A PESQUISA COMO PRÁTICA DOCENTE: UMA ESTRATÉGIA PARA O ENSINO MÉDIO INTEGRADO 1 Andrezza di Paula Pinheiro Albuquerque 2 Universidade Federal do Pará RESUMO Este trabalho possui como objetivo refletir e analisar sobre a importância da pesquisa como estratégia de ensino para o professor do Ensino Médio Integrado. Nossa coleta de dados ocorre por meio da pesquisa bibliográfica realizada no Grupo de Estudos e Pesquisa Sobre Trabalho e Educação – Gepte, da Universidade Federal do Pará, do qual fazemos parte e que tem o Ensino Médio como um de seus objetos de estudo, e da pesquisa de campo, oportunizada pelo estágio em docência na Escola Técnica Estadual Magalhães Barata – ETEMB, localizada em Belém do Pará, como bolsista de iniciação à docência no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-PIBID, do Curso de Pedagogia. Pretendemos verificar como a pesquisa pode estar presente na prática docente que busca formar o aluno de maneira mais integral possível, uma vez que associar a disciplinarização dos conteúdos ao mundo do trabalho, conforme determina a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, não é tarefa fácil. A institucionalização dessa modalidade educacional implica romper com a dualidade estrutural que historicamente separou o ensino propedêutico da formação profissional no Brasil e a pesquisa pode ser um bom instrumento de trabalho do professor. O materialismo histórico dialético baliza as nossas análises. Palavras-chave: Pesquisa. Prática Docente. Ensino Médio Integrado. 1. INTRODUÇÃO Este artigo se constrói sobre as experiências adquiridas como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência-PIBID, do Curso de Pedagogia do Instituto de Ciência da Educação da UFPA/Belém e como membro do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Trabalho e Educação – GEPTE que tem se ocupado em pesquisas e ações formativas na área de trabalho e educação. O referido programa se desenvolve através de pesquisas em várias 2 escolas tecnológicas do estado do Pará, com objetivo de inserir os discentes no cotidiano desses espaços, proporcionando para os licenciados oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas na coordenação e gestão escolar. No contexto do ensino médio integrado a discussão que se mobiliza entre os estudiosos dessa temática é sobre a problemática da dicotomia entre o ensino tradicional e o profissional no ensino integrado. Dessa forma, qual seria a estratégia do professor do ensino médio integrado para que este possa rever as suas práticas docentes em frente a essa questão? O artigo surge do interesse em ressaltar como a pesquisa, sendo esta como parte do trabalho docente, pode ser uma ferramenta de estratégia para o professor do ensino médio integrado atuar como pesquisador de suas próprias práticas pedagógicas tornando efetivo a práxis de seu ensino e aprendizagem. Assim, esta pesquisa bibliográfica acerca do título “A pesquisa como prática docente: uma estratégia para o ensino médio integrado” discuti essa questão sobre uma perspectiva da teoria do materialismo-histórico-dialético onde a práxis educativa é a proposta para o professor reavaliar as suas práticas educativas. Logo, analisaremos como a pesquisa pode estar presente na prática do professor do ensino médio integrado, o qual busca formar um aluno de forma mais integral e consciente. Este profissional de educação, ao buscar embasamento teórico como pesquisador acadêmico dialogará seus processos de aprendizagem ampliando suas reflexões. 2. O ENSIMO MÉDIO INTEGRADO E SUAS CONTRADIÇÕES: O PAPEL DO PROFESSOR NESTA DINÂMICA A história da educação no Brasil perpassa sobre várias transformações em sua estrutura, desde a criação de novas Leis e Diretrizes que fundamentariam a Educação Básica no país, e sobretudo para formação para o trabalho. Tomamos como centro de nossas discussões, as transformações que ocorreram nas políticas para o Ensino Médio e para a Educação Profissional. Essas modificações que ocorreram no Sistema Educacional relacionado com a temática do trabalho e educação foram amplamente discutidas nas literaturas sobre o dualismo desse ensino no Brasil “É neste nível de ensino que se revela com mais evidência a contradição fundamental entre o capital e o trabalho, expressa no falso dilema de sua 3 identidade: destina-se à formação propedêutica ou à preparação para o trabalho?” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006, p. 35). A partir da criação da Lei n. 5.692/71 que instaurava a obrigatoriedade do ensino profissionalizante ao ensino secundário, este intencionava promover “a superação do dualismo neste nível de ensino” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006, p. 36). Entretanto sofreu oposições de pais e alunos que resistiram a esta forma de ensino profissional nas escolas, pois tradicionalmente este espaço preparava os educandos ao ensino superior. Logo, outros grupos surgiram com este mesmo discurso em oposição a esta lei, sendo atrelado “a pressões que surgiram da burocracia estatal e das instituições de formação profissional, além dos empresários do ensino [...]” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006, p. 36), que resultou na retomada sobre a discussão sobre o dualismo neste ensino. Assim, várias decisões foram tomadas desde da mudança nos currículos das escolas e outras providências, mas foi com a Lei n.7044/82 que foi cessada a profissionalização obrigatória no ensino médio. O dualismo neste cenário estava voltado sobretudo aos conteúdos de formação, pois anteriormente a Lei n.7044/82 as escolas tecnológicas eram obrigadas a oferecer no mínimo 2.200 horas para o ensino técnico de 2º grau, mas a partir da promulgação desta lei, todas as escolas exceto as instituições tecnológicas poderiam destinar as 2.200 horas para o ensino de formação geral. Segundo Frigotto e Ciavatta (2006, p. 36): Com isto, os estudantes que cursavam o ensino técnico ficavam privados de uma formação básica plena que, por sua vez, predominava nos cursos propedêuticos, dando àqueles que cursavam esses cursos vantagens em relação às condições de acesso ao ensino superior e à cultura em geral. No entanto foi na criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que a educação profissional foi encarada como um potencial educativo “Na LDB 9.394/96, a educação profissional é apresentada como uma modalidade educacional (Título VI, Capítulo III) voltada para o ‘desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva’ (art. 39), incorporando a tendência indicada anteriormente” (SANTOS, s.d, p. 02). Assim, a LDB estabeleceu normas para o ensino profissional nas escolas, as quais detivessem esse tipo de ensino: Observa-se que a possibilidade prevista na LDB de que o ensino médio possa preparar os estudantes para ‘o exercício de profissões técnicas’ garantida a formação geral (parágrafo segundo do art. 36), é mais uma entre as tantas formas de organização da educação profissional previstas na legislação” (SANTOS, s.d, p. 02). 4 Seguindo essa proposta das Diretrizes foi criado o Decreto 2.208/97, no qual visava parcialmente a proposta da LDB, pois estabeleceria a concomitância dos conteúdos do ensino médio e técnico, ambos seriam considerados independentes um do outro, contrariando o art.36 da LDB. Portanto, segundo Santos (s.d, p. 03): A partir de 1997, essa dualidade passa a ser uma orientação legal e uma prescrição oficial, a ponto da ‘educação profissional’ configurar-se, predominantemente, como um subsistema no interior do próprio sistema público de educação, voltado para a formação do trabalhador, sem a promoção da elevação dos níveis de escolaridade. Os educadores discutiam sobre a necessidade da integração da educação à prática social e o trabalho como princípio educativo. O ensino médio deveria ser um integrador dos fundamentos do saber geral com as técnicas diversificadas utilizadas na produção “Não se deveria, então, propor que o Ensino Médio formasse técnicos especializados, mas sim politécnicos” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006, p. 37). Assim, a proposta do ensino politécnico era romper com esse dualismo que existia entre o ensino básico e o técnico “resgatando o princípio da formação humana em sua totalidade; em termos epistemológicos e pedagógicos, esse ideário defendia um ensino que integrasse ciência e cultura, humanismo e tecnologia, visando ao desenvolvimento de todas as potencialidades humanas” (FRIGOTTO; CIAVATTA, 2006, p. 37). Após a revogação do Decreto 2.208/97 pelo Presidente Lula em 2004, estimulado pelas exigências dos educadores foi criado o Decreto 5.154/2004 o qual “ratificou-se a possibilidade, já indicada pela LDB, de rearticulação do ensino médio com a formação para o trabalho, por meio da oferta denominada ‘integrada’ [...]” (SANTOS, s.d, p. 05). O Decreto 5.154/2004 busca romper com a dicotomia que há entre o fazer e pensar, retomando a importância da formação humana integral “sugere superar o ser humano dividido historicamente pela divisão social do trabalho entre a ação de executar e a ação de pensar, dirigir ou planejar” (RAMOS, s.d, p. 05). Se estamos discutindo sobre a temática da formação humana do aluno do ensino médio integrado, vamos direcionar nossos estudos para o papel do professor nessa dinâmica, pois a superação dessa dicotomia entre o fazer e pensar depende sobretudo como o professor irá exercer as suas práticas pedagógicas junto ao aluno, pois o educador deve considerar o contexto histórico e material que o aluno vivencia. Assim, o professor necessita lançar mão da dialética, para que ele possa analisar a sua própria prática docente e depois criar novas práticas e novamente refleti-las. Dessa forma, a proposta desse artigo é auxiliar o professor do ensino médio integrado a oferta de métodos para que este 5 desenvolva uma ação reflexiva de sua prática docente, onde contribua para formação de um aluno integral. As suas atividades pedagógicas devem ser organizadas na práxis, uma vez que ele irá intencionar suas ações, criar novas técnicas para seu ensino e intervir sobre o objeto, almejando a transformação da realidade social. Dessa maneira, o professor se tornará pesquisador de sua própria prática educativa, a pesquisa será sua estratégia de ensino através da pesquisa-ação crítica “A condição para ser pesquisa-ação crítica é o mergulho na práxis do grupo social em estudo, do qual se extraem as perspectivas latentes, o oculto, o não familiar que sustentam as práticas, sendo as mudanças negociadas e geridas no coletivo” (FRANCO, 2005, p. 485) que resultem em uma práxis educativa “A práxis educativa, objeto da ciência pedagógica, caracteriza-se pela ação intencional e reflexiva de sua prática” (FRANCO, 2008, 83). 3. A PESQUISA COMO FERRAMENTA DO TRABALHO DOCENTE A pesquisa como eixo do trabalho docente gera inquietações por parte dos professores por estes pensarem que pesquisador é apenas aquele profissional que se detém a esta prática. O professor ao analisar a realidade de sua sala de aula levantando questionamentos sobre as dificuldades do ensino e aprendizagem do aluno, este educador está fazendo pesquisa “Pesquisar pode se dar a partir de um questionamento, de uma pergunta, de uma ideia fixa, articuladora de um processo empírico-teórico de uma investigação” (ESTEBAN; ZACCUR, 2010, 14). A pesquisa intenciona no fazer, quando o indivíduo procura entender os impasses que estão sendo apresentados em sua realidade e contribui para “construção da autonomia intelectual e deve ser intrínseca ao ensino, bem como estar orientada ao estudo e à busca de soluções para as questões teóricas e práticas da vida cotidiana dos sujeitos trabalhadores” (RAMOS, s.d, p.113). É relevante para o professor os resultados de sua pesquisa, ele se torna um produtor de conhecimento, pois pela pesquisa ele consegue compreender as especificidades de seus alunos e criar estratégias para atingir suas metas, como formar um aluno consciente e crítico. Segundo Pereira e Zeichner (2008), a pesquisa também pode contribuir para a formação de professores, na construção de modelos críticos e emancipatórios na formação de um fenômeno contra hegemônico global. Logo, o professor poderá além de rever suas 6 práticas, também terá a oportunidade de promover o melhoramento de suas condições de trabalho. Ao se tornar um professor-pesquisador, o professor se aproxima mais dos seus alunos e da comunidade escolar, podendo o objeto de pesquisa ser ampliado, articulando entre a comunidade escolar e os grupos sociais existentes na dinâmica da educação. Quando pretendemos propor a pesquisa-ação intencionando a práxis educativa como uma estratégia para o professor promover a sua prática pedagógica, devemos destacar o movimento contínuo dos processos quanto a pesquisa, segundo Franco (2005, p. 496): O que importa deixar delimitado é que a pesquisa-ação sugere sempre a concomitância entre pesquisa e ação e ação e pesquisa, considerando-se até que deveria ser expressa em forma de dupla flecha, ao invés de hífen: pesquisa↔ação, de modo a caracterizar a concomitância, a intercomunicação e a interfecundidade. Assim, ao fazermos pesquisa-ação procuramos modificar não somente as práticas em sala de aula, mas é uma transformação do próprio sujeito, uma atribuição de um novo significado do que fazemos e pensamos sobre o objeto da pesquisa, e tão logo o educador exercita seu papel de pesquisador, pois estará avaliando simultaneamente sua docência buscando contextualizar sua prática nos diferentes espaços em sala de aula. 5. CONCLUSÃO A partir dos estudos acerca do tema, concluímos que os resultados provenientes desta pesquisa realizada sobre o eixo da “Pesquisa como princípio pedagógico” contribuirão para uma compreensão cada vez mais satisfatória acerca das especificidades do meio escolar. Este profissional de educação, ao buscar embasamento teórico poderá dialogar os seus processos de aprendizagem ampliando suas reflexões. A pesquisa como fator do trabalho docente é uma questão abordada “um movimento social de caráter internacional, como estratégia para construção de modelos críticos e emancipatórios de formação docente” (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p. 11). Dessa forma, a pesquisa é entendida de várias maneiras e trabalhadas de diversos sentidos na questão do educador como pesquisador de suas próprias práticas docentes. 7 O ato da pesquisa na formação docente possui um “potencial de se transformar em um movimento contra-hegemônico global” (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p. 11) podendo combater com conceitos tradicionais da formação docente. Portanto, o docente poderá articular suas experiências com os demais professores resultando na construção de novos modelos críticos de formação docente: Como um movimento ‘de baixo para cima’ com um caráter crescentemente internacional, é possível imaginar comunidades de educadores-pesquisadores e redes de comunicação de pessoas de diferentes partes do mundo compartilhando suas experiências, lutando por melhores condições de trabalho e qualificação profissional, bem como tentando criar modelos coletivos, colaborativos e críticos de formação de professores (PEREIRA; ZEICHNER, 2008, p. 40). A pesquisa como fator do trabalho docente possibilitará a constituição do sujeito autônomo que possa compreender, refletir e agir por meio do trabalho, contribuindo para construção da autonomia intelectual. Além disso, essas pesquisas podem contribuir para o aperfeiçoamento de suas práticas e desta forma, o resultado dessas pesquisas não se limitaria apenas na reflexão, mas seriam realizadas práticas que se configurariam na pesquisa-ação, mudando-se assim, a realidade enfraquecida do cotiado escolar. 1 Este artigo recebeu apoio financeiro da CAPES-PIBID e DAIE/PROEX/UFPA. Discente do Curso de Pedagogia pela Universidade Federal do Pará. Bolsista do Programa de Iniciação à Docência – PIBID/UFPA/PEDAGOGIA-BELÉM (2014). [email protected] 2 REFERÊNCIAS BRASIL. MEC. SEED. TV ESCOLA SALTO PARA O FUTURO. Ensino Médio Integrado à Educação Profissional. Concepção e experiências de ensino integrado: A gênese do Decreto n. 5.154/2004: um debate no contexto controverso da democracia restrita, Gaudêncio Frigotto e Maria Ciavatta. Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa Gerência de Criação e Produção de Arte. Boletim 07. Maio/Junho 2006. p. 29-45. ESTEBAN, Maria Teresa; ZACCUR, Edwiges. Professora pesquisadora: uma práxis em construção. Coleção pedagogias em ação. 2º Edição. Editora Depetrus, 2010. A pesquisa como eixo de formação docente, p. 07-23. 8 FRANCO, Maria Amélia Santoro. Educação e Pesquisa. Pedagogia da Pesquisa-Ação. São Paulo, v. 31, n. 3, p. 483-502, set./dez. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n3/a11v31n3.pdf> Acesso em: 20 out. 2014, 16:45. FRANCO, Maria Amélia do Rosário Santoro. Pedagogia como ciência da Educação. A questão da práxis educativa. 2.ed. rev. ampl. São Paulo: Cortez, 2008. PEREIRA, Júlio Emílio Diniz; ZEICHNER, Kenneth M. 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