UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA Três ensaios sobre ações afirmativas no ensino superior brasileiro: Acesso, progressão e simulações de diferentes políticas de cotas para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro ALVARO ALBERTO FERREIRA MENDES JUNIOR Niterói (RJ) 2013 i ALVARO ALBERTO FERREIRA MENDES JUNIOR Três ensaios sobre ações afirmativas no ensino superior brasileiro: Acesso, progressão e simulações de diferentes políticas de cotas para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia Aplicada Orientador: Professor Doutor Fábio Domingues Waltenberg Coorientação: Professor Doutor Alberto de Mello e Souza Niterói (RJ) 2013 ii ALVARO ALBERTO FERREIRA MENDES JUNIOR Três ensaios sobre ações afirmativas no ensino superior brasileiro: Acesso, progressão e simulações de diferentes políticas de cotas para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Econômicas da Universidade Federal Fluminense como parte dos requisitos para obtenção do Grau de Mestre em Economia. Banca Examinadora: _____________________________________________________ Prof. PhD. Fábio Domingues Waltenberg (Orientador) Faculdade de Economia – UFF _____________________________________________________ Prof. Dr. Alberto de Mello e Souza (Coorientador) Faculdade de Economia – UERJ _____________________________________________________ Prof. PhD. Maria Eduarda Tannuri-Pianto Faculdade de Economia – UNB _____________________________________________________ Prof. Dra. Danielle Carusi Machado Faculdade de Economia – UFF Niterói (RJ) 2013 iii Ao Deus que alegra a minha juventude. “Et introibo ad altare Dei ad Deum qui lætificat juventutem meam” (Salmos 43:4) iv AGRADECIMENTOS Reimont Otoni, querido amigo, bem expôs uma vez em seu último aniversário que a vida que é guardada para si é perdida enquanto aquela que é compartilhada, é ganha. Dito isto, gostaria de dedicar este espaço para compartilhar os meus agradecimentos com todos aqueles que em algum momento me ajudaram nesta trajetória. Embora muitas pessoas tenham contribuído em algum momento para que eu pudesse chegar até aqui, gostaria de agradecer nominalmente a algumas delas. Primeiramente, os meus pais, avós e madrinha pelo suporte desde o berço. Ao meu irmão, meu confessor, a quem eu costumo expor em primeiro lugar as minhas angústias e aspirações. E à Patrícia Kenny, por ter andado ao meu lado desde o início do processo seletivo, e depois, por grande parte do mestrado. Também devo este momento em grande parte a dois amigos meus: Gustavo Ribeiro e Leandro Oliveira. Foram quatro fins de semana seguidos em abril de 2010 ouvindo entre alguns copos de cerveja, a importância de eu retomar o meu projeto rumo ao pós-doutorado. As palavras deles estavam recheadas de autoridade, pois já eram funcionários públicos em lugares que tinham como objetivo estar. Foram para mim o que o grande professor Orlando Fedeli costumava afirmar “As palavras convencem mas é o exemplo que arrasta”. Sem sombra de dúvidas, não teria feito a prova da ANPEC - e por consequência a aprovação no mestrado - se não fosse por eles. Já no mestrado agradeço aos amigos Alan Gusmão e Manoel Tabet, companheiros nessa caminhada. Foram muitos os desafios pelos quais nós passamos juntos nesse período. Também não poderia esquecer dois grandes mestres da Economia da Educação no país. Ao professor Fábio Waltenberg pela orientação e disponibilidade e ao professor Alberto de Mello por ter me apresentado o tema na graduação e por ter aceitado a coorientação. Às professoras Danielle Machado (UFF) e Maria Eduarda (UNB) pelas valiosas contribuições. Também agradeço à consultora de Business Intelligence da UERJ, Érika Araújo. Foram muitas as vezes que eu tive de pedir ajuda sobre levantamento dos dados e sobre as particularidades da UERJ e ela sempre se prontificou a responder às questões que levantava. E por último o principal, repetindo o gesto da missa tridentina, quando respondemos ao padre que proclama a entrada no altar com o Introibo (“Et introibo ad altare Dei”... ) ...“Ao Deus que alegra a minha juventude” (“ad Deum qui lætificat juventutem meam”). v RESUMO Esta dissertação é formada por três diferentes capítulos. O primeiro apresenta uma análise de diversas dimensões da política de cotas vigente na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pioneira na aplicação de tais políticas no Brasil. Utilizando estatísticas descritivas detalhadas e modelos econométricos, revelamos que a política claramente alcança o objetivo de tornar a universidade mais acessível a grupos desfavorecidos. Porém identificamos pontos que precisam ser melhorados, como a necessidade de alinhamento da presença de alguns grupos à incidência populacional no estado ou dos excessivos diferenciais de notas dos cotistas e não cotistas classificados. Em relação ao segundo capítulo, mostramos que há um hiato de desempenho em termos de coeficientes de rendimento médio acumulado entre cotistas e não cotistas. Também foi possível perceber que a diferença entre os grupos aumenta em cursos com maior nível de dificuldade relativa. Por outro lado, encontramos resultados originais para o caso da UERJ. Primeiro, devido ao fato de não ter sido possível perceber uma queda no hiato de desempenho entre cotistas e não cotistas ao longo do curso. Depois, pelo motivo de que as taxas de graduação entre cotistas se revelaram maiores que a de grupos não cotistas. Nossa explicação para esta particularidade reside no fato de que para o caso brasileiro, onde existem grandes desigualdades de oportunidade, os cotistas tendem a atribuir um alto valor ao curso que ingressam. Por isto, persistem em uma maior proporção na universidade a despeito de menores coeficientes de rendimento médios. O último capítulo analisa de que medida uma política do tipo color-blind pode contribuir para o aumento da diversidade racial e assim melhorar as condições de acesso dos negros sem discriminar diferentes indivíduos pela cor. Simulando bases com diferentes processos de admissão, mostramos que a presença de negros na UERJ desabaria na ausência da ação afirmativa, pricipalmente em cursos de alto prestígio social. Além disto, uma política color-sighted que reserve 20% das vagas se revelou suficiente para equalizar as oportunidades entre os indivíduos de cor preta mas não foi eficaz em suprir as necessidades por redistribuição dos pardos. Devido a baixa autodeclaração de pardos como negros, também encontramos que a política color blind de escola e renda pode ser mais adequada para uma maior representação dos pardos do que as duas políticas do tipo color-sighted definidas. vi ABSTRACT This dissertation consists in three different chapters. The first presents an analysis of various dimensions of the affirmative action policy currently effective at the Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), which pioneered the implementation of such policies in Brazil. Using detailed descriptive statistics and econometric models we revealed that the AAP clearly reach their goal of providing more access to students coming from disfavored backgrounds. However, there are issues that need to be improved, such as the need to balance the incidence of students belonging to each group or when we consider the differentials of grades between quota and non-quota applicants. With respect to the second chapter, we showed that there is a performance gap in terms of grade point averages built up among nonquota and quota students. It was also possible to notice that the difference between the groups increases in courses with higher level of relative difficulty. On the other hand, we found original results for the UERJ case. First, due to the fact that it was not possible to notice any drop in the performance gap between quota and non-quota students throughout the course. Second, due to the reason that graduation rates among quota students ended up being higher in comparison to non-quota groups. Our explanation for this particular issue is in the fact that, for the Brazilian case, where there are high inequalities of opportunities, quota students usually highly value the course they have started. Thus, they remain at a higher proportion in university, despite having lower grade point averages. The last chapter examines in which extent the color-blind policy can contribute to increasing racial diversity and thus improving the access of black individuals without discriminating people by their color of skin. Simulating bases with different admissions process, we showed that the presence of blacks in UERJ collapses in the absence of affirmative action, especially at courses with high social prestige. In addition, a color-sighted policy that reserves 20% of seats proved sufficient to equalize opportunities among black individuals but was not effective in meeting the needs of brown people to redistribution. Due to the low self-declaration of browns as black, we also found that the color blind school policy may be more suitable for a wider representation of brown people than the two types of policies defined as color-sighted. vii LISTA DE TABELAS Tabela 1.1. Estatísticas Descritivas do Vestibular...................................................................11 Tabela 1.2. Quantidade de Vagas, Candidatos, Relação Candidato/Vaga e Matriculados no Período 2008/2011................................. .................................................................................13 Tabela 1.3. Relação Candidato Vaga em 2010: Grupos Cotistas e Não Cotistas...................15 Tabela 1.4. Relação de Notas Mínimas dos Matriculados no Vestibular 2010.......................16 Tabela 1.5. Percentis de Distribuição da Nota........................................................................17 Tabela 1.6. Representação Populacional de Tipo de Escola, Cor da Pele e Renda Bruta......19 Tabela 1.7. Determinantes Socioeconômicos do Acesso – Método MQO...............................21 Tabela 1.8. Determinantes do Acesso – Método Logit.......... ..................................................29 Tabela 1.9. Candidatos Cotistas Não Beneficiados pelo Sistema de Cotas.............................34 Tabela 1.10. Análise dos Candidatos Afetados pelo Sistema de Cotas....................................35 Tabela 2.1. Coeficiente de rendimento acumulado médio dos alunos ingressantes em 2005 e com status cursando em 2006 e 2009 ......................................................................................45 Tabela 2.2. Coeficientes de rendimento médio acumulado. Visão consolidada por carreira Tabela 2.3. Coeficiente de rendimento acumulado médio dos alunos ingressantes em 2005 e com status concluído até 2012.................................................................................................46 Tabela 2.4. Porcentagem de concluintes até 2009, 2010 e 2011 dos alunos ingressantes em 2005..........................................................................................................................................47 Tabela 2.5. Porcentagem de concluintes até 2009, 2010 e 2011 dos alunos ingressantes em 2005 (por dificuldade relativa do curso).................................................................................49 Tabela 2.6. Taxa de evasão no primeiro ano dos ingressantes em 2005...............................51 Tabela 2.7. Taxa de evasão entre o segundo e quarto ano dos ingressantes em 2005............52 Tabela 3.1. Opinião dos estudantes da UERJ em relação às reservas de vagas (em %)........60 Tabela 3.2. Estatísticas descritivas do Vestibular (em %)..................................................60 Tabela 3.3. Simulação da composição dos candidatos em diferentes políticas de cotas........68 Tabela 3.4. Análise Displacing e Displaced sob diferentes políticas de cotas......................69 Tabela 3.5. Racial, Social e Schooling Balance sob diferentes políticas de cotas................73 Tabela 3.6. Pretos e Pardos classificados em relação ao total de candidatos autodeclarados com a mesma cor (em %).........................................................................................................76 Tabela 3.7. Determinantes do Acesso - logit, logistic e efeitos marginais para diferentes políticas de cotas.....................................................................................................................78 viii SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................................3 CAPÍTULO 01: UMA ANÁLISE DOS DETERMINANTES DO ACESSO À UNIVERSIDADE SOB A PRIMEIRA AÇÃO AFIRMATIVA BRASILEIRA NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA UERJ...........................................................................6 1.1 Introdução...............................................................................................................6 1.2. Descrição da política de cotas vigente na UERJ.................................................8 1.3. Descrição da base de dados...................................................................................9 1.3.1 Base do vestibular UERJ 2010..............................................................................9 1.3.2 Business Intelligence – UERJ...............................................................................9 1.4. Análise do acesso (e falta de acesso) à UERJ....................................................10 1.4.1 Estatísticas descritivas de aprovados e reprovados no vestibular, por curso.10 1.4.2 Determinantes do desempenho no vestibular da UERJ....................................20 1.4.3 Determinantes da classificação no vestibular da UERJ....................................28 1.4.4 A análise da fronteira: candidatos “displaced” e “displacing” .........................32 1.5. Conclusão.............................................................................................................36 CAPÍTULO 02. UMA ANÁLISE DA PROGRESSÃO DOS ALUNOS COTISTAS SOB A PRIMEIRA AÇÃO AFIRMATIVA BRASILEIRA NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO...............................38 2.1 Introdução. ...........................................................................................................38 2.2 Desempenho Educacional e Ações Afirmativas.................................................40 2.3 Retornos Educacionais e A UERJ......................................................................42 2.3.1 CRs acumulados médios em 2006 e 2009 para os ingressantes em 2005..............................................................................................................................44 2.3.2 CRs acumulados médios dos alunos formados......................................47 2.3.3 Taxas de conclusão até 2009, 2010 e 2011............................................48 2.3.4 Evasão no primeiro ano e evasão no restante dos anos.........................52 2.4 Conclusão..............................................................................................................55 CAPÍTULO 03. QUAL A EFICÁCIA DE POLÍTICAS DO TIPO COLOR-BLIND PARA O AUMENTO DA DIVERSIDADE RACIAL? SIMULAÇÕES PARA O PROCESSO SELETIVO DA UERJ.....................................................................................58 3.1 Introdução.............................................................................................................58 1 3.2 Descrição e justificativa das bases simuladas para o vestibular UERJ 2010..61 3.2.1 Base do vestibular UERJ 2010................................................................61 3.2.2 Base: Escola pública e renda. ................................................................61 3.2.3 Base: Cor “Preta” ..................................................................................64 3.2.4 Base: Raça negra e renda. .....................................................................66 3.2.5 Base: Meritocrático. ...............................................................................67 3.3 Resultados das Simulações...................................................................................68 3.3.1 Candidatos Cotistas por Política ............................................................68 3.3.2 Análise da Fronteira: Displacing/Displaced. .........................................69 3.3.3 A Igualdade Proporcional: Racial, Social e Schooling Balance.............72 3.3.4 Oportunidades em carreiras de alto prestígio........................................75 3.3.5 Avaliação econométrica das probabilidades de acesso – Método Logit.77 3.4 Conclusões.............................................................................................................84 CONCLUSÕES......................................................................................................................87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................90 2 INTRODUÇÃO Em 2001, a assembleia legislativa do estado do Rio de Janeiro sancionou a lei n° 3.708 através da qual acaba por estabecer a primeira ação afirmativa brasileira no ensino superior. Nos anos subsequentes, a porcentagem de universidades públicas que utilizam as políticas de reserva de vagas ou bônus na nota para estudantes com alguma desvantagem sócio-econômica tem crescido continuamente. Zylberstajn (2010) mostra que sete anos após a experiência pioneira da UERJ, a porcentagem de vagas destinadas a alunos cotistas já representava cerca de 11% do total de vagas disponíveis em universidades públicas. Sowell (2004) em sua análise sobre diversas ações afirmativas implantadas ao redor do mundo, mostra que tais políticas nunca se revelaram temporárias, pelo contrário, tendem a se expandir. A explicação reside no fato de que conforme um grupo com desvantagem socioeconômica adquire um maior poder político, consegue se organizar de tal forma que acaba por exercer uma pressão política crescente com o intuito de expandir os programas sociais que os beneficiam. Também se percebe o aumento dos tipos de grupos favorecidos. Afinal, se um determinado grupo conseguiu obter reservas de vagas por não possuir igualdade de oportunidades, outros grupos que se veem na mesma condição tendem a se organizar e pleitear os mesmos beneficios. No Brasil não foi diferente, após uma considerável difusão de políticas de ação afirmativa em diversas universidades públicas e privadas do país, os defensores deste tipo de política acabaram por obter duas vitórias significativas no ultimo ano. Em abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro declarou como constitucional a adoção pela UNB do critério de cota racial em seu processo seletivo. Em agosto, foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff a lei n° 12711 que estabelece 50% das vagas das universidades federais para o sistema de cotas. A partir deste momento, as instituições de ensino superior (IES) do governo federal passam a ter como meta atingir durante os próximos anos o total de 50% de reserva de vagas para alunos oriundos do ensino médio público. Sendo que dentro deste percentual deve haver uma outra reserva, considerando a proporção de pretos, pardos e indígenas em cada estado. Desta forma, as políticas de ação afirmativa têm sido amplamente debatidas no pais, tanto em relação à sua validade, quanto em relação aos possíveis desenhos que ela pode assumir. É uma das principais politicas de inclusão do governo e, talvez, a mais polêmica. 3 Também são poucos os estudos empíricos no Brasil desta natureza e neste sentido, esta dissertação pretende fornecer resultados que possam contribuir para o debate. Dentre as contribuições brasileiras, destacamos algumas publicações. Tannuri-Pianto e Francis (2012a; 2012b) abordam o acesso e a progressão dos alunos da Universidade Nacional de Brasília (UNB) e não encontram evidências relativas a diferenciais no coeficiente de rendimento (CR) apresentados pelos grupos cotistas e não cotistas. Pedrosa et.al (2007) mostra que os cotistas apresentaram um melhor desempenho relativo na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) do que os não cotistas quando comparados os rankings de classificação no vestibular e ao final da graduação. Utlizando os dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), Waltenberg e Carvalho (2012) revelam que há um diferencial de performance entre não cotistas e cotistas para as universidades públicas. Não encontraram diferenças significativas entre os estudantes de IES privadas. Nos propusemos a avaliar a experiência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) utilizando bases até então pouco exploradas. Esta dissertação se encontra organizada em três diferentes capítulos. O primeiro aborda as questões relativas ao acesso à universidade e como as ações afirmativas afetam a composição do corpo estudantil. Identificamos que para o vestibular de 2010 a relação candidato/vaga entre os grupos cotistas foi de 1,17. Como consequência da baixa concorrência, para a maioria dos cursos, só foi necessário tirar uma nota acima do mínimo para ter uma vaga garantida na instituição. Em relação aos não cotistas, a alta concorrência se traduziu em notas médias de classificação consideravelmente maiores em todos os cursos. Também percebemos que a UERJ foi eficaz em captar candidatos que de outra forma não conseguiriam se classificar. Da análise dos candidatos afetados pela política foi possível perceber que o perfil sócioeconômico dos beneficiados pela reserva de vagas é considerávelmente pior do que o dos prejudicados pelo sistema. Por último percebemos que a política visivelmente prejudica candidatos brancos de classe pobre e média advindos de colégios privados. O segundo analisa a progressão de alunos cotistas e não cotistas com o intuito de responder como tem se mostrado o desempenho destes grupos. Percebemos diferenciais em termos de CRs médios entre grupos não cotistas e cotistas e que tal diferencial aumenta em cursos com um alto nível de dificuldade relativa. Porém, quando analisamos as taxas de graduação, foi possível perceber que os cotistas se graduam à taxas maiores que os não cotistas. Justificamos estes resultados através da argumentação de que apesar de possuírem 4 maiores dificuldades em progredir, na média, os cotistas atribuem um maior valor para o curso que estão matriculados e por isto persistem até o final da graduação. Por fim, procuramos verificar no terceiro capítulo como outras políticas podem alterar as probabilidades de admissão de diferentes indivíduos. Para isto, simulamos composições de candidatos cotistas com base em outras políticas de reservas de vagas. Encontramos como principal resultado que a política racial favorece a composição de pretos na universidade mas se mostrou menos eficaz que uma política que não discrimina por cor para aumentar a composição racial de pardos. Percebemos ainda que a política voltada para alunos oriundos do ensino médio publico pode aumentar a proporção de estudantes pardos e pretos em dois pontos percentuais. Pelas principais contribuições listadas acima e por outras detalhadas ao longo dos capítulos, acreditamos que os resultados encontrados ao longo desta dissertação podem contruibuir amplamente com o debate em torno das ações afirmativas. 5 CAPÍTULO 01: UMA ANÁLISE DOS DETERMINANTES DO ACESSO À UNIVERSIDADE SOB A PRIMEIRA AÇÃO AFIRMATIVA BRASILEIRA NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA UERJ* 1.1 Introdução Pesquisas cujo objeto de estudo são ações afirmativas no ensino superior têm sido tema recorrente entre economistas e demais cientistas sociais. Muitas experiências foram analisadas nos últimos anos, refletindo-se em uma literatura internacional considerável. Nos Estados Unidos, Bowen e Bok (1998) mostram que a proporção de negros nas principais universidades pesquisadas caíria de 7,8% para 2,1% na ausência de ações afirmativas. Os indianos optaram pela definição do sistema de cotas para as castas mais prejudicadas, de forma que entre 22,5% e 49,5% das vagas nas universidades federais são preenchidas pelos grupos discriminados (BERTRAND e HANNA, 2008). Entre 1982 e 2004, a porcentagem de negros matriculados na University of Cape Town avançou de 13% para 49%. (WYDICK, 2008). Aumento que se explica pelo fato de a raça favorecida pelo sistema de cotas sulafricano ser a negra. Contrastando com a experiência internacional, ainda são raros os artigos empíricos sobre a avaliação de ações afirmativas no Brasil. Destacamos as publicações de TannuriPianto e Francis (2012a; 2012b) que abordam o acesso e a progressão dos alunos da Universidade Nacional de Brasília (UNB). Percebemos contribuições no campo normativo, feitas por pesquisadores de outras áreas, tais como Arruda (2007), Brandão (2007), Feres Junior e Zoninsein (2006) e Peria (2004). Há ainda economistas que abordam questões importantes mas que de alguma forma fogem das preocupações centrais deste trabalho, como o impacto da introdução do sistema de cotas na eficiência dos gastos públicos (ANDRADE, 2004) e no esforço empregado por candidatos cotistas e não cotistas na preparação para o vestibular (FERMAN, 2006; ZYLBERSTAJN, 2010). A escassez de publicações nesta área de conhecimento é conseqüência da experiência brasileira recente com ações afirmativas, resultado natural do declínio da teoria da democracia racial e do fortalecimento daqueles que acreditam haver no Brasil um racismo de fato (TELLES, 2003). Além de recente, tais ações foram implantadas sem debate político * Uma versão deste capítulo foi apresentada no XL Encontro Nacional de Economia em Porto de Galinhas - PE 6 entre a população, sendo resultado de decretos ministeriais e da aplicação da lei nas universidades estaduais do Rio de Janeiro (MAGGIE E FRY, 2002). Com a existência de experiências consolidadas em território nacional, é possível avançarmos das avaliações iniciais, exclusivamente ideológicas, para um debate que possa se valer de evidências empíricas. Para contribuir com este debate, avaliamos o acesso de alunos da primeira e maior política de ação afirmativa brasileira: a reserva de vagas para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ela iniciou-se em 2001 com a promulgação da lei regulamentadora. Muitos autores consideram o projeto de lei original da assembléia estadual fluminense como o principal marco para o inicio deste tipo de política no Brasil (BRANDÃO, 2007; PERIA, 2004; SANTOS, 2006). Trata-se de uma universidade que oferece 57 cursos de graduação distribuídos por cinco campi (Maracanã, São Gonçalo, Baixada Fluminense, Resende e Nova Friburgo), são cerca de 38 mil candidatos concorrendo a mais de 5 mil vagas oferecidas no vestibular (dados de 2010). Cesar apud Brandão (2007) lista as universidades UNB, UNEB, UFPR, UEMS, UFBA, UFPA como alguns dos exemplos que comprovam a rápida disseminação para os outros estados da federação. Zylberstajn (2010) mostra a expansão da porcentagem de vagas destinadas a cotas em universidades públicas de 3,1% em 2004 para 11,2% em 2008. Apesar do mérito da instituição pesquisada de fomentar questões relativas ao debate em termos de igualdade de oportunidades, percebem-se como consequência do pioneirismo, alguns problemas. Na época da promulgação da lei das reservas de cotas não havia experiências no Brasil que pudessem servir como exemplo para uma análise criteriosa acerca de questões importantes sobre os grupos a serem beneficiados e o quantitativo de vagas que deveria ser reservado a cada um deles. Consequentemente há de se esperar que esta política, em particular, contenha alguns pontos passíveis de aprimoramento. A boa notícia é que durante este período houve o estabelecimento de uma base histórica sólida pelo departamento de informática da UERJ sobre a qual pudemos trabalhar. Ao fornecemos números sobre a atual política da UERJ pretende-se contribuir para um melhor entendimento do acesso e progressão de candidatos provenientes de grupos desfavorecidos, nas universidades brasileiras. A estrutura do capítulo segue o seguinte formato. A seção 1.2 descreve o atual formato da política de cotas e do processo de admissão do vestibular da UERJ. A seção 1.3 informa sobre as bases de dados específicas da UERJ utilizadas na presente pesquisa. A seção 7 1.4 apresenta as estatísticas descritivas do acesso, detalha os determinantes da classificação por meio da aplicação de técnicas econométricas e aborda a análise dos candidatos que são diretamente afetados pela política de ação afirmativa. A seção 1.5 apresenta a conclusão com as principais questões identificadas nos itens anteriores. 1.2. Descrição da política de cotas vigente na UERJ O sistema de cotas da UERJ é regulamentado por lei e teve início no vestibular para o acesso à universidade em 2003. Após revogações e alterações nos projetos originais, a lei vigente que estabelece as diretrizes desta política é a de N°5346/2008. Ela identifica cinco tipos de grupos minoritários com consideráveis desvantagens socioeconômicas, que concorrem à vagas assim repartidas: 20% para estudantes negros e indígenas; 20% para os estudantes oriundos da rede pública de ensino; 5% para pessoas com deficiências e filhos de policiais civis, militares, inspetores de segurança ou administração penitenciária mortos ou incapacitados por razão de serviço. Para todas essas situações o candidato deve atender a uma condição de carência em termos de renda per capita que a instituição estipula ano a ano. Atualmente a imposição é de que a renda per capita mensal bruta da família do beneficiário seja igual ou inferior a R$960 reais. (Doravante quando se fizer referências a algum desses grupos, entenda-se que se considere o atendimento à condição de carência.) Nos vestibulares, como se sabe, aqueles que obtiverem as maiores notas dentro de cada carreira são selecionados. Na UERJ, devido ao sistema de cotas, a competição entre os alunos se faz dentro de cada categoria, considerando o percentual que lhes cabe. Caso haja vagas não preenchidas por algum dos grupos cotistas, elas são automaticamente redirecionadas para os não cotistas. O vestibular é composto por duas fases. A primeira etapa é o exame de qualificação, composto de 60 questões objetivas. A nota do vestibulando é atribuída por faixas que vão de “A” (melhor rendimento) a “E” (pior rendimento). Uma recomendação “A” acrescenta um bônus de 20 pontos à nota final do individuo e as demais, 15, 10 e cinco respectivamente. O exame de qualificação é realizado duas vezes ao ano e a principal nota é a considerada pela instituição. Aqueles que conseguiram obter em uma das duas tentativas uma recomendação melhor que “E” estão aptos para concorrer na segunda etapa. A segunda fase é o exame discursivo. Neste momento o candidato deve escolher o curso e informar se deseja concorrer por uma vaga reservada pelo sistema de cotas, caso em que deve comprovar a carência e a 8 categoria. Para cada carreira são realizadas três provas discursivas que valem 20 pontos cada. As disciplinas que compõem as três provas variam com a carreira pretendida e cada uma delas possui uma prova com peso “2” cuja nota é duplicada. A nota final de um candidato varia de zero a cem e é a soma dos resultados de cada uma das fases. 1.3. Descrição da base de dados 1.3.1 Base do vestibular UERJ 2010 Parte dos dados que utilizamos são provenientes da base do vestibular realizado pela UERJ para o ano de 2010. Ela contém informações detalhadas sobre cada aluno, das quais destacamos as notas finais, carreira escolhida, idade, gênero, status do aluno e as respostas dos candidatos ao questionário sociocultural. A amostra original contempla 32.557 candidatos, 2.592 dos quais foram eliminados por falta à prova e 2.549 foram extraídos da base devido ao não preenchimento dos questionários sócio-culturais. Somando-se a duas observações outliers excluídas pela baixa idade apresentada, temos disponíveis para a análise econométrica um total de 27.415 observações. Comparamos as notas médias dos alunos que responderam ao questionário com os que optaram por não fazer. Foi percebida uma diferença de apenas 3,4% a favor daqueles que não se propuseram a preencher o questionário (42,08 pontos contra 40,68). Logo, não há motivos aparentes para supormos que a ausência de resposta siga um padrão diferente de um comportamento aleatório. A base de dados possui informações sobre os classificados e não sobre os efetivamente matriculados. Isto implica que aqueles que acabaram por se tornar alunos da instituição através de ciclos de reclassificação não foram contabilizados dentre aqueles admitidos. Para o vestibular de 2010, 23% das matrículas foram efetivadas em ciclos de reclassificação. Por isto alertamos que a leitura correta da variável dependente em regressões logísticas (seção 4) deve ser entendida como a probabilidade de classificação, e não de matrícula. O fato de as vagas serem reservadas pode servir como um possível amenizador da inexistência de uma variável do tipo “matriculado” nos dados disponibilizados. 1.3.2 Business Intelligence – UERJ 9 O Business Intelligence (BI) é uma ferramenta desenvolvida pelo departamento de informática da UERJ (DINFO). Sua função é fornecer aos gestores da instituição dados relevantes sobre o vestibular e a progressão dos alunos na universidade. A ferramenta extrai informações detalhadas das bases de dados da UERJ de vestibular e graduação, as transforma e depois as consolida em estatística descritiva. É um processo definido como ETL (extract,transform and load) e o seu resultado final é uma interface amigável capaz de municiar gestores com dados relevantes para tomadas de decisão. O sistema possibilita a geração de indicadores através da definição pelo usuário dos filtros a serem aplicados. Desta forma foi possível verificar diferentes dimensões: cotistas e não cotistas, séries temporais e visões detalhadas por carreira são alguns exemplos. Ao contrário dos microdados mencionados na subseção 3.1, esta base possui informações sobre os efetivamente matriculados, de forma que se torna possível a exposição de indicadores que envolvem a variável matrícula. 1.4. Análise do acesso (e falta de acesso) à UERJ A estratégia empírica para avaliação do acesso se dividirá em três subseções. Inicialmente analisamos os dados consolidados do vestibular em forma de estatística descritiva. São verificadas questões como a distribuição dos perfis socioeconômicos por faixas de notas, relação candidato/vaga, ociosidade, notas mínimas e vagas por carreira. Após isto, seguimos com abordagens econométricas. Aplicamos as técnicas de mínimos quadrados ordinários para estimar como fatores relativos à renda, ensino dos pais, tipo de escola e raça afetam a nota dos candidatos. Regressões logísticas são utilizadas com controles para cursos e tipo de vaga visando se verificar as probabilidades de classificação em diferentes grupos. Por fim, procuramos entender o impacto da introdução do sistema de cotas através da análise do perfil socioeconômico dos alunos afetados e do quantitativo de alunos cotistas que não precisariam da política de ação afirmativa para obter uma vaga na universidade. 1.4.1 Estatísticas descritivas de aprovados e reprovados no vestibular, por curso. Ao aplicar o ferramental de estatística descritiva a este capítulo pretendemos gerar resultados empíricos relevantes para apoiarmos duas visões iniciais que precisam ser consideradas por formuladores de políticas de ação afirmativa. Primeiro, abordaremos como 10 os condicionantes econômicos e sociais podem agir como uma barreira, ou então como um facilitador, no desempenho final de um candidato ao vestibular da UERJ. Em um segundo momento, será analisada a estrutura da oferta de vagas pela universidade e as compensações (ou distorções) causadas pelo sistema de cotas, uma vez que, dependendo das características de um candidato (cotista ou não cotista) e de suas escolhas de carreira, elas também podem agir como restrições ou oportunidades de acesso. Utilizando as informações disponíveis na base da universidade, investigamos os resultados apresentados por candidatos com diversos perfis socioeconômicos. Para isto, separamos os indivíduos em cinco faixas de notas no vestibular com um intervalo de vinte pontos cada e verificamos suas diversas características. Os resultados são reveladores e se encontram dispostos na Tabela 1.1. A distribuição das notas finais dos candidatos é mais um indício da baixa qualidade da educação básica brasileira. Mais de 50% dos candidatos apresentaram uma nota máxima de 40 pontos. Na outra ponta, apenas 12% dos indivíduos se situaram na faixa daqueles que apresentaram uma média final acima de 60 pontos. Tabela 1.1. Estatísticas Descritivas do Vestibular >80 Variáveis 0 - 20 >20 - 40 >40 - 60 >60 - 80 100 Distribuição das notas 6.89% 47.52% 32.40% 11.49% 1.70% Distribuição da taxa de classificação 0.00% 38.01% 36.91% 21.34% 3.48% Sexo Feminino 59.63% 57.20% 52.10% 52.54% 55.91% Fez Pré Vestibular 55.56% 53.97% 51.01% 54.42% 72.47% Fez Vestibular Anterior 68.70% 74.57% 80.44% 82.45% 91.40% Cor Ensino da Mãe Branca 43.75% 54.85% 67.28% 75.14% 73.97% Parda 30.77% 26.64% 21.72% 17.48% 17.84% Preta 21.92% 14.81% 8% 4.80% 6.40% Amarelo 2.38% 2.52% 2.03% 1.65% 1.07% Indígena 1.16% 1.15% 0.94% 0.85% 0.64% Nenhum 3.60% 1.70% 0.82% 0.22% 0.21% Fundamental 29.23% 20.91% 11.26% 6.29% 5.37% Médio 42.84% 41.06% 32.60% 23.90% 22.58% Superior 20.81% 34.13% 53.83% 68.56% 70.96% 11 Ensino do Pai Não Informado 3.49% 2.17% 1.47% 1.01% 0.86% Nenhum 3.76% 1.86% 0.88% 0.41% 0.22% Fundamental 28.28% 20.77% 12.32% 6.87% 5.59% Médio 39.46% 38.96% 31.54% 24.13% 20.43% Superior 19.07% 32.15% 51.54% 65.86% 71.40% Não Informado 9.43% 6.26% 3.72% 2.73% 2.37% Menor que 3 48.94% 31.18% 15.07% 7.88% 7.31% Entre 3 e 5 30.24% 30.00% 22.83% 16.47% 10.97% Renda Bruta Entre 5 e 10 13.77% 23.69% 29.11% 26.89% 26.02% Domiciliar Entre 10 e 20 5.14% 10.98% 20.89% 26.83% 30.97% Entre 20 e 30 1.38% 2.91% 7.91% 13.45% 14.84% Maior do que 30 0.53% 1.24% 4.19% 8.49% 9.89% Estadual 53.13% 33.05% 12.99% 4.13% 3.87% Privada 41.47% 55.12% 65.51% 67.93% 68.39% Municipal ou Tipo de Escola Federal 2.38% 7.71% 14.56% 14.14% 13.33% 3.02% 4.13% Fora do RJ e/ou Brasil 6.94% 13.80% 14.41% IDH abaixo de 8,5 26.48% 22.98% 15.68% 9.22% 9.03% IDH entre 9 e 8,5 12.18% 13.54% 13.31% 11.41% 9.89% Bairros da cidade IDH entre 9,5 e 9 10.06% 14.03% 18.73% 19.39% 20.86% do RJ IDH acima de 9,5 3.81% 6.35% 14.98% 22.98% 27.31% Fora da cidade do RJ 47.46% 43.10% 37.31% 37.00% 32.90% Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Ao analisarmos o perfil socioeconômico dos candidatos por faixa de nota podemos perceber fortes correlações entre as características listadas e o resultado apresentado no vestibular. Conforme a nota avança, percebemos incrementos nas proporções daqueles que prestaram vestibular em ano anterior ou pré-vestibular. Os autodeclarados brancos aumentam a sua nota final progressivamente entre os níveis de 44% para 74%. Já os autodeclarados pretos seguem o caminho inverso, de 22% para 6,4%. Alunos cujos pais possuem ensino superior são apenas 20% dos que apresentaram os piores resultados enquanto esta proporção 12 aumenta para 70% no topo da distribuição. Efeitos dessas magnitudes são percebidos nas outras variáveis que incluímos para análise. Aqueles que possuem renda familiar maior do que vinte salários mínimos foram menos de 2% do total dos que obtiveram os piores resultados. Este número aumenta continuamente até o patamar de 25%. Os egressos de escolas privadas e federais avançam na composição por faixa de nota em detrimento daqueles que saíram de escolas municipais ou estaduais. O mesmo comportamento se percebe nos candidatos advindos de bairros com altos índices de desenvolvimento humano em detrimento daqueles que moram em locais com baixo IDH. Avaliamos os impactos da estrutura da oferta de vagas e da ação afirmativa nas chances de um candidato. Partindo do sistema de BI mapeamos questões relativas ao acesso na Tabela 1.2. Os dados disponibilizados se referem aos anos de 2008 a 2011. Neste período a quantidade de candidatos aumentou 38% enquanto as vagas disponíveis permaneceram praticamente estáveis. Como resultado a relação candidato/vaga aumentou tanto para os cotistas quanto para os não cotistas. O indicador alcançou no vestibular 2011 o resultado de doze candidatos/vaga entre os não cotistas. Já para os grupos beneficiados, o acesso continuou em níveis próximos a um. Entre os portadores de deficiência e filhos de alguns tipos de servidores mortos em função do exercício da profissão, a relação candidato vaga tem se mostrado inexpressiva. Logo, quando analisamos os dados para os últimos anos, concluímos que estamos próximos de um patamar onde não há concorrência entre os candidatos dos tipos contemplados pelas cotas. Tabela 1.2. Quantidade de Vagas, Candidatos, Relação Candidato/Vaga e Matriculados no Período 2008/2011 Relação Ano 2008 Cotista Negros Port. deficiência/indígena Rede Pública Não Cotista 2009 Cotista Quantidade de Total de Candidato Total de Vagas Candidatos / Vaga Matriculados 5,215 2,392 1,048 295 1,049 2,823 5,223 2,396 27,586 2,022 673 57 1,292 25,564 34,220 2,822 5.29 0.85 0.64 0.19 1.23 9.06 6.55 1.18 4,870 1,127 423 28 676 3,743 4,864 1,384 13 Negros Port. deficiência/indígena Rede Pública Não Cotista 2010 Cotista Negros/Indígenas Port. deficiência/FM... Rede Pública Não Cotista 2011 Cotista Negros/Indígenas Port. deficiência/FM... Rede Pública Não Cotista Total geral 1,050 296 1,050 2,827 5,287 2,424 1,062 300 1,062 2,863 5,292 2,427 1,063 301 1,063 2,865 21,017 1,149 74 1,599 31,398 32,765 2,830 1,174 35 1,621 29,935 38,159 3,360 1,477 36 1,847 34,799 84,932 1.09 0.25 1.52 11.11 6.20 1.17 1.11 0.12 1.53 10.46 7.21 1.38 1.39 0.12 1.74 12.15 4.04 541 53 790 3,480 4,716 1,510 648 24 838 3,206 4,978 1,563 683 22 858 3,415 18,195 Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Diante da primeira descoberta, optamos por verificar os dados em um nível detalhado por carreira. A Tabela 1.3 mostra o cenário da distribuição das vagas com uma visão centrada nos cursos oferecidos e nas taxas de ociosidade do vestibular 2010. Das 57 carreiras, 41 (71%) não foram totalmente preenchidas pelos grupos cotistas. Entre os cursos de altíssimo e alto prestígio1, o preenchimento das vagas tende a 100%. A maior porcentagem de ociosidade para carreiras classificadas como altíssimo prestígio não ultrapassa 5%. Entre as carreiras com baixo prestígio as taxas de ociosidade com frequência têm atingindo os valores de 70% a 90%. Uma vez que os cursos de alto prestígio são concorridos, acreditamos que para estas carreiras, a quantidade de cotistas aptos está sendo suficiente para o preenchimento das vagas. Possivelmente os candidatos cotistas estão aproveitando a oportunidade para concorrer a cursos com maior prestígio; em um sistema sem a reserva de vagas, não vislumbrariam a possibilidade de classificação. 1 Cursos de altíssimo prestígio: Desenho industrial, engenharia química, jornalismo e medicina. Cursos de alto prestígio: Ciências biológicas, direito, engenharia de produção, engenharia mecânica, geologia, odontologia, psicologia, química e relações públicas. As carreiras foram classificadas em altíssimo, alto, médio ou baixo prestígio de acordo com as respectivas disposições de relação candidato-vaga: acima de 15, entre 15 e 10, entre 10 e 5, abaixo de 5. 14 Tabela 1.3. Relação Candidato Vaga em 2010: Grupos Cotistas e Não Cotistas Preenchimento Carreiras* Tipo de Cotista das vagas por Prestígio Total cotistas (em Não Total Cotista geral %) Desenho Industrial (RIO) Altíssimo 2.63 100.00 35.79 20.63 Engenharia Química (RIO) Altíssimo 2.47 100.00 27.43 16.20 Ciências Biológicas (RIO) Alto 1.87 100.00 22.30 12.51 Direito (RIO) Alto 2.81 100.00 18.95 11.50 Engenharia de Produção (RIO) Alto 1.21 100.00 19.84 11.15 Engenharia Mecânica (RIO) Alto 2.07 100.00 23.41 13.45 Administração (RIO) Médio 2.07 98.15 16.02 9.74 Ciências Contábeis (RIO) Médio 1.57 98.15 9.11 5.72 Ciências Econômicas (RIO) Médio 0.89 70.31 10.20 5.94 Ciências Sociais (RIO) Médio 1.35 100.00 9.22 5.60 Enfermagem (RIO) Médio 1.72 100.00 12.57 7.69 Engenharia Cartográfica (RIO) Médio 0.58 29.17 9.04 4.98 Engenharia Civil (RIO) Médio 1.48 100.00 15.03 8.93 Engenharia de Computação (NF) Médio 1.17 75.00 11.31 6.44 Artes Visuais (RIO) Baixo 0.88 59.38 8.24 4.87 Ciências Atuariais (RIO) Baixo 0.19 14.29 4.21 2.33 Ciências Biológicas (SG) Baixo 0.78 50.00 5.05 3.13 Educação Física (RIO) Baixo 0.59 33.93 6.47 3.73 Engenharia de Produção (RS) Baixo 0.59 41.30 7.76 4.46 Engenharia Mecânica (NF) Baixo 0.72 61.11 7.93 4.69 Estatística (RIO) Baixo 0.14 9.52 4.23 2.32 Filosofia (RIO) Baixo 0.46 41.30 4.22 2.49 * a relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para os autores. Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Para analisarmos os efeitos dentro de cada tipo particular de cota, investigamos a concorrência pelas vagas em um segundo nível, agora entre as diversas categorias 15 contempladas no vestibular de 2010. Em todos os cursos, a reserva de 5% para deficientes e filhos de mortos em razão de serviço se manteve em níveis menor ou igual a um candidato/vaga. Em muitas delas não houve candidato. Podemos concluir que há vagas demais para esta categoria. A relação candidato-vaga entre os cotistas atinge o máximo para a carreira mais concorrida da UERJ, medicina. Mesmo entre os negros e estudantes de escola pública, foram diversas as carreiras que apresentaram uma relação menor do que um. Como consequência, passamos a esperar que as notas mínimas de classificação dos grupos cotistas flutuassem próximas ao nível estabelecido para que um candidato não seja reprovado por nota (20 pontos). Esta intuição foi confirmada, conforme se observa na Tabela 1.4, que mostra os matriculados por notas mínimas em alguns dos cursos oferecidos pela instituição. Para desenho industrial, um curso de altíssimo prestígio, os alunos não cotistas precisaram atingir a nota mínima de 73,25, enquanto entre os cotistas a linha de corte atingiu os 22,5pontos. Tabela 1.4. Relação de Notas Mínimas dos Matriculados no Vestibular 2010 Tipo de Vaga Carreira Prestígio Negros Rede Pública Deficientes Não Cotista Desenho Industrial (RIO) Altíssimo 22.5 44.5 Sem candidatos 73.75 Direito (RIO) Alto 38.25 42.75 21.5 44.25 Informática (RIO) Médio 20.5 20 28.5 42.25 Educação Física (RIO) Baixo 20 20.25 25.25 25 Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. O Rio de Janeiro é caracterizado por ser uma unidade da federação com muitas universidades de alta qualidade e, como consequência, muitos candidatos classificados não realizam matrículas na UERJ, optando por outras instituições. Esse efeito se materializa através de relações candidato/vaga superestimadas. A porcentagem dos candidatos que obtiveram nota maior que a mínima necessária para realização da matrícula mitiga este tipo de problema. Desta forma, a não efetivação da inscrição passa a depender tão somente da decisão do candidato. Os resultados encontrados estão expostos na Tabela 1.5. Entre os cotistas, uma parcela pequena da distribuição está sendo contemplada pelas vagas. A alta concorrência dentro do tipo resulta na seleção de candidatos que se encontram na faixa dos 12,78% e 14,57% melhores da carreira de administração e engenharia mecânica, por 16 exemplo. Para o curso de desenho industrial, apenas 3,57% são convocados no primeiro momento pela UERJ para realização da matrícula. Ao analisarmos os grupos cotistas, os resultados se direcionam para a ponta inferior da distribuição. Todos os cotistas negros e advindos de escolas públicas que optaram por ciências atuariais foram convocados. Os valores com freqüência atingem de 80 a 90% da distribuição nos tipos cotistas. Particularmente, para a reserva relativa aos “deficientes e filhos de mortos / incapacitados”, a distribuição atinge a totalidade dos candidatos, desde que eles consigam obter as notas mínimas. Tabela 1.5. Percentis de Distribuição da Nota Percentil da distribuição classificada no vestibular Carreira** Grupo de Prestígio NC DF NI RP * 100.00% 29.03% Desenho Industrial Altíssimo 3.51% Engenharia Química Altíssimo 11.88% 100.00% 47.50% 50.00% Ciências Biológicas Alto 17.65% 61.29% 61.70% Direito Alto 56.06% 100.00% 36.87% 36.56% Engenharia de Produção Alto 28.22% 100.00% 80.00% 100.00% Engenharia Mecânica Alto 14.57% 100.00% 73.33% 81.08% Administração Médio 12.78% 100.00% 60.98% 55.00% Ciências Contábeis Médio 22.55% * 74.19% 72.92% Ciências Econômicas Médio 44.15% * 96.15% 96.15% Ciências Sociais Médio 28.20% 100.00% 87.10% 88.46% Enfermagem Médio 15.20% 0.00% 63.64% 67.57% Engenharia Cartográfica Médio 31.55% * 55.56% 60.00% Engenharia Civil Médio 19.50% 0.00% 77.78% 77.78% Engenharia de Computação Médio 48.74% * 0.00% 90.00% Artes Visuais Baixo 38.29% * 91.67% 92.31% Ciências Atuariais Baixo 67.96% * 100.00% 100.00% Ciências Biológicas-FFP Baixo 55.26% * 100.00% 68.42% Educação Física Baixo 55.43% 100.00% 80.00% 64.71% Engenharia de Produção Baixo 45.48% 100.00% 100.00% * * 17 Engenharia Mecânica-IPRJ Baixo 29.82% * 100.00% 93.75% Estatística Baixo 68.05% * 66.67% 66.67% Filosofia Baixo 60.66% * 100.00% 93.33% *sem candidatos. ** a relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para os autores. Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Desses resultados, emergem dois posicionamentos normativos que podem respaldar diferentes ações no campo de políticas de ação afirmativa. Os defensores da diminuição da porcentagem de reserva de vagas podem se valer do que Roemer (1998) define como igualdade de oportunidades. Os defensores desta teoria argumentam que o resultado de um indivíduo é devido em parte aos condicionantes socioeconômicos aos quais está submetido; em parte aos seus esforços. Desta forma, apenas a parcela das desigualdades atribuídas aos diferenciais de circunstâncias seria injusta, devendo por tanto ser corrigida. Traduzindo para os dados da Tabela 1.5, isto significa aproximar os diversos percentis de nota no vestibular entre os grupos cotistas e não cotistas. Uma consequência direta desta política para o caso da UERJ implica diminuir drasticamente as reservas de vagas para os grupos cotistas. Apesar de parecerem injustas certas características do sistema de cotas da UERJ, a baixa concorrência identificada entre os tipos favorecidos pode ser justificada pelo que Fryar e Hawes (2011) chamam de “pipeline effect”. Nela, os pesquisadores vêem a progressão dos alunos pelos diferentes níveis de ensino como um fluxo que deve passar por toda uma rede de encanamentos (“pipelines”) até o mercado de trabalho. Como os grupos socialmente desfavorecidos se graduam a taxas bem menores no ensino médio, pode ocorrer que a oferta de candidatos não seja suficientemente alta para garantir um pleno acesso à universidade destes grupos, mesmo diante de uma oferta considerável de vagas pelas instituições. O que implica em relações candidato-vaga consideravelmente menores para grupos cotistas. Com o objetivo de comprovarmos empiricamente esta hipótese, confrontamos os dados da UERJ com a PNAD e os resultados se encontram na Tabela 1.6. No ensino médio 75% da população estudam em escolas públicas. Apesar de ser o tipo de escola da maioria dos estudantes fluminenses, a proporção desses alunos matriculados em alguma carreira da UERJ foi de apenas 33,67% em 2010. A baixa proporção dos matriculados que pertenceram às escolas estaduais é explicada pela melhor preparação dos alunos egressos do ensino médio privado, responsáveis por 53,62% das matrículas. Ao comparamos a representatividade de pretos e pardos na população do Rio de Janeiro em relação àqueles matriculados no ensino 18 superior, percebemos que, apesar de serem 32,53% e 11,11%, respectivamente, dos habitantes do estado eles compõem apenas 24,01% e 5,41% das matrículas nas universidades do Rio de Janeiro. Tabela 1.6. Representação Populacional de Tipo de Escola, Cor da Pele e Renda Bruta Tipo de Escola (RJ) Nível de Ensino Cor da Pele (RJ) Renda Bruta (RJ) Baixa Publica Particular Branco Pardo Preto (Abaixo de 3 S.M) Alta (Acima de 3 S.M) Ensino Fundamental 74.64% 25.36% 49.87% 38.44% 11.25% 66.60% 33.40% Ensino Médio 75.60% 24.40% 40.50% 39.24% 18.98% 53.69% 46.31% Ensino Superior 25.50% 74.50% 70.35% 24.01% 5.41% 16.09% 83.91% UERJ - Candidatos 33.67% 66.33% 60.77% 24.13% 11.81% 32.21% 67.79% 46.37% 53.62% 55.27% 25.24% 16.10% 24.10% 75.90% 47.92% 52.08% 83.33% 14.58% 2.08% 20.80% 79.20% N/A N/A 55.90% 32.53% 11.11% 57.08% 42.92% UERJ Matriculados Mestrado ou doutorado Representatividade na População do RJ Fonte: Elaboração própria com dados da PNAD e Business Intelligence - UERJ. Se considerarmos as desigualdades proporcionais como aquelas dadas pela diferença entre a representação de certo grupo na população e o que é efetivamente verificado nas universidades, percebemos que este tipo de desigualdade é menor na UERJ em relação às outras instituições de ensino superior, devido em grande parte, ao sistema de cotas. Segundo Feres Junior (2006), este conceito é amplamente utilizado para justificação e estabelecimento de percentuais de reserva de vagas para diferentes castas na Índia. Aplicando para o caso da UERJ, percebe-se que tais diferenças são amenizadas em relação aos pardos e completamente suprimidas para os pretos. Cabe notar que ao adotar um sistema de cotas para a cor preta, o impacto na admissão de candidatos pretos se torna significativamente forte. 19 Como resultado, temos que, ao invés de equalizar oportunidades entre as diversas cores, a UERJ fomenta desigualdades em favor dos autodeclarados pretos. Dentre as variáveis mapeadas, as desigualdades de renda são as de maior magnitude quando se analisa o acesso ao ensino superior. Embora a composição da população fluminense seja de 57,08% de pessoas com renda per capita até 1 S.M, o universo de matriculados em instituições do ensino superior que possuem a faixa mais baixa de renda declarada é de 16,09% no Rio de Janeiro e 24,10% na UERJ. Através da análise das informações da PNAD, percebemos que o problema do fluxo de alunos com um background familiar desfavorável se revelou uma questão empírica relevante em nosso objeto de estudo. O ensino médio público de baixa qualidade aliado às condições socioeconômicas precárias que caracterizam essas pessoas, acabam sendo determinantes para que milhares de potenciais candidatos não concorram a uma vaga na UERJ. Para aqueles que ascendem ao vestibular e optam por concorrer a uma carreira via reserva de vagas, as chances de entrada aumentam consideravelmente. A concorrência dentro dos grupos de cotistas é baixa, devido à combinação do “efeito encanamento” e de um percentual elevado de reserva de vagas. O desempenho inferior das pessoas contempladas pela ação afirmativa se traduz em relações candidato/vaga inexpressivas, notas mínimas próximas aos patamares de eliminação e taxas de ociosidade de vagas relevantes entre os grupos beneficiados. 1.4.2 Determinantes do desempenho no vestibular da UERJ Utilizando a base de dados do vestibular da UERJ nós investigamos como os determinantes sócio-econômicos podem influenciar o desempenho de um candidato. Para isto, utilizamos o método de mínimos quadrados ordinários (MQO) onde a variável dependente é a nota do candidato no vestibular. A Tabela 1.7 apresenta os resultados encontrados em seis regressões diferentes. As duas primeiras englobam a totalidade dos candidatos que prestaram a última etapa do vestibular. A diferença entre elas reside no fato de que para a segunda foram retirados os controles por tipo de carreira e tipo de vaga. O objetivo é verificar como os coeficientes respondem ao novo modelo uma vez que candidatos mais fracos tendem a optar por carreiras menos concorridas e por exercer o direito das cotas. Assim, esperamos que a inclusão dessas 20 variáveis acabe por diminuir os diferenciais de desempenho encontrados entre os candidatos não cotistas e cotistas. As demais regressões separam a amostra considerando carreiras com diferentes níveis de prestígio. Mantivemos todas as principais variáveis, com exceção da binária “cotista”. Dividimos a amostra em quatro grandes grupos de acordo com a carreira para qual o candidato esta concorrendo. Classificamos estas carreiras dentro de grupos de prestígio. Altíssimo prestígio é uma variável binária que recebe o valor de um, caso o curso possua uma relação candidato vaga acima de 15. As demais seguem os seguintes valores. Alto prestígio caso esteja entre 10 e 15. Médio prestígio entre cinco e 10. Baixo prestígio se a relação candidato vaga for menor do que cinco. Ao condicionar as regressões a um universo limitado de concorrentes, tivemos como pretensão identificar se alguma variável socioeconômica ganha em relevância conforme avançamos nas relações candidato-vaga dos cursos. Tabela 1.7. Determinantes Socioeconômicos do Acesso – Método MQO Variáveis Sexo Bairro - Fora do RJ Bairro - IDH acima de 9,5 Bairro - IDH entre de 9,5 e 9,0 Bairro - IDH entre de 9,0 e 8,5 (1) (2) Altíssimo Alto Médio Baixo (3) (4) (5) (6) -1.3314*** -0.7045*** -1.4188*** -1.8054*** -1.4364*** -1.2478*** (0.1668) (0.1740) (0.4622) (0.3208) (0.2569) (0.3251) 0.7768*** 0.8822*** 1.2194* 0.1363 0.3298 0.8700** (0.2186) (0.2254) (0.7380) (0.4122) (0.3297) (0.4119) 5.3911*** 6.0242*** 6.7283*** 5.2402*** 3.9129*** 5.8136*** (0.3361) (0.3557) (0.8931) (0.5852) (0.5202) (0.9431) 2.1202*** 1.9105*** 3.3290*** 2.2254*** 1.7084*** 1.5018** (0.2834) (0.2962) (0.8700) (0.5335) (0.4161) (0.5890) 1.3848*** 1.3603*** 2.5226*** 2.0186*** 1.0953*** -0.0527 (0.2852) (0.2981) (0.9115) (0.5455) (0.4135) (0.5746) Tipo de Escola - Municipal e Estadual Tipo de Escola - Federal -4.7148*** -5.0515*** -9.4231*** -5.6855*** -3.6592*** -2.7376*** (0.2133) (0.2165) (0.7811) (0.4249) (0.3110) (0.3687) 4.0650*** 5.0258*** 1.3974** 4.3792*** 4.9993*** 5.3020*** (0.2873) (0.2963) (0.6835) (0.5177) (0.4303) (0.7856) 21 Tipo de Escola - Escola Fora do RJ Idade Idade ao Quadrado 3.2412*** 6.2823*** 2.9977*** 1.4216* 0.9763 2.1438** (0.3995) (0.4335) (0.7233) (0.7845) (0.7696) (0.8751) 0.3894*** 0.3528*** 3.2264*** 0.1685 -0.3061** 0.0244 (0.0873) (0.0906) (0.3774) (0.2014) (0.1436) (0.1386) -0.4819 0.3477 -0.1073 -0.6883*** -0.7197*** -5.3837*** (0.1401) (0.1443) (0.7100) (0.3394) (0.2355) (0.2155) 0.8181*** 1.1291*** 5.3267*** -0.3618 -0.5564** -0.4868 (0.1652) (0.1735) (0.4824) (0.3124) (0.2570) (0.3183) 2.9406*** 3.1939*** 6.1475*** 2.8513*** 1.7861*** 2.0837*** (0.1968) (0.1995) (0.5887) (0.3711) (0.3072) (0.3746) 1.4092*** 1.4747*** 1.9025** 1.5625*** 1.1218*** 1.2864*** (0.2275) (0.2332) (0.7898) (0.4428) (0.3476) (0.3892) 3.7830*** 4.0416*** 5.0171*** 4.3406*** 2.4842*** 3.2138*** (0.2593) (0.2677) (0.8238) (0.4941) (0.3975) (0.4752) 6.6566*** 7.2197*** 8.1117*** 7.0048*** 4.9366*** 5.9715*** (0.3176) (0.3325) (0.9138) (0.5892) (0.4859) (0.6782) 6.2368*** 6.6502*** (0.7478) (1.2571) Fez Pré Vestibular Fez Vestibular Anterior Renda Bruta - Entre 3 e 5 S.M. Renda Bruta - Entre 5 e 10 S.M. Renda Bruta - Entre 10 e 20 S.M. Renda Bruta - Entre 20 e 30 S.M. Renda Bruta - Maior que 30 S.M. Pai - Ensino Fundamental Pai - Ensino Médio Pai - Ensino Superior Pai - Candidato Não Sabe Informar Mãe - Ensino Fundamental 8.9559*** 10.0468*** 10.9026*** 9.5317*** (0.4442) (0.4736) (1.0696) (0.7681) 10.8845*** 12.1125*** 10.0144*** 12.0820*** 9.1854*** 8.9924*** (0.5634) (0.5912) (1.2832) (0.8993) (0.9915) (1.9226) 0.8920 0.8437 0.3018 2.4445* 0.1869 1.3169 (0.6683) (0.6932) (2.2897) (1.4218) (1.1165) (1.0722) 0.8622 0.7466 0.4971 2.2199 -0.0381 1.3395 (0.6757) (0.7014) (2.2646) (1.4288) (1.1269) (1.1000) 2.8225*** 3.0501*** 2.4732 4.8255*** 1.5362 2.2761** (0.6912) (0.7187) (2.2837) (1.4508) (1.1535) (1.1438) 0.5292 0.4287 -0.1449 1.9829 -0.1439 0.7447 (0.7350) (0.7622) (2.5805) (1.5359) (1.2240) (1.1773) 0.8847 1.1881* 2.9668 1.0062 0.0012 0.6588 (0.6788) (0.6889) (2.2542) (1.6041) (1.0974) (1.0197) 22 Mãe - Ensino Médio Mãe - Ensino Superior Mãe - Candidato Não Sabe Informar Cor - Preta Cor - Parda Cor - Amarela Cor - Indígena Carreira - Altíssimo Prestigio Carreira - Alto Prestigio 0.9472 1.3101* 3.2751 0.5510 0.0729 0.8467 (0.6879) (0.6983) (2.2223) (1.6199) (1.1057) (1.0508) 3.0938*** 3.8680*** 6.5838*** 2.6707 1.7106 2.0678* (0.7051) (0.7179) (2.2412) (1.6497) (1.1350) (1.0977) 0.5605 0.9160 4.2097 0.9289 -0.5797 -0.3602 (0.8917) (0.9180) (3.2866) (1.9191) (1.4620) (1.3391) -3.1402*** -3.1060*** -3.1238*** -4.4690*** -1.8951*** -2.5935*** (0.2558) (0.2640) -1.2160*** -1.3145*** (0.8780) -1.2606** (0.4806) (0.3864) (0.4345) -1.1166*** -1.2008*** -1.1363*** (0.1977) (0.2079) (0.5798) (0.3836) (0.3028) (0.3622) -1.0834** -1.6318*** -2.7796* -1.9042* -0.3281 -0.3531 (0.5246) (0.5411) (1.6335) (1.0050) (0.7696) (1.0650) -2.4140*** -2.0397** -4.8750** -0.9180 -1.6329 -1.6261 (0.8147) (0.8342) (2.1861) (1.6490) (1.2258) (1.4933) 12.8895*** (0.2949) 4.6027*** (0.2249) Carreira - Médio Prestigio 1.2551*** (0.2053) Cotista Constante 1.4958*** (0.2713) 22.5643*** 25.9229*** -9.1066* 30.5400*** 37.8558*** 28.8032*** (1.4425) (1.4768) (5.0869) (3.1398) (2.2865) (2.3560) N 27415 27415 5211 7898 8917 5389 adj. R2 0.319 0.245 0.259 0.264 0.181 0.161 AIC 219618.00 222464.71 43811.51 63405.35 69205.96 41408.68 BIC 219897.44 222711.28 44008.27 63614.58 69418.83 41606.44 Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Primeiramente abordamos questões relativas a preocupações comuns em regressões econométricas, como: viés por variável omitida, heterocedasticidade, multicolinearidade, viés de seleção amostral e qualidade dos ajustes. 23 Em um primeiro momento nos certificamos em incluir como controle todas as principais variáveis disponíveis com o objetivo de mitigarmos problemas de um viés por variável omitida, conforme sugerido por Angrist e Krueger (1999). A referida técnica é plausível sob a hipótese de seleção de observáveis, que se justifica quando sabemos muito sobre o processo que gera a variável dependente de interesse. Como foi possível incluir todo o conjunto relevante de variáveis abordadas em artigos que analisam os determinantes de resultados em provas e concursos, acreditamos que foi possível minorar o problema de viés por variáveis omitidas. Ainda em atenção a esta questão, optamos por modelar nas equações uma variável não percebida em outras pesquisas, nomeada de “bairro”. A partir dos dados obtidos em Cardoso (2004), agrupamos os diferentes bairros do município do Rio de Janeiro em quatro categorias de IDH, onde a faixa máxima reúne todos os candidatos que moram em bairros com IDH maior do que 9,5. A inclusão dessa variável se justifica por dois fatores. O Rio de Janeiro é uma cidade com grandes desigualdades e elas se manifestam em bolsões bem delimitados de pobreza e de riqueza. Esperamos que escolas públicas e particulares de regiões como Gávea e Ipanema sejam consideravelmente melhores do que as de regiões pobres no Rio de Janeiro. Ou ainda, que tais bairros concentrem a maior proporção de pais com ensino superior e altas rendas domiciliares. Por isto, tratar o viés por variável omitida em pesquisas com foco no nosso estado passa pela inclusão desta variável. A segunda razão advém de distorções dentro do município do Rio de Janeiro. Indivíduos que moram nesses bairros têm um maior contato com amigos, vizinhos e parentes que valorizam a educação e que em muitos momentos acabam por influenciar positivamente as decisões por educação dos candidatos. Desta forma, a variável bairro também funciona como uma proxy para o capital social. Os candidatos que residem em outras cidades foram reunidos em uma variável binária. Com o intuito de corrigir o efeito da heterocedasticidade, usamos erros-padrões robustos em todas as regressões. Atentamos que os coeficientes calculados pelo modelo se referem aos determinantes da nota de um indivíduo condicionado ao fato de o mesmo ter realizado a prova do vestibular. Acreditamos que existem fatores não observados que afetem tanto o processo de inscrição quanto a nota final do vestibular e esta hipótese fundamenta uma provável existência de viés de seleção amostral em nossas regressões. Os inscritos não são aleatórios, pelo contrário, a tendência é que aqueles que realizem as inscrições pertençam à parcela dos candidatos com maior autoconfiança e mais preparados para o vestibular. Ocorre, portanto, que grupos com 24 condições socioeconômicas desfavoráveis têm menos chances de estar incluídos na amostra do que sua contraparte favorável. Uma técnica amplamente utilizada para tratar este problema é a aplicação da correção de Heckman utilizando dados das observações que não possuem a variável dependente, para eliminar o viés. Tal procedimento é de fácil aplicação em muitas áreas, onde normalmente se encontram disponíveis observações relativas a toda a população. No processo do vestibular isso não ocorre. Toda a população apta a se inscrever e que não se inscreveu, pela própria característica das bases, é naturalmente indisponível para tratamento pelos pesquisadores. No único artigo percebido que procura tratar esta inconsistência, Emilio et al. (2004) aplicaram hipóteses fortes acerca dos pesos e efetuaram a correção para o problema do viés de seleção amostral utilizando dados da PNAD. Concluíram que houve uma pequena redução da magnitude dos estimadores aliada a uma melhora insignificante do ajuste do modelo. O efeito do viés se revelou essencialmente quantitativo. Castelar et al. (2010) argumenta que tais procedimentos não são garantias de bons resultados. Optamos por assumir alguma distorção na magnitude dos coeficientes estimados e entendemos que se mantém possível a extração de muitas conclusões importantes sobre os determinantes da nota do aluno. Todos os modelos apresentaram um valor p para o teste F tendendo a zero e por isto, podemos rejeitar a hipótese nula de que as variáveis independentes não exercem influência sobre a nota média de um candidato. O R² ajustado dos modelos variou entre 0,319 e 0,161. Os dois modelos completos apresentaram valores de ajuste adequados para dados em crosssection uma vez que regressões com este tipo de dados costumam apresentar coeficientes de determinação significativamente menores do que os verificados em modelos com séries temporais. Em relação aos resultados apresentados pelos modelos, nós descobrimos que a renda per capita parece ser o principal determinante sócioeconômico das notas de um candidato no vestibular. Revelou-se significante no nível de 1% em todas as regressões em que está inclusa. A cada faixa de renda há uma variação relevante nas notas médias em todas as regressões. A explicação da importância desta variável pode residir no fato de que pais com alto poder aquisitivo matriculam seus filhos em escolas particulares que possuem maior qualidade. Moram em regiões com maior capital social, onde os indivíduos são mais instruídos. Também favorece o acesso dessas pessoas a recursos educacionais que impactam diretamente na nota do aluno, como cursos específicos de inglês ou espanhol. 25 O tipo de escola se mostrou decisivo no resultado do vestibular. A média de candidatos de escolas privadas se revelou cinco pontos maior do que os que concluíram o ensino médio em escolas públicas estaduais. A variável bairro apresentou alta magnitude. Esperamos que, em parte, esta variável ajude a capturar as relações dos candidatos com familiares, vizinhos, amigos e de outros moradores que tem o poder de melhorar o conjunto de informações disponíveis para o candidato. O seu efeito percebido foi maior do que aquele verificado no nível de escolaridade dos pais. Este fato traz à tona um papel que acreditamos ser relevante e que hoje se encontra à margem das discussões sobre os condicionantes socioeconômicos em produtos educacionais, a análise das influências de diferentes pessoas sobre o candidato. O nível de ensino da mãe apresentou coeficientes estatisticamente maiores, quando comparado com os dos pais. É uma evidência que esperávamos encontrar dado o fato de que é a mãe que, culturalmente, costuma sacrificar horas de trabalho em prol de uma maior presença na criação e educação dos filhos. Se o racismo no Brasil for um problema social relevante, é de se esperar que encontremos coeficientes expressivamente negativos frente aos brancos mesmo após a inclusão de controles para renda, tipo de escola e ensino dos pais. Em um país racista, o acesso à educação do tipo reprimido é menor. Indivíduos destes grupos sofrem com a discriminação dos socialmente favorecidos, possuem baixa autoestima e sofrem do estigma da incompetência (HEILMAN, 1996). A forma com que a sociedade trata o grupo excluído pode ser em parte representada por uma proxy como a nota dos alunos em um vestibular. Nossa hipótese é de que quando isolamos os efeitos dos outros controles socioeconômicos, o coeficiente da variável “cor preta” se torne altamente correlacionado com as conseqüências do racismo. Esperamos que este problema social esteja em boa parte refletido na magnitude do coeficiente. Quando comparamos as autodeclarações de cor, percebemos que em todas as regressões os brancos apresentaram maior desempenho que as demais classificações. Ao incluirmos os controles progressivamente, todos os coeficientes de cor se reduziram, mantendo-se, com a exceção dos indígenas, significantes ao nível de 1%. No modelo completo, o impacto verificado mostra um desempenho médio dos pretos de três pontos a menos que a categoria de referência dos brancos. Os resultados encontrados parecem indicar que outros fatores sócio-econômicos afetam em maior grau as notas de um candidato. A renda bruta, o tipo de escola, o bairro de 26 origem do candidato e a escolaridade dos pais indicam uma maior influência no desempenho do indivíduo do que o fator da cor da pele. Mediante esta constatação, esperávamos que os coeficientes relativos à cor preta caíssem a níveis modestos depois que inserimos o controle para todas as outras variáveis do modelo, o que não ocorreu. Isolando os efeitos de todas as demais características, os autodeclarados de cor preta apresentaram um rendimento médio de menos três pontos em relação aos brancos. É um resultado que parece refletir as complexidades do racismo brasileiro que sempre se manifestou de uma forma velada e envergonhada. Bem diferente das discriminações formais estadunidenses presenciadas durante grande parte de sua história até meados do século passado. Em relação à variável “sexo” identificamos que as mulheres ainda possuem um desempenho, em média, menor do que o dos homens. No pior dos cenários a diferença na média final não tem ultrapassado os dois pontos. Em relação ao total de matrículas, as mulheres conseguiram ultrapassar os homens e são a maioria do corpo discente ingressante em 2012. São 2.207 novas alunas contra 2.024 do sexo masculino. Isto indica que a diferença de gênero é baixa no Brasil e que é consideravelmente menor do que a cor. Elas são maioria em três dos quatro cursos rotulados como de altíssimo prestígio. Em quatro cursos a porcentagem de mulheres matriculadas ultrapassa 84% dos alunos. Na outra ponta, com menos de 20% de participação, estão carreiras exatas. São quatro engenharias e o curso de ciências da computação. Quando inserimos grupos de controle para separar as observações de candidatos que concorrem a cursos de diferentes relações candidato/vaga, se tornou possível verificar um importante efeito na variável “pré-vestibular”. Nos dois modelos que utilizam a amostra completa, o fato de o aluno ter estudado em um pré-vestibular se mostrou significativo, porém com efeitos marginais em seu desempenho. Ao isolarmos os candidatos por grupos de prestígio, percebemos uma alteração de comportamento relevante neste coeficiente. Para os candidatos que concorrem a cursos de alto prestígio, o pré-vestibular aumentou em média cinco pontos nos resultados finais. Para as demais carreiras, o coeficiente se tornou negativo. Nossa explicação é de que os candidatos que concorrem às carreiras com alta relação candidato/vaga se matriculam em pré-vestibulares particulares, caros e que concentram os melhores professores. A motivação destes alunos em perseguir melhores resultados contribui para um efeito positivo, forte e significativo na variável. Os demais cursos são compostos por candidatos que fizeram pré-vestibulares com baixa qualidade de infraestrutura e professores. Este tipo de escola não foi capaz de incrementar a nota do aluno. É uma descoberta 27 importante que contraria aqueles que defendem os pré-vestibulares comunitários como bons substitutos para a existência de uma eventual política de cotas (WYDICK, 2008). Por fim, analisamos as variáveis explicativas utilizadas apenas no primeiro modelo. Em relação aos controles por tipo de carreira, quem optou por concorrer a cursos de altíssimo prestígio terminou com uma nota média maior de cerca de doze pontos quando comparados aos candidatos para cursos de baixo prestígio. Com o controle para todas as demais explicativas, o sinal do coeficiente para os candidatos cotistas se mostrou positivo. Para nós, isso se revelou uma surpresa. Mesmo isolando para os diversos fatores socioeconômicos esperávamos que o coeficiente persistisse negativo, o que não ocorreu. Uma explicação razoável é o fato de que possivelmente os candidatos cotistas que se propõem a enfrentar a etapa do vestibular tenham na média, aplicado um esforço relativo maior. Ao controlarmos para todos os demais fatores, o resultado implicaria em um impacto positivo na nota final do concorrente pela reserva de vagas. 1.4.3 Determinantes da classificação no vestibular da UERJ Com o intuito de analisarmos o efeito das restrições de ofertas de vagas e do sistema de cotas nas chances de classificação para a UERJ, optamos por expandir a análise econométrica utilizando o modelo Logit. Sabemos que existe uma demanda alta por ensino superior público não atendida pelas ofertas de vagas de instituições públicas. As restrições de ofertas de vagas variam entre diferentes cursos e isto afeta as chances de admissão. A probabilidade de um candidato passar para uma carreira de medicina é muito mais baixa quando comparamos com pedagogia. A ação afirmativa também altera as chances de admissão. Desta vez em favor dos candidatos que provêm de backgrounds familiares desfavoráveis em detrimento daqueles que não são contemplados pela referida política. Uma regressão logística pode fornecer insights importantes sobre as distorções causadas pela introdução deste sistema. Como se sabe, neste tipo de modelo a variável dependente é uma binária que recebe o valor de “1” caso o candidato seja classificado ou “0” caso contrário. O vetor de variáveis explicativas que utilizamos compreende sexo, renda bruta, nível de ensino do pai e da mãe, cor da pele, tipo de escola, carreira, bairro de origem e tipo de cota. Com o intuito de melhorar o ajuste do modelo transformamos as variáveis de ensino dos pais e renda bruta em 28 quantitativas. Cada uma das faixas de resposta no questionário sociocultural recebeu um valor. Desta forma, a renda bruta se tornou uma variável que vai de um a seis. O ensino do pai e da mãe possui quatro valores possíveis ordenados da seguinte maneira: nenhum, fundamental ou não sei, médio e superior. A justificativa do agrupamento das observações entre aqueles que declararam “não sei” ou “fundamental” reside na proximidade das médias finais dos dois grupos. O mesmo problema de viés da seleção amostral que afeta a magnitude dos coeficientes do MQO também pode ser verificado aqui, de modo que os resultados devam ser vistos com essa reserva em mente. Os resultados se encontram na Tabela 1.8. As cores (com exceção da preta), o ensino do pai e as escolas fora do Rio de Janeiro foram as únicas variáveis não significantes ao nível de 10%. O valor p do teste qui-quadrado tende a zero e por isto, podemos rejeitar a hipótese nula de que as variáveis independentes não exercem influência sobre a probabilidade de sucesso de um candidato. O modelo apresentou um pseudo-R2 de 0,275. Outra medida de ajustamento frequentemente utilizada em regressões logísticas é o percentual de observações corretamente preditas. Os valores positivos foram corretamente avaliados em aproximadamente 66% das classificações e em 88% das não classificações para ambas os modelos. O valor ponderado das predições corretas se situou em cerca de 85,6%. O grau de ajuste se revelou alto, principalmente quando comparamos com outros estudos sobre determinantes de acesso no vestibular (TANNURI-PIANTO E FRANCIS, 2012a) ou em concurso público (CASTELLAR ET AL, 2010). Tabela 1.8. Determinantes do Acesso – Método Logit Sexo Bairro - Fora do RJ Bairro - IDH entre de 9,0 e 8,5 Bairro - IDH entre de 9,5 e 9,0 Bairro - IDH acima de 9,5 Logit Logistic (Odds Ratio) Marginal Effects -0.0890** 0.9148** -0.0083** (0.0384) (0.0351) (0.0036) 0.1477*** 1.1591*** 0.0139*** (0.0540) (0.0626) (0.0051) 0.1510** 1.1629** 0.0147** (0.0693) (0.0805) (0.0070) 0.2923*** 1.3395*** 0.0295*** (0.0664) (0.0889) (0.0072) 0.5872*** 1.7990*** 0.0657*** 29 (0.0759) (0.1366) (0.0099) 0.1909*** 1.2102*** 0.0178*** (0.0184) (0.0223) (0.0017) 0.0781*** 1.0812*** 0.0073*** (0.0299) (0.0323) (0.0028) 0.0782*** 1.0813*** 0.0073*** (0.0303) (0.0327) (0.0028) 0.0769 1.0799 0.0071 (0.0473) (0.0510) (0.0043) -0.1584** 0.8535** -0.0141** (0.0653) (0.0557) (0.0055) -0.0214 0.9788 -0.0019 (0.1851) (0.1812) (0.0170) 0.0398 1.0405 0.0037 (0.1314) (0.1367) (0.0126) Tipo de Escola - Municipal e -0.4014*** 0.6693*** -0.0346*** Estadual (0.0535) (0.0358) (0.0042) 0.5321*** 1.7025*** 0.0587*** (0.0619) (0.1053) (0.0079) Tipo de Escola - Escola Fora do -0.2119** 0.8090** -0.0184** RJ (0.0975) (0.0789) (0.0078) -3.7247*** 0.0241*** -0.1857*** (0.0842) (0.0020) (0.0031) -2.8262*** 0.0592*** -0.1930*** (0.0582) (0.0034) (0.0037) -1.9593*** 0.1409*** -0.1505*** (0.0475) (0.0066) (0.0036) 3.5484*** 34.758*** 0.6660*** (0.0667) (2.3186) (0.0110) Renda Bruta Escolaridade do Pai Escolaridade da Mãe Cor - Branca Cor - Preta Cor - Indígena Cor - Amarela Tipo de Escola - Federal Carreira - Altíssimo Prestigio Carreira - Alto Prestigio Carreira - Médio Prestigio Cotista Constante N -1.4485*** (0.1183) 27418 27418 30 pseudo R2 0.275 AIC 18369.88 BIC 18534.26 Marginal effects after logit: y = Pr(classificado) (predict) 0.1044 Standard errors in parentheses * p<0.10, ** p<0.05, *** p<0.01 Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Com controles para tipo de carreira e tipo de vaga, percebe-se que incrementos na renda e no ensino dos pais aumentam as chances de classificação no vestibular. Estudar em uma escola pública federal implica em um odds ratio favorável de 1,70 na aprovação quando comparamos com estudantes de escolas privadas. Ser do sexo masculino e ter cor de pele parda também impactam positivamente nas chances de entrada. Sabemos que o perfil de candidato branco, estudante de escola privada ou federal, com alta renda familiar, morador de um bairro com alto IDH e que possui pais com ensino superior completo é aquele que, na ausência do sistema de cotas, teria as maiores chances de admissão. Acontece que a existência de uma política de ação afirmativa tende a distorcer as chances de entrada de diferentes tipos. Dos resultados das regressões logísticas percebemos que os maiores determinantes da probabilidade de entrada na UERJ não são de ordem socioeconômica. As chances foram acima de tudo afetadas pela oferta de vagas e o sistema de cotas. Tudo mais constante, concorrer a uma carreira de altíssimo prestígio apresenta um odds ratio relativo ao baixo prestígio de 0,025. Dito de outra forma, as chances de entrada em um curso de baixo prestígio são de quarenta para um, quando comparamos com os de altíssimo prestigio. Em relação aos não cotistas, o sistema de cotas beneficia o candidato cotista com uma chance de classificação de trinta e três para um. A alteração nas probabilidades de acesso dada pelas duas variáveis pode ser percebida através da definição de tipos “clássicos” de indivíduos com alto background familiar e baixo background familiar. Realizamos este detalhamento com os dados da Tabela 1.8. Para os cursos de altíssimo prestigio, descobrimos que um candidato típico cotista proveniente de condições socioeconômicas desfavoráveis possui uma probabilidade de classificação ao redor de 15%, enquanto um candidato não cotista com condições favoráveis possui uma 31 probabilidade de classificação consideravelmente menor, 6,7%2. Se os candidatos pertencentes aos perfis detalhados optam por concorrer a cursos de baixo prestígio, as probabilidades de admissão aumentam respectivamente para 72,8% e 88,5%. Com a introdução do sistema de cotas, os candidatos que possuem um baixo perfil socioeconômico e que são contemplados pela reserva de vagas passam a obter maiores probabilidades de classificação do que os candidatos pertencentes às elites do Rio de Janeiro. Outra forma possível de se interpretar os resultados do modelo logit é através dos efeitos marginais. Em um modelo de regressão logística o efeito marginal das explicativas não é constante. Desta forma, uma prática comum é o cálculo do impacto dos regressores considerando os seus valores médios (caso a explicativa seja contínua) ou uma mudança discreta no regressor (caso a explicativa seja binária). Analisando os resultados por este método temos que um candidato com as características padrão possui 10,44% de probabilidade de se classificar. Essa probabilidade pode ser aumentada em 6,57 pontos percentuais se ele vier de um bairro com IDH acima de 9,5 ou em 1,78 a cada patamar maior de renda bruta familiar. Caso aplique por uma das reservas de vagas, suas probabilidades de classificação aumentam em 66 pontos percentuais. Por outro lado, se decidir concorrer por uma carreira de altíssimo prestígio, sua probabilidade diminui em 18,57 pontos percentuais. Lembramos que na presença da ação afirmativa algumas situações não se materializam de fato. Um candidato branco egresso do ensino médio privado não pode se candidatar à vaga de cotista. Como conseqüência, embora o resultado do logit possa apresentar um valor probabilístico alto para este caso, a restrição imposta pela ação afirmativa impede que tal estimativa se concretize. 1.4.4 A análise da fronteira: candidatos “displaced” e “displacing” 2 Atributos definidos para o “não cotista típico”: Homem com renda bruta maior que 30 salários mínimos, morador de bairro com IDH acima de 9,5, possui pais com ensino superior, se autodeclara branco e é estudante egresso de escola particular. Atributos definidos para o “cotista típico”: Homem com renda bruta menor que 3 salários mínimos, morador de bairro com IDH menor que 8,5, possui pais com ensino fundamental, se autodeclarou preto e é egresso de escola pública estadual. 32 Nesta seção centraremos a análise no impacto da inclusão do sistema de cotas na composição sócio-econômica dos alunos. Existem candidatos que são afetados pela introdução de uma ação afirmativa e outros que não são. Os melhores são aprovados com ou sem a existência desta política e aqueles que, dentro de cada carreira, apresentam rendimentos bem inferiores, são eliminados de qualquer forma. Para estes indivíduos, a ação afirmativa não possui nenhum impacto direto. É importante ressaltar a expressão “impacto direto” porque há evidências de que a introdução de uma ação afirmativa altera o esforço que os candidatos cotistas e não cotistas pretendem aplicar na preparação ao vestibular (ZYLBERSTAJN, 2010). Há, porém, uma parcela de candidatos que se encontra na fronteira do processo seletivo. São aqueles afetados diretamente pela introdução do sistema de cotas. A literatura internacional divide esse grupo em dois (TANNURI-PIANTO e FRANCIS, 2012a.). “Displacing” são os beneficiados. Aqueles que não se classificariam em um processo seletivo puramente meritocrático, onde as notas do vestibular são os únicos parâmetros para a admissão. “Displaced” são os prejudicados. Aqueles que se classificariam em um processo seletivo puramente meritocrático mas que foram eliminados com a inclusão da ação afirmativa. Como as vagas nas universidades são limitadas, isto equivale a dizer que os candidatos displaced foram rejeitados para que os displacing pudessem ser selecionados. A Tabela 1.9 mostra o quantitativo dos candidatos que concorrem pelo grupo dos cotistas que se classificaria mesmo se o sistema de cotas não existisse. Ela foi elaborada com base na manipulação dos microdados. Como observações incompletas foram excluídas, o quantitativo de vagas utilizado na análise e os candidatos cotistas observados não correspondem ao real mas a um número aproximado que chamaremos de “vagas válidas”. Ao considerarmos as 979 vagas válidas para as carreiras de altíssimo e alto prestígio foi possível identificar que apenas 12 cotistas estariam matriculados em um sistema puramente meritocrático, 1,2% do total dos classificados. Mesmo em carreiras de baixo prestígio onde esperávamos um impacto menor das cotas, apenas 7,67% dos candidatos não precisariam da ação afirmativa para suceder no processo do vestibular. Os resultados encontrados parecem indicar que a política está sendo eficaz em selecionar candidatos advindos de circunstâncias adversas. 33 Tabela 1.9. Candidatos Cotistas Não Beneficiados pelo Sistema de Cotas Cotistas que Grupos se Candidatos No. classificariam cotistas não de No. vagas sem o sistema impactados Prestígio vagas válidas de cotas (em %) Altíssimo 259 239 2 0.83 Alto 804 740 10 1.35 Médio 1537 1413 42 2.97 Baixo 2647 2346 180 7.67 Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Confirmamos as impressões anteriores ao analisar o perfil sócio-econômico dos candidatos displacing e displaced constantes na Tabela 1.10. Conforme evidenciado pelas análises econométricas, a renda é o maior determinante das notas de um aluno. Entre os candidatos prejudicados, 37% declaram possuir uma renda per capita maior que dez salários mínimos, estando no topo da distribuição de riqueza. Para os cotistas esse número é de apenas 0,85%. Quando o foco se direciona para aqueles que vêm de piores condições econômicas, os valores se invertem: 62% dos candidatos prejudicados declararam possuir renda per capita menor do que dez salários mínimos, enquanto entre os favorecidos, este número aumenta para 99,12%. Para os níveis de educação dos pais o fenômeno se repete. Entre os displaced, a maioria dos pais vem de níveis de ensino superiores em contraste com os displacing, que registram uma maior proporção de pais com baixos níveis de ensino. Podemos identificar que os tipos mais beneficiados são: as mulheres, os estudantes da rede de ensino pública estadual, os negros, aqueles que possuem menor faixa de renda definida, os filhos de mães com ensino médio e pais com ensino fundamental. O resultado desta análise é claro: estão sendo admitidos os alunos provenientes de famílias com circunstâncias reconhecidamente desfavoráveis. Entre os prejudicados temos outro perfil. São os homens, os estudantes provenientes do ensino privado, os autodeclarados brancos, aqueles com renda familiar entre cinco e 10 salários mínimos e os que possuem pais que concluíram o ensino superior. O perfil dos prejudicados parece espelhar o estudante típico da classe média, branco e aluno de escolas particulares. 34 Tabela 1.10. Análise dos Candidatos Afetados pelo Sistema de Cotas Variáveis Displacing Displaced Mulheres 55.54% 50.59% Fez Pré Vestibular 57.51% 50.03% Fez Vestibular Anterior 80.48% 81.19% IDH acima de 9,5 3.77% 17.61% IDH entre 9,5 e 9 7.31% 20.75% IDH entre 8,5 e 9 14.78% 13.91% IDH abaixo de 8,5 31.83% 13.67% Fora da cidade do RJ 42.30% 34.06% Público - Estadual 65.25% 10.53% Público - Federal 15.01% 14.62% Privado 16.27% 68.78% 3.45% 6.05% Cor "Branca" 31.31% 71.12% Cor "Negra" 33.28% 5.35% Cor "Parda" 31.86% 20.45% Cor "Amarela" 1.80% 2.12% Cor "Indígena" 1.70% 0.94% RB menor que 3 61.05% 13.21% RB entre 3 e 5 29.50% 19.43% RB entre 5 e 10 8.57% 29.74% RB entre 10 e 20 0.78% 23.05% RB entre 20 e 30 0.07% 9.28% RB > 30 0.00% 5.27% Mãe Nenhum 4.01% 0.78% Fundamental 38.39% 9.91% Mãe Ens.Médio 42.64% 32.03% Mãe Ens.Superior 11.72% 55.86% Mãe "Não Sei" 3.22% 0.78% Pai Nenhum 4.24% 0.62% Pai Ens.Fundamental 38.39% 8.96% Pai Ens.Médio 37.05% 29.50% 9.99% 57.19% 10.30% 3.69% 3.54% 4.40% Bairro Tipo de Escola Fora do Rio de Janeiro Cor da Pele Renda Familiar Mãe Ens. Educação da Mãe Educação do Pai Pai Ens.Superior Pai "Não Sei" Pessoas na Família 1 Pessoa na Família 35 2 Pessoas na Família 13.76% 13.21% 3 Pessoas na Família 30.05% 25.33% 4 Pessoas na Família 34.22% 36.74% 5 Pessoas na Família 13.53% 15.81% 6 Pessoas na Família 3.30% 2.83% 7 Pessoas na Família 1.57% 1.65% 1271 1271 Tamanho da Amostra Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Bertrand, Hanna e Mullainathan (2008) afirmam que uma ação afirmativa focada em um tipo pode prejudicar um outro que também é historicamente desfavorecido. Os pesquisadores abordam a experiência indiana onde as cotas acabam por prejudicar o acesso das mulheres, uma vez que em castas discriminadas a maior quantidade de candidatos é do sexo masculino. Encontramos uma evidência oposta para o caso da UERJ. A atual política também contribui para a igualdade de gênero, uma vez que mais mulheres foram admitidas em relação às não admitidas. Isto não isenta a possibilidade de que existam grupos prejudicados que terminem por estar sub-representados neste caso analisado. Um argumento comum é de que os brancos pobres provenientes de escola particular estejam sendo prejudicados por este sistema. Os resultados empíricos respaldam esta opinião, uma vez que 71,12% dos displaced são brancos, 68,78% estudam em escolas privadas e 62,38 % possuem uma renda bruta familiar menor que 10 salários mínimos. 1.5. Conclusão Os resultados da análise empírica do acesso à UERJ com foco no vestibular de 2010 foram reveladores. Na seção de estatística descritiva do acesso, descobrimos fortes distorções socioeconômicas entre as diversas faixas de notas. A proporção de pretos e egressos do ensino médio público caiu consideravelmente em níveis mais altos de notas do vestibular. As tabelas subsequentes mostram um contraste relevante nas competições entre candidatos cotistas e não cotistas. Para o primeiro grupo foram identificadas relações candidato/vaga inexpressivas, notas mínimas próximas aos patamares de eliminação e ociosidade de vagas em diversas carreiras. Em relação ao segundo grupo, o comportamento é similar ao de outros vestibulares pelo país: alta competição se traduzindo em notas mínimas acentuadas e pleno preenchimento das vagas. A diferença nos comportamento dos dois tipos foi justificada pelos 36 diferentes fluxos de alunos dos grupos cotistas e não cotistas. A quantidade de candidatos não cotistas que passa por todos os níveis de ensino até chegar ao vestibular costuma ser dez vezes maior do que a soma dos grupos com vagas reservadas. Uma condição necessária para que possamos garantir um volume significativo de candidatos cotistas é a de que os gestores na área da educação básica consigam prover um ensino público de qualidade razoável. Em um segundo momento, efetuamos as análises econométricas e foi possível verificar que a renda bruta é a principal determinante da nota de um aluno, seguida pelo tipo de escola, bairro, níveis de ensino dos pais, cor e gênero. Acreditamos que os resultados encontrados possam favorecer a argumentação dos advogados de políticas color-blind que traduzem as ações afirmativas em políticas não discriminatórias por cor. Da análise por grupo de prestígio, percebemos que os resultados preliminares do coeficiente sobre pré-vestibular parecem indicar que esta não é uma política suficiente para substituir o sistema de cotas. Em relação às probabilidades de entrada, mostramos que o alto quantitativo de vagas reservadas em comparação à baixa demanda pelas mesmas acaba por tornar a variável “cotista” a maior responsável pelo aumento de chances de um candidato. Uma oferta de vagas insuficiente em cursos de altíssimo prestígio também impacta negativamente nas chances de um candidato. A última seção trouxe mais descobertas importantes relativas ao acesso. Como resultado da avaliação dos candidatos que se encontram na fronteira, percebemos o sucesso que a UERJ tem tido em recrutar pessoas que vêm de condições sócio-econômicas desfavoráveis. Mostramos através da análise do microdados que são pouquíssimos os candidatos cotistas que se classificariam caso o sistema de cotas não existisse. Aqueles que se encontram entre os displacing estão vindo de um baixo background familiar enquanto os displaced são provenientes das classes média e alta do Rio de Janeiro. Acreditamos que as descobertas consolidadas neste capítulo possam servir como contribuições significativas para diversas discussões no campo da economia da educação. Reforçam a necessidade de um ensino básico de melhor qualidade para melhorar o fluxo dos alunos entre os diferentes níveis. Fornecem critérios objetivos para justificar ou desconstruir posicionamentos normativos acerca das ações afirmativas. E, por fim, trazem questões importantes para apreciação pelos gestores públicos da UERJ. 37 CAPÍTULO 02. UMA ANÁLISE DA PROGRESSÃO DOS ALUNOS COTISTAS SOB A PRIMEIRA AÇÃO AFIRMATIVA BRASILEIRA NO ENSINO SUPERIOR: O CASO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 2.1 Introdução Existem várias pesquisas que evidenciam os benefícios privados e públicos da educação. Neri (2008) conclui que os salários médios de quem possui o ensino superior no Brasil são mais do que o dobro daqueles que têm o ensino médio como grau máximo. Ioschpe (2004) mostra estudos que utilizam variações da equação de Mincer e taxas internas de retorno para comprovar o prêmio aos salários que mais anos de estudo trazem a um indivíduo. Suliano e Siqueira (2012) mostram que os retornos por um ano de estudo no sudeste e no nordeste estão em cerca 13% e 16%, respectivamente. Belfield (2003) cita outro conjunto de artigos que comprova o impacto positivo da educação no bem-estar da população, como: queda média de aprisionamentos, de cigarros consumidos e de pessoas viciadas em drogas ilícitas, além do aumento da participação política e dos gastos por filho. Assim, quando o governo investe em universidades públicas de alta qualidade, o faz por duas razões. Primeiro porque espera que os egressos, com o conhecimento adquirido em sala de aula, obtenham uma maior produtividade no mercado de trabalho. Depois pelo motivo da educação ser reconhecidamente uma fonte geradora de externalidades positivas dentro de uma nação. Porém, para que os benefícios da educação sejam sólidos, é preciso que os recémmatriculados na universidade se graduem com um desempenho satisfatório. Assim, além do benefício dos anos de estudos a mais, o egresso é capaz de obter um retorno maior devido ao efeito-diploma. Conseguir manter os alunos até a formatura é então uma condição necessária para que a missão de uma instituição de ensino superior (IES) seja cumprida integralmente. Isto no sentido de que sejam formados indivíduos preparados para o mercado de trabalho e com uma maior consciência social. Através da análise dos outputs educacionais no ensino superior muitos estudos internacionais procuram avaliar em que grau a universidade está conseguindo cumprir com a 38 sua missão. Eles costumam ser avaliados no campo econômico sob três óticas: as taxas de graduação, os coeficientes de retorno médio (CRs) e os salários no mercado de trabalho. Em relação a retenção, Levin et al. (1984) e Robst, Keil e Russo (1998) mostram que ela depende de muitos fatores externos ao controle das IES. Apontam o background familiar, a influência da comunidade, a realização escolar anterior, habilidades mentais, atitudes e motivação do aluno como algumas explicativas do processo de graduação. Em relação a estas características, as IES possuem um espaço reduzido para atuação. Existem, porém, variáveis que estão sob o controle das IES e que por isto são passíveis de administração. Bowen e Bok (1998) e Carnevale e Rose (2003) mostram que, quanto maior a qualidade da universidade, maior a probabilidade de graduação. Isto se daria pelo fato de estas instituições possuírem uma melhor infraestrutura para tratar casos problemáticos e por terem uma composição de alunos conscientes do valor agregado daquele ensino aos seus retornos salariais. Muriel e Giroletti (2010) citam exemplos de organização interna que podem impactar positivamente as taxas de graduação como uma ouvidoria eficiente além de apoio psicopedagógico e financeiro para alunos em dificuldades. No processo de retenção, três variáveis que são proxies do desempenho anterior do aluno têm se mostrado particularmente importantes. O coeficiente de rendimento médio do ensino médio, a posição do aluno universitário na sua escola de ensino médio e o resultado obtido no SAT (“scholastic aptitude test”). Scott, Bailey e Kienzl (2006) mostram que um aumento médio de 100 pontos no SAT leva a um ganho de 7% nas taxas de graduação. Outros estudos também expõem a importância do desempenho acadêmico anterior para a conclusão com êxito de um aluno no nível universitário. (BAI E CHI, 2011; COHN ET AL., 2004; O’REAR; SUTTON; RUBIN, 2010). As explicativas que mais afetam as probabilidades de graduação parecem ser as mesmas que impactam o desempenho em termos de nota no ensino superior. Griffith (2008) evidencia que as três variáveis relacionadas acima também são importantes preditoras dos CRs médios do ensino superior (GPAs). Robst, Keil e Russo (1998) concluem que o próprio GPA é correlacionado com as taxas de graduação e afirma que o aumento em um ponto do primeiro indicador impacta as taxas de graduação em 9%. Waltenberg e Carvalho (2012) mostram que ingressantes por ações afirmativas em IES públicas estaduais apresentam em média um desempenho 8,8% inferior no ENADE quando comparados aos não beneficiários. Este é um resultado esperado para as universidades estaduais, na medida em que ingressantes 39 por ações afirmativas se classificam, na média, com um desempenho relativamente baixo no vestibular. Restringir a análise às duas primeiras dimensões pode não ser suficiente para uma melhor avaliação dos benefícios da educação. Olbrecht (2009) revela que os atletas bolsistas analisados em uma universidade americana apresentaram menores coeficientes de rendimento do que o restante da faculdade. Mesmo assim, obtiveram um salário médio 10,7% maior em empregos convencionais do que os alunos regulares. Esta aparente contradição possui uma justificativa teórica razoável. O autor argumenta que os atletas possuem uma maior autodisciplina e capacidade de trabalhar em equipe. Tais fatores exerceriam uma influência positiva na produtividade e, por conseqüência, nos salários dos egressos que foram atletas bolsistas durante a faculdade. O objetivo deste capítulo é avaliar como o desempenho de cotistas e não cotistas se manifestam em uma universidade com ações afirmativas no Brasil. Para isto utilizaremos estatísticas descritivas para identificar como estão os dois grupos em termos de taxas de progressão e coeficiente de rendimento médio. A estrutura do capítulo segue o seguinte formato. A seção 2.2 contém revisão bibliográfica sobre retornos educacionais e ações afirmativas. A seção 2.3 aborda o caso da UERJ com os dados disponíveis via ferramenta de indicadores gerenciais. A seção 2.4 apresenta a conclusão com as principais questões identificadas nos itens anteriores. 2.2 Desempenho Educacional e Ações Afirmativas As ações afirmativas distorcem os outputs educacionais de uma universidade. Assim, precisamos considerar este fato ao analisarmos os indicadores de progressão e as notas médias. Ao criar um grupo relevante de alunos com características socioeconômicas diferentes dos outros ingressantes, a política de cotas da UERJ afeta a progressão de duas formas principais. Primeiro, pelo fato de a nota média de entrada dos alunos cotistas ser inferior à dos alunos não cotistas. Mostramos na introdução que o desempenho anterior costuma ser uma explicativa relevante dos resultados no ensino superior. Assim, esperamos encontrar um desempenho menor entre candidatos cotistas. Este risco é percebido na argumentação de Pedrosa et. al (2007) que explicita a possibilidade de que ações afirmativas 40 possam terminar por diminuir os resultados acadêmicos do corpo estudantil das IES. Segundo, porque os alunos cotistas possuem uma renda domiciliar menor e tal característica pode influenciar para uma maior probabilidade de abandono dos estudos no nível de ensino superior. Esta correlação se justifica pelo fato de que pessoas com menor renda se vêem mais pressionados a trabalhar e, como explica Feres Junior (2006), os pobres também possuem um menor acesso a recursos escolares como xérox, livros e passagens. Existem alguns estudos que abordam a relação entre ações afirmativas e a retenção dos alunos até a conclusão do curso. Sander (2004) argumenta que a eliminação de preferências baseadas em raça pode levar a um aumento na produção de advogados negros. Isto porque os negros entrariam em faculdades menos seletivas, onde possuiriam uma maior chance de graduação. Assim, o hiato das notas entre cotistas e não cotistas, quando relevante, poderia prejudicar aqueles que estão tentando ajudar. Ele chama esta conseqüência de “mismatch hypothesis”. Crosby e VanDeVeer (2000) argumentam que em universidades de elite minorias medíocres podem sofrer de ansiedade e dúvida extra que não sentiriam em universidades menos seletivas. Sowell (2004) concorda com esta argumentação e mostra que na Universidade da Califórnia em Berkeley, onde as diferenças entre as médias do SAT de não cotistas e cotistas ultrapassaram trezentos pontos em 1988, 70% dos negros não concluíram a faculdade. Porém outros estudos têm mostrado que todos os grupos aumentam a probabilidade de graduação quando frequentam universidades seletivas, como por exemplo, Bowen e Bok (1998) e Carnevale e Rose (2003). Griffith (2008) mostra que mais cem pontos na média do SAT apresentado pelos alunos matriculados aumenta em 1,7% a probabilidade de graduação em seis anos. Logo, como os cotistas se graduam mais quando alocados em instituições de ponta, a mismatch hypothesis não seria válida. Além disto, os cotistas que se graduam em uma instituição seletiva apresentam um maior prêmio salarial no mercado de trabalho em comparação com cotistas egressos de IES com um menor desempenho no SAT. Sobre isto, Dale e Krueger (2002) mostram que estudantes com um perfil socioeconômico desfavorecido aumentam em 8% seus ganhos caso se matriculem em uma faculdade com mais de 200 pontos no SAT médio apresentado pelos calouros. Embora a instituição das cotas pareça realmente favorecer os grupos contemplados, isto não significa que inexista um problema de diferenciais de desempenho entre aqueles não beneficiados e os beneficiados. Bowen e Bok (1998), renomados defensores de ações afirmativas, mostram que há diferenciais de CRs médios em todos os níveis de seletividade 41 das instituições pesquisadas (SEL-1, SEL-2 e SEL33). Griffith (2008) mostra que o hiato no CR dos cotistas e não cotistas inicia-se em 0,2 no primeiro ano, reduzindo a magnitude até o final do curso. Knapp, Kelly-Reid e Ginder (2010) revelam que as taxas de graduação no ensino superior em seis anos para as principais raças estadunidenses estão com a seguinte proporção: Afro americanos (39%), hispânicos (49%) e brancos (59%). Wei Chi (2011) chega à conclusão de que as minorias também obtiveram CRs médios inferiores no ensino superior chinês. Estes estudos parecem indicar em sua maioria que tais políticas têm sido benéficas para os candidatos-alvo das ações afirmativas. Porém, também revelam que há um custo para a sociedade em termos de um hiato no desempenho entre os grupos não cotistas e cotistas. Diferenças são percebidas tanto a nível dos CRs médios quanto ao nível das taxas de conclusão. A seção abaixo detalha os resultados encontrados na UERJ, que revelam tanto conclusões que vão ao encontro das experiências internacionais, como particularidades não verificadas em artigos anteriores. 2.3 Retornos Educacionais e A UERJ A UERJ é a primeira instituição de ensino superior a adotar ações afirmativas no Brasil. No período de 2003 até 2012, ingressaram pelo sistema de cotas 16607 pessoas das quais 4738(28,53%) já se formaram e 4985 (30,01%) evadiram. Os demais alunos cotistas se encontram matriculados vivendo o desafio de terminar a faculdade mesmo sofrendo com um background familiar desfavorável. Desta forma, entender como os grupos cotistas e não cotistas passam pelos diversos períodos rumo à evasão ou conclusão é de grande interesse para gestores de políticas educacionais. Isto porque um bom desempenho relativo pelos cotistas pode servir como um forte argumento para a manutenção da política de cotas e um resultado contrário, como uma justificativa para a sua reforma ou eliminação. 3 Os pesquisadores dividiram as instituições pesquisadas em três níveis de acordo com as médias que os alunos obteram no SAT. As instituições que têm em seu corpo estudantil um melhor resultado médio no SAT foram alocadas ao grupo das universidades integrantes da SEL-1. As demais, também de acordo com as médias do seu corpo estudantil, foram alocadas nos grupos SEL-2 e SEL-3. 42 Em nossa pesquisa sobre a progressão na UERJ nos concentramos em avaliar tão somente os outputs educacionais e não como a organização interna da universidade pode influenciar este desempenho. Assim, não é objeto de estudo a avaliação dos processos que conduzem ao atual patamar de retenção e notas médias. Desta forma, a intensificação de iniciativas como o Proiniciar4 podem melhorar os resultados dos alunos cotistas. Como consequência, novas avaliações da política de cotas têm condições de apresentar resultados diferentes do que apontamos aqui. Para verificarmos a progressão na UERJ, analisamos as informações extraídas da ferramenta BI5 sobre os CRs dos candidatos cotistas e as taxas de conclusão. As bases de dados da progressão e do vestibular atualmente não são relacionadas, de forma que isto impossibilita que recorramos neste momento a modelos econométricos. Utilizamos como corte na avaliação da progressão na UERJ, os ingressantes pelo vestibular de 2005. Temos informações disponíveis para 43 carreiras. Cada uma delas possui particularidades que podem fazer com que um candidato cotista se saia melhor ou pior do que um não cotista. Robst, Keil e Russo (1998) mostram, por exemplo, que a probabilidade de negros e mulheres se formar aumenta quando estão matriculados em carreiras onde a proporção de estudantes ou professores com as suas características é maior. Em nossa pesquisa consideramos que a “dificuldade relativa do curso” é a principal das particularidades que pode afetar o desempenho dos estudantes cotistas. Devido em boa parte aos condicionantes socioeconômicos aos quais estão submetidos, os cotistas obtiveram resultados significativamente piores no vestibular. Sabemos que o vestibular é uma boa proxy para capturar os efeitos do conhecimento anterior do aluno. Desta forma, esperamos que os cotistas apresentem um rendimento inferior quando deparados com cursos 4 O Proiniciar é uma política de permanência da UERJ para os estudantes oriundos de reserva de vagas. Além das atividades acadêmicas, estes alunos recebem a Bolsa Permanência, atualmente no valor de R$ 300,00 (trezentos reais) durante todo o curso universitário, desconto no restaurante universitário e parte do material didático para realização das suas atividades. 5 O Business Intelligence (BI) é uma ferramenta desenvolvida pelo departamento de informática da UERJ (DINFO). Sua função é fornecer aos gestores da instituição dados relevantes sobre o vestibular e a progressão dos alunos na universidade. A ferramenta extrai informações detalhadas das bases de dados da UERJ de vestibular e graduação, as transforma e depois consolida em estatística descritiva. É um processo definido como ETL (extract,transform e load) e o seu resultado final é uma interface amigável capaz de municiar gestores com dados relevantes para tomadas de decisão. Desta forma, o sistema possibilita a geração de indicadores através da definição pelo usuário dos filtros a serem aplicados. 43 desafiadores, com uma alta carga de matérias exatas, por exemplo. Tais carreiras exigem em maior grau um conhecimento anterior que pode ser decisivo para a progressão dos cotistas. Para lidar com esta questão criamos uma variável chamada de “dificuldade relativa do curso” que foi definida a partir do CR médio apresentado em 2009 pelos ingressantes em 2005 regularmente matriculados na universidade. Considerando esta classificação, separamos as carreiras em três grupos: alta, média e baixa dificuldade relativa. Nossa visão se fundamenta no seguinte processo. Esperamos que ótimos alunos em carreiras “fáceis” devam apresentar um coeficiente de rendimento bom. Ótimos alunos em carreiras “difíceis” e alunos medianos em carreiras “fáceis” tendem a apresentar um CR razoável e os alunos medianos em carreiras “difíceis” provavelmente obterão os piores resultados. Assim, acreditamos que o CR médio de cada carreira em 2009 seja uma boa forma de se capturar as dificuldades que os alunos estão tendo em progredir. A tabela 2.1 mostra uma relação parcial de cursos por nível de dificuldade relativa. As carreiras de história e engenharia química são bons exemplos para uma exposição da relação da qualidade dos alunos com a dificuldade do curso. Em 2005, ambos os cursos apresentaram relações candidato/vaga em torno de dez. Seguindo a metodologia do capítulo anterior, eles seriam definidos como carreiras de alto prestígio. Tais carreiras são caracterizadas por uma alta concorrência com consequentes notas de corte elevadas. Assim, pelo bom desempenho anterior dos alunos, poderíamos imaginar que em ambas as carreiras o coeficiente de rendimento médio no ensino superior seja elevado. Isto não ocorre para o caso da engenharia química. Ele se encontra entre aqueles definidos como de alta dificuldade relativa, ou seja, é um dos cursos que possui um baixo CR médio. Entendemos que este diferencial se dá principalmente pelas exigências do curso de engenharia, que são reconhecidamente maiores que as de outras áreas. Este é um fenômeno que parece comum em carreiras com um alto grau de concentração de disciplinas exatas, onde destacamos a estatística, a matemática e as ciências econômicas. 2.3.1 CRs acumulados médios em 2006 e 2009 para os ingressantes em 2005. Iniciamos a análise do desempenho dos alunos cotistas e não cotistas através dos CRs acumulados médios dos alunos ingressantes em 2005 e que continuaram cursando a faculdade em 2006 e em 2009. Como uma minoria consegue se formar antes de 2009, esses estão 44 excluídos da amostra. Os que desistiram ou foram expulsos da faculdade, também. As informações com uma visão por carreira se encontram expostas na tabela 2.1. Tabela 2.1. Coeficiente de rendimento acumulado médio dos alunos ingressantes em 2005 e com status cursando em 2006 e 2009 Diferencial de CR Dificuldade Ranking Carreira* Relativa CR acumulado CR acumulado CR acumulado acumulado médio médio médio (NC) médio (C) entre NC e C 2006 2009 2006 2009 2006 2009 2006 2009 16,17% 16,36% 1 Ciência da Computação Alta 4,48 4,25 4,81 4,56 4,14 3,92 2 Física Alta 5,20 5,22 5,25 5,09 5,05 5,50 3,96% -7,48% 3 Estatística Alta 4,70 5,46 4,75 5,53 4,20 4,98 12,96% 11,18% 4 Matemática Alta 5,43 5,46 5,48 5,53 5,25 5,23 4,26% 5,84% 5 Ciências Atuariais Alta 5,71 5,58 5,95 5,82 4,58 4,35 30,01% 33,56% 15 Administração Média 7,46 6,90 7,47 6,73 7,45 7,04 0,28% -4,39% 16 Artes Visuais Média 7,29 7,09 7,12 7,09 7,63 17 Filosofia Média 7,01 7,09 7,11 7,33 6,79 6,72 4,78% 9,04% 18 Letras - Port / Francês Média 7,14 7,13 7,98 7,83 6,37 6,50 25,28% 20,42% 19 Ciências Sociais Média 7,53 7,16 7,72 7,48 7,35 6,91 5,12% 8,36% 29 Letras - Port / Literatura Baixa 7,81 7,52 7,99 7,74 7,59 7,29 5,22% 6,23% 30 Letras - Port / Grego Baixa 7,01 7,54 6,91 7,48 7,57 7,75 -8,78% -3,44% 31 Letras - Inglês Baixa 7,74 7,59 8,18 7,98 6,81 6,87 20,12% 16,11% 32 Letras - Port / Inglês Baixa 8,18 7,68 8,24 7,80 7,34 6,39 12,23% 22,01% 33 Desenho Industrial Baixa 8,09 7,72 8,43 8,02 7,69 7,52 9,57% 6,68% CR médio das carreiras de alta dificuldade 5,10 5,19 5,25 5,31 4,64 4,80 12,97% 10,64% CR médio das carreiras de média dificuldade 7,29 7,07 7,48 7,29 7,12 6,79 5,13% 7,37% CR médio das carreiras de baixa dificuldade 7,77 7,61 7,95 7,81 7,40 7,16 7,39% 8,94% CR médio de todas as carreiras 7,10 7,03 7,26 7,19 6,81 6,74 6,57% 6,72% - -6,65% - * A relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para o autor. Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. Em relação aos hiatos nos CRs entre ambos os grupos, nota-se que a diferença média das notas entre não cotistas e cotistas para todas as carreiras foi de 6,57% em 2006 e 6,72% em 2009. Em cursos difíceis, o diferencial chega a 12,97% e naqueles definidos como relativamente mais fáceis, o hiato diminui para 7,39% no primeiro ano. Os dados da tabela 2.2 são uma consolidação dos resultados verificados anteriormente. Nela podemos perceber que em 80% dos casos, o desempenho dos não cotistas foi melhor. A diferença em termos de notas médias subiu conforme aumentamos a dificuldade relativa do curso. Nos cursos listados como mais difíceis, os não cotistas 45 apresentam um rendimento melhor em 92,86% das carreiras, sendo que em um terço delas, a diferença nos CRs se torna superior a 10%. Tabela 2.2. Coeficientes de rendimento médio acumulado. Visão consolidada por carreira Melhor desempenho no CR Dificuldade médio acumulado (em %) Grupo Relativa Diferença maior do que 10% em ambos períodos 1 Ano 4 Anos Não Cotistas 92,86% 92,86% 35,71% Cotistas 7,14% 7,14% 0,00% Não Cotistas 85,71% 57,14% 14,28% Cotistas 14,29% 28,57% 0,00% Sem informação 0,00% 14,29% 0,00% Não Cotistas 73,33% 80,00% 20,00% Cotistas 26,67% 20,00% 0,00% Alta Média Baixa Melhor desempenho no CR Dificuldade Grupo Relativa médio acumulado (em %) Melhor desempenho no total dos casos analisados 1 Ano 4 Anos Não Cotistas 83,72% 76,74% 80,23% Cotistas 16,28% 18,60% 17,44% Sem informação 0,00% 4,65% 2,33% Total Magnitude do hiato em todas as 2006 6,57% carreiras 2009 6,72% Houve queda no hiato de performance Sim 51,22% entre 2006 e 2009? Não 48,78% Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. Esperávamos que, uma vez dentro da faculdade, os alunos cotistas conseguissem diminuir a diferença nos rendimentos entre o primeiro e o quarto ano. A evasão de muitos alunos não cotistas no primeiro ano e o efeito de pares dado pela convivência entre os dois grupos poderia gerar uma tendência de melhora nos resultados dos cotistas ao longo do curso. A tendência se revelou indefinida uma vez que o hiato médio das notas aumentou em 2009 porém, quando olhamos para uma visão por carreiras, os cotistas melhoraram marginalmente seu desempenho relativo (51,22%). 46 Assim, entendemos que há um diferencial significativo em termos de notas médias para os grupos não cotistas e cotistas e que ele tende a aumentar diante de cursos que exigem uma maior dedicação e conhecimento anterior dos alunos. 2.3.2 CRs acumulados médios dos alunos formados. Com o intuito de entendermos melhor como se revela o hiato das notas entre os cotistas e não cotistas, expandimos a análise considerando apenas os estudantes ingressantes em 2005 e que se formaram na UERJ entre os anos de 2005 e 2012. Os dados se encontram na tabela 2.3. Através deles é possível verificar os diferenciais de desempenho para aqueles que tiveram sucesso em obter o diploma da graduação e que por isto, estão em condições de exercer a sua profissão no mercado de trabalho. Tabela 2.3. Coeficiente de rendimento acumulado médio dos alunos ingressantes em 2005 e com status concluído até 2012. Ranking Carreira* Dificuldade Relativa CR acumulado CR acumulado médio (Não médio cotista) (Cotista) Diferencial de CR acumulado médio entre não cotistas e cotistas 1 Ciência da Computação 6,83 4,77 43,19% 2 Física 8,04 4,64 73,17% 6,94 5,85 18,70% 4 Matemática 7,07 7,06 0,15% 6 Ciências Econômicas 7,51 6,77 10,98% 15 Administração 7,39 7,09 4,29% 17 Filosofia 8,51 6,75 26,10% 8,82 7,55 16,82% 19 Ciências Sociais 7,96 7,31 8,90% 21 Letras - Port / Espanhol 7,95 7,42 7,16% 8,22 8,02 2,47% 7,90 7,74 2,07% 3 Estatística 18 Letras - Port / Francês 29 Letras - Port / Literatura 30 Letras - Port / Grego Alta Média Baixa 47 31 Letras - Inglês 8,37 7,34 14,08% 32 Letras - Port / Inglês 8,04 7,60 5,74% 34 Nutrição 8,21 7,71 6,46% CR médio das carreiras de alta dificuldade 7,40 6,36 16,35% CR médio das carreiras de média dificuldade 8,05 7,48 7,71% CR médio das carreiras de baixa dificuldade 8,42 8,05 4,69% CR médio de todas as carreiras 7,96 7,33 8,50% * A relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para o autor. Número de observações: 878 não cotistas e 547 cotistas. Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. Quando comparamos com as informações expostas na seção anterior, a diferença percebida em relação aos CRs médios dos alunos não cotistas e cotistas aumentou de 6,5% para 8,5% entre os concluintes até 2012. Nos cursos de maior dificuldade a diferença média ultrapassou os 16%, caindo gradativamente para 7,71% e 4,69% quando considerados as carreiras de média e baixa dificuldade relativa, respectivamente. Da análise do comportamento detalhado por carreiras, foi possível perceber diferenças significantes em muitas delas. Podemos destacar o diferencial de 43,19% para o curso apontado como o de maior dificuldade relativa, ciências da computação. Ou de 73,17% para a física, onde os cotistas graduados apresentaram um CR médio de apenas 4,64 pontos contra 8,04 dos não cotistas. Outras diferenças substanciais de rendimento puderam ser percebidas para as carreiras de estatística, filosofia, letras (português-francês) e letras (portuguêsitaliano). Para todos estes casos, a diferença no CR médio acumulado final, ultrapassou os 15%. O aumento nos diferenciais de desempenho entre os concluintes mostram que talvez muitos cotistas estejam persistindo até a conclusão, diminuindo a média deste grupo na comparação com os não cotistas. Essas impressões foram confirmadas na análise seguinte, que se concentra na proporção de alunos cotistas e não cotistas que se graduam na UERJ. 2.3.3 Taxas de conclusão até 2009, 2010 e 2011 As próximas seções se concentram nas taxas de progressão. Mais precisamente na conclusão e evasão dos estudantes. Iniciamos esta análise verificando as taxas de conclusão 48 dos alunos em três diferentes anos. As informações da tabela 2.4 mostram a porcentagem dos ingressantes de 2005 que se formaram até 2009, até 2010 e até 2011. Os cortes foram escolhidos para que aproximássemos o indicador para uma visão que evidencia o universo de alunos que concluiu a faculdade em quatro, cinco ou seis anos. Desta forma, o foco na nossa avaliação é o ano de saída da faculdade. Tabela 2.4. Porcentagem de concluintes até 2009, 2010 e 2011 dos alunos ingressantes em 2005. Ranking 1 2 3 4 5 15 16 17 Carreira e Tipo de Vaga* Ciência da Computação Até 2009 Até 2010 Até 2011 0,00% 0,00% 5,66% Cotista 0,00% 0,00% 4,00% Não Cotista 0,00% 0,00% 7,14% 1,75% 2,34% 4,09% Cotista 0,00% 0,00% 8,00% Não Cotista 2,05% 2,74% 3,42% 10,58% 15,38% 23,08% Cotista 0,00% 14,29% 42,86% Não Cotista 11,34% 15,46% 21,65% 20,88% 27,06% 30,59% Cotista 25,00% 35,00% 38,33% Não Cotista 20,00% 25,36% 28,93% Ciências Atuariais 14,62% 22,31% 26,15% Cotista 0,00% 0,00% 4,76% Não Cotista 17,43% 26,61% 30,28% 39,39% 43,94% 53,03% Cotista 42,59% 50,00% 64,81% Não Cotista 37,18% 39,74% 44,87% 0,00% 25,00% 25,00% Cotista 0,00% 0,00% 0,00% Não Cotista 0,00% 33,33% 33,33% 3,51% 9,65% 12,28% Física Estatística Matemática Administração Artes Visuais Filosofia 49 18 19 29 30 31 32 33 Cotista 0,00% 4,00% 12,00% Não Cotista 4,49% 11,24% 12,36% 14,29% 28,57% 28,57% Cotista 22,22% 38,89% 38,89% Não Cotista 8,33% 20,83% 20,83% 4,76% 13,33% 21,90% Cotista 4,44% 8,89% 20,00% Não Cotista 5,00% 16,67% 23,33% 42,24% 52,17% 54,04% Cotista 50,82% 59,02% 62,30% Não Cotista 37,00% 48,00% 49,00% Letras - Port / Grego 30,00% 40,00% 40,00% Cotista 100,00% 100,00% 100,00% Não Cotista 22,22% 33,33% 33,33% 26,03% 42,47% 46,58% Cotista 30,43% 43,48% 47,83% Não Cotista 24,00% 42,00% 46,00% Letras - Port / Inglês 53,66% 58,54% 60,98% Cotista 25,00% 25,00% 25,00% Não Cotista 56,76% 62,16% 64,86% 41,67% 75,00% 80,56% Cotista 37,50% 62,50% 75,00% Não Cotista 45,00% 85,00% 85,00% 35,71% 28,57% 42,86% 50,00% 57,14% 71,43% 66,67% 73,33% 73,33% Letras - Port / Francês Ciências Sociais Letras - Port / Literatura Letras - Inglês Desenho Industrial Porcentagem de cursos de alta dificuldade com maior graduação de cotistas em relação a não cotistas Porcentagem de cursos de média dificuldade com maior graduação de cotistas em relação a não cotistas Porcentagem de cursos de baixa dificuldade com maior graduação de cotistas em relação a não cotistas 50 Porcentagem de cursos com maior graduação de cotistas em relação a não cotistas 51,16% 53,49% 62,79% * A relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para o autor. Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. Os resultados são reveladores. Ao contrário do que é percebido em estudos internacionais, no caso da UERJ são os cotistas que possuem as maiores taxas de graduação. Conforme avançamos os anos, os cotistas se graduam cada vez mais em relação aos não cotistas. O percentual de cursos com maior graduação pelos beneficiários da ação afirmativa aumenta de 51,16% das carreiras em 2009 para 53,49% em 2010 e 62,79% em 2011. Observamos as taxas de conclusão consolidadas por nível de dificuldade relativa e tipo de vaga na tabela 2.5. As taxas de conclusão só são maiores para os não cotistas se considerarmos os anos de 2010 e 2011 para a carreira de alta dificuldade relativa. Em todos os outros casos, são os beneficiários das ações afirmativas aqueles que mais se graduam. Tabela 2.5. Porcentagem de concluintes até 2009, 2010 e 2011 dos alunos ingressantes em 2005 (por dificuldade relativa do curso). Ranking Alta Dificuldade Média Dificuldade Baixa Dificuldade Total Carreira e Tipo de Vaga Até 2009 Até 2010 Até 2011 Cotistas 12,45% 19,54% 28,74% Não cotistas 12,42% 23,05% 29,72% Cotistas 27,21% 42,24% 49,04% Não cotistas 23,49% 38,38% 42,07% Cotistas 40,57% 55,49% 61,40% Não cotistas 35,74% 50,66% 53,83% Cotistas 27,07% 39,47% 46,74% Não cotistas 24,16% 37,67% 42,15% Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. O hiato a favor dos cotistas se mostra claro em duas dimensões: conforme avançam os anos e à medida que diminui a dificuldade relativa. Em relação à primeira questão, as taxas de graduação entre os cotistas cresce num ritmo maior com o passar dos anos. Em 51 carreiras marcadas como de dificuldade média, por exemplo, houve um aumento de 27,21% para 49,04% entre 2009 e 2011. Ou seja, 22 pontos percentuais. Entre aqueles não cotistas, o aumento foi de 23,49% para 42,07%. Um acréscimo de 19 pontos percentuais. Sobre a dimensão da dificuldade relativa, podemos perceber que os hiatos entre cotistas e não cotistas para cursos de alta dificuldade são mínimos em 2009. Porém ele cresce de forma significativa nas carreiras mais fáceis, atingindo um diferencial de 5p.p. O fenômeno se repete para os anos de 2010 e 2011 onde os diferenciais verificados nos grupos de baixa dificuldade relativa apontam para uma conclusão pelos cotistas em cinco e sete pontos percentuais a mais, respectivamente. Da análise das taxas de conclusão percebemos que, apesar de obterem um resultado pior do que aqueles não cotistas em termos de notas médias, os cotistas estão se formando a taxas maiores que o grupo não beneficiado. A nossa hipótese é de que embora estejam apresentando uma dificuldade elevada em progredir, a utilidade da faculdade para os grupos cotistas parece ser maior e tal valoração tem se traduzido em uma maior persistência e taxas de graduação. 2.3.4 Evasão no primeiro ano e evasão no restante dos anos Para complementar o entendimento da graduação entre os grupos cotistas e não cotistas, expandimos a abordagem para analisar a evasão entre os dois grupos. Optamos por dividir as taxas de evasão em duas tabelas. A tabela 2.6 que avalia os alunos que saíram da UERJ durante o primeiro ano e a tabela 2.7, que concentra os estudantes que evadiram da faculdade no intervalo de um a quatro anos. Tabela 2.6. Taxa de evasão no primeiro ano dos ingressantes em 2005 Não cotistas Ranking Carreiras* Dificuldade % de Relativa Evasão 19,19% Ciência da 1 Computação Alta 0,00% % de Evasão por grupo de dificuldade relativa 18,00% Cotistas % de Evasão 7,69% 0,00% % de Evasão por grupo de dificuldade relativa 7,21% 52 2 Física 31,01% 4,00% 3 Estatística 16,48% 0,00% 4 Matemática 20,93% 10,00% 5 Ciências Atuariais 17,17% 4,76% 17,14% 5,56% 0,00% 0,00% 15 Administração 16 Artes Visuais 17 Filosofia Média 29,73% 15,40% 4,00% 18 Letras - Port / Francês 25,00% 5,56% 19 Ciências Sociais 27,45% 13,33% 29 Letras - Port / Literatura 23,71% 11,48% 30 44,44% 0,00% Letras - Port / Grego 31 Letras - Inglês Baixa 20,83% 12,83% 13,04% 32 Letras - Port / Inglês 9,59% 12,50% 33 0,00% 0,00% Desenho Industrial 7,26% 3,87% * A relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para o autor. Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. A divisão nestas duas tabelas se inspira no artigo de Fletcher e Tienda (2008). Eles argumentam que o primeiro ano serve para que os estudantes se aclimatem às exigências do ensino superior. Assim, nos EUA muitos dos alunos cotistas de uma IES costumam desistir já no inicio da faculdade. Como os melhores beneficiados tendem a permanecer, há uma tendência de queda no hiato de performance entre os grupos favorecidos e não favorecidos. Os autores mostraram que, mesmo controlando para uma série de variáveis, o diferencial de CR entre cotistas e não cotistas reduziu-se em 50% no intervalo de seis semestres. Entendemos que o comportamento da evasão no primeiro ano pode ser diferente do verificado nos EUA. A explicação para que este fenômeno possa apresentar um efeito contrário no Rio de Janeiro se justifica pelo fato de existirem inúmeras IES de alta qualidade no estado. Desta forma, esperamos que muitos dos alunos não cotistas que passam em mais de um vestibular acabem por optar por outras instituições, mesmo depois de terem efetuado a matrícula na UERJ. Há ainda aqueles que não atribuem um alto valor para a carreira em que iniciaram a faculdade e que por isto, trancam suas matrículas para tentar um novo curso ou faculdade no ano posterior. Essa subvaloração por não cotistas pode ser explicada em parte pela sua autoconfiança, pois sabem que são capazes de entrar em outra faculdade pública e em parte 53 pelo background familiar favorável, pois sabem que suas famílias podem arcar com os custos de uma faculdade privada de alta qualidade. Por estes fatores, ao contrário da argumentação dos autores supracitados, supomos inicialmente que a evasão entre não cotistas fosse particularmente expressiva no primeiro ano. Imaginamos ainda, que o hiato em termos de CRs médios diminuísse quando comparamos ambos os grupos, pois uma parcela razoável dos melhores não cotistas acaba por abandonar a faculdade no primeiro ano. Se em relação aos CRs não percebemos uma queda significativa no hiato de performance entre períodos, para a evasão os dados confirmaram nossas expectativas. Entre os alunos não cotistas, 15,6% abandonaram a UERJ no primeiro ano. Este número é percentualmente cerca de três vezes maior do que o apresentado pelos cotistas (5,8%). Esta diferença sugere que a instituição deva se preocupar também com a persistência dos não cotistas. A evasão se revelou particularmente alta em cursos de alta dificuldade relativa com uma tendência de queda significativa em carreiras mais fáceis. A evasão pelos não cotistas atingiu o seu máximo em oceanografia, onde 69% dos alunos abandonaram a faculdade no primeiro ano. Quando analisamos o universo dos cotistas, a evasão máxima no primeiro ano foi de 26% em química. Mesmo em cursos de baixa dificuldade, a evasão entre os não cotistas permaneceu alta, em 12,8%. Este valor é três vezes maior do que o apresentado pelos beneficiários da ação afirmativa, 3,8%. Após isto, avaliamos o comportamento da evasão entre o segundo e o quarto ano. O objetivo é captar como os alunos estão progredindo a partir do término dos desafios do primeiro ano dos seus cursos. A diferença entre os dois grupos cai, porém ela se mantém favorável aos cotistas, que continuam apresentando as menores taxas de evasão. Entre os não cotistas a evasão no período se aproximou de 40% e para os cotistas, o resultado chegou a 32,8%. Tabela 2.7. Taxa de evasão entre o segundo e quarto ano dos ingressantes em 2005 Não cotistas Ranking Carreiras* Dificuldade Relativa % de Evasão 39,35% 1 Ciência da Alta 7,14% % de Evasão por grupo de dificuldade relativa 30,79% Cotistas % de Evasão 32,88% 0,00% % de Evasão por grupo de dificuldade relativa 26,45% 54 Computação 2 Física 37,67% 24,00% 3 Estatística 36,08% 14,29% 4 Matemática 46,07% 50,00% 5 Ciências Atuariais 37,61% 38,10% 15 Administração 57,69% 44,44% 16 Artes Visuais 0,00% 100,00% 17 Filosofia Média 38,20% 47,16% 40,00% 18 Letras - Port / Francês 45,83% 38,89% 19 Ciências Sociais 25,00% 11,11% 54,00% 49,18% 39,83% Letras - Port / 29 Literatura 30 Letras - Port / Grego 31 Letras - Inglês 22,22% Baixa 50,00% 7,14% 44,97% 34,78% 32 Letras - Port / Inglês 66,22% 62,50% 33 Desenho Industrial 15,00% 6,25% 32,66% * A relação completa para todas as carreiras pode ser solicitada para o autor. Fonte: Business Intelligence da UERJ. Elaboração própria. A maior diferença percebida foi na dinâmica da evasão. No primeiro ano as evasões se concentraram em carreiras com alta dificuldade. Para os demais períodos, os abandonos são maiores em cursos de baixa dificuldade independente do tipo de vaga. Uma posição normativa que respalde os resultados encontrados pode se centrar no fato de que as carreiras mais difíceis filtram os alunos com maior persistência e/ou habilidade já nos primeiros semestres, devido ao rigor das disciplinas que devem ser cursadas nos períodos iniciais. Os “sobreviventes” desta primeira etapa estariam preparados para progredir com sucesso pelos demais períodos. Entre carreiras de menor dificuldade, os desafios iniciais são superáveis com uma maior facilidade e por isto a evasão neste tipo de curso parece mostrar um comportamento mais homogêneo entre os semestres. 2.4 Conclusão Os resultados da análise empírica do acesso à UERJ com foco na progressão dos alunos que se matricularam na UERJ durante o ano de 2005 foram reveladores. Indo ao encontro das pesquisas internacionais, identificamos que o desempenho dos não cotistas em 55 termos de coeficiente médio de rendimento é superior. Entre os que possuíam matrícula ativa nos anos de 2006 e 2009, a diferença a favor dos não cotistas se mostrou positiva em 6,5%. Quando o universo dos alunos passou a ser a dos concluintes até o ano de 2012, a diferença aumentou para 8,5%. Percebemos também que a magnitude do hiato entre os alunos subiu com o aumento da dificuldade relativa do curso, atingindo os 16% entre os concluintes das carreiras mais difíceis. Como os candidatos não cotistas são os mais preparados, é de se esperar que, além de um resultado superior em termos de notas médias, eles apresentassem maiores taxas de graduação. Desta forma, o processo seletivo puramente meritocrático seria aquele que geraria os maiores retornos educacionais. Isto pode não ser verdade para o caso da UERJ. Em nossa pesquisa, descobrimos que a persistência dos cotistas é maior e isto se traduz em maiores taxas de graduação. Logo, embora tenham se graduado com um coeficiente médio menor do que os não cotistas, foi o grupo cotista quem percentualmente mais se formou pela UERJ. Mostramos que as taxas de graduação entre os cotistas são maiores ao final de todos os anos analisados (2009, 2010 e 2011), atingindo no final de 2011 uma taxa de 46,74% contra 42,15% dos não beneficiários. Foi visto também que esta tendência se acentuou em cursos com baixa dificuldade relativa, chegando a sete pontos percentuais em 2011. Quando analisamos as evasões no primeiro ano e nos três anos subsequentes, percebemos que o abandono pelos não cotistas foi particularmente alto no primeiro ano e se manteve superior à da contraparte cotista na abordagem consolidada dos períodos seguintes. A evasão entre ambos os grupos foi grande em cursos de alta dificuldade no primeiro ano e, nos cursos de baixa e média dificuldade, após os dois primeiros períodos. Isto sugere que os cursos mais difíceis têm filtrado os melhores alunos já no começo da jornada dos potenciais formandos, o que não tem acontecido nas demais carreiras. Da análise dos indicadores abordados neste capítulo, percebemos que apesar de obterem um resultado inferior em termos de notas médias, os cotistas estão se formando a taxas maiores que o grupo não beneficiado. Entendemos que embora estejam apresentando uma dificuldade elevada em progredir, a utilidade da faculdade para os grupos cotistas parece ser maior e tal valoração tem se traduzido em uma maior persistência e taxas de graduação. Se por um lado, há uma perda de eficiência da universidade pelas graduações cotistas traduzidas em um CR menor e consequente menor habilidade esperada, por outro há um ganho vindo de maiores taxas de conclusão que se traduz em um menor desperdício de recursos. 56 Os críticos das ações afirmativas argumentam que tal política invariavelmente traz perdas significantes de eficiência para a universidade e consequentemente, para o país. Ao contrário do que poderíamos esperar, o resultado que a política de cotas trouxe para a sociedade se revelou indefinido e apresentou dois comportamentos contrários. Um positivo, através de maiores taxas de graduação e um negativo, resultado de coeficientes de rendimento menores. Desta forma, entendemos que há bastante espaço para pesquisas no Brasil que foquem no papel das ações afirmativas e retornos educacionais. Se outras pesquisas no país vierem a confirmar maiores taxas de progressão para alunos cotistas ou altos retornos salariais para estes grupos no mercado de trabalho, pode ser possível que cheguemos no futuro a não rejeitar uma hipótese que hoje seria visto como controversa, a de que no Brasil as ações afirmativas possam trazer uma maior eficiência da universidade e dos gastos públicos. Para que este fenômeno ocorra seria necessário entender se o benefício das maiores taxas de graduação e de eventuais retornos no mercado de trabalho entre cotistas superam os custos indiretos (ex.: de um coeficiente médio menor) e diretos (ex.: gastos com o processo seletivo, bolsas e programas de manutenção) das instituições de ensino superior que adotam a política de cotas como instrumento de reparação de injustiças sociais e fomento de igualdade de oportunidades. Caso as taxas de graduação de cotistas em outras universidades públicas brasileiras não sejam significativas, o debate normativo sobre a porcentagem ideal de cotas, ou se elas são pertinentes, deve se valer de instrumentos que mostrem o quanto a sociedade perde - ou ganha - de eficiência ou equidade com cada escolha. 57 CAPÍTULO 03. QUAL A EFICÁCIA DE POLÍTICAS DO TIPO COLOR-BLIND PARA O AUMENTO DA DIVERSIDADE RACIAL? SIMULAÇÕES PARA O PROCESSO SELETIVO DA UERJ. 3.1 Introdução O debate sobre a pertinência da aplicação de cotas raciais em universidades é um fato amplamente documentado por pesquisadores estrangeiros. Bowen e Bok (1998) defendem no seu livro seminal as políticas de ações afirmativas como a melhor forma de se fechar o hiato de preparação entre negros e brancos, causados por anos de diferenças de renda, recursos, qualidade da escola e ambiente familiar. Os ex-reitores de Princeton e Harvard mostraram que a presença de negros nas universidades pesquisadas desabaria na ausência da utilização da cor como mais um critério válido nas admissões. Se considerarmos as universidades definidas como as mais seletivas nesta pesquisa, a queda da participação dos negros em uma política que não leva em consideração a raça (“race neutral” ou “color-blind”) seria de 7,8% para 2,1% do corpo estudantil. Concluem como consequência direta que a única forma de se criar uma classe onde pretos e brancos possuam as mesmas médias de SAT (“Scholastic Aptitude Test”) é discriminando contra os pretos. Se no processo seletivo, a defesa se baseia nas circunstâncias sobre as quais os negros são submetidos, na progressão a argumentação se concentrou nas taxas de conclusão. Bowen e Bok (1998) evidenciaram que as taxas de conclusão dos negros são altas e que são maiores na SEL-1, quando comparadas aos demais grupos de seletividade. Eles apontam esta como uma importante descoberta empírica que deporia contra os críticos da política. Fryer e Loury (2005) também expõem a discriminação positiva como ferramenta útil para correção das violações históricas das igualdades de oportunidades entre diferentes raças argumentando que qualquer outra ação afirmativa é menos eficiente que a política “color-sighted”6 para atingir o mesmo nível de diversidade racial. 6 Color-sighted é uma política de ação afirmativa no qual o critério racial é explicíto. Em contraposição a políticas do tipo “color blind”, que possuem como objetivo diminuir as diferenças de oportunidades entre indivíduos a partir de outros critérios sócio-econômicos, como por exemplo, renda ou tipo de escola. 58 Autores relevantes se posicionam contra as ações afirmativas em pesquisas empíricas e posições normativas. Sowell (2004) avalia os resultados de diferentes políticas seguindo uma perspectiva global. Em sua análise foram considerados casos na Nigéria, Sri Lanka, Malásia, Índia e Estados Unidos. Concluí que, invariavelmente, onde foram implantadas, as ações afirmativas fomentaram polarizações, ressentimentos e violências entre grupos étnicos. A hipótese “cream layer” foi percebida em todos os casos. Segundo esta teoria, as reservas de vagas acabam por beneficiar majoritariamente determinados subtipos com melhores condições sócio-econômicas dentro de um tipo (Ex.: em um tipo que só considera “cor”, negros ricos são beneficiados em detrimento de negros pobres). Como conseqüência, aponta que as políticas de ação afirmativa pouco vêm contribuindo para o aumento do bem-estar dos grupos desfavorecidos. Para legitimar a sua posição, reserva um capítulo com o objetivo de criticar e contrapor os resultados encontrados por Bowen e Bok (1998). Heilman (1996) destaca as consequências contraditórias que podem mitigar parte relevante dos ganhos para os beneficiários, dentre eles: o estigma da incompetência que a população atribui aos cotistas; o sentimento de inferioridade dada a auto-percepção de favorecimento no processo seletivo e a reação de grupos não favorecidos pela política. Wydick (2008) acrescenta um efeito negativo que pode ocorrer quando determinado tipo é frequentemente beneficiado por políticas de ações afirmativas. Alega que se um empregador pode identificar o grupo das cotas no mercado de trabalho (ex.: negros) mas não pode identificar indivíduos dentro de um grupo (ex.: separar os negros que foram contemplados ou não por algum privilégio) então o salário oferecido para todo o grupo beneficiário será menor que o grupo dos não cotistas. Outros pesquisadores têm baseado sua argumentação na mismatch hypothesis (ROTHSTEIN; YOON, 2008; GROVE; HUSSEY, 2011) afirmando que os estudantes negros se graduariam com maior probabilidade se fossem admitidos em uma universidade onde os seus desempenhos no vestibular estivessem de acordo com as notas médias dos demais candidatos. Como a revisão da literatura norte-americana evidencia, e devido ao seu forte passado de discriminação racial, o debate em torno deste tema se reduziu à pertinência ou não da aplicação das ações afirmativas diretas. As cotas raciais se tornaram sinônimos de privilégios para negros, indígenas e hispânicos desde o inicio das políticas na década de 60 até meados dos anos 90, quando o cenário começou a se alterar nos Estados Unidos. Sabbagh (2011) mostra que neste período os tribunais de Texas, Califórnia e Flórida proibiram qualquer ação afirmativa direta para beneficiar os negros e que um princípio forte vem ganhando projeção desde então, o “color-blindness”. Segundo os advogados deste argumento, seria 59 intrinsecamente errado fazer distinções com base na cor. Eles se contrapõem tanto àqueles que defendem o sistema meritocrático quanto àqueles que são a favor de cotas raciais. É uma crítica que se concentra em torno de quais são os tipos válidos. A solução que surge desta visão de mundo reside no advento de ações afirmativas indiretas. São iniciativas que visam aumentar a participação de grupos desfavorecidos sem a utilização do critério racial (por ex., através da admissão dos melhores alunos de cada escola pública). Analisando o caso brasileiro, César (2007) lista quais as porcentagens de vagas reservadas por 25 universidades brasileiras. Dessas, 21 (84% do total) possuem alguma reserva para negros. O mesmo percentual é verificado para alunos oriundos do sistema público de ensino. Entre os outros critérios utilizados, temos a UERJ que utiliza recortes por renda. A UFTO procura captar indígenas e a UEDI, residentes do Vale do Jequitinhonha. Conclui-se que os dois tipos de ações afirmativas mais utilizadas no Brasil são aquelas que reservam vagas para negros e estudantes de escola pública. Entendemos que a instituição de reservas de vagas para o primeiro tipo sofra uma rejeição significativamente maior pelos não beneficiados no Brasil. Confirmamos este entendimento analisando os dados da UERJ expostos na tabela 3.1. Foi possível perceber que apenas 22% dos candidatos não cotistas concordam com cotas para negros carentes enquanto este número sobe para 50,75% quando eles são interrogados para cotas de egressos carentes da escola pública. Tabela 3.1. Opinião dos estudantes da UERJ em relação às reservas de vagas (em %) Concordam Negros e com a atual Total Não Cotistas Indígenas Escola Publica Deficientes reserva de vagas para: Negros? Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não 27,08 72,92 22,82 77,18 85,27 14,73 52,03 47,97 72,72 27,28 pública? 54,81 45,19 50,75 49,25 89,26 10,74 96,32 3,68 87,87 12,13 Deficientes? 43,35 56,65 40,43 59,57 76,30 23,70 61,12 38,88 87,87 12,13 Escola Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Aliado a isto, a tabela abaixo mostra como os candidatos pretos e pardos se concentram em alguns grupos que são passíveis de serem representados por ações 60 afirmativas. Em relação ao tipo de escola, os autodeclarados pretos são 20,78% (quase duas vezes a incidência populacional no estado do Rio de Janeiro) dos estudantes do ensino médio publico estadual ao passo que na escola privada a sua proporção cai para 8,62%. Se considerarmos a questão da renda, a proporção de negros com renda bruta domiciliar menor do que 3 salários mínimos é de 21,1% enquanto esta mesma proporção cai para 2,62% entre aqueles que vêm de famílias que possuem acima de 30 salários mínimos. Assim nos propusemos a investigar neste capítulo como a adoção de uma política do tipo color-blind pode aumentar a representação de candidatos autodeclarados negros na UERJ. Tabela 3.2. Estatísticas descritivas do Vestibular (em %) Nome da Variável Sexo Feminino Fez Pré Vestibular Fez Vestibular Anterior Nenhum Fundamental Ensino da Mãe Médio Superior Não Informado Nenhum Fundamental Ensino do Pai Médio Superior Não Informado Menor que 3 Entre 3 e 5 Entre 5 e 10 Renda Bruta Domiciliar Entre 10 e 20 Entre 20 e 30 Maior do que 30 Municipal ou Estadual Privada Tipo de Escola Federal Fora do RJ e/ou Brasil IDH abaixo de 8,5 IDH entre 9 e 8,5 Bairros da cidade do RJ IDH entre 9,5 e 9 IDH acima de 9,5 Fora da cidade do RJ Indigena Amarela 0,92 2,69 1,02 2,59 1 2,23 Parda 24,47 25,59 23,94 Preta 12 12,72 11,92 Branca 59,92 58,08 60,91 2,36 2,36 34,99 22,46 37,83 1,06 2,83 34,25 20,49 41,37 1,16 2,5 26,76 13,88 55,7 0,86 1,74 17,38 6,2 73,82 2,24 3,79 28,44 17,08 48,45 2,21 2,88 36,28 19,91 38,72 1,17 3,16 32,41 18,68 44,58 0,95 2,26 26,55 13,61 56,63 0,95 1,8 17,48 6,07 73,7 1,77 2,54 29,02 20,19 46,48 1,44 2,53 31,35 21,1 43,58 1,03 2,67 27,34 13,81 55,15 0,92 2,08 22,58 8,75 65,67 0,8 1,77 15,93 4,53 76,97 0,83 1,4 14,36 2,62 80,79 1 1,9 12,04 2,31 82,75 0,95 2,35 32,92 20,78 43 1,06 2,22 20,18 8,62 67,92 1,03 2,06 26,59 10,92 59,4 1,4 2,2 21,19 7,94 67,27 1,15 2,44 30,13 17,93 48,35 0,92 1,79 24,85 11,67 60,77 1 1,98 19,16 7,2 70,66 0,68 1,69 15,21 3,4 79,02 1,16 2,53 25,54 13,12 57,65 Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. 61 A estrutura do capítulo segue o seguinte formato. A seção 3.2 descreve o processo de construção e a justificativa de utilização de cada uma das bases. A seção 3.3 mostra os resultados estatísticos e econométricos encontrados pela avaliação das bases simuladas e a seção 3.4 apresenta as principais conclusões do capítulo. 3.2 Descrição e justificativa das bases simuladas para o vestibular UERJ 2010. A partir do arquivo original descrito no capítulo anterior é possível realizar simulações da composição dos alunos sob diferentes políticas de ação afirmativa. A cada simulação, alteram-se os parâmetros de admissão para que se tenha um novo corpo de candidatos beneficiados, prejudicados e classificados. Desta forma, foram criadas bases que definem a classificação teórica dos candidatos sob diferentes distribuições de vagas entre cotistas e não cotistas. Foram definidos os critérios meritocrático7, cor preta, raça negra mais renda e escola pública mais renda. A razão para estas escolhas reside no fato de que estamos interessados em investigar a composição dos alunos de cor negra sob as principais políticas de admissão adotadas no Brasil. Para que seja possível a comparação das diferentes bases criadas, foi estabelecido o mesmo percentual de reserva de vagas para todas (20%). Concordamos com a argumentação de Feres Junior (2006) que afirma que a definição do percentual de 20% para cotas, comum a quase todas as medidas adotadas, não parece ter tido uma justificativa nítida. Estas impressões são facilmente atestadas quando, por exemplo, o mesmo percentual de reserva de vagas para cor é adotado por instituições em estados que possuem ampla diferença de composição racial. Escolhemos este percentual exclusivamente devido a sua ampla utilização e aceitação. Como ressalva, defendemos que as decisões devam se respaldar em avaliações empíricas detalhadas tanto para o acesso quanto para a progressão dos alunos em uma universidade. 7 Embora a meritocracia possa ser entendida em um sentido mais amplo, do caminho percorrido por cada candidato, vamos adotar uma visão simplista e liberal do conceito. A ideia é definir como um sistema meritocrático aquele que não possui reserva de vagas e utiliza apenas a nota final como critério de classificação. 62 3.2.1 Base do vestibular UERJ 2010 Conforme detalhado no capítulo anterior, esta base contém as informações de todos os alunos que prestaram o vestibular de 2010 da UERJ. Como se trata da base original é a única que não possui apenas 20% de reserva de vagas. Quando nos referirmos a esta política, está implícita a atual composição de cotas definida por lei que estabelece 45% das vagas para grupos cotistas, distribuídas da seguinte forma: 20% para negros e indígenas, 20% para estudantes de escola pública e 5% para outros grupos (deficientes e filhos de policiais mortos em serviço, por ex.). Lembramos que todas as vagas possuem um recorte de renda, que para o ano de 2010 foi definido em 960 reais. 3.2.2 Base: Escola pública e renda. Dentro do contexto das ações afirmativas indiretas, o argumento normativo que emerge pelos adeptos da linha de pensamento “color-blindness” centra-se no fato de que as vidas marcadas pela pobreza e má educação são menos hábeis para se defender de qualquer opressão social, independente de sua natureza. (RODRIGUEZ, 2003) O foco das ações deveria se dirigir à correção dessas distorções sócio-econômicas independente da cor de um indivíduo. Se nem todos os negros são igualmente discriminados, pois aqueles não educados e pobres são os mais vulneráveis ao racismo, então uma solução que corrija as distorções de renda beneficiaria aqueles dentro de cada tipo de cor, os que mais necessitam de suporte. Ao analisar a representatividade dos pobres nas universidades dos Estados Unidos, pesquisadores concluem que a distribuição de renda tem sido uma barreira significativamente maior do que o racismo. Hill e Winston (2008) mostram que apenas 10% dos estudantes pesquisados vêm dos 40% mais pobres. Carnevale e Rose (2003) revelam que os pobres estadunidenses têm sido sub-representados em larga escala, mesmo quando comparado com outras minorias alvo de ações afirmativas. Africanos e hispânicos são 6% de 146 faculdades pesquisadas enquanto suas composições na população norte-americana giram em torno de 15% e 13% respectivamente. Em relação às distorções do acesso motivadas pela renda, foi 63 verificado que apenas 10% dos alunos se encontram entre os 50% mais pobres. Ou seja, se entendermos como justo o ponto em que a proporção de jovens de um tipo no país se iguala a proporção de jovens do mesmo tipo na universidade, temos que os referidos tipos estão subrepresentados nos estados unidos. Se o critério de renda se mostra tão relevante na literatura internacional assim como nos resultados das regressões apresentadas no capítulo anterior, se torna necessária a avaliação do quão determinante ele é para a entrada no vestibular de uma instituição brasileira. Além de ser fundamental separar os alunos pela renda, acreditamos que uma política justa deva procurar mitigar possíveis favorecimentos dentro de um tipo. Fenômeno este que, como vimos, é denominado por pesquisadores estrangeiros como “cream layer”. O ensino médio público no Brasil é reconhecidamente de pior qualidade8 quando comparamos com a iniciativa privada. Portanto, alunos provenientes de um melhor sistema de ensino seriam favorecidos em um critério que levasse em conta apenas a renda familiar. Por isto, seria recomendável, além da instituição do critério de renda, um que limite a reserva aos candidatos provenientes do sistema público de ensino. Alguns podem considerar importante a criação de uma outra reserva que também contemple os pobres que cursaram o ensino médio em escolas privadas. Estaríamos neste caso com um sistema que reserva dois percentuais de vagas. Um para estudantes pobres egressos da escola pública, outro para a contraparte que cursou o ensino médio em escolas privadas ou federais. Esta divisão evitaria que alunos carentes vindos de um sistema de ensino fossem chamados em detrimento dos que vieram de outro, por exemplo. Além disto, fortaleceria as oportunidades de todos os alunos pobres quando comparados aos de maior classe social. Não estamos sozinhos neste posicionamento normativo, outros pesquisadores argumentam sobre possíveis ganhos na esfera da justiça distributiva que reservas com um duplo critério podem trazer. Amadei (2007) afirma que para melhor corrigir as distorções sociais é necessária uma combinação de tipos. Waltenberg (2007) expõe que uma política combinada de ensino público e cor pode ser recomendável diante do seguinte cenário: negros ricos sendo favorecidos diante dos pobres do mesmo tipo e estudantes de escola pública 8 Embora o ensino médio público estadual seja reconhecidamente de menor qualidade média, isto não é verdade para as escolas federais. Mesmo assim, optamos por utilizar ambos os tipos de escola em conjunto. O motivo disto reside no fato que estamos interessados em simular políticas utilizadas no Brasil e elas, na sua grande maioria, não discriminam estes tipos de escola. 64 brancos apresentando melhores resultados que a sua contraparte negra. Os resultados encontrados no primeiro capítulo aparentam corroborar com esta visão. Mostramos que a UERJ adota um corte econômico e que está obtendo sucesso no objetivo de aumentar a igualdade de oportunidades. Pode-se afirmar isto através da constatação de que a referida universidade vem captando em sua maioria estudantes de condições adversas que não conseguiriam se classificar pelo sistema meritocrático. Para que seja possível fornecer dados empíricos que embasem ou comprovem a pertinência desta visão de mundo, simulamos como seria a composição dos alunos sob um duplo critério, de renda e escola pública. Para criar esta base, selecionamos os candidatos concorrentes pela reserva de cor e deficientes físicos que vieram do ensino médio público e acrescentamos essas observações ao respectivo universo dos cotistas que estudam em escolas públicas. Com isto, a amostra dos candidatos cotistas foi acrescida em 683 observações, das quais 660 vieram da reserva para negros e a restante, dos deficientes físicos. 3.2.3 Base: Cor “Preta” Conforme mostrado na introdução, as ações afirmativas para negros vivem dois momentos distintos nos EUA e no Brasil. Se no país norte americano as cotas para cor se deparam com constantes ataques por setores que defendem a meritocracia ou pelos partidários do princípio “color-blindness”, no Brasil a política de reserva de vagas para negros “color-sighted” se encontra no seu máximo histórico. Em abril de 2012, o superior tribunal federal brasileiro votou com unanimidade à favor da constitucionalidade das ações afirmativas raciais como um meio de correção legítimo das desigualdades sociais. Outro passo importante rumo à consolidação das cotas raciais se materializou no decreto assinado pela presidente brasileira em outubro de 2012 determinando que todas as universidades federais passem a reservar vagas para cor. Estas decisões implicarão em uma expansão significativa deste tipo de política no ensino superior brasileiro durante os próximos anos. O conceito da raça negra é um projeto ideológico. Movimentos raciais negros no Brasil vêm tentando consolidar uma identidade negra com raízes na cultura afro. A consequência desta abordagem reside no fato de que a sociedade deveria entender um novo 65 conceito onde o negro deixa de ser aquele que possui a cor preta. Nesta nova abordagem o negro passa a ser todo aquele que possui pele escura (preta ou parda) e que se identifica plenamente com questões sociais e históricas predominantes entre os africanos e seus descendentes brasileiros. Conforme mostra Pinto (2006) o individuo passa agora por um processo de descoberta. “Me descobri negro há xx anos”, “Só me dei conta de que sou negro há xx anos”, “Estou aprendendo a ser negra”. Assim, procuram unir na mesma classificação os autodeclarados pretos e pardos como “negros”. O ato de se utilizar o termo “negro” para vincular os pardos àqueles que se autodeclaram pretos vem se revelando polêmico e possui oposição tanto de setores contra ações afirmativas (KAMEL, 2006) quanto daqueles que as apoiam (FERES JUNIOR E ZONINSEIN, 2006). A argumentação de Feres Junior centra-se no fato de que apenas 0,68% da população de pardos brasileira se autodeclara como negros. Investigamos os dados para o caso da UERJ e chegamos a conclusão que apenas 3,63% dos pardos se candidataram pelas cotas. Logo, mesmo possuindo três vezes o contingente populacional dos pretos, os pardos são apenas 23% da composição de candidatos que concorrem pela reserva de vagas por cor. Tal definição se torna problemática na seguinte situação. Em um primeiro momento, para justificar um percentual elevado de reserva de vagas, os partidários das ações afirmativas têm utilizado o conceito de negros. Desta forma há um aumento considerável de potenciais candidatos com desvantagens socioeconômicas. Uma vez a política implantada, é possível perceber que a grande maioria dos candidatos vem da cor preta e não há uma iniciativa desses mesmos grupos em buscar uma maior participação dos pardos nas vagas reservadas. Dada a baixa autodeclaração de pardos como negros, a incorporação de observações desta cor no conceito de raça fica prejudicada. Por este motivo e pela inviabilidade de se saber quais pardos se declarariam por cotas para negros, optamos por criar esta base considerando somente aqueles que responderam o questionário sociocultural marcando a opção de cor como “preta”. A criação de uma base para negros que não considera o recorte de renda é natural para muitos defensores de cotas raciais. Santos (2006) , por exemplo, se mostra contrário à lei vigente de cotas da UERJ pelo fato de ela combinar o corte de renda ao critério étnico-racial. Argumenta o autor que dessa maneira dividem-se os negros entre cotistas carentes e não 66 cotistas. Este fato prejudicaria a unidade da identidade negra coletiva. Bowen e Bok (1998) citam a crítica de que as ações afirmativas raciais admitem minorias mais ricas, em melhores lares e escolas. Eles respondem argumentando que isso é justificável por expiar um legado de opressão e pelo fato de a referida política poder compensar os grupos reprimidos por contínuas discriminações na sociedade. Por fim, o critério de cor é aquele que maximiza a diversidade racial. Como conseqüência, a simulação desta base é importante tanto para opositores quanto para os advogados do critério racial. Para aqueles que a defendem, entender a nova composição dos alunos é transparente e fundamental. Para os críticos é importante saber o quanto uma política que desconsidera a existência de raças pode avançar na igualdade racial em relação à política para pretos. Ao definirmos os cotistas como os autodeclarados “pretos” chegamos à base com o maior número de candidatos, 3235. 3.2.4 Base: Raça negra e renda. A razão para verificar um critério de cor combinado com a renda é basicamente a mesma da base de escola pública e renda. Evitar o efeito “cream layer”. Ou seja, que subgrupos privilegiados dentro de um tipo historicamente desfavorecido se beneficiem com uma grande maioria das vagas. A instituição do recorte de renda para a cor evita que negros privilegiados egressos de escolas de ótima qualidade consigam as vagas que seriam de outra forma, ocupadas por negros carentes. É uma visão de mundo que pode ser resumida através do relato de Rodriguez (2003): “Eu não concordo que todos os negros são igualmente negros. Aqueles não educados e mais pobres são os mais vulneráveis ao racismo”. Neste critério, optamos por manter o recorte socioeconômico de renda para os candidatos cotistas. Para viabilizar esta ação, trouxemos para o universo dos cotistas negros, todos aqueles candidatos pelas demais reservas e que se autodeclararam como pretos no questionário sociocultural. Como resultado, aumentamos a amostra original cotista negra em 125 candidatos. Desses, 119 vieram das reservas para estudantes de escola pública e quatro para deficientes. 67 3.2.5 Base: Meritocrático. O critério que não reserva vagas, comumente chamado de meritocrático, é também historicamente o mais utilizado no país. Sob esse sistema, o único parâmetro de admissão válido é o resultado em provas de proficiência, que, no ensino superior, é chamado de vestibular. Antes da instituição do regime de cotas pela UERJ, todas as instituições de ensino superior (IES) públicas brasileiras utilizavam esta forma de acesso em seus processos de seleção. Os defensores desta política argumentam que qualquer sistema de cotas discrimina contra aqueles mais aptos e que por isto deporia contra o mérito. A conclusão natural desta afirmativa centra-se na constatação de que a meritocracia é justa pelo fato de que somente ela garante uma igualdade de todos perante a lei. Os meritocratas também afirmam que este é o processo seletivo que conduz ao melhor aproveitamento dos recursos escassos aplicados no ensino superior. Assim, costumam expor preocupações relativas à piora nos resultados de universidades que adotam o regime de cotas. Além dos fatores relacionados, outra justificativa para a utilização da presente base reside no fato de que esta política reflete, por hipótese, a composição natural dos alunos da UERJ. Composição essa que se estabeleceria em um regime de não intervenção estatal na definição das reservas de vagas. Esta é a base contrafactual. Ao compararmos as demais simulações com esta, podemos inferir como as diferentes reservas de vagas afetam as oportunidades de acesso dos grupos desfavorecidos definidos. 3.3 Resultados das Simulações 3.3.1 Candidatos Cotistas por Política Como cada política de reserva de cotas se respalda em uma visão normativa e age para corrigir uma determinada injustiça social, ela acaba por implicar em universos diferentes 68 de candidatos. A tabela 3.2 mostra que apesar de possuírem uma reserva de vagas de 45%, apenas 10% dos candidatos atuais da UERJ são cotistas. Tabela 3.3. Simulação da composição dos candidatos em diferentes políticas de cotas Tipo de política de cotas % de Total de % de Total de reserva de candidatos candidatos candidatos vagas cotistas cotistas não cotistas Vigente da UERJ 45 2616 10,56 24769 Renda 20 2190 8,69 25195 Raça Negra + Renda 20 1199 4,58 26186 Pretos 20 3235 13,40 24150 0 0 0,00 27385 Escola Pública + Sem Cotas Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Devido ao fato de as simulações de “raça negra e renda” e “escola pública e renda” possuírem tipos mais restritos, naturalmente este número cai nas simulações e atinge o valor de 4,58% no primeiro caso. Quando retiramos a condição de carência do critério relativo à cor, a composição do universo cotista sobe quase três vezes, para 13,40% do universo total de candidatos. O contingente de candidatos sobe de tal forma que excede a atual política de cotas da UERJ. Tal porcentagem de candidatos inclusive ultrapassa a proporção da mesma cor no estado do Rio de Janeiro, 11,11%. 3.3.2 Análise da Fronteira: Displacing/Displaced. Conforme mostramos no capítulo sobre o acesso, displacing são os alunos afetados positivamente pela introdução do sistema de cotas e displaced são os que foram rejeitados pela instituição, para que os cotistas pudessem ser admitidos. A tabela 3.3 mostra os perfis socioeconômicos dos candidatos que se encontram na fronteira sobre diferentes políticas de ação afirmativa. Tabela 3.4. Análise Displacing e Displaced sob diferentes políticas de cotas 69 UERJ Variáveis / Tipo de política Displacing Escola pública e renda Displaced Displacing Displaced Mulheres 55,54% 50,59% 56,17% 49,58% Fez Pré Vestibular 57,51% 50,03% 54,03% 50,41% Fez Vestibular Anterior 80,48% 81,19% 79,40% 82,57% Público - Estadual 65,25% 10,53% 74,46% 13,40% Tipo de Público - Federal 15,01% 14,62% 22,40% 13,56% Escola Privado 16,27% 68,78% 0,00% 67,33% 3,45% 6,05% 3,13% 5,69% Cor "Branca" 31,31% 71,12% 41,51% 68,84% Cor "Negra" 33,28% 5,35% 22,40% 7,53% Cor da Pele Cor "Parda" 31,86% 20,45% 32,78% 19,93% Cor "Amarela" 1,80% 2,12% 2,14% 2,68% Cor "Indigena" 1,70% 0,94% 1,15% 1,00% RB menor que 3 61,05% 13,21% 58,64% 14,90% RB entre 3 e 5 29,50% 19,43% 30,10% 22,78% Renda RB entre 5 e 10 8,57% 29,74% 10,70% 27,80% Familiar RB entre 10 e 20 0,78% 23,05% 0,32% 22,27% RB entre 20 e 30 0,07% 9,28% 0,16% 7,70% RB > 30 0,00% 5,27% 0,00% 4,52% IDH acima de 9,5 3,77% 17,61% 4,77% 13,56% IDH entre 9,5 e 9 7,31% 20,75% 8,07% 21,10% IDH entre 8,5 e 9 14,78% 13,91% 15,98% 13,06% IDH abaixo de 8,5 31,83% 13,67% 31,46% 16,58% Fora da cidade do RJ 42,30% 34,06% 39,07% 35,67% 4,01% 0,78% 3,13% 0,33% Ens. Fundamental 38,39% 9,91% 38,22% 12,39% Ens.Medio 42,64% 32,03% 43,32% 35,17% Ens.Superior 11,72% 55,86% 10,70% 50,08% "Não Sei" 3,22% 0,78% 4,61% 2,01% Nenhum 4,24% 0,62% 4,44% 0,67% Ens.Fundamental 38,39% 8,96% 40,69% 11,39% Ens.Medio 37,05% 29,50% 36,07% 32,83% 9,99% 57,19% 8,73% 51,08% "Não Sei" 10,30% 3,69% 10,04% 4,02% 1 Pessoa 3,54% 4,40% 2,65% 5,36% 2 Pessoas 13,76% 13,21% 11,03% 14,90% 3 Pessoas 30,05% 25,33% 30,14% 22,11% Fora da cidade do RJ Bairro Nenhum Educação da Mãe Educação do Pai Ens.Superior Pessoas na Família 70 4 Pessoas 34,22% 36,74% 33,60% 37,01% 5 Pessoas 13,53% 15,81% 15,65% 15,41% 6 Pessoas 3,30% 2,83% 4,61% 3,18% 7 Pessoas 1,57% 1,65% 2,30% 2,01% Tamanho da Amostra 1271 1271 603 603 Negros e renda Variáveis / Tipo de política Displacing Negros Displaced Displacing Displaced Mulheres 55,76% 50,93% 51,53% 48,26% Fez Pré Vestibular 58,97% 49,20% 56,51% 50,00% Fez Vestibular Anterior 84,31% 81,83% 81,22% 82,88% Público - Estadual 53,30% 12,92% 27,77% 15,96% Público - Federal 10,58% 14,79% 12,83% 13,07% Privado 33,64% 66,66% 55,55% 65,00% Fora da cidade do RJ 2,45% 5,61% 3,83% 5,96% Cor "Branca" 2,83% 70,41% 0,00% 72,11% Cor "Negra" 72,02% 5,24% 100,00% 0,38% Cor "Parda" 22,49% 20,03% 0,00% 22,69% Cor "Amarela" 0,00% 3,18% 0,00% 3,84% Cor "Indigena" 2,64% 1,12% 0,00% 0,96% RB menor que 3 60,30% 15,91% 28,73% 16,34% RB entre 3 e 5 31,56% 20,41% 33,71% 20,76% Renda RB entre 5 e 10 7,37% 27,15% 24,71% 27,69% Familiar RB entre 10 e 20 0,75% 22,84% 9,19% 21,73% RB entre 20 e 30 0,00% 8,42% 2,49% 8,46% RB > 30 0,00% 5,24% 1,14% 5,00% IDH acima de 9,5 3,59% 15,16% 4,02% 13,26% IDH entre 9,5 e 9 5,86% 21,72% 12,45% 22,11% IDH entre 8,5 e 9 14,17% 13,10% 14,17% 14,42% IDH abaixo de 8,5 31,79% 15,54% 31,41% 14,42% Fora da cidade do RJ 44,99% 34,45% 37,93% 35,76% 3,78% 0,18% 1,34% 0,38% Ens. Fundamental 36,48% 11,23% 22,98% 10,76% Ens.Medio 44,23% 34,26% 42,33% 36,15% Ens.Superior 11,90% 52,24% 30,84% 50,96% "Não Sei" 3,59% 2,05% 2,49% 1,70% Nenhum 3,21% 0,37% 1,34% 0,96% Ens.Fundamental 36,29% 12,54% 20,11% 11,73% Ens.Medio 36,48% 29,21% 39,27% 30,00% Tipo de Escola Cor da Pele Bairro Nenhum Educação da Mãe Educação do Pai 71 Pessoas na Família Ens.Superior 10,39% 53,55% 31,22% 52,30% "Não Sei" 13,61% 4,30% 8,04% 5,00% 1 Pessoa 3,40% 5,43% 4,21% 5,38% 2 Pessoas 17,20% 15,35% 13,98% 14,61% 3 Pessoas 32,13% 22,47% 27,01% 22,30% 4 Pessoas 31,37% 36,70% 34,86% 37,69% 5 Pessoas 11,34% 14,60% 14,36% 15,57% 6 Pessoas 3,78% 3,55% 3,06% 3,07% 7 Pessoas 0,75% 1,87% 2,49% 1,34% 532 532 521 521 Tamanho da Amostra Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. O tamanho da amostra na análise displacing e displaced é fundamental para sabermos o impacto da política. Uma vez que estamos analisando apenas os candidatos diretamente afetados pela introdução do sistema de cotas, quanto maior o número de observações maior o impacto da política na redefinição dos classificados. Das bases simuladas, a denominada “escola pública e renda” é aquela que mais classificou candidatos cotistas que não se classificariam no sistema puramente meritocrático (603) e a de somente pretos a que menos alterou a composição dos alunos (532). Em relação aos fatores socioeconômicos, tanto a atual política da UERJ quanto as demais simulações que possuem recortes de renda mostram que estas políticas atendem ao objetivo de se redistribuir vagas de alunos com condições favoráveis para aqueles que provêm de situações de carência. Nas três bases com condição de carência (atual política, escola pública e raça) mais de 50% dos candidatos do tipo displaced possuem pais com ensino superior enquanto cerca de 40% dos displacing possuem pais com no máximo, o ensino fundamental. Em relação ao tipo de bairro, 35% dos eliminados vieram de locais com IDH maior do que 9,5. Em relação aos cotistas, cerca de 30% dos agora classificados vieram de bairros com o menor IDH definido, abaixo de 8,5. Este comportamento que é similar nas três bases se verifica também para as outras características socioeconômicas expostas. Desta forma, podemos concluir que na avaliação consolidada para todos os cursos, essas três bases excluem candidatos de classe média alta em prol de um perfil de alunos que vêm de classe média baixa. 72 Quando comparamos o critério de cor à atual política e às demais bases, a simulação apresenta um perfil semelhante apenas para os candidatos excluídos da amostra. A grande diferença se revela no perfil dos candidatos classificados (displacing) pelo sistema de cotas. Quando retiramos o critério da renda e consideramos apenas a cor do candidato, o perfil socioeconômico dos beneficiados sobe, sugerindo que em boa parte os pretos beneficiados são aqueles advindos de um background familiar favorável. Se sobre o duplo recorte renda-cor, apenas 10% dos admitidos possuíam mãe com ensino superior, sobre o critério de cor essa proporção sobe para 30%. Quanto ao tipo de escola, a representação de pretos egressos de escolas com uma menor qualidade média (estadual) cai de 53% para 27%. Nesta simulação, as maiorias dos classificados por causa da política viriam de escolas privadas. O mesmo fenômeno se repete nos outros condicionantes socioeconômicos. Ao beneficiar somente a cor, este critério contribui em menor grau para a amenização das demais injustiças sociais que se manifestam de diversas maneiras, como em tipos de escola, bairros de origem ou renda bruta. 3.3.3 A Igualdade Proporcional: Racial, Social e Schooling Balance Segundo Sowell (2004), alguns pesquisadores estadunidenses defendem que a proporção das raças no emprego dos principais setores da economia deve refletir a composição racial da força de trabalho. Feres Júnior (2006) mostra que um conceito amplamente utilizado nas ações afirmativas indianas é o de igualdade proporcional, segundo o qual as reservas de vagas para cada casta devem espelhar sua composição nacional. Partindo deste arcabouço teórico podemos entender então como justa a seguinte situação. Um país onde cada um dos diferentes tipos, pertencendo a circunstâncias favoráveis ou não, têm a mesma proporção na educação e emprego que é percebida na população. Ou seja, se um país possui uma população com 70% de negros e 30% de brancos consideramos como justo o ponto onde se verifica a mesma proporção de ambos os tipos na universidade e no mercado de trabalho. Do ponto de vista igualitário, é desejável minimizar as distorções da subrepresentação das minorias no ensino superior e quanto mais sub-representado a minoria estiver na educação e nos empregos em comparação com a sua proporção na população, mais 73 injusta é a sociedade. Desta forma, expandimos o conceito inicial dos autores citados e analisamos as composições raciais, de renda e tipo de escola no Rio de Janeiro comparando com a representatividade desses mesmos grupos na UERJ sob diferentes políticas de ação afirmativa. Os resultados dessa análise se encontram na tabela 3.4. Para que fosse possível descobrir a proporção de cada grupo na população do Brasil e do Rio de Janeiro, utilizamos os dados da PNAD 2009. Ao restringirmos a amostra para o estado no qual a UERJ se localiza, temos que 11,11% da população se autodeclara de cor preta e 32,53% de cor parda. 75,6% das pessoas que se formaram no ensino médio vieram de escola pública e 57,08% foram caracterizados por nós como de renda per capita baixa (menor que um salário mínimo por pessoa no domicilio). Pela visão normativa da igualdade proporcional, o melhor sistema de cotas seria aquele que aproxima a composição dos alunos às proporções desses mesmos grupos na população. Tabela 3.5. Racial, Social e Schooling Balance sob diferentes políticas de cotas Composição Composição da Política Escola da população população do Sem atual da pública e brasileira Rio de Janeiro cotas UERJ renda (em%) (em %) (45%) (20%) Parda 47,52% 32,53% 22,10% 25,24% Branca 44,57% 55,90% 66,03% Preta 7,31% 11,11% Amarela 0,35% Índigena Negros Somente e renda pretos (20%) (20%) 23,82% 22,45% 19,68% 55,27% 62,46% 58,39% 58,10% 8,59% 16,10% 10,50% 16,07% 19,51% 0,24% 2,25% 2,19% 2,21% 1,92% 1,83% 0,23% 0,16% 0,97% 1,18% 0,98% 1,14% 0,86% Baixa - 57,08% 19,26% 24,10% 24,87% 24,25% 20,63% Alta - 42,92% 80,74% 75,90% 75,13% 75,75% 79,37% Pública - 75,60% 30,94% 45,73% 39,84% 34,96% 32,21% Particular - 24,40% 64,60% 50,50% 56,02% 60,93% 63,56% - - 4,46% 3,75% 4,12% 4,09% 4,23% Variável Cor Renda* Tipo de Escola** Fora do Rio *As carências foram definidas da seguinte forma. Abaixo de 3. S.M (UERJ) e até 01 S.M. per capita (PNAD). **Tipo de escola do candidato egresso do ensino médio. Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. 74 Na atual política de cotas, a composição de pretos na UERJ ultrapassa a proporção da população brasileira. Considerando o estado do Rio de Janeiro, a representação pela cor é menor em cerca de 2%. Por esta visão de mundo, a atual política de cotas superdimensiona a representação da população de cor preta, aumentando a participação de alunos desta cor para o patamar de 16,10%. Se a reserva de 20% para candidatos de cor preta for estabelecida, a proporção aumenta para cerca de 19% ou mais de duas vezes e meia a proporção de autodeclarados pretos no país. Assim, a política que melhor aproxima os pretos da sua proporção no Rio de Janeiro e por tanto a mais justa, seria a reserva para estudantes de escola pública carentes. Nas simulações ela também é a que mais favorece a composição de pardos, aumentando a participação de 22,10% no caso sem cotas para 23,82%. Embora melhore significativamente a composição de alunos pardos, a atual política de cotas ainda se encontra longe de atingir a atual representação de pardos no país. Quando consideramos o critério de renda, também a simulação da escola pública com o critério de carência é aquela que captaria a maior proporção de pessoas com características sócio-econômicas desfavoráveis. Classificamos como “pobres” aqueles que se declararam como pertencentes a menor faixa de renda na UERJ ou que possuem menos de 1 salário mínimo per capita domiciliar na PNAD. Neste caso, a referida base teria entre os classificados, quase 25% de alunos carentes. Na outra ponta, se encontram as políticas meritocráticas e somente negros, que têm como resultado apenas 20% de candidatos marcados como pobres. No que se refere ao tipo de escola, a atual política de cotas da UERJ é a que mais favorece a entrada de alunos oriundos da rede pública estadual de ensino. Seguido pela simulação de escola pública com critério de renda. Este fenômeno era esperado pelo fato de que muitos dos alunos cotistas negros vêm de escola pública. Desta forma, a reserva de vagas real da UERJ para estudantes egressos do ensino público é maior do que 20%. Em relação às igualdades proporcionais, podemos perceber que a atual política de cotas e as cotas para “pobres e escola pública” apresentam uma melhor igualdade proporcional. As cotas para “negros e renda” apresentam um desempenho relativamente inferior, superdimensionando a representação da cor preta e perdendo para a cota de escola pública no tocante a cor parda e às demais características. O sistema color-sighted 75 apresentou um desempenho que permite incluí-lo em um estágio entre a meritocracia e as demais políticas de reserva de vagas, devido a sua menor capacidade redistributiva. 3.3.4 Oportunidades em carreiras de alto prestígio Sabemos que as probabilidades de classificação de um candidato variam significativamente entre cursos de alto e baixo prestígio. É de se esperar que para as carreiras com uma alta relação candidato-vaga, as circunstâncias acabem por ser decisivas para delimitar o perfil socioeconômico dos estudantes. Assim, em uma carreira como Medicina, a maior parte (ou totalidade) da turma virá de um background familiar favorável. Por isto, na inexistência de ações afirmativas, sabemos que os pretos e pardos tendem a se concentrar em carreiras com menor prestigio. Isto pela consequência de estarem em sua maior parte, representados em parcelas pobres da população. Uma ação afirmativa eficaz do ponto de vista redistributivo deve proporcionar uma maior oportunidade de classificação às carreiras antes inacessíveis pela população discriminada. Logo, resolvemos investigar como a composição de negros se alteraria em cada grupo de prestígio dentro das simulações propostas. Os resultados se encontram na tabela 3.5. Tabela 3.6. Pretos e Pardos classificados em relação ao total de candidatos autodeclarados com a mesma cor (em %). Pretos classificados em relação ao total da cor (em %) Grupos de prestígio Atual Sem política de cotas cotas da UERJ Escola pública e renda Negros e Somente renda pretos Altíssimo 3,33% 17,57% 7,95% 17,99% 20,08% Alto 3,24% 16,19% 5,40% 14,76% 20,00% Médio 6,08% 18,11% 9,05% 17,69% 19,95% Baixo 12,36% 14,70% 13,21% 15,32% 19,03% Pardos classificados em relação ao total da cor (em %) 76 Grupos de prestígio Atual Sem política de cotas cotas da UERJ Escola pública e renda Negros e Somente renda pretos Altíssimo 16,25% 23,84% 20,08% 17,15% 13,38% Alto 17,02% 26,21% 21,48% 19,91% 14,86% Médio 19,53% 23,14% 21,51% 19,75% 15,99% Baixo 26,01% 26,34% 26,30% 25,41% 24,02% Fonte: Microdados da UERJ.Elaboração própria. Se considerarmos a posição normativa do racial balance, então uma composição justa de pretos na UERJ deveria ser próxima aos 11% e a de pardos, cerca de 32%. No sistema meritocrático, os alunos pretos seriam minoria em cursos com altíssimo prestígio, apenas 3% do total de pessoas matriculadas. Já entre os pardos, a composição atingiria os 16%, ou seja, metade da proporção desta cor na população. Este número sobe para 12,36% e 26,03% em carreiras com baixo prestígio para pretos e pardos respectivamente. A atual política expande o acesso dos pretos para 17,57% das vagas nas principais carreiras, um salto que vai além da composição desta mesma cor na sociedade brasileira. O mesmo não se verifica em relação à cor parda, onde o aumento de sete pontos percentuais não é suficiente para suprir as necessidades de indivíduos desta cor por redistribuição. A política color-sighted de raça e renda eleva a participação de pretos para cerca de 18% em cursos de altíssimo prestígio. A participação dos pretos ultrapassa a dos pardos mesmo este último sendo quase três vezes maior do que o contingente populacional de pessoas de cor preta no Rio de Janeiro. A maior surpresa se mostrou em relação à comparação da composição dos pardos entre as bases com cotas para escola pública e renda e raça negra e renda. A primeira política, apesar de possuir um critério exclusivamente social, pode vir a contribuir para uma maior participação dos pardos do que a cota de raça e renda. A justificativa teórica para este resultado contra-intuitivo reside no fato já exposto de que os pardos não se identificam como negros. Desta forma, as reservas de vagas para negros são em sua maioria utilizadas por pretos. 77 Ainda em relação à política color-blind proposta, a proporção de pretos aumenta em todos os tipos de carreira mas não consegue atingir a composição racial desejada. Em cursos de altíssimo prestígio, a participação de pretos mais do que dobra, quando comparamos com um sistema dito meritocrático, saindo de 3,33% para 7,95%. Já em cursos de alto prestígio, apesar de aumentar em mais de dois pontos percentuais a composição de alunos pretos, a proporção se mantém muito abaixo do total de pessoas desta cor no Rio de Janeiro. Logo, em nossas simulações é possível perceber que a presença de negros na UERJ desabaria na ausência da atual política de cotas. Que as políticas do tipo color-sighted invariavelmente incorreriam numa super-representação da cor preta na UERJ e que uma cota de 20% voltada para escola pública e renda não supriria totalmente as necessidades por redistribuição de indivíduos pretos ou pardos mas que se revelou mais adequada para a promoção de oportunidades para os pardos do que as políticas color- sighted. 3.3.5 Avaliação econométrica das probabilidades de acesso – Método Logit Com o intuito de entendermos como variam as probabilidades de classificação dos negros sobre diferentes políticas de ação afirmativa, optamos por utilizar o modelo logit em todas as bases descritas na seção anterior, são elas: “Base do vestibular UERJ”, “cotas para escola pública e renda”, “cotas para negros e renda”, “cotas para pretos” e “meritocracia”. Os resultados se encontram na tabela 3.6. Tabela 3.7. Determinantes do Acesso - logit, logistic e efeitos marginais para diferentes políticas de cotas. Política de cotas vigente na UERJ Sem cotas Logistic Logistic Variáveis Idade (Odds Marginal (Odds Marginal Logit Ratio) Effects Logit Ratio) Effects 0,0526** 1,0539 0,0049 0,0746*** 1,0774 0,0081 (0,0210) (0,0221) (0,0019) (0,0200) (0,0216) (0,0021) 78 -0,0987*** 0,9059 -0,0092 -0,1238*** 0,8835 -0,0135 (0,0349) (0,0316) (0,0032) (0,0331) (0,0293) (0,0036) -0,0905** 0,9134 -0,0084 -0,0386 0,9621 -0,0042 (0,0387) (0,0353) (0,0036) (0,0360) (0,0346) (0,0039) 0,1419*** 1,1524 0,0133 0,1841*** 1,2021 0,0204 (0,0542) (0,0624) (0,0051) (0,0533) (0,06413) (0,0059) Bairro - IDH entre de 0,1555** 1,1682 0,0151 0,2002*** 1,2216 0,0231 9,0 e 8,5 (0,0694) (0,0810) (0,0070) (0,0667) (0,08147) (0,0081) Bairro - IDH entre de 0,3029*** 1,3538 0,0306 0,3550*** 1,4261 0,0424 9,5 e 9,0 (0,0667) (0,0902) (0,0073) (0,0622) (0,08873) (0,0081) Bairro - IDH acima de 0,6014*** 1,8246 0,0674 0,6205*** 1,8598 0,0809 9,5 (0,0763) (0,1392) (0,0100) (0,0693) (0,1288) (0,0105) Número de Pessoas na 0,2921*** 1,3391 0,0272 0,1586** 1,1719 0,0173 Família (0,0672) (0,0899) (0,0062) (0,0617) (0,07234) (0,0067) Número de Pessoas na -0,0375*** 0,9631 -0,0034 -0,0211** 0,9790 -0,0023 Família ao Quadrado (0,0089) (0,0086) (0,0008) (0,0082) (0,0080) (0,0009) 0,1910*** 1,2104 0,0178 0,2072*** 1,2302 0,0226 (0,0190) (0,0230) (0,0017) (0,0169) (0,02076) (0,0018) 0,0715** 1,0741 0,0066 0,1203*** 1,1277 0,0131 (0,0301) (0,0323) (0,0028) (0,0283) (0,0319) (0,0031) 0,0654** 1,0675 0,0060 0,0668** 1,0690 0,0073 (0,0311) (0,0331) (0,0029) (0,0294) (0,0314) (0,0032) -0,0821* 0,9212 -0,0075 -0,1346*** 0,8740 -0,0143 (0,0474) (0,0436) (0,0042) (0,0444) (0,0388) (0,0046) -0,2317** 0,7931 -0,0201 -0,3832*** 0,6816 -0,0375 (0,0617) (0,0489) (0,005) (0,0638) (0,0435) (0,0055) -0,0985 0,9061 -0,0088 -0,1139 0,8923 -0,0119 (0,1841) (0,1669) (0,0159) (0,1823) (0,1627) (0,0183) 0,0402 0,9605 -0,0036 -0,0609 0,9408 -0,0065 (0,1285) (0,1234) (0,0116) (0,1192) (0,1122) (0,0124) Tipo de Escola - -0,4131*** 0,6616 -0,0354 -0,4379*** 0,6453 -0,0441 Municipal e Estadual (0,0541) (0,0357) (0,0042) (0,0516) (0,0333) (0,0047) Tipo de Escola - 0,5236*** 1,6880 0,0575 0,5024*** 1,6527 0,0636 Federal (0,0621) (0,1048) (0,0079) (0,0566) (0,0935) (0,0081) Tipo de Escola - Escola -0,2027** 0,8165 -0,0176 -0,1339 0,8747 -0,014 Fora do RJ (0,0984) (0,0803) (0,0079) (0,0867) (0,0758) (0,0086) Carreira - Altíssimo -3,7383*** 0,0237 -0,1856 -3,3365*** 0,0355 -0,2026 Prestigio (0,0844) (0,0020) (0,0032) (0,0763) (0,0027) (0,0032) Carreira - Alto -2,8302*** 0,0589 -0,1927 -2,4637*** 0,0851 -0,2009 Idade ao Quadrado Sexo Bairro - Fora do RJ Renda Bruta Escolaridade do Pai Escolaridade da Mãe Cor - Parda Cor - Preta Cor - Indígena Cor - Amarela 79 Prestigio (0,0585) (0,0034) (0,0037) (0,0524) (0,0045) (0,0038) Carreira - Médio -1,9675*** 0,1398 -0,1506 -1,7061*** 0,1815 -0,1559 Prestigio (0,0478) (0,0066) (0,0036) (0,0436) (0,0079) (0,0038) 3,5328*** 34,2209 0,6628 (0,0670) (2,2918) (0,0112) Cotista -2,5221*** -2,6113*** (0,3405) (0,3218) N 27385 27385 pseudo R2 0,276 0,174 AIC 18321,91 20876,96 BIC 18519,14 21065,97 Corretly classified 85,69% 83,06% Constante Marginal effects after logit 0,1041 0,1249 Standard errors in parentheses * p<0,10, ** p<0,05, *** p<0,01 Cotas para negros e renda Cotas para pretos Logistic Logistic Variáveis (Odds Marginal Logit Ratio) Effects 0,0082 0,0633*** 1,0653 0,0069 (0,0224) (0,0021) (0,0197) (0,0210) (0,0021) -0,1388*** 0,8703 -0,0144 -0,1087*** 0,8970 -0,0118 (0,0346) (0,0301) (0,0036) (0,0326) (0,0292) (0,0035) -0,0592 0,9425 -0,0061 -0,0484 0,9527 -0,0052 (0,0369) (0,0347) (0,0038) (0,0361) (0,0344) (0,0039) 0,1840*** 1,2019 0,0193 0,1037** 1,1092 0,0114 (0,0535) (0,0642) (0,0057) (0,0522) (0,0578) (0,0057) Bairro - IDH entre de 0,2239*** 1,2509 0,0247 0,1426** 1,1533 0,0162 9,0 e 8,5 (0,0676) (0,0845) (0,0079) (0,0659) (0,0759) (0,0077) Bairro - IDH entre de 0,3468*** 1,4145 0,0394 0,2719*** 1,3124 0,0318 9,5 e 9,0 (0,0639) (0,0904) (0,0079) (0,0620) (0,0813) (0,0077) Bairro - IDH acima de 0,6779*** 1,9697 0,0857 0,5742*** 1,7757 0,0739 9,5 (0,0713) (0,1404) (0,0107) (0,0694) (0,1231) (0,0103) Número de Pessoas na 0,2775*** 1,3198 0,0288 0,2089*** 1,2323 0,0228 Família (0,0641) (0,0845) (0,0066) (0,0620) (0,0764) (0,0067) Número de Pessoas na -0,0363*** 0,9643 -0,0037 -0,0266*** 0,9737 -0,0029 Família ao Quadrado (0,0085) (0,0082) (0,0009) (0,0082) (0,0080) (0,0009) Idade Idade ao Quadrado Sexo Bairro - Fora do RJ (Odds Marginal Logit Ratio) Effects 0,0794*** 1,0826 (0,0207) 80 0,2039*** 1,2262 0,0211 0,1980*** 1,2189 0,0216 (0,0176) (0,0215) (0,0018) (0,0171) (0,0208) (0,0018) 0,1070*** 1,1129 0,0111 0,1232*** 1,1310 0,0134 (0,0289) (0,0321) (0,003) (0,0283) (0,0320) (0,0030) 0,0654** 1,0676 0,0067 0,0612** 1,0630 0,0066 (0,0299) (0,0319) (0,0031) (0,0293) (0,0311) (0,0032) -0,1027** 0,9023 -0,0104 -0,1046** 0,9006 -0,0111 (0,0459) (0,0414) (0,0046) (0,0461) (0,0415) (0,0048) -0,3481*** 0,7059 -0,0326 (0,0671) (0,0473) (0,0056) -0,1805 0,8347 -0,0175 -0.0932 0,9109 -0,0098 (0,1806) (0,1508) (0,0163) (0,1895) (0,1727) (0,0193) -0,1580 0,8537 -0,0154 -0,1593 0,8527 -0,0164 (0,1280) (0,1092) (0,0118) (0,1276) (0,1088) (0,0124) Tipo de Escola - -0,4234*** 0,6547 -0,0405 -0,5323*** 0,5872 -0,0526 Municipal e Estadual (0,0515) (0,0337) (0,0045) (0,0512) (0,0300) (0,0045) 0,5006*** 1,6497 0,0604 0,4625*** 1,5880 0,0578 (0,0586) (0,0967) (0,0081) (0,0569) (0,0903) (0,0080) Tipo de Escola - Escola -0,1308 0,8773 -0,013 -0,1683* 0,8451 -0,0173 Fora do RJ (0,0909) (0,0797) (0,0086) (0,0881) (0,0744) (0,0086) Carreira - Altíssimo -3,4868*** 0,0305 -0,1977 -3,2619*** 0,0383 -0,1994 Prestigio (0,0789) (0,0024) (0,0032) (0,0761) (0,0029) (0,0032) -2,6068*** 0,0737 -0,1999 -2,4255*** 0,0884 -0,1981 (0,0545) (0,0040) (0,0038) (0,0522) (0,0046) (0,0038) Carreira - Médio -1,8115*** 0,1634 -0,156 -1,6872*** 0,1850 -0,1542 Prestigio (0,0450) (0,0073) (0,0037) (0,0436) (0,0080) (0,0038) 3,1275*** 22,817 0,6221 1,0802*** 2,9453 0,1583 (0,0862) (1,9672) (0,0162) (0,0533) (0,1570) (0,0097) Renda Bruta Escolaridade do Pai Escolaridade da Mãe Cor - Parda Cor - Preta Cor - Indígena Cor - Amarela Tipo de Escola - Federal Carreira - Alto Prestigio Cotista -2,8777*** -2.5037*** (0,3313) (0,3188) N 27385 27385 pseudo R2 0,209 0,178 AIC 19995,41 20781,99 BIC 20192,64 20971,00 Corretly classified 83,97% 83,21% Constante Marginal effects after logit 0,1177 0,1247 Standard errors in parentheses * p<0,10, ** p<0,05, *** p<0,01 81 Cotas para escola pública e renda Logistic Variáveis (Odds Marginal Logit Ratio) Effects 0,0750*** 1,0779 0,0080 (0,0204) (0,0219) (0,0021) -0,1295*** 0,8785 -0,0138 (0,0340) (0,0298) (0,0036) -0,0612* 0,9406 -0,0065 (0,0365) (0,0342) (0,0039) 0,1741*** 1,1902 0,0188 (0,0526) (0,0626) (0,0057) Bairro - IDH entre de 0,2135*** 1,2379 0,0241 9,0 e 8,5 (0,0660) (0,0817) (0,0079) Bairro - IDH entre de 0,3374*** 1,4012 0,0392 9,5 e 9,0 (0,0629) (0,0881) (0,0079) Bairro - IDH acima de 0,6653*** 1,9451 0,0860 9,5 (0,0703) (0,1368) (0,0107) Número de Pessoas na 0,2458*** 1,2786 0,0262 Família (0,0634) (0,0810) (0,0067) Número de Pessoas na -0,0310*** 0,9695 -0,0033 Família ao Quadrado (0,0084) (0,0081) (0,0009) 0,1978*** 1,2186 0,0211 (0,0175) (0,0213) (0,0018) 0,0963*** 1,1011 0,0102 (0,0286) (0,0315) (0,0030) 0,0645** 1,0666 0,0068 (0,0296) (0,0315) (0,0031) -0,1142** 0,8921 -0,0119 (0,0446) (0,0397) (0,0045) -0,4215*** 0,6560 -0,0398 (0,0623) (0,0408) (0,0052) -0,1387 0,8704 -0,0141 (0,1820) (0,1584) (0,0175) -0,0975 0,9070 -0,0101 (0,1214) (0,1101) (0,0121) Tipo de Escola - -0,4477*** 0,6390 -0,0439 Municipal e Estadual (0,0551) (0,0352) (0,0049) Idade Idade ao Quadrado Sexo Bairro - Fora do RJ Renda Bruta Escolaridade do Pai Escolaridade da Mãe Cor - Parda Cor - Preta Cor - Indígena Cor - Amarela 82 Tipo de Escola - 0,5734*** 1,7742 0,0725 Federal (0,0573) (0,1016) (0,0084) Tipo de Escola - Escola -0,1506* 0,8602 -0,0153 Fora do RJ (0,0902) (0,0775) (0,0087) Carreira - Altíssimo -3,3722*** 0,0343 -0,1991 Prestigio (0,0774) (0,0026) (0,0032) -2,5067*** 0,0815 -0,198 (0,0531) (0,0043) (0,0038) Carreira - Médio -1,7519*** 0,1734 -0,1558 Prestigio (0,0443) (0,0076) (0,0038) 2,1693*** 8,7522 0,4002 (0,0674) (0,5897) (0,0154) Carreira - Alto Prestigio Cotista Constante -2,6883*** (0,3263) N 27385 pseudo R2 0,192 AIC 20453,78 BIC 20651,01 Corretly classified 83,79% Marginal effects after logit 0,1215 Standard errors in parentheses * p<0,10, ** p<0,05, *** p<0,01 A variável dependente é uma binária que recebe o valor de “1” caso o candidato tenha se classificado sob a política simulada ou “0” caso negativo. As explicativas utilizadas são a idade, idade ao quadrado, número de pessoas na família, número de pessoas na família ao quadrado, sexo, IDH do bairro, renda bruta, escolaridade dos pais, cor, tipo de escola, tipo de carreira e tipo de vaga. As transformações nas variáveis de renda bruta e ensino dos pais seguiram a metodologia proposta no primeiro capítulo e foram transformadas em variáveis discretas, recebendo respectivamente quatro e seis valores. Em todas as simulações o sexo do candidato e as cores indígena e amarelo foram não são significantes. Com exceção dessas três variáveis, todas as demais se revelaram 83 estatisticamente significantes ao nível de 10%, independente do modelo. Os pseudo-R2 dos modelos variaram entre 0,276 para a atual política da UERJ e 0,174 para o sistema meritocrático e os valores foram corretamente preditos em no mínimo 83% para todos os modelos. Para cada um dos cinco modelos extraímos as razões das chances e os efeitos marginais das variáveis explicativas. A estimação dos efeitos marginais é calculada utilizando o impacto de um regressor que se encontra no seu valor médio (caso a explicativa seja contínua) ou em sua mudança discreta (caso a explicativa seja binária). O beneficio desta abordagem reside no fato de que ela melhora a interpretação dos resultados apresentados pelos coeficientes dos regressores na variável dependente de interesse. Em nosso caso, na probabilidade de classificação no vestibular. Considerando os efeitos marginais, podemos entender como varia a probabilidade de classificação dos autodeclarados pretos. No sistema meritocrático, um preto possui 8,74%9 de probabilidade de aprovação. Em relação ao sistema de cotas para escola pública e renda ele se depara com uma probabilidade de 8,17% de chances de classificação caso não seja cotista ou de 48,19% caso aplique para reserva de vagas. Neste caso, suas chances caem ainda mais se não for alvo da ação afirmativa, ao passo que sendo contemplado, possuirá quase 50% de chances de classificação. A reserva de vagas para raça e renda também divide os pretos entre não cotistas e cotistas. Neste cenário, as chances saltam de 8,51% para 70,72% também separando os candidatos em probabilidades muito distintas. Nas simulações expostas acima, os pardos estão inclusos na amostra cotista negra. Assim também foi possível verificar como varia a probabilidade de indivíduos deste tipo. Em todas as bases, as probabilidades de classificação dos pardos são maiores que a de pretos. Considerando a ausência de cotas, por exemplo, as probabilidades de classificação dos pardos são três pontos percentuais maior, 11,06%. Já no sistema de cotas para escola pública e renda 9 Para o cálculo das probabilidades, efetua-se o seguinte procedimento. Soma-se o coeficiente dos “efeitos marginais após o logit” (“Marginal effects after logit”) aos dos demais regressores que pretendemos variar. Assim, para o cálculo da probabilidade marginal de classificação dos pretos temos a soma de 0,1249 com 0,0375. Ou seja, 0,08740 ou 8,74%. Lembramos que as probabilidades variam muito com a definição de diferentes tipos. Um exercício que sugerimos ao leitor seria a mudança discreta da carreira de baixo prestígio para altíssimo prestígio. 84 eles se deparam com uma probabilidade de 10,96% de chances de classificação caso não sejam cotistas ou de 50,98% caso apliquem para a reserva de vagas. Por fim, temos o sistema de cotas somente para pretos. Nesta base a variável de cor preta foi excluída, pois todo candidato autodeclarado preto foi definido como cotista. Desta forma, as duas variáveis explicativas são perfeitamente colineares, o que implica na necessidade de se retirar uma das duas do modelo. A instituição das cotas pela cor mais do que triplica as chances de classificação de um preto em comparação com a base sem cotas. Nesta política, as probabilidades são de 28,3%. Este número só não é maior pelo fato de que a reserva de vagas por cor atrai uma grande quantidade de candidatos e institui uma ampla concorrência entre cotistas em comparação com os demais sistemas, onde a demanda quase não supre as reservas estipuladas para a UERJ. 3.4 Conclusões Dado que existe uma alta rejeição da sociedade brasileira às cotas com critérios raciais, que se manifestou na nossa pesquisa em uma não aprovação desta política por três quartos dos estudantes não cotistas, nos propusemos a avaliar como uma política color-blind pode afetar a composição racial dos estudantes da UERJ. A partir da análise sobre as bases simuladas da UERJ em cima do vestibular 2010, foi possível revelar dados importantes para o desenho de políticas de ações afirmativas. Percebemos, por exemplo, que os beneficiários das políticas (displacing) foram aqueles vindos de um baixo background familiar. Exceção feita quando retiramos o critério de renda. Na base onde se considera apenas os candidatos autodeclarados pretos percebemos um claro efeito do tipo “cream layer” e muitos dos classificados passaram a ser da classe média ou alta. Em relação às composições populacionais, a política color-blind elevou a proporção de pretos e pardos na UERJ em cerca de dois pontos percentuais. Com isto, ela quase iguala a proporção de pretos, mas ainda se encontra bastante defasada em relação aos pardos. A principal dificuldade se revelou no aumento do número de pardos. Inclusive a atual política 85 da UERJ, que apresenta um percentual de reserva de vagas consideravelmente maior, não foi capaz de se aproximar da porcentagem de pardos do Rio de Janeiro. Quando comparamos as políticas de raça e renda contra escola pública e renda no que se refere a participação dos pardos na UERJ, os resultados são reveladores. A política colorblind levaria a uma composição maior de pardos na ordem de 4 pontos percentuais. Ou seja, a política color-sighted não é eficiente para ajudar os pardos, conforme pretende. Explicamos isto pelo fato do conceito de negros como pretos e pardos ser algo restrito aos movimentos negros e aos estudiosos ligados às ações afirmativas. Mostramos que ,tanto para o país, como no caso da UERJ, a identificação de pardos como pertencentes à raça negra é consideravelmente baixa. Assim, uma cota para escola pública acaba por se tornar uma política preferível na captação de candidatos pardos. No passo seguinte, avaliamos a composição de pretos e pardos por grupos de prestígio em cada política de cotas. Como resultado, foi possível perceber que na ausência de cotas a proporção de pretos desabaria nas carreiras de médio, alto e altíssimo prestígio. Uma reserva para a raça negra de 20% já seria o suficiente para super-representar a cor preta em todos os níveis de carreira enquanto a política de escola pública e renda elevaria a participação de pretos em quatro pontos percentuais para carreiras de altíssimo prestígio. Em relação ao número de pardos, também foi percebida uma queda na proporção de classificados em um sistema meritocrático. Uma maior autodeclaração dos pretos na cota de raça e renda faz com que este grupo esteja mais representado do que os pardos em carreiras de altíssimo prestígio e que a política de escola pública e renda capte mais alunos pardos em todos os níveis de prestígio das carreiras. Como último passo, procuramos entender como variam as probabilidades de acesso dos pretos e pardos sobre diferentes ações afirmativas. Através da análise dos efeitos marginais extraídos do modelo logit, foi possível verificar que as probabilidades dos negros cotistas crescem de forma exponencial. Mostramos que as probabilidades de classificação de um negro podem aumentar de 8,74% em um sistema meritocrático para 48%, quando consideramos as cotas para escola pública e renda. Já as probabilidades de classificação de pardos são sempre maiores que a dos pretos e para estes casos, se situaram em 11,06% e 50,98% respectivamente. 86 Por fim, em nossas simulações a reserva de vagas de escola pública e renda seria capaz de captar mais candidatos pardos e indivíduos com menor perfil socioeconômico do que as políticas color-sighted. Além disto, neste tipo de política, a proporção de pretos praticamente alcança a população do estado do rio de janeiro. Como ponto negativo, foi possível perceber um aumento insuficiente de pretos em carreiras de alto prestígio. Desta forma podemos concluir que uma política do tipo color-blind com apenas 20% de reserva de vagas já pode ser capaz de alterar significativamente o corpo de alunos da instituição, favorecendo em grande parte as probabilidades de classificação de indivíduos pretos e pardos. CONCLUSÕES Investigamos a experiência da primeira ação afirmativa no ensino superior do Brasil. Utilizando bases de dados até então pouco exploradas, procuramos entender como se desenvolve o acesso à universidade e a progressão dos alunos cotistas e não cotistas dentro da UERJ. Também simulamos outras políticas de ação afirmativa comumente utilizadas no país. Em relação ao acesso de grupos cotistas e não cotistas à institução pesquisada, identificamos algumas questões importantes. A primeira é a de que praticamente inexiste uma concorrência entre grupos cotistas. Isto se traduziu em notas de classificação 87 consideravelmente baixas para o referido grupo. A relação candidato vaga para o grupo cotista em 2010 foi de 1,16 contra 10,46 dos não cotistas. Indo ao encontro de literaturas anteriores, perebemos que a renda bruta, o ensino dos pais e a cor da pele são determinantes de um melhor desempenho. Em nossa pesquisa adicionamos também a questão geográfica e a separação do ensino médio público em estadual e federal. Ambas variáveis também se mostraram significantes. Em relação ao desenho da política, ela se mostrou eficaz em captar pessoas com um baixo condicionante socioeconômico. Isto porque apenas 0,83% dos candidatos cotistas que concorreram para cursos de altíssimo prestígio se classificariam em um sistema que não utiliza reserva de vagas. Além disto, da análise displacing e displaced percebemos que a maioria dos candidatos admitidos vêm de condições bastante adversas. Já os que perderam a sua vaga possuem um perfil majoritário de classe média. Talvez o grupo mais prejudicado pela implantação da política seja a dos brancos, de classe média baixa, egressos de escolas privadas. Isto porque 71,12% dos displaced são brancos, 68,78% estudam em escolas privadas e 62,38% possuem uma renda bruta familiar menor que 10 salários mínimos. Os vários resultados apresentados no primeiro capítulo revelam possíveis iniciativas governamentais para aperfeiçoamento da política. A primeira é a diminuição da distorção da relação candidato/vaga entre os grupos cotistas e não cotistas que viria idealmente como resultado de uma melhor qualidade do ensino médio público e consequente melhor fluxo de estudantes egressos do ensino médio público. Um político que defenda posições liberais, pode sugerir a diminuição da proporção de vagas para as cotas com o intuito de se aumentar a concorrência entre cotistas na etapa do vestibular, aumentar as médias de entrada deste grupo e ainda diminuir a alta concorrência entre não cotistas. Outra possível ação seria a de se utilizar parte da reserva de vagas existente para criação de um grupo específico visando o aumento da proporção de pobres oriundos do ensino médio privado. Como resultado teríamos uma possível queda na proporção de “displaced” deste grupo. No segundo capítulo observamos a progressão dos candidatos cotistas e não cotistas e percebemos que os alunos cotistas possuem um pior desempenho em termos de coeficientes de rendimento médios. Tal efeito aumenta com o acréscimo da dificuldade relativa do curso. Assim, o diferencial médio entre não cotistas e cotistas foi de 8,50% em todas as carreiras, chegando a 16,35% naquelas definidas como de alta dificudade relativa. Em relação às taxas de graduação, os cotistas se saíram melhor. Com exceção das carreiras com alta dificuldade 88 relativa, onde os não cotistas se graduam em maior proporção em quase 60% das carreiras. Nos demais cursos, são os cotistas que se formam mais. Tal fenômeno se expande conforme os anos passam e a dificuldade relativa diminui. Se considerarmos o corte para os inngressantes em 2005 e que se formaram em 2011 para os cursos de baixa dificuldade relativa, chegamos a um total de 73,33% de carreiras com uma maior proporção de cotistas formados. Verficamos também que existe uma evasão particularmente alta entre os não cotistas no primeiro ano. São 19,19% contra 7,69% dos não cotistas. Os dados analisados mostram que apesar de obterem um pior resultado em termos de coeficiente de rendimento médio, os cotistas estão se graduando a taxas mais elevadas. Justificamos este comportamento pelo fato de que os cotistas atribuem um maior valor para universidade do que os não cotistas. Esta valoração acaba se traduzindo em uma maior persistência e consequente maiores taxas de graduação. Mesmo diante de um alto diferencial de performance na entrada do vestibular, os cotistas conseguiram se graduar a taxas mais elevadas. Este se revelou um ponto importante para a justificativa de manutenção do programa. A análise da progressão também revela outras iniciativas importantes. A evasão dos não cotistas preocupa, o que sugere que a instituição deva dedicar esforços para uma melhor progressão deste grupo. Devido ao diferencial de notas e evasão nos cursos de alta dificuldade relativa, a instituição poderia dedicar um maior esforço no sentido de suportar alunos cotistas matriculados em carreiras relativamente mais difíceis. O último capítulo trata da simulação de outras ações afirmativas e também aqui descobrimos resultados importantes. O principal deles é que as políticas do tipo color-sighted mesmo focadas em atender as populações pretas e pardas, acaba por ser menos eficiente na inclusão de pardos do que uma política do tipo color blind. A proporção de pardos na UERJ seria de 23,82% na reserva para escola pública e 22,45% na reserva para negros, em ambos incluída a condição de carência. Nossa explicação se deve ao fato de que a maioria da população entende o termo negro como sinônimo de pretos ao passo de que o meio acadêmico vem adotando o termo negro como representação de uma identidade racial que une pretos e pardos sobre uma raça. O resultado disto é de que os pardos se candidatam a cotas sociais em uma maior proporção quando comparamos com as cotas raciais. Apesar de aumentar a proporção de pretos na universidade de 8,59% para 10,50%, a política color sighted de escola pública impacta menos a composição desta cor em cursos de altíssimo 89 prestígio. Neste caso, apenas 7,95% dos alunos seriam da cor preta. Este resultado porém é significativo, pois na ausência de cotas a presença de pretos seria de apenas 3,33%. Quando avaliamos a política color blind de escola pública, apesar de não possuir um impacto da mesma magnitude termos de proporção dos pretos do que a política color sighted, consideramos que ela tende a ser eficaz em aumentar a proporção de negros na UERJ. E o faz mediante uma reserva de apenas 20% das vagas. Isto pode significar que uma política que combine critérios de renda com tipo de escola pode se mostrar adequada no sentido de atingir uma maior quantidade de objetivos que a política color-sighted. Isto porque aumentaria em maior grau a proporção de alunos carentes e conseguiria um impacto relevante na proporção de negros sem discriminar por cor. Um sistema que poderia ser aconselhável por defensores das políticas não discriminatórias por cor é o de uma dupla reserva de vagas. Um para estudantes de escola pública e um outro para os egressos de escola privada, estando os dois grupos submetidos às condições de carência. Com a evolução desta política no Brasil, muitas perspectivas se abrem para estudos relativos as ações afirmativas. Na UERJ, uma unificação das bases do vestibular e da progressão poderia permitir análises econométricas do desempenho dos alunos cotistas e não cotistas. Para o Brasil, se evidencia a necessidade de novas pesquisas por economistas em outras universidades de modo que com maiores informações disponíveis, os gestores de políticas publicas possam aperfeiçoar a condução das ações afirmativas no ensino superior brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMADEI, Stella Maris Nunes. A execução da política de acesso pelas cotas nos dias de hoje. In: ARRUDA, José Ricardo Campelo. Políticas de Ações Afirmativas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Rede Sirius, 2007. p. 12-24. ANDRADE, Eduardo. Quotas in Brazilian public universities: good or bad idea? Revista Brasileira de Economia, São Paulo, n. 58, p.453-484, 2004. ANGRIST, Joshua; KRUEGER, Alan. 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