INTOXICAÇÃO POR HCH E TRICLOROFENÓIS Heloísa Rey Farza Gerência Geral de Toxicologia CARACTERÍSTICAS GERAIS • • • • • • • • • • Estrutura química com forma de anéis Presença de cloro Pouco solúveis em água Excelente associação com gorduras Relativamente pouco móveis na natureza ( quantidade = mobilidade) Acumulam-se e, sobretudo, concentram-se nas plantas e animais Passam para o leite dos animais e humano Passam para o cérebro e através da placenta São muito tóxicos Alguns têm um potencial cancerígeno • Autorizados no Brasil para tratamento de madeira e algumas culturas (cítricos,por ex.) e, na saúde, no combate à sarna e aos piolhos CARCINOGÊNESE IARC - Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer (1999): grupo 2b - possível cancerígeno para o homem – nos estudos de carcinogenicidade humana, EVIDÊNCIA INADEQUADA (estudos com poucos indivíduos) – nos estudos de carcinogenicidade em animais de laboratório, evidência para alguns produtos e limitada para o 2,4,6triclorofenol grupo 1 - cancerígeno para o homem – Estudos de carcinogenicidade humana CONCLUDENTES VIA DIGESTIVA PULMÕES PELE FÍGADO metabolismo TECIDO GORDUROSO MEDULA PRODUTOS ORIGINAIS OU MODIFICADOS ÓSSEA MÚSCULOS RINS CÉREBRO URINA, LEITE, SUOR, FEZES, LEITE, EMBRIÃO/FETO INTOXICAÇÃO POR HEXA CLORO CICLOHEXANO (HCH) H C H C H H C C C C H Cl H Cl Cl C C Cl TIPOS DE HCH Cl C Cl C C C Cl Cl -HCH C C Cl C Cl C Alfa HCH Cl C Cl C Cl Cl C C C Cl -HCH Beta HCH C C C Cl -HCH Gama HCH ou lindano O nome “hexaclorobenzeno” é incorreto, mas a sigla BHC ainda é muito usada CARACTERÍSTICAS DO HCH • Pouco solúvel em água • NÃO EXISTE NA NATUREZA • Produção de HCH: 70% α-HCH, 10% β-HCH, 15% γHCH • Lindano é composto por: 99% de γ-HCH + triclorobenzeno + impurezas (furanos e dioxinas) PERSISTÊNCIA NO MEIO AMBIENTE • Resiste à luz, ar e calor, corrói o alumínio, não inflamável • do produto aplicado em um campo de cultura, 50% ainda resta no solo após 1 ano (INCHEM) • Passa para o ar carregado pela água que se evapora, atinge os mananciais superficiais e subterrâneos, e é levantado pelo vento, associado a partículas de terra • Vento e chuva = dispersão e extensa contaminação • Material orgânico retém o lindano no solo • Pouco tóxico para peixes e plantas alta acumulação • Concentração nos organismos aquáticos varia de 10 a mais de 6000 vezes e, nos vegetais, de 10 a 2600 vezes, seguida de nova concentração no corpo humano ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E ELIMINAÇÃO • 90% do lindano penetra por via digestiva (alimentos); 10% penetra pela pele, pouco produto entra pelos pulmões • Levado pelo sangue a todo o corpo, atravessa os vasos e se fixa nas gorduras, principalmente no tecido gorduroso e pele (70 vezes mais do que no sangue) • Se transforma no fígado graças a vários sistemas de enzimas, criando: H C C H C C C C H H H H H Cl Cl H H pentaclorociclohexano = 11% dos derivados OH C C C C ClH C C H Cl Cl H H 2,4,6-triclorofenol • Se elimina principalmente pela urina, mas também pelo leite TOXICIDADE E EFEITOS Produto de toxicidade de nível II ou ALTAMENTE TÓXICO potencialmente cancerígeno para o homem: IARC 2b ( α- e γ-HCH, essencialmente) rato (via oral): leucemia ( descontrolado dos glóbulos brancos), linfoma ( anormal dos gânglios) e doença de Hodgkin ( de gânglios, baço e fígado + anemia progressiva) camundongo (via oral): câncer de fígado aumenta a atividade das enzimas do fígado que metabolizam medicamentos altera alguns elementos celulares (mitocôndrias) dos músculos e do fígado altera o uso do cálcio, do sódio e do potássio no organismo inibe a captação do cloro no cérebro responsável pela aparição de convulsões inibe alguns transmissores dos impulsos nervosos do sistema nervoso central (GABA) reduz a velocidade do condução do influxo nervoso, mas aumenta a excitabilidade dos nervos INTOXICAÇÃO AGUDA Aparecem freqüentemente após acidentes ou suicídios 10 a 20 mg/kg de peso corporal pode ser letal Sinais aparecem após algumas horas: – indisposição, náusea, tonturas, cansaço, dores de cabeça e vômitos – tremores musculares, distúrbios do equilíbrio – dores abdominais altas, diarréia e micção incontrolável – convulsões tônico-clônicas – morte por insuficiência respiratória INTOXICAÇÃO CRÔNICA • • • • Aumento da taxa de colesterol no sangue Redução do tempo de ação de vários medicamentos Taxas altas de lindano,α-, β- e δ-HCH no sangue Triclorofenóis na urina Sintomas: • • • • • • distúrbios da mobilidade muscular da face e dos dedos dor de cabeça, vertigem, mal-estar, vômitos tremores ansiedade, confusão, insônia, perda de memória diminuição da libido dermatite, rinite e conjuntivite alérgica EXAMES LABORATORIAIS • Método de dosagem mais usado para α-, β-, γ-, e δ-HCH no soro, sêmen, tecido gorduroso e leite: cromatografia gasosa, combinada com espectrofotometria de massa; métodos caros e difíceis de realizar • A concentração de γ-HCH no sangue é um indicador fiel da exposição recente da população geral • Na urina: cromatografia gasosa combinada com detecção de captura de íons e cromatografia em camada delgada dosam o triclorofenol (produto de transformação do γ-HCH) EXAMES LABORATORIAIS Dosagens por cromatografia gasosa em sangue e leite humanos VALORES DE REFERÊNCIA – 0,1 a 0,2 ng/ml (OMS) – Fernícola e Azevedo (1982) - média de beta-HCH = 7,3 ng/ml na população geral em São Paulo – Minelle & Ribeiro (1996) - média de beta-HCH = 3,4 ng/ml na população geral em São Paulo α-HCH sangue Crianças e adultos 100 ng/L γ-HCH sangue Crianças e adultos 20 ng/L β-HCH leite humano Lactentes 10 ng/g de gordura Fonte: Agência Nacional do Ambiente, Alemanha - Ewers, 1999 INTOXICAÇÃO POR 2,4,5-TRICLOROFENOL e 2,4,6–TRICLOROFENOL H H Cl H O C C C C H C C Cl Cl Cl (2,4,5-T) H O C C C C Cl C C Cl H (2,4,6–T) CARACTERÍSTICAS DOS TRICLOROFENÓIS • Sólidos, pouco solúveis em água • Ácidos • Se fixam em gorduras concentram-se em plantas e animais • Sua queima descontrolada (incêndios) gera dioxinas • EXISTE NA NATUREZA EM PEQUENAS QUANTIDADES, como metabólitos de plantas e animais • Fixam-se em solo rico em material orgânico, decompõemse pela ação de raios UV e alguns fungos • contaminam mananciais de superfície sem se decompor e perduram durante anos ABSORÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, TRANSFORMAÇÃO E ELIMINAÇÃO • absorvidos da pele e, menos rapidamente, por via digestiva • acumulam-se no fígado e rins, um pouco menos no cérebro, músculo e tecido gorduroso • se combinam com outras moléculas no fígado (glucuro e sulfoconjugação), perdendo seu potencial tóxico e são eliminados pela urina (80 a 90%) • seus efeitos clínicos são freqüentemente mascarados pelos das dioxinas que estão presentes nos solos contaminados – são responsáveis por um gosto ruim na boca – causam irritação dos olhos, nariz e vias respiratórias, dermatites, porfiria e cloracne INTOXICAÇÃO AGUDA Acidentes e suicídio • • • • • • • • • • • Seveso, Itália, 1976 fadiga mental e física dor de cabeça andar cambaleante (ataxia) vertigens e desorientação aumento da sudação aumento da temperatura corporal cloracne coloração azul da pele (cianose) aceleração do ritmo cardíaco (taquicardia) convulsões asfixia espasmódica que precede a morte por parada cardíaca • rigidez cadavérica rápida? INTOXICAÇÃO CRÔNICA Cloracne Porfiria • irritação dos olhos e nariz, bronquite • fotodermatite (sensibilidade à luz do sol), com bolhas e inchaço podem deixar cicatrizes ou pigmentação desfigurantes • aumento da pilosidade – hirsutismo • dores abdominais, tipo cólica, às vezes severas; vômito • dor nas extremidades e nas costas, com inchaço e formigamento, fraqueza muscular e paralisia • alteração da personalidade • urina de cor avermelhada Estas crises agudos podem ser mortais e produzem desequilíbrios eletrolíticos, baixa da pressão sangüínea e choque INTOXICAÇÃO CRÔNICA • Distúrbios neurocomportamentais: – – – – – – – – – insônia, irritabilidade, alteração do humor fadiga e diminuição da atividade sexual dormência nos braços e mãos, paralisia parcial das extremidades dos membros perda do equilíbrio e do sentido vibratório diminuição da capacidade física e intelectual perda de interesse, neurastenia e depressão ansiedade coma e convulsões INTOXICAÇÃO CRÔNICA Porfiria cutânea tardia – Bolhas cutâneas, sensibilidade à luz, coloração escura da pele, infecções freqüentes – Infecção ósseo-articular : • osteomielite • artrite – Perda de cabelos (alopecia) – Aumento da pilosidade (hirsutismo) – Urina avermelhada – Risco de morte – Recuperação após supressão da exposição, mas risco de seqüelas EXAMES LABORATORIAIS • Vários produtos organoclorados são transformados em clorofenóis • Presença desses produtos na urina ou no sangue não permitem de afirmar que a intoxicação se fez pelo 2,4,6 triclorofenol ou pelo 2,4,5 triclorofenol AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA GERÊNCIA Qual é GERAL a isca? DE TOXICOLOGIA www.anvisa.gov.br Água limpa Área de atuação: Agrotóxicos e Toxicologia http://www.anvisa.gov.br/toxicologia/sia.htm Sistema de Informação sobre Agrotóxicos - SIA [email protected] (0xx61) 3448 6203 (0xx61) 3448 6202 (0xx61) 3448 6201