Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders O papel do coordenador pedagógico na formação continuada na escola Eixo temático 2: Formação de professores e cultura digital Vania Finholdt Angelo Leite1 O artigo analisa o papel da coordenadora pedagógica na formação continuada na Escola de Leitores situada na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. O interesse por essa temática é pelo fato de que alguns pesquisadores (Nóvoa,1991; Canário,1994; Tardif,2002; Candau, 1997), apontam que a formação deve estar articulada com o desempenho profissional dos professores, tomando o cotidiano como referência, porque esse contexto favorece a aprendizagem, a reestruturação e aprimoramento da formação docente. Se por um lado, há evidências de que a formação continuada na escola proporciona que as necessidades formativas dos professores possam ser atendidas. Por outro lado, a escola sofre influência das políticas da Secretaria Municipal de Educação. Nesse caso, a influência da “cultura da avaliação”, evidenciada pela proposta de unificação do sistema de avaliação em toda rede e a criação do Índice de Desenvolvimento da Educação do Rio (IDE Rio). Desta forma, se institui uma gestão com controle a distância, incutindo a responsabilidade de todos pelo processo de aprendizagem dos alunos e estabelecendo competições entre as escolas em relação ao ranking de colocação no IDE Rio. Além da mudança no sistema de avaliação, houve a 1 Professora substituta da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), participante do grupo de pesquisa GEFOCC coordenado pela professora Dra. Maria Inês Marcondes (PUC-Rio) – e-mail: [email protected] Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders definição dos conteúdos através das Orientações Curriculares e a distribuição dos Cadernos de Apoio Pedagógico com atividades para serem realizadas em sala. Diante desse contexto, busquei verificar como a coordenadora concilia a demanda da Secretaria Municipal de Educação com a proposta de formação continuada da escola. Será que a coordenadora conseguiria manter a proposta de formação da escola e, ao mesmo tempo, incentivar os professores a cumprirem com as metas estabelecidas pelo IDE Rio para cada escola? Para responder a questão, o estudo baseou-se nas contribuições de Rui Canário e Maurice Tardif. Canário considera a formação na perspectiva de educação permanente, em que os processos de aprendizagem se articulam em diferentes momentos experienciais do sujeito que permitem formalizar saberes implícitos e não sistematizados. Ele aborda sobre a formação de adultos reconhecendo a experiência como centro do processo de aprendizagem. Nesse processo de formação, concebe a aprendizagem decorrente de dois aspectos: criação de sentido e o sujeito como recurso da sua formação. O segundo autor, Tardif (2004) aborda os saberes experienciais, isto é, “o conjunto de saberes, atualizados, adquiridos e necessários no âmbito da prática da profissão docente e que não provêm das instituições de formação nem dos currículos.” (ibid. p.48). Suas pesquisas indicam que os professores julgam a formação anterior ou a formação ao longo da carreira a partir dos saberes experienciais, como também, constituem para os professores os fundamentos de sua competência. Os dados foram coletados durante nove meses em uma escola da cidade do Rio de Janeiro. A escola de Leitores recebeu essa denominação após a premiação do projeto “Uma viagem através da Literatura”. Um concurso promovido pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com o Instituto C& A. A escola atende 658 alunos cujo pais em sua maioria é analfabeta ou possui baixa escolaridade, com condição socioeconômica de baixo poder aquisitivo. A coordenadora exerce a função há 13 anos na escola. Trabalha com 17 professoras de Ensino Fundamental (10 ao 50 ano) e Educação Infantil, em sua maioria com mais de 5 anos de experiência na docência. Pude Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders observar treze reuniões do Centro de Estudo, Conselho de Classe e vinte aulas das professoras do 1º ano, totalizando 223 horas. A pesquisa evidenciou que a coordenadora procurou equilibrar as demandas da Secretaria no que se refere ao cumprimento dos conteúdos previstos para cada ano de escolaridade e na realização das avaliações bimestrais propostas. No entanto, não deixou de discutir com os professores nas reuniões de formação continuada a respeito de outros registros de avaliação (observação e registro), para o acompanhamento do processo de aprendizagem, distinguindo aprendizagem de comportamento e defendendo uma postura reflexiva sobre a prática. Em relação à formação continuada, a escola amplia a proposta da Secretaria porque tem um projeto de leitura e escrita bem definidos. Isso proporciona que a coordenadora direcione suas ações para as questões pedagógicas, definindo o seu território e seu espaço de atuação na escola. O fato de a escola ter sido premiada com o projeto “Uma Viagem através da Literatura” proporcionou espaços de formação continuada para os professores na área de leitura e de apropriação do código alfabético, de acordo com os seguintes pressupostos: alfabetizar-letrando, respeitando a lógica de aquisição dos alunos e a formação literária de professores e dos alunos. Assim, a escola passou a ser um lócus de formação continuada, o que possibilitou a articulação dos temas discutidos na formação com o trabalho desenvolvido pelas professoras no cotidiano escolar. Esses dados reafirmam o que alguns pesquisadores (NÓVOA, 1991; CANÁRIO, 1994; TARDIF, 2002; CANDAU, 1997) apontam sobre o contexto de formação que favorece a aprendizagem e aprimoramento dos professores. A coordenadora desenvolvia uma formação continuada em parceria com outros educadores, sabia aproveitar os conhecimentos e habilidades das pessoas da escola e dos convidados (assessores da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ e a formadora de Língua Portuguesa). Isso ficou evidente quando solicitou que a professora da sala de leitura que a auxiliasse em outro projeto desenvolvido denominado de “Alfabetizar através dos textos” e, ainda, quando, durante as reuniões com os educadores convidados, aproveitava para discutir/refletir sobre as questões que a Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders inquietavam a respeito da prática pedagógica. Essa forma de exercer a coordenação, que se configura como uma atuação coletiva é contrária ao que as pesquisas (MALDONADO, 2003; OLIVEIRA, 2009;) apontam em relação ao trabalho solitário dessa função. Por fim, considero que os projetos “Uma Viagem através da Literatura” e o “Alfabetizar através de textos” possibilitaram que a escola desenvolvesse atividades e se mantivesse próxima do que acredita ser o papel da educação: a formação do ser humano. Como se nota, por exemplo, em um depoimento da coordenadora: A leitura nos faz melhor enquanto seres humanos (Diário de Campo, 27 de outubro de 2010). Palavras-chave: Coordenação Pedagógica; Educação Fundamental; Alfabetização; Formação Continuada.