MINUTA
DO PLANO MUNICIPAL
DO LIVRO, LEITURA,
LITERATURA E
BIBLIOTECA DE
CONTAGEM
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AUDIÊNCIA PÚBLICA
MINUTA PARA CONSTRUÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DO LIVRO, LEITURA,
LITERATURA E BIBLIOTECA DE CONTAGEM
ÍNDICE
Apresentação (SEDUC e FUNEC) …................................................................................. 03
Apresentação (FUNDAC) ................................................................................................. 04
Introdução …..................................................................................................................... 05
Leitura e cidadania …....................................................................................................... 06
Plano municipal …............................................................................................................ 08
Eixos norteadores …........................................................................................................ 09
Considerações finais ….................................................................................................... 15
Referências bibliográficas …............................................................................................ 16
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APRESENTAÇÃO
Se o que a vida quer da gente é coragem, bem como já disse o grande escritor mineiro João
Guimarães Rosa, é com a força e a esperança dos nossos pioneiros, os quais, pouco a
pouco, levantaram o arraial de Contagem das Abóboras, que propomos este Plano
Municipal de Formação de Leitores. Não somos mais um vilarejo! Nossa vocação é
industrial e brotam – dia após dia, regados pelo suor de nossa gente trabalhadora – muitos
e novos sonhos, inclusive o de sermos uma cidade leitora, nosso objetivo maior.
Ter um livro em mãos é semear um mundo no qual as bibliotecas sejam e oásis com árvores
reverberando em frutos cujo gostinho é de sabedoria a dar água na boca! Também
queremos nos valer das novas tecnologias para conectar pessoas e lugares, pois
entendemos que o leitor não é um sujeito passivo; pelo contrário, para nós, ler é se
posicionar criticamente na medida em que a obra está aberta àqueles que com ela desejam
dialogar, bem como representa uma alteração significativa do eu, visto que a leitura nos
move, transforma e amplia nossas identidades.
Por isso, a Secretaria Municipal de Educação (SEDUC), a Fundação de Ensino de
Contagem (FUNEC) e a Fundação Municipal de Cultura (FUNDAC) se unem para
democratizar a leitura, promover o mercado e o consumo do livro e a formação de
mediadores em consonância com as diretrizes dos ministérios da Educação (MEC) e
Cultura (MinC). Entretanto, a iniciativa do estado não bastará sem a adesão maciça dos
diversos setores sociais, pois uma política só se torna verdadeiramente pública quando
abre espaço e dialoga com todos e todas em sua construção, implementação e
consolidação.
Agora, o desafio está lançado! Tenhamos coragem para não desanimar frente aos
obstáculos. Afinal, o poeta já cantou que pode haver pedras no caminho... Viajemos qual um
trenzinho caipira, embalados ao som das cantigas de roda. Sonhemos, sonhemos bem alto,
mas sempre com um pé na realidade, porque estamos apenas começando a escrever
novas e belas páginas da história de Contagem e do seu povo!
José Ramoniele R. dos Santos
Secretário de Educação de Contagem
Hugo Otávio Costa Vilaça
Presidente da Fundação de Ensino
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APRESENTAÇÃO
O Plano Municipal do Livro e Leitura é uma legislação que fundamenta, regulamenta
e orienta a proposição e execução das políticas públicas do Município de Contagem, voltada
para o livro e a leitura. O Plano Municipal do Livro e Leitura faz parte das orientações do
Ministério da Cultura – MinC e do Ministério da Educação – MEC que, juntos, elaboram o
Plano Nacional do Livro e Literatura, com orientações e diretrizes para os estados e
municípios desenvolverem uma política de Estado, voltada à leitura e ao livro no Brasil.
A Fundação Municipal de Cultura de Contagem – FUNDAC entende que os termos
livro, leitura e literatura referem-se, respectivamente, às três dimensões das políticas
culturais definidas pelo MinC, que são a cultura como valor simbólico, do direito à cidadania
e da nova economia.
Como valor simbólico, a leitura tem o poder de despertar em nós sensações e
sentimentos, pois o autor inclina-se sobre nós, toca-nos de leve com suas palavras e, de
quando em quando, uma lembrança escondida se manifesta. Entramos em um mundo
imaginário, traçamos cenários com o autor, idealizamos o perfil dos personagens, enfim,
mergulhamos em um mundo de fantasia, conhecimento e leveza.
No plano da cidadania, a leitura e a escrita constituem elementos fundamentais para
a construção de sociedades democráticas, baseadas na diversidade, na pluralidade e no
exercício da cidadania como direitos de todos. Nesse sentido, é uma condição necessária
para que a população possa exercer seus direitos fundamentais, viver uma vida digna,
contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna.
Sob o ponto de vista econômico, a cadeia produtiva do livro movimenta milhares de
empregos. Estima-se que, hoje, existam no Brasil cerca de 3.000 empresas editoras. A
maioria delas, cerca de 90%, é de pequeno porte, empregando até 19 funcionários. A cadeia
produtiva do livro movimentou em 2013, segundo a Câmara Brasileira do Livro, R$
5.359.426.184,63, um crescimento de 7,52% em relação a 2012. Foram impressos 21.085
títulos novos e reimpressos 41.150, um total de 62.235 títulos, e foram publicados
467.835.900 exemplares.
No geral, a média de livros lidos, por ano, pelos brasileiros é de 4 livros. Assim,
estamos melhor que o México com 2,9 e a Colômbia com 2,2. Mas, na Argentina, são 4,6
livros lidos/ano; no Chile, 5,4; em Portugal, 8,5 e na Espanha, 10,3. São leitores, no Brasil,
88,2 milhões de pessoas, ou seja, 50% da população brasileira. Entretanto, em 2013, o
Brasil registrou 13 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais, que representam 8,3% do
total de habitantes do país. Para essas pessoas, um livro é apenas um objeto repleto de
códigos indecifráveis.
Assim, é dever do estado não apenas propiciar o aprendizado da escrita e da leitura,
via acesso à escola e a materiais didáticos, mas também disponibilizar os instrumentos que
faltam para a prática da leitura, como bibliotecas bem aparelhadas, livrarias em números
suficientes, preços acessíveis dos livros, melhoria da circulação literária nas bancas de
revistas e nos pontos de cultura, como formas de promover a cidadania, pois é
absolutamente impossível a formação da cidadania quando se recusa ao cidadão os meios
de sobrevivência que, em uma sociedade como a nossa, incluem o direito à leitura.
Posto isso, entendemos que o PMLLB é um instrumento fundamental de políticas
públicas para alavancar a leitura em nossa cidade. Afinal, como diz o poeta “o sumo prazer
humano sente o ser que é seduzido, não apenas pela leitura, mas, sobretudo, pelo livro.
Porque o livro é o corpo, e a leitura, o espírito” (Bruno Bezerra).
Roberto Duarte
Presidente Interino da Fundação de Cultura de Contagem
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INTRODUÇÃO
Texto, palavra de origem latina que significa tecido, trama, emaranhado e que remete
à figura de Penélope – esposa de Odisseu, rei de Ítaca – que fiava noite após noite a sua
história e de seu reino, tornando-se protagonista do próprio destino a preservar a honra e a
memória da Cidade. E quantas vezes, na condição de leitores, nos perdemos nas
entrelinhas das emoções vividas pelas personagens a ponto de sentirmos os sabores e
dissabores de cada uma, sem mais sabermos quem somos, rompendo os limites entre
realidade e ficção?
Desde os primórdios, ao redor das fogueiras, ou nos dias atuais, conectados pela
web e seus cabos de fibra ótica, desafiamos a rigidez do tempo e do espaço a fabular novas
possibilidades. Na escura noite da odisseia humana, enfrentamos o desconhecido com a
coragem dos guerreiros e das amazonas, iluminados pelo fogo que anima e alimenta a alma
para, linha por linha, ponto por ponto, escrever a história de cada um de nós e da
coletividade.
Somos humanos – no sentido mais profundo da palavra – porque usamos a
comunicação verbal, desde as situações mais triviais até a sua ressignificação, por meio da
literatura. A condição humana passa pelo texto e pela literatura, que é expressão de nós
mesmos, espelho no qual nos reconhecemos e nos projetamos rumo a novas aventuras,
sonhos, planos... Cada página virada de um livro é uma batida de asas de Ícaro, menino
sonhador, deslizando no azul do céu, tocando o sol, beijando as estrelas, para ver do alto
toda a imensidão do mar e da terra.
O que seria de nós não fosse a poesia? Tudo é arte e motivo para o poeta! A folha
caída da árvore na testa faz o ofício da cronista! O rio não é só rio ; é também margem na
história contada por quem tem uma rosa no nome e na alma, vagueando mares e ondas dos
sertões no lombo de um burrinho... Erigir castelos, torres e pontes; beber de fontes
cantantes para sermos eternamente jovens encantados pelos feitiços que só a literatura
tem! Sim, somos todos protagonistas desta nova história que estamos escrevendo a várias
mãos; história de uma cidade e de um povo que se sonha cada vez – e sempre mais –
amante da leitura, da literatura, das bibliotecas e dos livros!
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LEITURA E CIDADANIA
“Aceitar que numa sociedade podemos ter gente que nunca vai
ter a menor oportunidade de acesso a uma leitura literária é
uma forma perversa de compactuarmos com a exclusão. Não
combina com quem pretende ser democrático”.
Ana Maria Machado
A leitura, nos dias atuais, não pode ser pensada apenas como uma decifração de códigos.
Necessita ser pensada para além do que está escrito e para além da leitura do mundo.
Atingir esse patamar é estabelecer um percurso para alcançar a cidadania. Mas, como
chegar à amplitude da cidadania e da democracia por meio da leitura?
No universo da cidade, a inserção da leitura, em seus diversos contextos, provoca um novo
olhar sobre a sociedade, o cotidiano, a cultura e a arte. As possibilidades de sentidos vão
sendo aguçadas pelas leituras diversas do mundo, que proporcionam o exercício de ser
leitor, de tornar-se mais crítico, criativo e sensitivo.
O desenvolvimento dos processos de leitura deve passar pela dimensão estratégica da
cultura, pelo direito ao livro e à leitura como direitos essenciais de cidadania. A educação e
a cultura assumem papel fundamental na elaboração e execução de políticas públicas
fundadas no acesso ao livro e na formação de leitores como ações cidadãs, de inclusão
social e desenvolvimento. Dessa forma, tem-se observado que é essencial, para se evitar a
exclusão social, incentivar e promover ações e práticas de leitura significativas para os
cidadãos.
O desafio de introduzir a leitura nas discussões da cidade está posto, considerando que os
diferentes sujeitos trazem seus desejos e aspirações para o bem cultural livro e todo seu
universo. As crianças são curiosas e demandam dos adultos a riqueza do contar histórias.
Os adultos trabalhadores, ao afirmarem falta de tempo para leitura, deslumbram-se quando
ouvem as crônicas do cotidiano. Os idosos são ávidos por se sensibilizarem pelos traços
poéticos da vida. As “juventudes”, mesmo se distanciando do legado cultural da leitura, em
detrimento das novas tecnologias e com percursos de leitores não muito desejáveis,
almejam leituras de momento.
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Sejam homens ou mulheres, crianças ou adultos, leitores e não leitores, apaixonados ou
não pelos livros, todos, nesse emaranhado contexto da cidade, devem se sentir e fazer
parte da proposta do município para um dos passos para a democratização, promoção e
integração da leitura, acesso às bibliotecas e a acervos em seus espaços, por direito.
Para este e outros desafios, a relevância da formação de mediadores de leitura cria
condições para que novos leitores surjam e possam aguçar o desejo, o gosto pelo ato de
ler, ou seja, a busca é pelo leitor que forma novos leitores. A busca é por uma rede de
leitores que comunga o gosto pela leitura. Para tanto, é necessário o envolvimento da
sociedade para a construção de uma cidade mais leitora e mais cidadã.
Deseja-se que as discussões em torno da leitura, junto à participação dos cidadãos
contagenses, contribuam para a promoção da inserção social e cultural, da formação cidadã
e da contribuição mútua, partindo da concepção de que a leitura não precisa convencer
ninguém da sua verdadeira importância e significação.
E, ainda que se viva em uma sociedade que apresenta dificuldades de ler e escrever, é
fundamental mudar esse contexto e atingir, de maneira efetiva, a formação de leitores nas
perspectivas de motivação para a leitura e da disponibilidade de livros adequados e de
qualidade a todos. A promoção de mais espaços de leitura, bibliotecas, eventos literários e
de encontros de leitura deve perpassar a construção de políticas públicas que considerem e
insiram diferentes ações que vão ao encontro dos desejos dos cidadãos, em prol do
desenvolvimento humano, social e cultural.
Nesse sentido, esta proposta tende a buscar a promoção da cultura da leitura em todos os
espaços da cidade, a fim de conquistar os sujeitos leitores, para que possam extrapolar os
seus mundos e para que sejam capazes de sentir com o outro, real ou imaginário, emoções.
Isso, de fato, é um exercício de cidadania!
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PLANO MUNICIPAL DO LIVRO, LEITURA, LITERATURA E BIBLIOTECA
Torna-se relevante a institucionalização do Plano para assegurar a todos o acesso ao livro,
à leitura, à literatura e à biblioteca.
Dessa forma, caberá ao Poder Público Municipal articular e mobilizar recursos, programas e
estratégias intersetoriais e implementar compromissos assumidos neste Plano em parceria
com a sociedade civil.
A implementação do Plano será orientada por documento elaborado pelo Grupo de Trabalho
com base em um processo participativo, democrático e popular.
PRINCÍPIOS:
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Democratização do acesso.
Formação de leitores e mediadores no município.
Valor institucional da leitura.
Desenvolvimento sustentável da economia do livro.
Reconhecimento à literatura como direito humano.
Garantia de acessibilidade ao livro, leitura, literatura.
Consideração da pessoa com deficiência em todas as atividades desenvolvidas.
Estímulo à produção literária.
Defesa e promoção da diversidade de pensamento.
Integração entre as Secretarias e órgãos municipais para a implementação do Plano
Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca.
OBJETIVOS
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Estabelecer políticas públicas para o livro, leitura, literatura e bibliotecas e garantir
recursos para sua implementação.
Assegurar o acesso aos livros e a inclusão de todos.
Promover a integração entre escolas, bibliotecas e outros espaços dedicados ao
livro, leitura e literatura.
Estimular a formação de mediadores.
Tornar a cidade de Contagem uma cidade leitora de expressiva produção literária.
Promover e fomentar a literatura não-hegemônica, a literatura marginal e a literatura
de mulheres, negros e diversidades.
METAS
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Assegurar compromissos e metas assinaladas. A SEDUC, FUNEC e FUNDAC
deverão revisar seus programas atuais, bem como estabelecer novos programas e
ações, sem prejuízo da continuidade dos programas existentes, nos seguintes eixos:
I. Democratização do acesso.
II. Fomento à leitura e à formação de mediadores.
III. Valorização institucional da leitura e incremento de seu valor simbólico.
IV. Desenvolvimento da economia do livro.
V. Promoção da Literatura.
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EIXOS NORTEADORES
EIXO 1 – DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO
Democratizar o acesso à leitura, não se resume a abrir as portas das bibliotecas ou
distribuir mais livros nas escolas, por exemplo. Trata-se, sobretudo, de uma política que
universalize, seja nos espaços públicos, comunitários ou e em parceria com a iniciativa
privada, a leitura em suas mais diferentes manifestações, proporcionando aos sujeitos o
contato enriquecedor com os livros através de acervos físicos e virtuais.
Além disso, é fundamental tornar acessíveis obras em braille, digitais etc., pensando
nas condições dos leitores e nos espaços onde estão inseridos. Por isso, também é
importante dialogar com organizações comunitárias, igrejas, postos de saúde, escolas,
creches, centros de educação infantil, bibliotecas mantidas pelas comunidades, asilos,
presídios etc. Tendo em vista que os textos circulam em múltiplos portadores (livros, jornais,
revistas, sítios virtuais, rádio, televisão, entre outros), apresenta-se como imperativo
oferecer à população variadas formas de contato com a leitura.
Formar neoleitores e estimular leitores é uma tarefa que passa, igualmente, pela
promoção de campanhas de doação e distribuição gratuita de livros, bem como a
implementação de uma rede virtual capaz de manter um acervo de obras digitais a respeito
das mais variadas temáticas. Outro fator essencial é compreender que esses sujeitos –
crianças, jovens e adultos – são, também, produtores de conhecimentos que têm de estar
disponíveis às comunidades.
Nesse sentido, os sujeitos e os territórios assumem uma dimensão altamente
significativa, uma vez que se propõe aqui que a leitura deve estar para além dos espaços
institucionais, fazendo parte da vida da população desde as salas de aula e bibliotecas das
escolas até pontos de ônibus, metrô, praças, parques e todo e qualquer espaço, onde seja
possível realizar uma leitura de maneira proveitosa e satisfatória e que conduza os leitores à
compreensão de si mesmos e da cidade.
LINHAS DE AÇÃO:
1 – implantação de novas bibliotecas, contemplando os requisitos de acessibilidade;
2 – fortalecimento da rede atual de bibliotecas de acesso público integradas à comunidade,
contemplando os requisitos de acessibilidade;
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3 – criação de novos espaços de leitura;
4 – distribuição de livros gratuitos que contemplem as especificidades dos neoleitores
jovens e adultos, em diversos formatos acessíveis;
5 – melhoria do acesso ao livro e a outras formas de expressão da leitura;
6 – disponibilização e uso de tecnologias de informação e comunicação, contemplando os
requisitos de acessibilidade.
Decreto Federal nº 7.559, 01 de setembro de 2011.
EIXO 2 – FOMENTO À LEITURA E À FORMAÇÃO DE MEDIADORES
O acesso à leitura e à escrita por meio das práticas de letramento é o que permite o
exercício pleno de cidadania. Estar imerso em um mundo letrado é um direito que deve ser
garantido pelo estado por iniciativas que fomentem a leitura em espaços institucionais ou
não e a contar da qualificação de mediadores que têm a missão de torná-la um prazer,
instrução, reflexão, emancipação e liberdade.
Enquanto prática social individual ou coletiva, a leitura estimula o pensamento crítico,
levando a ler a realidade por diferentes perspectivas, sem amarras, livremente. Contadores
de histórias, artistas performáticos, atores, poetas, cronistas, professores, profissionais de
biblioteca etc. são vínculos entre a comunidade e o mundo da escrita sem que isso,
contudo, signifique que eles detêm o domínio do código verbal. Eles devem agir de forma a
enxergar leitura como ato solidário e o leitor como sujeito único inserido no mundo social
pautado pela palavra.
Por isso, refletir, reconhecer e dialogar com os segmentos sociais historicamente
excluídos é missão de um Plano que almeje, realmente, ser construído com e para a
comunidade. Pretende-se, assim, combater carências e dívidas históricas com estratos
populacionais que tiveram suas vozes e demandas negadas, silenciadas do mesmo modo
como não lhes fora permitido o exercício da leitura, uma vez que esse gesto é, certa e
indubitavelmente, revolucionário.
Mediar a leitura não significa vislumbrar os leitores como menos capazes ou
inferiores: sinaliza o desejo de incluir a todos independente do seu pertencimento, porque
ler é ser solidário, viver em unicidade aquilo que é público, comum, universal. Conectar os
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leitores aos portadores diversos é pensar em um projeto de Cidade Educadora, de
Comunidade Leitora, para além da própria ação de uma gestão ou do poder público. É
deixar um legado às futuras gerações, por meio das práticas de letramento, do contato e do
gosto pela leitura.
LINHAS DE AÇÃO:
7 – promoção de atividades de reconhecimento de ações de incentivo e fomento à leitura;
8 – formação de mediadores de leitura e de educadores leitores;
9 – projetos sociais de leitura;
10 – estudos e fomento à pesquisa nas áreas do livro e da leitura;
11 – sistemas de informação nas áreas de biblioteca, bibliografia e mercado editorial;
12 – prêmios e reconhecimento às ações de incentivo e fomento às práticas sociais de
leitura.
Decreto Federal nº 7.559, 01 de setembro de 2011.
EIXO 3 – VALORIZAÇÃO INSTITUCIONAL DA LEITURA E DE SEU VALOR
SIMBÓLICO
Este Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca é uma proposta do
poder público municipal discutida com a comunidade para a promoção da leitura e que se
pretende tornar uma política de estado, ou seja, que faça parte das ações do município de
maneira a estimular e reafirmar aspectos como reconhecimento, tradição, memória,
identidade, cultura e territorialidade dos contagenses.
Nesse sentido, para além do PMLLLB, faz-se preciso um conjunto de ações que
permita refletir sobre a promoção da leitura enquanto direito dos cidadãos. Estimular
pesquisas e estudos a respeito da temática, criar conselhos e curadorias, grupos de
trabalho, fóruns, congressos, simpósios, seminários, feiras, bienais etc., tudo isso deve
estar no rol de iniciativas de estímulo a toda cadeia de produção e consumo do livro.
Aprofundar a compreensão sobre o valor social do livro e da leitura, então, só será
possível através de campanhas nos meios de comunicação para mobilizar toda a
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comunidade local acerca da sua importância, valorização e preservação. A leitura é
entendida aqui como elemento estruturante da coesão e transmissão das crenças, dos
valores sociais.
Outras medidas relativas à valorização do livro e da leitura como, por exemplo,
publicações de cadernos, revistas, coletâneas, pesquisas etc., também necessitam ser
estabelecidas contendo, inclusive, dados fornecidos pelos próprios leitores e mediadores
acerca das suas experiências e que possam servir de base para novas ações de fomento
das práticas de letramentos.
LINHAS DE AÇÃO:
13 – ações para converter o fomento às práticas sociais da leitura em política de Estado;
14 – ações para criar consciência sobre o valor social do livro e da leitura;
Decreto Federal nº 7.559, 01 de setembro de 2011.
EIXO 4 – FOMENTO À CADEIA CRIATIVA E À CADEIA PRODUTIVA DO LIVRO
Incentivar a formação de neoleitores e leitores, de mediadores, a cadeia produtiva e
de consumo do livro, eis os princípios deste Plano, que visa tornar Contagem uma
Comunidade Leitora que se reconheça e projete naquilo que lê – seja nas páginas
impressas ou nas telas de computadores, tablets e smartphones –, pois as novas
tecnologias devem estar aliadas a uma maior presença da cultura letrada, das práticas de
leitura no dia a dia.
Por isso, cabe ao estado estabelecer linhas de financiamento para gráficas, editoras,
distribuidoras e livrarias, sempre tendo em mente o interesse público. O microempresariado
local também deve estar, igualmente, em consonância com os anseios representados neste
Plano, cujas linhas são orientações genéricas e que necessitam de medidas específicas,
recursos tecnológicos, humanos e financeiros, de acordo com as condições do erário e as
demandas da população.
Encontros, rodas de conversa, debates, fóruns, linhas de diálogo com livreiros e
bancas de revistas, contato permanente com os estudantes do ensino superior para o apoio
a pesquisas na área que conduzam, não apenas à massificação do livro, mas, sobretudo, à
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redução dos custos editoriais, para que o preço final de livros e outros impressos estejam
dentro do orçamento das famílias.
Compete também ao poder público adquirir essas obras redistribuindo-as nas
escolas, para os estudantes e as bibliotecas das unidades de ensino, incrementando o seu
acervo, respeitando, entre outros aspectos, a abordagem da diversidade em todas as suas
manifestações. Conceber premiações via concursos literários e pugnar pela garantia dos
direitos autorais, bem como auxiliar na divulgação do trabalho de escritores locais deve
estar, da mesma maneira, no conjunto de ações a serem adotadas para a efetiva
implementação deste Plano.
LINHAS DE AÇÃO:
15 – desenvolvimento da cadeia produtiva do livro;
16 – fomento à distribuição, circulação e consumo de bens de leitura;
17 – apoio à cadeia criativa do livro e incentivo à leitura literária;
18 – fomento às ações de produção, distribuição e circulação de livros e outros materiais de
leitura, contemplando as especificidades dos neoleitores jovens e adultos e os diversos
formatos acessíveis;
19 – maior presença da produção literária, científica e cultural no exterior.
Decreto Federal nº 7.559, 01 de setembro de 2011.
EIXO 5 – PROMOÇÃO DA LITERATURA
Enquanto expressão artística presente desde os primórdios por meio de
representações iconográficas e da oralidade, a literatura é parte essencial do homem. Ser
humano, no sentido mais profundo do termo, é pautar-se por meio das palavras – tanto na
ordem do dia, como do ponto de vista subjetivo, da fabulação, da experiência verbal de
modo poético, artístico –
ou seja, a literatura humaniza, haja vista, que encerra
sentimentos, crenças e valores ao longo do tempo e nas mais distintas sociedades,
oferecendo um panorama de cada época.
A literatura renova a língua na medida em que a retira do lugar comum,
reelaborando-a à guisa de conduzir o leitor ao compartilhamento de emoções, sensações. A
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partir do texto, conectam-se sujeitos e mundos, mesmo que estejam distantes no tempo e
no espaço. A experiência com o texto literário é capaz de incutir e desenvolver sentimentos
dos mais diferentes e que são parte do caráter humano. Por isso, a literatura também pode
apresentar ocos, interditos, limitações e problemas próprios da humanidade.
Fonte de encantamento, desde as histórias contadas ao redor do fogo pelos chefes
tribais, passando pelos grandes escritores clássicos e modernos até os dias de hoje via
web, a literatura une as pessoas ao mesmo tempo em que as isola do mundo, isso porque
se torna remanso, oásis de entretenimento, aprendizagem, conhecimento e reconhecimento
de si, do outro e de diferentes culturas. Ao ler, reescreve-se o texto, pois interpretar é dar
vida nova e possibilidades outras àquilo que se tem diante dos olhos.
Na oralidade ou em sua manifestação escrita, o contato com a literatura não pode ser
exclusividade das camadas socialmente mais prestigiadas; ela necessita, e até mesmo de
modo prioritário e urgente, estar acessível às populações periféricas, subalternizadas e
vulneráveis que, ao longo do tempo, tiveram esse direito negado sob a justificativa de não
serem devidamente letradas para este fim por suas escolas e no seio familiar. Realização
humana e para o humano, a literatura é instrumento de compreensão da própria vida e
precisa se tornar parte do cotidiano de crianças, jovens e idosos nas escolas e demais
espaços de convívio social.
LINHAS DE AÇÃO:
20 – valorização da literatura como direito humano de natureza essencialmente formativa;
21 – fomento à criação literária e sua difusão.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Contagem sonhada por todos e todas que contribuíram para a elaboração deste
Plano é aquela comunidade imaginada pelos que chegaram aqui, buscando uma vida
melhor. Estamos fazendo acontecer o sonho de uma Cidade Educadora, que também será,
em breve, uma Comunidade Leitora, capaz de se reconhecer nas linhas que lê e escreve,
de se projetar no tempo e no espaço por meio das várias linguagens, especialmente da
comunicação verbal e da arte literária, sem, contudo, jamais esquecer suas origens.
Talvez esses homens e mulheres de coragem não pudessem, à época, prever o
destino da cidade: primeiro, com seu lento crescer e, depois, como se em um big bang
industrial tivesse para sempre alterada sua vocação, atraindo cada vez mais pessoas de
lugares, histórias e experiências tão distintas. A maior riqueza contagense é, pois, o seu
povo que – picada por picada no meio da mata, tijolo por tijolo dos primeiros casarões,
dormente por dormente dos decisivos trilhos – deu a si mesma uma identidade e história,
memória e projeto de futuro abraçados com esperança pelo nosso Governo.
Certamente, este Plano Municipal de Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca é uma
proposta de êxito certo, porque dialoga com os vários atores sociais que, desde sua
concepção, se mostraram dispostos quanto à aceitação do desafio que lhes fora lançado;
afinal de contas, sabemos que nenhuma iniciativa do poder público terá sucesso sem a
participação de cada um e de todos.
A Contagem para trabalhar e viver dá, neste momento, mais um passo adiante ao
rumo ao futuro e o faz unida. Estamos escrevendo, a várias mãos, mais um capítulo político,
educativo, cultural e histórico de suma importância, a partir das práticas de letramento para
a promoção da cidadania, do empoderamento e emancipação dos seus moradores. Assim,
este documento não se resume em mais uma lei; ele é um marco de inovação e
compromisso social desta gestão que, decerto, entrará para a história da cidade como
aquela que reconheceu, definitivamente, a essencialidade da palavra e suas múltiplas
manifestações na experiência humana!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Cultura. Caderno do PNLL. Brasília: MEC,
MINC, edição atualizada e revisada 2014.
BRASIL. Ministério da Educação. Ministério da Cultura. Guia para a elaboração e
implantação dos planos estadual e municipal do livro e leitura. Brasília: MEC, MINC, [200-].
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos. Trad. MOULIN, Nilson, São Paulo: Companhia das
Letras, 2007.
COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê?. Trad. BRANDINI, Laura Taddei. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2009.
CONTAGEM. SEDUC. Secretaria de Educação e Cultura de Contagem. Atlas Escolar:
Histórico, Geográfico e Cultural. Contagem/MG, 2009.
ECO, Umberto. Obra aberta. Trad. LEITE, Sebastião Uchoa. São Paulo: Perspectiva, 1976.
GNERRE, Maurizzio. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
SANTOS, MILTON. Metamorfoses do espaço habitado. 6ª ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2014.
SILVA, Vera Maria Tietzmann. Leitura literária & outras leituras – impasses e alternativas no
trabalho do professor. Belo Horizonte: RHJ, 2009.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 4ª ed., Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2010.
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FICHA TÉCNICA
PREFEITO DE CONTAGEM
Carlos Magno de Moura Soares
VICE-PREFEITO
João Guedes Vieira
SECRETÁRIO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO
José Ramoniele R. dos Santos
SECRETÁRIO-ADJUNTO DE EDUCAÇÃO
Ademilson Ferreira de Souza
PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE ENSINO DE CONTAGEM
Hugo Otávio Costa Vilaça
PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO DE CULTURA DE CONTAGEM
Renata Lima
PRESIDENTE INTERINO DA FUNDAÇÃO DE CULTURA DE CONTAGEM
Roberto Duarte
GRUPO DE TRABALHO
Alessandra Aparecida Soares
Ana Maria Gomes Afonso
Cláudia Márcia Ferreira
Creuza Maria de Almeida
Daniela Carla Ramos Menezes
Elaine Machado de Lima Soares
Jackson Almeida Leal
Leonardo Antonio Costa Neto
Luzia Lima Moreira
Maria Cristina Macedo Diniz
Roberto Duarte
Rosania Maria de Souza
Rosimeire Silva Campos de Lima
Telma de Freitas
Walter Samarini
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