual”. Heloísa conta que, na semana da inauguração, teve um sonho com o pai, que vinha conversar com ela, chegando em um caminhão de bóia-frias. “Estavam me chamando para comemorar meu aniversário, me dizendo para levantar”. O sonho terminou por provocar uma reviravolta na vida da professora. Heloísa não apenas esteve na inauguração, acompanhada de sua mãe, Myrian Rodrigues Fernandes, como voltou às aulas, colaborando com o curso de Sociologia Rural. Também coordenou um seminário e participou de outras atividades sobre a obra de Florestan, voltadas aos coordenadores. Colabora com o esforço para vencer um dos mui- Revista Adusp Janeiro 2006 Daniel Garcia Daniel Garcia Marcelos Alves Professor Jason Borba, da PUC-SP tos desafios postos para a escola: desenvolver capacidades para métodos e técnicas de pesquisa. Para Heloísa, uma das mais gratas surpresas é como o inconsciente, a música, a dança e também determinados aspectos centrais da vida das pessoas dialogam com o conteúdo das aulas. “É uma educação voltada à organização deles, a gerar transformações, com um forte compromisso marxista e socialista”, destaca. “Mas não é nada dogmático. Me parece algo realmente novo, que seria muito interessante que acontecesse em outros lugares”. No entender da professora Lisete, esses fatores fazem jus aos grandes inspiradores da linha pedagógica da escola, como Paulo Freire e o próprio Florestan, que “não escreviam para serem copiados, mas para serem debatidos”. Na sala principal da Escola Florestan Fernandes, a professora Luciana Silva, da Universidade Fede- ral de São Carlos, discorre sobre um texto de Weber a respeito dos tipos de dominação. Além das cadeiras, textos e lousa com anotações, o espaço comporta fotos de Sebastião Salgado, bandeiras de movimentos do Brasil, Moçambique, Cuba e outros países, além de imagens de personagens históricos da esquerda. A figura que mais se destaca, a lado da lousa, é justamente a de Florestan, em uma enorme foto com quase dois metros e meio de altura. No auditório, há um grande banner com citações de Florestan. A presença do professor está em vários outros detalhes e ganha mais força nas conversas cotidianas e acadêmicas, nos grupos de estudo, na leitura de textos em aula e na utilização de frases nas místicas. Maria Rodrigues cursou Letras na Universidade de Sorocaba e colabora com atividades de educação infantil do MST. Em Guararema, está organizando a catalogação e a disposição dos livros que irão preencher as prateleiras da biblioteca, que também se chamará Florestan Fernandes. Na empreitada, é ajudada por duas bibliotecárias. Orgulhosa, destaca que o espaço terá a coleção completa do professor. O nome da escola foi definido pela coordenação nacional do MST em 1997, conforme explica Maria Gorete. Segundo ela, havia uma grande admiração e identificação dos militantes do movimento com Florestan, por seu legado teórico na construção do socialismo e por sua defesa da educação como elemento fundamental nas transformações da sociedade brasileira, bem como por sua origem pobre e vida de muito esforço. Na avaliação de Heloísa Fernandes, ao homenagear Florestan a escola afirma não só essa identificação, mas possibilita uma auto-afirmação para os militantes. Cerca de 50 docentes da USP colaboram com a escola. Na experi- 19 Revista Adusp Janeiro 2006 ência, inédita para a maioria deles, um dos aspectos mais destacados é o intenso envolvimento dos estudantes com as aulas. A origem humilde e a diversidade cultural e racial dos estudantes saltam à vista, bem como as lacunas na formação e o esforço por superá-las. São alunos capazes, por exemplo, de se indignar com um discurso do século XIX em que um liberal faz a defesa do escravismo no Brasil. “Eles querem participar, como se tudo lhes concernisse diretamente” conta Paulo Arantes, professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da FFLCH e que coordena em Guararema um curso livre de formação sobre o Pensamento Político Brasileiro. Neste curso, o professor conta com a colaboração de 15 monitores, mestrandos e doutorandos da USP, sobretudo de sociologia. Entre os 17 docentes, vindos em sua grande maioria da USP, mas também da Unicamp, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Juiz de Fora, Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade do Grande ABC (UniABC, instituição privada), encontram-se grandes nomes da universidade brasileira, como Francisco de Oliveira, Roberto Schwartz e Alfredo Bosi. As aulas trabalham de textos mais densos a obras do cinema, teatro e música. Arantes acrescenta que existe uma grande cumplicidade dos estudantes com os professores em compartilhar saberes. Para ele, essa química tem gerado um “verdadeiro curto-circuito, os professores se transformam, com aulas das mais brilhantes de suas carreiras”. 20 Daniel Garcia Elizabeth Rocha e Regilma Santana Números da educação no MST Atividade Alcance Abrangência do trabalho de educação no Brasil Escolas de ensino fundamental Educadores voltados ao ensino fundamental Estudantes no ensino fundamental Jovens e adultos em cursos de alfabetização e outros Educadores de jovens e adultos 23 estados 1.200 3.800 150.000 25.000 1.500 Fonte: MST (dados referentes a julho de 2000) Na avaliação de Arantes, o número de professores da USP envolvido no projeto é altamente significativo em termos de mudanças que podem ser geradas pela “irradiação acadêmica” de cada um deles, mas pequeno no que diz respeito ao universo de docentes da universidade (vide p. 22). Após ponderar que “nem interessaria que toda a USP se dedicasse à escola” e a seus objetivos, Arantes registra que “é como se encontrássemos, cerca de meio século depois, o projeto da FFLCH, de uma faculdade que formasse cidadãos com pensamento humanizante e com capacidade profunda de intervenção na realidade, como se vo- cê voltasse a juntar tijolinhos para a construção de uma nação brasileira verdadeiramente dita”. A inação do Estado nas áreas rurais tem impulsionado a luta dos sem terra pelo direito à educação como fator destacado da reforma agrária, mas o MST não pretende substituir o Estado A criação da Escola Nacional Florestan Fernandes consolida um novo momento do MST, que na década de 1990 passou a lutar não Revista Adusp Janeiro Daniel2006 Garcia Intervalo para o lanche: intercâmbio de experiências apenas pelo direito à terra, mas também por direito à educação para os trabalhadores que vivem nas áreas rurais. Educação com realidades, cursos e dinâmicas bem específicos. A inação do Estado nessa área levou o movimento a ampliar as ações no setor, mas Maria Gorete, da coordenação da Escola, destaca que o MST não quer e não pode substituir o Estado nesse papel. Por outro lado, a luta do movimento pela educação permite que suas ações e materiais de ensino estabeleçam a relação que visualizam entre reforma agrária, educação e socialismo. “Vários objetivos concretos ligados à educação no campo, para o MST e para outros setores, foram conquistados”, avalia Edna Rodrigues Araújo Rossetto, da coordenação nacional do setor de educação do movimento. Por outro lado, ela afirma que “o objetivo central só será alcançado com a realização da reforma agrária, com a transformação efetiva da sociedade, com a construção do socialismo”. Antes de inaugurar a Escola Nacional Florestan Fernandes, o MST contava com uma escola em Caçador, Santa Catarina, que oferecia cursos técnicos e de ensino superior. O espaço foi desativado com a criação da nova escola. O MST também possui instalações próprias de ensino em algumas localidades, e desenvolve atividades de educação em todos os níveis. Entre os pensadores que fornecem a fundamentação teórica do projeto pedagógico do MST, e portanto também dos materiais de ensino por ele produzidos, estão Paulo Freire, José Martí, Anton Makarenko. A realidade do campo brasileiro, com sua mescla de agronegócio, latifúndio, trabalho escravo e violência contra os trabalhadores rurais, está bem presente nesses materiais. Boa parte das atividades de ensino do MST desenvolve-se em parceria com outras instituições, especialmente as universidades públicas federais e estaduais e as católicas, além de outros órgãos como a Unicef, Unesco, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e Ministério do Desenvolvimento Agrário. A escola criada em Guararema permitirá ao movimento centralizar e potencializar uma parcela importante de tais atividades. 21 Revista Adusp Janeiro 2006 MST e USP, uma relação complicada O MST tem realizado parcerias com diversas universidades públicas brasileiras, entre as quais destacam-se várias do Nordeste. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por exemplo, firmou convênios para oferecer dois cursos de História aos sem-terra, inclusive um de Mestrado. Estão em andamento cursos de gra- Professora Luciana Santos, da UFSCar duação em Pedagogia oferecidos podem ser atribuídas ao conjunto em convênio com a Universidade da instituição. Federal do Ceará (UFCE, duas Na visão da professora Lisete turmas), Universidade Federal do Arelaro, da Faculdade de EducaRio Grande do Norte (UFRN) e ção, essa é mais uma das conseqüUniversidade Federal do Espírito ências da indiferença que a USP Santo (UFES, que teve uma pri- apresenta frente aos movimentos meira turma formada em 2002). sociais e aos problemas do Brasil. Nas regiões Norte e Sul também A professora Zilda Iokoi, do Dehá bons exemplos de cooperação. partamento de História da FFLCH, A Universidade Federal do Pará endossa a análise. A USP e os mo(UFPA) formou uma turma, e a Uni- vimentos poderiam compartilhar versidade do Estado do Rio Grande muitos conhecimentos, mas para do Sul (Uergs) tem duas em anda- isso “será necessário que a univermento. O MST só tem encontrado sidade pense em outras formas de resistência em instituições públicas acolher os movimentos, reavaliando Sudeste, “onde os vínculos ainda do a questão do ingresso”. Zilda se dão de forma pessoal ou junto a ressalta que terá de ser enfrentada grupos mais específicos”. A análise a resistência dos grupos hegemônié de Maria Gorete, da coordenação cos, contrários a essas mudanças. da Escola Nacional Florestan FerO professor Ariovaldo Umbenandes, citando as dificuldades en- lino de Oliveira, titular aposentacontradas na relação com a USP. do do Departamento de Geografia A avaliação de Edna Rodrigues da FFLCH, estuda os movimentos Araújo Rossetto, da coordenação sociais do campo desde a década nacional do setor de educação do de 1970. Hoje, orienta alunos na MST, é de que as dificuldades na pós-graduação da USP e colabora USP localizam-se em alguns órgãos com a Escola Florestan Fernandes. de decisão da universidade, e não Em 2003, Ariovaldo desenvolveu na 22 Daniel Garcia Geografia o curso “Realidade Brasileira”, voltado aos militantes do MST. Na sua opinião, a iniciativa de trazer os integrantes do movimento para a universidade tem importância equivalente aos trabalhos de campo que organizava com seus alunos nas visitas aos assentamentos e acampamentos do MST. Desde 2004 a Faculdade de Educação da USP tenta aprovar nos órgãos superiores da universidade um curso de graduação denominado Pedagogia da Terra, desenvolvido em colaboração com o MST. O curso, aprovado na congregação da Faculdade, já é realizado pelo MST em parceria com outras universidades públicas do Brasil, mas na USP encontrou resistências na Coordenadoria Jurídica (CJ), importante órgão assessor da Reitoria e que costuma expressar a posição dos setores mais conservadores da universidade. A CJ vê inconstitucionalidade na proposta, mas o jurista Dalmo Dallari, consultado pela Faculdade, apresentou parecer em que afirma a constitucionalidade do curso. O professor Francisco de Oliveira demonstra entusiasmo quanto às possibilidades trazidas com a criação da Escola Florestan Fernandes. “A universidade não foi ao movimento no campo, de modo que o movimento foi à universidade. Agora, ela tem obrigação de ampliar suas parcerias com os trabalhadores”, resume Oliveira.