15 Capítulo Fundamentos essenciais na remoção de pinos pré-fabricados não metálicos: onde a magnificação faz a diferença? Patrick Baltieri patrick baltieri • Graduado em Odontologia pela FOPUNICAMP (2003); • Especialista em Endodontia pela FOPUNICAMP (2005); • Professor Assistente de Endodontia da São Leopoldo Mandic – Itapetininga; • Tem experiência clínica na área de Odontologia, com ênfase em Endodontia Avançada e Microscopia Operatória. A restauração de dentes tratados endodonticamente, freqüentemente, requer o uso de retentores intra-radiculares. A partir da década de 90, foram introduzidos no mercado diversos sistemas de pinos reforçados por fibras que, em geral, são compostos por fibras de quartzo, sílica ou vidro embebidas em matriz de resina epóxica ou metacrilato. A combinação entre pinos de fibras e núcleos em resina composta ganhou popularidade nos últimos anos, devido às suas propriedades mecânicas e estéticas. Por ter módulo de elasticidade semelhante à dentina, diminui drasticamente o risco de fratura radicular, quando comparado aos retentores metálicos e cerâmicos, devido à melhor distribuição de tensões. A conformação inadequada de núcleos intra-radiculares, do ponto de vista biomecânico bem como a presença de lesões periapicais e/ou tratamento endodôntico insatisfatório, são situações clínicas freqüentes que indicam a remoção de retentores. O retratamento endodôntico, por via coronal, constitui um verdadeiro desafio, visto que a remoção dos núcleos é um procedimento difícil, podendo comprometer a estrutura dentária remanescente, com risco de fratura ou perfuração radicular. A técnica ideal para remover os retentores intra-radiculares é aquela que requer a mínima remoção de estrutura dentária, com baixo risco de fraturas e perfurações, devendo ser simples e de rápida execução. Diversas técnicas e dispositivos têm sido indicados para remoção de retentores, dentre eles, desgaste com brocas em alta rotação, vibração sônica ou ultra-sônica e tração, tendo sua efetividade aumentada com a magnificação. Diversos fatores devem ser observados durante o planejamento para remoção dos pinos de fibras, dentre eles, adaptação da prótese, comprimento, direção e calibre do pino, presença de falhas na cimentação, desvios decorrentes dos preparos intra-radiculares. Esse planejamento deve avaliar o risco-benefício da 352 15 Capítulo Fundamentos essenciais na remoção de pinos pré-fabricados não metálicos: onde a magnificação faz a diferença? remoção e as possíveis complicações, podendo, em alguns casos, ser indicada a cirurgia endodôntica para resolução do problema. Para isso se faz necessária a realização de radiografias periapicais, que auxiliarão na orientação durante os procedimentos clínicos (Fig. 1). Com o uso generalizado dos pinos de fibras, passamos a buscar alternativas para sua remoção. Alguns sistemas possuem brocas específicas para remoção, pelo desgaste, entretanto, na maioria das situações, o clínico se depara com pinos de origem desconhecida, dificultando a utilização dos sistemas de remoção fornecidos pelos fabricantes. Recentes estudos têm investigado o tempo para remover diversos sistemas de pinos de fibras e, no geral, relatam que é relativamente curto2. A maioria dos sistemas de remoção consiste na utilização de uma broca piloto e de uma seqüência de brocas que desgastam o pino, tornando-o oco, enquanto a porção externa continua aderida às paredes do canal por meio do cimento resinoso, sendo, posteriormente, removida com vibração ultra-sônica. A incorporação da microscopia clínica nos consultórios odontológicos, a partir da década de 90, possibilitou maior precisão nos procedimentos endodônticos. A remoção de pinos intra-radiculares passou a ser realizada com maior rapidez e segurança, minimizando acidentes iatrogênicos como desvios, perfurações ou fraturas radiculares. O pino de fibra de vidro, que é de difícil visualização, por apresentar coloração semelhante à estrutura dentinária e ao material resinoso utilizado para cimentação, tem sua remoção facilitada com auxílio do microscópio clínico, que provê iluminação e magnificação para visualização em detalhes do pino durante a remoção (Fig. 2). SEQüÊNCIA CLíNICA PARA REMOÇÃO DE PINOS DE FIBRA DE VIDRO Em seqüência ao diagnóstico e planejamento do tratamento: • remover a coroa total com auxílio de saca prótese ou pelo desgaste com brocas em alta rotação e realizar o isolamento absoluto (Fig. 3); • desgastar com ponta diamantada em alta rotação o núcleo de preenchimento em 353 Micro-odontologia: visão e precisão em tempo real Figura 1 - Aspecto radiográfico do pino de fibra de vidro a ser removido devido ao insucesso da Endodontia. Figura 2 - Visualização intracanal de pino de fibra durante o desgaste. Figura 3 - Núcleo de preenchimento e remanescente radicular. Figura 4 - Desgate núcleo de preenchimento com ponta diamantada. 15 354 Capítulo Fundamentos essenciais na remoção de pinos pré-fabricados não metálicos: onde a magnificação faz a diferença? resina para possibilitar o acesso à porção intra-radicular do pino de fibra. Observar os limites do pino de fibra de vidro no interior do cimento resinoso (Fig. 4, 5); • iniciar o desgaste do pino de fibra com ponta diamantada esférica de haste longa (número 1011), fazendo um guia no interior do pino para a utilização de pontas diamantadas de maior calibre. Seguir a inclinação do pino e do remanescente radicular durante o desgaste. Se necessário, realizar radiografias para acompanhar a evolução da remoção (Fig. 6-8); • desgastar o remanescente apical do pino de fibra, utilizando o ultra-som e insertos de ponta diamantada esférica (Fig. 9, 10); • ao localizar o canal radicular ou remanescente de material obturador, iniciar a desobturação com brocas de Largo números 3 e 4, regularizando as paredes intraradiculares (Fig. 11-14). Figura 5 - Visualização do pino de fibra de vidro no interior do cimento resinoso. 355 Micro-odontologia: visão e precisão em tempo real Figura 6 - Desgaste do pino de fibra de vidro com ponta diamantada esférica. Figura 9 - Utilização de instrumento ultra-sônico para remoção da parte apical do pino. Figura 7 - Note a perfuração. Figura 8 - Alargamento do desgaste. 15 356 Capítulo Figura 10 - Note detalhe da remoção. Fundamentos essenciais na remoção de pinos pré-fabricados não metálicos: onde a magnificação faz a diferença? Figura 11 - Visualização da obturação do conduto. Figura 12 - Início da desobturação com a broca de largo. Figura 13 - Note o corte preciso proporcionado através da magnificação. Micro-odontologia: visão e precisão em tempo real Figura 14 - Aspecto final do conduto radicular após a remoção do pino de fibra de vidro e núcleo de preenchimento. Obs.: Todas as imagens foram realizadas com câmera Canon A95 adaptada ao microscópio clínico por meio do Carr II Photo Adapter, em aumentos variando entre 3 e 20 vezes. 357 15 358 Capítulo Fundamentos essenciais na remoção de pinos pré-fabricados não metálicos: onde a magnificação faz a diferença? Referências 1. ANDERSON, G. 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PCL: Revista Brasileira de Prótese Clínica e Laboratorial, Curitiba, v. 3, n. 16, p. 519-526, nov./dez. 2001.