EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM
TURISMO
Aldir Cavalcante Antunes1
Karla Cristina Campos Ribeiro2
Márcia Fernanda Izidoro Gomes3
Maria Leônia Alves do Vale4
Resumo: Em virtude do número significativo de Instituições de nível superior em Turismo no
Amazonas (07 cursos ao todo) e da grande quantidade de bacharéis no mercado, inclusive uma parte
considerável não atuando no segmento, este artigo é resultado da busca de um diferencial
competitivo para os egressos do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas. Tem
por objetivo apresentar propostas de adequação do currículo do Curso de Turismo da Universidade
do Estado do Amazonas, com ênfase ás características regionais e as necessidades do mercado
turístico do Estado. Propõe o estímulo à formação de competências que visam permitir uma maior
competitividade ao profissional de nível superior em Turismo baseada em uma formação
multifuncional. Discute a aplicabilidade das disciplinas da grade curricular sugerida frente ao
ingresso dos alunos no mercado de trabalho, bem como seu desempenho e satisfação durante o
exercício acadêmico na Instituição. Enfoca o papel das atividades práticas como parte indispensável
para o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, que atendem e permitem saberes específicos do
setor turístico. Ressalta a importância de determinados conhecimentos, habilidades e atitudes
fundamentais para o alcance e a responsabilidade na prestação de serviços por parte do profissional.
Palavras-chaves: Competência, Estrutura Curricular, Bacharéis em Turismo.
1. Introdução
A atividade turística pode ser entendida como um agrupamento de diferentes setores
inter-relacionados e complementares, entre eles as áreas mais diretamente ligadas ao
1
Pedagoga, com curso de MBA em Turismo, Hotelaria e Entretenimento pela FGV, Coordenadora
Pedagógica do Curso de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas.
2
Bacharel em Turismo e Mestranda em Engenharia de Produção. Professora do Curso de Turismo do Centro
Integrado de Ensino Superior do Amazonas e Coordenadora de Qualidade da Universidade do Estado do
Amazonas.
3
Bacharel em Turismo, com especialização em Marketing e MBA em Turismo, Hotelaria e Entretenimento e
Docente da Universidade do Estado do Amazonas.
4
Mestra em Engenharia de Produção, Bacharel em Administração de Empresas, Especialista em Ecoturismo,
MBA em Turismo, Hotelaria e Entretenimento. Diretora da Escola de Artes e Turismo da Universidade do
Estado do Amazonas.
turismo, como: hotelaria, agência de viagens, transportes, eventos; e aquelas que podem
ser consideradas como o suporte básico e/ou complementar às demais áreas: gestores
públicos de turismo, as atividades de planejamento e consultoria em turismo, e as
organizações do terceiro setor que em alguns segmentos desenvolvem um papel de extrema
relevância, o que permite gerar uma gama distinta de perfis profissionais.
A base para o desenvolvimento turístico está na prestação de serviços. Independente
do tipo de programação realizada a possibilidade de oferecimento de um turismo prazeroso
e de qualidade a uma demanda cada vez mais exigente, é diretamente proporcional à
capacidade de bom atendimento e motivação do capital humano em buscar a satisfação do
cliente. O turismo abrange atividades de várias naturezas. São tarefas complexas, que
exigem a atuação de profissionais especializados, com conhecimento e formação na área
os Bacharéis em Turismo ou Turismólogos (ANSARAH, 2000).
Acompanhando as tendências internacionais que indicam um crescente interesse por
viagens e lazer, surgem e se aprimoram as mais diversas áreas profissionais e investimentos
ligados ao turismo. Seguindo a mesma ótica, surgem também inúmeros Cursos em
Turismo, de nível técnico, médio e superior, que buscam capacitar pessoas e gerar mão-deobra qualificada para o atendimento das expectativas e necessidades destas demandas.
No caso brasileiro, conforme Ansarah (2000), os primeiros cursos de Turismo em
nível superior tiveram início na década de 70. Em 1978 surgiram os cursos de hotelaria e,
mais recentemente, os cursos de gastronomia, lazer e toda uma mescla de currículos direta e
indiretamente relacionados ao atendimento da demanda turística.
Contudo, foi a partir de 1990 que os cursos de graduação em turismo tiveram um
grande impulso, mais acentuadamente a partir de 1995 quando houve um aumento
considerável destes cursos de graduação no Brasil. Segundo Trigo (2002) foram
contabilizados no início de 2002, 425 cursos de bacharéis e tecnólogos em turismo e
hotelaria
isso sem considerar os cursos de administração com ênfase ao turismo.
Na cidade de Manaus, os primeiros cursos de turismo em nível superior datam de
1995. Passados 07 anos, a cidade conta hoje com 07 cursos de graduação nessa área.
Entretanto, dada a grande complexidade e abrangência das atividades relacionadas ao
segmento e, por ser uma área de interesses acadêmico e científico relativamente nova, ainda
padece da escassez de estudos específicos para articular seu corpus de conhecimento de
modo a permitir uma definição precisa para um perfil profissional condizente com as
tendências turísticas mundiais e principalmente tendo como norte as características
regionais dos mercados onde atuarão estes profissionais.
Em Manaus, como na maioria das outras cidades brasileiras onde existem cursos de
graduação em turismo, grande parte dos currículos criados para as primeiras turmas destes
cursos foram desenvolvidos com base nas orientações do MEC e em pesquisas de outros
currículos de cursos já existentes. À medida que os cursos foram evoluindo seus currículos
foram sendo adaptados ao que se cogitavam serem as ênfases e tendências regionais e
locais, tudo feito muito mais na base da suposta experiência, do que em pesquisas que
indicassem estes caminhos.
Em suma, considerando o âmbito local, não há até agora um estudo que identifique
qual é o perfil recomendado para a formação do Bacharel em Turismo que lhes garantam
competitividade e empregabilidade, segundo as necessidades do mercado turístico do
Estado do Amazonas.
Considerando estas premissas este artigo tem como objetivo apresentar as
recomendações e propostas sugeridas para a adequação do currículo do Curso de Turismo
da Universidade do Estado do Amazonas, com ênfase às características regionais e as
necessidades do mercado turístico do Estado. Assim, propôs-se o estímulo à formação de
competências que visam permitir uma maior competitividade ao profissional de nível
superior em Turismo baseada em uma formação multifuncional. Refletiu-se sobre a
aplicabilidade das disciplinas da grade curricular sugeridas frente ao ingresso dos alunos no
mercado de trabalho, bem como seu desempenho e satisfação durante o exercício
acadêmico na Instituição.
Outrossim, a relevância deste estudo confirma-se na carência de pesquisas
científicas locais na área que sirvam de balizadores para os responsáveis pela formação
educacional de um número significativo de indivíduos, como vem ocorrendo no ensino
superior em turismo, em que o número de cursos gerados, de maneira geral, não têm base
científica sobre as reais necessidades e tendências do mercado de trabalho.
2. Educação X Formação: a relevância dos processos educacionais para inserção dos
acadêmicos e profissionais no mercado de trabalho.
Em pleno Século XXI são crescentes as exigências por profissionais que agreguem
valor às empresas e Instituições em que estão inseridos. Acompanhar estas tendências é um
processo difícil. Trata-se de um grande desafio para a maioria das pessoas, e
principalmente, para as Instituições educacionais, responsáveis em grande parte pela
formação destes indivíduos.
Cada vez mais o mercado de trabalho impõe o estabelecimento de profissionais
competentes, que reúnam condições satisfatórias no que se referem aos conhecimentos
acumulados, habilidades inatas ou desenvolvidas e atitudes positivas e favoráveis ao
desenvolvimento organizacional e pessoal, como condição de empregabilidade e sucesso no
mundo dos negócios.
A competência individual é entendida neste estudo como a capacidade da pessoa em
transformar os seus conhecimentos, suas habilidades, e atitudes em resultados práticos
favoráveis ao seu desempenho e posição no mercado de trabalho. Entende-se, que é
fundamental a reunião destes três fatores para que o indivíduo se consolide como um
profissional competente frente às diversas realidades impostas. Ou seja, não basta apenas
ter o conhecimento, mas precisa-se saber como aplicá-lo; ou ainda, não basta saber aplicálo, se não se houver a atitude certa diante de situações imprevisíveis. Enfim, é o somatório
destas condições que permitirá ao indivíduo se estabelecer como um indivíduo competente.
Colaborando com o exposto Nisembaum (2000), Brandão e Guimarães (1999)
definem que ter competência significa possuir características fundamentais que são
relacionadas a uma performance superior numa tarefa ou situação, e envolvem
conhecimentos, habilidades e atitudes que permitem a um profissional um excelente
desempenho em diversas circunstâncias de trabalho.
A realidade dos profissionais que atuam no setor turístico não difere da situação geral
apresentada. Ao contrário, a exigência por indivíduos competentes é algo presente e
crescente. É com base nesta perspectiva que se posiciona este estudo, que visa identificar
parâmetros para a formação de competências para os bacharéis em turismo, observando,
além das Diretrizes Curriculares Nacionais previstas pelo Ministério da Educação para os
cursos de nível superior em turismo, as necessidades do mercado turístico local.
Muito embora tenham tido seu início há pouco mais de trinta anos os cursos em nível
superior em turismo no Brasil ainda se encontram em fase de desenvolvimento e
adequação. Fato que revela uma das facetas inerentes à atividade turística, a sua dinâmica
evolutiva. Por ter como base de seu desenvolvimento a prestação de um serviço, é certo que
as pessoas que o oferecem devem estar constantemente atentas as novas necessidades do
consumidor e principalmente buscar prover meios para o oferecimento de um produto de
qualidade. Ou seja, os cursos de turismo vêm sendo desafiados a produzirem tecnologias
que melhorem e viabilizem o conhecimento em prol do desenvolvimento do setor.
Conforme Ansarah (2002) é necessário desenvolver uma tríplice formação
profissional para as atividades de turismo, que devem estar baseadas nos seguintes
pressupostos:
na capacidade criativa dos profissionais;
na habilidade para introdução de novas tecnologias;
no uso de novos processos e formas de organização;
na capacidade de adaptação do profissional: fator-chave do êxito para empresas;
na busca constante de produtividade: o principal objetivo e condição para
sobrevivência dos profissionais.
Portanto, o objetivo maior, e provavelmente um dos grandes desafios dos cursos de
nível superior em turismo, é conseguir proporcionar conjuntamente aos acadêmicos a
educação e o treinamento. De outro modo, é permitir que o aluno detenha além dos
conhecimentos e habilidades específicas sobre as diversas atividades inerentes ao turismo,
as atitudes relevantes para a apropriação destes fatores, ou seja, um conjunto de princípios,
capacidade crítica e reflexiva sobre as circunstâncias que o cercam, e não apenas ser um
mero reprodutor de procedimentos.
Cooper et al. (2001) aborda estas questões destacando que existe uma diferença entre
a educação e o treinamento: a educação deve fornecer ao estudante ferramentas para que
estes possam interpretar, avaliar e analisar as diversas situações e conhecimentos em
diferentes contextos; enquanto o treinamento é algo mais específico que está concentrado
na aplicação detalhada de uma habilidade.
Assim, para que os bacharelandos em turismo recebam uma formação que vá além do
treinamento, e sejam contemplados com uma educação consistente, devem obter condições
favoráveis para isto por meio do oferecimento da aprendizagem baseada em aspectos
teóricos, práticos e éticos (BISSOLI, 2002).
Em relação aos aspectos teóricos, é necessário que se alcance diversas correntes do
pensamento turístico, de maneira a possibilitar um posicionamento crítico-reflexivo sobre o
fenômeno e suas inter-relações socioculturais, econômicas e ambientais, estabelecendo
paralelos entre passado, presente e futuro, buscando sempre meios para desenvolver o
turismo por meio da maximização dos efeitos positivos e minoração dos efeitos negativos.
No que se refere aos aspectos práticos, é precípuo a realização de atividades que
permitam o treinamento e know-how de técnicas e saberes, que estimulem a consolidação
de habilidades, conhecimentos e atitudes, tais como: visitas técnicas, estágios, planejamento
e organização de eventos, além do planejamento e execução de roteiros de viagens e alguns
tipos de trabalhos de campo.
Quanto aos aspectos éticos, espera-se que o profissional internalize o valor de uma
postura de respeito e moral diante dos aspectos que permeiam as relações no turismo, nos
campos social, econômico, ambiental, a partir de uma compreensão de que estas relações
abrangem questões maiores como a cidadania e a melhoria do mundo em que está inserido.
Atingir todas as premissas básicas para a formação de um perfil condizente com as
competências profissionais previstas nas orientações do MEC/Sesu não se constitui tarefa
fácil e provavelmente é um verdadeiro desafio. Não incomum é que na teoria os projetos
pedagógicos prevêem uma coisa e na prática se estabeleça outra. Definir a adequada
proporção e intensidade de cada um dos aspectos mencionados acima (formação teóricoprática) pode ser um caminho para isto.
Outrossim, devido ao caráter multidisciplinar e interdisciplinar característico do
turismo é muito difícil propor um modelo padronizado de ensino. Contudo, pode-se refletir
sobre alguns pontos que permitam configurar um objeto de estudo e análise para a
formação do profissional especializado na área.
O cerne da questão neste estudo é o que propõe em linhas gerais o MEC,
no
documento Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Turismo e Hotelaria, que é
formar um profissional apto a atuar em um mercado
altamente competitivo e em constante transformação, cujas
opções possuem um impacto profundo na vida social,
econômica e no meio ambiente das sociedades onde são
desenvolvidas .
Sendo assim, um dos principais objetivos para a formação superior em turismo é
preparar o acadêmico para o planejamento e a gestão da atividade. Deste modo, a estrutura
curricular dos cursos em turismo deve ser pensada de maneira a possibilitar ao estudante
não somente a aprendizagem sobre as rotinas de trabalho, mas sobretudo, permitir a
internalização e reflexão sobre as circunstâncias e conseqüências das relações humanas,
sociais, econômicas, políticas, ambientais que permeiam a atividade turística.
Por seu caráter multidisciplinar, é preciso que se entenda o turismo como um objeto
de estudo onde diversas áreas do conhecimento são parte indispensáveis de um todo. Cabe
a cada disciplina da estrutura curricular possibilitar o alcance de sua inter-relação e
aplicabilidade no desenvolvimento da atividade turística
ou seja identificar sua
contextualização diante das diversas facetas em que se dão as práticas turísticas e as
comunidades, além de sua ligação com as demais disciplinas (BISSOLI, 2002).
As Diretrizes Específicas das DCN também determinam que os cursos de graduação
em turismo deverão apresentar uma organização curricular com os conteúdos interligados
em três eixos de formação de acordo com o seguinte:
I
-
Conteúdos Básicos: estudos relacionados com os aspectos Sociológicos,
Antropológicos, Históricos, Filosóficos, Geográficos, Culturais e Artísticos, que
conformam as sociedades e suas diferentes culturas;
II - Conteúdos Específicos: estudos relacionados com a Teoria Geral do Turismo,
Teoria da Informação e da Comunicação, estabelecendo ainda as relações do Turismo com
a Administração, o Direito, a Economia, a Estatística e a Contabilidade, além do domínio
de, pelo menos, uma língua estrangeira;
III - Conteúdos Teórico-Práticos: estudos localizados nos respectivos espaços de
fluxo turístico, compreendendo visitas técnicas, inventário turístico, laboratórios de
aprendizagem e de estágios.
Baseando-se nestas orientações, entende-se que o Bacharel em Turismo deve ser
preparado para a realidade do segmento, com atitudes e procedimentos que atentem para as
atividades globais, como o conhecimento do mercado, pautados pela qualidade e
responsabilidade na prestação de seus serviços. Para tanto, deve possuir uma sólida
formação interdisciplinar, oriunda das ciências humanas em geral e das ciências
administrativas em particular, além dos conteúdos específicos sobre o setor turístico.
Portanto é papel indiscutível do Ensino Superior em Turismo possibilitar
ao
acadêmico, além dos fatores acima mencionados, uma visão empreendedora da atividade,
estimulando a efetivação e consolidação de conhecimentos, habilidades e atitudes
condizentes com o desenvolvimento do segmento turístico global, priorizando os aspectos e
necessidades locais. Enfim, é refletir sobre o âmbito global e agir com base na situação
local.
No próximo item, com base nos fundamentos utilizados neste estudo, são abordadas
as proposições orientadoras para a revisão da estrutura curricular do Curso de Turismo da
Universidade do Amazonas.
3. A Estrutura Curricular e o Perfil Profissiográfico pautados em aspectos relativos ao
mercado turístico local e global.
O Curso de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas teve seu início em
agosto de 2001 e terá sua primeira turma de bacharéis em 2005. Tem sido uma preocupação
da Coordenação, Direção e alguns integrantes do corpo docente da Instituição, obter
informações que possibilitem uma orientação sobre os rumos que devem ser dados aos
aspectos relativos aos processos de formação dos alunos, no que diz respeito às disciplinas
existentes na estrutura curricular, bem como sobre as ênfases em atividades práticas e
complementares, com vistas a empregabilidade dos egressos.
Em função de não haver ainda alunos egressos, não há como realizar uma pesquisa
com os mesmos para se ter um balizador sobre a forma como estes estão atuando e
interagindo no mercado local. Assim, os principais instrumentos utilizados como
orientadores para a análise e proposições que visem melhor adequar a estrutura curricular
do Curso são:
questionário socioeconômico aplicado aos alunos;
entrevistas informais com representantes do trade turístico;
análise e comparação da estrutura curricular atual com outras de diversas Instituições
nacionais e locais;
identificação de segmentos locais com maior índice de empregabilidade;
levantamento sobre as tendências do segmento, principalmente no Estado.
realização de eventos científicos.
Em relação ao questionário socioeconômico busca-se obter um perfil dos alunos que
ingressam nos Cursos de Turismo, suas expectativas e nível de conhecimentos acumulados.
Quanto às entrevistas com os representes do trade espera-se identificar as
necessidades no que se refere aos perfis profissionais condizentes com a realidade do setor.
Assim, são ouvidos profissionais do setor público, privado, além de bacharéis que atuam no
segmento.
Pretende-se instalar um fórum de debates permanentes na Universidade
trazendo para dentro da academia profissionais de setores que integram a cadeia produtiva
do turismo, de modo a obter uma consultoria que possa nortear os conteúdos programáticos
das disciplinas, bem como a atuação do corpo docente e coordenação.
No que diz respeito às análises comparativas com outros currículos objetiva-se
identificar as diferenças e semelhanças básicas e também as inovações tanto no que se
refere às disciplinas, quanto às competências estimadas.
As pesquisas voltadas para determinação dos setores de maior empregabilidade, bem
como tendências emergentes, são feitas com base na coleta de dados junto às Instituições
públicas e privadas do setor, tais como: a Secretaria de Cultura e Turismo, Secretarias
Municipais de Turismo, Associações de Classe, Empresas de Turismo, além de bacharéis
que atuam no mercado.
Na realização de eventos da Universidade tem sido prioridade a busca por parâmetros
orientadores para a definição de um perfil profissional coerente com as necessidades locais
e globais, por meio da junção da teoria com a prática. Existem dois eventos fixos no
calendário institucional:
Mostra Pedagógica de Trabalhos Acadêmicos onde são apresentados as pesquisas
desenvolvidas em sala de aula, com foco em um tema específico realizado de maneira
interdisciplinar;
Encontro de Acadêmicos e Turismólogos do Amazonas atualmente se apresenta em
sua segunda versão, que tem como enfoque científico promover o debate contínuo sobre
aspectos relevantes ao profissional de turismo.
Com base nas informações obtidas com estas atividades procedeu-se a análise da atual
estrutura curricular do Curso de Bacharelado em Turismo da Universidade do estado do
Amazonas. O referido Curso foi elaborado em regime de seriado semestral, perfazendo um
total de 3030 horas, distribuídos em 08 semestres. O principal objetivo estabelecido no
Projeto Pedagógico é preparar o Bacharel para atuar na área de Planejamento, Gestão,
Pesquisa e Docência na área de Turismo, tendo como foco o turismo como fenômeno
econômico e social.
No decorrer dos primeiros semestres percebeu-se que seria necessária uma
reestruturação do atual currículo do Curso para atender as demandas identificadas através
das pesquisas relacionadas acima. Deste modo, a partir de reuniões periódicas com o corpo
docente, apresentou-se as propostas para as mudanças na estrutura curricular.
As modificações sugeridas não visam uma total alteração do atual currículo, mas
promover melhorias que permitam atingir as demandas identificadas. De outro modo, tentase sanar algumas restrições percebidas ao longo dos semestres cursados, entre as quais
destacam-se:
curso com ênfase em áreas sem sustentabilidade nos conteúdos;
ausência de experimentação prática na área por um número significativo de docentes,
que embora tenham titulação encontram dificuldades para contextualização dos assuntos,
aliando a teoria com a prática;
disciplinas com conteúdos estanques que não favorecem a interdisciplinaridade;
conteúdos de idiomas estrangeiros com carga horária insuficiente.
Considerando as restrições expostas, as mudanças mais significativas apresentadas
foram:
Inserir as Disciplinas de Línguas (Inglês e Espanhol) do primeiro ao oitavo e último
semestre. Baseado nos resultados dos questionários socioeconômicos que revelaram que a
grande maioria dos discentes não possui embasamento algum em nenhum dos dois idiomas.
Outro fator preponderante observado é que o nível econômico é baixo, o que dificulta o
investimento em cursos complementares. Ademais foi detectada através de pesquisa que o
idioma é uma carência freqüente aos estudantes de turismo, sendo fator restritivo na sua
inserção no mercado de trabalho.
Exemplo claro dessa afirmação se observa no setor de hotelaria onde a falta de
domínio em outros idiomas, principalmente no inglês, torna-se empecilho a atuação neste
setor. Outro exemplo ocorrido em 2001, quando houve um processo seletivo para
contratação de Bacharéis em Turismo para atuarem na Secretaria de Cultura e Turismo do
Estado foi o fato de que algo em torno de 70% dos candidatos não dominavam nenhum
outro idioma.
Inserção da disciplina de Empreendedorismo que visa dotar os alunos de
conhecimentos, habilidades e atitudes empreendedoras que permitam o seu diferencial no
mercado;
Ênfase as disciplinas de atividades orientadas, buscando consolidar o aprendizado
teórico ao prático. Um dos métodos de trabalho utilizados e fazer com que os discentes ao
ingressarem no curso adotem um município com potencial turístico para pesquisas e
trabalhos contínuos que visam tornar efetivo esse potencial, por meio de indicadores das
pesquisas realizadas e ações coerentes com a sustentabilidade necessária à atividade.
É importante ressaltar que este trabalho já vem sendo desenvolvido pelos acadêmicos
do 5º e 3º períodos, com a escolha dos municípios Presidente Figueiredo e Carreiro
Castanho, onde estão acontecendo atividades freqüentes com a participação dos órgãos
municipais, empresários locais e a comunidade.
Detectou-se como competência emergente na cidade de Manaus, a atuação de
Bacharéis em Turismo na área da Docência do Ensino Superior. Deste modo, busca-se
oferecer disciplinas para a complementação pedagógica e formação de docentes na área. As
disciplinas pedagógicas poderão ser cursadas pelos discentes nas outras Unidades da
Instituição, como por exemplo no Curso Normal Superior, por meio de uma reserva do
número de vagas demandadas. Outra proposta seria oferecer seqüencialmente após a
graduação, um curso de pós-graduação lato sensu na Docência para o Ensino Superior em
Turismo.
Enfim,
estas são as propostas apresentadas para a adequação e melhor
aproveitamento do Curso de Bacharel em Turismo da Universidade do Estado Amazonas. É
importante frisar que algumas das proposições já estão sendo desenvolvidas com êxito.
Pretende-se que as ações ainda não foram executadas possam ser efetivadas até o início do
segundo semestre de 2004.
Espera-se que ao final de todas as modificações propostas a Estrutura Curricular do
Curso de Turismo da UEA possa abranger em sua essência aspectos relacionados aos
seguintes pontos:
aspectos ambientais;
aspectos Culturais;
planejamento e gestão;
empreendedorismo.
Outrossim, o perfil profissiográfico pretendido deve externar as seguintes
características:
internalização de valores éticos;
compreensão do mundo a partir de uma visão holística;
formação técnica e científica para atuar no planejamento e na gestão de planos,
programas, projetos em empresas turísticas e afins;
empreender e buscar soluções alternativas e inovadoras;
desenvolver atividades específicas da prática profissional em consonância com as
demandas mundiais, nacionais e regionais.
Conclusão
A educação ruma no sentido de transferir valores que permitam dar sentido ao
trabalho e trazer à luz as possibilidades do indivíduo. O desenvolvimento profissional tem
uma conotação de evolução e continuidade. A formação destaca os aspectos técnicos de
destreza e conhecimentos, incide em atitudes (OMT, 1995, apud Ferreira, 2002).
Devido ao número significativo de Cursos de Graduação em Turismo na cidade de
Manaus e na ausência de estudos que indiquem o número de profissionais necessários para
atender a demanda local, este estudo tem o propósito de apresentar propostas para a
consolidação de um perfil que permita ao Bacharel em Turismo da UEA condições de
competitividade que lhes garantam empregabilidade, segundo as necessidades do mercado
turístico do Estado do Amazonas.
Considera-se a importância deste estudo em função da carência de pesquisas
científicas com base local na área que permitam orientar àqueles que lidam com a formação
acadêmica superior em turismo.
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