EXPERIÊNCIA 8 Processo irreversível e deformação inelástica INTRODUÇÃO Duas características observadas no comportamento elástico de um sistema, como aquele estudado com molas de aço helicoidais, são a linearidade e a reversibilidade. A linearidade se relaciona à proporcionalidade entre a força aplicada ao dispositivo elástico e seu alongamento. A reversibilidade significa que, aplicando-se uma seqüência de forças crescentes e depois decrescentes num sistema elástico, ele se alongará e depois voltará à posição inicial através do mesmo caminho, isto é, através de uma mesma curva em um gráfico de força F versus alongamento x. Do ponto de vista das energias envolvidas, num processo reversível o sistema, ao retornar ao seu estado inicial, realiza sobre o agente aplicador da força o mesmo trabalho que este agente realizou sobre ele para alongálo. No entanto, existem sistemas que, em termos de elasticidade, não apresentam essas duas características. Inclusive, a dependência entre força e alongamento pode até mesmo não ter uma expressão analítica, sendo sua forma conhecida apenas experimentalmente. A irreversibilidade indica que existe um balanceamento mais complexo das energias envolvidas no processo: parte do trabalho realizado sobre o sistema pode ser utilizado para produzir deformações mecânicas, reações químicas, modificações estruturais, transformações moleculares, aquecimento, etc. Assim, não é possível ao sistema devolver ao agente aplicador da força toda a energia cedida a ele. Um exemplo simples de uma situação desse tipo é o comportamento elástico de uma gominha de borracha. Ao se esticar uma gominha, observa-se a não linearidade entre a força aplicada e o alongamento provocado e ainda a irreversibilidade do processo. PARTE EXPERIMENTAL Objetivo Estudar o comportamento elástico de gominhas de borracha. Materiais utilizados Duas gominhas novas, base e régua milimetrada, um suporte, objetos de massas mi ≈ 50g e régua milimetrada. Procedimento Fig. 1 Montagem para medir o alongamento de uma gominha em função da força de estiramento aplicada a ela. Parte 1: Alongamento da gominha em função do tempo Nesta primeira parte, será aplicada uma força em uma das gominhas, e serão feitas medidas de seu alongamento em função do tempo, conforme descrito a seguir. Coloque um peso de aproximadamente 500gf (≈ 5 N) segurando o suporte; desça o suporte devagar até soltá-lo na posição em que ele se equilibre sozinho e faça a leitura do alongamento yo rapidamente. Neste momento dispare o cronômetro. Faça a leitura do alongamento y da gominha em função do tempo, de 20 em 20 segundos até 180s. Faça manualmente, na própria folha de papel do relatório, um esboço do gráfico do alongamento adicional (y – yo) da gominha em função do tempo. A forma deste gráfico deverá orientá-lo na escolha de um intervalo de tempo adequado entre a colocação do peso e a leitura do alongamento da gominha, na parte 2 do procedimento. Parte 2: Alongamento da gominha em função da força aplicada – Carga e descarga Utilizando agora a outra gominha, faça medidas de seu alongamento em função da força aplicada. A partir da observação do gráfico da parte 1, estime o tempo que se deve aguardar entre a colocação do peso na gominha e a leitura do alongamento correspondente. Pendure uma gominha colocando nela o suporte para os objetos, como na figura 1. 26 Experiência 8 Atenção: Para diminuir os erros de leitura, acrescente os pesos segurando o suporte para evitar que a gominha oscile e relaxe. Faça medidas de 50 em 50 gf até atingir a carga máxima de 700gf. Inicie, então, o processo de descarga retirando peso por peso e medindo o alongamento correspondente. Verifique na primeira medida deste processo de descarga se há necessidade, também aqui, de aguardar algum intervalo de tempo entre a retirada do peso e a leitura do alongamento. Faça um gráfico do alongamento da gominha em função da força aplicada para os processos de carga e descarga. Represente a força no eixo das ordenadas e o alongamento no eixo das abscissas. [Para facilitar os cálculos de integração, coloque os pares de dados um após outro, na seqüência em que você mediu.] A partir da observação do gráfico comente o comportamento da gominha em termos de linearidade e reversibilidade. O trabalho de uma força F aplicada na direção do deslocamento x de um corpo é dado por W F dx Assim, os valores do trabalho da força peso sobre a gominha (processo de carga) e do trabalho da força elástica da gominha sobre o peso (processo de descarga) podem ser determinados através do cálculo das áreas sob as curvas no gráfico F x x construído. Utilizando a disponibilidade do programa gráfico de calcular integrais numericamente, calcule o trabalho líquido realizado sobre a gominha e dê uma interpretação física para ele. Considerando a precisão que se pode ter nas medidas de força e alongamento, estime a precisão no valor do trabalho. Compare o valor encontrado para o trabalho realizado sobre a gominha com o valor de trabalho e/ou energia envolvidos em algum fenômeno do seu cotidiano. Exercício extra classe A origem do efeito que foi observado na experiência (irreversibilidade na extensão-contração da gominha) está na estrutura, em escala atômica, do material do qual a gominha é feita. O fato do trabalho total realizado na carga e descarga da gominha ser diferente de zero, se deve à ruptura de ligações químicas entre as cadeias de moléculas que constituem o material da gominha (um conjunto de cadeias poliméricas com uma estrutura fibrilar central e ramificações laterais). Podemos estimar a energia necessária para romper uma destas ligações da seguinte maneira. O material da gominha, tem ponto de fusão em temperaturas da ordem de 400 K (~ 130 oC). A esta temperatura, a energia cinética média por grau de liberdade é de (1/2) kT, onde k é a constante de Boltzmann (k = 1,38 x 10 23 J/K) e T é a temperatura em Kelvin. Esta energia cinética média é da mesma ordem de grandeza da energia necessária para romper uma ligação química entre as cadeias do polímero que constitui a gominha. Partindo do raciocínio acima, estime o número de ligações químicas que foram rompidas na gominha, neste experimento. Compare o resultado com o número de Avogrado N A (= 6,02 x 1023 /mol) e comente. 27