"O fim dos antibióticos seria uma catástrofe" Médico patologista, professor e investigador de Microbiologia de Santa Maria, chefia a equipa que isolou a primeira estirpe aparecida na Europa de estafilococos aureus resistente à vancomicina. A par da ópera, as bactérias são a sua devoção. Diz que não devemos ter medo delas, antes tratá-las com respeito no Hospital POR CLARA FERREIRA ALVES FOTOGRAFIAS DE RUI OCHOA E médiCO, clíni- patologista de Me- na Faculdade co, professor dicina de Lisboa e cientista, investigador na área da Microbiologia. No 4 a ano do curso foi contratado como monilor e começou aí a carreira académica até ao doutora- mento e à investigação nua a fazer cet", o e a científico, jornal Cristino publicar. que contiNo "Lan- Melo José com outros mé- publicou, uma desco dicos c investigadores, berla científica. A equipa isolou a primeira estirpe aparecida na Europa de MRSA resistente à vancomicina. O MRSA é uma bactéria virulenta, aos media que já chegou anglo-saxónicos cado ataques que tem provode pânico c muitas e mortes nos Estados Unidos. Portugal tem uma taxa elevada de MRSA. E o problema re- das infeções sistentes aos antibióticos é um dos grandes problemas de saúde públi- ca do novo milénio. A União Euro peia decretou um verdadeiro do de alerta. Não almoçámos. no mostrou-me o esla- Melo Cristi- laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Santa Maria, um lugar de ficção científica onde os computadores trabalham ao lado dos seres numa nos no processamento e análise de dados. No seu gabinete da Faculdade de Medicina, trabalha rodeado por cartazes das óperas que viu e perseguiu pelo mundo inteiro. É um devoto da ópera, de Verdi a estão ou por efeito frequente, é a mutação, e o outro, mais frequente, c a aquisição de uma praga nos Estados Unidos. Ainda não chegámos ao fim dos material trata- reus agentes de infeção desses as bactérias. é no conforta isolados que a Medicina, rias, adapta-se do-nos de tal como as baclée sobrevive, fazen- sobreviver. au- Num mundo veis aos antimicrobianos. ideal, as bactérias bióticos são O eslafilococos uma delas. das com respeito. Muito do que aqui diz parece um filme de terror e é mu filme de terror. Melo Cristi- com a ideia seriam suscetíOs anti- que foram da natureza ou sintetiza fármacos são dos para combaterem A descoberta as bactérias. do antibiótico maior descoberta foi a da medicina vidas. palavras: infeção por bactéria resistente a antibiótico, MRSA Há dois avanços enormes no secu à vancomicina? na área das infecciosas, Io passado os antibióticos e também terias mas não só, podem serviras, protozoários, ete, causam um efei- UNESCO considere to adverso no corpo no local onde já vinha a vacinação, que de trás. I lá um Vamos por partes. Infeção é a situabac ção cm que microrganismos, movimento Património médico os para que antibióticos da Humanidade. Não chegámos ao fim da era do e a MRSA, em pela sua perigosidade está a tornar -se e manifestações, a antibióticos, antibióticos. Seria uma catástrofe. As bactérias têm uma capacidade muito maior do que de adaptação humano. o ser Trocam informa a genélico de outra bactéria que já tem um mecanismo de resistência de num bocadinho ADN que pode ser um plasmídeo, um transposão, cromossoma. dentro ou fora do E a suscctívcl passa ção genética entre si com facilida- a resistente. Isto não aconlece siste- de e têm uma velocidade maticamente, incrível. O que é trocar informação do século XX? Salvou milhões de Devemos ter muito medo destas resistente resistências, e esse é o problema mundial. A resistência tem dois mecanismos: um, menos particular do microrganismo. resistentes adquirindo po à virulência Um nos São cada vez mais os casos de bactérias Wagner. As bactérias são outra devoção. Acha que, em vez de termos medo delas, devemos antibiótico? de substâncias que produzem. A manifestação clínica da infeção é a resposta do cor- genéti- acontece esporadi- camente. Felizmente, o nosso siste- ca? Se tiver um estreptococos e um estafilococos, eles trocam informação entre si e aumentam ma imunobiológico consegue erradicar a maior parte das bactérias. a resistência? não é de doença. O MRSA é um es- No caso do estreptococos e do estafilococos, isso está bem documen- tafilococos tado. Noutras bactérias é menos frequente. As bactérias são inicial mente naijs, suscetíveis a antibióticos, não os conhecem. Depois, vão O nosso estado normal c de saúde, aureus resistente à me- Estima-se que cerca de 30 40% das pessoas o tenham no na- ticilina. a riz sem saberem. O que é que isso significa para essa pessoa? Para a comunida- 0 primeiro grande antiPrémio Nobel do I'leming, O MRSA tornou-se meticilina. nos Estados Unidos, biótico, mo problema ria chegou aos jornais, do "NY Times" aos tabloides. O MRSA foi um pesadelo um gravísside saúde, e a histe- está a matar, na comunidade, a penicilina. meiro com grande impado. Foi iso lado a partir de um fungo, um con jovens, atletas etc. 19 mil pessoas, segundo os últimos números, morreram num ano com a infe- taminante. ção, mas há quem lute com as va a penicilina. reinfeções a vida toda, e os relatos são aterradores. Na do século pessoas saudáveis, de futebol, Tecnicamente, não será bem assim, mas c o pri Rapidamente, o estafiaureus passou a ser resistente à penicilina. Porque recebeu lococos plasmídeos, macêutica um gene que inativaNa década de 60 passado, a indústria desenvolveu far- um outro "Vogue" americana, onde estas coisas não costumam aparecer, uma mulher rica de Manhattan, grupo de antibióticos representados pela meticilina. A meticilina saudável, cuidadosa, porque é tóxica. Este grupo foi desenvolvido por causa dos estafilo- desportista, apanhou uma infeção que a ia matando e relata o horror. O que éisto? Qualquer infeção grave é assustadora. É verdade que o MRSA ganhou uma visibilidade grande, até nas séries de televisão. No "Dr. quando há uma bactéria esquisita, c o MRSA. O estafiloco cos aureus é uma bactéria que -vi- House", ve intimamente o homem e que relacionada com em muitos casos Vive para lá de nós. Se morrermos, continuam cá. Inicialmente, não era resistente à provoca infeções. não se usa na terapêutica humana cocos resistentes taxa de MRSA, toma precauções extremas, isola e trata, descolonizando o nariz da família de uma pessoa infetada, além de condicionar o uso de A Noruega tem condições para o fazer. O consumo de antibióticos é muito menor nos países da Europa do Norte c aumenta quando se vem para sul. Em Portugal, a Dirc ção-Geral de Saúde está bastante empenhada em estabelecer orien- mucosas, sobretudo tivo. O MRSA uma causar pode grande perturbação ao hospedeiro. Na maioria das vezes, quando entram na circulação, sãn destruídas pelo sistema imunitário nos in- saudáveis. Há estudos fei- divíduos tos, por exemplo tratamento que entram circulação ao longo dentário, muitas de um em que se vê bactérias na do sangue. E a maior parte das pessoas não fica doente. Os imunodefi cientes são mais suscetíveis. Os mais jovens, as crian- que têm imunoseestão mais em perigo. O ças e os idosos, nescência, facto de ter o estafilococos no na- riz não quer dizer que essa pessoa venha a ter uma infeção associada aos cuidados de saúde. e tações terapêuticas normas para chama nntibiotic ste- que produziam a enzima que se chama beta lacta masc c estão modificados de mo o que agora se do a que a enzima não funcione. A beta lactamase não consegue destruir a meticilina e quando foi sin- Só cerca de tetizada, na década de 70, pensou-se que o problema estava resolvi- Nesse tempo, não havia net nem do. Uns anos depois as tais apareceram de MRSA. Um ou estirpes outro caso surgiu logo a seguir ao da meticilina, veio lançamento uma noticiazinha no "Lancet". A Noruega, que tem a mais baixa wordship. Voltando ao MRSA, quando apareceu, foram casos isolados. 20 anos depois come- çaram a aparecer surtos hospitalares em vários países. a informação circulava com velocidade. Como é que trocavam informação, experiências? As pessoas publicavam periências. Hoje, o as suas ex- mundo é outro. primeiros casos de MRSA em Portugal também foram publica dos por mini. Em 1980 c pouco. Ti Os um paper, mandávamos para uma revista e depois recebíamos um postal a dizer que o artigo era publicado. Ia por carta, datilo- de? Para o meio hospitalar? Para essa pessoa, muito pouco. Nós temos todos muitos milhões na pele, nas no tubo diges- O Portugal tem uma taxa elevadíssima de infeção. E ninguém fala no assunto. nhamos de microrganismos, antibióticos. protocolo é rígido e seguido à letra. Na Alemanha também. igual. Mas hoje muito mais rápido. Perguntei porque podia haver peer review Estima-se que cerca de 30 a 40% das pessoas tenham o estafilococos aureus no nariz sem saberem. (...) Na maioria das vezes são destruídos pelo sistema imunitário dos indivíduos saudáveis terum erro. A e não podia grafado, tempo muitos é que é o é mais casos de MRSA que e não não estavam identificados eram conhecidos. Esta bactéria é relativamente fácil de identificar. As pessoas sabem do que estão a falar e não é uma raridade. Exige expertise, claro. O circuito de informação c que Eu era bastante jovem na altura, a minha tese de doutoramento foi sobre estafilococos, e esé diferente. ses surtos eram hospitalares. há 10 anos, era uma marca uma bactéria de uma infeção quirida no hospital. Não existia comunidade. Até de adna Quando as pessoas iam para a comunidade vindas do hospital, se a bactéria não tivesse sido erradicada pelos antibióticos, esse MRSA entrava em competi- ção com as nutras bactérias e, sem a pressão seletiva dos antibióticos, deixava de ser viável. Também es Ludei isso. As outras baclérias esla- vam mais a palavra adaptadas, agora é fitness, à vida no nosso core po sem a ajuda dos antibióticos, MRSA desaparecia. podiam ir colonizadas As pessoas o MRSA desaparecia. com crianças no nariz e o Fiz um estudo no Hospital D. Este- nos vezes as mãos. Não lhe sei ex- poucos casos descritos. plicar porquê. As bactérias não se vêem. E devemos ter respeito, pa- são 14 ou 15. muitíssimos migo e temos de saber usá-las. Os MRSA iniciais, anos 70 e 80, eram resistentes a quase todos os anti- relatos dos doentes. bióticos, e depois isso a vancomicina. evoluiu. Um, foi recuperado por causa do MRSA. Repare que os antibióticos têm menos de 100 anos, é tudo recente. Até 2002, não ha- via resistência à duas primeiras resistências por MRSA. Os miúdos que sobreviviam tinham alta e leva- comicina vam o MRSA no nariz. Nas sema nas ou meses a seguir, ia visitar os para os seguir e fazer colheitas de 15 em 15 dias. Vimos que o MRSA desaparecia. E ficavam co- miúdos lonizadas por estafilococos aureus suscetíveis à meticilina. O MRSA não existia na comunidade. E não reaparecia. O número de infetados vancomicina. As à van- fórum de MRSA na net e ler os Confirmados. Ou será que estão mais imunizados do que nós, sem obsessão da assepsia, sem antibioterapia antibióticos como os EUA, que têm valores próximos dos de Portugal, usavam muita vancomicina. mais protegidos? estarão. Mas os países têm em vias de desenvolvimento Se calhar, resistência micina é perigosa e intravenosa. Possivelmente. E um antibiótico injetável e tem de se estar hospitali- usam antibióticos recente, é um problema novo. O número varia de país para país. Os americanos, li esse número, ti- so Tem toxicidade, mas não é Todos os medicamen- sistemática. tos têm efeitos colaterais. £ preci- tratar a infeção grave. O que me surpreendeu foi ter demorado tanto tempo a aparecer e haver tão ao antibiótico. Mais do que os desenvolvidos. Há antibióticos e eles contrafeitos, usam zado. ou no ambiente, e E não foi por causa disso que o MRSA ficou resistente? A vanco- era muito inferior ao atual. A literatura científica sobre MRSA é muito a falar do África? América do Sul? Ásia? portanto a Estamos mundo que publica em revistas científicas idóneas, com peer review. E o mundo subdesenvolvido? surgem nos EUA. Em estados diferentes. Em países que tinham muitas infeções por MRSA, muito mas há mais. Basta ir a um ra não dizer medo. pelas bactérias. Temos armas para enfrentar o ini- fânia, crianças de uma unidade de queimados onde houve várias infeções Esses são os descritos, No mundo, muito sem o nosso mais os antibióticos filtro de exigência. E com menos prin- cípio ativo e sem ser na dose recomendada. E as pessoas tomam doses abaixo da essencial. O médico manda tomar uma dose séria para não selecionar bactérias resistentes. Nesses países, as pessoas dam o antibiótico, poupam dão para vender, guarfamília, não o toà veram 19 mil mortes por MRSA, e reconheço que é elevado. Nós não temos tais números. Sabemos apenas quantas pessoas morrem mam todo. no Ao contrário da Grã-Bretanha, onde o SNS dá o número de hospital por infeções. Qual é a proteção do pessoal clínico e auxiliar para isso? Existe contaminação cos, dos outros secretário doentes, etc. O de Estado da Saúde tem alertado para as precauções e profilaxia da infeção hospitalar e chegou a falar na proibição do uso de gravata e joalharia. A União Europeia está preocupada com as bactérias resistentes aos antibióticos. A proteção é a comprimidos exatos, em Portugal receitam-se caixas, sobras dos médi- mesma. Se o MRSA passa de uns doentes para outros é porque alguma coisa acontece no hospital. Através de mãos não hi gienizadas, etc. Não estou convencido que a gravata seja o problema. Ainda estamos aquém do dese- jável na higienização das mãos. E os números parecem apontar os médicos como os que lavam me- O problema é que a indústria farmacêutica desinvestiu na investigação dos antibióticos. Os fármacos para as doenças crónicas são os que rendem muito que as pessoas guardam para É um perigo e automedicação. um desperdício. Na Alemanha é como na Grã-Rretanha. É mu desperdício e é também um negócio. Excede a minha capacidade de atuação. E o antibió- tico é um fármaco ponsabilidade de grande res- que atua na comuni- dade toda, não apenas nas bactérias das pessoas que o tomam. Não que não tenha hoje uma experiência de resistência. A guerra está perdida? As bactéhá medico rias vão ficando resistentes, excesso cada vez mais é inevitável. de assepsia torna mais violentas mais vulneráveis. E o ainda as e a nós Big Pharma, a É uma resistência nova e pode haver um acidente no laboratório. Imagine que se parte um tubo e se as bactérias. espalham Não pode- mos estar na origem da disseminade bom senso, ção. E uma questão mas a élica médica impede-nos de fazer experiências que podem pôr em risco a comunidade, purificando organismos potencialmente Claro rigosos. pode que pehaver quem faça isto para usar os micomo armas biológicrorganismos cas. Isso é mantido cm segredo. O aureus não c bom pa porque vive estafilococos ra armas biológicas, connosco. Há milhões de anos. E não gosta de ser erradicado do meio. Irritou-se e adaptou-se. A génese do MRSA é essa. Não podemos pensar em erradicar as bactérias que vivem connosco. As bactérias são úteis para nós. Não o MR- uma derivação. É respor muitas mortes não por ser MRSA mas por ser difícil de tratar. Mas outros que não são SA, que já é ponsável MRSA também fazem mortes. Qual o protocolo que o hospital segue quando tem um caso de MRSA? O primeiro a saber é o laboratório Ilá um de Microbiologia. interno, um contacto farmacêutica, vai a apurar antibióticos indústria continuar semana, que gerarão mais resistências? 0 problema c que a indústria far macêutica na investi desinvestiu gação dos antibióticos. cos os Os fárma- para as doenças crónicas são que rendem muito. Com as exio gências regulamentares, mento até se investi- chegar a um antibióti- co é brutal. As patentes E há ou reus e o enterococos, Quando há uma colcção tuação purulcn em maio era uma si- descrevemos dessas. Uma doente com doente. O conceito se isola o médico rias não sejam transportadas. abcesso, só existia a vancomicina vas, todos injetáveis, exceto o line- crónicas. Acaba de descobrir um MRSA terococos, mais Em uma digestivo que vive no nosso tubo animais quase to- e dos dos, que na década de 70 começou Os VRE a resistir à vancomicina. sabe-se que transmitem facilmen- informação genética ao cstafiloco cos. E nos casos descritos dos Unidos, se nos Esla- calhar foi isso que Não podemos garantir, porque eticamente não podemos fazer a experiência. Não podemos aconteceu. misturar um enterococos estafilococos sistência comum para averiguar à vancomicina. Eticamente? a re- não é I lá outras medidas que consistem em utilizarbarreiras de proesse. vavelmente, foi o enterococos re sistente à vancomicina que deu a um tos para as doenças a vancomicina. O caso que ser estrilo, para as infeções por MRSA. Agora há três ou quatro antibióticos ativos contra bactérias gram-positi- dos medicamen- Portugal... A pessoa toma vancomicina vancomicina. não pode um quarto fechado onde 30 anos, Ao contrário poderoso, à isolamento e outro ao antibiótico tentes ambos resis- te c vê o que se está a passar. E re força as medidas de isolamento. O o dão-se resistente cal da infeção que se localizam em zonas anatómicas que são difíceis de erradicar com os antibióticos. zulide, que existe também na forma oral. Houve outra bactéria, en- soas. que têm no loo estafilococos au- teção e cuidados limitado muito ao es aureus. Por vezes, há in- tafilococos são de Controlo de Infeção, que manda um dos seus profissionais ao serviço onde foi isolado o doen- uma infeção no pé que tinha simultaneamente as duas bactérias. Pro- problema: os num período da vida das pes antibióticos de iriam dar esta resistência feções simultâneas infeções ta, gidas durante um período relativa- retorno. o MRSA regressa Por vezes têm muitas infeções, te a sua resistência, e sempre se achou que mais cedo ou mais tar no interior do organismo, é preciso drená-10. Durante estão prote- mente curto, e quem investigou investiu numa molécula perde duas, e acabou. Espera-se que não tenha mais infeção. Há casos de doentes que tomaram várias vezes vancomicina e sistema com a Comis- de manipulação do doente de modo a que as bacté- Tam- bém podemos pôr numa enfermaria todos os doentes que têm a inf e ção e noutra todos os que não têm. Em Portugal é muito frequente, e por vezes há mais do que um doente infetado. Todos infetados com a mesma estirpe? E como é que a bactéria se transmite? Não sabemos. Isso dos moleculares, implicaria estu que não são feitos no dia a dia. Na Faculdade de Medi ciiia, mais vocacionados estamos para fazer isso. Há sempre a hipóde os doentes se infetarem nal de saúde o que descodifique que está na internet, onde se encontram as coisas mais escabro- tese sas. É preciso saber desmontar. uns aos oulros, claro, porque mexem uns com os outros. Transmite- maioria pessoas por contacto direto e, muito raramente, por via aérea. não tem MRSA. São menos que 5%. Temos alguns dados sobre isso publicados pela professora Hermínia se E a família do doente pode levar das va Não a isolam e tratam com desta área. mupirocina no nariz? No- uma cientista excelentes problema de saúde pública? Não podemos fingir que o problema não existe e fazer como a avestruz. Os políticos têm de ornar os Dantes, eliminado o nos hospitais isolaram está viva? Está viva e não tem a bactéria. E Correu não a passou a ninguém. bem. Ficámos incrédulos, porque é que temos esta taxa tão alta? E até que ponto os políticos comicina. E os bacteriófagos? tudo. Questionámos inviáestri- medidas hospital recebe dezenas de doentes todos os dias. O que temos de as lo de Infeção. O recomen- de Contro- chamado mento de contacto. nal dos antibióticos. E o uso bons contra bactérias que nenhum antibiótico trata. Há quem diga que a Big Pharma combate os bacteriófagos porque são muito baratos de obter. E a Europa, com os lóbis a funcionarem, impõe regras burocráticas. Aqui ao lado, no Instituto de Biologia Molecular, temos uma empre sa de bacteriófagos, uma spin-o/f, a TecnoPhage. isola- racio- to é seguro. No mundo ocidental, temos pouco acesso a informação ativa que esteja escrita em russo, embora Lenha o espírito aberto. Não sou detrator dos bacteriófagos. Estou a nisso. Isto não pode ganhar proporções epidémicas? As pessoas não estão informadas sobre isto. Que têm a informação acha do teste obrigatório? Esta situação e endémica, muito elevada. Não sei se as pessoas estão assim tão pouco informadas. Claro que isto está nas mãos dos de saúde. Mandatory testing sou contra, por razões de liprofissionais berdade individual. medos E vamos criar va- injustificados, porque mos ter 30 a 40% de resposta positiva de estafilococos aureus no nariz. Algumas desvairadas. pessoas podem ficar necessária e suficiente para a boa decisão? Somos muito bons a diagnosticar os problemas e menos bons a resolvê-los. O atual secretário do, o dr. Fernando um médico, de Esta- Leal da Costa, é que ajuda. O poder se interessar pela situação. Isto não se faz por caroli- político o tem de ce. E até aqui o poder político tem dado uma resposta frouxa. Já coordenei a Comissão de Controlo de Infeção deste hospital durante se- Se te anos e tinha uma recetividade acompanhadas muito grande das pessoas do CA. mas a coisa esgota-se aí. Não basta. forem à internet, ficam. Claro! Se fizerem isso sem estarem por um profissio- Acho bem que a Eu- ropa imponha regulamentação. Temos de ficar certos que o tratamen- A Direção- -Geral de Saúde está muito acabarem? Na antibióticos Eliava, da Geórgia, o local privilegiado de investigação de bacteriófagos, os resultados são muito As bactérias são fascinantes. (...) A bactéria é mais eficaz do que nós e replica-se mais depressa. Nós é de 20 em 20 anos, mais ou menos. E a bactéria é de 20 em 20 minutos pacidade para o fazer. Nem para descolonizar todos os doentes. O dações das Comissões Não serão a Rússia, sempre foram usados E no Instituto bacteriófagos. to que refere, que faz a Noruega, que faz a Holanda, não temos ca- fazer é implementar 20 minutos. os muito. são essas ou menos. E a bactéria é de 20 em resposta do futuro à luta contra as bactérias resistentes, quando de veis. Esse tipo de isolamento de 20 em 20 anos. mais quatro quando vimos que era um estafilococos resistente à van- sa. Nós é de médicos, Não temos instalações suficientes para isolar os doentes todos, en- tre nós fascinantes, mais complexos. É mais eficaz do que nós e replica-se mais depres- só na área da Microbiologia, isolados são MRSA. É são têm uma capacidade adaptação à adversidade muitíssimo maior do que outros seres MRSA mais As bactérias Ler. A doente que tinha o MRSA que mas há 10 ou 15 anos apareceu outro MRSA. Na comunidade. Neste momento, cm Portugal, metade dos estafilococos em que a pessoa não tem, o que não quer dizer que não possa vir a porque comunidade, na bam por ser um mundo admiravelmente auto-organizado. Não sei. Pode haver um momento médicos. MRSA da comunida- de é diferente. era Rockfeller, Com tantos cientistas por mim, mas avisamos as pessoas, sem as assustar. Evitarem contactos, lavarem Isso não passa as mãos... O e da colonizadas da Universidade de Lencastre, o MRSA para a comunidade? E a Num tempo de austeridade, é possível introduzir um novo Não acreditávamos que a primeira vez que acontecia na Europa tinha sido connosco. E publicámos. Foi tratada com um desses antibióticos que destroem o acompanhar um colega, médico, de medicina intensivista. cuidados intensivos, que está a doutorar-se investigar os antibióticos para pé diabético e sei as dificuldades que vão tendo nessa área. A ideia e a o não é substituir MRSA. os antibióticos, é Há quem ache que o MRSA não se deixa destruir pelos ter um coadjuvante. I lá casos em que o bacteriófago elimina a bacté antibióticos. ria e casos em que não, como os antibióticos. Este. deixámos de o ver, e continuá- mos a seguir a doente. Procurámolo nos sítios habituais onde ele está. O principal cho ecológico é o nariz. com É um ni- a humidade, O que é um bacteriófago? Sei que pode ser apurado em águas de esgoto, é baratíssimo de obter. um vírus vivo, temperatura, oxigenação ideais. Todos temos estafilococos au- É reus em nós? As bactérias para causar infeções nas bactérias. aca- mas em estarmos e há logo problea usar um varas Essas águas de esgoto têm muitas bactérias e são um viveiro para es- riófagos, o descobridor, foi o franco-canadiano Félix d'Herelle nem sempre se consegue nação total. ses viras que causam morte nas bactérias. (1873-1949). Que foi para Tbilisi, Geórgia, trabalhar com o professor George Eliava, fundador do Mas a bactéria doença e Não há transmissão genética entre o vírus e a bactéria. O vírus é o terminator das bactérias. Nas frentes de guerra ruseram usasas, os bacteriófagos dos para tratar as feridas instituto. Porque é que se avançou tanto nos antibióticos e tão ram uma idade de ouro. Houve mé- resistências. Quando o vírus infeta as bactérias, injela-lhe o seu ADN, mas não há conhecimento de transmissão. E não causa infeção no homem. Já que dicou muito os muito antes O que preju- bacteriófagos foi o facto de, nas poucas descrições conhecidas da utilização de bacteriófagos em infeções, algumas dessas infeções serem causadas por vírus. Ora um bacteriófago não pode eli- minar um vírus. O Pasteur e o Fleming dos bacte- e usar os bacteriófa- gos, em vez de encher as pessoas de antibióticos e provocar novas dicos bacteriófagos de haver antibióticos. fica neutralizada. Não percebo de que é que a comunidade científica ocidental está à espera para Enfraquecida. investigar americanos estava fechado doenças infecciosas. se de que o disseram livro das Ora, tratando- um vírus vivo, temos de sa- ber que não causa mesmo infeção no homem e que não sofre mutações. Que não se torna agressivo para o homem. Nunca aconteceu. Não, mas sabemos muito pouco sobre bacteriófagos. Os bacteriófagos têm de ser ministrados várias porque as bactérias ao fim de algum tempo também se vão tornando resistentes. E vezes e seguidos, tigação, até à uma competição pouco nos bacteriófagos? conhecePorque os antibióticos infetadas. havia a elimi- publicação tudo é secreta. E nestes casos não se esqueça a destruir o equilíbrio que estamos natural das coisas. Existe MRSA na comunidade em Portugal. Vindo donde? E qual a bactéria mais aterradora, a "comedora de carne"? TecnoPhages. Há um enorme secretismo a rodear isto. E quan- Existe, pouco. É um MRSA diferente, porque é menos resistente aos antibióticos mas mais agressivo, to maior a assepsia dos hospitais, caso americano, mais bactérias nas toxinas, do que o dos hospitais. Dá lesões na pele e pulmonares resistentes aparecem. Abactéria causa menos danos porque está em menor número. Há graves. Não lhe sei responder donde veio, porque tem característi- pessoas a investir nisso, e a comunidade científica eslá a par. Nos Es- tão bastante misturados. tados Devia haver muitas Unidos, está-se a dar aten- ção a isto. Não se esqueça Geórgia ficava na ex-URSS que a e por isso era descredibilizada pela comunidade científica americana. O secretismo existe sempre na inves- cas diferentes do outro. Agora, es- Começa- ram a aparecer no início dos anos 2000. Quanto à "comedora de carne", a bactéria que tem o quadro mais exuberante, um estreptococos com o qual também trabalho, essa, a fasciite necrosante. © revistaO.expresso.impresa.pt é