Proposta de Procedimento para Obtenção de uma Solução
Contaminante Contendo Hexaclorociclohexano (HCH) para
Ensaios de Coluna de Adsorção em Lote
Fernanda Peixoto Manéo
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), São Paulo, Brasil, [email protected]
Giulliana Mondelli
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), São Paulo, Brasil, [email protected]
Letícia dos Santos Macedo
Escola Politécnica da USP, São Paulo, Brasil, [email protected]
Cláudia Echevenguá Teixeira
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), São Paulo, Brasil e Universidade Nove de Julho
(UNINOVE), São Paulo, Brasil, [email protected]
RESUMO: O composto hexaclorociclohexano (HCH) foi largamente utilizado no controle de
pragas da agricultura e insetos transmissores de doenças, entre as décadas de 40 e 80 e, junto com
outros compostos organoclorados, foi uma grande fonte de contaminação ambiental. Está na lista
dos compostos classificados como POPs (Poluente Orgânico Persistente) junto com os chamados
“12 sujos” (aldrin, clordano, dieldrin, DDT, dioxinas, furanos, endrin, heptacloro,
hexachlorobenzeno (BHC), mirex, PCB’s e toxafeno) da Convenção de Estocolmo (SSC, 2007;
Baird C.). Este trabalho visou propor um procedimento para a obtenção de uma solução
contaminante com os principais isômeros de HCH (α-HCH, β-HCH, γ-HCH e δ-HCH), para ser
utilizada em ensaios de adsorção em lote e de coluna. Nestes ensaios, uma solução aquosa contendo
concentrações conhecidas de isômeros de HCH, é misturada e percolada a um solo não contaminado
por este composto, analisando-se assim a capacidade que os quatro principais isômeros do HCH têm
de serem adsorvidos e dispersados. A solução contaminante deveria, para este estudo, ter
concentrações de isômeros de HCH próximas à solubilidade de cada um em água, além de conter
concentrações detectáveis na metodologia de análise química escolhida para este estudo. Para isso,
foi utilizada uma amostra do pesticida, conhecido vulgarmente como BHC, que contém como
princípio ativo o HCH. Este pesticida foi solubilizado em água deionizada. As concentrações
obtidas ficaram bem próximas das desejadas para os isômeros α-HCH e β-HCH, obtendo-se
concentrações de 3,13 mg/L e de 0,27 mg/L, respectivamente. As concentrações obtidas para os
isômeros γ-HCH e δ-HCH ficaram abaixo daquelas desejadas, obtendo-se 6,50 mg/L e 11,15 mg/L,
respectivamente. Apesar disto, a solução contaminante desenvolvida está apta para ser utilizada para
os ensaios para estimativa de parâmetros de transporte de poluentes, pois, em relação aos limites de
detecção (LD) do cromatógrafo a ser utilizado nas análises químicas, as concentrações apresentadas
estão, em média, 261.100 vezes maiores.
PALAVRAS-CHAVE: BHC, HCH (Hexaclorociclohexano),
Solubilidade, Batch Equilibrium Test, Leaching Test.
1
INTRODUÇÃO
O hexaclorociclohexano (HCH) é um composto
pesticidas
organoclorados,
sintético de origem industrial, não sendo
encontrado naturalmente no ambiente. Possui
forma molecular C6H6Cl6 e foi sintetizado em
1825 por Michael Faraday, ao reagir cloro com
benzeno na presença de luz solar (UV)
(Almeida, 1962). Em 1912 foi descoberto que o
HCH possuía mais de um tipo de isomeria e
seus principais isômeros foram denominados de
alfa (α), beta (β), delta (δ) e gama (γ), este
último, descoberto por van der Linden
(Mariconi, 1981) e, por este motivo, é também
conhecido como lindano.
Durante o processo de formulação do HCH é
gerada uma composição com uma mistura dos
seguintes isômeros, nas seguintes proporções
aproximadas: α−HCH, 60-70%; β−HCH, 1012%; γ−HCH, 10-12%; δ−HCH, 6-10%; e
ε−HCH, 3-4% (Willet et. al., 1998). Em 1940
foram descobertos os poderes inseticidas do
HCH (Mariconi, 1981), e esta mistura de
isômeros era utilizada para produzir o pesticida
grau técnico (T-HCH) que passou a ser
conhecido
erroneamente
por
BHC
(Hexaclorobenzeno), extensamente utilizado
entre as décadas de 40 e 80.
Mais tarde, foi descoberto que apenas o
isômero γ−HCH possuía atividades inseticidas
(Dominguez, 2001), apesar disto, todo o grupo
HCH é considerado tóxico e potencialmente
carcinogênico (Walker et al., 1999). Após a
descoberta de que apenas o isômero γ−HCH
possúi atividades inseticidas, alguns países
passaram a produzir o HCH na sua forma mais
pura, ou seja, após a sua sintetização do HCH,
era feita uma purificação, através de tratamentos
por solventes apropriados, que eliminavam
grande parte dos isômeros “sem valor”,
resultando em maiores concentrações do
isômero γ−HCH, em alguns casos chegando a
99% apenas deste isômero (lindano). Durante o
processo de purificação do HCH, os demais
isômeros eram descartados, gerando grandes
quantidades de resíduos. Não existem registros
de que o lindano puro tenha sido produzido no
Brasil, apenas o T-HCH ou BHC (Mariconi,
1981).
Hoje se sabe que o HCH é um composto
altamente tóxico, possível carcinogênico
humano (IARC, 2006) e está na lista dos
compostos que devem ser incluídos na relação
dos POPs (Poluentes Orgânicos Persistentes)
juntamente com os chamados “12 sujos” da
Convenção de Estocolmo (SSC, 2007). Os “12
sujos” referem-se aos compostos: aldrin,
chlordane, dieldrin, DDT, dioxinas, furanos,
endrin, heptachlor, hexachlorobenzeno (BHC),
mirex, PCB’s e toxapheno (Greenpeace, s.d.). A
relação dos 12 sujos são compostos que devem
ser eliminados globalmente, restringindo-se
gradualmente sua produção e uso.
Com o intuito de se entender melhor o
comportamento do HCH, para apoio em futuros
estudos de remediação de áreas contaminadas
por este composto, este trabalho visou propor
um procedimento para a obtenção de uma
solução contaminante com os principais
isômeros de HCH (α-HCH, β-HCH, γ-HCH e δHCH) em concentrações suficientes para a
realização de ensaios para obtenção de
parâmetros de transporte de poluentes no
subsolo.
Convém ressaltar que o objetivo do trabalho
foi tentar produzir uma solução de isômeros de
HCH a partir de amostra de pesticida fora de
uso (BHC), como fonte destes compostos. Hoje
estes isômeros estão disponíveis no mercado
apenas na forma de padrões cromatográficos de
alto custo. Desta forma, pretendeu-se obter uma
solução contaminante de baixo custo, mas que
pudesse oferecer as concentrações desejadas
com certa reprodutibilidade e confiabilidade,
dentro dos limites de detecção cromatográficos.
2
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a obtenção da solução contaminante foi
utilizada uma massa de pesticida BHC puro.
Este pesticida foi obtido através de um produtor
do Paraná, que possuía este pesticida
armazenado e inutilizado em sua propriedade.
Este produtor foi encontrado através de contatos
com a EMATER (Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão Rural). A
EMATER, no ano de 2009, fez um
levantamento de todo BHC existente no Estado
do Paraná e possui um inventário com as
informações de todo produtor que possui este
pesticida estocado em suas propriedades. Este
BHC foi analisado quanto às concentrações de
HCH, apresentando 7% de HCH total em sua
formulação, sendo o isômero α-HCH o que
apresentou maiores concentrações e o δ-HCH
menores concentrações (Tabela 1).
Tabela 1 – Concentrações de HCH no pesticida BHC
HCH
Concentração
(mg/kg)
Concentração
(%)
α-
26.000
36,62
β-
15.000
21,13
γ-
16.000
22,53
δ-
14.000
19,72
∑-
71.000
100,00
Para a obtenção da solução contaminante,
inicialmente pretendia-se que esta fosse
realizada através da extração do HCH a partir
de solventes indicados para isso, que são,
conforme USEPA (2007), acetona e hexano.
Em seguida seria feita a cristalização do HCH,
seguida da solubilização com água deionizada.
Outra ideia foi efetuar a lixiviação dos
compostos de HCH, que é descrita como o
“processo para a determinação da capacidade de
transferência de substâncias orgânicas e
inorgânicas presentes no resíduo sólido, por
meio de dissolução no meio extrator”. Este
método segue a norma ABNT NBR 10.005/04,
utilizando-se uma solução de extração composta
por ácido acético glacial e hidróxido de sódio.
Porém, em função de se desejar uma solução
com comportamento mais próximo possível que
o composto apresentaria no meio ambiente,
decidiu-se realizar apenas uma solubilização
dos compostos com água deionizada, seguida de
filtração para remover as demais partículas
insolúveis em água. Portanto, para a produção
da solução contaminante, foi utilizada como
base a norma ABNT NBR 10.004/04,
utilizando-se conjuntamente as metodologias
descritas nas normas ABNT NBR 10.005/04 e
ABNT NBR 10.006/04.
O ensaio de solubilização segundo a NBR
10.006/04 permite a solubilização de compostos
presentes em uma massa, a 23 ºC (+/- 2 ºC), em
meio líquido. Esta foi a principal metodologia
utilizada como base para a preparação da
solução contaminante.
As concentrações que se desejava alcançar
seriam as mais próximas possíveis do grau de
solubilidade de cada isômero na água.
Analisando-se a Tabela 2, pode-se observar que
o isômero mais solúvel em água é o γ-HCH,
seguido do δ-HCH e do α-HCH, sendo o βHCH praticamente insolúvel na água (Tindall
et. al., 1999, ATSDR, 2005, Who, 1992 e
2004).
Tabela 2 – Solubilidade do HCH na água
Solubilidade em água segundo
Tindall et
al. (1999)
mg/L
Tem.
25
(°C)
α2,0
HCH
β0,24
HCH
γ37,5
HCH
δ31,4
HCH
Σ71,14
HCH
1
28 ºC; 220 ºC
ATSDR
(2005)
mg/L
Who
(1992)
mg/L
Who
(2004)
mg/L
Weil
(1974)
mg/L
-
28
20
25
2,0
69,81
2,0
-
2
-
0,2
7
17
7,8
2
0,24
0,2
1,5
6,8
2,0
-
-
31,4
11,04
78,84
-
-
41,4
Para se chegar a uma proporção de massa de
contaminante por volume de água, objetivando
as concentrações já citadas na Tabela 2, foi
utilizado como base um ensaio de solubilização
já realizado anteriormente com a mesma
amostra de BHC. Este ensaio foi realizado para
a classificação do resíduo e seguiu exatamente a
metodologia descrita na norma ABNT NBR
10.006/04. Os resultados do ensaio de
solubilização estão apresentados no item 3.
O ensaio foi realizado em duplicata e a
metodologia utilizada para a preparação da
solução contaminante, utilizando como base as
normas NBR 10.005 e 10.006/04, foi à seguinte:
a) Em
um
frasco
de
plástico
politetrafluoretileno de 2,2 L, foram
pesados 50 g de BHC e misturados 1
L de água deionizada;
b) Agitou-se a solução por 18 horas, a
23 (+/- 2) ºC, em agitador rotativo de
28 rpm (NBR 10.005/04);
c) Filtração em aparelho pressurizado
com filtro analítico de microfibra de
vidro, com poro de 0,75 µm (NBR
10.005/04), até retirar todo o extrato,
sobrando apenas o BHC no filtro;
d) Acondicionamento da solução em
frasco de vidro âmbar de 1 L e
preservação em câmara refrigeradora
à 4ºC;
e) Análise química por cromatografia
gasosa com detector de captura de
elétrons.
líquido, tempo de agitação, tempo de repouso e
malha da membrana de filtragem diferentes da
NBR 10.006/04.
A análise química foi realizada conforme
metodologia indicada pela USEPA (1996),
como segue:
a) Realização
da
extração
em
aproximadamente 1L de amostra em funil,
b) Separação de 2 L com 3 x 60 mL de
hexano grau pesticida;
c) Concentração do extrato a 1 mL em
rotaevaporador;
d) Passagem do concentrado por "cleanup"
(técnica utilizada para a remoção de
interferentes em coluna de florisil e sílica
gel);
e) Adição de um padrão de concentração
conhecida;
f) Diluição do material e;
g) Análise por cromatografia gasosa
(detecção de captura de elétrons).
Comparando-se o procedimento descrito
acima com o procedimento de obtenção de
extrato solubilizado da NBR 10.006/04, têm-se
algumas das seguintes diferenças apresentadas
na Tabela 3.
Tabela 3 - Diferenças entre o procedimento NBR
10.006/04 e a metodologia utilizada
Diferenças
NBR
10.006/04
Metodologia
utilizada para a
obtenção da solução
contaminante
Razão massa-líquido
1:4
1:20
Tempo de agitação
5 minutos
18 horas
Repouso da solução
7 dias
0
0,45 µm
0,75 µm
Filtro utilizado
Como as concentrações da massa bruta são
muito superiores ao teor de solubilidade de cada
isômero, sabe-se que (salvo a variação de
temperatura) as concentrações solubilizadas não
dependem das variações no processo de
solubilização, pois, conforme o conceito de
solubilização (capacidade que uma substância
tem de se dissolver em outra substância, sem
acumular partículas), quando a solubilidade
total do composto é atingida, o processo de
solubilização é cessado. Porém, para calcular a
massa que seria utilizada de BHC, considerouse, para cada isômero, qual seria a melhor
relação massa-líquido para alcançar as
concentrações máximas de solubilidade de cada
isômero. As concentrações na massa bruta
necessária foram determinadas e a temperatura
durante todo o procedimento de ensaio foi
controlada em 23 (+/- 2) ºC. Como o objetivo
deste ensaio é a preparação da solução
contaminante, e alcançar a solubilização total de
cada isômero, foram utilizadas razões massa-
3
RESULTADOS
3.1
Concentrações no Extrato Solubilizado e
na Solução Contaminante
Na Tabela 4 podem ser observadas as
concentrações de isômeros de HCH obtidas para
o ensaio de solubilização e para a metodologia
utilizada para a obtenção da solução
contaminante.
Apesar
das
grandes
concentrações de HCH no BHC, a solubilização
dos compostos não tenderam a variar conforme
razão massa-líquido (Tabela 4). Para todos os
compostos, as concentrações no extrato
solubilizado (razão 1:4) ficaram superiores às
apresentadas na solução contaminante (razão
1:20), mesmo esta última tendo sido agitada por
mais tempo (18 h) e tendo sido filtrada em
malha maior (0,75 µm).
Tabela 4 - Concentrações de HCH obtidas para os
diferentes métodos (resultados em duplicata)
Extrato solubilizado
Solução
HCH
NBR 10.006/04
Contaminante
(mg/L)
(mg/L)
α-
14,7
12,8
2,85
3,35
1,8
1,5
0,28
0,25
γ-
56,4
47,5
6,02
6,98
δ-
295,5
272,5
12,41
9,88
∑-
368,4
334,3
21,56
20,46
Analisando-se a porcentagem de isômeros de
HCH solubilizados em relação à quantidade de
isômeros de HCH presentes na massa bruta
(Tabela 5), pode-se observar que os isômeros αHCH, β-HCH e γ-HCH tiveram um
comportamento proporcional em relação à
porcentagem de solubilização. O δ-HCH foi
solubilizado em maior porcentagem quando
aplicado o procedimento de solubilização da
NBR 10.006, conforme pode ser visualizado na
Figura 1). Para o isômero α-HCH, a
porcentagem solubilizada no extrato foi um
pouco menor do que a apresentada na solução
contaminante. O β-HCH apresentou exatamente
o mesmo comportamento para ambos os
métodos e o γ-HCH, este se solubilizou em
menor porcentagem na solução contaminante.
O isômero δ-HCH, no extrato solubilizado,
apresentou uma solubilidade (284 mg/L) muito
superior tanto em relação aos demais isômeros
de HCH, quanto ao grau de solubilidade
apresentado na literatura (2,0 a 31,4 mg/L)
(Tabela 2). Para a solução contaminante, o
comportamento deste isômero se manteve na
média aceitável (Tabela 5).
Tabela 5 – Transferência de massa em cada método
Extrato solubilizado
Solução contaminante
NBR 10.006/04
HCH
MB
R
MB
SC
R
ES
mg/L2
mg1
%
mg3
mg/L2
%
8
% solubilizada
β-
6
4
2
0
α-HCH
β-HCH
γ-HCH
Solução contaminante
δ-HCH
Σ-HCHs
Extrato solubilizado
Figura 1 – Porcentagem solubilizada de isômeros de HCH
nos diferentes métodos utilizados
3.2
Concentrações
Concentrações
Contaminante
Desejadas
Obtidas na
versus
Solução
Comparando-se as concentrações desejadas com
as concentrações alcançadas na solução
contaminante (Tabela 6), observa-se que os
isômeros β-HCH e δ-HCH ficaram na faixa
desejada de solubilização desejada conforme a
literatura pesquisada e o γ-HCH ficou pouco
abaixo da faixa desejada, mas aceitável
também.
Para o α-HCH, considera-se que a
concentração deste isômero ficou próxima da
solubilidade sugerida na literatura, sendo
considerada aceitável.
Tabela 6 – Concentrações desejadas / Concentrações
alcançadas na solução contaminante
Concentração
Concentração
HCH
desejada
alcançada
(mg/L)
(mg/L)
α-
2,00
3,13
β-
0,24-1,50
0,27
α-
6.500
14
0,21
1.300
3
0,24
γ-
6,80-37,50
6,50
β-
3.750
2
0,04
750
0,3
0,04
δ-
2,00-31,40
11,15
γ-
4.000
52
1,30
800
6,5
0,93
∑-
11,04-72,40
21,01
δ-
3.500
284
8,11
700
11
1,39
∑-
17.750
352
1,98
3.550
21
0,59
MB = Massa Bruta; ES = Extrato Solubilizado; R=
Relação; SC = Solução Contaminante; 1concentração em
250 g de massa bruta; 2concentração média;
3
concentração em 50 g de massa bruta.
Comparando-se a solubilização do γ-HCH,
(1,30 %) com a solubilização apresentada na
solução contaminante (0,93 %) (Tabela 5),
suspeita-se que pode ter ocorrido essa
diminuição na concentração em função do
repouso de 07 dias realizado no ensaio de
solubilização e não realizado no procedimento
utilizado para obter a solução contaminante.
Com isso, durante o repouso de 07 dias, a
solução ficou exposta a possíveis variações na
temperatura, o que pode ter influenciado na
variação do grau de solubilização durante os
dias em repouso.
De qualquer forma, esta hipótese não teria
influenciado os demais isômeros. Isto leva a
acreditar que, talvez, o isômero γ-HCH pode ser
mais influenciável pelas alterações da
temperatura, por ser mais degradável. Porém,
não se pode afirmar que este seja o motivo deste
isômero ter apresentado uma tendência diferente
de comportamento.
Apesar disto, com esta solução contaminante
já seria possível analisar, através dos ensaios de
adsorção em lote e de coluna, a capacidade que
cada isômero tem de ser adsorvido e dispersado
por cada tipo de solo. Contudo, seria
interessante aumentar as concentrações de HCH
total e do isômero γ-HCH, principal isômero de
HCH. Também seria interessante aumentar as
concentrações dos isômeros β-HCH (0,27
mg/L) e δ-HCH (11,15 mg/L) para ser
alcançada a máxima solubilização destes
isômeros, que são de, respectivamente, 1,5 e
31,4 mg/L. Para isto, talvez a solução
permanecendo em repouso por 07 dias, antes de
ser feita a filtração, conforme o procedimento
descrito pela NBR 10.0006/04, também pode
influenciar a solubilização destes dois isômeros,
aumentando a concentração na solução
contaminante.
3.3
Legislações Nacionais e Internacionais
Fazendo-se uma relação das concentrações
obtidas para a solução contaminante com os
valores orientadores indicados por algumas
diretrizes nacionais (NBR 10.004/04 e
CETESB, 2005) e internacionais (USEPA,
2010), pode-se concluir que se trata de uma
solução contaminada, para todos os isômeros
dos quais existe alguma referência de valores.
Ou seja, dos isômeros que são relacionados nas
legislações, todos estão bastante acima dos
valores máximos indicados, devendo assim
serem facilmente detectados por cromatografia
gasosa.
Tabela 7 – Valores orientadores indicados por legislações
nacionais e internacionais
Solução
NBR
CETESB
USEPA
contamin.
HCH
10.004/04
2005
2010
(mg/L)
(mg/L)
(mg/L)
(mg/L)
4
α-
3,13
-
-
-
β-
0,27
-
0,00007
0,000037
γ-
6,50
0,002
0,002
0,000061
δ-
11,15
-
-
-
∑-
21,01
-
-
0,000037
CONCLUSÕES
A solução contaminante desenvolvida para
futuros ensaios de adsorção em lote, que
deveriam ficar na faixa do grau de solubilidade
de cada um deles, apresentadas na bibliografia
pesquisada (Tindall et. al., 1999, ATSDR, 2005
e Who, 1992 e 2004), apresentou concentrações
de isômeros de HCH dentro das faixas
desejadas. A faixa de solubilidade apresentada
na literatura pesquisada foi de: α-HCH de 2,0
mg/L, β-HCH de 0,24 – 1,5 mg/L, γ-HCH de
6,80 - 37,5 mg/L e δ-HCH de 2,0 - 31,4 mg/L.
Nas concentrações médias obtidas na solução
contaminante para cada isômero, o γ-HCH
(6,50 mg/L) foi o único que ficou um pouco
abaixo da concentração mínima desejada. Os
isômeros β-HCH (0,27 mg/L) e δ-HCH (11,15
mg/L) ficaram com concentrações nas faixas
desejadas, porém, conforme faixa de
solubilização apresentada na bibliografia
pesquisada, estes compostos poderiam ter
atingido concentrações maiores. Para o isômero
α-HCH (3,13 mg/L), a concentração
apresentada ficou um pouco acima e muito
próxima da concentração indicada na literatura.
O procedimento desenvolvido para obtenção
da solução contaminante foi considerada
adequada para a realização dos ensaios de
adsorção em lote e de coluna. Os valores estão
acima dos máximos permitidos na legislação
ambiental, além de estarem com valores acima
dos limites de detecção (LD) do cromatógrafo
gasoso a ser utilizado nas análises. Estas com
concentrações em média, em relação à
legislação, 261.100 vezes maiores, sendo: para
o α-HCH 156.500 vezes maior (LD: 0,02 µg/L),
para o β-HCH 5.400 vezes maior (LD: 0,05
µg/L), para o γ-HCH 325.000 vezes maior (LD:
0,02 µg/L) e para o δ-HCH 557.500 vezes
maior (LD: 0,02 µg/L).
No caso de se desejar obter uma solução
contaminante com valores de γ-HCH e δ-HCH
mais próximos aos desejados, sugere-se a
realização de pequenas alterações no
procedimento adotado, como, por exemplo,
após agitar a amostra por 18 horas, deixá-la em
repouso por 7 dias, conforme metodologia
padrão de obtenção de extrato solubilizado
(NBR 10.006/04) e, antes de efetuar a filtração,
agitá-la por mais 5 minutos. Assim, a amostra
sofreria possíveis alterações de temperatura,
durante o repouso, o que influenciaria a
solubilidade dos isômeros. Em ensaios para
obtenção de extrato solubilizado realizado com
a mesma amostra, as concentrações do isômero
γ-HCH foram proporcionalmente maiores do
que as apresentadas na solução contaminante, o
que pode ter ocorrido em função do repouso de
7 dias.
AGRADECIMENTOS
Ao Banco Nacional do Desenvolvimento
(BNDES), ao Departamento de Águas e Energia
Elétrica (DAEE), ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e aos Laboratórios de Resíduos e Áreas
Contaminadas do IPT (LRAC) e de Análises
Químicas do IPT (LAQ) do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT).
REFERÊNCIAS
Almeida, N. F.; et. al.; Química dos Pesticidas; pgs. 34 a
44; Edição do Fundo de Pesquisa do Instituto
Biológico de São Paulo; 1962
ATSDR - Agency for Toxic Substances and Disease
Registry. Toxicological Profile for Alpha-, Beta-,
Gamma- and Delta-Hexaclorocyclohexane; Atlanta,
Geórgia, 2005.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ISO
10004 – Resíduos Sólidos – Classificação, NBR
10004, 2004.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT ISO
10005 – Procedimentos para obtenção de extrato
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Proposta de Procedimento para Obtenção de