Diversidade genética e diferenciação das raças portuguesas de ovinos com base em marcadores de DNA − microssatélites: uma perspectiva de conservação Paulo António Russo Almeida Orientadora Prof. Maria Teresa Rangel de Figueiredo Departamento de Zootecnia Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Doutor em Ciência Animal, de acordo com o disposto no Decreto-Lei 216/92 de 13 de Outubro. Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2007 Tese de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (projecto PRAXIS XXI 3/3.2/CA/2005/95 e bolsa PRAXIS XXI BD/5516/95). iii De acordo com o nº. 2 do Artigo 8º do Decreto-Lei nº. 388/70 utilizaram-se para esta tese resultados dos seguintes trabalhos: 1. RUSSO-ALMEIDA, P. A., MARTINS, A., RAMOS, A. M.; RANGEL-FIGUEIREDO, T.; CRAWFORD, A. M., 1998. Microsatellite DNA variation within and among Portuguese ovine breeds: Case of Serra da Estrela breed. Abstrats, BIOTEC98 IV Iberian Congress on Biotechnology, I Ibero-American Meeting on Biotechnology. Guimarães, Portugal, 12-15 de Julho de 1998, pp. 122 (Poster). 2. RUSSO-ALMEIDA, P. A., MARTINS, A., RAMOS, A. M.; CORREIA, T. M., RANGELFIGUEIREDO, T.; CRAWFORD, A. M., 1998. Microsatellite DNA variation within and among Portuguese ovine breeds: Case of Churra Algarvia breed. II Congreso SERGA. Palma de Maiorca, 15-17 de Dezembro de 1998. (Comunicação Oral). 3. RUSSO-ALMEIDA, P. A., RAMOS, M., MARTINS, A. M., CORREIA, T. M., RANGELFIGUEIREDO, T., CRAWFORD, A. M., 1999. Microsatellite DNA variation within and among Portuguese ovine breeds: Case of Merino breeds. Proceedings of 7º Congress of Mediterranian Federation for Health and Production of Ruminants. Santarém, Portugal 22 a 24 de Abril de 1999 (Comunicação Oral). 4. DIEZ-TASCON, C., LITTLEJOHN, R. P, ALMEIDA, P. A. R., CRAWFORD, A. M., 2000. Genetic variation within the Merino sheep breed: analysis of closely related populations using microsatellite. Animal Genetics Volume 31, Issue 4, 243 –251. 5. RUSSO-ALMEIDA, P. A., MARTINS, A. M. F., RANGEL-FIGUEIREDO, M. T., CRAWFORD, A. M. (2004). Contribution of Portuguese sheep breeds to genetic diversity in conservation programs. IV Congresso Ibérico sobre Recursos Genéticos Animais. Ponte de Lima, 15 a 17 de Setembro 2004. (Comunicação Oral). Para cumprimento do disposto naquele Decreto-Lei, esclarece-se ser da nossa responsabilidade a ordenação da metodologia, a execução das experiências que permitiram a obtenção dos resultados apresentados, a sua interpretação, discussão e redacção, com a excepção do número 4 cuja aquisiçao de resultados e respectiva redacção foi conjunta. v AGRADECIMENTOS Ao concluirmos esta Tese de Doutoramento, queremos deixar expresso o nosso reconhecimento a pessoas e instituições pelo auxílio que nos prestaram e que, de uma forma decisiva, contribuíram para a sua realização. Que todos, sem excepção, encontrem nestas palavras a expressão dos nossos mais sinceros agradecimentos. Ao Magnífico Reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Professor Doutor ARMANDO MASCARENHAS, pela confiança em nós depositada e por ter proporcionado os meios necessários à nossa promoção académica e valorização profissional. À Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) pelo financiamento deste estudo via Projecto PRAXIS XXI 3/3.2/CA/2005/95 e PRAXIS XXI BD/5516/95 e pelo apoio à impressão desta tese. À Professora Doutora MARIA TERESA RANGEL DE FIGUEIREDO estamos gratos por ter aceite ser nossa orientadora científica, pela amizade que sempre manifestou ao longo destes anos, pela disponibilidade dispensada; bem como, pela indicação do tema, das sugestões, da revisão crítica do manuscrito e do rigor científico transmitido ao longo da elaboração desta dissertação. Ao Doutor ALLAN CRAWFORD, e sua equipa, o nosso profundo reconhecimento por todos os ensinamentos na tecnologia dos microssatélites e pela simpatia com que nos receberam na Unidade de Biologia Molecular do Departamento de Bioquímica da Universidade de Otago (Nova Zelândia). Ao Doutor LOUNÈS CHIKHI, por nos ter recebido no “Laboratoire Evolution & Diversité Biologique” da Universidade Paul Sabatier em Toulouse (França) e pelos ensinamentos que nos transmitiu. Ao Doutor JOSÉ ANTÓNIO MATOS e sua esposa Doutora FERNANDA SIMÕES, membros da equipa do projecto que suportou este trabalho, pela leitura do manuscrito, assim como, pela forma carinhosa com que nos receberam em sua casa. Agradecemos também à equipa do Laboratório de Genética Molecular do Departamento de Biotecnologia do INETI (Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação), por si liderada, que de forma desinteressada ajudou na extração do DNA. vii Às instituições que entusiasticamente nos orientaram e acompanharam na recolha das amostras de sangue, designadamente: − Associação de Criadores de Gado do Algarve (ASCAL); − Associação de Criadores de Gado do Algarve (ASCAL); − Associação de Criadores de Ovinos do Sul (ACOS); − Associação de Criadores e Reprodutores de Gado do Oeste (ACRO); − Associação de Produtores de Ovinos do Sul da Beira (OVIBEIRA); − Associação de Produtores de Pequenos Ruminantes da Bacia Hidrográfica do Côa (COVICÔA); − Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Badana; − Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra da Terra Quente (ANCOTEQ); − Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa (ACOM) ; − Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME); − Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME); − Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela (ANCOSE); − Associação Nacional dos Criadores da Raça Churra Galega Bragançana (ACOB); − Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e Minho; − Direcção Regional de Agricultura do Alentejo; Aos amigos e colegas de equipa ÂNGELA MARTINS, JOÃO MATEUS e MARCOS RAMOS pelo empenhamento na amostragem e extração de DNA. À Dra. FILOMENA AFONSO pela gentileza na cedência dos dados do efectivo ovino entre 1999 e 2006 Aos funcionários do Laboratório de Fisologia Animal, designadamente às Senhoras D. IDALINA ABOBELEIRA, CARLA TOMÁS, CÁRMEN ABREU e ao HENRIQUE viii AUGUSTO queremos deixar o nosso agradecimento pela ajuda prestada na preparação de material de laboratorio. Ao Professor Doutor JORGE MANUEL TEIXEIRA DE AZEVEDO e pela leitura do manuscrito e pela bibliografia que nos facultou. Aos Professores Doutores VICTOR PINHEIRO e JÚLIO MARTINS, e NORBERTO GONÇALVES pela leitura do manuscrito e pelas sugestões dadas. Aos Professores Doutores JOSÉ CARLOS ALMEIDA, SEVERIANO SILVA pela bibliografia que nos facultaram. Aos autores dos programas estatísticos utilizados nesta tese que de forma altruísta os disponibilizaram na internet. A todos os colegas e amigos que, com as suas críticas e sugestões nos ajudaram na concretização deste trabalho, aceitem a expressão do nosso reconhecimento. À minha mulher HELENA MARIA e aos meus filhos HELENA RAQUEL, PAULO ANDRÉ e TIAGO GABRIEL expresso o meu reconhecimento pelo incentivo transmitido e por terem permitido que muito do tempo que lhes era devido fosse usado na elaboração deste trabalho. ix RESUMO Nas últimas décadas tem crescido a consciencialização de quanto é urgente tomar medidas que visem travar o crescente desaparecimento de raças de animais domésticos, de forma a evitar a erosão dos recursos genéticos disponíveis e com ela a redução de opções futuras em termos de adaptabilidade e diversidade de produtos. Neste estudo foram usados microssatélites (marcadores de DNA recomendados pela FAO) para investigar a variabilidade genética dentro e entre raças portuguesas de ovinos, nomeadamente das raças Bordaleira de Entre Douro e Minho - BEDM, Churra Algarvia - CA, Churra Badana - CB, Churra do Campo - CC, Churra Galega Bragançana - CGB, Churra Galega Mirandesa - CGM, Campaniça - CMP, Churra Mondegueira - CM, Churra da Terra Quente - CTQ, Merino Branco - MB, Merino da Beira Baixa - MBB, Merino Preto - MP, Serra da Estrela – SL e Saloia – SL, procurando dar um contributo para o seu conhecimento de base e, consequentemente para a sua preservação. Para o efeito foram amostrados um total de 717 animais originários das referidas 14 raças ovinas e determinados os genótipos relativos a 20 microssatélites. A informação obtida foi usada para estimar a riqueza alélica e a heterozigotia em cada raça, analisar a estrutura e relação de similaridade entre raças através de diversas distâncias genéticas e da representação das raças no espaço Euclidiano recorrendo à análise factorial de correspondência. Adicionalmente, foi estudada a hierarquia de prioridade de conservação com base exclusivamente no critério de similaridade genética, recorrendo a duas abordagens diferentes. Procurou-se também avaliar os microssatélites quanto ao poder informativo e à capacidade discriminante na determinação da origem racial dos indivíduos amostrados ou dos simulados de acordo com as frequências alélicas de cada população. Apesar da redução drástica do efectivo a que as raças portuguesas têm sido sujeitas, os resultados alcançados revelaram a presença de uma elevada diversidade no interior de cada raça, patente nos valores médios de 9 alelos/locus e de 0,762 para a riqueza alélica e heterozigotia esperada, respectivamente, valores esses que se situaram ligeiramente acima do que foi apontado para outras raças europeias de ovinos, submetidas a estudos semelhantes. A Churra Algarvia e a Churra Galega Mirandesa foram aquelas que apresentaram o menor e o maior valor de riqueza alélica, 6,9 e 9,1 xi alelos/locus, respectivamente. Para a heterozigotia esperada, o valor mínimo de 0,729 foi observado na Churra Badana e o máximo de 0,782 na Churra Galega Bragançana. O desvio significativo do equilíbrio de Hardy-Weinberg, observado para o microssatélite McM357, em 13 raças levou a que este fosse excluído das análises em que tal equilíbrio era um requisito. Este desvio sugere a presença de alelos nulos nesse microssatélite, razão pela qual recomendamos que não seja utilizado neste tipo de estudos. A análise da estrutura populacional apontou no sentido de uma diferenciação significativa (P<0,01) entre todos os pares possíveis das 14 raças. Contudo, da diversidade genética total, apenas 2,6% foram devidos a diferenças entre raças, enquanto os restantes 97,4% corresponderam a diferenças entre indivíduos dentro das raças. O cálculo de distâncias genéticas e a construção de fenogramas, bem como a análise factorial de correspondência, permitiram estabelecer uma relação de similaridade entre as 14 raças, verificando-se que as raças CA e MB foram as mais dissemelhantes, enquanto que as raças CM e CTQ foram as mais próximas. A posição que cada raça ocupou na hierarquia de prioridade de conservação que ensaiamos foi muito influenciada pela metodologia utilizada, pondo em evidência a dificuldade da tomada de uma decisão relativa a esta temática, uma vez que apenas esteve em análise um de entre vários critérios a ter em consideração. O método Bayesiano de atribuição foi aquele que originou melhores resultados, apesar disso, com excepção da raça CA, os 19 microssatélites mostraram-se insuficientes para discriminar com segurança as 14 raças de ovinas portuguesas. Os resultados sugeriram que os microssatélites com maior valor médio de riqueza alélica e de heterozigotia esperada no conjunto das populações devem ser os preferidos para este tipo de análise. Por último, a integração do conhecimento que já se detinha sobre as raças e os resultados agora obtidos permitiram-nos evidenciar a fiabilidade do uso de microssatélites neste tipo de estudos e em particular para as raças portuguesas de ovinos. xii ABSTRACT In this study microsatellites (DNA markers recommended by FAO) were used to evaluate the genetic variability within and among Portuguese sheep breeds, namely of the Bordaleira de Entre Douro e Minho - BEDM, Churra Algarvia - CA, Churra Badana - CB, Churro do Campo - CC, Churra Galega Bragançana - CGB, Churra Galega Mirandesa - CGM, Campaniça - CMP, Churra Mondegueira - CM, Churra da Terra Quente - CTQ, Merino Branco - MB, Merino da Beira Baixa - MBB, Merino Preto MP, Serra da Estrela – SL and Saloia – SL, as a attemp to contribute to their preservation. For the aim a total of 717 animals of those 14 sheep breeds were sampled and the genotypes to 20 microsatellites were determined. Data was used to estimate the allele richness and the heterozigosity in each breed, to analyze the structure and similarity relationship among breeds using several genetic distances and the representation of the breeds in the Euclidean space based on correspondence factorial analysis. Additionally the hierarchy of conservation priority was studied exclusively based on genetic similarity criteria, using two different approaches. Microsatellites were also evaluated for the informative power and discrimination capacity to recognize the breed origin of the sampled individuals or simulated ones according to the allelic frequencies of each population. Despite the drastic reduction of the sheep number that has occurred in Portuguese breeds, results have shown the presence of high diversity within each breed, expressed in the mean values of 9 alleles/locus and 0.762 for the allelic richness and expected heterozigosity, respectively, which are slightly higher than those observed in other studies previously published concerning different sheep breeds. Churra Algarvia and Churra Galega Mirandesa were the ones presenting the smallest and the largest value of allelic richness, 6.9 and 9.1 aleles/locus, respectively. For the expected heterozigosity, the minimum value of 0.729 was observed in Churra Badana and the maximum of 0.782 in Churra Galega Bragançana. The significant deviation of the Hardy-Weinberg equilibrium observed in 13 breeds for microsatellite McM357, has determined its exclusion from the analysis where such equilibrium was a mandatory requirement. This deviation suggests the presence of null alleles in that microsatellite, for which we recommended that it should be in this type of studies. xiii The analysis of the population structure pointed towards a significant differentiation (P<0.01) among all the possible pairs of the 14 breeds. However, from total genetic diversity, only 2.6% were due to differentiation among breeds, while the remaining 97.4% corresponded to differences among individuals within each breed. The calculation of genetic distances and phenograms construction, as well as the correspondence factorial analysis, allowed to establish a similarity relationship among the 14 races, were CA and MB breeds were the more dissimilar while CM and CTQ breeds were the closest. The position that each breed occupied in the hierarchy of conservation priority was very influenced by the methodology used, enhancing the inherent difficulty for taken decision in this field, since only one out of several criteria were taken into consideration. The Bayesian assignation method has produced better results, however, with exception of the CA breed, the 19 microsatellites have proven insufficient to discriminate with high confidence the 14 Portuguese sheep breeds. The results suggested that microsatellites with larger allelic richness and expected heterozigoty mean values in the group of the populations should be selected for this type of analysis. Lastly, the integration of the background knowledge and the present data has allowed to confirm the reability of microsatellite analysis on this type of studies, particularly concerning Portuguese sheep breeds. xiv “A melhor maneira de prever o que está para vir, é lembrar o que já passou.” George Savile xv ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS ...........................................................................................................................VII RESUMO ................................................................................................................................................. XI CAPÍTULO 1 – RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS E MARCADORES DE DNA.....................1 1.1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1 1.2. ORIGEM DOS OVINOS DOMÉSTICOS ........................................................................................3 ALTERAÇÕES DECORRENTES DA DOMESTICAÇÃO ......................................................................................7 1.3. ORIGEM DAS RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS ................................................................8 1.4. MARCADORES MOLECULARES NO ESTUDO DA DIVERSIDADE GENÉTICA DAS RAÇAS DE ANIMAIS DOMÉSTICOS .................................................................................................27 1.4.1. MÉTODOS PROTEICOS ...................................................................................................................27 1.4.2. MÉTODOS DE DNA........................................................................................................................28 1.4.3. MARCADORES MOLECULARES .......................................................................................................34 1.4.3.1. Métodos pré-PCR ..................................................................................................................35 1.4.3.2. Métodos Pós-PCR..................................................................................................................38 1.4.3.2.1. RAPDs (Polimorfismos de amplificação aleatória de DNA) .......................................................... 38 1.4.3.2.2. AFLPs (Polimorfismo de comprimento de fragmento amplificado) ............................................... 40 1.4.3.2.3. SNPs (Polimorfismo de um único nucleótido) ................................................................................ 43 1.4.3.2.4. Microssatélites ................................................................................................................................ 47 1.4.3.3. Comparação entre os vários marcadores..............................................................................57 CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA PARA A OBTENÇÃO DA INFORMAÇÃO ALÉLICA DE MICROSSATÉLITES NAS RAÇAS OVINAS PORTUGUESAS.......................................................61 2.1. MATERIAL BIOLÓGICO ..............................................................................................................62 2.2. EXTRACÇÃO DE DNA ...................................................................................................................64 2.3. ESTUDO DO POLIMORFISMO DOS MICROSSATÉLITES....................................................65 CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA DAS RAÇAS OVINAS PORTUGUESAS ......................................................................................................................................69 3.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................69 3.2. OBJECTIVOS ...................................................................................................................................69 xvii 3.3. DIVERSIDADE DENTRO DAS RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS..................................70 3.3.1 METODOLOGIA ...............................................................................................................................73 3.3.2 RESULTADOS ..................................................................................................................................75 3.3.3 DISCUSSÃO .....................................................................................................................................79 3.4. DIVERSIDADE ENTRE RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS..............................................84 3.4.1. ASPECTOS A TER EM CONSIDERAÇÃO NA ESCOLHA DOS MÉTODOS ESTATÍSTICOS ..........................85 3.4.1.1.ANÁLISE DE PRESSUPOSTOS ........................................................................................................85 3.4.1.2 ESTRUTURAÇÃO DA POPULAÇÃO .................................................................................................87 3.4.1.3. DISTÂNCIAS GENÉTICAS E CONSTRUÇÃO DE FENOGRAMAS ........................................................91 3.4.1.4. ANÁLISE MULTIVARIADA ...........................................................................................................95 3.4.2. METODOLOGIA ..............................................................................................................................97 3.4.2.1 ANÁLISE DE PRESSUPOSTOS .........................................................................................................97 3.4.2.2 ESTRUTURAÇÃO DA POPULAÇÃO .................................................................................................98 3.4.2.3 DISTÂNCIAS GENÉTICAS E CONSTRUÇÃO DE FENOGRAMAS .......................................................100 3.4.2.4 ANÁLISE MULTIVARIADA ..........................................................................................................103 3.4.3. RESULTADOS ...............................................................................................................................104 3.4.3.1. ANÁLISE DE PRESSUPOSTOS ......................................................................................................104 3.4.3.1.1. EQUILÍBRIO DE HARDY-WEINBERG .......................................................................................104 3.4.3.1.2. DESEQUILÍBRIO DE LIGAÇÃO (DL).........................................................................................105 3.4.3.2 ESTRUTURAÇÃO DA POPULAÇÃO ...............................................................................................106 3.4.3.3 DISTÂNCIAS GENÉTICAS E CONSTRUÇÃO DE FENOGRAMAS .......................................................108 3.4.3.4 ANÁLISE MULTIVARIADA ..........................................................................................................116 3.4.4. DISCUSSÃO ..................................................................................................................................121 3.5. CONCLUSÕES ...............................................................................................................................131 CAPÍTULO 4 - HIERARQUIA DE PRIORIDADE DE CONSERVAÇÃO DAS RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS.............................................................................................................133 4.1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................133 4.1.1. SINGULARIDADE GENÉTICA .........................................................................................................134 4.2 OBJECTIVOS ..................................................................................................................................140 4.3 METODOLOGIA ............................................................................................................................140 4.3.1 ABORDAGEM DE WEITZMAN ........................................................................................................140 4.3.2 ABORDAGEM DO CORE SET ...........................................................................................................141 4.4 RESULTADOS.................................................................................................................................143 4.4.1 ABORDAGEM DE WEITZMAN ........................................................................................................143 4.4.2 ABORDAGEM DO CORE SET ...........................................................................................................147 xviii 4.5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................................154 4.6. CONCLUSÕES ...............................................................................................................................157 CAPÍTULO 5 - DISCRIMINAÇÃO RACIAL DOS OVINOS PORTUGUESES COM BASE EM INFORMAÇÃO MOLECULAR ..........................................................................................................159 5.1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................159 5.1.1 MÉTODOS DE ATRIBUIÇÃO............................................................................................................161 5.1.1.1 Distâncias genéticas como critério ......................................................................................161 5.1.1.2 Máxima verosimilhança como critério .................................................................................163 5.1.2 MÉTODOS DE SIMULAÇÃO/EXCLUSÃO ..........................................................................................167 5.1.3 MÉTODOS BASEADOS EM MODELOS ..............................................................................................168 5.1.4. FACTORES QUE INFLUENCIAM OS TESTES DE ATRIBUIÇÃO E SIMULAÇÃO/EXCLUSÃO...................170 5.2. OBJECTIVOS .................................................................................................................................172 5.3. METODOLOGIA............................................................................................................................172 5.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................................175 5.5. CONCLUSÕES ...............................................................................................................................185 CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS...............................187 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................193 ANEXOS .................................................................................................................................................235 xix ÍNDICE DE FIGURAS E TABELAS Lista de Tabelas Tabela 1. Evolução do efectivo das raças ovinas portuguesas entre 1999 e 2006 26 Tabela 2. Sumário da informação relativa ao processo de amostragem. 63 Tabela 3. Informação sobre os microssatélites utilizados. 65 Tabela 4. Valores de frequência dos alelos únicos, por raça e por microssatélite. 75 Tabela 5. Características genéticas das 14 raças com base nos 20 loci estudados: Riqueza alélica observada (RAO), Riqueza alélica ajustada (RAA), Heterozigotia Observada (HO), Heterozigotia Esperada (HNB) e PIC. Tabela 6. Características genéticas dos 20 microssatélites com base nas 14 raças ovinas estudados: Riqueza Alélica observada (RAO), Riqueza Alélica ajustada (RAA), Heterozigotia Observada (HO), Heterozigotia Esperada (HNB). Tabela 7. Valores de heterozigotia em raças europeias de ovinos. 76 78 82 Tabela 8. Valores médios de FIS por raça e microssatélites com desvio significativo ao HWE. 103 Tabela 9. Pares de microssatélites com desequilíbrio de ligação significativo por raça. 105 Tabela 10. Valores de θWC por pares de raças, calculados de acordo com WEIR e COCKERHAM (1984) considerando os 19 microssatélites. 105 Tabela 11. Estimadores da subdivisão genética da população ovina portuguesa para os 19 microssatélites. 106 Tabela 12. Valores das distâncias genéticas DRey (acima da diagonal) e de DL (abaixo da diagonal). 108 Tabela 13. Valores das distâncias genéticas DA (acima da diagonal) e de DC (abaixo da diagonal). 108 Tabela 14. Valores da distância genética DS (acima da diagonal) e do tempo de divergência em gerações (abaixo da diagonal). 109 Tabela 15. Matriz de coeficientes de correlação de Pearson entre distâncias genéticas. 109 Tabela 16. Contribuições médias (absolutas e relativas) de cada raça para cada factor da AFC. 119 Tabela 17. Contribuições médias (absolutas e relativas) de cada microssatélite para cada factor da AFC. 120 Tabela 18. Ordenadas dos nós do dendograma de Weitzman baseadas nas distâncias DRey e DE. 143 xxi Tabela 19. Valores da diversidade marginal e ordem de prioridade de conservação, calculados a partir das distâncias DRey e DE. Tabela 20. Valores da diversidade marginal e ordem de prioridade de conservação, considerando um grupo seguro constituído pelas raças CTQ, MB e SE, com base nas distâncias DRey e DE. 144 145 Tabela 21. Matriz de coeficientes de coancestralidade estimados segundo o modelo WLM. 146 Tabela 22. Matriz de coeficientes de coancestralidade estimados segundo o modelo WLMM. 146 Tabela 23. Matriz de distâncias d(i,j). 148 Tabela 24. Valores da contribuição relativa de cada raça para o core set, calculadas segundo as estimativas de f pelos modelos WLM e WLMM. Tabela 25. Estimativa da perda de diversidade associada ao desaparecimento eventual de cada raça, considerando à partida um subconjunto seguro de raças (CTQ, MB, SE). 150 152 Tabela 26. Variação da eficácia da atribuição com o método, o procedimento ("as is" e "leave one out") e o número de raças consideradas. 174 Tabela 27. Eficácia de Atribuição (EA) para cada raça, obtida com os vários métodos estudados segundo o procedimento "leave one out". 176 Tabela 28. Erro tipo II (percentagem média de indivíduos que são atribuídos erroneamente a cada uma das raças) para os vários métodos de atribuição e procedimento "leave one out". Tabela 29. Percentagens de animais com origem em cada raça (linha) que não puderam ser excluídos de outras raças (coluna), quando foi utilizado o método de simulação/exclusão Bayesiano, com o procedimento "leave on out" e nível de significância α=0,01. Tabela 30. Parâmetros de eficácia para o método de simulação/exclusão Bayesiano, com o procedimento "leave on out" e nível de significância α=0,01. Tabela 31. Número de vezes (igual ao número de raças) para a posição relativa que cada microssatélite obteve quando estes foram ordenados de acordo com o poder de atribuição em cada uma das 14 raças de ovinos estudadas, utilizando o programa WICHLOCI. xxii 177 178 178 180 Lista de Figuras Figura 1. Relações filogenéticas entre as formas selvagens e domésticas do género Ovis (adaptado de HIENDLEDER et al., 2002). 5 Figura 2. Esquema representativo da constituição e da organização da molécula de DNA (adaptado de SALADIM, 2004). 29 Figura 3. Curva de renaturação do DNA (adaptado de STUDER e EPPLEN, 1990). 30 Figura 4. Divisão sequencial do genoma humano em componentes de DNA tipo (adaptado de BENNET, 2000). 30 Figura 5. Separação dos satélites e da banda principal de DNA na cobaia, em gradiente de densidade de Ag2+/Cs2SO4 (adaptado de CORNEO et al., 1970). 32 Figura 6. Etapas do método de obtenção de RFLPs pela técnica Southern blot (adaptado de CAMPBELL et al., 1999). 35 Figura 7. Métodos utilizados na genotipagem dos SNPs (adapatado de SYVANEN, 2001). 47 Figura 8. Exemplo de imagem de um gel para o microssatélite OarFCB128, obtida pela técnica de primers marcados com P33 radioactivo. (C1 e C2 são controlos com tamanho conhecido). Figura 9. Exemplo de imagem de um gel para o microssatélite OarFCB128, obtida pela técnica de primers não marcados e revelação com nitrato de prata. (C1 e C2 são controlos com tamanho conhecido). 6 67 Figura 10. Relação entre a heterozigotia esperada não enviesada (HNB) e o Polymorphism Information Content (PIC). 77 Figura 11. Comparação dos valores médios de heterozigotia por microssatélite em raças europeias de ovinos. 83 Figura 12. Relação entre os valores de θ e os respectivos valores de θRH e GST'. 107 Figura 13. Fenograma construído a partir das distâncias genéticas DRey (A) e de DL (B) pelo método Neighbour-Joining. 110 Figura 14. Fenograma construído a partir das distâncias genéticas DA (C) e de DC (D) pelo método Neighbour-Joining. 112 Figura 15. Fenograma construído a partir da distância genética D2 pelo método Neighbour-Joining. 114 Figura 16. Fenograma construído a partir da distância genética DRey pelo método Neighbour-Joining. 114 Figura 17. Análise Factorial de Correspondência realizada a partir dos genótipos individuais das 14 raças ovinas. 115 Figura 18. Análise Factorial de Correspondência realizada a partir dos genótipos individuais das raças CB, CM e CTQ. 116 xxiii Figura 19. Análise Factorial de Correspondência para as 14 raças ovinas. No centro - vista a três dimensões; em cima, esquerda e em baixo as respectivas projecções em duas dimensões. 117 Figura 20. Percentagem de inércia e valores próprios de cada factor da AFC. 118 Figura 21. Árvores UPGMA e NJ de distâncias individuais (DL) para a raça BEDM. 121 Figura 22. Fenograma construído a partir da distância genética DS (E) pelo método Neighbour-Joining. 124 Figura 23. Exemplares do "Ovino Algarvio" na Exposição Pecuária Nacional em 1888. 126 Figura 24. Fenograma construído a partir da distância genética DRey pelo método Neighbour-Joining, excluindo a raça CMP. 127 Figura 25. Dendograma de Weitzman entre as 14 raças portuguesas de ovinos baseado na distância DRey. 143 Figura 26. Dendograma de Weitzman entre as 14 raças portuguesas de ovinos baseado na distância DE. 144 Figura 27. Gráfico de superfície representativo da matriz dos coeficientes de coascendência estimados pelo modelo WLM. 147 Figura 28. Dendograma da relação entre as 14 populações de ovinos, construído segundo o método Neighbour-Joining. 149 Figura 29. Relação entre a média da heterozigotia esperada não enviesada das 14 raças, para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição. 180 Figura 30. Relação entre a heterozigotia esperada não enviesada (HNB) das 14 raças, para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição. 181 Figura 31. Relação entre o Desvio Padrão (DP) da HNB para cada microssatélite nas 14 raças e o respectivo score de atribuição. 182 Figura 32. Relação entre a Riqueza Alélica (RAO) média nas 14 raças para cada microssatélite e o respectivo score. 183 Figura 33. Relação entre o θWC nas 14 raças para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição. 183 xxiv LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS UTILIZADOS NO TEXTO A - Adenina A260 - Absorvência a 260 nanómetros A280 - Absorvência a 280 nanómetros ACM - Análise de Correspondência Múltipla ACP - Análise de Componentes Principais AFC - Análise Factorial de Correspondência AFLPs - Polimorfismos de Comprimento dos Fragmentos Amplificados B - Método Bayesiano BEDM - Bordaleira Entre Douro e Minho C - Citosina c - Contribuições relativas de cada uma das raças CA - Churra Algarvia CB - Churra Badana CC - Churra do Campo CGB – Churra Galega Bragançana CGM - Churra Galega Mirandesa cm - Centímetro cM - Centimorgan CM - Churra Mondegueira CMP - Campaniça CR - Cromossoma CTQ - Churra da Terra Quente DA - Distância de Nei (NEI et al., 1983) DAD-IS - Domestic Animal Diversity – Information System DAS - Shared allele distance (CHAKRABORTY e JIN, 1993) dATP - 5’- Desoxiadenosina Trifosfato Dc - Distância de corda (cord distance) (CAVALLI-SFORZA e EDWARDS, 1967) dCTP - 5’- Desoxicitosina Trifosfato DE - Distância de Eding (EDING et al., 2002) dGTP - 5’- Desoxiguanosina Trifosfato Div(M) - Parâmetro de diversidade DL - Desequilíbrio de ligação (Linkage Disequilibrium), xxv DL - Distância de Latter (LATTER, 1972) Dm - Distância mínima de Nei NEI et al., 1983 DNA - Ácido desoxirribonucleico (Deoxyribonucleic acid) dNTPs - Trifosfato de desoxirribonucleótidos (Deoxynucleotide triphosphate) DP - Desvio padrão DRey - Distância de Reynolds (REYNOLDS et al., 1983) DS - Distância padrão de Nei (NEI, 1978), Dsw - Stepwise weighted genetic distance (SHRIVER et al., 1995) dTTP - 5’- Desoxitimidina Trifosfato EA - Eficácia de atribuição EDTA - Ácido etilenodiamino-tetracético (Ethylenediamine-tetraacetic acid) EMBL - Laboratório Europeu de Biologia Molecular (European Molecular Biology Laboratory) EtBr - Brometo de etídio EP - Erro padrão ƒ - Coeficiente de coancestralidade F - Método frequentista FAO - Organização para a Agricultura e Alimentação (Food and Agriculture Organization) fcs - Média da estimativa do coeficiente de coancestralidade em cada core set FIS - Correlação entre alelos dentro dos indivíduos relativamente aos da subpopulação FIT - Correlação entre alelos dentro dos indivíduos relativamente aos alelos da metapopulação fRH - Estimador de FIS segundo ROBERTSON e HILL (1984) FST - Correlação entre alelos dentro das subpopulações relativamente aos alelos da metapopulação fWC - Estimador de FIS segundo WEIR e COCKERHAM (1984) G - Guanina G - Grama GST - estimador FST segundo NEI, 1977 (1977) GST' - GST não enviesado segundo NEI e CHESSER (1983) He - Heterozigotia esperada ou diversidade génica HNB - Estimativa não enviesada da heterozigotia esperada HO - Heterozigotia observada xxvi HWE - Equilíbrio de HARDY-WEINBERG IAM - Modelo de Alelos Infinitos –(Infinite Allele Model) INETI - Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação kb - Quilobase LE - Equilíbrio de Ligação (Linkage equilibrium) M - Molar MB - Merina Branca MBB - Merina da Beira Baixa mg - Miligrama min - Minuto ml - Mililitro mm - Milímetro mM - Milimolar MP - Merina Preta mtDNA - DNA mitocondrial NCBI - Centro Nacional de Informação Biotecnológica (National Centre for Biotechnology Information) ng - Nanograma Nge - Número de equivalentes de genoma NJ - Neighbor Joining nm - Nanómetro ºC - Graus Celsius OTU - Operational Taxonomic Unit P - Fósforo pb - Par(es) de bases (base pair(s)) PCR - Reacção em Cadeia pela Polimerase (Polymerase Chain Reaction ) pH - Simétrico do logaritmo decimal da concentração hidrogeniónica. PIC - Conteúdo de informação polimórfico (Polimorphic Information Content), QTL - Loci associados a características quantitativas (Quantitative trait loci) RA - Riqueza Alélica RAA - Riqueza alélica ajustada RAO - Riqueza alélica observada RAPDs - Amplificação aleatória de polimorfismos de DNA (Random Amplified Polymorphic DNA) xxvii RFLPs - Polimorfismos de comprimento dos fragmentos de restrição (Restriction Fragment Lenght Polymorphis) RNA - Ácido ribonucleico (Ribonucleic acid) rpm - Rotações por minuto s - Segundo SDS - Sódio dodecil sulfato (Sodium dodecyl sulfate) SE - Serra da Estrela SL - Saloia SMM - Stepwise Mutation Model SNPs - Polimorfismos de Nucleótido Único (Single Nucleotide Polymorphisms) T - Timina TBE - Tampão Tris-Borato-EDTA TE - Tampão Tris-EDTA UPGMA - Unweighted Pair-Group Method With Arithmetic Mean UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro UV - Ultra-Violeta V - Volts VNTRs - Repetições em série (tandem) de número variável (Variable Number of Tandem Repeat) vs - versus WLM - Weigthed Log Linear Model WLMM - Weigthed Log Linear Mixed Model ƒ - Coeficiente de coancestralidade médio ƒ̂ - Estimativa do coeficiente de coancestralidade % - Percentagem μg - Micrograma μl - Microlitro μM - Micromolar (δµ)2 - Distância de Goldstein (GOLDSTEIN et al., 1995a, b) θ = θWC - Estimador de FST segundo WEIR e COCKERHAM (1984) θRH - Estimador de FST segundo ROBERTSON e HILL (1984) α - Nível de significância xxviii Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA CAPÍTULO 1 – RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS E MARCADORES DE DNA 1.1. INTRODUÇÃO Basta um simples olhar em volta para constatar a presença de numerosas formas de vida que povoam o nosso planeta. O desaparecimento de algumas destas e o surgimento de outras, são um fenómeno natural na história evolutiva da Terra. No entanto, nos últimos dois séculos, tem-se assistido não só a uma redução acelerada da população e do território de várias espécies selvagens, como ao desaparecimento de algumas delas, fruto da acção directa ou indirecta do Homem. No que concerne aos animais domésticos, assunto de interesse particular neste estudo, o cenário é idêntico. Como é óbvio, neste caso trata-se essencialmente do desaparecimento acelerado de raças das várias espécies de animais domésticos cujas causas são de ordem diversa (ANDERSON, 2003; MENDELSOHN, 2003; REGE e GIBSON, 2003; ROOSEN et al., 2003; TISDELL, 2003). No entanto, o aumento da população humana e consequente incremento das necessidades alimentares, foi sem dúvida, um factor determinante. Em resposta a esta demanda intensificou-se, entre outras, a produção animal, em resultado dos avanços conseguidos em vários domínios da ciência e da tecnologia, de entre os quais interessa aqui destacar os do melhoramento genético. Mas, se por um lado aumentou de forma espantosa o potencial produtivo de algumas raças de animais domésticos e, por conseguinte, a sua dispersão por todo o mundo, por outro lado, provocou-se, ainda que indirectamente, uma progressiva e acentuada erosão da variabilidade genética das raças regionais, causada pela diminuição drástica do número de raças utilizadas devido ao efeito de substituição por raças mais produtivas. O exemplo mais conhecido é o da raça bovina Holstein-Frisia, actualmente a raça produtora de leite por excelência em quase todo o mundo, e responsável por cerca de 80% da produção de leite nos países desenvolvidos (BARKER, 1994a). Por outro lado, assistimos também a uma redução da variabilidade em termos globais devido à implementação de critérios de selecção mais ou menos uniformes, cuja intensidade foi favorecida pela diminuição do intervalo entre gerações, resultante da aplicação de tecnologias reprodutivas, como a inseminação artificial, a ovulação múltipla, a transferência de embriões, a fertilização in vitro, e outras. Quando a utilização de raças 1 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA selectas enfrentou dificuldades por razões de adaptabilidade, procedeu-se ao cruzamento destas com as raças locais, com consequente descaracterização racial das segundas. A tomada de consciência desta tendência levou à promoção de um grande número de iniciativas com vista a sensibilizar o público e os governantes dos vários países para o problema. O primeiro alerta sobre a importância da conservação da diversidade genética foi dado num encontro do “Standing Advisory Committee on Agriculture Organization” em Copenhaga (1946), no qual a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) surgiu como a entidade indicada para desenvolver esforços no sentido de inverter tal tendência. Desde então, a FAO tem levado a cabo um conjunto de acções que incluem, entre outras, a realização de trabalhos de caracterização de raças de animais de várias partes do mundo, a promoção de vários encontros científicos e a criação de grupos de trabalho para a elaboração de publicações que motivem e orientem a implementação de medidas com vista à conservação dos recursos genéticos. Paralelamente e com intuitos semelhantes, surgiram também várias organizações não governamentais de que são exemplos a "Rare Breed Survival Trust" e a “American Livestock Breeds Conservancy” fundadas em 1973 e 1977, respectivamente. Em 1992, a segunda Conferência das Nações Unidas sobre o ambiente foi um marco decisivo para a promoção da conservação dos recursos genéticos. Nela, mais concretamente na Convenção para a Diversidade Biológica (Convention on Biological Diversity) e na Agenda 21, foi confirmada a importância dos recursos genéticos dos animais domésticos como uma componente da diversidade biológica global; assim como, reconhecida a soberania de cada país sobre os seus recursos genéticos e a obrigação de os conservar. Tendo a FAO uma longa história de envolvimento na gestão global dos recursos animais, esta aceitou a responsabilidade de elaborar e coordenar uma "Estratégia Global para a Gestão dos Recursos Genéticos dos Animais Domésticos", tarefa que implementou em 1995 (FAO, 1999) e cujo objectivo consistiu em fornecer um mecanismo de comunicação e cooperação internacional para a gestão dos recursos genéticos. Para o efeito, em Abril de 1996, foi instalado um sistema de informação 2 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA “Domestic Animals Diversity – Information System" (DAD-IS) acessível pela internet1, onde vem sendo disponibilizada informação sobre as linhas orientadoras do programa. A componente técnica desta estratégia global envolveu os seguintes objectivos: a identificação, a descrição, o desenvolvimento, a utilização e a monitorização dos recursos genéticos; bem como o treino e o envolvimento de pessoas na sua gestão e a conservação de raças únicas ou em perigo de extinção. Destes, interessou-nos em particular a descrição da variação genética nas raças de animais domésticos, concretizada no projecto MoDAD (FAO Global Project for the Measurement of Domestic Animal Diversity), no qual se recomenda a utilização de marcadores moleculares altamente polimórficos, denominados microssatélites, e o cálculo de distâncias genéticas entre as várias raças (FAO, 1998b). Com a informação assim obtida pretende-se fornecer uma indicação, tão clara quanto possível, sobre a singularidade genética (“genetic uniqueness”) de cada raça, como base de apoio a uma gestão racional dos recursos financeiros a aplicar na conservação da diversidade genética. O nosso estudo foi enquadrado neste âmbito, tendo tido, por isso, em consideração os procedimentos recomendados nesse projecto global. Com ele pretendemos dar um contributo fiável, à luz dos conhecimentos actuais, à caracterização da diversidade genética, dentro e entre as raças portuguesas de ovinos, à sua hierarquização segundo a prioridade de conservação; adicionalmente, avaliar e ordenar os microssatélites utilizados quanto à capacidade de discriminação racial, utilizando para o efeito, a informação alélica relativa a 20 microssatélites em 717 animais. As raças envolvidas neste estudo foram a Churra Algarvia (CA), a Churra Badana (CB), a Churra do Campo (CC), a Churra Galega Bragançana (CGB), a Churra Galega Mirandesa (CGM), a Bordaleira de Entre Douro e Minho (BEDM), a Churra Mondegueira (CM), a Campaniça (CMP), a Churra da Terra Quente (CTQ), a Merina Branca (MB), a Merina da Beira Baixa (MBB), a Merina Preta (MP), a Serra da Estrela (SE) e a Saloia (SL). 1.2. ORIGEM DOS OVINOS DOMÉSTICOS A domesticação de animais teve um papel preponderante no desenvolvimento e expansão da civilização humana. A adaptação aos mais diversos meios (desertos, 1 http://www.fao.org/dad-is 3 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA montanha, pântanos, etc.) permitiu ao homem a sua exploração para fins muito diversos como a obtenção de alimentos (carne leite, ovos, etc.), a força de tracção, o vestuário (peles e fibras), a fertilização dos solos (estrume), a indústria farmacêutica, as actividades recreativas e religiosas, entre outras. Os ovinos foram dos primeiros animais a serem domesticados, acto que terá ocorrido há cerca de 11000 anos, a avaliar pela informação arqueológica proveniente de ossadas encontradas no Sudoeste Asiático, nas áreas dos actuais países Iraque e Irão (RYDER, 1984). O ovino doméstico (Ovis aries) terá, assim, tido origem nos ovinos selvagens que habitavam aquela região, onde ainda estão presentes os três principais grupos de ovinos selvagens Euroasiáticos: o muflão asiático (O. orientalis ), o "urial" (O. vignei ) e o "argali" (O. ammon ), cuja semelhança morfológica fez com que fossem apontados como eventuais ancestrais do ovino doméstico, ou que de alguma forma para ele teriam contribuído (MAIJALA, 1997). O muflão asiático terá também sido o ancestral do muflão europeu (O. musimon) (CLUTTON-BROCK, 1987). Com base na informação sobre o número de cromossomas, alguns autores consideraram que o muflão asiático foi o único ancestral do ovino doméstico, pois detém igual número de cromossomas (2n=54). No entanto, o facto de as fêmeas híbridas, resultantes do cruzamento de muflão e "argali", apresentarem um número intermédio de cromossomas (2n=55), mas produzirem óvulos com 27 cromossomas, deixou em aberto a hipótese de os ovinos domésticos também terem surgido, ou tido influência, de outros ovinos selvagens, nomeadamente do "argali" (MAIJALA, 1997). Com efeito, SCHWAIGER et al. (1994), utilizando informação de sequências de locus MHC-DRB haviam sugerido uma maior proximidade entre o ovino doméstico e o "argali" do que com o muflão. Pelo contrário, JUGO e VICARIO (2000), ao estudarem a variabilidade do mesmo locus em duas raças espanholas de ovinos (Latxa e Karrantzar) observaram uma maior semelhança com o muflão europeu, tendo aventado a hipótese de a maior ou menor semelhança com o muflão europeu, ou com o "argali", parecer depender das raças de ovinos domésticos em estudo. A análise filogenética da informação proveniente de RFLP’s (Polimorfismos de comprimento dos fragmentos de restrição) de DNA mitocondrial (mtDNA) de raças Euroasiáticas (HIENDLEDER et al., 1998) e da sequência da região controlo de mtDNA de ovinos da Nova Zelândia (WOOD e PHUA, 1996; HIENDLEDER et al., 1999) demonstrou a existência de duas linhagens maternas na origem do ovino doméstico. Os 4 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA resultados obtidos nestes estudos, além de apontarem para uma maior relação de proximidade entre alguns ovinos domésticos e o muflão europeu (O. musimon), sugeriram também uma exclusão do "urial" (O. vignei) e do "argali" (O. ammon) como ancestrais do ovino doméstico (HIENDLEDER et al., 1998). Posteriormente, HIENDLEDER et al. (2002) ao analisarem 63 sequências da região controlo do mtDNA de grupos de ovinos selvagens, tais como as duas espécies de muflão (O. musimon), o “urial” (O. vignei), o “argali” (O. ammon), o “bighorn” (O. canadensis), e de ovinos domésticos oriundos da Ásia, Europa e Nova Zelândia, confirmaram a existência de duas linhagens maternas (A e B), deduzidas pela distribuição dos ovinos domésticos em dois dos quatro principais ramos da árvore filogenética obtida. A relação de proximidade entre o ovino doméstico e as duas espécies de muflão num dos ramos, aponta-as como uma das linhagens, enquanto que a outra linhagem não apresenta relação com nenhum dos ovinos selvagens em estudo, permanecendo até ao momento o seu ancestral materno desconhecido (Figura 1). Grupo A Grupo B Grupo A (ampliado) Grupo B (ampliado) substituições por sítio substituições por sítio Figura 1. Relações filogenéticas entre as formas selvagens e domésticas do género Ovis. (adaptado de HIENDLEDER et al., 2002). Estudos posteriores vieram mostrar que, a par da grande variabilidade da região controlo do mtDNA do “argali” (WU et al., 2003), esta espécie encontrava-se dispersa por áreas não sobreponíveis, facto que poderá, de alguma forma, ter limitado as conclusões de HIENDLEDER et al. (1998; 2002) sobre a exclusão da contribuição do argali, uma vez que se pode admitir que a linhagem que eventualmente tenha 5 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA contribuído para o ovino doméstico não tivesse sido amostrada naqueles trabalhos, o que deixa esta questão ainda em aberto. Recentemente, foi identificado um terceiro halogrupo (C) em raças ovinas chinesas (GUO et al., 2005; CHEN et al., 2006), turcas (PEDROSA et al., 2005) e portuguesas (PEREIRA et al., 2006), e um quarto haplotipo (D) num único ovino de raça Karachai oriundo do Cáucaso (TAPIO et al., 2006). A distribuição dos haplotipos de mtDNA sugere uma elevada taxa de dispersão intercontinental e uma fraca estrutura populacional quando se consideram raças de uma mesma região geográfica (MEADOWS et al., 2005). Com base na dominância da linhagem B e na evidência arqueológica, tem sido apontado o muflão europeu como ancestral do ovino doméstico e o Oriente Próximo como a região mais provável da ocorrência da domesticação; contudo, ainda não foi possível estabelecer uma relação entre as referidas linhagens A, C e D com os ovinos selvagens, eventualmente devido a uma insuficiente amostragem em diversas regiões geográficas. No entanto, tudo indica que, à semelhança do que foi apontado para os bovinos (LOFTUS et al., 1994; MACHUGH, 1996; TROY et al., 2001), caprinos (LUIKART et al., 2001) e suínos (GIUFFRA et al., 2000; LARSON et al., 2005), a domesticação de ovinos terá ocorrido mais do que uma vez. A ser assim, ter-se-á dado em locais consideravelmente distantes, de forma isolada e independente, fenómeno designado de “domesticação vicária” (GEPTS e PAPA, 2002). Contudo, como não se pôde excluir a possibilidade de que a população selvagem fosse ela mesma polimórfica quanto ao mtDNA, nem eventuais ocorrências de introgressões posteriores de diferentes populações selvagens na população entretanto já domesticada, o número de linhagens maternas identificadas ao nível molecular não pôde ser interpretada como actos de domesticação independentes (ZEDER et al., 2006). A informação relativa à linhagem paterna é ainda bastante reduzida, devido ao pequeno número de genes conhecidos no cromossoma Y, e, por consequência, à ausência da sequência de DNA respectiva nas bases de dados, assim como ao baixo polimorfismo encontrado naqueles que são conhecidos (MEADOWS et al., 2004; LENSTRA e ECONOGENE, 2005; TAPIO et al., 2006). Há, no entanto, ainda muito por esclarecer sobre o processo complexo de domesticação dos animais domésticos e sua irradiação para os vários continentes, aspecto para o qual a informação genética e arqueológica continuará a dar o seu contributo valioso (RYDER, 1959; CLUTTON-BROCK, 1987; BRUFORD et al., 2003). 6 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA Alterações decorrentes da domesticação A domesticação provocou um conjunto de alterações nos animais sendo as mais facilmente perceptíveis relacionadas com a retenção de características juvenis, como sejam a submissão e a tolerância ao cativeiro (GEPTS e PAPA, 2002), a diminuição ou perda da sazonalidade reprodutiva (o que permitiu um aumento do número de crias); a selecção para a produção de lã (sem perda de velo), a redução do tamanho e a alteração da forma dos chifres, o aumento da cauda, etc. A selecção da lã para a cor branca apenas teve início no príncipio do século XX em resultado da sua maior adequação à indústria tintureira, sendo até aí a preta ou castanha e a cinzenta as mais comuns. Verificaram-se também várias oscilações de tamanho, tendo inicialmente sido seleccionados os animais de menor estatura, mas no período do império Romano assistiu-se a uma inversão desta preferência com um acréscimo significativo da altura, tendência que posteriormente se voltou a inverter (LALLEMAND, 2002). Uma das principais consequências da domesticação, ao contrário do que à primeira vista seria de esperar, foi o aumento da variabilidade morfológica e da subjacente diversidade molecular do ovino doméstico, relativamente aos seus congéneres selvagens (FORBES et al., 1995). Este facto explica-se pela manutenção de variantes (mutações não deletérias) que na natureza seriam normalmente eliminadas, mas cuja permanência foi favorecida pela elevada consanguinidade dos rebanhos iniciais (RYDER, 1984) e pelos efeitos de uma selecção artificial, mais ou menos inconsciente, associada a condições naturais e sócio-culturais. A posse de animais com características raras era, frequentemente, motivo de admiração e até de estatuto. Assim, numa primeira fase, o isolamento geográfico das diferentes tribos terá produzido uma elevada consanguinidade nos rebanhos, com a consequente fixação de características desejadas, determinando o surgimento de várias raças dispersas geograficamente. As migrações de povos e o desenvolvimento dos meios de transporte e do comércio, de que são exemplo histórico as do povo Fenício (1400-800 a.C.), as expedições militares de Alexandre o Grande, a expansão do Império Romano, a incursão dos Hunos na Europa, as Cruzadas, os Descobrimentos, etc., favoreceram o cruzamento das várias raças, aumentando quer o número destas quer a sua diversidade (MAIJALA, 1997). Como exemplo mais recente, podemos referir o caso da exportação da 7 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA raça merina espanhola nos últimos séculos, a qual esteve na origem de, pelo menos, 45 linhas de Merino ou raças resultantes do cruzamento com o merino, em pelo menos 27 países de todo o mundo (MAIJALA, 1997). O resultado final desta epopeia da domesticação foi o aparecimento de mais de 800 a 1000 raças de ovinos domésticos dispersas por todo mundo (MASON, 1996). No entanto, nas últimas décadas, tem-se assistido ao fenómeno inverso, com o decréscimo importante deste número em ritmo acelerado, o que suscitou várias iniciativas no sentido de inverter esta tendência, das quais se realçam as promovidas pela FAO (FAO, 1995; FAO e UNEP, 2000). Neste contexto, o conceito de raça aparece com especial relevo uma vez que constitui a unidade de estudo e conservação. Contudo, tal conceito tem estado envolto em alguma controvérsia, tendo sido sugeridas várias definições (RODERO e HERRERA, 2000; SIERRA ALFRANCA, 2001), algumas enfatizando mais os aspectos culturais associados à sua formação, outras destacando os aspectos biológicos ou científicos inerentes e outras, ainda, expressando um enorme pragmatismo ao referirem raça como ”tudo aquilo que um governo diz que é“ (LERNER e DONALD, 1966). De acordo com a FAO, uma raça consiste num “grupo sub-específico de animais domésticos com características externas identificadoras e definidoras que permitem separá-lo, por avaliação visual, de outros grupos semelhantes, definidos dentro da mesma espécie ou como um grupo, para o qual a separação geográfica e/ou cultural a partir de grupos fenotipicamente semelhantes, levou à aceitação da sua identidade separada” (FAO, 1999). No entender de SIERRA ALFRANCA (2001), esta definição encontra-se incompleta, uma vez que faltaria incluir a transmissão à descendência dos referidos caracteres, e outras características, não estimáveis por simples observações, mas muito definidores de uma raça como sejam o crescimento, a produção leiteira, e outros aspectos produtivos. 1.3. ORIGEM DAS RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS As espécies domesticadas foram dispersas um pouco por todo o mundo em consequência de vagas migratórias de vários povos, da acção mercantil, dos conquistadores e conquistados, tão frequentes na história da humanidade. A concepção das raças portuguesas de ovinos não diverge, nos seus aspectos gerais, do percurso que levou à criação das outras raças no mundo. Considerámos, contudo, que algumas 8 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA particularidades da sua história, descrita e vários textos da época e transcritos, alguns excertos na integra para não desvirtuarmos o seu sentido, é útil para contextualizarmos e aferirmos os nossos resultados. No que concerne à Península Ibérica, a chegada de ovinos terá sido efectuada, pelo menos, por quatro vias: a Mediterrânica, a Africana, a Pirenaica e a Levantiva (SIERRA ALFRANCA, 1992). Não considerando o caso particular do muflão, algo controverso (uma vez que da sua presença referida como muito antiga, não restam registos fósseis), os primeiros ovinos primitivos já semi-domesticados terão chegado à Península Ibérica por volta do V milénio a.C., oriundos da Ásia Menor, seguindo a via mediterrânea, tendo sido designados de "ovinos das turfas" (Ovis aries palustris de Rutimeyer), e caracterizados por possuirem uma cauda com 20 vértebras, ou seja, de tamanho intermédio (RYDER, 1983). De facto, e no que diz apenas respeito a Portugal, nos últimos anos têm vindo a ser encontrados vários vestígios ósseos da presença de ovinos datados do período neolítico, concretamente entre o VI e o V milénio a.C. Uma vez que as ovelhas selvagens são desconhecidas no registo fóssil ibérico, o seu aparecimento em contextos neolíticos sugere a sua introdução como animal já domesticado (MORENO-GARCÍA et al., 2003). Estes vestígios distribuem-se um pouco por todo o país, dos quais se pode referir, a título de exemplo, as escavações na Cabranosa (Sagres) (CARVALHO e CARDOSO, 2003), no Abrigo da Pena d’Água – Torres Novas (VALENTE, 1998; CARVALHO, 2003), em São Pedro de Canaferrim – Serra de Sintra (SIMÕES, 2003) e na Fraga d’Aia – S. João da Pesqueira (SANCHES, 2003). Durante os finais do segundo e todo o primeiro milénio a.C., chegaram à Península Ibérica, pela via Pirenaica, vários povos Indo-europeus o que, segundo SIERRA ALFRANCA (1992), terá implicado uma entrada maciça de ovinos na península e estado na base da génese de algumas das raças de lã média branca como a Aragonesa, a Manchega e a Segureña em Espanha. Ainda para o mesmo autor, a chegada dos Fenícios, entre os séculos XI e IX a.C., povo conhecido pela sua vocação comercial, terá determinado um grande avanço nas técnicas agrárias praticadas na Península bem como a introdução de vários animais domésticos de entre os quais os ovinos, oriundos da bacia mediterrânea e de diferentes partes do norte de África, o que representaria uma hipótese plausível para a origem da raça merina. A Ibéria já era famosa pela sua lã fina neste período de comércio com os Fenícios (BELDA e TRUJILLANO, 1986). 9 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA Aos Fenícios, seguiram-se os Gregos (século VII a.C.), os Celtas (século V a.C.), os Cartagineses (século III a.C.), os Romanos (meados de século II a.C. até ano 25 D.C. conquista), os Bárbaros (Alanos, Visigodos, Vândalos e Suevos) (século V D.C.) e os Muçulmanos (711 D.C.- 1249, Portugal, 1492, Espanha). Apesar da alternância de povos e de culturas, parece que os ovinos tiveram sempre um papel importante, como sugere o estudo de 18 níveis arqueológicos em Alcáçova de Santarém, datados do período que vai desde a idade do ferro até ao período muçulmano, onde foram encontrados com elevada frequência ossos de ovino (DAVIS, 2006). É de destacar o facto de se ter observado um aumento significativo do tamanho dos ovinos no período muçulmano, facto esse que pôde ser interpretado como resultado da selecção ou da introdução de novas raças (DAVIS, 2006). FRAZÃO (1982), citando Políbio, Plínio e Estrabão, escritores romanos dedicados às “coisas agrícolas”, refere que a Bética (província ao sul da Península Ibérica) era povoada, e largamente, por ovinos do tipo burdo, de que terá derivado o termo Bordaleiro, cuja lã e tecidos do seu fabrico eram muito afamados. Durante o período da reconquista e nos vários reinados que se seguiram, foram elaboradas várias disposições régias que visaram regulamentar a actividade da pastorícia, umas concedendo direitos aos pastores, caso dos reinados de D. Dinis e de D. Afonso IV, outras restringindo essa mesma actividade e favorecendo a agricultura, caso do reinado de D. Pedro I, o que terá determinado grandes oscilações no efectivo desta espécie. Contudo, não constam referências às características dos ovinos que povoaram então o reino de Portugal. A origem dos ovinos merinos portugueses está intimamente ligada ao merino espanhol, cuja história foi exaustivamente estudada por KLEIN (1979) no seu trabalho intitulado “La Mesta”. Este autor sugeriu que foi a tribo Beni Merin Berbers, oriunda do Norte de África, que introduziu os ovinos merinos em Espanha, durante o período dos Almohades, em meados do século XII. Em 1273, o rei Afonso X criou o “Honrado Consejo de la Mesta de Pastores”, que viria a personificar um dos grandes monopólios de então e seria responsável pela selecção, multiplicação e conservação de carneiros Merinos, promovendo uma indústria lanar famosa em todo o mundo. Atendendo à proximidade geográfica, à transumância, iniciada entre 1500 e 1570, na qual os rebanhos aproveitavam, no Inverno, as pastagens das terras quentes do sul de Espanha, seguindo no Verão para Norte, em direcção à meseta central (Ávila, Segóvia, Leão), 10 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA passando algumas das rotas por terras de Portugal, assim como o comércio com Espanha, favorecido no “período dos Filipes” (entre 1580 e 1640), facilmente se explica que a raça Merina tenha cedo exercido influência nas raças ovinas portuguesas. Todavia, o primeiro recenseamento pecuário só foi levado a cabo em 1870 e publicado em 1873, no qual BERNARDO LIMA realizou uma breve descrição dos ovinos portugueses com base na classificação usada na época para as raças europeias, e que assentava na qualidade dos seus velos, dividindo-as em três “tipos”: o Merino, o Estambrino e o Bordaleiro, subdividindo este último, considerado o mais abundante em Portugal, em três “variedades” o Bordaleiro Churro, o Bordaleiro Feltroso e o Bordaleiro Comum. Apesar dos limites inerentes a esta classificação, foi possível destrinçar algumas referências particulares a grupos de animais passíveis de se relacionarem com as raças actuais. Assim, dentro do “tipo Merino” fez referência ao “gado lanar alemtejano, dito raça dos barros, que apparece nas terras de Elvas, Campo Maior, vindo até Mourão” a qual, na opinião do autor “tem bastante similhança com a do merino estante ou sedentário das terras de barro da Extremadura hespanhola, da qual por sem duvida ella deriva”; ao “gado lanar branco das cercanias de Lisboa, dito raça fina saloia, e também bruscos finos, o qual tem por seus caracteres muita similhança com o gado dos barros do Alemtejo, sendo o de mais similhança o gado do concelho de Oeiras, onde se deparam rezes que se podem considerar até de merinos finos”; ao “gado lanar branco da terra quente do distrito de Bragança, dito gado badano, que estanceia de entre Torre de Dona Chama à Torre de Moncorvo”, considerando o autor, como provável, tratar-se de “uma raça mestiça do bordaleiro commum transmontano com o merino hespanhol”, donde se deduz estramos perante os antecessores das actuais raças Merina Branca, Saloia e Churra Badana, respectivamente. Não se pode, contudo, deixar de estranhar que os antecessores da Churra Badana pudessem ter sido classificados como pertencentes ao tipo merino. Mas este assunto será discutido mais adiante neste capítulo. Relativamente ao “tipo Bordaleiro”, foi também possível relacionar as raças actuais Churra Galega Mirandesa e a Serra da Estrela, uma vez que o referido autor as particulariza ao referir-se aos “carneiros de toda a bréa ou plan’alto de Miranda em Traz- os- Montes” e os “transhumantes da Serra da Estrella”. Além destas, parece evidente que se trata dos antecessores das actuais raças Merino da Beira Baixa e Merino Preto, uma vez que há concordância quanto à descrição dos animais e à sua localização 11 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA geográfica, quando refere “... deve observar-se que há entre os bordaleiros alguns, tanto pretos como brancos, que se aproximam pela disposição e forma da lã e pela fórma da cabeça, do typo merino, talvez por effeito da intervenção do sangue d’esta raça no bordaleiro de que se trata. É o que se nota nos carneiros brancos ditos das areias do distrito de Portalegre, e nos pretos de Serpa e Moura, do districto de Beja, os melhores carneiros pretos de todos do paíz pela qualidade da lã.” Ainda dentro do “tipo Bordaleiro”, concretamente nas variedades “Feltroso” e “Churro”, faz-se menção a um grupo de ovinos que se particulariza por possuir as pernas e a cara deslanadas, designado de “caréos, gado da serra, charnequeiro e gallego” conforme a região, presentes “em todos os distritos do reino, com especial incidência nas serras e charnecas dos distritos de Viana do Castelo, Braga, Viseu, Coimbra, Leiria, Santarém e Lisboa” que sugere tratar-se dos antecessores da actual raça Bordaleira de Entre Douro e Minho. No que concerne ao “tipo estambrino”, o referido autor considerou não haver animais que pudessem ser incluídos neste grupo. Contudo, referiu que “há bastantes carneiros, cujo vello puxa ao estambrino; e uns não são, a nosso juízo, senão a exageração do bordaleiro feltroso churro no predomínio de pellos cabrios, e churros se dizem vulgarmente, e apparecem tanto brancos como pretos por vários pontos do reino, sobretudo nos lugares serranos do districto de Viana. Outros não são senão a exageração de bordaleiros comuns, de lã altosa, aproximando-se dos lachas hespanhoes, e aparecem mais pelos districtos de Castelo Branco, Guarda, Vizeu e Bragança.” A localização geográfica mencionada e a conformidade de descrição sugerem tratar-se dos antecessores das actuais raças Churra Mondegueira e Churra do Campo. Em 1900, COSTA e CASTRO no trabalho intitulado “Le Portugal au point de vue agricole”, fizeram referência aos mesmos grupos particulares de animais de forma semelhante à de BERNARDO LIMA, mas usando uma terminologia diferente. Em vez de “typos” optaram pelo termo “raça” e consideraram a população ovina portuguesa constituída pelas raças Merina (com as variedades dos barros e saloia), Bordaleira (com as sub-raças Comum, Feltrosa e Churra) e pelas mestiças destas duas raças, nas quais incluiram o “gado das areias no norte do Alemtejo, o gado preto de Serpa e Moura e o gado badano de Trás-os-Montes”. Dessa descrição destaca-se os seguintes extractos, 12 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA por região, dos quais transparecem os primórdios da individualização das raças ovinas actuais: - “Na região do Minho, a maior parte dos carneiros pertencem à raça bordaleira e, nesta raça, são os animais churros e os feltrosos que dominam. Estes animais sãos os menos valiosos da sua espécie. Dá-se-lhe o nome de galegos para o qual se pretende significar a sua inferioridade. Também lhes é dado o nome de caréos, para exprimir que a suas cabeças estão desprovidas de lã. E como estes animais vivem ordinariamente nas pastagens mais magras das serras e nas charnecas, são também chamados de serranos e charnequeiros. Os carneiros mais típicos da raça churra encontram-se na província do Minho, onde se mantêm quase todo o ano nas serras do Suajo e Geres. Estes animais, muito rústicos, produzem um velo jarroso (− tradução livre de “jarreuse”), formado de pelos duros e longos, quer brancos, quer pretos. Esta lã é utilizada na região para o fabrico de tecidos grosseiros destinados aos camponeses. ... Os carneiros feltrosos são preferidos pelo seu velo mais lanoso; as fábricas da cidade de Braga utilizam muito esta lã para a confecção de feltros. Estes animais, menos rústicos, permanecem nas pastagens durante o dia e são recolhidos para um abrigo durante a noite. A raça merina tem também alguns representantes, mas não os melhores, no Minho. São chamados meirinhos, e normalmente acompanham os bovinos na pastagem e no estábulo.” − Esta descrição do gado ovino da região de Entre Douro e Minho realça a heterogeneidade que ainda hoje persiste e caracteriza a raça Bordaleira de Entre Douro e Minho, pondo já em evidência aquilo que hoje é designado de variedades do “campo “ e da “montanha” (PACHECO, 2002). - “Em Trás-os-Montes o gado ovino é formado pela raça bordaleira, com predomínio de churros, e pela excelente raça mestiça denominada badana, resultante do cruzamento dos bordaleiros com a merina. ... O distrito de Bragança é o mais rico em gado lanar. Na parte montanhosa e fria do Nordeste, denominada Terra Fria, vivem os carneiros churros, cuja lã, embora jarroso, é apreciada pelos camponeses devido à sua cor negra. Na região do sul ou Terra Quente, formada pelos vales férteis do Sabor e do Douro, onde o clima é suave, habita um gado mestiço badano, bastante corpulento, cujo velo branco, com mechas longas e frisadas, pesando de 4 a 6 kg. As ovelhas desta raça são excelentes leiteiras, e o seu leite destina-se ao fabrico de queijo do Freixo, muito apreciado no norte de Portugal.” − Diferencia-se, portanto, a raça 13 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA badana de outra (do tipo churro) localizada a norte, provavelmente a Churra Galega Bragançana; - “Os raros criadores que, na região do Douro, se preocupam em melhorar os seus ovinos, escolhem os carneiros provenientes do gado da Serra da Estrela e pretencente à sub-raça Bordaleira comum. Nas províncias da Beira os gados ovinos têm um papel considerável na economia agrícola destas regiões muito acidentadas onde se situam as duas serras mais altas de Portugal – as serras da Estrela e de Montemuro. Nestas montanhas encontram-se todos os anos no Verão numerosos rebanhos transumantes que, tendo hibernado nos vales férteis e quentes das bacias do Douro, do Vouga, do Mondego, do Zezere e de seus afluentes, assim como sobre os vastos campos do Alentejo ou nas regiões planas de Idanha-a-Nova no distrito de Castelo Branco, vão estivar sobre as vertentes e sobre os planaltos de Montemuro e da Estrela, folheando nestas pastagens, situadas até aos 1900 metros de altitude, a erva abundante e fina que lhes é recusada então nas planícies inferiores queimadas pelo sol. ... Cada rebanho, quase exclusivamente constituído por ovelhas da raça bordaleira pertence a vários pequenos produtores...” − A referência à transumância e a classificação dos animais como pertencentes à raça Bordaleira Comum sugere tratar-se dos antecessores da actual raça Serra da Estrela; - “O gado da variedade saloia, de velo branco, dos arredores da capital (Lisboa), provêm de merinos importados de Espanha, por volta de meados do século passado, pelo famoso ministro, o marquês de Pombal. Estes merinos permaneceram inicialmente em Oeiras; donde expandiram, para o Norte e Nordeste, até Torres Vedras e à Póvoa de Santa Iria” − Constitui uma referência clara à raça Saloia; - “Passando à vasta província do Alentejo, onde prevalece a cultura extensiva dos cereais com os pousios, podemos observar os melhores carneiros portugueses da raça merina pura, e outros da raça mestiça bordaleira-mestiça. Os primeiros habitam a região fronteiriça de l'este, depois Campo Maior e Elvas no distrito de Portalegre, até Mourão no de Évora, estendendo-se ainda a Montemór e Arroios, no centro deste último distrito. São chamados, em Portugal como em Espanha, merinos barros, nome português e espanhol que designa a qualidade argilosa do solo onde se encontra esta variedade de gado ovino, remarcável pelo velo amarelado...” − refere-se claramente à raça Merina Branca. “Os melhores rebanhos de mestiços encontram-se sobretudo no norte do distrito de Portalegre, a Niza, Gavião e Castelo de Vide, onde eles constituem 14 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA a variedade branca dita das areias, e ao Norte-Este do distrito de Beja, nos concelhos de Moura e Serpa, onde eles formam a variedade preta, que fornece a melhor e mais fina lã de Portugal.” − As actuais raças Merina da Beira Baixa e Merino Preto enquadram-se bem na descrição e localização geográfica apontada. - “Na região do Algarve, o gado ovino, bastante medíocre, é formado pela raça bordaleira e por alguns raros rebanhos de merinos habitando os concelhos ribeirinhos do Guadiana. O regime alimentar de todos estes animais é a pastagem sobre as montanhas e os pousios. Na primavera eles engordam bem e dão uma carne muito saborosa. A lã pouco abundante, serve para fabricar os tecidos destinados às vestimentas da população rural da região. Do leite das ovelhas, uma parte é consumido em fresco, e a outra é transformada em queijo quase tão bom como o do Alentejo. Os carneiros são em número bastante restrito no Algarve. Alguns concelhos interditam mesmo a sua passagem nos seus territórios, por causa dos danos que provocam por vezes nos campos cultivados.” − Apesar desta descrição não permitir estabelecer qualquer relação com as raças actuais, eventualmente tratar-se-ia de ovinos antecessores da raça Campaniça; é de realçar que este autor, à semelhança de BERNARDO LIMA (1873), não referiu a existência de ovinos com características morfológicas peculiares como as do Churro Algarvio, o que sugere que a sua eventual presença não era relevante. Os trabalhos de MIRANDA DO VALE (1905; 1907) pouco mais vieram acrescentar ao descrito por BERNARDO LIMA (1873) e por COSTA e CASTRO (1900) do que apontar uma eventual origem ancestral e destacar a heterogeneidade do gado ovino português. Assim, segundo MIRANDA DO VALE “a população arietina portugueza fórma-se á custa de dois troncos, o Ovis aries africana, e o Ovis aries iberica, dos quaes só o primeiro se encontra no estado de pureza, constituindo os merinos portuguezes, que, na sua quasi totalidade, descendem de recentes importações de hespanha; o resto da população arietina, bastante heteroclita, é constituida por produtos mestiços dos dois troncos e em que predominam ora uns ora outros característicos, é a chamada raça bordaleira.” − Ainda sobre o ovino Bordaleiro, que à semelhança de BERNARDO DE LIMA, dividiu-o nas variedades Comum, Feltrosa e Churra, refere − “a fraca fixidez de caracteres não permite a sua classificação como raça”...“é tão dificil determinar a area de dispersão dos mestiços, quão difícil é destrinçar o habitat de cada uma das variedades. Os bordaleiros estendem-se por todo o continente, em todos os districtos têm 15 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA representantes e talvez até nenhum concelho esteja deshabitado d’estes animaes. Fixar limites á irradiação das variedades é tarefa, não só difficil, mas talvez impossível, não só escasseiam elementos para esta delimitação, mas o mesmo rebanho póde no decorrer de poucos annos, de commum passar a feltroso e a churro, bastando para isso a negligência na selecção, porque o pello cabrio irá, como diz Cornevin, invadindo o vello como a ruim erva inça o campo cultivado”. Na mesma linha de ideias, MANUEL DE BRAGANÇA (1913) realçou também a dificuldade em diferenciar racialmente os ovinos portugueses ao referir “A maior parte dos nossos rebanhos, senão a quasi totalidade, ainda não possue, ao que nos parece, individuos d’um typo definido, embora variavel com as regiões. Encontram-se no mesmo rebanho individuos de todo o tamanho, variáveis na côr, de diferentes typos e raças, fornecendo carne e lã variavel de individuo para individuo, faltando uma certa uniformidade, tão necessaria n’um bom rebanho. Impõe-se, portanto, o melhoramento da nossa população ovina, e é pela fórma como teem procedido esses notaveis criadores que apontámos, que nós temos de proceder, se quizermos vêr desapparecer «o astroso, gafento e maltrapilho caréo»” Curiosamente, este autor, ao contrário dos anteriormente citados, não considerou a raça fina saloia e os bruscos como designações sinónimas mas antes variedades distintas de ovinos uma vez que referiu: “A variedade denominada raça fina saloia, dos arredores de Lisboa, cujos melhores exemplares povoam o concelho de Oeiras, parece ser descendente d’um rebanho que o Marquez de Pombal importou de Hespanha pelos annos de 1756 ou 1757. Este rebanho tem-se conservado bastante puro, de modo que, ainda hoje, se encontram n’aquelle concelho e nos limitrophes, carneiros corpulentos, de hastes retrocidas em coluta, cabeça arqueada e abundante gravata, cujos vellos, de finissima lã branca, dão em churdo 3 a 4 kilogrammas, quebrando na lavagem 60 a 70 por cento”. ...“Tambem nos arredores de Lisboa, para o lado de Olivais, Sacavem, existe um typo característico de carneiros denominados bruscos, porque apezar de brancos, têem a superfície de vello escura, o que é devido ao muito sugo da lã, a que se prende facilmente a poeira e outros corpos extranhos, que a sujam.” Ainda sobre o gado ovino da região de Lisboa, SILVESTRE DA SILVA (1935) escreveu “No distrito de Lisboa são exploradas as seguintes variedades de gado ovino: o caréu, o merino, o brusco fino (também denominado gado fino) e o saragoçano (gado ovino preto procedente do Alentejo). O brusco fino, nome clássico do gado ovelhum 16 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA saloio especializado na função leiteira, é também um grupo de gado lanar inicialmente oriundo do cruzamento do ovino africano com o dos Pirineus, mas cujas características se acham mais ou menos fixadas. ... Há ainda agricultores da região saloia que adquirem rebanhos de ovelhas desta variedade (saragoçano), lançando-os a reprodutores bruscos finos para, por meio do cruzamento contínuo, obterem ovelhas desta última variedade. Êste modo de proceder é de uso corrente porque os donos dos rebanhos bruscos finos só criam os indivíduos indispensáveis ao renovamento do rebanho; o grosso das crias vai para o talho ao atingir um mês de idade para se aproveitar a maior quantidade possível de leite, que obtém preço avultado no fabrico de queijo.” No entanto, MIRANDA DO VALE (1949) mostrou-se crítico quanto à eventual diferenciação, atrás apresentada, do gado ovino das proximidades de Lisboa, escrevendo sobre o assunto “dentro do grupo bordaleiro das proximidades de Lisboa, isolou-se um grupo, no qual por selecção, ginástica funcional da mama, melhores condições de alimentação e residência num clima favorável à produção de leite, se conseguiu uma exaltação das suas qualidades leiteiras. Este armentio tomou o nome de raça saloia. ...” − de que fez referência à sua distribuição geográfica e sistema de produção, para de seguida concluir − “há denominações aplicadas ao gado arietino, como sejam: careu, o brusco fino e o saragoçano, que se citam apenas para afirmar que pouco ou nada representam, e muito aflito se veria quem se metesse a estabelecer o mais pequeno caracter diferencial entre estes arietinos assim apelidados e os outros bordaleiros”. Este autor, citando um trabalho do Dr. BARREIROS NUNES, referiu que os merinos da Fonte Boa resultaram do cruzamento entre o merino espanhol importado de Sevilha com o merino Rambouillet e merino precoce. Alguns destes animais terão sido posteriormente disponibilizados para a reprodução aos criadores locais. O arrolamento de 1940, apesar de algumas deficiências que se prenderam com a distribuição e preenchimento das declarações, foi mais pormenorizado do que os anteriores, classificando os ovinos em churros e não churros. Nos respectivos relatórios elaborados pelos intendentes de cada distrito, publicados em 1945, foi feita uma breve caracterização dos ovinos de cada região, da qual foi extraída aquela informação que de alguma forma permitiu inferir uma trajectória histórica das raças ovinas. No que concerne à região do Minho, FERRAZ (1945), intendente de Braga, referiu que os arietinos “pertencem à sub-raça bordaleira e estão presentes nas três variedades comum, feltrosa e churra. Impossível fixar, mesmo aproximadamente, o número de 17 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA cabeças que cabem a cada variedade, por se encontrarem por vezes no mesmo rebanho animais pertencentes a mais de uma. A exploração arietina tem dois aspectos; a creatopoese toma lugar de função predominante nas zonas serranas, enquanto a eriopoese é o fim principal da ovinicultura na região mais baixa do distrito. ... Segundo a sua conformação e aspecto da lã, o vulgo designa os arietinos da região por meirinhos, campinos e galegos ou bravos. Os primeiros são os mais apreciados bordaleiros comuns, amerinados; nos restantes, feltrosos e churros, distinguem-se entre êles os campinos por maior desenvolvimento e melhor velo em virtude de pastarem nos campos, daí a sua designação, onde geralmente acompanham os bovinos”. Relativamente ao termo meirinhos, CORREIA DA COSTA (1945) é de opinião que o mesmo resultou da “deturpação bastante antiga do vocábulo merino”. Mais a Norte, para a intendência de Viana do Castelo, MACHADO DA SILVA DIAS (1945) referiu: “A espécie ovina é representada pelo bordaleiro churro nas zonas de altitude criado num regime pastoril e pelo bordaleiro amerinado nas baixas úberes do Minho e Lima cohabitando com o gado bovino, submetido como êste ao regime misto”. Tendo em conta a semelhança com a descrição realizada por COSTA e CASTRO (1900), podemos concluir que pouco ou nada mudou na realidade da produção ovina desta região desde 1900. Para a região de Trás-os-Montes, FELGUEIRAS JÚNIOR (1945), intendente de Bragança, referiu "... Os animais desta espécie pertencem à raça bordaleira, variedade churra, mas dentro da variedade encontram-se dois tipos bem diferenciados. O primeiro, galego ou bragancês, é constituido por indivíduos de maior estatura e o velo não excede dois quilogramas, em média. O segundo, o badano, é formado por animais mais ananicados, mas de melhor lã”. Ainda para a região de Trás-os-Montes, foi feita a seguinte referência peculiar ao gado ovino de Miranda: “de entre a grei ovina da região, a que produz melhor lã, é a de Miranda do Douro. O velo, mais tochado e com fêveras mais finas, é por vezes frisado, o que o faz assemelhar ao bordaleiro comum”. Este trabalho, foi o primeiro, por um lado, a utilizar a designação “bragancês” para os ovinos da Terra Fria e, por outro, a classificar, com base na lã, o ovino badano como pertencente ao tipo bordaleiro churro, bem diferente do que previamente acontecera, quer por BERNARDO LIMA (1873), que o classificara como pertencente ao tipo merino, quer por COSTA e CASTRO (1900) que referiram “As lãs dos carneiros do Alentejo não encontram rival senão no gado badano de Trás-os-Montes. A feira de São João, 18 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA realizada em Évora no 24 de Junho, é célebre pela transação que aí se realizam sobre este produto muito procurado pelas fábricas de lanifícios de Portugal e estrangeiro”. XAVIER e RODRIGUES (1955) no trabalho intitulado “O gado ovino badano do distrito de Bragança”, interrogaram-se sobre as razões que estiveram na base desta alteração da qualidade da lã na referida raça, tendo apontado as seguintes hipóteses explicativas: - A própria natureza do “substrato étnico do badano”, considerado como resultante do cruzamento do bordaleiro com o merino de que terá resultado uma inevitável “dissociação de caracteres” segundo as leis de Mendel favorecida pela limitação do comércio com Espanha em 1913 e portanto da importação do merino; - Alteração do critério de selecção para o peso do velo, em vez da qualidade, com consequente escolha de reprodutores que apresentavam lã sugosa à qual aderiam mais facilmente poeiras “responsáveis pela cor castanha” típica desta raça; - Abandono da raça por parte das entidades pecuárias e em matéria de alimentação e alojamento por parte dos criadores, em contraste com o que acontecera no mesmo período com a raça merina no sul do País. Relativamente à intendência de Castelo Branco, MAGRO (1945) fez referência a uma população arietina constituída por churros e bordaleiros, situando-se a área dos primeiros desde o limite das freguesias do concelho de Idanha-a-Nova a todo o de Penamacor, Belmonte, Fundão e Covilhã; enquanto a dos segundos estendendo-se “por tôda a área dos concelhos de Castelo Branco, Vila Velha de Ródão, Vila de Rei, Proença-a-Nova, sertã e Oleiros e metade do de Idanha-a-Nova; há ainda no da Covilhã uma pequena mancha entre Tortozendo, Unhais da Serrea, Cebola e Barco, onde êstes animais prevalecem sôbre os churros." Este autor apontou por um lado, uma tendência para a expansão dos bordaleiros e, por outro, uma influência crescente dos merinos, no bordaleiro. “Tendem os bordaleiros a expandir-se pouco a pouco, ocupando já no concelho de Idanha-a-Nova, área do ovino por excelência, as freguesias do Rosmaninhal, Zebreira, Ladoeiro, Idanha-a-Nova, Oledo e S. Miguel de Acha, e não tardará muito tempo a embrenharem-se pelos do Fundão e Penamacor. No limite norte da freguesia de Penha-Garcia, que confina com o segundo dos dois citados concelhos, uma sociedade agrícola ali existente tem já os seus rebanhos compostos exclusivamente de merinos e bordaleiros. Grande número de rebanhos bordaleiros dos concelhos de Idanha-a-Nova e Castelo Branco sofreram a infiltração do merino, sobretudo os da freguesia do Rosmaninhal, para onde foram levados alguns carneiros 19 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA espanhóis. Este gado não é corpulento e os terrenos são pouco calcários, mas produzem boa lã, da melhor do País, que tem franco consumo nas inúmeras fábricas da Covilhã, Tortozendo e Cebolais. A sua aptidão galactófora é de certo modo importante e uma das mais apreciadas na exploração da ovelha nas regiões de sudeste e noroeste. Com o leite desta fêmea, estreme ou misturado com o de cabra, se fabricam os afamados queijo da Serra e queijo de Castelo Branco”. Esta descrição constituiu um forte contributo sobre a origem da raça Merina da Beira Baixa. MAGRO descreveu ainda um grupo de ovinos churros das margens do Zêzere como “… muito semelhante ao mondegueiro, mais corpulento e melhor produtor de leite que o da restante área, mas sem dúvida bem mais inferior de lã”, que não fomos capazes de identficar, mas que ao compará-lo com o “mondegueiro” poderá constituir a primeira referência explicita a esta raça. Para o Alentejo, os intendentes de Beja e de Serpa, BETTENCOURT e PEREIRA, respectivamente, descreveram transformações importantes nas raças ovinas desta região. Concretamente referiram que “este gado, há cerca de 20 anos composto na sua maioria por bordaleiros, pretos na região dos barros e brancos na do campo, tem na última década sofrido completa transformação. (…) todos os rebanhos brancos da região dos barros são próximos descendentes do prêto cruzado com merinos de Andaluzia, com merinos da Fonte Boa (Estação Zootécnica Nacional) ou vindos do Ribatejo e ainda dêstes com o precoce francês (de Soissons e do Chatillon) (…) Nesta espécie (ovina) vem-se a notar nos últimos anos acentuada melhoria na corpulência dos indivíduos e na qualidade da lã. Muitos lavradores tẽem adquirido reprodutores merinos nos rebanhos mais conceituados dos criadores desta região, alguns tẽem-nos obtido nas mais acreditadas criações do Ribatejo, outros mandaram-nos vir de Espanha e dois proprietários do concelho de Serpa importaram merinos precoces franceses. (…) De 1937 para cá têem entrado no concelho de Serpa cêrca de 250 reprodutores procedentes do Ribatejo, entre machos e fêmeas, todos descendentes de merinos precoces franceses... em 1936 vieram 100 ovelhas merinas dos arredores de Sevilha...”(BETTENCOURT, 1945). Relativamente ao concelho de Odemira este mesmo autor refere “os arietinos são os de menos categoria do distrito de Beja, com predomínio do campaniço, muito inselecto e de fraco rendimento”. A designação dos ovinos desta região, como “campaniços”, foi avançada pela primeira vez neste arrolamento. Sobre estes ovinos, acrescenta ainda “Os ovinos brancos campaniços, até 20 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA há poucos anos do tipo bordaleiro fino, têem sido também ultimamente muito influenciados pelo merino da região dos barros e pelo da Andaluzia. Quanto a nós, esta orientação parece errada porque o merino é sem dúvida mais exigente e a diferença que porventura se venha a obter no preço da lã não compensa, de forma alguma as maiores despesas para o manter, isto sem considerar ainda a menor quantidade de leite que a ovelha produz …” (BETTENCOURT, 1945). Por sua vez, quanto à intendência de Elvas PEREIRA referiu “o gado lanígero da área desta Intendência de Pecuária pertence á raça chamada merina dos barros, (…) cuja melhor representação nestas paragens se encontra nos concelhos de Elvas e Campo Maior, são uns brancos e outros pretos (…) Pelo geral, os ovinos prêtos são mais corpulentos que os brancos e o melhoramento de uns e outros tem-se feito pelo emprêgo de sementais merinos transumantes espanhóis e com merinos da região de Santarém.” Também para a intendência de Setúbal, BARROS (1945) relatou a ocorrência de cruzamentos, neste caso, entre ovino saloio e alentejano na zona de Azeitão. Na região do Algarve, os ovinos pertenciam, na sua maioria, ao tipo bordaleiro nas suas três variedades e alguns do tipo merino (GOMES CALADO, 1945). Segundo este autor, “enquanto no Barlavento e na zona central até Tavira os ovinos são do tronco ibérico, variedade churra, no Sotavento há já infiltração do tronco africano”, acrescentando mais adiante “Dentre todos os ovinos algarvios, os de maior corpo e mais acentuada aptidão creatopoética são os dos concelhos de Silves, Loulé, Faro e parte de Tavira onde as fêmeas atingem 45 a 50 quilogramas de pêso vivo e os machos 80 a 90...”. O facto de se referir a animais churros com tão elevado peso vivo, deduz-se que se tratava dos antecessores da actual raça Churra Algarvia. Foi apenas nas decadas 50 e 60 que se realizaram, pela então Direcção dos Serviços Veterinários, vários trabalhos com o intuito de proceder à caracterização de algumas raças ovinas, quanto ao sistema de produção, ao efectivo e às variáveis morfométricas: produções de leite, carne e lã e sua qualidade. Estes trabalhos, viriam a constituir o alicerce para as designações raciais dos ovinos Portugueses. Em 1952, com base num trabalho de caracterização, em que foram utilizados 549 animais, recrutados de rebanhos dos concelhos de Mogadouro, Miranda do Douro, Vimioso e Bragança depois de medidos o peso vivo, o peso do velo e o diâmetro dos fios lanosos da espádua, PEREIRA e RODRIGUES chegaram à conclusão da existência de duas raças ovinas distintas na Terra Fria do distrito de Bragança, designadamente o 21 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA “ovino Galego Mirandês” e o “ovino Galego Bragançano”. Em 1954, PAIVA e GLÓRIA fizeram a caracterização de três variedades de ovinos no distrito da Guarda: o ovino Churro Mondegueiro, localizado nos concelhos de Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Guarda e Trancoso; o Churro Marialveiro no da Meda, onde se situa a povoação de Marialva que lhe deu o nome e nos de Vila Nova de Foz Côa, Figueira de Castelo Rodrigo, Almeida e Sabugal e o Bordaleiro Comum nos de Seia, Gouveia e Manteigas de onde é a variedade dominante e em parte dos de Celorico da Beira, Fornos de Algodres, Aguiar da Beira, Almeida, Pinhel, Guarda e Sabugal. A variedade de Bordaleiro Comum descrita corresponde à actual raça Serra da Estrela. Relativamente ao Churro Marialveiro, aqueles autores referiram “que em nada se distingue da ovelha Badana da Terra Quente do distrito de Bragança”, bem como a eventual existência de cruzamentos entre o Marialveiro e o Churro dito “do Campo”, no concelho de Sabugal. Esta constituiu a primeira referência explícita à designação “Churro do Campo”. Já quanto ao Mondegueiro, apontaram que “A sua expansão é devida à fama de excelente produtor de leite, razão porque tem sido cruzado com as outras variedades, principalmente com o Marialveiro. (...) A fama da acentuada vocação galactófora do Mondegueiro ultrapassou mesmo os limites do distrito, pelo que se exportaram para a Terra Quente do distrito de Bragança em tempos animais deste tipo.” Este aspecto tem especial relevância para o estudo da origem da raça Churra da Terra Quente, mencionada adiante. Em 1959, TEÓFILO FRAZÃO procedeu à caracterização dos ovinos de raça Campaniça do Campo Branco Alentejano, tendo o seu trabalho sido publicado apenas em 1982 (FRAZÃO, 1982). Este autor contestou a ideia, prevalecente até à época, de que a raça Campaniça teria resultado do cruzamento entre o tronco Africano e o Ibérico e defendeu tratar-se de um terceiro tronco distinto, que designou de “bordaleiro fino”, argumentando que “se se trata-se dum produto heterozigoto, como se tem suposto, não deixaria o atavismo de se manifestar, e haviam de aparecer semelhanças com os progenitores, que nunca vimos”. Acrescenta ainda “Também não se compreende que dum perfil recto e outro côncavo tivesse saído uma convexidade tão acentuada como é esta do «Bordaleiro comum», no qual está incluído o «Campaniço»”. Assim, o ovino campaniço seria na opinião deste autor “um dos abencerragens do ovino burdo mais fino que povoava intensamente a nossa península” que estaria na base da afamada lã da Bética e da Turdetânia referida por autores romanos. 22 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA Em 1963, foi publicado o trabalho de PEREIRA intitulado “O Churro Algarvio” que realizara em 1959. Este trabalho compreendeu, além da caracterização morfológica e produtiva, a origem e a evolução histórica da referida raça. Segundo este autor, a primeira referência conhecida sobre uma raça ovina com as características do Churro Algarvio datava de 1934 e nela FRANÇA E SILVA relativamente à região algarvia, referiram que “a raça predominante é o carneiro churro de lã longal, que fornece excelente matéria prima para a indústria local de mantas e colchões. As suas peles são muito apreciadas para tapetes. O churro algarvio é notável pela sua corpulência e decidida aptidão cevatriz, atingindo pesos excepcionais em carne”. As características morfológicas peculiares do Churro Algarvio foram corroboradas, posteriormente, por LUCAS (1941), no seu relatório “Acerca do Arrolamento Geral de Gados” de 1940, ao descrever que “devemos aqui destacar o Algarve como única região onde mercê de condições particulares, e de ausência de cruzamentos com outros tipos, o arietino churro reproduz, com vincada fidelidade, as características do Tronco Ibérico, de que deriva”. Esta singularidade ter-se-á mantido, uma vez que PEREIRA (1963) refere que “nada consta dos princípios, fundamentos e esquemas sobre o seu melhoramento, o que nos leva a concluir que praticamente, nunca foi feita qualquer tentativa atinente a valorizar este efectivo...”. Por outro lado, o mesmo autor menciona que “de entre as características morfológicas a que mais interessa aos pastores, embora pareça incrível, é a forma e disposição dos chifres que regionalmente se designa chapéu, a qual exigem bem aberta de espiral larga e horizontal (...) e relegam para plano absolutamente secundário, a extensão do velo, a corpulência, a conformação, etc.” Quanto à origem desta raça, o referido autor escreveu “Demais, sendo o churro Algarvio étnica e morfologicamente semelhante ao da Andaluzia, acantonado em Lebrija, Los Palacios Villafranca, Cadiz, Huelva, etc, tudo leva a crer que desde há muito habitasse também o Algarve, e que dadas as relações comerciais e de trocas de gado com o País vizinho, se tivessem importado em larga escala de Huelva, com vista a um melhor aproveitamento dos recursos pascigosos que ao tempo, eram dominantemente constituídos por matos, que os bordaleiros comuns e os merinos não seriam capazes de convenientemente aproveitar”. Num trabalho de colaboração, com o objectivo de caracterizar as raças ovinas mediterrânicas, RAMOS DA COSTA (1964) reuniu informação acerca de 13 raças portuguesas que classificou, de acordo com a lã, em três grupos: 23 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA - O Merino, de lã fina, de que faziam parte as raças Merina Branca, Merina Preta e Merina da Beira Baixa; - O Churro, de lã grosseira, que incluía as raças Galega Bragançana, Galega Mirandesa, Badana (ou Marialveira), Mondegueira, Churro do Campo e Churra Algarvia - O Bordaleiro, de lã intermédia, constituído pelas raças Entre Minho e Douro, Serra da Estrela, Saloia e Campaniça. Deste estudo, destaca-se o estabelecimento das designações raciais das populações ovinas portuguesas, que ainda hoje permanecem, a elaboração de um mapa da sua distribuição e a reclassificação de algumas delas quanto ao tipo de lã, caso da Saloia e da Badana, consideradas previamente como tipo merino. Na opinião de RAMOS DA COSTA, a raça Churra Algarvia terá derivado da importação do Churro Lebrijano ou Merismeño, por volta de 1870-90. A classificação proposta por RAMOS DA COSTA foi posteriormente usada por diversos autores em trabalhos de caracterização da ovinicultura portuguesa, designadamente por SOBRAL (1978) e por BORREGO (1985a; 1985b). A influência de raças estrangeiras, nomeadamente do Merino Precoce e do Merino Espanhol no Merino da Beira Baixa, foi apontado por TROPA et al. (1967) que mencionaram ”há que considerar que a população Merina das Areias está hoje fortemente influenciada por Merino Precoce e também por Merino Espanhol, tendo sido desviada em grande parte do tipo leiteiro que em tempos a caracterizava. A valorização das lãs que teve lugar na década 1940-1950 – enquanto se manteve estacionário o preço do leite – levou à introdução daquelas raças em extensão apreciável”. Em 1987, a Direcção Geral de Pecuária publicou um trabalho intitulado "Recursos Genéticos" onde reuniu informação relativa à caracterização morfológica, produtiva e reprodutiva de catorze raças ovinas e cinco raças caprinas portuguesas (SOBRAL et al., 1987). Neste trabalho foi individualizada uma nova raça ovina, a Churra da Terra Quente que, segundo os autores, derivou “do encontro da Mondegueira com a Badana e que ocupa toda a área da terra quente e alguns concelhos do distritos de Vila Real e Guarda”. 24 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA Todavia, formalmente, uma raça é reconhecida como tal quando uma associação de criadores é instituída para a promover ou é publicado um livro genealógico (MASON, 1996). Em Portugal, a Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela (ANCOSE) foi a primeira a ser criada em 1981 e o livro geneológico correspondente em 1984. Da análise da Tabela 1 pode-se concluir que os anos noventa foram profícuos na criação de associações de criadores de raças ovinas, tendo sem dúvida os fundos comunitários constituído um incentivo importante. No que respeita à raça Churra do Campo, não se chegou a constituir nenhuma associação de criadores, o que em muito terá contribuído para que, apesar do seu efectivo rondar os 35 mil animais em 1987 (SOBRAL et al., 1987) e se terem passado menos de duas décadas, esta raça fosse dada como extinta em 2004 (TELO DA GAMA et al., 2004), constituindo assim um exemplo de como o papel das associações de criadores é fundamental na sustentabilidade das raças e na conservação do seu património genético. 25 Associação de criadores 26 1994 1991 1991 1994 1987 1987 1992 1987 1986 1991 1984 1995 1987 1991 1993 1996 1987 1983 1990 1989 1984 1989 1981 1987 Em risco Em risco Em risco Em risco Em risco Em risco Em risco Em risco Em risco 2000 2500 2705 8164 4680 4500 4650 50023 23000 4517 5700 13187 4500 1999 3000 2705 8164 4680 4500 4700 52253 23000 4517 5700 11106 4729 5822 13018 6500 3977 23000 43719 4952 4950 4976 8856 1926 2500 - 2001 6887 13323 8500 3792 23000 34377 4939 4850 6125 9524 1924 2500 4500 2002 Efectivo 7764 13288 8500 5481 23000 27903 4939 3212 6895 9555 2039 1353 4990 2003 7150 13288 9000 6214 23000 33026 5000 2863 7352 9555 2039 1353 4288 2004 7281 15303 9000 7515 23000 31100 5849 3500 7823 9585 2039 2220 8614 2005 7281 21300 9000 7515 23000 29299 6440 3500 7823 9585 2691 2220 8924 2006 Informação obtida junto das associações de criadores e da Dra. Filomena Afonso da Direcção Geral de Veterinária; BEDM – Bordaleira de Entre Douro e Minho, CA - Churra Algarvia, CMP - Campaniça, CB – Churra Badana, CGB – Churra Galega Bragançana, CGM – Churra Galega Mirandesa, CM – Churra Mondegueira, CTQ – Churra da Terra Quente, MB Merino Branco, MP – Merino Preto, MBB – Merino da Beira Baixa, SL – Saloia, SE – Serra da Estrela. BEDM Associação de Criadores de Bovinos da Raça Barrosã (AMIBA) CA Associação de Criadores de Gado do Algarve (ASCAL) CB Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Badana CGB Associação Nacional dos Criadores da Raça Churra Galega Bragançana (ACOB) CGM Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa (ACOM) CM Associação de Produtores de Pequenos Ruminantes da Bacia Hidrográfica do Côa (COVICÔA) CMP Associação de Criadores de Ovinos do Sul (ACOS) CTQ Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra da Terra Quente (ANCOTEQ) MB Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME) MBB Associação de Produtores de Ovinos do Sul da Beira (OVIBEIRA) MP Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME) SE Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela (ANCOSE) SL Associação de Criadores e Reprodutores de Gado do Oeste (ACRO) Raça Início do Estado Ano de registo de criação zootécnico risco 1990 2000 Em risco Tabela 1. Evolução do efectivo das raças ovinas portuguesas entre 1999 e 2006. Capítulo 1 – As raças portuguesas de ovinos e os marcadores de DNA Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA 1.4. MARCADORES MOLECULARES NO ESTUDO DA DIVERSIDADE GENÉTICA DAS RAÇAS DE ANIMAIS DOMÉSTICOS Durante as últimas décadas, o desenvolvimento de técnicas bioquímicas e moleculares permitiu grandes progressos no estudo da estrutura populacional e na compreensão da história evolutiva dos seres vivos em geral. A aplicação destes métodos às populações de animais domésticos abriu novos campos de investigação. O objectivo deste sub-capítulo é fazer uma breve resenha das principais ferramentas moleculares disponíveis para caracterizar a diversidade e as relações filogenéticas entre as populações de animais domésticos. A abordagem incidirá essencialmente nos princípios sobre os quais assentam, nas vantagens e desvantagens de cada uma delas, procurando justificar a escolha dos microssatélites como marcadores, assim como a referência a alguns exemplos do seu uso no âmbito das populações domésticas. 1.4.1. Métodos Proteicos A primeira descrição da variabilidade ao nível bioquímico realizou-se no princípio do século XX em humanos, após a descoberta dos grupos sanguíneos A, B e O. Não obstante, foi necessário esperar pela década de sessenta para surgirem os primeiros estudos que abordam os processos evolutivos com base em técnicas moleculares de proteínas (LEWONTIN e HUBBY, 1966), trabalhos estes revistos por LEWONTIN (1991). Graças à técnica de electroforese em gel foi possível revelar as variantes proteicas ou alozimas (diferentes formas de uma mesma proteína). Esta técnica é baseada numa migração diferencial das proteínas através de um gel sob o efeito de um campo eléctrico. A migração é então uma função da carga eléctrica total, da conformação e do peso molecular das proteínas. Os estudos de variantes proteicas rapidamente se transformaram numa ferramenta de referência para a investigação da variação bioquímica e forneceram os primeiros meios para estimar a variabilidade do genoma. Estes marcadores foram, e são ainda, largamente usados para estudos de genética de populações, quer com o objectivo de caracterizar a diversidade das raças humanas (NEI e ROYCHOUDHURY, 1974a), de ovinos (ORDÁS e PRIMITIVO, 1986; ORDÁS e SAN PRIMITIVO, 1986; TUÑÓN et al., 1989; ZANOTTI CASATI et al., 1990; MISSOHOU et al., 1999), de bovinos (BLOTT et al., 1998; 27 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA CERIOTTI et al., 2003), de caprinos (SELVARAJ et al., 1991a), de búfalos (SELVARAJ et al., 1991b) e de equinos (BUIS, 1976), quer para estabelecer as relações evolutivas entre diferentes espécies (NGUYEN e BUNCH, 1980). O estudo das alozimas constituiu um grande avanço pois até então os métodos disponíveis consistiam apenas na observação de caracteres morfológicos e quando estes tinham carácter dominante, em estudos de segregação mendeliana por cruzamentos orientados. No entanto, apresentam algumas limitações como marcadores genéticos, nomeadamente um polimorfismo relativamente baixo e a exigência de métodos de purificação e sequenciação muito laboriosos e caros, determinando, assim, que o polimorfismo proteico seja, na prática, identificado pela técnica de electroforese em gel. A separação das variantes proteicas nesta técnica assenta na diferente carga eléctrica que os aminoácidos constituintes das proteínas possuem, e cuja substituição, em caso de mutação, implicaria alteração da carga e portanto da mobilidade. Contudo, estima-se que apenas um quarto de todas as substituições aleatórias de códãos que levam à substituição de um aminoácido por um outro, resultará numa mudança de carga eléctrica (LEWONTIN, 1991). Além disso, diferentes códãos codificam para um mesmo aminoácido, subestimando, portanto, a variabilidade genética em caso de “substituições silenciosas”. Os factores que influenciam a capacidade da electroforese para detectar a variação proteica foram estudados por RAMSHAW et al. (1979). 1.4.2. Métodos de DNA A molécula de cadeia simples do ácido desoxirribonucleico (DNA) é um polinucleótido constituído por quatro nucleótidos: Adenina (A), Timina (T), Citosina (C) e Guanina (G), cujo ordenamento define uma sequência. A cadeia dupla de DNA consiste em dois desses polímeros unidos por pontes de hidrogénio através de pares específicos de nucleótidos de tal forma que a sequência de uma cadeia define a sequência da cadeia homóloga (SALADIN, 2004). A dupla cadeia é torcida em hélice e estruturalmente estabilizada e empacotada à volta de proteínas nucleares, as histonas (Figura 2). Este complexo, designado por cromatina, pode ser empacotado e condensado em grau variável, conforme a fase do ciclo celular, tornando possível a visualização individualizada dos cromossomas (que no caso concreto dos ovinos domésticos são em número de 54) quando este processo atinge o seu valor máximo. 28 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA Ponte de Hidrogénio Figura 2. Esquema representativo da constituição e da organização da molécula de DNA (adaptado de SALADIN, 2004). Por detrás desta simplicidade de constituição, o DNA encerra uma enorme complexidade estrutural e funcional que tem vindo a ser desvendada nas últimas décadas e que consta de várias obras tais, como as de USSERY (2002) e LEWIN (1994). Para o âmbito deste trabalho importa destacar apenas uma breve descrição orientada na perspectiva de clarificação da natureza dos diferentes marcadores moleculares de DNA mais correntemente utilizados no estudo da diversidade genética de populações de seres vivos. O facto de se ter constatado que a quantidade de DNA do genoma dos eucariontes em geral não estava correlacionada com a complexidade dos organismos respectivos, aspecto que ficou designado de “paradoxo do valor C” (GREGORY, 2002), deixou, durante algum tempo, intrigada a comunidade científica. O estudo da taxa de renaturação do DNA veio trazer alguma luz na resolução deste paradoxo, uma vez que permitiu identificar três fracções (Figura 3) que diferiam nesse parâmetro e que se apresentavam muito variáveis entre espécies. A primeira, com uma taxa de renaturação mais elevada, associada à presença de sequências muito repetidas; uma segunda, com uma taxa intermédia, associada à presença de sequências medianamente repetidas e a terceira, com renaturação mais lenta associada a sequências únicas (STUDER e EPPLEN, 1990). O desenvolvimento da técnica de sequenciação do DNA permitiu, por um lado, confirmar os resultados desses estudos prévios e, por outro, constatar uma ordem linear 29 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA de unidades funcionais – os genes - semelhante entre espécies próximas, reflectindo um ancestral comum. Altamente repetitivo % de DNA de Cadeia Simples 100 Medianamente repetitivo 50 Cópia única 0 0,1 1 10 100 Log Cot Figura 3. Curva de renaturação do DNA (adaptado de STUDER e EPPLEN, 1990). Por outro lado, o DNA eucariótico pode também ser dividido em sequências codificantes e não codificantes (Figura 4). As primeiras, que podem representar na espécie humana apenas 1,5% do genoma, sendo, normalmente, de cópia única, codificam genes, ou seja, transcrevem para proteínas, enquanto que as segundas são candidatas a uma função estrutural ou de regulação. Figura 4. Divisão sequencial do genoma humano em componentes de DNA tipo (adaptado de BENNET, 2000). 30 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA No conjunto, as sequências de cópia única representam cerca de 50 a 60% do genoma dos mamíferos (LODISH et al., 1995). As regiões medianamente repetitivas, geralmente não codificantes e bastante heterogéneas, são constituídas por sequências com maior ou menor repetição, são dispersas no genoma, ou seja, alternadas com sequências de DNA não repetitivo e constituem cerca de 25 a 40% do genoma dos mamíferos (LODISH et al., 1995). Entre elas há dois tipos particularmente conhecidos e que são diferenciados apenas pelo tamanho, os LINE (Long Interspersed Elements) com mais de 500 pares de bases (pb) de comprimento e os SINE (Short Interpersed Elements) com comprimento menor do que esse valor. Algumas sequências dos dois tipos têm a capacidade de se transpor para novos locais na molécula do DNA celular, sendo por isso designadas como elementos transponíveis (transposable elements). As repetições Alu, assim nomeadas por conterem um sítio de corte da enzima de restrição Alu I, são específicas dos primatas e são provavelmente os SINE mais conhecidos. Estes consistem em sequências de DNA de aproximadamente 280 pb, imperfeitamente repetidas cerca de 750 milhares de vezes, constituindo 5% do genoma humano (BENNETT, 2000). Nos animais domésticos foram também identificados vários SINE’s e LINES’s (BUCHANAN et al., 1993; KOSTIA, 2000; NIJMAN et al., 2002b; STRATIL et al., 2003). O DNA altamente repetitivo, cerca de 10 a 15% nos mamíferos (LODISH et al., 1995), é composto por pequenas sequências (unidades) dispostas em rosário (tandem), de forma adjacente e podendo, de acordo com o tamanho dessa unidade e do número de vezes que ela se repete, constituir-se como satélites, minissatélites e microssatélites. Os mecanismos geradores deste tipo de DNA repetitivo incluem a amplificação génica através de processos como a replicação deslizante (replication slippage) (LEVINSON e GUTMAN, 1987b; SCHLOTTERER e TAUTZ, 1992), a amplificação em círculo rolante (rolling circle amplification), o sobrecruzamento (crossing-over) desigual e a mutação por substituição de bases (CHARLESWORTH et al., 1994; SCHOFIELD e HSIEH, 2003). A importância de cada um destes processos depende do tipo de DNA repetitivo em causa. Os satélites foram o primeiro tipo de DNA repetitivo em rosário a ser descoberto, devendo-se a sua designação ao facto de ter sido primeiramente identificado como um 31 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA pico de absorção secundário que se separava do grosso do DNA, quando este era submetido a uma ultra-centrifugação em gradiente de densidade (Figura 5). Banda principal de DNA Satélites ricos em A+T Absorvência Satélite rico em G+C Gradiente de densidade Figura 5. Separação dos satélites e da banda principal de DNA na cobaia, em gradiente de densidade de Ag2+/Cs2SO4 (adaptado de CORNEO et al., 1970). Posteriormente, na espécie humana, e de acordo com a mesma técnica, foram identificados vários picos de absorção e designados por satélites I, II, III, IV e alfóide (SINGER, 1982). Nos satélites, os motivos repetem-se centenas de milhares de vezes, sendo sobretudo o resultado de fenómenos de duplicação/amplificação. Estes localizam-se preferencialmente nas regiões de heterocromatina dos centrómeros dos cromossomas e parecem exercer funções de alinhamento cromossomal durante a meiose e a mitose. São em regra característicos de cada espécie ou de espécies relacionadas. Nos minissatélites, as unidades de repetição têm um tamanho de 6 a 100 pb (VERGNAUD e DENOEUD, 2000) ou 10 a 50 (JOBLING et al., 1998) e o seu comprimento total atinge aproximadamente 100 pb a 20 kb. Os minissatélites também são designados de VNTR (Variable Number of Tandem Repeats) (SHRIVER et al., 1993; VERGNAUD e DENOEUD, 2000). De acordo com BENNETT (2000), os minissatélites podem ser subdivididos em teloméricos e hipervariáveis. Os primeiros consistem em repetições de hexanucleotídos (principalmente TTAGGG) com cerca de 10 a 15 kb de comprimento que são adicionados aos telómeros pela telomerase. Atribui-se a este tipo de DNA uma função protectora que se opõe à erosão das terminações cromossómicas e fornecedora de um meio para a replicação completa das sequências teloméricas. Pensa-se também que possa desempenhar um papel no emparelhamento e orientação dos cromossomas 32 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA durante a divisão celular (BENNETT, 2000). O segundo tipo, ou seja os minissatélites hipervariáveis, não se limitam às regiões teloméricas e consistem em repetições de um motivo formado por 6 a 50 nucleótidos e um tamanho total muito variável com o indivíduo num mesmo locus. Esta característica valeu-lhes a designação de VNTR (Variable Number of Tandem Repeat), estando na origem de um tipo de marcador molecular conhecido por fingerprints que será descrito mais adiante. Os minissatélites fazem parte do genoma praticamente de todos os mamíferos, estimando-se para o caso da espécie humana uma frequência média de 9,1 minissatélites por cada mega base (Mb) de DNA genómico (NASLUND et al., 2005). A percentagem de minissatélites que se localizam nas regiões sub-teloméricas é cerca de 90% em humanos, 66% em suínos e 30% em ratos (AMARGER et al., 1998). A evolução do número de cópias dos motivos que constituem os minissatélites é relativamente rápida e julgando-se ser originada por sobrecruzamento desigual durante a meiose (BENNETT, 2000). Os microssatélites são uma classe específica de sequências de DNA repetitivo em rosário (tandem) na qual o motivo repetido contém 1 a 5 pb, podendo repetir-se até cerca de 100 vezes (TAUTZ e SCHLÖTTERER, 1994). Na literatura encontram-se também outras designações tais como: STRs (Simple Tandem Repeats), muito comum na ciência forense (BUTLER et al., 2001), mas que outros autores utilizam especificamente para os tri e tetranucleótidos (EVETT et al., 1996; HAHNER et al., 2000); SSR (Simple Sequence Repeats) (LI et al., 2002b); VNDR (Variable Number of Dinucleotide Repeats) (DUFOUR et al., 2004); VSSM (Variable Simple Sequence Motifs) (NANBA et al., 1996); SSLP (Simple Sequence Length Polimorfism) (FARBER e MEDRANO, 2003); STMS (Sequence Tagged Microsatellite Sites) (LAGODA et al., 1998). O polimorfismo dos microssatélites parece ser devido à variação no número de repetições (WEBER e MAY, 1989). Os microssatélites foram encontrados no genoma de quase todos os organismos até agora estudados (TÓTH et al., 2000). Em média, estas sequências repetitivas ocorrem uma em cada 10 kb de sequência de DNA sendo tal frequência mais elevada do que a que seria de esperar com base na distribuição aleatória das bases que compõem o genoma (TAUTZ, 1989; COX e MIRKIN, 1997; PUPKO e GRAUR, 1999). A frequência de cada motivo de repetição é variável com a espécie e normalmente apresenta uma relação inversa com o seu tamanho. A título de exemplo, podemos referir que os 33 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA mononucleótidos “A” e “T” estão presentes no genoma humano, num número aproximado de 500 mil loci, enquanto que os pentanucleótidos são estimados apenas em alguns milhares (BENNETT, 2000). Em drosófilas e na maioria dos mamíferos, o motivo “CA” é o dímero mais frequente, tendo sido obtido para os ovinos uma frequência média de um microssatélite “CA” em cada 65 kb (BUCHANAN et al., 1993), semelhante ao encontrado para os humanos nos quais o intervalo médio foi de 60 kb (LUTY et al., 1990), mas muito diferente do obtido em ratos e cobaias, onde as repetições de “CA” foram encontradas, em média, a cada 18 e 21 kb respectivamente (STALLINGS et al., 1991). O motivo “TA” é o mais abundante em Arabidopsis thaliana e em fungos enquanto o motivo “CT” predomina em Caenorhabditis elegans. Os microssatélites são cinco vezes menos abundantes nos genomas de plantas do que nos de mamíferos. O motivo de repetição mais comum nas plantas é o dinucleótido “AA” seguido do “AT” e “CT” (LAGERCRANTZ et al., 1993). De acordo com as características e disposição do motivo repetido podemos classificar os microssatélites em: Microssatélites perfeitos – constituídos apenas por um motivo de repetição (ex. CACACACACACACACA); Microssatélites compostos – constituídos por mais do que um motivo de repetição (ex. CACACACAGCGCGCGCGC); Microssatélites imperfeitos – quando uma ou mais unidades do motivo de repetição sofreu uma mutação (ex. CACACACTCACACACA; Microssatélites interrompidos – aqueles que contêm uma inserção de um ou mais nucleótidos separando os motivos de repetição (ex. CACACACAGTAACACACACA). Esta classificação, contudo, nem sempre é fácil, uma vez que os microssatélites propriamente ditos são frequentemente flanqueados por sequências de nucleótidos muito mais parecidas com eles do que com o restante DNA envolvente, o que dificulta o estabelecimento rigoroso de fronteiras (HRABCOVA e KYPR, 2003). 1.4.3. Marcadores moleculares A observação de que a composição sequencial do DNA é específica (única) de cada indivíduo, apenas igual entre gémeos verdadeiros e a constatação do carácter 34 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA altamente polimórfico de grande parte do DNA repetitivo em rosário, permitiu que esta última característica fosse utilizada para marcar ou mapear o genoma de várias espécies, particularmente de animais domésticos. Os métodos aplicados na detecção desse polimorfismo sofreram uma evolução ao longo dos anos e variaram de acordo com o tipo de sequência em causa. Atendendo à importância que constituiu a descoberta da técnica da Reacção em Cadeia da Polimerase (PCR - Polymerase Chain Reaction), objecto do prémio Nobel em 1993, optou-se por descrever os métodos de detecção de polimorfismo em dois períodos: antes e após a PCR. 1.4.3.1. Métodos pré-PCR A metodologia com base na análise de RFLPs (Restriction Fragment Length Polymorphism) consiste na digestão de DNA genómico alvo, utilizando endonucleases bacterianas purificadas que cortam o DNA em sequências específicas dando origem a fragmentos de tamanho diferente. O produto de digestão é depois separado por electroforese em gel e posteriormente transferido para uma membrana de nylon, processo denominado de Southern blotting. De seguida, procede-se a uma hibridação à temperatura adequada, com sondas de DNA de sequência específica marcadas radioactivamente ou com fluorescência. Finalmente, a exposição a um película adequado ao método de marcação torna possível visualizar, na forma de bandas, os fragmentos do DNA correspondentes com os quais a sonda hibridou por complementaridade (Figura 6). Blotting DNA +Enzima de restrição Fragmentos de restrição Electroforese Papel de nitrocelulose Papel de filtro Gel Hibridação com sonda radioactiva Autoradiografia Retirar papel Retirar papel blot de filtro Filme Lavagem da sonda não hibridada Sonda de DNA em solução em tubo de plástico Figura 6. Etapas do método de obtenção de RFLPs pela técnica Southern blot (adaptado de CAMPBELL et al., 1999). 35 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA O polimorfismo resulta quer das alterações de sequência no local de corte da enzima de restrição, quer de eventuais inserções ou delecções na região de hibridação. A natureza dos marcadores produzidos é codominante, uma vez que é possível distinguir heterozigotos de homozigotos. Esta técnica apresenta grande versatilidade, uma vez que é enorme a possibilidade de combinação entre enzimas de restrição e sondas sendo a sequência destas últimas que determina a especificidade dos resultados. Portanto, permite detectar a variabilidade de qualquer tipo de DNA atrás descrito, bastando para tal desenhar a sonda adequada ao que se pretende. Em contrapartida, é um método que tem a desvantagem de ser muito trabalhoso, quer na fase de desenvolvimento (é necessário testar muitas enzimas para descobrir o polimorfismo), quer na fase de execução devido à grande quantidade de passos envolvidos. Além disso, requer grandes quantidades de DNA em cada reacção (DODGSON et al., 1997). Na bibliografia encontram-se vários exemplos da aplicação desta técnica no estudo do polimorfismo do DNA codificante, nomeadamente: em ovinos, dos genes da hormona de crescimento (VALINSKY et al., 1990), do lactogénio placentário (YOSSEFI e GOOTWINE, 1996), da queratina da lã, de diversas hormonas e imunoglobulinas (PARSONS et al., 1996), de proteínas do leite (DI GREGORIO et al., 1991; LEVÉZIEL et al., 1991); em bovinos, dos genes da hormona de crescimento e da prolactina (COWAN et al., 1989) e da calpastatina (LONERGAN et al., 1995); em suínos, do gene do factor de transcrição hipofisário − PIT 1 (YU et al., 1995), etc. A designação de RFLP ficou mais associada ao polimorfismo do DNA codificante, enquanto que o DNA repetitivo tomou a designação do tipo em causa. Assim, da aplicação desta técnica ao DNA repetitivo resultaram os marcadores moleculares designados como satélites e minissatélites, estes também apelidados de fingerprinting e cujas sondas marcadas são curtas sequências isoladas de clones que contêm o motivo da repetição alvo. As sequências isoladas numa espécie podem ser utilizadas noutras espécies (KASHI et al., 1990). No tocante ao polimorfismo do DNA satélite, devido ao seu tamanho enorme e à sua localização mais ou menos restrita, não teve grande uso no estabelecimento de perfis individuais, nos estudos de ligação genética, limitando-se apenas a alguns estudos evolutivos. Nos animais domésticos foi também esta última abordagem que prevaleceu, nomeadamente em bovinos (BUCKLAND, 1985; NIJMAN e LENSTRA, 2001) e em ovinos e caprinos (BUCKLAND, 1983, 1985; NIJMAN et al., 2002a). Já quanto aos minissatélites, 36 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA por serem abundantes no genoma, muitos possuem o mesmo motivo de repetição e são, portanto, passíveis de hibridar com uma mesma sonda o que, aliado à sua natureza altamente polimórfica, resulta num padrão complexo de dezenas de bandas (fingerprintings), com uma probabilidade elevada do perfil obtido ser único para cada indivíduo. Este facto está na origem da sua ampla utilização na identificação individual em ciência forense e em testes de paternidade (JEFFREYS et al., 1988; JEFFREYS et al., 1990). Embora este tipo de marcador tenha sido aplicado na elaboração de mapas genéticos, o facto da sua distribuição não ser ubíqua, à semelhança dos satélites, mas preferencialmente nas regiões teloméricas (AMARGER et al., 1998), restringe muito a sua utilidade ainda mais condicionada por outras limitações como a incapacidade de poder atribuir um determinado locus às bandas observadas, o que impossibilita o cálculo de frequências alélicas e a sua natureza dominante que reduz a informação genotípica (DODGSON et al., 1997). Quando comparados com os microssatélites, carecem de muito mais famílias de referência para a construção do mapa genético (VIGNAL et al., 2002). A sua utilização nos estudos de animais domésticos centrou-se sobretudo na análise da variabilidade de alguns minissatélites (KASHI et al., 1990; NAVE et al., 1997), na relação evolutiva de populações (SIGNER et al., 2000), na proposta de uso como forma de identificar paternidades em Bovídeos (TROMMELEN et al., 1993) e em equídeos (ANUNCIAÇÃO e ASTOLFI-FILHO, 2000), ou por fim, ainda em alguns trabalhos de detecção de QTL (Quantitative Trait Loci) (DODGSON et al., 1997). Para, de alguma forma, obviar alguns destes problemas, as sondas curtas multilocus utilizadas no início, foram substituídas por sondas de locus único (LAMBERT et al., 1994); isto é, com a sequência homóloga de um dado minissatélite. No entanto, o problema da incapacidade de interpretar as bandas como alelos permaneceu, em especial, quando se comparavam resultados de diferentes laboratórios (BENNETT, 2000), aspecto que só foi solucionado com a aplicação da técnica da PCR a minissatélite específicos (SIGNER e JEFFREYS, 1997; JOBLING et al., 1998). Embora a detecção das bandas pudesse ser realizada na mesma por southern blotting, o facto de apenas a sequência alvo ser amplificada permitia a identificação do polimorfismo de forma directa através da submissão do gel de agarose, previamente corado com brometo de etídeo, à luz ultravioleta. A possibilidade de cortar o produto da PCR com enzimas de restrição deu origem a uma nova metodologia de identificação de polimorfismo, designada por PCR-RFLP, muito 37 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA usada na análise do DNA codificante (MEYER et al., 1995; UDINA et al., 1995; PRINZENBERG et al., 1996; SOUMILLION et al., 1997). 1.4.3.2. Métodos Pós-PCR A técnica da PCR foi publicada em 19862 por MULLIS et al. e decisivamente melhorada em 1988 por SAIKI et al., através da introdução de uma polimerase termoestável extraída do Thermus aquaticus, que assim ultrapassou a exigência de se acrescentar nova polimerase em cada ciclo de temperaturas. Para iniciar o processo do replicação do DNA, ou amplificação, são necessários dois oligonucleótidos iniciadores (primers) complementares das extremidades do fragmento do DNA a ser amplificado, os quatro nucleótidos (dNTP), a polimerase, um meio tamponizado e com iões de magnésio e DNA genómico. Este "cocktail" é então submetido a uma repetição de ciclos de temperatura, cerca de 30 ºC, que inclui três fases: uma desnaturação do DNA a 96 ºC, uma hibridação específica dos oligonucleótidos iniciadores cuja temperatura depende da sua composição e uma extensão (síntese) do DNA a 72 ºC. Este processo é, teoricamente, exponencial e permite obter milhões de cópias de um fragmento do DNA alvo. A complementaridade dos primers com as extremidades do fragmento alvo assegura a especificidade da amplificação confinada ao fragmento em causa. Esta descoberta revolucionou a biologia molecular uma vez que abriu as portas a muitos métodos de investigação do DNA. As vantagens que esta técnica encerra centram-se no facto de exigir apenas uma pequeníssima quantidade de DNA e de dispensar o uso da técnica de southern blotting para a detecção das bandas, além de permitir trabalhar exclusivamente os fragmentos alvo do estudo e não a totalidade do DNA genómico. 1.4.3.2.1. RAPDs (Polimorfismos de amplificação aleatória de DNA) A metodologia dos RAPDs foi publicada de forma independente por WILLIAMS et al. (1990) e por WELSH e MCCLELLAND (1990). Como o seu nome indica, consiste na amplificação aleatória de fragmentos de DNA, utilizando para o efeito apenas um iniciador (primer) de pequeno tamanho (cerca de 10 pb) com sequência arbitrária e condições de temperaturas da PCR com baixa “estringência” (tradução livre de 38 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA stringency), permitindo que aqueles se liguem em vários locais, por vezes, mesmo que a sequência alvo não seja exactamente a mesma. Quando dois desses locais estão suficientemente próximos e um deles se apresenta com orientação invertida, ocorre ampliação. Nesta metodologia, a sequência e tamanho do primer usado é determinante do polimorfismo obtido sendo necessário testar previamente vários primers para avaliar o seu polimorfismo e proceder à selecção dos mesmos antes da utilização pretendida (AMBADY et al., 1996; PAREJO et al., 1997). O produto de amplificação é, normalmente, separado por electroforese em gel de agarose, corado com brometo de etídio e visualizado sob luz ultravioleta, o que representa uma grande vantagem quando comparada com a técnica de southern blotting utilizada nos RFLPs. Para um dado primer, o polimorfismo obtido resulta das alterações de sequência no local de ligação do mesmo e da eventual inserção ou deleção na região amplificada (WILLIAMS et al., 1990). Na maior parte dos casos, a metodologia dos RAPD origina marcadores dominantes, ou seja, não é possível distinguir os indivíduos homozigóticos dos heterozigóticos, o que determina um baixo poder informativo para este tipo de marcador. Em contrapartida, esta característica torna os RAPDs especialmente aplicáveis ao mapeamento de cromossomas sexuais (DODGSON et al., 1997). A maior limitação que é apontada aos RAPDs relaciona-se com a existência de alguns problemas de reprodutibilidade, em virtude da sua enorme dependência das condições exactas de PCR utilizadas e da qualidade de DNA, quer quando se considera os resultados num mesmo laboratório quer entre vários laboratórios (DODGSON et al., 1997; JONES et al., 1997; RAJPUT et al., 2006). Têm também sido apontadas outras causas, como a formação de cadeias heteroduplex em sequências homólogas e a competição entre diferentes fragmentos de amplificação (HANSEN et al., 1998). Assim, para minimizar estes erros eventuais tem sido sugerido que se proceda sempre à repetição da genotipagem (PILLAY e KENNY, 1996). Além destes aspectos foi apontada também a possibilidade de ocorrência de bandas co-migrantes não homólogas, o que introduz distorção na interpretação dos resultados obtidos (HURME e SAVOLAINEN, 1999). Todavia, segundo ADAMS e RIESEBERG (1998), este tipo de erro é aleatório e no caso concreto a que se referiu o presente estudo não é susceptível de afectar a similaridade das populações em análise, mas apenas os valores absolutos. 2 A evolução da técnica da PCR está disponível em: http://www.molecularstation.com/pcr/history-of-pcr/ 39 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA Apesar das limitações apontadas, este método tem a vantagem de permitir uma avaliação rápida e barata da variação genómica, uma vez que não requer um conhecimento prévio das sequências de DNA que vão ser amplificadas. Por isso, é especialmente recomendado nas espécies cujo conhecimento do genoma é escasso e em laboratórios com recursos modestos em equipamento. Os RAPDs foram aplicados principalmente no mapeamento genético de plantas mas também em animais (HUNT e PAGE, 1995; SHIUE et al., 1999). No que concerne a estudos de variabilidade genética em animais domésticos, este tipo de marcador foi usado com pouca expressividade, embora, se encontrem publicados alguns trabalhos realizados em bovinos e ovinos (KANTANEN et al., 1995; PAREJO et al., 1998; RINCÓN et al., 2000), em caprinos (DE OLIVEIRA et al., 2005; LI et al., 2006), em equinos (APOSTOLIDIS et al., 2001), em suínos (YEN et al., 2001), em aves (SMITH et al., 2005), no estudo da relação genética entre espécies da família Bovidae (RAO et al., 1996) e na capacidade de distinção entre espécies animais (HUANG et al., 2003). 1.4.3.2.2. AFLPs (Polimorfismo de comprimento de fragmento amplificado) A metodologia dos AFLPs (VOS et al., 1995) consiste basicamente numa amplificação selectiva de fragmentos de restrição obtidos pela digestão de DNA genómico e originando, como no caso dos RAPDs, perfis com múltiplas bandas. Na prática, a metodologia assenta em três fases sucessivas: uma digestão-ligação, uma amplificação pré-selectiva e uma amplificação selectiva. Inicialmente, uma quantidade pequena de DNA genómico é digerida usando um par de enzimas de restrição, uma que corta a molécula de DNA com elevada frequência (caso das EcoRI, PstI, HindII e ApaI) e outra que a corta mais raramente (caso das MseI e TaqI). Como exemplo, podemos referir o uso do par MseI e EcoRI em pinheiros (LERCETEAU e SZMIDT, 1999; MARIETTE et al., 2001) e do par TaqI e EcoRI em bovinos (AJMONE-MARSAN et al., 1997). Às extremidades coesivas do DNA, resultantes da acção destas enzimas, são acoplados dois adaptadores de dupla cadeia específicos, desenhados para lhes serem complementares e sem restaurar o sítio de corte, servindo para o efeito uma ligase de DNA. A utilização de duas enzimas reduz o número de fragmentos amplificáveis, uma 40 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA vez que apenas os que resultaram da acção simultânea das mesmas serão potencialmente amplificáveis. Mesmo assim, para reduzir mais o número de fragmentos amplificados, a reacção da PCR que se segue, denominada de amplificação pré-selectiva, é efectuada utilizando um par de primers complementares a cada um dos dois adaptadores referidos, aos quais foi adicionada em 3' um nucleótido adicional arbitrário para exercer um efeito selectivo. O produto de amplificação pré-selectiva pode ser outra vez amplificado (amplificação selectiva) utilizando um par de primers com a mesma sequência dos usados na fase precedente, mas contendo mais duas bases selectivas adicionais (ou seja, três no total). Esta segunda amplificação reduz ainda mais o número dos fragmentos amplificados e tem como objectivos tornar exequível a individualização das bandas e maximizar a obtenção da informação. A electroforese é levada a cabo em géis de acrilamida desnaturantes e a detecção, normalmente efectuada com recurso à marcação de um dos primers na extremidade 5,' com um fluorocromo ou com fósforo radioactivo, conforme se destina a um sequenciador automático ou a uma película de radiografia, respectivamente. A marcação de um dos primers evita a ocorrência de “doublets” nos géis, provocados pela mobilidade diferencial das duas cadeias dos fragmentos amplificados. À semelhança dos RAPDs, o polimorfismo dos AFLPs resulta de alterações na sequência dos locais de restrição e de ligação dos primers além das eventuais inserções ou delecções no segmento amplificado (AJMONE-MARSAN et al., 1997; KNORR et al., 1999; SAVELKOUL et al., 1999). Esta técnica é daquelas que permite obter mais informação de uma só vez, além do enorme potencial que representa a possibilidade de executar as várias combinações possíveis dos nucleótidos selectivos dos dois primers conjuntamente com a combinação de enzimas de restrição que se podem utilizar. Devido à quantidade enorme de bandas produzidas num mesmo gel (na ordem das centenas), nem todas são passíveis de se distinguir, apenas uma fracção delas apresenta polimorfismo e é difícil dissociar as que têm origem num mesmo locus. Por isso é frequente realizar-se apenas uma análise de presença ou ausência, para cada banda polimórfica produzida, sendo por isso, marcadores de natureza dominante. Apesar de VOS et al. (1995) referirem que a técnica dos AFLPs não era sensível à concentração de DNA molde, AJMONE-MARSAN et al. (1997) afirmaram que as bandas notadas com diferente intensidade, por si detectadas 41 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA entre indivíduos numa proporção de 65% das bandas, podem ser lidas como marcadores de natureza codominante, uma vez que se verificou uma correlação significativa entre a zigotia e a intensidade de banda. Ao contrário dos RAPDs, os AFLP apresentam uma reprodutibilidade elevada, sendo a amplificação por PCR realizada em condições de grande estringência (AJMONEMARSAN et al., 1997; JONES et al., 1997). Apesar disso, pode ser observada alguma inconsistência na intensidade de algumas bandas, a ocorrência de justaposição de bandas polimórficas com monomórficas e a migração conjunta de produtos de amplificação de loci independentes, o que origina alguma arbitrariedade na leitura (AJMONE-MARSAN et al., 1997). Na análise das imagens produzidas por esta técnica, é assumido que as bandas co-migrantes são homólogas, o que não é obrigatoriamente verdade (ROUPPE VAN DER VOORT et al., 1997). Pode acontecer que uma banda particular seja o resultado da amplificação de dois fragmentos de igual tamanho mas de diferentes regiões do genoma, não sendo possível aferir a sua homologia. Neste caso, a ausência de banda seria observada apenas quando presentes as duas mutações independentes. Alguns destes aspectos levam a que um determinado locus possa ser genotipado mais do que uma vez, pondo em causa o princípio da independência de loci subjacente aos métodos de reconstrução filogenética. Por outro lado, esta técnica requer uma optimização das condições de acção das enzimas de restrição, ligação dos respectivos adaptadores e das reacções de PCR, por forma a que o polimorfismo obtido seja adequado, isto é, seja suficientemente elevado para rentabilizar os reagentes utilizados, mas que não seja excessivo a ponto de impedir a sua leitura devido à complexidade de bandas produzidas. A degradação do DNA, ou a sua digestão parcial pelas enzimas de restrição devido a metilação ou má purificação do DNA, pode resultar em interpretações erradas (AJMONE-MARSAN et al., 1997). À semelhança dos RAPDs, os AFLPs não requerem nenhum conhecimento preliminar do genoma a estudar, uma vez que tanto os adaptadores como os primers são função das enzimas de restrição usadas, cuja acção é conhecida. Por esta razão, os AFLPs encontraram especial aplicação em organismos vegetais e microrganismos, onde o conhecimento do genoma era escasso e, por consequência, se tinham identificado e caracterizado poucos microssatélites (LERCETEAU e SZMIDT, 1999; SAVELKOUL et al., 1999; ROLDAN-RUIZ et al., 2001; PAFUNDO et al., 2005). No entanto, o número elevado de bandas produzidas de uma só vez torna esta técnica atractiva, tendo por isso sido 42 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA amplamente usada nos mais diversos estudos, quer em plantas quer em animais. No que respeita aos animais domésticos foram aplicados, entre outros, em estudos de diversidade de suínos (ÓVILO et al., 2000; PLASTOW et al., 2003), bovinos (AJMONEMARSAN et al., 1997; NIJMAN et al., 1999; AJMONE-MARSAN et al., 2002; BUNTJER et al., 2002) e caprinos (AJMONE-MARSAN et al., 2001), e no mapeamento genético principalmente em aves (HERBERGS et al., 1999; KNORR et al., 1999; FUMIERE et al., 2003). 1.4.3.2.3. SNPs (Polimorfismo de um único nucleótido) Os SNPs, também designados de "Single Nucleotide Substitution" (CARLSON et al., 2001) e comummente apelidados de “snips”, consistem em diferenças pontuais de um nucleótido nas sequências homólogas de DNA, cuja frequência na população tenha um valor mínimo de 0,01. Este tipo de variação é a mais comum no genoma humano, em média uma por cada 1000 a 2000 pb, localizando-se tanto no DNA codificante como no não codificante (SACHIDANANDAM et al., 2001). Até à data, e no que diz respeito ao genoma humano, cerca de 11 milhões de SNPs estão disponíveis em bases de dados públicas3. Nos animais domésticos são poucos e limitados na extensão os estudos efectuados com vista a estimarem a frequência com que ocorrem os SNPs, mas os resultados obtidos em algumas espécies, nomeadamente em bovinos (KONFORTOV et al., 1999; HEATON et al., 2001) e suínos (GRAPES et al., 2006), sugerem uma ordem de grandeza idêntica à registada em humanos. A abundância e a ubiquidade destas diferenças pontuais estão na base da enorme expectativa que recai sobre elas, uma vez que se espera poder utilizá-las, como marcadores na identificação de genes responsáveis pela predisposição de certos indivíduos a determinadas doenças, recorrendo, para o efeito, ao mapeamento por desequilíbrio de ligação (GORDON e OTT, 2001; SYVANEN, 2001). Por outro lado, o facto de nas regiões codificantes também surgirem SNPs, torna possível a sua associação directa com uma eventual alteração da função da respectiva proteína, o que, conjuntamente com um conhecimento do padrão de herança, os tornaria adequados para uma estratégia de diagnóstico (JI e MANAK, 2002). Nos animais domésticos é grande a expectativa gerada em torno da possibilidade de estabelecer uma associação de genótipos (ou de haplótipos) de SNPs ao fenótipo produtivo, o que 3 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/SNP 43 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA permitiria a sua utilização numa estratégia de selecção assistida por marcadores com elevada eficiência (SCHENKEL et al., 2005; SCHENKEL et al., 2006). Conceptualmente, os SNPs não são propriamente marcadores novos, uma vez que a existência deste tipo de polimorfismo está desde há muito descrita, principalmente no que toca a regiões codificantes que se relacionam com doenças humanas. As metodologias clássicas usadas para detectar estas mutações requerem uma separação dos diferentes alelos por electroforese em gel, o que torna o processo demorado. Estas metodologias podem ser divididas em dois tipos: as que detectam variação em sequências não caracterizadas, ditas de varrimento (scanning) e as que identificam variações de sequências específicas previamente caracterizadas, designadas por específicas (NATARAJ et al., 1999). As primeiras incluem, entre outras, o polimorfismo de conformação monocatenária (SSCP - Single-Strand Conformation Polymorphism) (ORITA et al., 1989; SUNNUCKS et al., 2000), a análise heteroduplex (HA - Heteroduplex Analysis) (NATARAJ et al., 1999), a electroforese em gel de gradiente desnaturante (DGGE - Denaturing Gradient Gel Electrophoresis) (NOLL e COLLINS, 1987), e a electroforese em gel de gradiente de temperatura (TGGE- Temperature Gradient Gel Electrophoresis) (THEISSEN et al., 1993). Do segundo tipo fazem parte os métodos de extensão de iniciadores ou minisequenciação (primer extension or minisequencing), a amplificação alelo-específica (allele-specific amplification), a hibridação oligonucleotídica alelo-específica (allele-specific oligonucleotide hybridization) e o ensaio de ligação oligonucleotídico (oligonucleotide ligation assay). As versões originais destas metodologias analisavam normalmente apenas um SNP de cada vez, num reduzido número de indivíduos, o que, aliado ao facto de possuírem uma natureza bi-alélica, os tornava pouco atractivos como marcadores genéticos. Nos últimos 10 anos tem-se assistido ao aparecimento de um grande número de variantes das metodologias atrás referidas, principalmente das do segundo tipo, muito mais expeditas, em resultado de uma conjugação inteligente dos avanços na microelectrónica, na bioquímica, na análise de imagem e na bioinformática, os quais tornaram possível a análise de um grande número de SNPs em simultâneo. Estas variantes foram recentemente alvo de revisão (NOLLAU e WAGENER, 1997; CARLSON et al., 2001; KWOK, 2001; SYVANEN, 2001; LIBERLES, 2002; VIGNAL et al., 2002; STOUGHTON, 2005; SYVANEN, 2005). Não estando a descrição individualizada destas metodologias no âmbito desta tese, pode-se referir que em termos globais, elas comportam várias etapas que conjugam três aspectos: o princípio de reacção, o formato do ensaio ou fase de separação e o método 44 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA de detecção. A Figura 7 mostra como cada um dos onze métodos, apontados como exemplo, resulta da combinação de cada um desses três aspectos. Cada método apresenta vantagens e limitações e nenhum deles é ideal para todas as aplicações (KWOK, 2001; SYVANEN, 2001). Figura 7. Métodos utilizados na genotipagem dos SNPs (adapatado de SYVANEN, 2001). Apesar destes avanços, na prática, para que o uso dos SNPs se imponha como alternativa aos microssatélites, é necessário aumentar ainda mais a eficiência de genotipagem dos SNPs e, principalmente, reduzir o seu custo. Por outro lado, é também preciso aumentar o número de SNPs caracterizados e alargar o leque de espécies com informação nas bases de dados (SHERRY et al., 1999). Os projectos mundiais de sequenciação de genomas têm tido um impacto significativo, mas o número de espécies é ainda muito restrito, pelo que têm vindo a ser desenvolvidas novas abordagens com vista a tirar partido da informação desses projectos, com base na constatação da existência de um certo grau de conservação na sequência de DNA, sobretudo entre 45 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA espécies próximas (PRIMMER et al., 2002; AITKEN et al., 2004; GRAPES et al., 2006; KIJAS et al., 2006). Recentemente, foram publicados alguns trabalhos que apontam no sentido em que o uso dos SNPs não só era adequado ao estudo da história evolutiva e demográfica de populações, como também apresentava algumas vantagens no que se refere aos microssatélites, donde se destaca o facto de apresentarem uma taxa de mutação inferior relativamente aos segundos, facto que resultaria numa menor probabilidade de ocorrência de homoplasia (KUHNER et al., 2000; BRUMFIELD et al., 2003; NIELSEN e SIGNOROVITCH, 2003; MORIN et al., 2004). Em contrapartida, e uma vez que, na maior parte das espécies, incluindo as de animais domésticos, o número de SNPs caracterizados era ainda limitado, esses autores alertaram também para o risco de ser introduzida alguma distorção (ascertainment bias) nos resultados obtidos, em virtude de no processo prévio de identificação dos SNPs serem detectados, preferencialmente, os mais polimórficos, devido ao número reduzido de indivíduos envolvidos na pesquisa inicial. Contudo, esta limitação será facilmente superada mediante a progressiva caracterização de mais SNPs. Assim, à medida que forem ultrapassadas as limitações de índole económica, pelo custo elevado do equipamento necessário à genotipagem dos SNPs e for alargado o leque de informação disponível sobre estes marcadores, será de esperar que eles venham a ter um papel de relevo nas várias áreas de estudo onde o uso de marcadores moleculares seja justificável. Relativamente às espécies de animais domésticos, nos últimos anos tem-se assistido a um incremento significativo na disponibilidade de informação molecular em várias bases de dados (FRIES e DURSTEWITZ, 2001; WHEELER et al., 2005; BENSON et al., 2006). No entanto, devido ao elevado investimento financeiro e à necessidade de optimização de protocolos que os novos métodos de genotipagem de SNPs implicam, o número de trabalhos publicados envolvendo estas espécies é ainda muito restrito, incidindo numa perspectiva de associação dos SNPs a características produtivas (SCHENKEL et al., 2005; SCHENKEL et al., 2006), na análise de paternidade (HEATON et al., 2002; WERNER et al., 2004), no mapeamento genético (CALVO et al., 2006) e poucos têm sido os que aportam como objectivo o estudo da diversidade e da história evolutiva dos animais domésticos (HERRAEZA et al., 2005). Contudo, parece unânime que, num futuro próximo, as limitações associadas à genotipagem massiva de SNPs nos 46 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA animais domésticos serão ultrapassadas tornando possível produzir mais uma perspectiva sobre a história evolutiva dos mesmos. 1.4.3.2.4. Microssatélites Os microssatélites como sequências de DNA repetidas eram conhecidas desde os anos 70, mas só em finais da década de oitenta surgiram os primeiros trabalhos de isolamento e caracterização pela PCR, abrindo caminho à sua utilização como marcadores moleculares num vasto leque de aplicações (TAUTZ, 1989; WEBER e MAY, 1989). O facto deste tipo de DNA repetitivo ser muito abundante no genoma de praticamente todas as espécies (COX e MIRKIN, 1997; PUPKO e GRAUR, 1999) fez com que se tivessem usado num número elevado de trabalhos que visaram numa primeira fase a sua identificação e caracterização e, posteriormente, a sua aplicação a estudos que vão desde a cartografia genómica à genética de populações. Informação sobre diversos milhares destes marcadores nas raças domésticas está disponível na base de dados Arkdb4. O processo de identificação e caracterização pode ser levado a cabo através da construção de bibliotecas genómicas, que envolvem o screening, o isolamento e a sequenciação dos microssatélites, ou pesquisando em bases de dados obtidas recentemente através dos programas de sequenciação do genoma de várias espécies (por exemplo EMBL, GeneBank, etc.). Ao contrário da região repetitiva que é bastante instável (variável no número de repetições do motivo), as regiões flanqueadoras são muito conservadas e únicas para cada microssatélite, facto que permite desenhar iniciadores (primers) para a sua amplificação pela PCR. No caso de espécies diplóides, a amplificação pela PCR gerará ou um produto simples, se o indivíduo for homozigótico, ou dois produtos de tamanho diferente, se for heterozigótico. As pequenas diferenças no tamanho dos microssatélite, normalmente devidas à variação no número de unidades do motivo de repetição (LEVINSON e GUTMAN, 1987a; VALDES et al., 1993; KRUGLYAK et al., 1998), são separadas por electroforese em géis de poliacrilamida desnaturante, idênticos aos utilizados na sequenciação. Hoje em dia está disponível uma gama variada de técnicas para detecção dos alelos dos microssatélites, 4 Endereço na internet: http://www.thearkdb.org/ 47 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA cuja escolha depende principalmente dos recursos económicos a investir (HEYER et al., 1994; IDURY e CARDON, 1997; CHRISTENSEN et al., 1999; KRISTENSEN et al., 2001). Das características que fazem dos microssatélites marcadores moleculares de eleição para uma vasta gama de aplicações destacamos: - A sua natureza abundante, dispersa por todo o genoma, em geral muito polimórfica, apresentando uma gama de alelos que vai do simples bi-alélico até a algumas dezenas de alelos, e codominante, que torna possível a distinção entre homozigotos e heterozigotos; - A obtenção fácil, podendo ser caracterizados directamente, isolando-os na espécie alvo, através da construção de uma biblioteca genómica (OSTRANDER et al., 1992; BUITKAMP et al., 2000), ou usando microssatélites previamente isolados em espécies relacionadas (MOORE et al., 1991; VAIMAN et al., 1994; BEAUMONT e BRUFORD, 1999; LUIKART et al., 1999). Mesmo entre espécies tão afastada como os humanos e os roedores foi possível encontrar uma elevada conservação nas sequências que flanqueiam os microsatélites (STALLINGS, 1995). - O processamento passível de automatização, através de novos equipamentos e combinando as características dos microssatélites e as cores dos fluorocromos disponíveis, sendo possível numa só reacção multiplex de PCR amplificar mais de uma dezena de loci para 96 indivíduos, de uma só vez, e cujos alelos podem ser separados e detectados num único gel ou num sistema de capilares. A maioria dos modelos de equipamento automático possui software de análise de imagem que permite a leitura e armazenamento automático dos dados resultantes (BEAUMONT e BRUFORD, 1999). Apesar das vantagens apontadas, os microssatélites apresentam também algumas limitações, para as quais se deve estar atento, de forma a ultrapassá-las e que incluem: - A possibilidade de ocorrência de alelos nulos resultantes da não amplificação de um ou mais alelos, devido a mutações (substituição, inserção e deleção) dentro da sequência dos iniciadores (PAETKAU e STROBECK, 1995; PEMBERTON et al., 1995). Este problema, quando identificado, tem uma resolução fácil que consiste em desenhar novos iniciadores fora da sequência com a referida alteração, 48 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA contudo, se não for detectado, como em caso da frequência do alelo nulo ser baixa, pode criar distorção nos resultados obtidos; - A possibilidade de ocorrência de homoplasia, ou seja, existência de alelos com o mesmo tamanho mas sequência ligeiramente diferente, logo com uma ancestralidade diferente, que não será detectada em resultado da forma de identificação dos alelos assentar na técnica de electroforese e por conseguinte apenas no tamanho, o que poderá influenciar a interpretação dos resultados (ESTOUP et al., 2002). Esta possibilidade é mais frequente quando comparamos subespécies diferentes, ou utilizamos iniciadores numa espécie diferente da qual foram desenhados (ESTOUP et al., 1995b). Os electromorfos mais longos parecem conter mais homoplasia do que os menores (PRIMMER et al., 1996). - A possibilidade de ocorrência de dificuldade na identificação dos alelos devido a artefactos produzidos pela Taq polimerase utilizada na PCR em resultado de deslizamento (slippage), quer na produção de bandas sombra (stutter bands), as quais são mais frequente em microssatélites com motivos mono e dinucleotídeos, quer pela tendência para incorporar a mais um dATP nos produtos de PCR (GINOT et al., 1996); - A dificuldade de comparação de dados obtidos em laboratórios diferentes. Embora a automatização tenha sido um grande avanço em termos de genotipagem, ao contrário do que era de supor não eliminou o problema da comparação de dados, antes pelo contrário, parece ter dificultado essa mesma comparação, principalmente quando são utilizados equipamentos e químicos diferentes; - A possibilidade de ocorrência de alguns problemas quando o DNA utilizado for de baixa qualidade e quantidade (TABERLET et al., 1996); - A grande dificuldade no estabelecimento de um modelo evolutivo para os microssatélites que possa ser aplicado universalmente, tornando difícil a inferência baseada na distribuição das frequências alélicas, quando o espaço temporal de divergência entre populações é grande. No entanto, na opinião de BEAUMONT e BRUFORD (1999), nos estudos que tenham como objectivo analisar a estrutura populacional com fins de conservação, no qual o presente estudo se insere, tal problema não é relevante, pois na maioria das situações verificadas a 49 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA divergência genética entre populações próximas estava associada ao efeito de deriva genética, de bottlenecks ou à de consanguinidade, em oposição à mutação. Apesar do esforço enorme, espelhado na quantidade de artigos publicados sobre o assunto, não foi ainda possível estabelecer um modelo consensual relativo ao processo evolutivo dos microssatélites, uma vez que a detecção de mutações é de rara ocorrência. Para o efeito, o método mais directo e conclusivo consiste na detecção das mutações pela sequenciação dos microssatélites num grande número de indivíduos pertencentes a uma mesma árvore genealógica (YUE et al., 2002). Uma outra abordagem baseia-se numa análise de comparação entre a distribuição alélica obtida nas populações e uma outra, teórica, gerada computacionalmente pressupondo um dado modelo evolutivo (SHRIVER et al., 1993; VALDES et al., 1993; DI RIENZO et al., 1994). Ao contrário das sequências de DNA não repetitivo que evoluem principalmente através da acumulação de substituições de nucleótidos, os microssatélites parecem evoluir através de dois mecanismos principais: - O deslizamento da Taq polimerase (DNA polymerase slippage) também designada de "DNA slippage", e "slipped strand misparing" (TAUTZ e RENZ, 1984; LEVINSON e GUTMAN, 1987b; VIGUERA et al., 2001 ; ELLEGREN, 2002), ou da ineficiência dos mecanismos de reparação (WIERDL et al., 1997); - A recombinação, podendo esta última afectar o tamanho do microssatélite por crossing-over desigual (YUE et al., 2002). Sobre este mecanismo há evidências que apontam em sentido contrário. Em humanos este parece ser pouco significativo (PAYSEUR e NACHMAN, 2000), enquanto que no género Drosophila poderá justificar 55% da variância do tamanho dos alelos (SCHUG et al., 1998a). Destes dois mecanismos, considera-se que o deslizamento da polimerase seja o predominante pois a instabilidade dos microssatélites é pouco afectada por defeitos em genes envolvidos na recombinação, mas muito por defeitos em genes envolvidos no sistema de reparação do DNA (LEVINSON e GUTMAN, 1987b; HENDERSON e PETES, 1992). A "polymerase slippage" consiste no deslizamento do complexo de proteínas que realizam a replicação, resultando no acréscimo ou deleção de uma ou mais repetições do motivo do microssatélite. Durante a síntese de DNA, as duas cadeias podem deslizar 50 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA entre elas e reemparelhar fora do lugar, resultando na formação de uma ansa (loop) não alinhada, na cadeia DNA nascente, ou na cadeia molde. Se a replicação terminar sem a reparação destas ansas, o número de repetições na cadeia nascente será maior (se a ansa for nesta cadeia) ou menor (se a ansa se formar na cadeia molde) do que a original. A maioria destas ansas é corrigida pelo sistema de reparação e, portanto, apenas uma pequena fracção escapará e resultará no ganho ou perda de uma unidade de repetição (EISEN, 1999). Assim, o maior ou menor número de mutações observadas pode resultar de uma maior ou menor frequência de ocorrência ou de uma menor ou maior eficácia de reparação. A taxa de mutação de cada microssatélite é obviamente difícil de determinar, no entanto, têm sido publicados alguns trabalhos que apontam para valores médios de mutações/locus/geração da ordem de 1,8x10-3 em tetranucleótidos de humanos (XU et al., 2000), 9,3 x 10-6 em dinucleótidos em drosofilas (SCHUG et al., 1998b), 1,1 x 10-4 em dinucleótidos de ovinos (CRAWFORD e CUTHBERTSON, 1996) e 7.52×10-5 em dinucleótidos de suínos (YUE et al., 2002). A grande maioria das mutações nos microssatélites consiste num ganho ou perda de um ou, menos frequentemente, de dois motivos de repetição (SHRIVER et al., 1993; VALDES et al., 1993; DI RIENZO et al., 1994; PRIMMER et al., 1996; XU et al., 2000) são mais raras e mais difíceis de inferir, porque as mutações mesmo para os microssatélites são raras. No entanto, pela distribuição alélica dos microssatélites verificou-se que nem sempre o tamanho dos alelos difere de um número inteiro de unidades de repetição, sugerindo outras formas de ocorrência de mutação. A sequenciação dos alelos revelou a ocorrência de inserções e delecções nas regiões próximas do microssatélite propriamente dito, especialmente nas bases adjacentes (GRIMALDI e CROUAU-ROY, 1997), quando se comparou espécies diferentes (FITZSIMMONS et al., 1995; GARZA et al., 1995; ANGERS e BERNATCHEZ, 1997) e mais raramente dentro da mesma espécie (GRIMALDI e CROUAU-ROY, 1997). A análise da distribuição das frequências alélicas nas populações mostrou uma distorção em favor dos alelos de maior tamanho (FARRALL e WEEKS, 1998). Por sua vez, no estudo da distribuição das mutações em termos de frequência de ganhos ou perdas de motivos de repetição, alguns autores encontraram, em eucariontes, um enviesamento a favor da expansão (AMOS et al., 1996; PRIMMER et al., 1996; YUE et al., 51 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA 2002), enquanto, em bactérias, tal enviesamento apontava em sentido oposto, ou seja, para a contracção de tamanho (METZGAR et al., 2002). Por seu lado, XU et al. (2000) num estudo em tetranucleótidos, verificaram que o enviesamento num sentido ou no outro dependia do tamanho do alelo. Para microssatélites “jovens” que evoluiram a partir de alelos curtos e não atingiram o equilíbrio, observaram um enviesamento para a expansão. Para descrição dos resultados formularam um conjunto de postulados que se compatibilizavam com os seus resultados: - A taxa de expansão é constante para todos os alelos; - A taxa de contracção aumenta exponencialmente com o número de repetições do motivo do microssatélite; - O resultado global da taxa de expansão e contracção é igual. As mutações nos alelos mais curtos do que o tamanho crítico, são enviesadas para a expansão, enquanto que as mutações nos alelos longos favorecem a contracção, resultando numa distribuição dos alelos em equilíbrio em forma de sino, com a moda igual ao tamanho crítico. Estes postulados explicariam o facto de parecer haver um constrangimento de tamanho, ou seja, de existir um tamanho de microssatélite que não vai para além de 3 ou 4 dezenas de motivos de repetição. Com efeito, foram encontradas diferenças significativas no tamanho dos alelos de loci homólogos entre humanos e chimpanzés (RUBINSZTEIN et al., 1995), todavia GORTARI et al. (1997) não descobriram tais diferenças na comparação entre ovinos e bovinos. Por seu lado, ELLEGREN et al. (1997) ao efectuarem uma comparação recíproca de loci homólogos entre ovinos e caprinos, verificaram que o comprimento dos alelos era maior para a espécie onde o microssatélite tinha sido isolado, concluindo que era o processo de clonagem e caracterização dos microssatélites que determinava a distorção num sentido ou noutro. No entanto, KRUGLYAK et al. (1998) estimaram taxas de deslizamento da polimerase diferentes entre espécies, com valores maiores nos ratos, seguidos dos humanos e, por último, leveduras e drosófilas. WEBER e WONG (1993), por seu turno, observaram que microssatélites tetranucleótidos em humanos apresentaram uma taxa de mutação superior aos di e trinucleótidos, mas trabalhos mais recentes sugerem o oposto; isto é, que a taxa de 52 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA mutação está inversamente correlacionada com o tamanho do motivo de repetição (CHAKRABORTY et al., 1997; KRUGLYAK et al., 1998; SCHUG et al., 1998b). Por outro lado, a presença de interrupções e/ou a existência de mais do que um motivo de repetição parecem estabilizar o microssatélite independentemente do motivo de repetição base (GOLDSTEIN e CLARK, 1995), talvez devido à redução da probabilidade de maus alinhamentos (SIA et al., 2001). PALSBOLL et al. (1999) referiram que a riqueza alélica e a heterozigotia eram maiores nos microssatélites imperfeitos relativamente aos perfeitos. Por sua vez, YUE et al. (2002) descobriram que a taxa de mutação dos microssatélites compostos era cerca de 4 vezes maior do que a dos perfeitos, apesar de estes serem ligeiramente maiores do que os primeiros e portanto este aspecto poder também ter influenciado o resultado obtido. Alguns trabalhos apontam para que a taxa de recombinação da região onde se localiza o microssatélite possa influenciar a sua taxa de mutação, uma vez que foi observada uma correlação significativa entre este factor e o polimorfismo de microssatélites dinucleótidos (SCHUG et al., 1998a). No entanto, outros autores não encontraram tal relação (YUE et al., 2002). Indicações contraditórias foram também obtidas quanto à possível influência da composição nucleotídica da região flanqueadora. GLENN et al. (1996) referem uma correlação significativa negativa entre o conteúdo em GC da região flanqueadora enquanto outros autores não observaram tal correspondência (BALLOUX et al., 1998; BACHTROG et al., 1999). Alguns autores referiram que a taxa de mutação dos mesmos microssatélites diferia com o sexo, sendo maior nos homens do que nas mulheres (WEBER e WONG, 1993; BRINKMANN et al., 1998; XU et al., 2000) enquanto outros não observaram tal diferença (DEKA et al., 1999), tendo apenas detectado diferenças no tipo de mutação, com predominância nos homens para a contracção de tamanho e nas mulheres para a expansão. Assim, parece que o processo evolutivo dos microssatélites é extremamente complexo e específico, passível de ser influenciado por numerosos factores como: o tamanho e composição do motivo do microssatélite; o número de repetições do motivo do microssatélite; o tipo ou a estrutura da repetição (perfeita, composta ou interrompida); a natureza da região flanqueadora, a condição dos alelos (heterozigótico, 53 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA homozigótico); a taxa de recombinação da região onde se localiza o microssatélite, e os grupos taxonómicos (ELLEGREN, 2000b; SCHLOTTERER, 2000). Modelos para o processo mutacional dos microssatélites Como se depreende, a complexidade do processo de mutação dos microssatélites atrás exposto e o fenómeno de homoplasia (ESTOUP et al., 1995b), não detectável na prática, originam desvios à relação de linearidade com o tempo e à sub-estimativa no cálculo de distâncias genéticas, respectivamente, aquando do estudo da diferenciação das populações (GOLDSTEIN et al., 1995a, b; LINARES, 1999). Assim, perante a necessidade de ter em conta este tipo de problema durante a realização de estudos evolutivos, foram sugeridos vários modelos para descrever o processo mutacional dos microssatélites de forma a incorporar a informação disponível (JARNE e LAGODA, 1996). Os modelos mais divulgados são os quatro que de seguida se descrevem resumidamente: O Infinite Allele Model - IAM, (KIMURA e CROW, 1964), assume que cada mutação gera sempre, pela perda ou por ganho de qualquer número de unidades de repetição, um alelo que não existe na população, implicando que alelos idênticos partilhem a mesma ascendência, designando-os como alelos idênticos por ascendência. Neste modelo, uma maior proximidade de tamanho entre dois alelos não significa maior proximidade evolutiva. O K-Allele Model – KAM (CROW e KIMURA, 1970), preconiza a existência de exactamente k alelos possíveis, cada um tendo uma probabilidade constante [μ/(k-1)] de mutar para os restantes k-1 alelos. Este modelo tem em conta a possibilidade de ocorrência de homoplasia, ou seja, alelos que são idênticos em estado mas que não o são por ascendência (BALLOUX e LUGON-MOULIN, 2002). No entanto, pode ocorrer homoplasia na própria técnica de identificação dos alelos já que estes podem ter o mesmo tamanho mas não serem constituídos pela mesma sequência e, portanto, não serem idênticos por ascendência. Quando k é infinito transforma-se no modelo IAM. O Step Mutation Model – SMM (OHTA e KIMURA, 1973; KIMURA e OHTA, 1975; KIMURA e OHTA, 1978), assume que cada mutação gera um alelo, pela perda ou pelo ganho de uma única unidade de repetição, podendo dar origem a alelos já existentes na população, considerando também a possibilidade de eventuais fenómenos de 54 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA homoplasia. Consequentemente, admite-se que alelos de tamanho muito diferente estão menos relacionados do que os que têm um tamanho próximo (BALLOUX e LUGONMOULIN, 2002). O Two Phase Model – TPM (DI RIENZO et al., 1994), é uma extensão do SMM e parte do princípio segundo o qual os alelos dos microssatélites são gerados pela perda ou ganho de uma ou mais unidades de repetição. Além destes, outros modelos incorporaram os constrangimentos do tamanho dos alelos estabelecendo que alelos grandes tendem a mutar por encurtamento e os pequenos por alongamento do número de repetições (GARZA et al., 1995); consideraram, também, limites no tamanho dos alelos e descreveram a dinâmica esperada num locus com mutação do tipo SMM e com um número restrito de alelos (NAUTA e WEISSING, 1996; FELDMAN et al., 1997); incluíram, ainda, a possibilidade de alterações do tamanho do alelo por multi-etapas e por distorção direccional (KIMMEL e CHAKRABORTY, 1996; KIMMEL et al., 1996), etc. Apesar de, teoricamente, ser possível conceber modelos mais realísticos, eles seriam na prática intratáveis analiticamente, além de ser questionável a sua utilidade devido à variação do processo mutacional entre loci e entre espécies (BALLOUX e LUGON-MOULIN, 2002). Na verdade, os vários estudos sobre a adequação de cada um destes modelos têm apresentado resultados díspares, quer os que assentam na detecção directa de mutações, quer os que usam a comparação entre as distribuições alélicas de microssatélites observadas e as esperadas, reflectindo, mais uma vez, a complexidade do processo mutacional dos microssatélites (VALDES et al., 1993; WIERDL et al., 1997; DI RIENZO et al., 1998). Esta dificuldade de modelação do processo mutacional dos microssatélites parece, contudo, não ter constrangido o uso dos mesmos. Enquanto a sua utilização para mapear genes não apresenta qualquer limitação, o seu uso em estudos filogenéticos deve ser cuidadoso, principalmente quando o tempo de divergência entre as populações em causa for muito grande (TAKEZAKI e NEI, 1996; LINARES, 1999). Todavia, os microssatélites têm fornecido numa vasta gama de aplicações como marcadores moleculares, nomeadamente: em mapeamento genético (GALLOWAY et al., 1996; IHARA et al., 2004), em ecologia e em conservação de populações em risco (MAUDET et al., 2004), em hibridação e estruturação populacional (JORDE et al., 1997; MACHUGH et al., 1997; 55 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA ANGERS e BERNATCHEZ, 1998) e em identificação individual − rastreabilidade e paternidade (BEAUMONT e BRUFORD, 1999), etc. Papel funcional dos microssatélites Os microssatélites fazem parte do que então se designou como DNA lixo (junk DNA) (JURKA, 1998), ou DNA neutro não codificador; no entanto, a prova da sua abundância e localização no genoma de forma não aleatória, por vezes perto de regiões codificadoras e até dentro destas, fez com que se colocasse a hipótese de os mesmos desempenharem algum papel funcional, aspecto bem patente nas revisões de SHAPIRO e VON STERNBERG (2005) e KASHI e SOLLER (1999). Já em 1997, SAWYER et al. haviam apontado um exemplo de associação directa de uma sequência de microssatélite com a habilidade de drosófilas manterem um período circadiano em temperaturas diferentes. BRINKMANN et al. (1998) também sugeriram que algumas bactérias, nomeadamente a Neiseria gonorrhoeae, usam os microssatélites contidos num determinado tipo de genes denominados "genes de contingência" para alterarem o seu perfil de antigénios de membrana e assim iludirem o sistema imunitário do hospedeiro. Trabalhos recentes também têm vindo a associar a variação alélica do tamanho de alguns microssatélites, concretamente a expansão de trímeros e tetrameros, à susceptibilidade a determinadas doenças tais como as doenças de Huntington's e de Steiner (distrofia miotónica), certos tipos de ataxia espinocerebelosa e outras (SUBRAMANIAN et al., 2003; ZHANG et al., 2004). Com base na informação disponível, e numa tentativa de sistematizar conhecimentos, podemos classificar o papel funcional atribuído a alguns microssatélites em: - Função codificante, se o polimorfismo do microssatélite no exão determina variação do tamanho de homopolímeros de aminoácidos (caso dos tripletos) da proteína, com alteração da sua funcionalidade ou simplesmente a supressão versus produção de uma determinada proteína. Como exemplo do primeiro caso é de assinalar o número anormalmente elevado de glutamina na proteína huntingtinana determinante da doença de Huntington's e, para o segundo, os denominados “genes de contingência” em procariotas (LIU et al., 1999; ESCHER et al., 2000). 56 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA - Função reguladora, uma vez que foi detectada a capacidade, variável com o número de repetições, de alguns microssatélites aumentarem ou diminuirem a transcrição dos genes, deduzida pela ligação destes a proteínas, como é característico das sequências activadoras upstream ou da actuação de elementos cis-reguladores que controlam a expressão génica através da ligação de factores de transcrição, ou pela formação de estrutura secundária de DNA (nomeadamente Z-DNA) (HAMADA et al., 1984; LI et al., 2002b; HAMMOCK e YOUNG, 2004; LI et al., 2004; NIKITINA e NAZARENKO, 2004), (ROTHENBURG et al., 2001; IGLESIAS et al., 2004). Um maior número de repetições também foi correlacionado com uma maior activação da transcrição pela proteína p53 relacionada com a supressão de tumores (CONTENTE et al., 2002). - Função estrutural, pelo papel no alinhamento dos cromossomas homólogos durante a meiose (PARDUE et al., 1987), no arranjo e empacotamento do DNA nos cromossomas eucarióticos (GROSS e GARRARD, 1986), na recombinação (WAHLS et al., 1990) e na criação de sinais de posição nos nucleossomas (WANG e GRIFFITH, 1995). Por último, a combinação da taxa de mutação elevada e as funções reguladora/codificadora levantam a possibilidade de os microssatélites serem a maior fonte de variação genética eucariótica (KASHI et al., 1997; IGLESIAS et al., 2004; SHAPIRO e VON STERNBERG, 2005). 1.4.3.3. Comparação entre os vários marcadores Na escolha dos marcadores moleculares devem ser ponderados por um lado, o procedimento ou a técnica de genotipagem (o mais simples possível e de baixo custo) e por outro, de acordo com o objectivo do trabalho e portanto do tipo de análise estatística a efectuar, as características intrínsecas de cada marcador, como a relação de dominância, o conteúdo informativo, a neutralidade selectiva, a posição no mapa genético ou independência genética do marcador e a fiabilidade da informação, entre outras (VIGNAL et al., 2002). Atendendo a que as vantagens e os inconvenientes de cada técnica de genotipagem foram já discutidos na descrição individual dos marcadores, interessa agora confrontar as características intrínsecas de cada um deles, aspecto que tem sido 57 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA alvo de vários estudos recentes (XIONG e JIN, 1999; GERBER et al., 2000; LOUGHEED et al., 2000; CAMPBELL et al., 2003; OHASHI e TOKUNAGA, 2003; HERRAEZA et al., 2005) (LEAL, 2003). A comparação do desempenho de vários marcadores em diversas aplicações, mostrou que os microssatélites revelaram: - Um poder de exclusão em testes de paternidade superior ao dos AFLPs (GERBER et al., 2000) e dos SNPs (HERRAEZA et al., 2005); - Um poder informativo em estudos de desequilíbrio de ligação e mapeamento genético superior ao dos SNPs (LEAL, 2003; OHASHI e TOKUNAGA, 2003); - Uma eficiência na detecção de estruturação de populações muito próximas, superior à dos RAPDs (LOUGHEED et al., 2000); - Um poder informativo maior, na inferência da ancestralidade de indivíduos, quando se confrontou uma amostra aleatória de microssatélites com uma de SNPs (ROSENBERG e KUMAR, 2003; THALAMUTHU et al., 2005) Num estudo baseado na informação de 328 microssatélites e 15840 SNPs em 236 indivíduos de diferentes etnias humanas não aparentados, LIU et al. (2005) verificaram que os microssatélites apresentavam um conteúdo informativo, em média, 4 a12 vezes maior do que os SNPs amostrados aleatoriamente. No entanto, quando era fixado um mesmo número dos marcadores dos dois tipos mais informativos, os SNPs foram mais eficientes na atribuição dos indivíduos às etnias, utilizando o programa “Structure” (PRITCHARD et al., 2000). VIGNAL et al. (2002) referem mesmo que, em resultado dos progressos que se têm vindo a observar nas metodologias de caracterização e genotipagem de SNPs, num futuro próximo será possível gerar uma quantidade de informação igual à obtida com os microssatélites. Contudo, tal afirmação ao não assentar em características intrínsecas dos SNPs, e pressupondo que as técnicas de genotipagem apenas evoluirão para os SNPs, o que não faz sentido uma vez que a tecnologia de microarrays também é aplicável aos microssatélites (RADTKEY et al., 2000), em nosso entender não desvaloriza os microssatélites como marcadores genéticos. Por último, embora o estudo de BAUMUNG et al. (2004) não tenha utilizado uma amostragem aleatória, podendo, por isso, sofrer de algum enviesamento, revelou 58 Capítulo 1 – Raças portuguesas de ovinos e marcadores de DNA claramente que, em 90% dos projectos com vista à caracterização da diversidade genética de raças de animais domésticos, foram usados os microssatélites como marcadores genéticos, contra 29% para marcadores bioquímicos tais como proteínas, 17% para os RFLPs e apenas 12% para os SNPs. 59 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA PARA A OBTENÇÃO DA INFORMAÇÃO ALÉLICA DE MICROSSATÉLITES NAS RAÇAS OVINAS PORTUGUESAS O delineamento experimental deste trabalho teve em consideração as recomendações da FAO, a fim de permitir o enquadramento dos nossos resultados no âmbito de um projecto mais vasto, o “Projecto Global para a Conservação da Diversidade Genética dos Animais Domésticos” (FAO, 1995, 1998a, b), coordenado por aquela instituição. O detalhe de tal projecto encontra-se disponível na Internet num sistema informativo designado de DAD-IS5 (Domestic Animal Diversity – Information System). A metodologia adoptada consistiu basicamente nos seguintes pontos: 1) Recolha criteriosa de amostras de material biológico – preferencialmente sangue – provenientes de cerca de 50 animais, não aparentados, em número equivalente para ambos os sexos, pertencentes a diferentes populações (raças) e dispersos geograficamente. Procurou-se que estes animais abrangessem a variabilidade da raça, mas tendo o cuidado de minimizar a probabilidade da inclusão de animais que se afastavam do padrão de raça “pura”. Animais que se soubesse terem resultado de um cruzamento deliberado entre raças foram excluídos. Igual procedimento foi tomado para os animais que apresentassem sintomas óbvios de doença ou infecção. A amostra não devia exceder 10% dos indivíduos de cada um dos rebanhos ou dos animais existentes numa localidade; 2) Extracção de DNA a partir das amostras obtidas – realizando uma lise das hemácias com um tampão contendo NH4Cl, KHCO3, EDTA, isolando os leucócitos por centrifugação subsequente, seguida pela lise e digestão com proteinase K numa solução contendo Trizma base, EDTA e SDS. O procedimento seguinte constou de duas extracções, uma por fenol em tampão Tris saturado com fenol e outra por clorofórmio. Por último, o DNA foi isolado através da adição de etanol a 95%, sendo o precipitado resultante removido com uma ansa e dissolvido num tampão. Em alternativa à extracção com fenol/clorofórmio (solventes orgânicos tóxicos), a precipitação da proteína foi realizada com NaCl, opção que tem sido seguida 5 Endereço de internet: http://www.fao.org/dad-is. 61 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas noutros estudos. Não se recomendou o usos de kits comerciais de extracção, por a quantidade e a qualidade do DNA obtido não ser adequada para os estudos a realizar e, normalmente envolverem custos elevados. 3) Caracterização da diversidade genética das populações com recurso a marcadores genéticos, especificamente os microssatélites. De entre estes, foram preferidos os que apresentassem um número de alelos entre 4 a 10 identificáveis sem ambiguidade, amplificassem pela PCR de forma robusta e em espécies relacionadas, mostrassem potencialidade para serem amplificados simultaneamente com outros microssatélites (reacção multiplex), não se encontrassem ligados entre si, sobre os quais existisse informação prévia relevante e não fossem patenteados, ou seja, permitissem o livre acesso. 4) Análise estatística dos dados – tarefa que envolveu o cálculo de frequências alélicas e valores de heterozigotia, a análise do desvio do Equilíbrio de Hardy-Weinberg, o cálculo de várias distâncias genéticas e a construção de dendogramas respectivos, assim como uma análise multivariada. 2.1. MATERIAL BIOLÓGICO No presente estudo foram amostrados cerca de 50 animais de cada uma das raças portuguesas de ovinos, número referido como o melhor compromisso entre a necessária precisão estatística e a boa gestão dos recursos financeiros (MACHUGH, 1996; FAO, 1998a). As raças em causa foram a Churra Algarvia (CA), Churra Badana (CB), Churra do Campo (CC), Churra Galega Bragançana (CGB), Churra Galega Mirandesa (CGM), Bordaleira Entre Douro e Minho (BEDM), Churra Mondegueira (CM), Campaniça (CMP), Churra da Terra Quente (CTQ), Merina Branca (MB), Merina da Beira Baixa (MBB), Merina Preta (MP), Serra da Estrela (SE) e Saloia (SL). Para o efeito, contou-se com o auxílio das Associações de Criadores das respectivas raças, quando existentes, ou com o dos Técnicos de Direcções Regionais de Agricultura, como foi o caso das raças BEDM e CC. Após a explanação dos objectivos deste estudo e dos critérios de amostragem recomendados, aqueles acompanharam-nos junto dos produtores por eles seleccionados, estabelecendo uma interface com a nossa equipa e orientando conjuntamente a escolha dos animais a amostrar. Sempre que se 62 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas verificou a existência de livro genealógico da raça, procedeu-se à escolha de animais registados; na sua ausência, contámos com a experiência dos técnicos referidos para a selecção dos animais mais representativos da raça. Foram escolhidos, no máximo, 4 animais por rebanho (dois machos e duas fêmeas), com excepção das raças CC, CMP e MBB pois foram poucos os rebanhos disponíveis para amostrar nestas últimas. Contudo, os rebanhos da CMP e MBB tinham o efectivo muito elevado pelo que o número de animais em cada rebanho se situou sempre muito abaixo dos 10%. No caso da CC, e devido à sua raridade, amostrámos todos os animais que no entender dos técnicos reuniam as características da raça, não havendo qualquer garantia quanto ao seu parentesco nem sobre eventuais cruzamentos anteriores. Nas raças em que a genealogia dos animais era conhecida, estes foram escolhidos minimizando o seu parentesco, caso contrário foram seleccionados aleatoriamente machos mais novos do que as fêmeas, pois é frequente os pastores escolherem as mães dos futuros carneiros, tentando evitar, assim, a possibilidade de escolher mãe e filho. Devido ao reduzido uso da inseminação artificial nas raças ovinas portuguesas, a paternidade dos animais é um dado pouco fiável, pelo que não foi possível garantir a ausência de parentesco entre alguns dos animais. No momento da recolha das amostras, e para a maioria dos animais, procedeu-se à fotografia face a uma escala métrica de referência e à recolha de informação relativa aos mesmos e ao rebanho de origem. A dispersão e o número dos animais estudados por raça constam da Tabela 2. As amostras de sangue dos animais foram recolhidas por punção venosa da jugular, em tubos de vácuo estéreis de 9 ml (VACUETTE®) heparinizados, após o que se procedeu a uma ligeira agitação, etiquetagem, acondicionamento em malas térmicas com placas de gelo para transporte e posterior armazenamento a 4 ºC até à extracção do DNA, processo realizado, normalmente, nas 24 horas seguintes à recolha. 63 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas Tabela 2. Resumo do processo de amostragem. Dispersão geográfica aa amostragem Associações de criadores Raças e Dir. Reg. de Agricultura Distritos Concelhos BEDM DRAEDM 1 3 11 16 CA ASCAL 1 4 10 CB DRATM 1 3 CC DRABI 1 CGB ACOB CGM Animais amostrados Freguesias Lugares Explorações Machos Fêmeas 23 13 32 13 14 16 38 7 7 10 23 27 2 3 4 4 2 29 1 3 12 13 26 23 27 ACCGM 1 2 9 12 20 20 31 CM COVICÔA 1 7 14 15 17 21 29 CMP ACOS 2 4 6 6 6 22 32 CTQ ANCOTEQ 2 7 21 24 26 32 30 MB ANCORME 3 11 16 20 20 32 30 MBB OVIBEIRA 1 2 6 7 7 27 26 MP ANCORME 3 8 8 10 10 23 29 SE ANCOSE 3 3 10 13 17 31 22 SL ARCOLSA 2 4 7 13 13 23 27 23 63 140 173 213 308 409 e ACORO SOMA 2.2. EXTRACÇÃO DE DNA Por questões de ordem prática, as amostras recolhidas no Norte e Centro do país foram processadas no laboratório de Fisiologia Animal na UTAD, enquanto que as obtidas na zona Sul foram no Laboratório de Genética Molecular do Departamento de Biotecnologia do INETI (instituição integrante do projecto de investigação que financiou este estudo). A extracção de DNA foi baseada no método salino de MONTGOMERY e SISE (1990) (Anexo 1) o qual, ao contrário dos protocolos clássicos, tem a vantagem de não fazer uso de fenol, uma substância tóxica e corrosiva. A concentração e a qualidade do DNA foram determinadas pela metodologia clássica de espectrofotometria, com base na leitura da absorvência a 260 nm (A260) e 280 nm (A280) de uma solução constituída por 5 μl da solução base de DNA a medir e 995 μl de tampão TE, utilizando como “branco” 1 ml de tampão TE. O valor de A260 foi 64 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas multiplicado por 50 para se obter a concentração de DNA em μg/ml e o valor do rácio A260/A280 usado como indicativo da qualidade. Posteriormente, a solução base de DNA foi dividida em duas alíquotas, uma destinada a estabelecer um banco de DNA congelado a –20 ºC e a outra mantida a 5 ºC, para ser utilizada no decurso do estudo. A partir desta última foram elaboradas as soluções de trabalho, à concentração de 50 μg/ml, destinadas às reacções de PCR. 2.3. ESTUDO DO POLIMORFISMO DOS MICROSSATÉLITES Esta fase do trabalho foi iniciada na Unidade de Biologia Molecular do Departamento de Bioquímica da Universidade de Otago (Nova Zelândia) onde, sob orientação do Doutor Allan M. Crawford (consultor da FAO), permanecemos no período compreendido entre 15 de Setembro e 12 de Dezembro de 1997, e posteriormente continuada no Laboratório de Fisiologia Animal (UTAD), com as necessárias adaptações dos métodos aos meios aqui disponíveis. A informação relativa aos 20 microssatélites que utilizámos é apresentada na Tabela 3. A escolha de tais microssatélites baseou-se na optimização de condições de análise obtida no laboratório neozelandês, sendo cerca de metade coincidentes com os recomendados pela FAO (FAO, 1998c) uma vez que a prioridade dada aos marcadores já implementados em determinados laboratórios é uma prática corrente neste tipo de estudos, como foi revelado pelo recente relatório da FAO (FAO, 2004). Os primeiros 6 microssatélites foram isolados em bovinos (BM1824, BM4621, BM6444, BM6506 e ETH225) e os restantes em ovinos. Na Nova Zelândia, a visualização das bandas alélicas foi realizada em radiografias utilizando um método radioactivo, pelo qual um dos primers foi marcado previamente numa reacção envolvendo [℘-33P]ATP radioactivo e a enzima T4 polinucleótido cinase (Anexo 1). Na reacção de PCR, para cada amostra, foram utilizados como molde cerca de 100 ng de DNA, num volume de reacção final de 12 μl. Os constituintes de reacção (concentração final aproximada indicada entre parênteses) foram: dNTPs (20 μM), Tris pH 8,80 (45 mM), (NH4)2SO4 (11 mM), MgCl2 (4,5 mM), 2´β- Mercaptoetanol (6,7 mM), EDTA (4,5 mM), Espermidina (0,25 mM), Seroalbumina Bovina (2 μg/μl) e Red Hot DNA Polimerase (0,25 U/μl). 65 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas Tabela 3. Informação sobre os microssatélites utilizados. Loci Primers (5’-3’) CR T. (°C) Acesso * BM1824 GAGCAAGGTGTTTTTCCAATC 1 55 G18394 BISHOP et al. (1994) 6 52 G18529 BISHOP et al. (1994) 2 55 G18444 BISHOP et al., (1994) 1 54 G18455 BISHOP et al. (1994) 9 55 G18473 BISHOP et al. (1994) 9 57 Z14043 STEFFEN et al. (1993) 17 63 M80358 BUCHANAN e CRAWFORD (1992) 3 52 -- SWARBRICK et al. (1990) 6 55 L38982 HULME et al. (1995) 4 -- L39828 HULME et al. (1996) 1 60 L34279 HULME et al. (1994) 21 63 U15695 EDE et al. (1995) 3 63 U15699 EDE et al. (1995) 17 63 U15702 EDE et al. (1995) 2 63 L01531 BUCHANAN e CRAWFORD (1993) 2 60 L01532 BUCHANAN e CRAWFORD (1993) 2 55 L20004 BUCHANAN et al. (1994b) 19 63 L01535 BUCHANAN e CRAWFORD (1993) 17 55 M82875 BUCHANAN et al. (1994b) 4 55 L12558 HENRY et al. (1993) Referência CATTCTCCAACTGCTTCCTTG BM4621 CAAATTGACTTATCCTTGGCTG TGTAACATATGGGCTGCATC BM6444 CTCTGGGTACAACACTGAGTCC TAGAGAGTTTCCCTGTCCATCC BM6506 GCACGTGGTAAAGAGATGGC AGCAACTTGAGCATGGCAC BM757 TGGAAACAATGTAAACCTGGG TTGAGCCACCAAGGAACC ETH225 GATCACCTTGCCACTATTTCCT ACATGACAGCCAGCTGCTACT MAF209 TCATGCACTTAAGTATGTAGGATGCTG GATCACAAAAAGTTGGATACAACCGTGG MAF23 GTGGAGGAATCTTGACTTGTGATAG GGCTATAGTCCATGGAGTCGCAG MCM214 AAGCGACTCAGGAGCAGCAG AATGCTTGCATTTATCAAAAGCC MCM218 GATCCTAGCATCAGTCTCCAGATG CACTAAAAGCTTATGAAAGTTCCAGC MCM357 ATCTCTTTGCTCACCAATTAAGCA CCTGAGAAAACATTGAGTGTGCG OarCP20 GATCCCCTGGAGGAGGAAACGG GGCATTTCATGGCTTTAGCAGG OarCP34 GCTGAACAATGTGATATGTTCAGG GGGACAATACTGTCTTAGATGCTGC OarCP49 CAGACACGGCTTAGCAACTAAACGC GTGGGGATGAATAATCCTTCATAAGG OarFCB11 GGCCTGAACTCACAGTTGATATATCTATCAC GCAAGCAGGTTCTTTACCACTAGCACC OarFCB128 CAGCTGAGCAACTAAGACATACATGCG ATTAAAGCATCTTCTCTTTATTTCCTCGC OarFCB20 AAATGTGTTTAAGATTCCATACAGTG GGAAAACCCCCATATATACCTATAC OarFCB304 CCCTAGGAGCTTTCAATAAAGAATCGG CGCTGCTGTCAACTGGGTCAGGG OarFCB48 GAGTTAGTACAAGGATGACAAGAGGCAC OarHH64 CGTTCCCTCACTATGGAAAGTTATATATGC GACTCTAGAGGATCGCAAAGAACCAG CACTCTATTGTAAGAATTTGAATGAGAGC * – Número de acesso para o GenBank CR- Cromossoma Mais informações em http://www1.angis.org.au/jmaddox/cgi-bin/marker.pl O DNA e o "cocktail" de PCR foram acondicionados em placas apropriadas com 96 poços e cobertos com uma gota de parafina líquida para prevenir uma possível evaporação. Foram também incluídos, como referência e nas extremidades, duas amostras de DNA provenientes de animais com genótipo conhecido. 66 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas Apesar da temperatura de ligação ser variável com o microssatélite (Tabela 3), a PCR foi realizada num termociclador, utilizando o mesmo programa térmico de amplificação para todos eles, o que constituiu uma vantagem prática. Tal programa térmico consistiu em: 3 ciclos 95 ºC durante 45 s 60 ºC durante 1min 3 ciclos 95 ºC durante 45 s 57 ºC durante 1min 3 ciclos 95 ºC durante 45 s 54 ºC durante 1min 3 ciclos 95 ºC durante 45 s 51 ºC durante 1min 20 ciclos 95 ºC durante 45 s 48 ºC durante 1min Ao produto de PCR obtido foram adicionados 10 µl de corante contendo formamida, procedendo-se de seguida à sua desnaturação a 95 ºC, durante 3 minutos num termociclador. A electroforese foi realizada em gel de poliacrilamida (6%) desnaturante (ureia 8M), sob voltagem constante de 1000 V e durante um período variável consoante o microssatélite. As amostras dos dois animais de referência foram sempre colocadas nas extremidades do gel. O detalhe do procedimento relativo à electroforese consta do Anexo1. Terminada a electroforese, a etapa seguinte consistiu na transferência do gel para uma folha de papel de filtro, seco em secador próprio para o efeito e em local escuro colocado dentro de uma caixa adequada, juntamente com uma película de radiografia, onde permanecia cerca de 18h para que o mesmo fosse impregnado. Após a revelação da película, as bandas de DNA foram identificadas visualmente tendo como referência o tamanho das bandas da primeira e da última amostra com genótipo previamente conhecido (Figura 8). OarFCB128 C1 C2 127 pb 113 pb 113 pb Figura 8. Exemplo de imagem de um gel para o microssatélite OarFCB128, obtida pela técnica de primers marcados com P33 radioactivo. (C1 e C2 são controlos com tamanho conhecido). Esta fase do trabalho, ainda iniciada no laboratório neozelandês, foi completada no Laboratório de Fisiologia da UTAD. A adaptação metodológica mais relevante consistiu na utilização de primers não marcados e na detecção das bandas de DNA pela 67 Capítulo 2 - Metodologia para a obtenção da informação alélica de microssatélites nas raças ovinas Portuguesas revelação com nitrato de prata (Anexo1), decorrente da impossibilidade de uso de marcação radioactiva por carência de instalações próprias. Esta técnica de revelação apresentou os resultados melhores com a utilização do Kit Silver SequenceTM (Promega). As imagens obtidas após revelação dos géis foram captadas pelo sistema de análise de géis BioCapture da Vilber Lourmat e guardadas em formato digital, sendo de realçar a semelhança na qualidade da discriminação das bandas com a obtida pela técnica de marcação radioactiva (Figura 9). OarFCB128 C1 C2 127 pb 123 pb 125 pb 123 pb Figura 9. Exemplo de imagem de um gel para o microssatélite OarFCB128, obtida pela técnica de primers não marcados e revelação com nitrato de prata. (C1 e C2 são controlos com tamanho conhecido). À semelhança do método radioactivo, procedeu-se de seguida à leitura visual do gel tendo como referência o tamanho das bandas dos animais controlo. Em qualquer dos casos, os dados obtidos foram organizados numa folha de cálculo do programa Excel, resultando numa matriz de genótipos (2 alelos) constituída por 717 linhas (animais) e por 20 colunas (microssatélites), com o objectivo de tornar fácil a conversão em formato de ficheiro de entrada compatível com os diversos programas estatísticos utilizados neste estudo e que, para uma maior clareza de exposição, optámos por descrever no capítulo respectivo. 68 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas CAPÍTULO 3 - CARACTERIZAÇÃO DA DIVERSIDADE GENÉTICA DAS RAÇAS OVINAS PORTUGUESAS 3.1. INTRODUÇÃO A variabilidade fenotípica que se observa nos animais domésticos resulta de uma história evolutiva mais ou menos complexa, influenciada pelo meio envolvente, e na qual o homem teve um papel preponderante. Avaliar o peso da componente genética dessa diversidade reveste-se de grande importância, designadamete para estabelecer programas de conservação. No entanto, a escolha de metodologias e critérios de avaliação da mesma não é uma tarefa fácil nem consensual. É sabido que duas populações podem apresentar semelhanças morfológicas evidentes e ser geneticamente distantes, assim como, podem parecer distintas mas resultar apenas de um processo de selecção centrado num número reduzido de genes responsáveis pelas diferenças morfológicas em questão, apesar de muito semelhantes na globalidade do genoma. Hoje em dia, é possível estudar a diversidade genética de uma dada espécie quantificando-a directamente ao nível do DNA. Todavia sequenciar a totalidade do genoma é ainda uma tarefa difícil e onerosa, pelo que a investigação tem sido direccionada no sentido das metodologias no âmbito da biologia molecular já referidas, capazes de gerar informação útil para estimar diversos parâmetros estatísticos, definidos para os vários níveis de estruturação populacional (locus, indivíduo, raça, espécie, etc.). 3.2. OBJECTIVOS Com recurso à informação alélica anteriormente obtida para os 20 microssatélites de DNA procurou-se estimar parâmetros reveladores da diversidade genética dentro e entre as raças portuguesas de ovinos. Por outro lado, foi também incluído o propósito de analisar a distribuição da diversidade dentro e entre loci utilizados, tentando identificar os mais informativos e disponibilizando esta informação para futuros trabalhos, nomeadamente, aqueles que visarem a elaboração de protocolos metodológicos de 69 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas testagem de parentesco e de rastreabilidade de produtos animais nas raças portuguesas de ovinos. 3.3. DIVERSIDADE DENTRO DAS RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS A percentagem de loci polimórficos, a riqueza alélica ou número de alelos (RA) presentes e sua frequência, a heterozigotia observada (HO), a diversidade génica ou heterozigotia esperada (He) e o conteúdo de informação polimórfico (PIC - Polimorphic Information Content) são os parâmetros normalmente utilizados para descrever a diversidade dentro das raças. Apesar da percentagem de loci polimórficos ser uma medida clássica para avaliar a diversidade, no presente estudo ela revestia-se de pouca utilidade, uma vez que no processo prévio de obtenção dos microssatélites foram seleccionados apenas os que tinham natureza polimórfica. O número médio de alelos por locus, ou seja a riqueza alélica, pelo contrário, tem um elevado poder informativo sobre a diversidade genética, sendo mesmo indicada a sua utilização, como critério no estabelecimento de prioridade, em programas de conservação (PETIT et al., 1998). De facto, NEI et al. (1975) e (LEBERG) (1992) demonstraram que o número de alelos neutros é mais sensível à história demográfica, nomeadamente a fenómenos de bottleneck, consanguinidade e efeito fundador, do que outras medidas de diversidade assentes nos alelos mais frequentes, de que é exemplo a heterozigotia média. Além disso, a riqueza alélica está também muito dependente do tamanho efectivo da população (PETIT et al., 1998), aspecto relevante na gestão da diversidade. Apesar das vantagens referidas, este parâmetro apresenta uma grande dependência face aos loci considerados e principalmente ao tamanho da amostra utilizada na sua estimativa. O primeiro aspecto impede apenas a sua adopção como valor absoluto; o segundo restringe a sua comparação com populações cujo tamanho da amostra foi sensivelmente idêntico, limitação ultrapassável se os resultados forem padronizados para igual tamanho de amostra nas várias populações estudadas. Para o efeito, existem entre outras (LEBERG, 2002), as seguintes alternativas disponíveis: - Estimar o número de alelos esperados numa sub-amostra de 2n genes, dados 2N genes amostrados de acordo com uma adaptação do conceito de índice de rarefacção, sugerida por ELMOUSADIK e PETIT (1996); 70 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas - Calcular o número de alelos em sub-amostras aleatórias de tamanho igual ao número de indivíduos da menor das amostras; - Estimar o número total de alelos para a população com base no número observado numa amostra (HUANG e WEIR, 2001). Por outro lado, a variância amostral da RA é demasiado grande, devido à presença de alelos raros, o que dá à estimativa baseada numa amostra um valor limitado (CAMPBELL, 1995). Por isso, deve ter-se algum cuidado na interpretação das diferenças encontradas entre populações, pois podem, eventualmente, resultar da presença de alelos raros com baixa frequência, cuja detecção na amostra pode ter sido apenas ocasional. Além disso, a importância atribuída a estes alelos é normalmente reduzida pois têm tendência a perder-se pela acção da deriva genética (HARTL e CLARK, 1997). Outro aspecto com este relacionado é o caso dos alelos denominados de "únicos", ou seja, ditos exclusivos de uma população. Estes, pelas mesmas razões, só terão interesse caso a sua frequência seja considerável, além de que não há a garantia quanto ao facto de serem únicos, ou apenas resultado de ausência de amostragem noutras populações. O número efectivo de alelos ( Ne =1/ ∑xi2 ) definido por KIMURA e OHTA (1975) é independente do tamanho da amostra mas, ao contrário do que pode sugerir a sua denominação, mede a igualdade da frequência alélica, não a riqueza alélica propriamente dita, além de ser um parâmetro que do ponto de vista estatístico, não se comporta adequadamente (NEI, 1987). A medida mais usada para descrever a diversidade genética de uma população é a heterozigotia, podendo ser expressa de duas formas. A heterozigotia individual, que descreve a proporção de loci heterozigóticos num indivíduo (MITTON e PIERCE, 1980) e a heterozigotia média, que reflete a proporção de indivíduos heterozigóticos numa população medida por vários loci (HARTL e CLARK, 1997). Esta última é normalmente referida de dois modos: - A heterozigotia observada (HO), definida e calculada como a proporção de heterozigotos detectados numa amostra da população; - A heterozigotia esperada (He), também designada por NEI (1987) como diversidade génica (gene diversity) e definida como a probabilidade de dois 71 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas alelos aleatoriamente amostrados numa população serem diferentes. Esta probabilidade é equivalente à proporção de heterozigotos esperados numa população diplóide em equilíbrio de Hardy e Weinberg (HWE). A heterozigotia esperada para um dado locus numa população é definida matematicamente por: m H e = 1 − ∑ xi2 (NEI, 1987) i =1 onde m é o número de alelos e xi é a frequência do alelo i. A He de uma população é a média dos valores da He de todos os seus loci. Ao contrário da riqueza alélica, a heterozigotia é apenas ligeiramente afectada pelo tamanho da amostra, pois a contribuição dos alelos com baixa frequência é muito pequena (NEI, 1987). A relação de vantagem entre a RA e a He depende do tipo de distribuição e do número de descendentes, sendo semelhante se seguir uma distribuição de Poisson (CAMPBELL, 1995). A RA avalia mais o potencial de evolução enquanto que a He avalia a taxa de evolução. Embora as distribuições das frequências alélicas e genotípicas contenham mais informação do que a RA e a He em conjunto, são difíceis de analisar teoricamente, razão pela qual os motivos da utilização da He serem mais de ordem prática do que teórica. Por outro lado, a He de uma amostra fornece uma boa estimativa da heterozigotia da população, para além da facilidade da sua aplicação em muitas fórmulas matemáticas (CAMPBELL, 1995). Definido inicialmente por BOTSTEIN et al. (1980) para marcadores dominantes e mais tarde generalizado a qualquer tipo de herança por GUO e ELSTON (1999), o PIC (Polymorphism Information Content) é uma medida de avaliação do poder informativo de um marcador, particularmente útil em estudos de desequilíbrio de ligação (Linkage Desiquilibrium). O PIC mede a probabilidade do genótipo de um dado descendente, para um dado locus, permitindo a dedução, na ausência de crossing - over, sobre qual dos alelos foi recebido de um dado progenitor (GUO e ELSTON, 1999), sendo a sua expressão matemática dada por: m m −1 PIC = 1 − ∑ xi − ∑ i =1 2 m ∑x x i =1 j = i +1 2 2 i j (GUO e ELSTON, 1999) 72 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas onde m é o número de alelos e xi é a frequência do alelo i. SHETE et al. (2000) apresentaram posteriormente desenvolvimentos sobre a estimativa do PIC e da respectiva variância. Tal como se observa para a He, o PIC aumenta com o acréscimo do número de alelos, mas ao contrário da primeira, tem em conta o facto de, quando dois progenitores são identicamente heterozigóticos, a sua descendência heterozigótica não ser informativa, pois a origem parental de cada alelo não pode identificar-se inequivocamente. O máximo do PIC é atingido quando todos os alelos têm igual frequência na população (NSENGIMANA, 2003). 3.3.1 Metodologia A riqueza alélica observada (RAO) e a frequência alélica para cada locus, em cada população, foram determinados por contagem directa, enquanto o cálculo da riqueza alélica ajustada (RAA) à amostra de menor tamanho (31 indivíduos da raça CC) foi realizado de acordo com ELMOUSADIK e PETIT (1996). Todos estes cálculos foram efectuados recorrendo ao programa FSTAT (GOUDET, 2001). Os valores das frequências alélicas foram posteriormente transferidos para uma folha de cálculo para a construção dos histogramas respectivos. A contabilização do número de alelos únicos (private alleles) em cada raça foi obtida através do programa GDA (LEWIS e ZAYKIN, 2001). Os valores da heterozigotia observada (HO) em cada amostra e para cada locus foram calculados pela contagem directa dos heterozigotos. Por seu lado, as estimativas não enviesadas da heterozigotia esperada (HNB) em cada amostra e para cada locus, assim como a respectiva média, foram obtidas pelas seguintes fórmulas: m H NB = 2n(1 − ∑ xi ) /( 2n − 1) 2 (NEI, 1978) i =1 r H NB = ∑H NBj j =1 r onde n é o número de animais e xi é a frequência do alelo i do locus j em cada amostra e r é o número de loci. A diferença entre HNB e He torna-se negligenciável para amostra 73 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas de tamanho superior a 50. Tanto o cálculo da HO como o da HNB foram efectuados recorrendo ao programa Genetix (BELKHIR et al., 2003). Na estimativa da variância das heterozigotias para cada população foi considerada a variância total (V), a variância associada ao processo de amostragem de indivíduos na população (Vs) e a variância associada à amostragem de locus no genoma (Vl). Os valores respectivos foram calculados utilizando as frequências alélicas obtidas no programa FSTAT (GOUDET, 2001) e aplicando as fórmulas que se seguem numa folha de cálculo: r V (Ho ) = ∑ (H o −H o ) 2 j =1 r −1 V (H o ) = V (Ho ) r Vs ( H o ) = H o (1 − H o ) n Vs ( H o ) = H o (1 − H o ) nr (HEDRICK, 1983) Vl ( H o ) = V ( H o ) − Vs ( H o ) r ∑ (H −H NB ) 2 j =1 V ( H NB ) = (NEI, 1978) r −1 V ( H NB ) = V s ( H NB ) = NB V ( H NB ) r (NEI, 1978) { [ ] 2 3 2 2 2 2(2n − 2) ∑ xi − (∑ xi ) 2 + ∑ xi − (∑ xi ) 2 2n(2n − 1) } (NEI e ROYCHOUDHURY, 1974b) Vs ( H NB ) = 1 r ∑Vs ( H NBi ) r j =1 (NEI, 1978) Vl ( H NB ) = V ( H NB ) − Vs ( H NB ) (NEI, 1978) 74 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas onde n, r e xi são o tamanho da amostra, o número de loci e a frequência de cada alelo i em cada locus j numa população, respectivamente. O valor do erro padrão para cada caso foi obtido pelo cálculo da raiz quadrada do valor da variância da média, respectivo. Para testar a diferença, entre raças, de valores de RA e de HNB, utilizámos o teste não paramétrico de “Wilcoxon sign ranks test” (SNEDECOR e COCHRAM, 1976), recorrendo ao programa SYSTAT (SYSTAT, 1990-1992), uma vez que a distribuição destes parâmetros não é normal quando são analisados um número pequeno de loci e as heterozigotias de populações interligadas evolutivamente estão correlacionadas (NEI, 1987). Por último, o cálculo dos valores de PIC foi efectuado com recurso ao programa CERVUS 2.0 (MARSHALL et al., 1998). 3.3.2 Resultados Neste estudo foram determinados os genótipos de 717 indivíduos pertencentes a 14 raças portuguesas de ovinos, relativamente a 20 microssatélites o que perfez um total de, cerca de 14340 genótipos individuais. As distribuições das frequências alélicas para cada microssatélite por raça são apresentadas nas Figuras do Anexo 2. A análise das mesmas não permitiu constatar a ausência de relação entre o tamanho dos alelos dos microssatélites (por isso do número de repetições do motivo que o compõe) e a respectiva frequência. Com efeito, para os microssatélites McM218 e OarHH64, os alelos mais frequentes foram os de maior tamanho, ao contrário do que ocorreu com os microssatélites MAF23 e McM214, para os quais os alelos com menor tamanho foram os mais frequentes, enquanto que alguns microssatélites como o McM357, o BM4621 e o ETH225 apresentaram, essencialmente, alelos de tamanho intermédio. Da mesma forma, o perfil de repartição das frequências alélicas foi também muito diferente para microssatélites com um número idêntico de alelos. Assim, a maior parte dos alelos do microssatélite BM1824 foram detectados em todas as raças com pequenas variações, ao passo que para o BM6506 dois alelos foram preponderantes, tendo-se verificado mesmo a ausência de alguns alelos em certas raças. Um outro aspecto que pode ser considerado é o que se prende com a presença/ausência de simetria da distribuição alélica, assim como a sua 75 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas classificação em unimodal ou em multimodal. A maior simetria de distribuição para o tipo unimodal foi revelada pelo microssatélite McM357, enquanto que para o tipo bimodal foi o OarFCB11. No entanto, na maior parte dos casos não foi possível estabelecer um tipo de perfil, tal como vem sendo mostrado noutros trabalhos. Com efeito, a irregularidade da distribuição de frequência dos alelos nos microssatélites tem sido objecto de vários estudos, embora permaneça pouco compreendida (BROHEDE, 2003; LAI e SUN, 2003; NIKITINA e NAZARENKO, 2004). Nas Tabela 1 e 2 do Anexo 3 são apresentados os valores da RA por microssatélite e por raça. Para o conjunto das raças foram observados 280 alelos, tendo o número total de alelos por locus e por raça variado entre 5 para o microssatélite BM1824 e 26 para o OarCP49, com um valor médio por locus de 14 alelos. Estes valores justificam-se pela taxa de mutação elevada que é característica deste tipo de marcador. Em 15 dos loci estudados (à excepção de BM1824, MAF23, McM218, OarCP34, OarFCB20) foi detectada a presença de alelos únicos (Tabela 4). Tabela 4. Valores de frequência dos alelos únicos, por raça e por microssatélite. Raça BEDM BEDM BEDM CA CA CC CC CC CC CGM CM CM CM CTQ CTQ MB MB MB MBB MP MP SE SL SL SL SL bp- pares de bases Locus BM757 MAF209 OarFCB304 BM6444 McM214 ETH225 McM357 OarCP20 OarFCB128 McM214 BM4621 OarCP20 OarFCB11 BM4621 OarFCB48 OarCP49 OarFCB128 OarHH64 ETH225 BM757 OarFCB128 OarFCB11 BM6506 McM357 OarFCB304 OarFCB304 Alelo (bp) 199 115 154 127 112 159 118 95 129 68 173 93 141 139 140 125 115 135 143 185 101 117 205 98 192 184 76 Frequência 0,033 0,011 0,011 0,019 0,019 0,048 0,032 0,016 0,016 0,010 0,040 0,010 0,020 0,008 0,024 0,008 0,008 0,016 0,009 0,010 0,010 0,010 0,010 0,090 0,010 0,060 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas No que concerne às raças, com excepção da CB, CGB e CMP, todas as restantes apresentaram alelos únicos em pelo menos um locus. Os 26 alelos únicos representaram apenas cerca de 9% do número total de alelos detectados e, na sua maior parte caracterizaram-se por possuir um tamanho extremo e uma frequência inferior a 5%. Os valores individuais de RAA, de HO, de HNB e de PIC, por raça e locus, encontram-se nas Tabelas 3, 4 e 5 do Anexo 3. A análise dos valores individuais da RAA por raça e por locus, indicou um valor mínimo de 3,6 na CMP para o microssatélite MAF 23 e um valor máximo de 17,4 na CGM para o microssatélite OarCP49. Por seu lado, os valores individuais da HO variaram entre 0,196 na CGM e no microssatélite OarHH64 e 0,940 na CB e no microssatélite OarFCB20. Os valores individuais de HNB apresentaram um intervalo de variação mais estreito, entre 0,919 na BEDM e no microssatélite BM6444 e 0,386 na CMP e no microssatélite ETH225. Na Tabela 5 são apresentados os valores médios de RAO e RAA, da HO, da HNB e do PIC. Tabela 5. Características genéticas das 14 raças com base nos 20 loci estudados: Riqueza alélica observada (RAO), Riqueza alélica ajustada (RAA), Heterozigotia Observada (HO), Heterozigotia Esperada (HNB) e PIC. Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Média N 45 54 50 31 50 51 50 54 62 62 53 52 53 50 51,2 RAO 9,5 7,4 8,5 8,3 9,4 9,9 8,6 9,2 9,8 9,6 8,9 9,6 8,8 8,3 9,0 RAA 8,9ad 6,9b 7,7bc 8,3acg 8,6adf 9,1d 7,8ceg 8,3acg 8,6adef 8,3ac 8,1cfg 8,6adf 8,0ceg 7,6bg 8,2 Ho 0,666a 0,677ace 0,685acd 0,710ab 0,747b 0,711bc 0,663ace 0,693acd 0,698acd 0,729bd 0,678ace 0,670ac 0,716bde 0,720abc 0,697 Hnb 0,774acd 0,733ab 0,729bc 0,773cde 0,782d 0,774cd 0,748abe 0,751abcf 0,774df 0,772df 0,767dce 0,766bcd 0,764bcd 0,763bcd 0,762 PIC 0,736 0,689 0,687 0,728 0,745 0,734 0,705 0,709 0,737 0,731 0,728 0,728 0,722 0,723 0,722 Os valores médios para cada raça com presença de, pelo menos, uma letra igual não diferem significativamente (P=0,05) – Wilcoxon signed ranks test (Systat). A riqueza alélica média observada em cada raça, ajustada para 31 indivíduos (menor das amostras), diferiu significativamente (P<0,05) entre raças, tendo variado 77 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas entre 6,9 registado na raça CA e 9,1 verificado na raça CGM, com um valor médio de 8,2 para o conjunto de raças e microssatélites. Os valores elevados obtidos para a HO e a HNB estão de acordo com o esperado para este tipo de loci e em particular para os ovinos. A primeira variou entre 0,663 (CM) e 0,747 (CGB) e a segunda entre 0,729 (CB) e 0,782 (CGB). Tanto a heterozigotia média observada (HO) como a esperada (HNB) foram significativamente diferentes entre raças (P<0,05). A média da HO foi inferior à da HNB em todas as raças, o que sugere um défice de heterozigotos nas populações, cujo significado será discutido mais adiante, neste capítulo. O valor médio do PIC dentro de cada raça variou entre 0,682 (CB) e 0,745 (CGB). A grande maioria dos loci estudados apresentaram valores elevados de PIC para todas as raças, com um valor médio de 0,722, tendo variado entre 0,338 para o ETH225 registado na CMP e 0,902 para o BM644 observado na BEDM. O microssatélite ETH225 exibiu também a maior variação entre raças. Como pode ser observado na Figura 10 verifica-se uma correlação altamente significativa entre o PIC e a HNB, razão pela qual o valor de PIC nem sempre consta em estudos desta natureza. 1,0 0,9 0,8 0,7 H nb 0,6 y = 0,8711x + 0,1335 R2 = 0,9859 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 PIC Figura 10. Relação entre a heterozigotia esperada não enviesada (HNB) e o Polymorphism Information Content (PIC). Do ponto de vista de uma análise de diversidade por microssatélite, verificámos que nos 20 microssatélites foram observados um total de 280 alelos o que perfaz uma 78 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas média de 14,0±5,3 alelos por locus, tendo o seu valor variado entre 5 para o microssatélite BM1824 e 26 para o OarCP49 (Tabela 6). No caso da HO, o valor mínimo (0,422) da média das populações foi obtido para o microssatélite McM357 e o máximo (0,847) para o BM4621. Relativamente à HNB, o valor mínimo (0,568) da média das populações correspondeu ao microssatélite ETH225 e o máximo (0,867) ao BM6444. Este microssatélite (BM6444) obteve também o valor maior de PIC (0,844). É de notar que o BM6444 é um microssatélite que foi isolado em bovinos. Por outro lado, se considerarmos o conjunto das 14 raças como uma única população, os valores médios da HO e da HNB, para os 20 microssatélites foi de 0,698 e 0,781, respectivamente. Tabela 6. Características genéticas dos 20 microssatélites com base nas 14 raças ovinas estudados: Riqueza Alélica observada (RAO), Riqueza Alélica ajustada (RAA), Heterozigotia Observada (HO), Heterozigotia Esperada (HNB). Locus BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 McM357 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 Média RAO 5,0 13,5 14,6 6,1 5,7 5,6 9,8 5,6 10,3 8,5 8,8 8,1 6,2 14,8 8,5 7,5 11,1 10,7 10,3 8,4 9,0 RAA 5,0 12,4 13,3 5,6 5,4 5,2 9,0 5,0 9,3 7,9 8,4 7,3 6,0 13,3 8,0 7,2 10,1 9,4 9,5 8,0 8,3 Ho 0,703 0,847 0,711 0,669 0,706 0,459 0,776 0,610 0,751 0,732 0,422 0,721 0,719 0,797 0,741 0,740 0,773 0,752 0,764 0,557 0,698 Hnb 0,745 0,866 0,867 0,677 0,734 0,568 0,782 0,638 0,793 0,760 0,797 0,763 0,752 0,859 0,787 0,770 0,828 0,749 0,771 0,734 0,762 PIC 0,699 0,842 0,844 0,614 0,682 0,507 0,747 0,564 0,758 0,720 0,762 0,720 0,708 0,836 0,751 0,729 0,800 0,708 0,740 0,700 0,722 3.3.3 Discussão A utilização de técnicas modernas, como a inseminação artificial associada a programas de melhoramento, tem tido pouca expressão na exploração das raças ovinas portuguesas. Se por um lado este aspecto deixou em desvantagem as raças autóctones face a raças exóticas que pouco a pouco têm vindo a ocupar o seu lugar, caso da raça Castelhana proveniente de Espanha, por outro lado contribuiu para que tivessem 79 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas mantido a diversidade genética que foi possível revelar neste estudo com recurso aos microssatélites. A caracterização da diversidade dentro e entre raças constitui um passo imprescindível para um planeamento eficaz das estratégias a estabelecer nesse sentido. Os microssatélites têm-se mostrado úteis, como ferramentas reveladoras da diversidade de populações de animais domésticos, podendo a informação obtida ser expressa de variadas formas já mencionadas neste trabalho. Da análise das distribuições alélicas depreendeu-se que para a maior parte dos microssatélites, o alelo mais frequente foi variável com a raça, embora em alguns, nomeadamente para os ETH225, McM218, e OarFCB48, o alelo mais frequente tenha sido o mesmo, qualquer que fosse a raça em causa. De acordo com CHAKRABORTY (1991), quando esta última situação se observa, é provável que o alelo mais frequente seja o mais antigo, sendo os outros resultantes de processos de mutação através de mecanismos de inserção e deleção. Os resultados deste estudo relativos à distribuição das frequências alélicas estão em consonância com os referidos por outros autores (FORBES et al., 1995; ARRANZ et al., 2001a), confirmando mais uma vez a existência de uma grande diversidade de situações, seja entre marcadores, seja entre raças, que tornam empírica a escolha de um marcador de tipo microssatélite para o estudo de populações, ao contrário do que acontece em cartografia genética, na qual a determinação do PIC é, com frequência, suficiente para estimar a qualidade do marcador. Apesar da distribuição dos alelos ser uma forma útil de expressar a diversidade genética, ela carece de alguma objectividade quando se pretende quantificar este parâmetro ou realizar comparações entre marcadores ou entre populações, pelo que tem sido pouco utilizada para estes fins. Por outro lado, no que concerne à presença de alelos únicos, a sua identificação tem-se revelado útil na detecção de introgressões, designadamente entre as espécies bovinas Bos taurus e Bos indicus (MACHUGH et al., 1997; LOFTUS et al., 1999). Diz-se que um alelo é único se apenas for detectado em uma de um conjunto de populações em estudo, o que dita a sua relatividade a essas mesmas populações. Além disso, a sua presença pode resultar de uma mutação endógena recente, caso mais relevante, ou de uma ancestralidade distinta, de um cruzamento com raças exóticas, ou simplesmente por não ter sido amostrado em resultado do tamanho de amostra sempre limitado. A referência à presença de alelos únicos não é rara, como o demonstram vários estudos 80 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas envolvendo diversas raças de ovinos (BUCHANAN et al., 1994; FORBES et al., 1995; ARRANZ et al., 2001a; GRIGALIUNAITÈ et al., 2003); no entanto, o seu montante depende do número de loci e de populações em análise, bem como da proximidade genética ou geográfica destas. No presente trabalho, foram detectados alelos únicos em 11 das 14 raças estudadas. Uma vez que a raça CC teve o menor tamanho de amostra, pode ser considerada como a raça com maior número de alelos únicos (4), seguida da SL com igual valor. Contudo, a relevância e o significado da presença destes alelos únicos são dificeis de avaliar, principalmente porque estão em causa loci considerados neutros e a frequência com que surgiram nas populações foi baixa. Alguns autores estabeleceram um valor de frequência de 0,1 como critério mínimo de relevância (GRIGALIUNAITÈ et al., 2003), mas o significado em termos de adaptabilidade ou sobrevivência parece depender sempre do conhecimento concreto sobre a história evolutiva das populações em causa. Se atendermos a este critério, apenas o alelo 98 pb do microssatélite McM357 se aproximou do referido valor, contabilizando uma frequência de 0,09, o que pode comprometer a utilidade da presença desses alelos. Contudo, não deixa de ser relevante que em 14 raças, 11 delas tenham apresentado pelo menos um alelo único, o que conjuntamente com os elevados valores de riqueza alélica e heterozigotia, realça a importância de implementação de programas que visem conservar as raças portuguesas de ovinos. A comparação relativa dos vários índices de diversidade permite inferir sobre a história das populações. Assim, as causas associadas com mais frequência a uma redução da riqueza alélica são o isolamento genético, o efeito de bottleneck populacional e o efeito fundador. A raça CA foi a que apresentou menor valor de RA alélica, embora não fosse a detentora do menor valor da heterozigotia observada, aspectos que estão de acordo como a hipótese desta raça ter tido uma presença recente em Portugal. De facto, SOBRAL et al. (1987) indicam como provável origem recente da CA, o Churro espanhol do tipo Lebrijano ou Marismeño da província de Huelva, enquanto que FRAZÃO (1982) aponta também Marrocos como proveniência possível. No arrolamento de 1870, a população ovina do Algarve foi referida como pertencente ao grupo bordaleiro comum ou amerinado, não sendo descrito nenhum tipo tão característico e inconfundível como a CA. A confirmar-se a hipótese de uma introdução recente em Portugal desta raça, e visto que normalmente é concretizada através da aquisição de um número reduzido de indivíduos, preferencialmente machos, equivalerá 81 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas a ter sofrido um efeito do tipo bottleneck. O efeito fundador e a deriva genética associados a um efectivo reduzido deverão ter contribuído para uma diminuição dos alelos com menor frequência, contudo exercendo um menor efeito sobre a HNB (o cálculo deste parâmetro é pouco afectado por alelos de baixa frequência). O facto desta raça apresentar também valores de HO relativamente elevados, sugere a ocorrência de um posterior incremento rápido da população, tal como foi demonstrado por NEI et al. (1975). Por outro lado, se assumirmos uma importação e, por conseguinte, uma maior distância com as raças restantes, seria de esperar encontrarmos na CA alelos únicos com frequência relevante, o que não se verificou, embora o facto possa ser explicado por cruzamentos com outras raças, ou por o número de animais importados ter sido muito reduzido. Esta raça apresenta características morfológicas muito distintas da raça com a qual ficou em contacto, a CMP, pelo que a presença de animais cruzados seria, por ventura, de fácil detecção. Sobre este assunto, LUCAS no relatório acerca do Arrolamento Geral de Gados de 1940 refere que “... devemos aqui destacar o Algarve como única região onde mercê de condições particulares, e de ausência de cruzamentos com outros tipos, o arietino churro reproduz, com vincada fidelidade, as características do Tronco Ibérico, de que deriva...". Acresce o facto de o número de alelos únicos na CA não ter aumentado quando na análise excluímos a raça CMP, de forma a evitarmos que este parâmetro fosse mascarado por eventual fluxo génico entre estas raças. O mesmo se passou quando na análise excluímos a CGB (raça que, na nossa opinião, apresenta a maior semelhança morfológica) ou, simultaneamente, as duas raças (CGB e CMP). Num estudo envolvendo a sequenciação da região controlo do mtDNA de 7 raças portuguesas de ovinos, PEREIRA et al. (2006) também verificaram que a CA era a raça que apresentava menor valor de diversidade de haplotipos de mtDNA. Assim, parece-nos reforçada a hipótese de importação de um número reduzido de animais desta raça. A CB foi outra população que apresentou um baixo valor de RA. É de notar que esta raça sofreu uma grande diminuição do efectivo no século XX em resultado da sua substituição pela CTQ (SOBRAL et al., 1987). No caso da raça CC seria de esperar também um efeito bottleneck devido à drástica redução do efectivo, passando de valores da ordem de 30 a 40 mil animais, em 1987 (SOBRAL et al., 1987), para algumas dezenas de animais na altura em que foi realizada a amostragem do presente estudo (1997), tendo sido sujeita a substituição 82 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas progressiva por outras de maior rendimento ao ponto de ter sido dado como extinta em 2004 (TELO DA GAMA et al., 2004). No entanto, nesta raça, não foram observados os efeitos depressivos esperados na RA e HNB. Pelo contrário, aos valores elevados de RA e HNB associou-se a presença de alelos únicos, o que pode ter resultado do facto de alguns animais amostrados terem sofrido alguma influência de raças vizinhas, o que teria restaurado, em parte, a diversidade perdida por acção do bottleneck, mas sem comprometer a sua identidade uma vez que, como veremos adiante, a raça mais próxima da CC é a CB, e não a MBB, raça cujo solar é contíguo. TEIXEIRA (1991), através da análise de dados morfométricos, também conclui que a raça mais próxima da CC era a CB. Embora se torne difícil estabelecer uma comparação rigorosa com os dados recolhidos na bibliografia, pois normalmente apenas são apresentados valores médios por raça ou por microssatélite e apenas alguns destes são comuns aos que foram utilizados neste estudo, parece evidente que, com excepção das raças espanholas, as raças portuguesas de ovinos foram as que apresentaram maiores valores de HO e HNB (Tabela 7). As razões prendem-se com a predominância dos sistemas tradicionais de exploração, onde a selecção artificial tem pouca relevância. Tabela 7. Valores de heterozigotia em raças europeias de ovinos. Raça (1) Churra HO 0,734±0,031 Raça (2) HNB 0,779±0,017 Awassi HO 0,75 Latxa 0,713±0,039 0,773±0,027 Mouflão 0,59 Manchega 0,753±0,030 0,783±0,019 Bizet 0,62 Aragonesa 0,723±0,029 0,769±0,019 Icelandic 0,67 Merino 0,771±0,032 0,814±0,013 Skudde 0,60 Awassi 0,750±0,043 0,656±0,031 Soya 0,45 Merino 0,61 Churro 0,66 HNB Raça (3) 0,77 Latvian Darkheaded 0,64 Lithuanian Coarsewooled 0,67 Lithuanian Blackface 0,72 Estonian Ruhnu 0,67 Estonian Whitehead 0,55 Estonian Blackhead 0,71 Estonian Saaremaa 0,67 Racka 0,65 0,74 Chios 0,58 0,68 HO 0,698±0,173 0,733±0,124 0,718±0,169 0,600±0,212 0,727±0,098 0,710±0,186 0,625±0,128 Média 0,741 0,762 0,62 0,68 0,687 1- Arranz et al. (1998), 2- Byrne et al. (s/d), 3- Grigaliunaitè et al. (2003), 4- Tapio et al. (2003). Raça (4) HNB 0,712±0,143 White Finnsheep 0,743±0,113 Black Finnsheep 0,718±0,165 Brown Finnsheep 0,574±0,194 Grey Finnsheep 0,760±0,088 Åland sheep 0,714±0,159 Viena sheep 0,760±0,081 Vepsia sheep Romanov Egito Romanov Lituania Oxford Down 0,712 HNB 0,72±0,08 0,73±0,09 0,70±0,10 0,67±0,09 0,70±0,08 0,70±0,12 0,74±0,11 0,69±0,18 0,69±0,13 0,64±0,15 0,698 Contudo, quando a comparação é realizada apenas com os valores médios de HNB para o conjunto de raças em cada microssatélite comum, a diferença não parece tão evidente (Figura 11). 83 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas 1,00 0,90 0,80 0,70 Raças Portuguesas H nb 0,60 Byrne et al. (s/d) 0,50 Grigaliunaitè et al. (2003) 0,40 Arranz et al. (1998) 0,30 Tapio et al. (2003) 0,20 0,10 OarFCB48 OarFCB304 OarFCB20 OarFCB128 OarFCB11 OarCP34 OarCP20 McM214 MAF209 BM757 BM6506 BM6444 BM4621 BM1824 0,00 Microssatélite Figura 11. Comparação dos valores médios de heterozigotia por microssatélite em raças europeias de ovinos. 3.4. DIVERSIDADE ENTRE RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS O estudo da diversidade entre populações pode ser analisado por vários métodos, ou seja, através da estimativa de "Índices de Fixação" (HARTL e CLARK, 1997) que evidenciam o grau de diferenciação ou estruturação da população, de diversas distâncias genéticas e respectiva representação em dendogramas, pela análise multivariada (de que a análise factorial de correspondência é exemplo) representando as populações num espaço métrico bi ou tridimensional e, mais recentemente, da análise de networks (MORRISON, 2005), etc. Alguns destes métodos estatísticos assentam em pressupostos cuja verificação é necessário testar nos dados das populações em análise, encontrandose, para o efeito, publicados vários testes estatísticos. Assim, proceder-se-á de seguida a uma breve revisão de alguns métodos de uso mais frequente, procurando salientar as vantagens e desvantagens dos mesmos. 84 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas 3.4.1. Aspectos a ter em consideração na escolha dos métodos estatísticos 3.4.1.1.Análise de pressupostos Em estudos como este, que visam avaliar a diversidade entre populações, os três pressupostos que devem ser testados são: - Neutralidade selectiva de cada locus; - Ausência de alelos nulos (alelos não detectáveis pela PCR); - Segregação independente de alelos dos loci Embora tenham sido desenvolvidos métodos específicos para testar os dois primeiros pressupostos (MANASTER et al., 1999; FU, 2001; FORD, 2002; BONHOMME et al., 2005), é comum utilizar o teste de Equilíbrio de Hardy-Weinberg (HWE) como forma de os verificar. Em condições ideais definidas como em HWE, as frequências genotípicas esperadas são obtidas pela expansão da expressão (x1+x2+...+xn)2, com a frequência dos homozigotos X ii = xi2 e dos heterozigóticos X = 2 x x (HARTL e CLARK, 1997). ij i j Este equilíbrio pode ser perturbado por vários factores: - Acasalamento não aleatório; - Subestruturação da população (efeito de Wahlund); - Coancestralidade (amostra com indivíduos muito aparentados) - Fluxo génico de uma população divergente; - Selecção de loci (p.e. vantagem dos heterozigóticos); - Presença de alelos nulos; - Diferença na frequência alélica entre sexos; - Factores cronológicos na amostragem (em anos diferentes). Assim, a identificação de loci que se desviam significativamente do HWE, pode trazer informação importante para a reconstrução da história, para a compreensão da situação actual da população e para a avaliação dos marcadores moleculares analisados. Quando um determinado locus não está em HWE, apresentando por exemplo um défice 85 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas de heterozigotos, pode revelar que o mesmo está sob acção de selecção ou apresenta alelos nulos. As hipóteses explicativas devem ser aferidas com informação adicional sobre a demografia, o sistema reprodutivo, etc. A presença de alelos nulos é pouco provável se o défice de heterozigóticos, para um dado locus, se verificar apenas num reduzido número de populações. Por outro lado, no caso de uma população apresentarse subestruturada, sujeita a migração ou com reprodução não aleatória, o mais provável é observar-se desvio do HWE para a globalidade de loci estudados (MACHUGH, 1996). Pelo contrário, se for observado um excesso de heterozigotos, a justificação mais provável é a presença de selecção sobredominante, ou a existência de cruzamentos com outras raças afastadas. Com a análise do equilíbrio de HWE pretende-se quantificar até que ponto as frequências genotípicas observadas estão suficientemente próximas das esperadas segundo esse modelo. O índice de fixação FIS proposto inicialmente por WRIGHT (1921; 1952; 1965), é uma medida utilizada para expressar o grau do afastamento desse equilíbrio (HARTL e CLARK, 1997), tomando valores próximos de zero em caso de equilíbrio. Para o caso concreto de loci com elevado número de alelos, alguns dos quais com baixa frequência, foram desenvolvidos estimadores mais precisos (ROBERTSON e HILL, 1984; WEIR e COCKERHAM, 1984). Para testar a significância do desvio ao HWE estão disponíveis vários métodos, tendo ROUSSET e RAYMOND (1995) concluído que os testes exactos eram mais poderosos do que os testes baseados na máxima verosimilhança (HILL et al., 1995), na variância mínima (ROBERTSON e HILL, 1984), ou nos estimados por componentes de variância de FIS (COCKERHAM, 1973). No que diz respeito à verificação do pressuposto de segregação independente de loci estudados, a estratégia utilizada consiste na análise do desequilíbrio gamético. A existência de um desequilíbrio gamético significa uma associação não aleatória dos alelos dos diferentes loci na formação dos gâmetas. A proximidade da localização física de loci num mesmo cromossoma tem um grande efeito neste desequilíbrio, o que explica o facto da designação mais utilizada ser de desequilíbrio de ligação (DL) (Linkage Disequilibrium), a qual também adoptaremos. Quando este ocorre entre loci situados em diferentes cromossomas, portanto sem ligação física, pode contribuir para a identificação de outros factores que igualmente o podem originar, tais como, a estruturação da população, a selecção, a deriva genética, a coancestralidade e a 86 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas migração (LEWONTIN, 1988; HENRY e GOUYON, 2003). A importância do DL é realçada pelo facto de fornecer informação sobre perturbações que decorreram há muito tempo, como é exemplo a detecção de um cruzamento longínquo entre Bos taurus e Bos indicus (MACHUGH et al., 1997) pois, ao contrário do que acontece com HWE, que pode ser restabelecido numa geração de panmixia, o equilíbrio gamético necessita de muitas gerações para ser recuperado. HEDRICK (1987) descreveu vários métodos para estimar a extensão do DL. Mais recentemente, foram desenvolvidos novos métodos utilizando uma abordagem Bayesiana (AYRES e BALDING, 2001) ou a máxima verosimilhança (SLATKIN e EXCOFFIER, 1996; KALINOWSKI e HEDRICK, 2001). A análise do DL de ligação encontra também grande aplicação no mapeamento genético e em protocolos de selecção assistida por marcadores para a melhoria de caracteres quantitativos, nomeadamente, de várias espécies de animais domésticos (MADDOX et al., 2001; FARNIR et al., 2002). 3.4.1.2 Estruturação da população O conhecimento da estrutura populacional é de grande importância porque pode afectar a interpretação da diversidade genética observada (EXCOFFIER, 2001; BALLOUX e LUGON-MOULIN, 2002). Uma subdivisão oculta pode mimetizar o efeito da selecção, induzir um excesso aparente de homozigóticos (efeito de Wahlund) ou um desequilíbrio de ligação entre loci, mesmo que estes se encontrem em cromossomas diferentes (OHTA, 1982). Assim, a obtenção de estimativas da diferenciação populacional fiáveis é fundamental para compreender as relações entre populações e representa uma ferramenta importante para desenvolver estratégias de conservação. Em termos estatísticos, a estrutura populacional introduz uma correlação ou covariância entre genes tomados de níveis diferentes de uma subdivisão. Este efeito foi inicialmente identificado por WRIGHT (1921) que desenvolveu, para o descrever, os índices de fixação clássicos, também designados por Estatísticas-F, tendo sido posteriormente objecto de diferentes formulações por outros investigadores (NEI, 1977; NEI e CHESSER, 1983; WEIR e COCKERHAM, 1984; WEIR e HILL, 2002). Basicamente, estes índices consistem na estimativa da correlação entre genes homólogos tomados de um nível de subdivisão relativamente a qualquer outro hierarquicamente superior. A correlação será tanto maior quanto maior for a subestrutura da população e portanto 87 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas mais se afastar da situação ideal de panmixia. Embora esta abordagem possa ser aplicada a qualquer número de níveis, são normalmente considerados três: correlação entre alelos dentro dos indivíduos relativamente aos alelos da metapopulação (FIT), correlação entre alelos dentro das subpopulações relativamente aos alelos da metapopulação (FST) e correlação entre alelos dentro dos indivíduos relativamente aos da subpopulação (FIS). Estes três índices relacionam-se entre si pela equação: (1 − FIT ) = (1 − FIS )(1 − FST ) sendo o FST o parâmetro de interesse na análise da diferenciação genética das subpopulações. Uma certa ambiguidade na definição proposta por WRIGTH, no que se refere às probabilidades subjacentes a cada correlação, levou a diferentes interpretações e ao surgimento consequente de escolas com diversos métodos de estimação (BALDING, 2003). Uma destas escolas, optou por uma abordagem inteiramente descritiva em termos de frequências alélicas e genotípicas da situação actual da população e pela expressão dos índices de fixação em termos de rácios de heterozigotias, sem referência aos processos genéticos que levaram a esta condição, interpretando as correlações como sendo geradas por uma assumida selecção aleatória dos gâmetas em cada subpopulação, relativamente à totalidade da população actual (NEI, 1973, 1977; NEI e CHESSER, 1983). Posteriormente, foram introduzidas modificações para corrigir a sensibilidade desta formulação ao número de subpopulações amostradas (NEI, 1986; NEI, 1987), e mais tarde revista e estendida por NAGYLAKI (1998). Este tratamento é sob o ponto de vista biológico o mais directo e não requer nenhuma restrição nas acções das forças evolutivas, podendo ser aplicado em qualquer situação. Uma outra, define os parâmetros em termos de expectâncias e probabilidades, utilizando modelos de evolução dos genótipos dentro das subpopulações. Sendo a mais adequada quando o objectivo é tirar conclusões acerca do processo biológico subjacente, levanta contudo a questão de preferência do modelo de evolução a considerar. Um dos aspectos fundamentais neste tipo de abordagem é a escolha do modelo de mutação de que já fizemos referência no capítulo 1. Das metodologias que assentam no modelo IAM (Infinite Allele Model), a mais utilizada é a de WEIR e 88 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas COCKERHAM (1984), generalizada a qualquer número de níveis hierárquicos por WEIR, 1996 e YANG, 1998. Em concreto, consiste na análise da diferenciação com base na decomposição da variância total das frequências alélicas em componentes de variação associados com os diferentes níveis de subdivisão entre populações, entre indivíduos dentro das subpopulações e entre gâmetas dentro dos indivíduos. Os parâmetros analisados por estes autores relacionam-se com as estatísticas de Wrigth da forma seguinte F=FIT; θ=FST;ƒ=FIS. Os estimadores de WEIR e COCKERHAM (1984), apesar de serem não enviesados, apresentam elevada variância (LI, 1996). RAUFASTE e BONHOMME (2000) recomendaram o estimador de ROBERTSON e HILL (1984) quando se tratar de populações com baixa diferenciação, em resultado deste apresentar menor variância, sugerindo ainda uma correcção para o caso de estarem envolvidas um número elevado de populações. Por outro lado, quando as subpopulações apresentam uma grande diferença de tamanho, os estimadores GST e FST são preferíveis ao θ (EXCOFFIER, 2001). Apesar destas e outras alternativas entretanto surgidas, o estimador θ (WEIR e COCKERHAM, 1984) continua a ser dos mais utilizados na análise de raças de animais domésticos. Outros trabalhos apontam ainda no sentido dos resultados dos vários estimadores serem muito próximos, desde que o tamanho da amostra e o número de subpopulações envolvidos sejam elevados (WEIR e COCKERHAM, 1984; SLATKIN e BARTON, 1989). Uma discussão mais aprofundada sobre as vantagens e inconvenientes dos vários estimadores pode ser encontrada nos trabalhos de WEIR e HILL (2002) e EXCOFFIER (2001). Devido ao facto da taxa de mutação nos microssatélites ser normalmente elevada, na ordem de 10-5 a 10-2 (CRAWFORD e CUTHBERTSON, 1996; JARNE e LAGODA, 1996), pode acontecer que dois alelos possam ser idênticos na forma mas não o sejam por descendência, fenómeno designado de homoplasia. Se este fenómeno estiver presente, a utilização do modelo IAM poderá provocar uma distorção na estimativa da diferenciação populacional, quando esta for estimada a partir da informação alélica proveniente deste tipo de marcador (HARDY et al., 2003). Por este motivo foram derivados estimadores que incorporam o tamanho dos alelos, sendo o processo mutacional respectivo apontado como mais consensual (SMM) para, eventualmente, reflectir melhor a realidade. São exemplos os estimadores RST (SLATKIN, 1995), o ФST (MICHALAKIS e EXCOFFIER, 1996) e o (δμ)2 (GOLDSTEIN et al., 1995b). A sua utilização, contudo, tem sido limitada pela constatação de que o processo mutacional dos 89 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas microssatélites não é idêntico para todos os loci desviando-se mais ou menos de um ideal SMM (ESTOUP e CORNUET, 1999; ELLEGREN, 2000a; XU et al., 2000) (HARDY et al., 2003) e pelo facto das estatísticas baseadas no tamanho dos alelos apresentarem uma elevada variância amostral quando comparadas com as suas homólogas do modelo IAM (SLATKIN, 1995; TAKEZAKI e NEI, 1996; PAETKAU et al., 1997; PEREZ-LEZAUN et al., 1997; BALLOUX e GOUDET, 2002; BALLOUX e LUGON-MOULIN, 2002; HARDY et al., 2003). Apesar da ausência de consenso quanto à precisão relativa destes dois tipos de estimadores (BALLOUX e LUGON-MOULIN, 2002), parece claro que ela depende da contribuição relativa da mutação e da deriva envolvidas na diferenciação populacional (HARDY et al., 2003). No caso particular de populações próximas, a deriva genética parece ter mais relevância do que a mutação no que se refere à distribuição da variabilidade dos microssatélites. As conclusões apresentadas por FORBES et al. (1995), que referem o RST como o melhor para predizer divergência interespecífica (Ovis aries versus O. canadensis), o FST como o mais sensível na detecção da diferenciação intraespecífica (entre raças de O. aries e entre rebanhos de O. canadensis) são disso exemplo. Conclusões idênticas foram também obtidas por LUGON-MOULIN et al. (1999) em populações de musaranhos. Além dos já referidos, foram ainda desenvolvidos métodos que contam com as forças actuantes nas populações (deriva, migração e selecção), a ploidia e o tipo de reprodução dos organismos em estudo (WANG, 1997b, a), o número e a natureza de loci (WANG, 1999) e, mais recentemente, outros que utilizam diferentes abordagens como a máxima verosimilhança (BALDING, 2003) e a Bayesiana (HOLSINGER et al., 2002; CORANDER et al., 2003). Esta multiplicidade de metodologias torna evidente a complexidade na escolha do método mais adequado a cada caso. Há que ter em conta ainda a existência de vários métodos para testar a diferenciação de populações, que incluem os que utilizam estimativas de variância, os que utilizam técnicas de reamostragem como bootstrap, jackknife ou permutação para aferir significância de uma estatística, no caso concreto o FST, e os que comparam tabelas de contingência como os testes exactos ou de probabilidade (EXCOFFIER, 2001). A diferenciação de populações pode ser testada quanto à diferenciação alélica ou quanto à diferenciação genotípica. Os testes aplicados ao primeiro caso são normalmente mais poderosos (RAYMOND e ROUSSET, 1995a; GOUDET et al., 1996), no entanto, requerem o 90 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas pressuposto de independência de alelos nos indivíduos. Quando não se verifique esse pressuposto, é preferível testar a diferenciação genotípica (GOUDET et al., 1996). 3.4.1.3. Distâncias genéticas e construção de fenogramas Uma distância genética é uma extensão de diferença génica (alélica) entre populações ou espécies que é medida por alguma quantidade numérica (NEI, 1987). Foram publicadas um grande número de distâncias genéticas, que atendem à natureza de informação a analisar (quantitativa, génica, etc.), às forças evolutivas e ao período de tempo em estudo (longo ou curto). No que concerne à informação génica, o estudo das sequências de proteínas e, mais recentemente, de DNA é preferido quando estão em causa grandes períodos de tempo, como é o caso da evolução entre espécies muito afastadas. O estudo de frequências alélicas é, muitas vezes, utilizado quando se analisa intervalos de tempo menores, como o caso da evolução intraespecífica. As distâncias calculadas a partir de frequências alélicas podem ser classificadas em distâncias geométricas (Euclideanas e angulares) e distâncias baseadas na distribuição do tamanho dos alelos, estas últimas desenvolvidas particularmente para os microssatélites (NEI, 1987; NEI e TAKEZAKI, 1994; NEI e KUMAR, 2000; LAVAL et al., 2002). Do ponto de vista genético, podem ainda ser referidas como as que se relacionam directamente com o coeficiente de coascendência e as que medem o número de mutações (VIENNE e DAMERVAL, 1985). A adequação das distâncias para o estudo das relações filogenéticas de um conjunto de subpopulações depende da contribuição relativa de quatro factores que determinam a sua diferenciação: a migração, a selecção, a mutação e a deriva. Embora na prática seja improvável saber com exactidão o historial das populações em estudo, e por isso impossível conhecer, com certeza, qual a contribuição de cada um deles, é sempre possível fazer algumas simplificações ou testar a realidade com os resultados obtidos assumindo um dado modelo ideal. As primeiras concepções dos métodos filogenéticos foram originalmente desenvolvidas para o estudo da evolução de espécies, pressupondo, portanto, que após a divergência das populações não ocorre migração entre elas (por definição, duas espécies diferentes não se reproduzem). Este pressuposto não é obviamente aceitável para o caso 91 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas das raças de animais domésticos, cuja representação mais adequada seria em redes complexas. Apesar disso, o efeito da migração é reflectido na estimativa da distância genética, uma vez que, quando ocorre, leva duas raças distantes em termos de tempo de divergência, a apresentarem uma distância genética pequena, devido à troca de alelos e a serem representadas próximas uma da outra, numa árvore filogenética (EDING e LAVAL, 1999; LAVAL, 2001). Devido ao efeito de distorção que a migração provoca têm vindo a ser desenvolvidos métodos para a sua detecção (NORDBORG, 1999; KUMAR et al., 2003; WANG, 2003; ALVAREZ et al., 2004). Assim, na prática, quando a migração está presente, os resultados devem ser interpretados com algum cuidado. No que concerne ao factor selecção, os microssatélites são considerados marcadores neutros, ou seja, é assumido que aquela não tem efeito na alteração das frequências alélicas que acompanham a evolução das populações, embora em algumas circunstâncias, nomeadamente quando se localizam perto de um locus sujeito a selecção, eles possam indirectamente sofrer processo idêntico, fenómeno designado de boleia (hitchhiking) (SCHLOTTERER, 2003). Para o factor mutação, o tempo de divergência entre populações é um aspecto importante. Devido à taxa de mutação relativamente elevada dos microssatélites, quando estão em estudo espécies diferentes, mesmo que muito próximas, como são os casos entre o ovino selvagem e o ovino doméstico (O. aries) ou entre B. taurus e B. indicos, o efeito da mutação parece ser relevante (FORBES et al., 1995) (MACHUGH, 1996). O contrário é de esperar quando se pretende estabelecer a relação entre raças de animais domésticos, especialmente entre as que estão confinadas a uma área geográfica restrita, como a Europa e quanto à qual se crê que o período de divergência tenha sido relativamente curto, cerca de 200 anos (EDING e LAVAL, 1999), considerando-se, portanto, desprezável o efeito da mutação (WEIR, 2002). Alguns etnólogos, contudo, consideram o período de tempo envolvido na divergência das raças de animais domésticos muito superior (SIERRA ALFRANCA, 2001). Por último, a deriva genética, isto é, a flutuação das frequências alélicas resultante do processo amostral aleatório em populações finitas, parece ser o principal factor presente na diferenciação das raças de animais domésticos (LAVAL et al., 2002). Com o intuito de analisar o desempenho das várias distâncias, nos diversos modelos evolutivos, foram realizados vários estudos por simulação (TAKEZAKI e NEI, 1996; NAGAMINE e HIGUCHI, 2001; KALINOWSKI, 2002; LAVAL et al., 2002). Quando 92 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas foi assumido um equilíbrio entre mutação e deriva nas populações e que todas as mutações resultavam em novos alelos (modelo de mutação IAM), a distância mais adequada pareceu ser a distância padrão DS (NEI, 1978), devido à sua relação linear com o tempo de divergência. No entanto, quando aplicada à informação alélica de microssatélites, esta distância deixa de ser linear com o tempo devido à elevada taxa de mutação deste tipo de marcador e ao facto do modelo de mutação mais aceite para estes ser o modelo SMM. Com o objectivo de restabelecer a linearidade com o tempo, foram desenvolvidas outras distâncias tais como as (δμ)2, D1 ou ASD (Average Squared Difference), DSW e DR (GOLDSTEIN et al., 1995a, b; SHRIVER et al., 1995; ZHIVOTOVSKY, 1999). Por outro lado, TAKEZAKI e NEI (1996) e LAVAL et al. (2002) referiram que estas distâncias, apesar de serem lineares com o tempo de divergência, apresentavam uma variância elevada, devido à taxa e processo mutacional dos microssatélites, implícitos na definição destas distâncias. Além disso, revelaram também grande variabilidade entre loci e entre espécies (NEI e KUMAR, 2000). TAKEZAKI e NEI (1996) observaram ainda que as distâncias com melhores resultados em termos de probabilidade de topologia verdadeira da árvore filogenética e de menor variância, quando usadas com informação alélica de microssatélites, foram as distâncias DA (NEI et al., 1983) e Dc (CAVALLI-SFORZA e EDWARDS, 1967). Apesar da distância DA não ser linear com o tempo, apresenta uma boa aproximação à linearidade quando os valores de DA são pequenos (NEI et al., 1983). Ela apresenta também menor variância que DS, pelo que foi recomendada quando estivessem em causa períodos de tempo relativamente curtos. Aparentemente, é preferível sacrificar um pouco a linearidade temporal a diminuir a precisão. Contudo, não é obrigatório que a distância mais adequada para estimar a topologia seja a mesma para estimar o tempo de divergência, ou seja, o tamanho dos ramos das árvores filogenéticas (NEI et al., 1983; NEI e TAKEZAKI, 1994). Quando são usados microssatélites, as distâncias genéticas (δµ)2 (GOLDSTEIN et al., 1995a, b) e Dsw (SHRIVER et al., 1995) fornecem as melhores estimativas do tamanho dos ramos (TAKEZAKI e NEI, 1996; NEI e KUMAR, 2000). O trabalho de RITZ et al. (2000) sobre a tribo Bovini parece suportar com dados reais as conclusões de TAKEZAKI e NEI (1996) obtidas por simulação, ao concluirem que as árvores construídas com a distância Dc apresentavam maiores valores de bootstrap que as construídas com a distância (δμ)2. 93 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas De acordo com LAVAL (2001), para o caso das raças domésticas faz todo o sentido considerar um modelo de equilíbrio deriva-migração, mas estes dois factores dificilmente podem ser dissociados no mesmo modelo. Assim, segundo aqueles autores, o cenário que melhor se adapta ao caso das raças de animais domésticos é a diferenciação pela deriva genética. Neste contexto, está implícito que a diversidade genética dentro das populações tende a diminuir, enquanto a diversidade genética entre populações aumenta pela perda diferencial de alelos. Para o efeito, estudaram o comportamento de diversas distâncias genéticas pressupondo um modelo de diferenciação com base exclusivamente na deriva genética. Nesta circunstância, parece ser preferível utilizar as distâncias genéticas passíveis de serem expressas em função da perda de diversidade intra-racial, ou seja baseadas no coeficiente de coancestralidade (REYNOLDS et al., 1983; LAVAL et al., 2002). As distâncias deste tipo mais recomendadas são as distâncias DRey (REYNOLDS et al., 1983) e DL (LATTER, 1972). No entanto, assumindo um modelo de deriva puro, as estimativas de distância só reflectem a filogenia das populações em estudo se ambas tiverem um tamanho efectivo idêntico (FELSENSTEIN, 1985b; EDING e LAVAL, 1999; LAVAL et al., 2002). No caso concreto da distância DRey, a expectância é aproximadamente proporcional a t/2Ne, onde t é o tempo em número de gerações e Ne a média harmónica do tamanho efectivo das duas populações em causa. Como este pressuposto é pouco realista, no caso das raças de animais domésticos, a interpretação da árvore não deve ser encarada numa perspectiva filogenética, mas apenas como uma relação de similaridade. Um outro aspecto que dificulta o estudo de populações com divergência recente é o facto de, nestas circunstâncias, a estimativa da distância genética ser mais sensível ao tamanho da amostra, enquanto que, à medida que a divergência aumenta se torna mais dependente do número de loci e seu polimorfismo, característica que realça a utilidade dos microssatélites neste tipo de estudo (LAVAL et al., 2002). Para a construção de árvores a partir de distâncias genéticas, foram desenvolvidos vários métodos, cada um com vantagens e desvantagens (NEI et al., 1983; SAITOU e NEI, 1987; NEI, 1991; LI, 1997; NEI e KUMAR, 2000). Os mais utilizados são o método Unweighted Pair-Group Method With Arithmetic Mean (UPGMA) (NEI e KUMAR, 2000) e o Neighbor Joining (NJ) (SAITOU e NEI, 1987; NEI e KUMAR, 2000). Com excepção da situação em que se admite um tamanho efectivo da população constante e, 94 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas portanto, uma taxa de evolução igual entre as diferentes linhagens, o método NJ tem, normalmente, um desempenho superior ao UPGMA (TAKEZAKI e NEI, 1996). A estimativa da robustez das bifurcações (nós) das árvores pode ser estabelecida por vários métodos (SITNIKOVA, 1996), sendo o mais utilizado o método bootstrap (FELSENSTEIN, 1985a). Este assenta na re-amostragem, com reposição, de uma cifra prédefinida de replicações, com número de loci (ou indivíduos) igual ao tamanho original da amostra e construída para cada replicação a respectiva árvore, representando a percentagem de vezes que um mesmo nó aparece nestas árvores um indicador de robustez. Assim sendo, é recomendável algum cuidado na interpretação dos valores de bootstrap a fim de não se lhes ser atribuído um significado de indicador da probabilidade da topologia da árvore obtida estar correcta. Assim, esta técnica apenas optimiza a informação disponível, não a incrementa, estando portanto limitada pela qualidade da informação usada (EDING e LAVAL, 1999). O factor que mais parece afectar a robustez das árvores é o número de loci utilizados e o número de alelos presentes em cada locus (TAKEZAKI e NEI, 1996; KALINOWSKI, 2002; KOSKINEN et al., 2004). Assim, mais que estabelecer as relações filogenéticas (relação evolutiva) entre as raças de ovinos portuguesas, o presente estudo procurou usar o cálculo de distâncias genéticas e a respectiva construção de árvores para analisar a relação de similaridade entre aquelas. 3.4.1.4. Análise multivariada Existem vários métodos de análise multivariada, adaptados aos diferentes tipos e complexidade da tabela de dados (ESCOFIER e PAGÉS, 1998). Os utilizados com mais frequência, no mesmo género do presente estudo, são a Análise de Componentes Principais (ACP), a Análise de Factorial de Correspondência (AFC) e a Análise de correspondência Múltipla (ACM). Contudo, o princípio destes métodos é comum e consiste na representação de pontos (populações, indivíduos, ou loci) num espaço métrico, cujos eixos principais, ortogonais, são calculados de forma a maximizar a inércia da sua projecção (ESCOFIER e PAGÉS, 1998; CAÑON et al., 2001; LI et al., 2002a). 95 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas O primeiro (ACP) adequa-se a variáveis quantitativas, podendo, no entanto, utilizar-se os valores das frequências alélicas observadas em cada população, para as representar num hiper-espaço que terá tantas dimensões quantos os alelos em análise. A informação organiza-se numa tabela de contingência, recomendando CAVALLI-SFORZA et al. (1994) que o valor de frequência de cada alelo seja normalizado, isto é, subtraído o valor da média da frequência do alelo em causa no conjunto das populações e dividido pelo valor do desvio padrão da frequência média, respectiva, a fim de evitar a obtenção de um resultado distorcido. O método AFC adequa-se a variáveis categóricas organizadas em tabelas de contingência, mas utiliza um conceito diferente de similaridade entre linhas ou entre colunas, a distância χ2 (uma variante da distância Euclideana) em vez do coeficiente de correlação utilizado na ACP (ESCOFIER e PAGÉS, 1998). Assim, quer a ACP quer a AFC apenas permitem visualizar os pontos médios das populações em estudo, não representando nem considerando a variabilidade intrapopulação. Uma vez que em populações relativamente próximas, como é o caso de raças de animais domésticos, aquela representa frequentemente a maior parte da variabilidade encontrada, torna-se necessário ter alguma precaução na interpretação da representação obtida. Por último, o método ACM adequa-se a variáveis categóricas organizadas numa tabela disjuntiva, no caso concreto “indivíduo x alelo”. Assim, o genótipo individual é codificado para cada alelo anotando a sua ausência como 0, a presença na forma heterozigótica como 1 e a presença na forma homozigótica como 2 (BELKHIR et al., 2003). Ao contrário dos anteriores, este método torna possível a representação de todos os indivíduos que constituem cada população, no espaço Euclideano, o que o torna mais informativo. Em qualquer destes métodos são determinados, para cada eixo, coeficientes representativos da contribuição absoluta e relativa de cada variável (indivíduo, população ou alelo). Os primeiros coeficientes exprimem a porção da inércia explicada por cada variável em relação a cada eixo principal, enquanto que os segundos indicam a parte da inércia de uma variável explicada pelo eixo principal. Estes métodos são ferramentas puramente descritivas, têm a vantagem de não assentarem em qualquer modelo evolutivo, e portanto, adequarem-se particularmente a 96 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas situações nas quais é admissível a ocorrência de um fluxo génico entre as populações em estudo (MOAZAMI-GOUDARZI e LALOE, 2002). O facto de alguns trabalhos terem relacionado parâmetros clássicos da genética de populações como o θRH de (ROBERTSON e HILL, 1984) com o traço da AFC, ou a diversidade genética com o valor da inércia, tem também contribuído para o aumento do seu uso em estudos deste âmbito (BELKHIR et al., 2003). 3.4.2. Metodologia 3.4.2.1 Análise de pressupostos O cálculo dos valores de FIS relativos a cada locus e raça, para expressar o desvio ao HWE, foi efectuado segundo ROBERTSON e HILL (1984) e WEIR e COCKERHAM (1984) e designados por fRH e fWC, respectivamente, utilizando para o efeito o programa GENETIX (BELKHIR et al., 2003). Dos métodos disponíveis para testar a significância dos desvios ao HWE foi seleccionado o teste exacto de Fisher ou teste de probabilidade, por ser o mais adequado a amostras de pequena dimensão e a loci com alelos raros de frequência reduzida (WEIR, 1996). Este teste consiste em determinar uma probabilidade para todas as amostras possíveis, com tamanho igual à amostra a testar, assumindo que a hipótese nula (união de gâmetas aleatória) é verdadeira. Assim, desde que as amostras tenham sido ordenadas de acordo com a sua probabilidade, o valor desta para a nossa amostra será igual à soma das probabilidades de todas as amostras com menor probabilidade, rejeitando-se a hipótese nula se esta for inferior a um determinado nível de significância α (WEIR, 1996). O teste exacto foi realizado utilizando o programa informático GENEPOP (RAYMOND e ROUSSET, 1995b). Como todos os microssatélites utilizados apresentaram mais de 4 alelos, este programa seguiu o procedimento em cadeia de Marchov para estimar o valor exacto de P sem distorção e respectivo erro padrão. Para o efeito, foram definidas 1000 desmemorizações, 2000 lotes (batchs) e 2000 iterações por lote. Na decisão de rejeição da hipótese nula considerámos um valor de α =0,05, o qual após atender à correcção de Bonferroni foi transformado num valor nominal indicativo ajustado de 0,00018 calculado por [0,05/(20*14)] (GOUDET, 2001). 97 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Na análise do desequilíbrio de ligação genotípico para testar a significância da associação entre genótipos em pares de loci, em cada população e para o conjunto das populações, foi utilizado o teste log-likelihood ratio G-statistic, disponível no programa FSTAT (GOUDET, 2001) e cujo valor de P foi calculado com base em 266000 permutações. À semelhança do procedimento adoptado para testar o HWE, na decisão de rejeição da hipótese nula, considerámos um valor de α =0,05, o qual após atender a correcção de Bonferroni, foi transformado no valor nominal indicativo ajustado de 0,000019. A vantagem deste teste relativamente ao de FISHER reside no facto de cada amostra ser ponderada pelo seu conteúdo informativo (GOUDET, 2001). 3.4.2.2 Estruturação da população Tendo em conta as conclusões dos estudos mencionados atrás, bem como a dificuldade em contabilizar o número de repetições presentes em cada microssatélite quando este é do tipo imperfeito (o que acontece com grande parte dos que foram utilizados neste estudo) e o facto do objecto deste estudo, serem raças de animais domésticos cujo tempo de divergência se pressupõe relativamente limitado, optámos pelos estimadores de FST clássicos que assentam no modelo IAM. Para o efeito, determinámos os estimadores GST (NEI, 1987) e θ (WEIR e COCKERHAM, 1984) recorrendo ao programa FSTAT (GOUDET, 2001), enquanto θRH (ROBERTSON e HILL, 1984) foi calculado com base no programa GENETIX (BELKHIR et al., 2003). Os valores para os três estimadores foram por um lado, calculados quer para cada locus individualmente quer para o conjunto de loci, considerando o conjunto das 14 raças; por outro, para todas as combinações de pares de populações considerando o conjunto dos 19 loci. O formulário utilizado pelos programas para estimar GST, θ e θRH é o seguinte: G ST = DST HT (NEI, 1973, 1977) DST = Hˆ T − Hˆ S Hˆ Hˆ 1 Hˆ T = 1 − ∑ xk2 + ~ S − ~o , com x k2 = ∑ xik i s k n s 2n 98 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Hˆ ⎤ 1 n~ ⎡ Hˆ S = ~ ⎢1 − ∑k xk2 − ~o ⎥ , com x k2 = ∑ xik2 n −1 ⎣ 2n ⎦ s k 1 Hˆ o = 1 − ∑ ∑ X kii s k i onde DST é a média da diversidade genética intersubpopulacional, incluindo a comparação das subpopulações com elas próprias; Ĥ S é a média aritmética de Ĥ Si sobre o conjunto de loci sendo por sua vez Ĥ Si a média, sobre o conjunto de subpopulações, da diversidade genética em cada locus por subpopulação; Ĥ T é a média de Ĥ Ti sobre o conjunto de loci; xik e X kii são a frequência do alelo Ai e do genótipo AiAi, respectivamente, na amostra da subpopulação k; s é o número de subpopulações; n~ é a média harmónica do tamanho das amostras. Como DST depende do número de subpopulações consideradas, GST é um estimador enviesado pelo que os autores recomendam o cálculo de GST ' , principalmente, quando o tamanho da amostra é inferior a 50. GST ' = s Dm , com D m = DST HT ( s − 1) (NEI e CHESSER, 1983) ∑ σ ai 2 θ = ( i 2 2 ∑ σ + σ bi + σ wi i 2 ai ) (WEIR e COCKERHAM, 1984) onde σ ai2 , σ bi2 , σ wi2 são os componentes de variância entre amostras, entre indivíduos dentro de uma amostra e dentro dos indivíduos, respectivamente, para cada alelo e locus, cujas fórmulas complexas de cálculo são descritas por WEIR e COCKERHAM, 1984 (1984). θ RH = ∑ σ ai2 (1 − xi ) 1 2 2 2 (σ ai + σ bi + σ wi ) n − 1 (ROBERTSON e HILL, 1984), 99 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas onde xi é a frequência observada do alelo i, k é o número de alelos no locus e σ ai2 , σ bi2 , σ wi2 têm o mesmo significado referido atrás. Quando todas as amostras das subpopulações têm o mesmo tamanho, θ é igual ao GST', afastando-se em valor quanto maior for a diferença entre o tamanho das amostras. Como foi observado que alguns dos microssatélites utilizados não se encontravam em HWE em certas raças, optámos por seguir o teste exacto de diferenciação baseado na hipótese de amostragem independente de genótipos em vez de amostragem independente de alelos (GOUDET et al., 1996). Assim, testámos a diferenciação genotípica e não a diferenciação alélica das raças ovinas. Para o caso, utilizámos o programa GENEPOP realizando dois testes exactos (GOUDET et al., 1996), um que analisou a diferenciação genotípica do conjunto de todas as raças para cada microssatélite e para o seu conjunto (opção 3, sub-opção 3) e outro que analisou cada par de raças para cada marcador e para o conjunto de marcadores (opção 3, sub-opção 4). Ambos foram realizados com 5000 dememorizações, 2000 lotes (batches) e 1000 iterações por lote. 3.4.2.3 Distâncias genéticas e construção de fenogramas Pelas razões invocadas na introdução, principalmente no que se refere às conclusões obtidas por LAVAL et al. (2002), optámos por considerar as distâncias genéticas DRey (REYNOLDS et al., 1983) e DL (LATTER, 1972) como as mais adequadas ao nosso estudo e portanto a utilizar como referência. No entanto, atendendo ao facto de ser impossível saber, com precisão, a contribuição relativa de cada um dos factores responsáveis pela diferenciação das raças de animais domésticos, calculámos também outras distâncias como a DA (NEI et al., 1983) e DC (CAVALLI-SFORZA e EDWARDS, 1967), por terem sido as que apresentaram maiores valores de probabilidade de obtenção da topologia correcta das árvores filogenéticas, sob o modelo evolutivo de equilíbrio mutação-deriva em estudos de simulação (TAKEZAKI e NEI, 1996) e a clássica distância DS (NEI, 1972) como elemento de comparação. Pelo contrário, as distâncias ditas específicas para os microssatélites não foram consideradas, pelas razões apontadas por TAKEZAKI e NEI (1996) que obtiveram baixos valores de probabilidade de obtenção da topologia correcta das árvores filogenéticas 100 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas envolvendo populações com divergência recente, como considerámos ser o caso de raças portuguesas de ovinos. Além disso, estas distâncias requerem que a informação alélica seja expressa em número de unidade de repetição do microssatélite, em vez do tamanho absoluto do fragmento amplificado, informação que nem sempre é fácil de obter, porque raramente os microssatélites são do tipo perfeito. Da mesma forma, o método de referência que utilizámos para a construção das árvores foi o NJ, embora tenhamos construído também as árvores pelo método UPGMA para comparação. Para estimar a confiança dos nós (ramificações) das árvores utilizámos o método bootstrap (FELSENSTEIN, 1985a) considerando 1000 replicações sobre os loci. Todos estes cálculos foram realizados recorrendo ao programa POPULATIONS 1.2.28 (LANGELLA, 2002). A computação das distâncias genéticas neste programa assenta no seguinte formulário: r DRey = ∑aj j r ∑ (a j + b j ) (REYNOLDS et al., 1983)6 j onde aj e bj são os componentes de variância dentro e entre o par de populações, respectivamente, e cujo detalhe das fórmulas de cada componente remetemos para REYNOLDS et al. (1983); Dc = 2 r ⎛ mj ⎞ ∑ 2⎜1 − ∑ yij xij ⎟ i rπ j ⎝ ⎠ DA = 1 − 1 r mj ∑∑ xij yij r j i (CAVALLI-SFORZA e EDWARDS, 1967); (NEI et al., 1983; TAKEZAKI e NEI, 1996); Em rigor, REYNOLDS et al., (1983) definiram como distância o valor D=–ln(1-θw), enquanto o valor calculado para esta distância pelo programa "Populations" corresponde apenas a θw aqui designado de DRey. No entanto, quer em termos numéricos quer em topografia da árvore obtida a diferença observada é insignificante para as duas formas de expressar a distância. 6 101 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas ⎛ 1 r mj 2 1 r mj 2 ⎞ ⎜ ∑ ∑ xij − ∑ ∑ yij ⎟ r mj r j i ⎜r j i ⎟ − 1 ∑ ∑ xij yij ⎜ ⎟ r j i 2 ⎜ ⎟ ⎠ DL = ⎝ 1 r mj 1 − ∑ ∑ xij yij r j i ⎛ 1 r mj ⎜ ∑ ∑ xij yij ⎜ r j i DS = − ln⎜ 1 r mj 2 1 r mj 2 ⎜⎜ ∑ ∑ xij * ∑ ∑ yij r j i ⎝ r j i ⎞ ⎟ ⎟ ⎟ ⎟⎟ ⎠ (TAKEZAKI e NEI, 1996); (NEI, 1972; TAKEZAKI e NEI, 1996) onde xij e yij são as frequências alélicas na população x e y para o locus j, r o número de locus e mj o número de alelos para o locus j. Para representar as relações de similaridade entre populações optámos pelo tipo de árvore sem raiz ou fenograma (unrooted tree), pois neste caso não são necessários pressupostos sobre as populações, nem conhecimento sobre antepassados comuns (LI, 1997). Um outro aspecto que contribuiu para a opção tomada foi o facto de não termos disponível informação alélica de uma população muito distante das que estão em estudo para ser utilizada como outgroup. A topologia das árvores foi desenhada utilizando o programa TREEVIEW 1.6.6 (PAGE, 1996). A fim de obter uma estimativa do tempo de divergência entre as raças de ovinos portuguesas, utilizámos a expressão t=DS/2α (NEI, 1987), onde t é o tempo em número de gerações, DS é a distância genética padrão de NEI atrás definida e α é a taxa de mutação dos microssatélites a qual, no caso concreto, considerámos ter o valor médio de 1,1*10-4 mutações/geração/locus (CRAWFORD e CUTHBERTSON, 1996). Com o propósito de estabelecermos, de alguma forma, uma base de comparação com os resultados de TEIXEIRA (1991), foi utilizada uma matriz de distâncias D de MAHALANOBIS obtida por aquele com dados morfométricos e uma outra com a distância DRey obtida no presente estudo com informação alélica de microssatélites para construir duas árvores pelo método NJ, envolvendo apenas as 7 raças portuguesas do tipo churro. Para determinar a existência de correlação significativa entre as matrizes das várias distâncias genéticas calculadas, foi realizado o teste de Mantel, uma vez que a forma clássica de aferição do grau de significância pelo coeficiente de correlação de 102 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas PEARSON (r) não pôde ser utilizada pois os elementos de cada matriz não eram independentes. A base deste teste consiste na determinação de r entre as duas matrizes originais sendo posteriormente comparado com uma distribuição desse mesmo coeficiente, obtida pela permutação aleatória da ordem das populações numa das duas matrizes de distâncias. O valor de probabilidade de erro (P) na rejeição da hipótese nula de independência das duas matrizes foi calculado por P=(n+1)/(N+1), onde n representou o número de vezes em que o valor de r obtido por permutação foi superior ou igual ao valor desse coeficiente calculado pelos dados reais e N foi o número de permutações efectuadas. Para o efeito utilizámos o programa GENETIX (BELKHIR et al., 2003) definindo 10000 permutações. 3.4.2.4 Análise multivariada A informação genotípica individual para os 19 loci foi também utilizada para realizar uma AFC7 com recurso ao programa GENETIX (BELKHIR et al., 2003) na rotina “AFC sobre populações”, o que permitiu representar no espaço euclidiano quer os 717 animais das 14 raças de ovinos, quer os seus “baricentros” e analisar a sua dissemelhança com base na distância χ2. Foi também realizada uma análise idêntica à anterior mas com apenas 3 raças (CB, CTQ e CM) para avaliar o efeito do número de populações em análise no desempenho deste método. Foram calculados coeficientes indicadores da contribuição absoluta e relativa de cada indivíduo ou alelo (variáveis) para cada eixo (factor). Os primeiros (contribuição absoluta) exprimem a porção da inércia explicada por cada variável em relação a cada eixo principal, enquanto que os segundos (contribuição relativa) indicam a parte da inércia de uma variável explicada por cada eixo principal. 7 Em rigor no caso da análise multivariada que envolve a representação dos indíviduos a designação mais correcta seria a de Análise de Correspondência Múltipla conforme foi já explicitado no ponto 3.4.1.4., contudo tal diferenciação não consta no menu do programa Genetix, razão pela qual também não será feita aqui. 103 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas 3.4.3. Resultados 3.4.3.1. Análise de pressupostos 3.4.3.1.1. Equilíbrio de Hardy-Weinberg Os valores de FIS para cada locus e raça, estimados segundo ROBERTSON e HILL (1984) e WEIR e COCKERHAM (1984), encontram-se em anexo nas Tabelas 6 e 7 do Anexo 3, respectivamente. Tendo-se verificado uma correlação altamente significativa (r=0,91) entre as duas estimativas, foram analisados apenas os valores obtidos pelo segundo método por ser o de aplicação mais corrente, facilitando assim a comparação de resultados. Na sua grande maioria, os valores de FIS foram positivos indicando, por isso, um défice de heterozigotos. Os microssatélites McM357, OarHH64, ETH225 e BM6444 registaram os valores médios mais elevados e os microssatélites MAF23, OarFCB48, BM6506 e BM4621 os menores. Por seu lado, as raças BEDM e MB foram as que apresentaram o maior (0,141) e o menor (0,045) valor de FIS, respectivamente. Quando foi considerado o conjunto das 14 raças como uma população única, os desvios ao HWE apresentaram-se significativos para todos os loci estudados, o que concorda com a existência de uma estruturação em raças. Na análise parcelar, foram realizados 280 testes (14 populações x 20 loci) tendo sido observado que apenas 23 apresentavam um défice significativo (P<0,05) de heterozigotos, correspondendo a 6 microssatélites em pelo menos uma raça (Tabela 8). Tabela 8. Valores médios de FIS por raça e microssatélites com desvio significativo ao HWE. Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Média Microssatélite§ BM6444, McM357 BM6444, McM357 McM357 McM357, OarFCB20 McM357 McM357, OarHH64 McM357, OarFCB11, OarHH64 McM357 McM357, OarHH64 McM357 McM357 BM6444, ETH225, McM357, OarHH64 McM357 fRH 0,114 0,071 0,065 0,069 0,038 0,081 0,094 0,051 0,079 0,032 0,089 0,084 0,045 0,055 0,069 fWC 0,141 0,075 0,061 0,083 0,046 0,082 0,120 0,076 0,106 0,050 0,111 0,127 0,063 0,057 0,086 IC(95%)* (0,089-0,171) (0,028-0,101) (0,008-0,093) (0,023-0,112) (0,003-0,068) (0,040-0,104) (0,070-0,149) (0,032-0,101) (0,067-0,130) (0,009-0,074) (0,063-0,138) (0,089-0,144) (0,014-0,092) (0,012-0,082) §- Microssatélites com desvio significativo (P<0,05) ao HWE; *Intervalo de confiança de fWC a 95% obtido com 10000 Bootstrap's 104 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas O microssatélite McM357 apresentou um défice de heterozigotos significativo para todas as raças estudadas, com excepção da SE, o que sugere a presença de alelos nulos neste microssatélite, hipótese também aventada por outros autores (DIEZ-TASCON et al., 2000). Por tal motivo, este locus foi excluído nas análises estatísticas destinadas a avaliar a diversidade entre raças do presente capítulo, na avaliação das raças a conservar e na discriminação racial dos dois capítulos seguintes. Os restantes 5 microssatélites apenas apresentaram desvio significativo para entre uma a quatro raças. Apesar de no microssatélite ETH225 ter sido apontada, como provável, a presença de alelos nulos (DIEZ-TASCON et al., 2000), apenas foi registado um desvio significativo na raça MP. Quanto aos outros 4 loci, não foram referidos, na literatura, desvios sistemáticos do HWE em outras raças de ovinos, tornando a hipótese da presença de alelos nulos pouco provável. Por outro lado, tratando-se de marcadores anónimos, e desconhecendo-se a composição génica na sua vizinhança, a hipótese de selecção contra heterozigotos não pode ser excluída. Quando foi considerada a análise por raça, verificámos que, após exclusão do microssatélite McM357, a raça MP apresentou um défice significativo de heterozigotos para três loci (BM6444, ETH225 e OarHH64), a CM para dois (OarFCB11 e OarHH64) e as raças BEDM, CA, CC, CGM e CTQ apenas para um. 3.4.3.1.2. Desequilíbrio de ligação (DL) A análise do desequilíbrio de ligação quando foi realizada em cada raça separadamente, revelou três associações significativas que são apresentadas na Tabela 9. Destas, só uma - entre MAF209 e OarFCB48 - se refere aos loci situados no mesmo cromossoma (17), e por isso os únicos passíveis de uma eventual ligação física. No entanto, como não foi observado nenhum desequilíbrio de ligação significativo (P<0,001) entre loci quando a análise foi realizada considerando simultaneamente a globalidade dos animais, o mais provável é tratar-se do efeito da subestruturação (OHTA, 1982) da população ovina em raças. De facto, basta que dois loci num mesmo cromossoma se encontrem a mais de 10 cM de distância para que a taxa de recombinação torne imperceptível a segregação alélica (GEORGES et al., 1995). 105 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Tabela 9. Pares de microssatélites com desequílíbrio de ligação significativo por raça. Microssatélites Raça OarFCB20 (2) — OarCP20 (21) CMP MAF209 (17) — OarFCB48 (17) CC BM6444 (2) — OarFCB48 (17) MP () - Números entre parênteses referem-se à localização cromossómica dos microssatélites Assim, na análise do HWE e do DL, com excepção do microssatélite McM357, não foram detectados desvios significativos dos pressupostos necessários para a aplicação dos métodos estatísticos subsequentes, pelo que foram utilizados os restantes 19 microssatélites. Contudo, de acordo com MAUDET et al. (2002a) o cumprimento estrito de todos os pressupostos não parece ser muito relevante uma vez que não foram observadas diferenças nas suas conclusões, quando a análise de dados em raças bovinas e caprinas francesas foi realizada, excluindo ou incluindo os microssatélites que não cumpriam os referidos pressupostos. 3.4.3.2 Estruturação da população Na Tabela 10 são apresentados os valores de θ para cada par de raças o qual variou entre 0,005 para o par CM/CTQ e 0,060 para o par CA/MB. De uma forma geral, tanto a CA como o MB são as raças que maiores valores de θ partilham com as restantes raças. Apesar de praticamente todos os valores de θ sereminferiores a 0,05, sugerindo uma fraca diferenciação genética (HARTL e CLARK, 1997), todos eles foram significativamente (P<0,01) diferentes de zero, demonstrando o elevado poder do teste Tabela 10. Valores de θWC por pares de raças, calculados de acordo com WEIR e COCKERHAM (1984) considerando os 19 microssatélites. BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE CA CB CC CGB 0,044 0,022 0,014 0,012 0,059 0,048 0,034 0,027 0,022 0,017 CGM 0,016 0,040 0,026 0,013 0,009 CM 0,017 0,047 0,027 0,018 0,018 0,014 CMP 0,028 0,031 0,035 0,031 0,018 0,024 0,020 106 CTQ 0,015 0,037 0,024 0,017 0,011 0,012 0,005 0,014 MB 0,039 0,060 0,056 0,036 0,031 0,028 0,044 0,039 0,031 MBB 0,017 0,038 0,032 0,021 0,017 0,014 0,021 0,018 0,010 0,027 MP 0,016 0,040 0,027 0,019 0,013 0,012 0,021 0,022 0,017 0,021 0,017 SE 0,022 0,042 0,033 0,024 0,021 0,016 0,027 0,023 0,016 0,035 0,017 0,020 SL 0,028 0,044 0,036 0,030 0,022 0,022 0,027 0,022 0,019 0,039 0,022 0,025 0,020 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas estatístico aplicado, associado ao elevado polimorfismo deste tipo de marcadores. No que se refere ao teste de diferenciação genética, o resultado foi significativo (P<0,01) para todos os microssatélites quando se analisou o conjunto das raças ou a diferenciação entre pares de raças, considerando simultaneamente os 19 microssatélites, mesmo para aquelas que se esperaria estarem mais proximamente relacionados (caso da CTQ/CM, CGB/CGM e dos merinos). No entanto, nenhum par de raças foi significativamente diferente em simultâneo para todos os 19 microssatélites, ou seja, houve alguns microssatélites cuja distribuição genotípica não diferiu entre alguns pares de raças. Contudo, uma diferença genética entre populações estatisticamente significativa não implica, obrigatoriamente, diferenças evolutivas ou biológicas (HEDRICK, 1999; KALINOWSKI, 2002). Na Tabela 11 são apresentados os valores de θWC, θRH, GST e GST', para cada microssatélite e para a totalidade dos 19 microssatélites quando considerámos o conjunto das 14 raças. Os valores obtidos para os três estimadores foram muito semelhantes como pode ser verificado na Figura 12. Esta semelhança entre estimadores foi também referida por outros autores, nomeadamente ARRANZ et al. (2001b). Por este motivo e pelo facto do estimador θWC, que designámos apenas de θ, ser o mais frequentemente utilizado, optámos por considerar apenas este na discussão. Tabela 11. Estimadores da subdivisão genética da população ovina portuguesa para os 19 microssatélites. Locus BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 Média (Global) θ WC 0,031 0,018 0,028 0,012 0,019 0,036 0,030 0,033 0,021 0,034 0,029 0,037 0,022 0,035 0,036 0,024 0,010 0,022 0,025 0,026 θ RH 0,024 0,017 0,021 0,010 0,015 0,026 0,022 0,015 0,015 0,035 0,016 0,028 0,017 0,021 0,024 0,011 0,013 0,018 0,023 0,019 107 G ST 0,027 0,017 0,027 0,011 0,018 0,032 0,029 0,031 0,018 0,031 0,024 0,033 0,021 0,030 0,032 0,022 0,008 0,021 0,023 0,024 G ST' 0,029 0,018 0,029 0,012 0,019 0,034 0,031 0,033 0,019 0,033 0,026 0,035 0,022 0,033 0,034 0,023 0,009 0,022 0,025 0,026 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Figura 12. Relação entre os valores de θ e os respectivos valores de θRH e GST'. Os valores de θ variaram entre 0,010 e 0,037 para os microssatélites OarFCB304 e OarCP34, respectivamente, com um valor global de 0,026±0,002, indicando que cerca de 2,6% da variação genética total corresponde a diferenças entre raças; enquanto os restantes 97,4% correspondem a diferenças entre indivíduos (HARTL e CLARK, 1997). Este valor é superior ao apresentado por NYAMSAMBA et al. (2002) para 7 raças de cabras da Mongólia (θ=0,17) e é relativamente próximo do obtido por IRIONDO et al. (2002) para quatro raças ovinas Bascas (θ=0,031±0.004) e por IVANKOVIC et al., (2002) para 3 raças croatas de asininos (θ=0,024), mas menos de metade do valor apontado por (ARRANZ et al., 2001b) para 5 raças espanholas de ovinos (θ=0,073). 3.4.3.3 Distâncias genéticas e construção de fenogramas Os valores obtidos no cálculo das distâncias DRey e DL para cada par de raças, admitindo um hipotético contexto evolutivo assente na deriva genética, são apresentados na Tabela 12. Os valores da distância DRey variaram entre 0,006 para o par CTQ/CM e 0,062 para o par CA/MB, ou seja, o último cerca de dez vezes mais do que o primeiro valor. Se considerarmos que o intervalo de variação possível desta distância é entre zero e um [0,1], os valores obtidos são relativamente pequenos. Os valores registados para a distância DL foram semelhantes, tendo variado entre 0,015 para o par 108 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas CTQ/CM e 0,068 para o par CA/MB. Devido à natureza da definição destas distâncias, os seus valores são também próximos dos obtidos na análise da diferenciação pelo FST. Tabela 12. Valores das distâncias genéticas DRey (acima da diagonal) e de DL (abaixo da diagonal). BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL BEDM 0 0,055 0,033 0,029 0,023 0,027 0,029 0,039 0,025 0,049 0,029 0,027 0,033 0,039 CA 0,046 0 0,069 0,060 0,043 0,050 0,057 0,041 0,046 0,068 0,048 0,050 0,052 0,054 CB 0,023 0,061 0 0,040 0,032 0,036 0,038 0,044 0,034 0,065 0,042 0,038 0,042 0,046 CC 0,016 0,050 0,028 0 0,030 0,027 0,032 0,044 0,030 0,048 0,035 0,033 0,037 0,043 CGB 0,013 0,035 0,023 0,017 0 0,019 0,029 0,027 0,020 0,039 0,028 0,023 0,031 0,032 CGM 0,017 0,041 0,027 0,014 0,009 0 0,025 0,034 0,021 0,037 0,024 0,022 0,026 0,032 CM 0,019 0,049 0,029 0,020 0,019 0,015 0 0,030 0,015 0,053 0,031 0,032 0,037 0,038 CMP 0,029 0,032 0,036 0,032 0,018 0,025 0,021 0 0,024 0,048 0,028 0,032 0,033 0,032 CTQ 0,016 0,038 0,025 0,018 0,011 0,012 0,006 0,015 0 0,040 0,020 0,026 0,025 0,028 MB 0,041 0,062 0,058 0,037 0,031 0,029 0,045 0,040 0,032 0 0,036 0,030 0,043 0,048 MBB 0,019 0,040 0,033 0,022 0,018 0,015 0,022 0,019 0,011 0,028 0 0,028 0,027 0,032 MP 0,017 0,042 0,029 0,020 0,014 0,013 0,023 0,023 0,018 0,022 0,018 0 0,030 0,035 SE 0,023 0,044 0,034 0,025 0,022 0,017 0,028 0,024 0,016 0,036 0,018 0,021 0 0,030 SL 0,029 0,046 0,037 0,031 0,023 0,023 0,028 0,023 0,019 0,040 0,023 0,026 0,021 0 Na Tabela 13 são apresentados os resultados obtidos para as distâncias Dc e DA e na Tabela 14 para a distância DS e para o tempo de divergência entre raças. Estas três distâncias são mais adequadas a um contexto de diferenciação baseado num equilíbrio mutação-deriva. Os valores da distância DC variaram entre 0,197 para o par CTQ/CM e 0,331 para o par CA/MB, enquanto que os das distâncias DA e DS variaram entre 0,053 e 0,147 e entre 0,045 e 0,235, para os mesmos pares de populações. O tempo de divergência (em gerações) variou entre 205 para o par CTQ/CM e 1068 para o par CA/MB. Para converter o tempo de divergência para anos podemos considerar um valor médio de 1,5 anos entre gerações. Tabela 13. Valores das distâncias genéticas DA (acima da diagonal) e de DC (abaixo da diagonal). BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL BEDM 0 0,314 0,264 0,284 0,241 0,247 0,262 0,253 0,242 0,279 0,250 0,251 0,252 0,275 CA 0,132 0 0,317 0,327 0,289 0,314 0,325 0,283 0,286 0,331 0,291 0,306 0,309 0,311 CB 0,094 0,138 0 0,273 0,242 0,258 0,267 0,267 0,240 0,290 0,276 0,262 0,263 0,297 CC 0,109 0,142 0,099 0 0,281 0,260 0,278 0,283 0,258 0,288 0,269 0,283 0,271 0,293 CGB 0,082 0,116 0,083 0,106 0 0,222 0,261 0,241 0,216 0,274 0,262 0,237 0,251 0,264 CGM 0,083 0,131 0,090 0,090 0,069 0 0,252 0,241 0,227 0,265 0,252 0,241 0,234 0,269 CM 0,094 0,142 0,096 0,102 0,094 0,088 0 0,259 0,197 0,287 0,249 0,264 0,267 0,274 109 CMP 0,084 0,109 0,097 0,105 0,079 0,078 0,088 0 0,219 0,266 0,237 0,247 0,231 0,261 CTQ 0,080 0,109 0,076 0,089 0,069 0,072 0,053 0,064 0 0,247 0,210 0,230 0,223 0,241 MB 0,102 0,147 0,112 0,112 0,100 0,094 0,108 0,093 0,080 0 0,250 0,222 0,269 0,283 MBB 0,082 0,122 0,102 0,096 0,096 0,087 0,082 0,076 0,059 0,083 0 0,240 0,234 0,247 MP 0,083 0,127 0,091 0,106 0,077 0,078 0,092 0,080 0,070 0,064 0,079 0 0,244 0,269 SE 0,084 0,127 0,093 0,097 0,085 0,077 0,094 0,070 0,067 0,096 0,074 0,080 0 0,261 SL 0,100 0,128 0,118 0,116 0,097 0,099 0,099 0,091 0,077 0,108 0,083 0,095 0,092 0 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Tabela 14 Valores da distância genética DS (acima da diagonal) e do tempo de divergência em gerações (abaixo da diagonal). BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL BEDM CA CB CC 814 450 459 368 423 409 582 400 827 445 423 509 609 0,179 968 914 632 732 805 555 677 1068 700 732 755 791 0,099 0,213 568 450 505 505 609 473 1000 591 527 600 655 0,101 0,201 0,125 491 423 468 673 486 809 550 514 591 700 CGB CGM 0,081 0,139 0,099 0,108 300 418 405 327 668 441 364 505 514 0,093 0,161 0,111 0,093 0,066 355 505 332 600 373 341 405 500 CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL 0,090 0,177 0,111 0,103 0,092 0,078 418 205 823 455 459 541 545 0,128 0,122 0,134 0,148 0,089 0,111 0,092 341 741 405 473 482 459 0,088 0,149 0,104 0,107 0,072 0,073 0,045 0,075 659 309 409 386 436 0,182 0,235 0,220 0,178 0,147 0,132 0,181 0,163 0,145 573 473 705 782 0,098 0,154 0,130 0,121 0,097 0,082 0,100 0,089 0,068 0,126 423 409 500 0,093 0,161 0,116 0,113 0,080 0,075 0,101 0,104 0,090 0,104 0,093 464 541 0,112 0,166 0,132 0,130 0,111 0,089 0,119 0,106 0,085 0,155 0,090 0,102 459 0,134 0,174 0,144 0,154 0,113 0,110 0,120 0,101 0,096 0,172 0,110 0,119 0,101 - Os intervalos de valores possíveis para a distância DC, DA e DS são (0, 2 2 π ), (0,1) e (0,∞), respectivamente. Quando comparámos os resultados obtidos através deste tipo de distâncias com os registados tendo em conta as distâncias que assentam apenas na deriva, verificámos que o intervalo relativo de variação foi maior nas distâncias do primeiro tipo (DRey e DL), enquanto que os valores absolutos foram superiores nas do segundo tipo. Apesar disso, e à semelhança do que referiu BARKER (1999), registámos uma correlação altamente significativa (P<0,001) entre todas os pares de matrizes das distâncias utilizadas (Tabela 15). Tabela 15. Matriz de coeficientes de correlação de Pearson entre distâncias genéticas. DA DC DL DRey DS DA 1 DC 0,991 1 DL 0,860 0,868 1 DRey 0,828 0,832 0,993 1 DS 0,837 0,848 0,982 0,982 1 Na Figura 13 são apresentadas as árvores construídas a partir das matrizes de distâncias DRey e DL pelo método NJ as quais evidenciam mais facilmente as relações de similaridade entre as raças portuguesas de ovinos. Estas duas árvores, apesar de muito semelhantes (embora se apresentem em posição invertida), diferem principalmente no ramo que representa a divergência entre as raças CTQ e CM. No caso da distância DRey, 110 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas A B Figura 13. Fenograma construído a partir das distâncias genéticas DRey (A) e de DL (B) pelo método Neighbour-Joining. 111 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas o ramo da CTQ apresenta-se praticamente imperceptível. O facto de se considerar que ramos muito curtos são característicos de situações nas quais as populações sofreram fluxo génico (cruzamento) (CAVALLI-SFORZA et al., 1994), concorda com o que se supõe saber sobre a CTQ, e revela que a distância DRey foi mais eficiente na detecção desse fenómeno. Da análise destes fenogramas deduziu-se que as raças CA, MB, SL e CB são as que mais distam entre si enquanto os pares CTQ/CM e CGM/CGB são os que mais se assemelham. Na Figura 14 são apresentadas as árvores construídas a partir das matrizes de distâncias DA e DC pelo método NJ. Apesar de verificarmos globalmente uma concordância entre os resultados que foram obtidos e o que tem sido escrito quanto à origem das raças portuguesas, a robustez da topologia destas árvores não foi significativa. A melhor árvore, de acordo com o critério de valor de bootstrap, foi a construída com a DRey que apresentou um valor médio maior (34,5%), mas não foi muito diferente dos valores de 34,3%, 33,3%, 30,3% e 30,3% obtidos para as árvores construídas com as distâncias DL, DS, DA e DC, respectivamente. Nesta árvore, os valores de bootstrap mais elevados foram atingidos nas ramificações periféricas envolvendo o par CM/CTQ com 88%, o par CA/CMP com 80% e o par MB/MP com 80%, enquanto os nós internos apresentaram valores inferiores a 25%. Também a maioria dos trabalhos referidos a raças domésticas, nomeadamente de bovinos (MACHUGH et al., 1997; MOAZAMI-GOUDARZI et al., 1997; DEL BOL et al., 2001), de caprinos (SAITBEKOVA et al., 1999), de galináceos (WIMMERS et al., 2000) e de canídeos (KOSKINEN e BREDBACKA, 2000), dão conta de valores de bootstrap baixos. Na comparação entre a análise morfométrica (TEIXEIRA, 1991) e a informação molecular das raças churras portuguesas verificámos que os resultados produzidos foram diferentes, sendo a correlação entre a matriz de distâncias D e a da distância DRey não significativa (r=0,729; P=0,104) e a topologia das árvores, por consequência, também diferente. 112 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas C D Figura 14. Fenograma construído a partir das distâncias genéticas DA (C) e de DC (D) pelo método Neighbour-Joining. 113 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Apesar de verificarmos globalmente uma concordância entre os resultados que foram obtidos e o que tem sido escrito quanto à origem das raças portuguesas, a robustez da topologia destas árvores não foi significativa. A melhor árvore, de acordo com o critério de valor de bootstrap, foi a construída com a DRey que apresentou um valor médio maior (34,5%), mas não foi muito diferente dos valores de 34,3%, 33,3%, 30,3% e 30,3% obtidos para as árvores construídas com as distâncias DL, DS, DA e DC, respectivamente. Nesta árvore, os valores de bootstrap mais elevados foram atingidos nas ramificações periféricas envolvendo o par CM/CTQ com 88%, o par CA/CMP com 80% e o par MB/MP com 80%, enquanto os nós internos apresentaram valores inferiores a 25%. Também a maioria dos trabalhos referidos a raças domésticas, nomeadamente de bovinos (MACHUGH et al., 1997; MOAZAMI-GOUDARZI et al., 1997; DEL BOL et al., 2001), de caprinos (SAITBEKOVA et al., 1999), de galináceos (WIMMERS et al., 2000) e de canídeos (KOSKINEN e BREDBACKA, 2000), dão conta de valores de bootstrap baixos. Na comparação entre a análise morfométrica (TEIXEIRA, 1991) e a informação molecular das raças churras portuguesas verificámos que os resultados produzidos foram diferentes, sendo a correlação entre a matriz de distâncias D e a da distância DRey não significativa (r=0,729; P=0,104) e a topologia das árvores, por consequência, também diferente. Na Figura 15, é apresentada a árvore obtida com a matriz de distâncias D de Mahalanobis calculada com informação morfométrica (TEIXEIRA, 1991) e na Figura 16, a árvore obtida utilizando a matriz de distâncias DRey baseada na informação alélica de microssatélites, ambas construídas pelo método NJ e relativas às mesmas 7 raças churras portuguesas. Apesar do risco que é realizar uma comparação com base em duas distâncias de natureza diferente, julgamos ser interessante considerar alguns aspectos mais relevantes entre as duas abordagens: - Em ambas as árvores nota-se que a raça a CA foi a mais distante de todas as outras; - Na Figura 15 a raça CM foi a mais próxima da CA enquanto na Figura 16 foi a CGB; 114 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Figura 15. Fenograma construído a partir da distância genética D2 pelo método Neighbour-Joining. 88 44 27 31 63 Figura 16. Fenograma construído a partir da distância genética DRey pelo método NeighbourJoining. 115 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas - Na Figura 15 a raça mais afastada da CA foi a CC enquanto que na Figura 16 foi a CB, no entanto, nesta representação, as raças CB e CC apresentaram-se próximas; - Na Figura 15 as raças CGM e CC situaram-se no mesmo ramo enquanto que na Figura 16 a CGB substituiu a CC. 3.4.3.4 Análise multivariada A representação gráfica a 3 dimensões dos indivíduos de cada uma das 14 raças de ovinos, resultante da AFC, apresenta-se na Figura 17. Esta análise revela que a CA é a única raça cuja totalidade dos indivíduos se encontram claramente separados num dos lados, situando-se no extremo oposto, mais ou menos isolados, os indivíduos das raças MB, MP e um ou outro de MBB e SE. A elevada variabilidade intra-racial e o número relativamente grande de populações em estudo dificultaram a discriminação dos indivíduos das restantes raças. BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Figura 17. Análise Factorial de Correspondência realizada a partir dos genótipos individuais das 14 raças ovinas. O número de populações em análise foi de facto um aspecto relevante como o demonstram os resultados obtidos quando se analisou apenas três raças (CB, CTQ e CM), uma vez que, apesar de serem populações das mais próximas considerando as distâncias genéticas atrás obtidas, foi possível separar a quase totalidade dos seus indivíduos como mostra a Figura 18. 116 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Figura 18. Análise Factorial de Correspondência realizada a partir dos genótipos individuais das raças CB, CM e CTQ. A partir da substituição das nuvens de indivíduos de cada raça observadas na Figura 17, pelo respectivo centro de gravidade ou baricentro (BELKHIR et al., 2003), obteve-se a representação a 3 dimensões que consta na parte central da Figura 19, à qual se acrescentou as respectivas projecções bidimensionais para facilidade de análise. A análise bidimensional que envolve somente os dois primeiros eixos permitiu verificar que as raças merinas e a SL situam-se no 1º quadrante, a CA isolada no 2º, a CGB e a CMP no 3º e as restantes no 4º quadrante. Por outro lado, em três dimensões verificámos que o 1º octante8 contém a MB e a MP, o 2º contém a CA isolada, o 3º contém a CGB e a CMP, 4º contém a BEDM, a CB, a CGM e a CC, o 5º contém a MBB e a SL, o 6º e o 7º não contêm nenhuma e o 8º contém a CTQ, a CM e a SE. Na Figura 20 representam-se os valores de inércia acumulados relativos à AFC sobre as populações. O primeiro factor da AFC apresentou um valor próprio de 0,0527, que representou 15,15% da inércia observada no espectro das frequências alélicas entre raças destacando claramente a raça CA das restantes, e colocando no extremo oposto as raças merinas, principalmente a MB. 8 A nomenclatura dos octantes não é consensual, pelo que neste trabalho definimos o seu ordenamento da seguinte forma: considerando as coordenadas como (eixo 1, eixo2, eixo3) e o sinal + e - os sectores onde cada eixo é positivo ou negativo, respectivamente, estabelecemos 1º octante (+,+,+), 2º octante (-,+,+), 3º octante (-,-,+), 4º octante (+,-,+), 5º octante (+,+,-), 6º octante (-,+,-), 7º octante (-,-,-), 8º octante (+,-,-). 117 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Figura 19. Análise Factorial de Correspondência para as 14 raças ovinas. No centro - vista a três dimensões; em cima, esquerda e em baixo as respectivas projecções em duas dimensões. 118 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Factor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Traço = Valores próprios 0,05271 0,04206 0,03522 0,02976 0,02753 0,02681 0,02579 0,02306 0,02065 0,01819 0,34803 Figura 20. Percentagem de inércia e valores próprios de cada factor da AFC. O segundo factor apresentou um valor próprio de 0,0421, ligeiramente inferior ao primeiro, que contribuiu com 12,08% da inércia e separou as raças localizadas a norte do Mondego (excepção feita à CMP), das localizadas a sul do mesmo rio, tendo como extremos a MB e a CM. O terceiro factor foi responsável por 10,12% da inércia e discriminou a SL das restantes raças ocupando a CB o extremo oposto. Os valores próprios podem variar entre 0 e 1. Quando próximos de 1, exprimem uma forte ligação entre as linhas e as colunas que será sempre fácil de traduzir em termos de dados iniciais (ESCOFIER e PAGÉS, 1998). Neste estudo, são relativamente baixos sugerindo uma certa dificuldade em associar a diferença das raças às diferenças concretas das frequências alélicas, também observável nos métodos utilizados na discriminação racial no capítulo 5. As contribuições absolutas e relativas para cada raça e factor são apresentados na Tabela 16. Como era de esperar, as raças mais diferenciadas por cada um dos factores foram as que maiores contribuições apresentaram para os mesmos. Como exemplo, podemos referir o caso da raça CA detentora de um valor de 747 representando 74,6% 119 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas da inércia do 1º factor e 862 representando 64,5% da inércia total relativamente às restantes 14 raças. Tabela 16 Contribuições médias (absolutas e relativas) de cada raça para cada factor da AFC. Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Contribuição Absoluta Factor1 Factor 2 Factor 3 0 12 14 747 109 1 1 94 114 4 38 4 20 9 64 5 18 31 4 121 6 3 1 1 1 28 6 165 493 25 19 1 51 29 65 31 4 9 10 0 2 642 Contribuição Relativa Factor 1 Factor 2 Factor 3 0 21 19 862 100 1 2 162 165 8 65 5 51 18 112 12 36 53 8 209 9 7 3 1 2 74 13 249 594 26 51 2 91 76 136 55 9 18 17 0 3 741 Na Tabela 8 do Anexo 3 são apresentados os valores da contribuição absoluta e relativa para cada alelo dos microssatélites quando a AFC foi realizada considerando os indivíduos de cada raça como variáveis, indagando assim sobre a importância de cada um deles na diferenciação racial. O alelo 157 do microssatélite BM6444 foi o que mais contribuiu (12%) para o 1º factor (MAF209 137), os alelos 163 e 145 do microssatélite McM218 os que mais contribuíram (9,9% cada) para o 2º factor e o alelo 121 do microssatélite OarFCB128 o que mais contribuiu (6,6%) para o 3ºfactor. Quanto à contribuição relativa, os alelos com maior valor foram o 157 do microssatélite BM6444 (2,8 %) para o 1º factor, o alelo 95 do microssatélite OarFCB20 (2,7%) para o 2º factor e os alelos 205, 192, 205 dos microssatélites BM6506, OarFCB304 e BM6506, respectivamente (2,9%) para 3º factor. Na Tabela 17, são apresentadas as contribuições médias (absolutas e relativas) de cada microssatélite para cada factor. Os que apresentaram maior contribuição absoluta de inércia foram os OarHH64 (1ºfactor) e o McM218 (2º e 3º factor). A maior contribuição relativa foi para o OarHH64 (1ºfactor), o OarFCB128 (2º factor) e o BM6506 (3º factor). 120 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Tabela 17. Contribuições médias (absolutas e relativas) de cada microssatélite para cada factor da AFC. Microssatélite BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 Contribuição Absoluta Factor1 Factor 2 Factor 3 1,6 8,0 0,6 2,6 1,5 6,2 7,8 3,1 3,5 1,4 1,9 4,1 2,0 1,6 4,3 3,2 2,8 1,9 5,9 4,5 3,3 3,7 4,6 2,1 4,9 4,3 1,8 6,2 13,4 7,5 1,1 4,5 2,8 3,4 8,0 6,7 1,7 2,5 4,5 3,9 3,7 3,6 3,8 7,2 5,7 2,9 2,4 1,9 3,1 1,5 4,0 2,2 2,2 1,8 8,0 2,9 4,8 Contribuição Relativa Factor 1 Factor 2 Factor 3 79,0 175,8 19,2 128,1 54,1 137,5 142,4 89,8 93,3 81,4 116,3 186,3 81,8 57,2 95,8 92,5 59,7 45,2 117,6 88,6 99,6 173,6 171,8 59,8 191,1 103,2 43,4 113,0 146,4 157,4 42,8 131,5 71,2 121,7 144,1 149,6 63,5 96,8 106,9 98,1 90,3 103,4 127,2 243,9 70,4 113,9 111,1 55,6 104,8 67,7 92,4 76,6 61,1 49,2 252,5 116,7 66,4 3.4.4. Discussão Na história das raças ovinas poruguesas, encontra-se com frequência referências a uma certa heterogeneidade morfológica no seio da população ovina em geral, que apenas viria a ser contrariada pelos Serviços do Ministério da Agricultura a partir do início do século XX, conforme foi já referido capítulo 1. O despertar para as vantagens económicas da criação formal de raças levou o seu devido tempo e somente em 1981 viria a ser fundada a primeira associação de criadores de ovinos, a da raça Serra da Estrela. Até essa altura o isolamento reprodutivo das populações ovinas com distinta morfologia foi principalmente função da distância geográfica, que por vezes era vencida quer pelo comércio quer pela manutenção de tradições como a transumância. Não será, assim, de estranhar que se observem alguns desvios aos pressupostos subjacentes a algumas metodologias utilizadas neste trabalho, contudo são comuns a outros trabalhos do género. Seguindo a ordem dos resultados que obtivemos, podemos dizer que o défice de heterozigóticos observado em alguns dos microssatélites nas raças MP, CM e BEDM pode ser explicável por vários factores, já explicitados atrás, mas discernir qual ou quais 121 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas deles estão presentes na situação concreta suscita dificuldades. Tratando-se de raças de animais domésticos, as justificações apontadas com mais frequência prendem-se com o efeito de WHALUND, ou seja, a existência de uma subestruturação relevante ou com a presença de consanguinidade. Como exemplo, podemos referir o caso particular da BEDM, onde verificámos que, a par do valor maior de diferença entre a HO e a HNB, o qual se traduz no valor de FIS, observámos também um valor elevado de RA, sugerindo, portanto, uma eventual subestruturação. De facto, quando amostrámos localmente a BEDM, foi-nos transmitido que na região eram referenciadas duas variedades desta raça, a “de montanha” e a “do vale”, as quais GARCÍA (2002) descreveu como "brava" ou "galega" para a primeira e "ovelhas de carro" ou "mansas" para a segunda, facto que reforça esta hipótese. Em situações deste tipo, a subestruturação torna-se evidente pela presença de um ou mais grupos distintos de indivíduos, quando se constrói um dendograma, com base numa matriz de distâncias genéticas individuais (SANCRISTOBAL et al., 2003). Na Figura 21 são apresentados os dendogramas construídos segundo os métodos UPGMA e NJ a partir de uma matriz de distâncias genéticas (DL) individuais para a raça BEDM, podendo verificar-se que apenas no segundo se regista uma ligeira subestruturação, embora não em dois como se esperaria, mas sim em quatro grupos. UPGMA NJ Figura 21. Árvores UPGMA e NJ de distâncias individuais (DL) para a raça BEDM. Pelo contrário, no caso da CM foi observado, simultaneamente, o segundo maior valor de FIS e dos mais baixos valores de RAA, o que pode sugerir a presença de um 122 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas certo grau de consanguinidade, cuja confirmação carece de informação adicional no que se refere ao sistema de produção. As razões subjacentes à variação de θ prendem-se com o efeito combinado da origem das raças, da deriva genética, da existência de selecção e da extensão de miscigenação durante a sua formação. Esta última é, obviamente, dependente da distância geográfica entre as populações, devendo na opinião de IRIONDO et al. (2002) ser considerada quando se compara valores de θ. Sendo Portugal um país com uma área relativamente pequena, com uma tradição de transumância que se manteve até finais do século passado, a qual propiciou eventuais cruzamento entre raças, aspecto bem patente no textos dos arrolamentos de gado do final do século XIX e início do XX referidos no primeiro capítulo, e tendo os livros genealógicos das raças ovinas uma constituição muito recente (anos oitenta e noventa), parece-nos plausível admitir que todos estes factores tenham contribuído para os valores de θ relativamente baixos que foram obtidos. Apesar da realidade histórica das raças bovinas portuguesas comungar de muitos aspectos referidos para os ovinos, a sua estruturação em raças parece ter sido muito mais acentuada como o demonstra o valor de θ=0,076±0,004, obtido para 12 raças bovinas portuguesas utilizando 30 microssatélites (MATEUS, 2007). A mobilidade menor desta espécie relativamente aos ovinos terá contribuído certamente para a diferença de valores observada. Por outro lado, há que ter em atenção o facto de, quando são utilizados microssatélites, frequentemente, se obterem valores de heterozigotia superiores a 0,6, numa escala cujo máximo é 1, determinando que, independentemente da diferenciação entre populações, os valores obtidos sejam baixos, como demonstrou HEDRICK (1999) para o caso do uso do GST. A inclusão de populações muito distantes, normalmente utilizadas como outgroup em análises filogenéticas, é outro factor que pode distorcer, sobrestimando os valores de diferenciação das populações em análise. No presente estudo, apesar da CA não ser propriamente um outgroup, a sua exclusão da análise diminuiu para 0,023 o valor de θ, ou seja 11,5% menos, demonstrando que esta raça foi responsável por grande parte da diferenciação global entre as populações. Todos estes aspectos contribuem para explicar o facto dos valores de θ, referidos na bibliografia para os animais domésticos confinados a uma determinada área geográfica e calculados com base em frequências alélicas de microssatélites, raramente ultrapassarem o valor de 0,10. 123 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas A análise dos valores individuais de θ para cada marcador permite ainda pôr em evidência as forças que sobre eles actuam. Se, por exemplo, estiver sob efeito de selecção favorável aos heterozigotos, será de esperar que a variação na frequência alélica entre populações seja pequena, porque as frequências alélicas tenderiam a ser menos sensíveis ao efeito da deriva genética que promove a fixação ou a perda de alelos alternativos em diferentes populações (MACHUGH, 1996). Tal parece ser o caso dos microssatélites OarFcB304 e o BM6506 cujos valores de θ são notavelmente inferiores, menos de metade da média do conjunto dos 19 marcadores estudado. Não é possível, no entanto, inferir sobre a significância estatística deste resultado, pois teria sido necessário que a análise tivesse incidido sobre um número muito superior de loci para gerar uma distribuição representativa dos estimadores. Quando se comparou os fenogramas obtidos com diferentes distâncias genéticas, verificou-se que o construído com a distância DC se distinguiu por apresentar uma divergência do tipo radial, onde as extensões entre nós internos foram muito pequenas. Este perfil é característico de situações em que não é possível estabelecer uma filogenia credível e relaciona-se com a necessidade de dispor de um número maior de marcadores para diferenciar os grupos de populações (LAVAL et al., 2000b; LAVAL, 2001). Relativamente à árvore obtida com a distância DA, salienta-se o facto das raças CTQ e CM se terem posicionado no mesmo ramo que as MBB e SL, o que, em nosso entender, parece fazer pouco sentido. Por seu lado, a árvore obtida com a distância DS (Figura 22) apresentou uma grande semelhança com as duas primeiras (A e B), cujas diferenças se resumiram ao facto das raças MB, MP e MBB se encontrarem agora individualizadas num mesmo ramo, acontecendo o mesmo com as raças CGM e CGB. De acordo com o que é conhecido sobre estas raças, nomeadamente quanto à localização geográfica e semelhança morfológica, esta representação parece ser a mais adequada, apesar de, sob o ponto de vista teórico, a distância DS não ser das mais recomendadas para o estudo de raças de animais domésticos. No que concerne à robustez dos fenogramas, têm sido avançadas várias explicações para os valores de bootstrap baixos, os quais, com frequência, surgem nos estudos de raças animais domésticos. As mais frequentes referem a utilização de um número insuficiente de marcadores, inferior ao que seria capaz de diminuir a variância 124 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas E Figura 22. Fenograma construído a partir da distância genética DS (E) pelo método NeighbourJoining. do erro da estimativa das distâncias entre populações; outras apontam para a possível discrepância entre as “tipologias” exibidas por cada marcador, resultantes do processo evolutivo por deriva genética, e detectável pelo facto de cerca de metade das correlações de Mantel entre marcadores ser negativa; outras ainda, sugerem como causa a ocorrência de cruzamentos recentes (migrações) entre as populações em análise (FELSENSTEIN, 1982; CAVALLI-SFORZA et al., 1994; MOAZAMI-GOUDARZI e LALOE, 2002). Paradoxalmente, no nosso estudo, os nós entre a CM e a CTQ e entre o MB e o MP, onde nos parece provável ter ocorrido mais migração, foram os que apresentaram valores de bootstrap maiores. CAVALLI-SFORZA et al. (1994) referem que a aplicação de diferentes distâncias a um mesmo conjunto de dados pode originar resultados bastante diferentes na topologia das árvores em resultado da sensibilidade a pequenas variações na matriz de distâncias, o que é, frequentemente, encarado como embaraçante. No entanto, de acordo com os 125 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas mesmos autores, estas diferenças tendem a surgir com mais frequência quando a dissemelhança entre populações é pequena, considerando-as triviais quando comparadas com o erro padrão da estimativa, classificando-as, portanto, de “frequentemente pouco importantes”. Pelo contrário, verificámos grandes diferenças entre topologias quando comparámos as árvores obtidas pelo método NJ com as obtidas pelo método UPGMA para as mesmas distâncias (Figuras 1, 2, 3, 4 e 5 do Anexo 4). Da análise pelas distâncias genéticas e respectivos fenogramas, destaca-se a maior distância da raça CA relativamente às restantes raças portuguesas, o que está de acordo com a hipótese de uma eventual importação desta raça, aspecto já discutido a respeito da análise da diversidade genética intra-racial, na qual verificámos que o baixo valor de RA, não foi acompanhado por um baixo valor correspondente de HNB característico de um efeito fundador num modelo em ilha (NEI, 1987; MARTIN-BURRIEL et al., 1999). Esta hipótese poderia assim explicar a maior distância desta raça, pois sendo oriunda de outro país implicaria um tempo de isolamento maior e, portanto, um antepassado comum às restantes raças, mais remoto. Os trabalhos de ZAMORANO et al. (1998) e VALERA et al. (2004) envolveram a caracterização da diversidade genética, com base em microssatélites, da raça Churra Lebrijana (ou Marismeña), a qual se supõe ser a origem da CA, contudo, pelo facto de terem utilizado microssatélites diferentes, não foi possível estabelecer uma relação entre elas. Estes autores referem que aquela raça está ameaçada de extinção no país vizinho o que reforça a importância de tomar medidas com vista à conservação da CA. Os resultados obtidos pelo estudo da região controlo do DNA mitocondrial apontou também a CA como a raça como maior distância genética das restantes raças ovinas portuguesas (PEREIRA et al., 2006). Acresce ainda o facto de, como mostra a Figura 23 onde se observa uma fotografia de exemplares de “Ovino Algarvio” na Exposição Pecuária Nacional em 1888, o ovino representativo do Algarve não ser a CA, mas sim o que parece serem ovinos campaniços. Estes dados corroboram a indicação proferida por RAMOS DA COSTA (1964) de que a raça Churra Algarvia teria derivado da importação do Churro Lebrijano ou Merismeño por volta de 1870-90. 126 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Figura 23. Exemplares do "Ovino Algarvio" na Exposição Pecuária Nacional em 1888. A raça mais próxima da CA foi a CMP o que, do ponto de vista etnológico, parece fazer pouco sentido, pois são-lhes atribuídas origens diferentes: a primeira, de elevada corpulência, e marcadamente do tipo Churro, característico do Tronco Ibérico de que deriva (PEREIRA, 1963), enquanto a segunda de pequena corpulência que, de acordo com FRAZÃO (1982), é “um dos abencerragens do ovino burdo mais fino que povoava, e intensamente, a nossa península”. Por outro lado, esta proximidade poderia ser explicada pela eventual ocorrência de cruzamento entre elas de cujas marcas morfológicas o tempo se teria encarregado de apagar. Quando excluímos a CMP da análise, a ramificação da CA passou a efectuar-se com a CGB (Figura 24), facto que parece fazer mais sentido, pois ambas, no entender de BELDA e TRUJILLANO (1986), reproduzem com vincada fidelidade as características do Tronco Ibérico. De uma forma geral, as raças foram agrupadas de acordo com a proximidade geográfica e com o tipo de lã, tendo-se obtido, assim, dois grupos embora não muito distantes um do outro. Um constituído pelas raças BEDM, CB, CC, CGB, CGM, CTQ, CM, que, com a excepção da CC, todas elas se situam a norte da Serra da Estrela e são do tipo Churro, também com uma excepção, a BEDM, a qual, como já referimos, é bastante heterogénea quanto ao velo. O outro grupo reúne as raças MB, MP, MBB, SE, 127 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas Figura 24. Fenograma construído a partir da distância genética DRey pelo método NeighbourJoining, excluindo a raça CMP. SL, CMP que, com excepção da CA, são do tipo merino ou bordaleiro, portanto com alguma influência de merino, todas elas situadas a sul da serra referida. Este agrupamento é concordante com a hipótese das raças ovinas portuguesas serem originárias de dois troncos, apontada por MIRANDA DO VALE em 1949, e considerando o tronco Ibérico como a origem do primeiro grupo juntamente com CA e o tronco Africano como tendo influenciado o segundo grupo, justificando-se a pequena distância entre os grupos em virtude do tamanho reduzido de Portugal e da elevada mobilidade dos ovinos, de que a prática de transumância em algumas raças constitui um exemplo. A inclusão da raça SE no grupo sul terá por certo relação com essa prática de transumância, concretamente para as terras do Alentejo no período de Inverno. A 128 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas importância deste aspecto fora já realçada por BERNARDO LIMA (1873) quando referiu “ a Guarda tem o gado da Serra da Estrela em grande parte transumante, passando o Inverno para as bandas do Campo de Ourique no distrito de Beja, e tirando por isso muito da sua qualidade do gado do sul”. A origem da CTQ foi atribuída por SOBRAL et al. (1987) ao cruzamento entre a CB e a CM. Os resultados aqui obtidos são concordantes com essa hipótese mas sugerem contudo uma maior proximidade com a CM do que com a CB, apontando, portanto, para um contributo genético muito superior da primeira. A raça CB surge nos fenogramas em posição oposta à raça MB, revelando que, se excluirmos a raça CA, se trata das duas raças ovinas portuguesas geneticamente mais afastadas. Assim, estes resultados não estão de acordo com a possibilidade da raça CB ser uma “raça mestiça, resultante do cruzamento dos bordaleiros com a merina” conforme sugeriu (BERNARDO LIMA) (1873) e foi ecoado por COSTA e CASTRO (1900) e MIRANDA DO VALE (1905). Relativamente à diferença observada entre resultados obtidos por TEIXEIRA (1991) com dados morfométricos e os obtidos neste estudo com os microssatélites para as mesmas raças ovinas churras, apenas fica reforçado o que foi obtido em outros estudos, nomeadamente em raças caprinas Italianas (CREPALDI et al., 2001) e em etnias humanas (CAVALLI-SFORZA et al., 1994). Este facto sugere que uma diferenciação morfológica pode não significar uma diferenciação genética e vice-versa, sendo várias as razões subjacentes. Os caracteres morfológicos possuem, salvo raras excepções, natureza poligénica e são afectados pelo ambiente, podendo várias combinações de genes originar fenótipos semelhantes. No caso concreto dos animais domésticos, observa-se que grande parte do conceito de raça assenta num morfotipo característico ideal determinante de uma pressão selectiva artificial, com consequente implicação na distribuição desses caracteres na população. Pelo contrário, marcadores moleculares como os microssatélites, não são afectados nem pelo ambiente nem pela selecção, resultando daqui diferentes taxas evolutivas das regiões do genoma representadas pelos marcadores ou dos genes responsáveis pelas características morfológicas. Quando se comparam os valores de bootstrap da Figura 16 com os da Figura 13, verifica-se que os primeiros são muito superiores, evidenciando a influência que o número de populações em análise, só por si, pode ter, facto esperado se tivermos em conta que o número de árvores possíveis cresce exponencialmente com o número de 129 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas populações (PENNY e HENDY, 2001). Assim, quando considerámos 14 raças (n), o número de árvores sem raiz é iguais a ((2n-5)!!) ou seja (2*14-5)!!= 23*21*19*17*15*...*5*3*1=3*1011, enquanto que no caso de 7 raças esse valor é de (2n-5)!!) ou seja de (2*7-5)!!= *9*7*5*3*1=945. Em conformidade com o que foi obtido pela análise dos fenogramas construídos com base em distâncias genéticas, também nos resultados obtidos pela AFC a raça CA foi a que mais se distinguiu de entre as raças portuguesas de ovinos. As raças CGB e a CMP foram igualmente as raças mais próximas da CA, situando-se as três no lado negativo do eixo 1. No caso da CGB, a proximidade poderá significar sobretudo uma ancestralidade comum, já que se observa um isolamento geográfico substancial e não temos conhecimento de troca de animais entre estas duas populações. No entanto, são referidos cruzamentos da CGB com a CMP na década de 60, para melhoria da qualidade e quantidade de lã (AURELLE et al., 2002). Relativamente à CMP, a proximidade poderá ter resultado por ventura de um fluxo génico, pois as duas raças (CA e CMP) terão partilhado a mesma área geográfica durante várias décadas. O facto de na análise bidimensional, que envolve os dois primeiros eixos, se verificar que raça SL e as raças merinas estão reunidas no 1º quadrante está de acordo com a origem apontada COSTA e CASTRO (1900) para a SL. Estes autores referiram “O gado da variedade saloia, de velo branco, dos arredores da capital (Lisboa), provêm de merinos importados de Espanha, por volta de meados do século passado, pelo famoso ministro, o marquês de Pombal. Estes merinos permaneceram inicialmente em Oeiras; donde de expandiram, para o Norte e Nordeste, até Torres Vedras e à Póvoa de Santa Iria”. Uma vez que também as raças merinas portuguesas tiveram origem no Merino Espanhol, faz sentido que a raça SL apresente maior similaridade com aquelas raças. Contudo, quando a análise envolveu o 1º e 3º eixos, verificou-se que a SL se destacava das restantes sugerindo uma diferenciação relevante das restantes raças, facto que não foi tão evidente pela observação dos fenogramas. Da mesma forma, os resultados obtidos com a AFC parecem também confirmar que a qualidade da lã foi, ao longo dos tempos, um critério de selecção muito importante nos ovinos e, por isso, um factor de divergência racial, patente na disposição das raças merinas num extremo, as churras no outro, e as bordaleiras mais ou menos numa posição intermédia. Estes resultados parecem, assim, condizentes com o que é 130 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas conhecido em termos de semelhança morfológica, proximidade geográfica e informação histórica das raças. Apesar da congruência dos resultados obtido na AFC das raças portuguesas de ovinos, o poder estatístico foi relativamente baixo, uma vez que os três primeiros factores (eixos) explicam apenas 37,35% da inércia (variância), quando na bibliografia é apontado como referência o valor de pelo menos 80% da inércia para o número de eixos necessários ao estudo detalhado de uma AFC, o que, no caso concreto, implicaria analisar os 9 primeiros factores, muito para além das três dimensões passíveis de ser visualizadas pelo cérebro humano. 3.5. CONCLUSÕES A análise da informação alélica de 20 microssatélites em 14 raças portuguesas de ovinos permitiu revelar uma elevada diversidade intra-racial, traduzida pela estimativa da RAo, que atingiu um valor médio de 9 alelos por locus e por raça, e uma HNB de 0,762 ligeiramente acima do referido para outras das raças ovinas. A CA foi a raça que apresentou menor valor de RAA (6,9 alelos/locus), contra o valor máximo de 9,1 alelos/locus observado na CGM. Relativamente à HNB, o valor mínimo de 0,729 foi observado na CB e o máximo de 0,782 na CGB. A identificação de um total de 26 alelos únicos, envolvendo 15 loci e 11 raças, não se revelou de grande utilidade prática uma vez que os respectivos valores de frequência foram inferiores a 5%. No que respeita à análise da diversidade por microssatélite, obteve-se uma média de 14 alelos, tendo o OarCP49 sido o que apresentou maior valor (26 alelos), e o BM1824 o de menor valor (5 alelos), tendo sido identificados um total de 280 alelos, considerando o conjunto dos 717 animais estudados. O microssatélite BM6444 foi o que apresentou simultaneamente o maior valor de HNB (0,867) e de PIC (0,844) e por isso o de maior poder informativo. O microssatélite McM357 apresentou um excesso de homozigóticos significativo em 13 das 14 raças ovinas estudadas, sugerindo a existência de alelos nulos neste locus, pelo que se recomenda a sua não utilização em estudos deste âmbito. 131 Capítulo 3 - Caracterização da diversidade genética das raças ovinas Portuguesas A análise da estrutura da população ovina Portuguesa revelou existir uma diferenciação estatisticamente significativa para todos os pares possíveis das 14 raças, apesar da diversidade genética total, apenas 2,6% ser devida a diferenças entre raças, enquanto aos restantes 97,4% corresponderem a diferenças entre indivíduos dentro das raças. Observou-se uma correlação significativa entre as matrizes de distâncias genéticas, tendo sido o fenograma construído pelo método de NJ com a DS o que melhor se adequou ao que é conhecido sobre a história das raças. À semelhança do que foi referido em geral para as raças de animais domésticos, os valores de bootstrap nos nós dos fenogramas foram relativamente baixos, em média na ordem dos 30%. Contudo, apesar desta fraca robustez dos fenogramas, os resultados obtidos concordam de uma maneira geral com o que é conhecido sobre a história das raças portuguesas de ovinos, tendo as mesmas sido agrupadas de forma condizente com a distribuição geográfica e com o tipo de lã, aspectos que se relacionam com a sua origem étnica. Conclusões idênticas foram obtidas pela metodologia da AFC. As raças CA e MB revelaram ser aquelas que mais dissemelhanças apresentaram; em oposição, as raças CM e CTQ foram as mais próximas, tendo havido concordância de resultados quando a análise foi efectuada quer com base em distâncias genéticas, quer por AFC. O facto da se ter observado o menor valor de RA na CA, que não foi acompanhado por um menor valor de HO, e se ter verificado a maior distância genética relativamente às restantes raças, é concordante com a hipótese de importação recente desta raça, já sugerida por outros autores. Assim, apesar das limitações associadas ao uso dos microssatélites, estes constituem uma ferramenta muito útil para estudar a diversidade genética e as relações de similaridade entre populações próximas, como é o caso das raças portuguesas de ovinos. Contudo, será interessante complementar estes resultados com informação alélica de loci responsáveis ou associados a características produtivas, de forma a confrontar as respectivas conclusões. 132 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos CAPÍTULO 4 - HIERARQUIA DE PRIORIDADE DE CONSERVAÇÃO DAS RAÇAS PORTUGUESAS DE OVINOS 4.1. INTRODUÇÃO A maioria das raças de animais domésticos tem uma origem relativamente recente, facto tanto mais evidente quando se consideram as raças pertencentes a um mesmo país. Assim, admite-se que a mutação tenha exercido uma influência reduzida na génese (diferenciação) das mesmas, atribuindo-se à deriva genética, à migração e à selecção, a responsabilidade pelas diferenças morfológicas e produtivas observadas, sendo por isso inevitável que entre elas ocorra algum grau de duplicação da diversidade genética. Este aspecto reveste-se de uma importância enorme quando se pretende gerir os sempre escassos recursos financeiros a utilizar na conservação das raças de animais domésticos. No entanto, decidir sobre quais as raças que devem ser protegidas e quais as que ficam por conta do risco de extinção apresenta-se como um dilema sensível, dificilmente consensual e motivo de muito debate (CROZIER, 1992; RUANE, 2000; SIMIANER, 2002). Importa assim fazer, ainda que breve, uma referência aos critérios e estratégias que têm sido sugeridos. De acordo com RUANE (2000), as decisões devem ser tomadas por comités nacionais de especialistas com experiência nas raças das várias espécies, devendo os mesmos definir as de maior interesse. Esta opinião assenta na recomendação da “Convenção para a Diversidade Biológica” (1992) segundo a qual cada país é soberano dos seus próprios recursos genéticos (artigo 15) e, por conseguinte, é responsável pelo delineamento de estratégias, planos e programas nacionais para a conservação dos mesmos. Os critérios referidos com mais frequência e para os quais é necessário obter o máximo de informação relativa a cada raça, independentemente da relevância que cada autor lhes atribui, são: - Grau de risco de extinção – (degree of endangerment); 133 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos - Presença de características com valor económico actual; - Presença de características de valor científico; - Valor agro-ecológico em especial paisagístico; - Valor histórico-cultural; - Singularidade genética (genetic uniqueness); RUANE (2000) sugeriu uma forma simples de ponderar cada um destes aspectos e de atribuir pontuação às raças cuja importância de conservação se pretende analisar. Para tal, toma como exemplo o caso particular das raças de animais domésticos da Noruega. Obviamente, a ponderação que os vários autores dão a cada um destes e outros aspectos é variável. Por exemplo, enquanto que BARKER (1994b) elege como critério mais importante a singularidade genética das raças, RUANE (2000) considera o risco de extinção como prioritário e PONZONI (1997) entende que devem ser prioritárias as raças com maior frequência relativa de alelos com interesse económico. Por seu lado, SANCRISTOBAL et al. (2003) consideram que o facto de uma raça apresentar um reduzido efectivo, isto é, em risco de extinção, não deve por si só constituir uma razão suficiente para lhe ser conferida prioridade de conservação, pois este tipo de atitude poderia levar a que fossem privilegiadas linhas consanguíneas, mesmo que não contivessem riqueza alélica específica. Pelo contrário, grandes populações detêm, geralmente, um maior potencial para o melhoramento genético futuro devido à sua maior diversidade genética interna. Com excepção do critério “valor histórico-cultural”, todos os outros estão relacionados com as características genéticas das populações, o que demonstra a importância de obter-se o máximo de informação sobre esta temática. 4.1.1. Singularidade genética O conceito de singularidade genética, como critério de prioridade na escolha das populações a conservar, foi referido pela primeira vez por MILLER (1977). Esta ideia tem subjacente a natureza imprevisível das necessidades futuras a salvaguardar com a conservação das raças de animais autóctones. Assim, a escolha das que se revelem geneticamente mais singulares (distintas) parece ser a forma mais racional de o conseguir. No entanto, a singularidade genética de uma raça não é fácil de definir, tendo sido sugeridas diferentes estratégias de determinação. 134 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Uma forma intuitiva, consiste na comparação simples, entre raças, dos valores da riqueza alélica, da heterozigotia esperada, das frequências alélicas e alelos únicos, etc., de preferência para um grande número de loci, normalmente utilizados para descrever a diversidade e cujas vantagens e limitações respectivas foram alvo de discussão no capítulo anterior. Embora esta estratégia permita caracterizar a diversidade presente em cada uma das populações e ter uma noção da diferença, ela não tem em conta a duplicação de diversidade entre raças e quando estão em análise um elevado número de loci num elevado número de populações, tal análise torna-se difícil e subjectiva. A abordagem sugerida por PETIT et al. (1998) utiliza a heterozigotia esperada e a riqueza alélica como medidas de diversidade e avalia de forma directa a singularidade genética de cada raça como a contribuição de cada uma delas para a diversidade global, calculando a diferença entre o valor de diversidade obtido para a globalidade das populações e a obtida após retirar a população em causa. Além disso, decompõe esta contribuição em dois componentes, um resultante da diversidade dentro das populações e outro resultante da divergência entre uma das populações e as restantes, utilizando para o efeito o cálculo do parâmetro de diferenciação GST, já referido no capítulo anterior. Contudo, HEDRICK (1999) sobre o uso dos microssatélites nesta abordagem, chama a atenção para o cuidado a ter em conta na interpretação dos resultados obtidos, justificando-se com o facto de PETIT et al. (1998) terem desenvolvido esta abordagem utilizando frequências alélicas de alozimas em populações de palmeiras. Com efeito, a este tipo de marcador estão associados, normalmente, valores de heterozigotia baixos (~0,3); pelo contrário, com os microssatélites o valor de 0,6 para a heterozigotia é frequentemente ultrapassado, limitando a valores pequenos o GST, sendo portanto de importância duvidosa na análise da diferenciação de populações, ou seja, a relação obtida entre a significância estatística e a biológica pode ser pequena. Um outro aspecto fundamental, prende-se com a qualidade da estimativa do parâmetro heterozigotia pelos marcadores moleculares, uma vez que DEWOODY e DEWOODY (2004) observaram que a heterozigotia obtida tanto pelas alozimas como pelos microssatélites e SNPs, era uma fraca estimativa da heterozigotia global (de todo o genoma). O cálculo de distâncias genéticas a partir de informação alélica relativa a um grande número de loci tem constituído uma abordagem muito utilizada para caracterizar o grau de diferenciação e as relações filogenéticas entre populações. Esta metodologia 135 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos tem o mérito de reduzir a um valor objectivo – distância – a relação entre pares de populações. Por seu lado, a topologia do dendograma, posteriormente construído com base na matriz destas distâncias, permite uma explicação clara das relações de proximidade entre o conjunto de populações. Este aspecto estará certamente na base da sua recomendação pela FAO para avaliar a singularidade genética das raças. No entanto, uma análise mais atenta permitirá compreender que esta metodologia, só por si, não estabelece um ordenamento das raças quanto à sua singularidade, principalmente quando estiverem em análise um grande número delas. Partindo dos princípios subjacentes a esta metodologia, alguns autores introduziram adaptações com vista a permitir uma avaliação da singularidade de cada raça e o ordenamento das mesmas quanto à prioridade de conservação. Pela sua simplicidade é de referir a abordagem sugerida por WIMMERS et al. (2000), segundo a qual são estabelecidas prioridades de conservação para várias populações de galinhas com base no valor médio da distância entre cada população e as restantes. Assim, quanto maior for o valor médio obtido mais distinta será a raça e, por conseguinte, maior prioridade terá para a conservação. Por outro lado, a abordagem proposta pelo economista WEITZMAN (1992; 1993) é, provavelmente, a que tem motivado mais adesão, tendo em conta o número de trabalhos publicados (MOAZAMI-GOUDARZI et al., 1997; THAON D'ARNOLDI et al., 1998; LAVAL et al., 2000b; BARKER et al., 2001; CAÑON et al., 2001). Como foi uma das utilizadas neste estudo, far-se-á dela uma descrição um pouco mais pormenorizada. A metodologia de WEITZMAN (1992; 1993) também parte de uma matriz de distâncias genéticas, mas adopta um método alternativo de construção do respectivo dendograma das populações, cuja formulação tem como objectivo quantificar a perda de diversidade genética quando uma população é excluída do conjunto de partida. Esta assenta na utilização de forma recursiva da seguinte função de diversidade: V ( S ) = max[V ( S \ i ) + d (i, S \ i )] , com a condição inicial de V(i)=k i∈S onde V(S) é a diversidade de um conjunto de populações S, V(S\i) é a diversidade do conjunto S sem o elemento i e d(i,S\i) é a distância entre o elemento i e o conjunto S sem i. V(i) designa a diversidade de i a qual, inicialmente, toma uma constante normalizadora (k) que, em termos de computação, pode ser considerada igual a zero. 136 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos As propriedades desta função (gémea, de ligação, monotonia em espécie e em distância, continuidade em distância, etc.) permitem uma definição de diversidade assente em princípios simples e rigorosos (WEITZMAN, 1992). Esta metodologia conduz à construção de um dendograma com topologia única, com a propriedade de máxima verosimilhança evolutiva, interpretável com o que maximiza a probabilidade de existência das espécies que o constituem num dado instante e cujo tamanho dos ramos representa a diversidade (WEITZMAN, 1992). A construção deste dendograma assenta na identificação sucessiva de pares de populações mais próximas, uma delas designada de "ligação" e outra de "representativa" cuja exemplificação da aplicação do algoritmo de cálculo pode ser encontrada nos trabalhos de THAON D'ARNOLDI et al. (1998) e de FOULLEY et al. (1999). A perda absoluta de diversidade d(Vi) associada à extinção de uma raça (i), ou de um conjunto de raças, pode ser aproximadamente deduzida pela observação do dendograma, ou quantificada com exactidão recalculando o total de diversidade pela função atrás referida após retirar do conjunto a raça ou grupo de raças em questão. Este valor expresso em percentagem da diversidade total é designada de "diversidade marginal". A bibliografia sobre esta temática é rica em exemplos de aplicação em várias espécies de animais domésticos (MOAZAMI-GOUDARZI et al., 1997; THAON D'ARNOLDI et al., 1998; LAVAL et al., 2000a; BARKER et al., 2001; CAÑON et al., 2001; REISTMARTI et al., 2003). A metodologia de WEITZMAN (1992; 1993), sendo bastante abrangente, foi também utilizada para estabelecer um sistema de gestão de uma dada quantia de fundos monetários a repartir por um conjunto de raças, de tal forma que fosse maximizada a conservação da diversidade entre raças, por unidade monetária investida (GARCIA et al., 2002; MARTI e SIMIANER, 2002; SIMIANER et al., 2003). Os resultados mostraram que a repartição óptima de recursos segue um certo padrão mas é difícil de ser aferida sem um modelo detalhado e sem um conhecimento preciso dos valores dos parâmetros em causa. Outros autores idealizaram estratégias globais a fim de ser encontrada uma solução óptima para ponderar a diversidade genética e o mérito produtivo (CHAIWONG, 1999; PIYASATIAN e KINGHORN, 2003), ou modificaram-no a fim de incorporar informação sobre a diversidade intra-populacional (GARCIA et al., 2005). 137 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Apesar destas vantagens, as abordagens que assentam em distâncias genéticas são normalmente criticadas por estarem dependentes de um elevado número de factores entre os quais: a distância genética utilizada, o tamanho da amostra por raça, o número de loci usados, o método da construção do dendograma, e outros (NEI e TAKEZAKI, 1994; TAKEZAKI e NEI, 1996). Os valores reduzidos de bootstrap, obtidos na construção de árvores filogenéticas quando estão em causa raças de animais domésticos, são disso uma evidência. Assim, a combinação diferente destes factores pode levar a conclusões diversas perante as mesmas raças. Além disso, não têm uma interpretação em termos da medida mais aceite de diversidade genética − a heterozigotia esperada − e ignora a variabilidade intra-populacional, que constitui a parte crucial da variabilidade da metapopulação, sendo mais adequados ao caso das espécies. Os trabalhos desenvolvidos por BEHARA et al. (1998), RUANE (1999a) e CABALLERO e TORO (2002) detalharam cuidadosamente as críticas a esta abordagem. Por outro lado, a natureza recursiva do algoritmo de cálculo da abordagem de WEITZMAN requer elevados meios computacionais, restringindo, na prática, a sua utilização a um número reduzido de populações (inferior a 25), o que representa uma limitação séria desta metodologia, se se considerar que o objectivo final é uma análise das populações à escala mundial. Mais recentemente, EDING e MEUWISSEN (2001) propuseram uma outra abordagem baseada na idealização de um subconjunto de populações, designado de “core set”, a partir do grupo de populações em análise, de forma a minimizar a duplicação da diversidade genética inicial. O coeficiente de coancestralidade (ƒ) de MALECOT (1948) é o parâmetro utilizado para descrever essa sobreposição de diversidade. Por definição, este coeficiente é a probabilidade de dois alelos de um dado locus, aleatoriamente amostrados em dois indivíduos, serem idênticos por descendência. Tendo em conta que numa população com reprodução aleatória, a variância genética é proporcional a (1- ƒ ) (FALCONER e MACKAY, 1996), ao minimizar-se o ƒ médio ( ƒ ) está-se a maximizar a diversidade genética. Por outro lado, CABALLERO e TORO (2000; 2002) demonstraram também, que minimizar ƒ equivale a maximizar o tamanho efectivo da população. O trabalho de ALVAREZ et al. (2005) constitui outro exemplo de como o coeficiente de ancestralidade pode ser usado para estudar a diferenciação de raças de animais domésticos, no caso concreto raças de ovinos. 138 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Na prática, se for conhecido ƒ dentro e entre populações, é possível calcular a contribuição que cada população deve ter para o core set de forma a minimizar ƒ . Estes valores assim obtidos são considerados como indicadores da singularidade genética de cada população e usados para as ordenar quanto à prioridade de conservação. Todavia, ƒ é, por definição, calculado a partir da informação do pedegree dos indivíduos que constituem as populações (FALCONER e MACKAY, 1996), informação esta que, na maioria das raças autóctones, não está disponível. Para ultrapassar esta limitação, e à semelhança de outros autores (LYNCH, 1988; LYNCH e RITLAND, 1999; VAN DE CASTEELE et al., 2001; ROUSSET, 2002; WANG, 2002; BLOUIN, 2003), EDING e MEUWISSEN (2001) propuseram um índice de similaridade calculado a partir de informação alélica de marcadores moleculares para o estimarem. Este método está muito dependente da capacidade de estimar f a partir de informação molecular o que levou os mesmos autores a testarem vários modelos com o objectivo de melhorar a precisão dessa estimativa (EDING e MEUWISSEN, 2003). Os autores referem ainda que o método que propõem é mais eficaz na escolha das raças a conservar do que o de WEITZMAN (1992; 1993), argumentando que nem sempre a uma maior distância genética entre duas populações corresponde uma maior diversidade entre elas, sendo apenas verdade quando as mesmas apresentarem valores iguais para o coeficiente de ancestralidade. Por outro lado, o aumento da consanguinidade dentro das populações diminui a diversidade, mas aumenta a distância genética entre elas, o que determina que no método de WEITZMAN seja favorecida a conservação de populações consanguíneas com grandes diferenças nas frequências alélicas, enquanto o método proposto por eles tende a conservar a frequência alélica da população fundadora, portanto, a minimizar a perda de alelos (EDING et al., 2002). A concluir, parece-nos aceitável dizer que a primeira tende a ponderar mais a diversidade entre populações, enquanto que a segunda pondera mais a diversidade intra-populacional. Tendo em conta que a maioria das raças europeias de animais domésticos tem uma origem relativamente recente (últimos 200 anos), a documentação histórica pode ser também um instrumento relevante na avaliação da sua singularidade genética (RUANE, 1999a). 139 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos 4.2 OBJECTIVOS Neste capítulo do nosso estudo procurámos aplicar, às raças portuguesas de ovinos, algumas das abordagens sugeridas na avaliação da singularidade genética, para que essa informação possa ficar disponível para futuros programas nacionais de conservação de recursos genéticos animais. 4.3 METODOLOGIA Para se estabelecer a prioridade de conservação das raças ovinas portuguesas usámos duas abordagens já descritas, a de WEITZMAN (1992) incluindo a perspectiva de THAON D'ARNOLDI et al. (1998) e a do core set (EDING e MEUWISSEN, 2001; EDING et al., 2002; EDING e MEUWISSEN, 2002; EDING e MEUWISSEN, 2003). 4.3.1 Abordagem de WEITZMAN Partindo da matriz de valores da distância genética DRey (NEI, 1972) calculada no capítulo anterior, com base em 19 microssatélites, foi construído o dendograma de diversidade e calculada a diversidade marginal associada a cada raça. A opção pela distância DRey assentou no facto de esta ser a mais adequada à análise de populações próximas (EDING e LAVAL, 1999) (LAVAL et al., 2002), como são as raças envolvidas neste estudo e ter sido aquela cujo fenograma apresentou maior robustez, tendo em conta o valor médio de bootstrap. Contudo, de acordo com um estudo recente levado a cabo pela FAO (2004), a distância DS tem sido a mais usada no estudo da diversidade genética em animais domésticos. Esta distância foi também aquela cuja topologia do fenograma melhor reproduziu o que empiricamente se conhece sobre as raças portuguesas de ovinos. Por isso, efectuaram-se também os mesmos cálculos utilizando esta distância cujos resultados constam do Anexo 5 Com o intuito de facilitar a comparação com a abordagem do core set, realizámos também os mesmos cálculos utilizando uma distância genética definida por EDING et al. (2002), a qual se designou por DE=d(i,j) e se descreve adiante. Seguindo a perspectiva de THAON D'ARNOLDI et al. (1998), foi definido um grupo de raças com menor probabilidade de extinção, constituído pelas raças MB, SE e CTQ, 140 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos atendendo ao tamanho do efectivo e ao interesse económico actual. De seguida, foi calculada a perda de diversidade associada à manutenção de apenas este grupo e de quando a ele foi iterativamente adicionado uma das restantes raças. Isto permitiu calcular a contribuição relativa da diversidade de cada uma das raças consideradas em perigo e ordená-las por este critério em termos de prioridade de conservação. Todos os cálculos envolvidos nesta abordagem foram efectuados recorrendo aos respectivos algoritmos do programa WEITZPRO Package (DERBAN et al., 2002). O dendograma em causa foi visualizado no programa TREEVIEW (PAGE, 1996), após construção do respectivo ficheiro de entrada com base nos resultados obtidos com o programa anterior. 4.3.2 Abordagem do core set Com base nos valores da frequência de cada alelo em cada locus, em cada população, cuja obtenção foi descrita no capítulo anterior, procedeu-se à construção de matrizes de similaridade entre populações para cada um dos 19 microssatélites, recorrendo ao programa Excel e à fórmula que se segue: S ij = ∑ pik p jk (EDING et al., 2002) K onde S ij é a média da similaridade entre pares de populações i e j para um locus com k alelos, pik é a frequência do alelo k na população i e pjk é a frequência do alelo k na população j. Com base nestas matrizes de similaridade obtidas para cada locus, foi estimado o coeficiente de coancestralidade ( ƒ̂ ij ), pelos modelos WLM (Weigthed Log Linear Model) e WLMM (Weigthed Log Linear Mixed Model), considerados pelos autores como os mais adequados (EDING e MEUWISSEN, 2003). Também foi calculado o quadrado médio do erro da predição para cada microssatélite com o objectivo de excluir os que apresentassem valores iguais ou superiores a quatro, conforme recomendação dos autores. No caso concreto, foi 141 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos excluído o ETH225 por ter apresentado um valor próximo (3,6). Pelas razões evocadas no capítulo anterior, o microssatélite McM357 também não foi considerado. Seguindo ainda as recomendações destes autores, foi calculada uma matriz de distâncias genéticas entre populações utilizando os valores de ƒ̂ obtidos pelo WLM, segundo a fórmula seguinte: d(i,j) = ƒ̂ii + ƒ̂ jj -2 ƒ̂ij onde d(i,j) é a distância entre as populações i e j; ƒ̂ii e ƒ̂ jj são as estimativas do coeficiente de coancestralidade dentro da população i e j, respectivamente; e ƒ̂ij é a estimativa do coeficiente de coancestralidade entre a população i e j. Relembra-se que a distância d(i,j) foi designada anteriormente por distância DE. Na construção do dendograma correspondente foi utilizado o método NJ (SAITOU e NEI, 1987), recorrendo aos programas POPULATIONS (LANGELLA, 2002) e TREEVIEW (PAGE, 1996). Com base no ordenamento das populações obtido neste dendograma foi reordenada a matriz de valores de ƒ̂ e construído um gráfico de superfície, utilizando o programa Excel, para melhor análise da mesma (EDING e MEUWISSEN, 2003). A estimativa das contribuições relativas (c) de cada uma das raças para uma população ideal (core set) com coeficiente de coancestralidade mínimo [ f ( S ) min ], foram calculadas, respectivamente, segundo as expressões: c min = M −11n 1' n M −11n f ( S ) min = 1 1' n M −11n onde M é a matriz de ƒ̂ e 1n é um vector de "uns" com dimensão n (EDING et al., 2002). Como a variância genética contida dentro do core set é proporcional a 1- f ( S ) min , a diversidade genética Div(S) do mesmo é definida como Div(S)= 1- f ( S ) min (EDING et 142 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos al., 2002). Segundo os autores, esta metodologia corresponde à maximização da conservação da diversidade presente à partida, evitando sobreposições eventuais entre raças. Os resultados obtidos podem ser utilizados como critério para estabelecer prioridades de conservação. Com o objectivo de comparar o efeito do modelo de estimativa de f, estes cálculos foram efectuados para os dois modelos (WLM, WLMM). À semelhança do que se fez para a abordagem de WEITZMAN, foi estudada também a perspectiva proposta por THAON D'ARNOLDI et al. (1998), descrita anteriormente. Para o caso concreto, a diversidade foi definida de duas maneiras: Div(M) = 1 - fcs, Nge = (2fcs)-1 onde fcs é a média da estimativa do coeficiente de coancestralidade em cada core set formado. Div(M) é assim, um parâmetro de diversidade cuja alteração está associado às variações nas características genéticas quantitativas, enquanto Nge designa o número de equivalentes de genoma (CABALLERO e TORO, 2000) e a sua alteração está associada à perda potencial de alelos ou haplotipos raros (EDING et al., 2002) Todos os cálculos envolvidos nesta metodologia foram realizados no programa MATLAB (Anónimo, 2002), utilizando rotinas gentilmente cedidas pelo autor do método, HERWING EDING. 4.4 RESULTADOS 4.4.1 Abordagem de Weitzman A informação relativa aos pares de populações de "ligação" e "representativas" e distâncias respectivas, necessária à construção do dendograma de WEITZMAN, é apresentada na Tabela 18. 143 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Tabela 18. Ordenadas dos nós do dendograma de Weitzman baseadas nas distâncias DRey e DE. Representativa CM CGB BEDM CC SE CM SL CM MB SL CB MB CA DRey Ligação Distância Acumulada CTQ 0,006 0,006 CGM 0,009 0,015 CGB 0,013 0,028 BEDM 0,016 0,044 MBB 0,018 0,061 CC 0,020 0,081 SE 0,021 0,102 CMP 0,021 0,123 MP 0,022 0,145 CM 0,028 0,173 SL 0,037 0,210 CB 0,058 0,268 MB 0,062 0,330 DE Representativa Ligação Distância Acumulada CM CTQ 0,030 0,030 CGB CGM 0,038 0,068 BEDM CGB 0,050 0,118 MBB CMP 0,053 0,171 MBB SE 0,054 0,225 MP BEDM 0,056 0,280 MB MP 0,059 0,339 MBB CM 0,062 0,401 CC MBB 0,068 0,469 CB CC 0,076 0,545 MB SL 0,084 0,629 CB MB 0,119 0,748 CA CB 0,138 0,885 Nos dendogramas de WEITZMAN baseados nas distâncias DRey (REYNOLDS et al., 1983) (Figura 25) e DE (EDING et al., 2002) (Figura 26), pôde-se verificar que a CA foi a raça que mais se destacou do conjunto. Pelo contrário, entre a CTQ e a CM e entre a CGB e a CGM foram registados os valores menores de distância (valores menores de diversidade entre raças). Estes pares de raças apresentam também uma morfologia semelhante e o seu solar é contíguo, por isso não será de admirar que na origem desta pequena distância esteja um curto tempo de divergência e algum fluxo génico entre elas. Relativamente às restantes raças, a sua posição mostrou-se dependente da distância considerada. Figura 25. Dendograma de Weitzman entre as 14 raças portuguesas de ovinos baseado na distância DRey. 144 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Figura 26. Dendograma de Weitzman entre as 14 raças portuguesas de ovinos baseado na distância DE. Este método permitiu também quantificar a contribuição marginal de diversidade de cada uma das raças, para a diversidade global do conjunto (Tabela 19), sendo o contributo mais importante o da CA, com um valor superior ao dobro (18,7% e 15,6%, conforme a distância) do que seria alcançado se houvesse uma contribuição igual para todas as raças (100/14=7,14%). Tabela 19. Valores da diversidade marginal e ordem de prioridade de conservação, calculados a partir das distâncias DRey e DE. DRey V(S) Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL 0,330 V(S\i) 0,315 0,268 0,280 0,311 0,320 0,320 0,315 0,308 0,324 0,272 0,312 0,310 0,310 0,305 dV(i) 0,015 0,062 0,050 0,018 0,009 0,009 0,015 0,021 0,006 0,057 0,018 0,019 0,020 0,024 DE dV(i)(%) 4,5 18,7 15,0 5,5 2,9 2,8 4,4 6,5 1,8 17,4 5,3 5,8 6,0 7,4 0,885 V(S-i) 0,830 0,748 0,785 0,815 0,842 0,847 0,834 0,832 0,856 0,784 0,826 0,830 0,831 0,813 dV(i) 0,055 0,138 0,100 0,070 0,044 0,038 0,051 0,053 0,030 0,102 0,060 0,056 0,054 0,073 Ordem de prioridade dV(i) (%) 6,2 15,6 11,3 8,0 5,0 4,3 5,8 6,0 3,3 11,5 6,7 6,3 6,1 8,2 DRey CA MB CB SL CMP SE MP CC MBB BEDM CM CGB CGM CTQ DE CA MB CB SL CC MBB MP BEDM SE CMP CM CGB CGM CTQ V(S) - Diversidade total; V(S\i) – Diversidade total sem a raça i; dV(i) e dV(i)(%)- perda de diversidade, absoluta e relativa ("marginal"), respectivamente, associada ao desaparecimento da raça i. 145 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Apesar do ordenamento ter sido diferente quando foi considerada uma ou outra distância genética, foram comuns as primeiras quatro e as últimas quatro posições, registando-se uma correlação muito significativa (r=0,96; P<0,01) entre os valores respectivos de perda de diversidade. As 4 primeiras raças (CA, MB, CB e SL) contribuíram com 58,5% e 46,6% da diversidade global, conforme se considerou a distância DE ou a DRey, respectivamente. As restantes 10 raças apresentaram valores de contribuição individuais para a diversidade global semelhantes entre si e próximos de 5%. Os resultados obtidos para a diversidade marginal, segundo a perspectiva sugerida por THAON D'ARNOLDI et al. (1998), e considerando como grupo seguro as raças CTQ, MB e SE, são apresentados na Tabela 20. A partir daqueles foi possível verificar que a manutenção de apenas estas três raças, implicaria uma perda de diversidade próxima dos 75 a 80% da diversidade total. Tabela 20. Valores da diversidade marginal e ordem de prioridade de conservação, considerando um grupo seguro constituído pelas raças CTQ, MB e SE, com base nas distâncias DRey e DE. DRey V(S) Raça 0,330 V(S\i) dV(i) DE dV(i) dV(i) (%) (%Seg) Seguro 0,247 0,083 25,2 Seguro + i BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP MBB MP SL 0,232 0,185 0,201 0,228 0,237 0,237 0,226 0,225 0,228 0,227 0,218 0,098 0,144 0,129 0,101 0,092 0,092 0,104 0,104 0,101 0,103 0,112 29,7 43,8 39,2 30,7 28,0 28,0 31,6 31,6 30,8 31,1 33,9 18,0 74,0 55,4 21,7 11,3 11,3 25,3 25,6 22,2 23,5 34,6 0,885 V(S-i) dV(i) Ordem prioridade dV(i) dV(i) (%) (%Seg) 0,700 0,185 20,9 0,645 0,562 0,594 0,630 0,656 0,662 0,638 0,647 0,641 0,643 0,609 0,240 0,323 0,292 0,256 0,229 0,223 0,247 0,238 0,244 0,242 0,277 27,1 36,5 33,0 28,9 25,9 25,2 27,9 26,9 27,6 27,3 31,2 29,8 74,4 57,5 38,0 23,7 20,5 33,5 28,7 31,8 30,7 49,3 DRey DE CA CB SL CMP CM MP MBB CC BEDM CGB CGM CA CB SL CC CM MBB MP BEDM CMP CGB CGM V(S) - Diversidade total; V(S\i) – Diversidade total sem a raça i; dV(i) e dV(i)(%)- perda de diversidade, absoluta e relativa, respectivamente, associada ao desaparecimento da raça i comparativamente ao total; dV(i)(%Seg)– Perda de diversidade relativa, associada ao desaparecimento da raça i quando consideramos apenas a conservação do grupo seguro {[dV(seguro+i)dV(seguro)]/dV(seguro)*100}. Por sua vez, a não inclusão de apenas mais uma raça no grupo seguro representaria uma perda em diversidade entre 11,3 (CGB ou CGM) e 74,0% (CA), no caso da distância DRey ou entre 20,5 (CGM) a 74.4% (CA), considerando a distância DE. Estes valores revelam a importância de, a curto prazo, se implementarem programas de conservação das raças portuguesas de ovinos, principalmente para a raça CA. 146 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos 4.4.2 Abordagem do core set Os valores registados para a estimativa do coeficiente de coancestralidade ( ƒ̂ ) foram relativamente baixos, indicando uma elevada diversidade dentro e entre raças (Tabela 21 e Tabela 22). Os resultados obtidos para o modelo WLM foram superiores aos atingidos para o WLMM. Tabela 21. Matriz de coeficientes de coancestralidade estimados segundo o modelo WLM. BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL BEDM 0,0440 0,0170 0,0316 0,0220 0,0141 0,0177 0,0328 0,0139 0,0191 0,0000 0,0218 0,0246 0,0169 0,0087 CA 0,0170 0,1016 0,0249 0,0209 0,0249 0,0238 0,0361 0,0400 0,0285 0,0087 0,0287 0,0299 0,0242 0,0219 CB 0,0316 0,0249 0,0861 0,0340 0,0256 0,0301 0,0457 0,0287 0,0323 0,0083 0,0308 0,0352 0,0280 0,0199 CC 0,0220 0,0209 0,0340 0,0579 0,0141 0,0245 0,0368 0,0189 0,0222 0,0042 0,0231 0,0262 0,0156 0,0109 CGB 0,0141 0,0249 0,0256 0,0141 0,0343 0,0209 0,0274 0,0200 0,0170 0,0034 0,0149 0,0224 0,0098 0,0112 CGM 0,0177 0,0238 0,0301 0,0245 0,0209 0,0455 0,0377 0,0215 0,0233 0,0119 0,0238 0,0311 0,0189 0,0180 CM 0,0328 0,0361 0,0457 0,0368 0,0274 0,0377 0,0794 0,0416 0,0473 0,0149 0,0368 0,0392 0,0283 0,0296 CMP 0,0139 0,0400 0,0287 0,0189 0,0200 0,0215 0,0416 0,0600 0,0309 0,0113 0,0315 0,0302 0,0266 0,0232 CTQ 0,0191 0,0285 0,0323 0,0222 0,0170 0,0233 0,0473 0,0309 0,0446 0,0110 0,0301 0,0265 0,0222 0,0228 MB 0,0000 0,0087 0,0083 0,0042 0,0034 0,0119 0,0149 0,0113 0,0110 0,0494 0,0165 0,0256 0,0067 0,0095 MBB 0,0218 0,0287 0,0308 0,0231 0,0149 0,0238 0,0368 0,0315 0,0301 0,0165 0,0561 0,0284 0,0253 0,0207 MP 0,0246 0,0299 0,0352 0,0262 0,0224 0,0311 0,0392 0,0302 0,0265 0,0256 0,0284 0,0609 0,0276 0,0240 SE 0,0169 0,0242 0,0280 0,0156 0,0098 0,0189 0,0283 0,0266 0,0222 0,0067 0,0253 0,0276 0,0486 0,0236 SL 0,0087 0,0219 0,0199 0,0109 0,0112 0,0180 0,0296 0,0232 0,0228 0,0095 0,0207 0,0240 0,0236 0,0533 Tabela 22. Matriz de coeficientes de coancestralidade estimados segundo o modelo WLMM. BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL BEDM 0,0385 0,0038 0,0068 0,0048 0,0031 0,0039 0,0071 0,0031 0,0042 0,0000 0,0048 0,0054 0,0037 0,0019 CA 0,0038 0,0489 0,0055 0,0046 0,0054 0,0052 0,0078 0,0085 0,0062 0,0019 0,0062 0,0065 0,0053 0,0048 CB 0,0068 0,0055 0,0460 0,0074 0,0056 0,0065 0,0098 0,0062 0,0070 0,0018 0,0067 0,0076 0,0061 0,0044 CC 0,0048 0,0046 0,0074 0,0410 0,0031 0,0054 0,0080 0,0042 0,0048 0,0009 0,0051 0,0057 0,0035 0,0024 CGB 0,0031 0,0054 0,0056 0,0031 0,0367 0,0046 0,0060 0,0044 0,0038 0,0007 0,0033 0,0049 0,0022 0,0024 CGM 0,0039 0,0052 0,0065 0,0054 0,0046 0,0388 0,0081 0,0047 0,0051 0,0026 0,0052 0,0068 0,0042 0,0039 CM 0,0071 0,0078 0,0098 0,0080 0,0060 0,0081 0,0449 0,0090 0,0102 0,0032 0,0080 0,0085 0,0062 0,0064 CMP 0,0031 0,0085 0,0062 0,0042 0,0044 0,0047 0,0090 0,0414 0,0067 0,0025 0,0068 0,0066 0,0058 0,0051 CTQ 0,0042 0,0062 0,0070 0,0048 0,0038 0,0051 0,0102 0,0067 0,0386 0,0023 0,0066 0,0058 0,0049 0,0049 MB 0,0000 0,0019 0,0018 0,0009 0,0007 0,0026 0,0032 0,0025 0,0023 0,0395 0,0036 0,0056 0,0014 0,0019 MBB 0,0048 0,0062 0,0067 0,0051 0,0033 0,0052 0,0080 0,0068 0,0066 0,0036 0,0407 0,0062 0,0055 0,0046 MP 0,0054 0,0065 0,0076 0,0057 0,0049 0,0068 0,0085 0,0066 0,0058 0,0056 0,0062 0,0416 0,0060 0,0052 SE 0,0037 0,0053 0,0061 0,0035 0,0022 0,0042 0,0062 0,0058 0,0049 0,0014 0,0055 0,0060 0,0393 0,0052 SL 0,0019 0,0048 0,0044 0,0024 0,0024 0,0039 0,0064 0,0051 0,0049 0,0019 0,0046 0,0052 0,0052 0,0401 O menor valor de ƒ̂ entre raças, por imposição do método (EDING e MEUWISSEN, 2001; EDING et al., 2002) igual a zero, correspondeu ao par BEDM/MB, enquanto o máximo foi obtido pelo par CM/CTQ, cifras que confirmam a proximidade conhecida entre estas últimas duas raças. Relativamente aos valores de ƒ̂ no interior das populações, foi patente que a CA atingiu o valor mais elevado, 0,1016 e 0,0489 para os modelos WLM e WLMM, respectivamente, indicando ser a raça com indivíduos mais aparentados. Este resultado está de acordo com a hipótese de esta raça ter uma origem recente em Portugal, 147 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos provavelmente importada de Espanha (SOBRAL et al., 1987) ou de Marrocos (FRAZÃO, 1982). Por outro lado, a CGB foi a que apresentou o valor menor de ƒ̂ . Perante o desconhecimento de uma explicação para este facto, podemos referir que esta raça (CGB) revela uma elevada semelhança morfológica com a raça "Churra" espanhola, apontada por (BELDA e TRUJILLANO) (1986) como a mais fiel representante do antigo tronco pirenaico. A confirmar-se tal ocorrência, a antiguidade e a amplitude de dispersão poderão justificar a elevada variabilidade. A partir da elaboração de um gráfico de superfície (Figura 27) representativo da matriz de valores de ƒ̂ estimados pelo modelo WLM, onde as zonas mais escuras indicam maiores valores de coancestralidade intra e inter-populações, foi possível verificar que as raças CA, CB e CM revelaram os valores mais elevados de coancestralidades intra-racial, seguidas da CMP, do MBB, da CC, do MP e da SL. Sabendo que quanto maior for a coancestralidade intra-racial, maior será a consanguinidade da raça, pode-se deduzir que também será maior o risco de extinção da mesma. Por outro lado, quando se procedeu à análise destes valores entre raças, verificou-se que a CM foi a raça que evidenciou um genoma mais parecido com as restantes raças, seguida do MP e CB, facto que pode ser explicado pela ocorrência de fluxo génico entre raças. BEDM CB CC CGB 0,075-0,1 0,05-0,075 0,025-0,05 0-0,025 CGM CM CTQ MB MP SE SL MBB CMP CA CMP MBB SL SE MP MB CTQ CM CGM CGB CC CB BEDM CA Figura 27. Gráfico de superfície representativo da matriz dos coeficientes de coascendência estimados pelo modelo WLM. 148 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos A matriz de distâncias genéticas d(i,j) e o respectivo dendograma NJ são apresentados na Tabela 23 e na Figura 28, respectivamente, sendo possível, a partir destas, verificar que o par de raças CB-CA corresponde às que mais distaram entre si (d(i,j)=0,1378), enquanto que o par CTQ-CM é formado pelas que mais se aproximaram (d(i,j)=0,0295). Tabela 23. Matriz de distâncias d(i,j). BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL BEDM 0,0000 0,1117 0,0668 0,0580 0,0500 0,0540 0,0578 0,0761 0,0505 0,0933 0,0566 0,0555 0,0589 0,0797 CA 0,1117 0,0000 0,1378 0,1177 0,0862 0,0994 0,1087 0,0817 0,0892 0,1335 0,1004 0,1028 0,1017 0,1110 CB 0,0668 0,1378 0,0000 0,0761 0,0692 0,0714 0,0740 0,0886 0,0662 0,1189 0,0806 0,0765 0,0786 0,0996 CC 0,0580 0,1177 0,0761 0,0000 0,0641 0,0545 0,0637 0,0801 0,0581 0,0989 0,0678 0,0665 0,0753 0,0893 CGB 0,0500 0,0862 0,0692 0,0641 0,0000 0,0380 0,0589 0,0542 0,0449 0,0769 0,0606 0,0504 0,0634 0,0651 CGM 0,0540 0,0994 0,0714 0,0545 0,0380 0,0000 0,0495 0,0626 0,0436 0,0711 0,0540 0,0442 0,0563 0,0627 CM 0,0578 0,1087 0,0740 0,0637 0,0589 0,0495 0,0000 0,0562 0,0295 0,0989 0,0620 0,0619 0,0713 0,0735 CMP 0,0761 0,0817 0,0886 0,0801 0,0542 0,0626 0,0562 0,0000 0,0429 0,0867 0,0531 0,0604 0,0555 0,0668 CTQ 0,0505 0,0892 0,0662 0,0581 0,0449 0,0436 0,0295 0,0429 0,0000 0,0719 0,0405 0,0524 0,0489 0,0524 MB 0,0933 0,1335 0,1189 0,0989 0,0769 0,0711 0,0989 0,0867 0,0719 0,0000 0,0725 0,0590 0,0846 0,0836 MBB 0,0566 0,1004 0,0806 0,0678 0,0606 0,0540 0,0620 0,0531 0,0405 0,0725 0,0000 0,0602 0,0540 0,0679 MP 0,0555 0,1028 0,0765 0,0665 0,0504 0,0442 0,0619 0,0604 0,0524 0,0590 0,0602 0,0000 0,0543 0,0661 SE 0,0589 0,1017 0,0786 0,0753 0,0634 0,0563 0,0713 0,0555 0,0489 0,0846 0,0540 0,0543 0,0000 0,0547 SL 0,0797 0,1110 0,0996 0,0893 0,0651 0,0627 0,0735 0,0668 0,0524 0,0836 0,0679 0,0661 0,0547 0,0000 De um modo geral, e em conformidade com o que foi referido para as distâncias genéticas no capítulo anterior, as raças foram agrupadas de acordo com a proximidade geográfica e com o tipo de lã, tendo-se obtido dois grandes grupos, um constituído pela raças BEDM, CB, CC, CGB, CGM, CTQ e CM, as quais, com a excepção da raça CC se situam todas a norte da Serra da Estrela e, com a excepção da BEDM, se incluem todas no tipo Churro; o outro grupo reúne as raças MB, MP, MBB, SE e SL, situadas a sul da referida serra. Quanto às raças CA e CMP elas foram diferenciadas das restantes. Os resultados assim obtidos parecem condizentes com o que é conhecido em termos de semelhança morfológica, proximidade geográfica e informação histórica sobre as raças. Relativamente à raça CMP, FRAZÃO (1982) considerou tratar-se de uma raça distinta das restantes raças portuguesas. O agrupamento segundo a proximidade geográfica pode estar associado a um eventual fluxo génico entre populações facto que, nos animais domésticos, ocorre com certa frequência. Contudo, não foi possível testar a robustez deste dendograma por bootstrap (FELSENSTEIN, 1985a), uma vez que esta distância genética não estava incluída em nenhum programa informático conhecido. 149 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Figura 28. Dendograma da relação entre as 14 populações de ovinos, construído segundo o método Neighbour-Joining. Na Tabela 24 são apresentados os valores da contribuição relativa (c) de cada raça para o core set obtidos para os modelos WLM e WLMM. 150 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Tabela 24. Valores da contribuição relativa de cada raça para o core set, calculadas segundo as estimativas de f pelos modelos WLM e WLMM. Raça CGB MB BEDM SL SE CC CA CB CGM CM CMP CTQ MBB MP λ=287 ccor (WLM) 0,2728 0,2654 0,1789 0,1064 0,1005 0,076 0 0 0 0 0 0 0 0 Raça MB CGB BEDM SL CC SE CGM CTQ CMP MBB CA CB MP CM c (WLMM) 0,1392 0,1148 0,1061 0,0963 0,0863 0,0862 0,0742 0,0676 0,0586 0,0560 0,0475 0,0346 0,0326 0,0000 Com a aplicação do modelo WLM, foram observadas contribuições negativas para as raças CA, CB, MBB, MP e CM, ou seja, aquelas que apresentaram valores mais elevados de ƒ̂ . Apesar de existirem situações que, neste modelo, podem justificar o aparecimento de valores de c negativos como solução, eles não fazem sentido para o objectivo pretendido, pelo que apenas foi apresentado a solução corrigida (ccor), conforme recomendado por EDING et al. (2002). Face aos resultados obtidos, torna-se evidente que o modelo utilizado para estimar ƒ̂ tem grande influência no cálculo da contribuição relativa de cada raça para o core set. Assim, enquanto no caso do modelo WLM, as primeiras duas raças contribuíram com 54% da diversidade do core set, no modelo WLMM foram necessárias 5 raças para atingir tal valor. No global, a solução obtida com o modelo WLMM foi a mais conservadora, uma vez que a contribuição para o core set foi repartida por treze raças em vez de apenas seis, como no caso do modelo WLM. No entanto, se hipoteticamente, fosse possível conservar apenas seis raças, ambos os modelos indicariam as mesmas, apesar da ordem estabelecida apresentar algumas diferenças. 151 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos As raças MB e CGB foram as que mais contribuíram para a diversidade do core set. Relativamente à primeira, tal pode ser atribuído ao facto de se tratar da raça portuguesa com maior população e de, em meados do século passado, ter sido alvo de cruzamento com raças estrangeiras, nomeadamente com o merino francês e alemão (BETTENCOURT, 1945) o que poderá ter determinado um aumento da diversidade. No caso da CGB, a justificação pode ser a mesma já apontada anteriormente como responsável pelos valores baixos de ƒ̂ obtidos para esta raça. Atenta-se que nas primeiras três raças estejam representadas uma de cada um dos três tipos de lã (Churra, Merina e Bordaleira), característica muito utilizada para classificar os ovinos, nomeadamente em troncos (BELDA e TRUJILLANO, 1986). Apesar da CA ser a raça que surgiu mais diferenciada no dendograma da Figura 28 e dos autores da abordagem do core set referirem que a mesma tende a beneficiar as "populações cuja diversidade é menos típica", a contribuição obtida para a CA foi mínima ou nula conforme o modelo utilizado. Esta contradição aparente deve-se, provavelmente, ao facto de na construção de dendogramas, com base em distâncias genéticas, não ser considerada a diversidade intra-populacional, enquanto que na segunda abordagem a diversidade intra-populacional é muito relevante. Como a CA foi a raça que apresentou o maior valor de ƒ̂ , indicativo de uma menor diversidade intraracial, este aspecto parece ter pesado mais do que a distância que a separa das restantes raças. Assim, o que à partida constituiria uma vantagem, pelo menos do ponto de vista de concepção, já que se evitaria que populações cuja distância resultasse apenas da aumento da consanguinidade da mesma, parece não funcionar na prática, uma vez que tudo indique que a CA seja de facto uma raça afastada, contudo ocupou as últimas posições na hierarquia de prioridade de conservação. O mesmo aconteceu com o caso da raça CB que ocupou a terceira posição na abordagem de WEITZMAN e uma das últimas no core set, tendo apresentado o segundo maior valor de ƒ̂ . A única excepção à inversão de posições é o caso da raça MB que ficou posicionada nos lugares cimeiros nos dois métodos, provavelmente porque esta raça teve a particularidade de, simultaneamente, ter sido uma das mais afastadas e apresentado um valor baixo de ƒ̂ , para o qual terá contribuído o facto de ser a raça Portuguesa com maior efectivo. 152 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Assim, o método do core set parece penalizar as populações com maior risco de extinção, uma vez que estas caracterizam-se por um reduzido e isolado número de indivíduos, sujeitas, portanto, ao efeito da deriva genética que lhes induz uma diminuição da riqueza alélica e um aumento da consanguinidade (OHTA, 2001). Uma forma de minorar este problema consiste em reformular a análise de acordo com a perspectiva de THAON D'ARNOLDI et al. (1998) a qual propõe a definição de um subconjunto de raças constituído pelas que apresentam menor perigo de extinção e a análise da contribuição de diversidade de cada uma das restantes em função do mesmo. Os resultados assim obtidos, considerando o subconjunto seguro composto pelas raças CTQ, MB, SE, são apresentados na Tabela 25. Tabela 25. Estimativa da perda de diversidade associada ao desaparecimento eventual de cada raça, considerando à partida um subconjunto seguro de raças (CTQ, MB, SE). Grupo cs+i Global Seguro Seguro +i: BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP MBB MP SL 0,327 0,061 0,048 0,220 0,407 0,212 0,000 0,073 0,038 0,000 0,169 Div(M) 0,984 0,976 0,980 0,976 0,976 0,978 0,982 0,977 0,976 0,976 0,976 0,976 0,977 WLM P (% ) Nge P (% ) 0,81 31,3 20,4 34,8 0,45 0,03 0,01 0,26 0,63 0,15 0,00 0,02 0,00 0,00 0,11 24,9 20,7 20,5 22,7 27,2 21,7 20,4 20,6 20,4 20,4 21,4 21,89 1,24 0,41 11,36 33,15 6,52 0,00 0,82 0,00 0,00 4,70 WLMM cs+i Div(M) P Nge P (% ) (% ) 0.993 71,4 0,985 0,81 33,6 59,2 0,257 0,192 0,198 0,240 0,271 0,241 0,183 0,216 0,216 0,204 0,234 0,988 0,987 0,987 0,988 0,989 0,988 0,987 0,987 0,987 0,987 0,988 0,31 0,20 0,20 0,28 0,35 0,26 0,15 0,21 0,21 0,18 0,25 42,4 38,8 38,8 41,3 43,5 40,7 37,3 39,1 39,1 38,2 40,3 26,27 15,50 15,50 23,14 29,57 21,14 11,19 16,41 16,41 13,74 20,16 Ordem prioridade WLM WLMM CGB BEDM CC CGM SL CA CMP CB CM MBB MP CGB BEDM CC CGM SL CMP MBB CA CB MP CM Global – refere-se ao conjunto das 14 raças; Seguro – grupo constituído pelas raças CTQ, MB, SE; Div(M) - diversidade genética; Nge – número de equivalentes de genoma fundadores (CABALLERO e TORO, 2000); P – percentagem de perda de Div(M) ou de Nge calculada como [ (seguro + i – seguro) / seguro *100; cs+i é a contribuição de uma raça quando o core set é constituído pelo subconjunto seguro mais a raça i. Quando a diversidade foi definida por Div(M), verificou-se que a conservação das três raças do subconjunto seguro garantia a manutenção de 99,19% da diversidade, ou seja, a perda situava-se em 0,81% apenas. Pelo contrário, quando foi definida por Nge, a conservação exclusiva do subconjunto seguro representou uma perda muito considerável (59,2%). Atendendo a que Div(M) é um parâmetro de diversidade cuja alteração está associada à variabilidade genética quantitativa, enquanto a alteração de Nge está associada ao potencial de perda de alelos raros (EDING et al., 2002), parece evidente que o risco ligado ao segundo parâmetro é muito superior. 153 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Na análise da ordem de prioridade, as primeiras cinco raças (CGB, BEDM, CC, CGM, SL) foram consensuais entre modelos. A confirmar-se a informação segundo a qual a raça CC, entretanto, ter-se-ia extinguido (TELO DA GAMA et al., 2004), tal facto comportou uma perda considerável de diversidade. Na altura em que foi realizada a amostragem para este estudo não existia uma associação de criadores para a raça BEDM, pelo que, e dado o contributo importante que esta raça representa para a diversidade global, parece-nos da máxima urgência a tomada de medidas no sentido de providenciar a sua conservação. 4.5. DISCUSSÃO A escolha do método de hierarquização das raças a conservar revelou-se de grande importância uma vez que a comparação entre abordagens deixou claro que estas afectam a prioridade atribuída a cada raça, resultado igualmente observado por FABUEL et al. (2004), quando estudou a prioridade de conservação de cinco variedades de porco ibérico. Disso é exemplo o caso das raças CA e CGB, que ocuparam o primeiro e um dos últimos lugares, respectivamente, na abordagem de WEITZMAN, enquanto que esta posição foi invertida com a metodologia do core set. A opção pela primeira abordagem deu ênfase à diversidade inter-racial, abstraindo-se da intra-racial, conferindo prioridade a raças afastadas, independentemente da causa subjacente à dissemelhança genética. Pelo contrário, a segunda ponderou demasiado a diversidade intra-racial, penalizando raças que, pelo facto de terem sofrido uma redução drástica do seu efectivo e assim em risco de extinção, têm tendência a conter menor diversidade intra-racial. O caso da raça CA constitui disso um exemplo, uma vez que este método colocou-a em último lugar no ranking apesar de ter sido a mais dissemelhante de acordo como os valores de distância genética obtidos, uma posição justifcável pelos menores valores de RAA e ƒ̂ , eventualmente em virtude de um efeito de bootleneck resultante da importação de um número reduzido de animais. A escolha da ponderação a dar a estes dois tipos de diversidade parece decisiva na escolha das raças a conservar. Segundo RUANE (1999b), a variação entre raças é mais importante para o incremento dos recursos genéticos do que a variação intra-racial, porque quanto maior for a variação entre raças maior é a probabilidade de serem 154 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos portadoras de genes ou combinações de genes que reflectem características de adaptação únicas. Opinião idêntica é apontada por BARKER (1999) ao referir que enquanto a perda de variabilidade intra-racial é continuamente colmatada por novas variações através de mutações, a variação entre raças não pode ser recuperada, pois cada raça é o produto da mutação, da deriva genética, bem como de uma evolução e adaptação separadas, com diferente pressão selectiva imposta pelo clima, disponibilidade de alimentos, doenças e critérios adoptados pelo Homem. Esta opinião não é, obviamente, partilhada por EDING et al. (2002) ao considerar que a primeira abordagem pode ser entendida como um caso particular daquela que ele propõe. Se se atender ao facto de terem sido analisadas apenas duas das abordagens de um dos critérios utilizados na escolha das raças a conservar, é por demais evidente que esta tarefa não se revela fácil. Além disso, deve-se ter em conta que os resultados obtidos nos métodos utilizados referem-se à amostragem de indivíduos nas raças e de loci no genoma e não fornecem uma estimativa da variância e do erro envolvidos. Assim, será necessário definir numa primeira fase a preferência ou ponderação do que se pretende conservar: se raças geneticamente afastadas sabendo, contudo, que no caso de raças de animais o afastamento terá resultado em grande parte da deriva genética podendo incluir uma redução da diversidade genética intra-racial, ou, pelo contrário, se a opção é por aquelas que, pelo facto de terem sofrido em grau menor esse efeito, nomeadamente por terem mantido um efectivo elevado, ou por terem sido alvo de introgressão de outras raças, mantiveram uma RA mais elevada e, por conseguinte, são levadas a ocuparem posições intermédias, quando se procede ao cálculo de distâncias genéticas. Uma forma de combinar a informação da diversidade genética intra e inter-racial adaptando a abordagem de WEITZMAN foi sugerida por GARCIA et al. (2005). Por outro lado, é importante referir que as abordagens apresentadas assumem o pressuposto de que a diversidade determinada a partir de loci selectivamente neutros reflecte, de uma forma geral, a de loci responsáveis por características com interesse económico e sendo assim a conservação da primeira conduzirá à conservação da segunda. Alguns trabalhos publicados recentemente têm questionado este princípio por terem obtido uma fraca correlação entre as duas diversidades (BUTLIN e TREGENZA, 1998; PFRENDER et al., 2000; CREPALDI et al., 2001; MERILA e CRNOKRAK, 2001; COLTMAN e SLATE, 2003; DEWOODY e DEWOODY, 2004). Contudo, PFRENDER et al. 155 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos (2000) são de opinião favorável, e segundo estes, mesmo que os marcadores moleculares possam fornecer pouca informação para o nível de diversidade genética de características quantitativas dentro de uma população, eles são indicadores válidos da subdivisão populacional das mesmas. Uma outra crítica prende-se com a validade da análise da diversidade genética por locus, quando a unidade de estudo é a raça considerada, do ponto de vista de interesse para a conservação, como “uma combinação única de genes difícil de reproduzir” (HALL e BRADLEY, 1995; MARTIN-BURRIEL et al., 1999). Hoje em dia, esta é a abordagem possível, mas o rápido desenvolvimento da tecnologia de microarrays deixa antever que a obtenção simultânea de um grande número de SNP irá brevemente permitir outros tipos de análise. No entanto, também aqui, a questão sobre qual a combinação de loci a ser analisada não obterá um consenso fácil. Ainda a este respeito, THAON D'ARNOLDI et al. (1998) sugeriram a fusão de raças geneticamente próximas como uma estratégia no sentido de preservar uma maior diversidade sem custos adicionais. Este procedimento tem a vantagem de aumentar o tamanho da população e de diminuir a perda de alelos apenas à custa da uma pequena cedência dos padrões da raça. No caso das raças em estudo, os pares que mais se adequariam a uma tal estratégia seriam, por exemplo, a CM com a CTQ e a CGB com a CGM, uma vez que foram os pares que apresentaram valores menores de distância genética e cuja morfologia se assemelha. Após a identificação das raças com prioridades de conservação, é necessário estabelecer estratégias reprodutivas de forma a minimizar os efeitos da deriva genética. Estas incluem vários aspectos independentes, tais como o número e critério de escolha dos indivíduos e a organização dos acasalamentos (CHAIWONG, 1999; TORO e MAKITANILA, 1999; CABALLERO e TORO, 2000). O conhecimento da genealogia dos indivíduos é uma informação muito importante para concretizar aquela tarefa, todavia raramente está disponível quando se trata de populações em perigo de extinção, tendo por isso sido desenvolvidas metodologias que, recorrendo a informação alélica de marcadores moleculares, ultrapassam esse constrangimento (LYNCH e RITLAND, 1999; TORO et al., 2002; VALES-ALONSO et al., 2003). Os marcadores moleculares permitem inclusivé reconstruir genealogias (GOODNIGHT e QUELLER, 1999; CUNNINGHAM et al., 2001; BLOUIN, 2003) e seguir a evolução da consanguinidade numa população (LEUTENEGGER et al., 2003). 156 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos Por último, é indispensável referir que a melhor garantia de sobrevivência que se pode dar a uma determinada raça é contribuir para o aumento da capacidade de remunerar os recursos nela investidos pelo criador, quer seja através do favorecimento da melhoria da produção, quer através da promoção de valor acrescentado dos seus produtos, uma vez que a não rara modesta economia daquele não lhe permite encarar a variabilidade genética como um investimento para futuros usos. Nesse sentido, a equipa na qual nos inserimos tem contribuído com alguns estudos que visaram avaliar a variabilidade de loci candidatos a associação com características de qualidade do leite, como é o caso dos genes das caseínas, lactoglobulina e prolactina (RAMOS et al., 2000; RUSSO-ALMEIDA et al., 2001; RAMOS et al., 2002; RUSSO-ALMEIDA et al., 2002) e de qualidade da carne, como é o caso do gene da calpastatina (MARTINS, 2004), procurando disponibilizar informação que consideramos útil e que possa vir a ser incorporada em futuros programas de melhoramento. 4.6. CONCLUSÕES Da análise dos resultados deste capítulo foi possível estabelecer uma hierarquização de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos tendo em consideração apenas o critério da singularidade genética e recorrendo a duas abordagens diferentes: - De acordo com a abordagem de WEITZMAN, a ordem de prioridade obtida foi CA, MB, CB, SL, CMP, SE, MP, CC, MBB, BEDM, CM, CGB, CGM, CTQ. - De acordo com o método core set, a ordem foi MB, CGB, BEDM, SL, CC, SE, CGM, CTQ, CMP, MBB, CA, CB, MP, CM Desta forma, confirma-se que a abordagem de WEITZMAN dá prioridade a raças geneticamente afastadas independentemente da diversidade intra-racial, por sua vez o método core set dá prioridade a raças cuja diversidade intra-racial é maior. Assim, com excepção da raça MB que nos dois métodos ocupou um lugar cimeiro, o ordenamento das restantes foi mais ou menos invertido. A grande influência dos métodos utilizados na hierarquização da prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos e o facto de que em análise esteve apenas um dos critérios passíveis de se ponderar, permitem antever que tal tarefa não sendo 157 Capítulo 4 – Hierarquia de prioridade de conservação das raças portuguesas de ovinos nem fácil, nem consensual, merecerá mais estudos e uma análise rigorosa e desapaixonada. Na altura em que foi realizada a amostragem para este estudo não existia associação de criadores para a raça BEDM, pelo que, e dado o contributo importante que esta raça representou para a diversidade global, parece-nos da máxima urgência a tomada de medidas no sentido de providenciar a sua conservação. 158 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular CAPÍTULO 5 - DISCRIMINAÇÃO RACIAL DOS OVINOS PORTUGUESES COM BASE EM INFORMAÇÃO MOLECULAR 5.1. INTRODUÇÃO No capítulo 1 fez-se referência ao conceito de raça que tão amplamente é utilzado quando nos referimos a animais domésticos. Aquele assenta, entre outros aspectos, em características morfológicas, não sendo por isso de estranhar que a morfometria constitui uma das bases da caracterização das raças e que tenham sido várias foram as medidas estudadas e os índices definidos com o objectivo de, através de uma análise multivariada, ser possível discriminar indivíduos pertencentes às diferentes raças em estudo (TEIXEIRA, 1991; LALLEMAND, 2002). No entanto, apesar do poder discriminatório da análise das populações, os caracteres morfológicos têm algumas desvantagens, nomeadamente o seu determinismo poligénico e a sua susceptibilidade elevada perante os factores ambientais (ESTOUP et al., 1995a). Algumas das limitações dos estudos morfométricos estão associadas à impossibilidade de os aplicar a situações nas quais os indivíduos perderam a sua integridade física, como seja em peças de talho, ou em caso de necessidade de comprovação da origem racial de embriões ou de sémen. Este aspecto tem especial relevo no que concerne aos produtos animais com Denominações de Origem Protegida (DOP), uma vez que estão normamente associados a raças autóctones exploradas em sistemas de produção tradicional, cuja rastreabilidade é um requisito a garantir. Tal necessidade decorre da diminuição da confiança dos consumidores, fruto dos recentes acontecimentos envolvendo casos de Encefalopatia Espongiforme dos Bovinos (BSE) nos bovinos, de dioxinas nos frangos, etc. Para além da morfometria, os estudos realizados no âmbito do polimorfismo de grupos sanguíneos e de proteínas (alozimas) demonstraram ser muito úteis na discriminação de várias espécies. Contudo, o seu uso na discriminação de populações da mesma espécie é impraticável devido ao número reduzido de alelos apresentados por estes tipos de marcadores, o que exigiria a análise de uma quantidade enorme de loci. 159 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular Nas últimas décadas foi possível superar, pelo menos em parte, algumas destas limitações graças ao desenvolvimento de metodologias que envolvem o estudo do polimorfismo molecular ao nível do DNA, de início utilizando os bem conhecidos fingerprintings (SIGNER et al., 2000) e, mais recentemente, com o recurso aos microssatélites. O número elevado de alelos que os microssatélites normalmente apresentam fazem deles uma ferramenta muito útil, quando se trata de reconhecer a proveniência racial ou populacional do indivíduo, e apropriada ao estudo de animais domésticos, ou selvagens proximamente relacionados, como é o caso de bovinos (MACHUGH et al., 1998; BLOTT et al., 1999; GINJA, 2002; MAUDET et al., 2002a), ovinos (BUCHANAN et al., 1994; DIEZ-TASCON et al., 2000; ARRANZ et al., 2001b), equinos (BJØRNSTAD e RØED, 2001), caprinos (GANAI e YADAV, 2001), suínos (MARTÍNEZ et al., 2000), galináceos (ROSENBERG et al., 2001), abelhas (ESTOUP et al., 1995a), trutas (RUZZANTE et al., 2001), etc. Outros exemplos de aplicação semelhante destas metodologias podem ser encontrados nas revisões de WASER e STROBECK (1998) e DAVIES et al. (1999) e, mais recentemente, nos estudos realizados por MAUDET et al. (2002b) e MANEL et al. (2002), cujo objectivo consistiu em identificar a origem de animais caçados clandestinamente; bem como, nos de FAVRE et al. (1997) sobre as taxas de dispersão por sexo dos animais selvagens. Embora o procedimento a focar neste capítulo não seja em rigor a filosofia da rastreabilidade que os organismos oficiais pretendem implementar no controlo dos produtos animais, pois esta tem como objectivo seguir o animal desde o nascimento, até ao consumidor passando pela produção, abate, desmancha e comercialização, através de uma identificação convencional, electrónica e de uma identificação molecular (PORTETELLE et al., 2000; ROUZAUD et al., 2000; SANCRISTOBAL-GAUDY et al., 2000; CUNNINGHAM e MEGHEN, 2001), ela tem muitos aspectos em comum, apresentando a vantagem de poder ser utilizada mesmo quando sobre o animal não houver qualquer identificação prévia. Não admira, portanto, que tal procedimento tenha sido desenvolvido no âmbito de estudos de ecologia onde a informação sobre os indivíduos é escassa ou nula. Tal como qualquer outra metodologia, apresenta limitações e susceptibilidades a vários níveis, algumas das quais serão referidas no decurso do capítulo. A diferenciação racial dos indivíduos com base na informação alélica de vários loci de microssatélites (multilocus), tem sido objecto de desenvolvimento de métodos 160 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular estatísticos, dos quais se fará, de seguida, uma breve revisão. Alguns destes métodos estatísticos resultaram da adaptação de outros que haviam sido aplicados a variáveis quantitativas, nomeadamente a variáveis morfométricas, de que são exemplos a análise multivariada (Cavalli-Sforza et al., 1994) e a aprendizagem automática (Machine learning Methods) (CORNUET et al., 1996; MACHUGH et al., 1998; GUINAND et al., 2002; ANDRIEU et al., 2003). Outros, desenvolvidos especificamente para marcadores moleculares, como os microssatélites, foram designados como métodos genéticos (CORNUET et al., 1996). Estes são os métodos de eleição quando é usada apenas informação genética, enquanto a análise multivariada e a aprendizagem automática podem ser mais úteis quando a informação genética é combinada, por exemplo, com informação morfométrica ou ecológica (HANSEN et al., 2001). De entre os métodos genéticos são considerados três tipos, designadamente os métodos de atribuição, os métodos de simulação/exclusão e os métodos baseados em modelos. 5.1.1 Métodos de atribuição Nos métodos de atribuição, os indivíduos com origem desconhecida são sempre atribuídos a uma população de entre as n populações em estudo, em relação à qual apresentam um de dois critérios: a menor distância genética ou a maior verosimilhança de ocorrência do seu genótipo. 5.1.1.1 Distâncias genéticas como critério Como foi observado no capítulo anterior, o cálculo de distâncias genéticas representa uma metodologia clássica para o estabelecimento de relações filogenéticas ou de estrutura populacional entre espécies ou populações de uma mesma espécie. O primeiro estudo que recorreu a distâncias genéticas para relacionar um indivíduo com uma população foi realizado por BOWCOCK et al. (1994) em humanos, no qual foi usada a distância DAS e considerado os indivíduos como OTUs (Operational Taxonomic Units) em vez de uma espécie ou população, substituindo, portanto, as frequências alélicas populacionais pelos genótipos multilocus individuais. A matriz de distâncias interindividuais resultante é, à semelhança do estudo de populações, utilizada para construir uma árvore pelos métodos tradicionais, como sejam o Neighbour-Joining (NJ) ou o UPGMA. Esta metodologia assenta no pressuposto de que os indivíduos com origem 161 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular numa mesma população terão genótipos mais semelhantes e agrupar-se-ão conjuntamente quando representados numa árvore. Se o número de populações e de indivíduos em estudo é relativamente pequeno, torna-se fácil identificar a correspondência entre um ramo da árvore e uma população e analisar a eficiência deste método, contabilizando os indivíduos “mal” colocados. Pelo contrário, quando o número de populações e indivíduos é elevado, tal procedimento é desadequado, dado o grau de subjectividade que envolve. Na tentativa de ultrapassar este problema, ESTOUP et al. (1995a), propuseram a introdução de um índice de classificação (CI), tornando mais objectiva a análise de eficiência deste método. Mesmo assim, PRITCHARD et al. (2000) consideraram que a utilização deste tipo de abordagem é mais adequada para explorar os dados do que para a inferência estatística. Uma abordagem semelhante à de BOWCOCK et al. (1994) foi publicada por CIAMPOLINI et al. em 1995, propondo uma medida designada por “similaridade genética”, posteriormente reformulada por CIAMPOLINI et al. (2000) numa “fórmula genómica”, como metodologia de atribuição. O critério de distâncias genéticas foi também utilizado por CORNUET et al. (1999), os quais adaptaram várias distâncias genéticas à relação indivíduo-população. Concretamente, esta metodologia consiste em: - Calcular as frequências alélicas para cada locus em cada população, com base nos indivíduos nela amostrados; - Calcular as frequências alélicas para cada locus em cada indivíduo a atribuir, considerando o valor de 0 se o alelo em questão estiver ausente, 0,5 se tiver um exemplar (heterozigótico) e 1 se tiver dois exemplares (homozigótico); - Calcular o valor da distância entre cada indivíduo a atribuir e as populações em causa, com base na expressão que caracteriza cada distância; - Atribuir o indivíduo à população em relação à qual apresenta menor valor de distância; - No caso concreto da aplicação da distância DAS, a distância entre um indivíduo e a população é calculada tomando a média das distâncias entre o indivíduo a atribuir e cada um dos membros de cada população. 162 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular O método das distâncias genéticas proposto por CORNUET et al. (1999) não requer que as populações estejam em HWE e, ao contrário do de BOWCOCK et al. (1994), não representa os indivíduos em árvores, mas atribui-os directamente a cada população. Se a origem real destes indivíduos for conhecida, então a percentagem de indivíduos correctamente atribuídos é um bom indicador da eficiência do método. Na prática, quando se pretende estimar esta eficiência, utiliza-se como indivíduos a atribuir os mesmos amostrados em cada uma das populações, e que serviram também de base ao cálculo das suas frequências alélicas. Esta forma de proceder é, normalmente, designada de atribuição “directa” (MAUDET et al., 2002a) e contrasta com a utilização de indivíduos simulados, que se descreve mais adiante. Assim, um indivíduo é sequencialmente e com reposição retirado da sua população de origem, sendo calculadas as distâncias genéticas entre este indivíduo e cada uma das populações. Este cálculo pode ser efectuado considerando, ou não, o genótipo do indivíduo a atribuir na estimativa das frequências alélicas da sua população de origem (procedimento designado no programa GENECLASS por “as is” e “leave one out”, respectivamente). No tratamento de uma amostragem relativamente grande, a diferença de valor obtido através dos dois procedimentos não é significativa mas, quando a amostragem é pequena, a utilização do procedimento “as is” resulta numa distorção na atribuição, favorecendo a verdadeira população de origem (EFRON, 1983). Assim, a atitude aparentemente mais realista é não considerar o genótipo do indivíduo a atribuir nesse cálculo (procedimento “leave one out”). A opção por um procedimento ou pelo outro pode ter grandes repercussões na eficiência da atribuição do método, como se verá no decurso deste capítulo. 5.1.1.2 Máxima verosimilhança como critério Os métodos que utilizam a máxima verosimilhança como critério de atribuição têm em comum os seguintes pontos: - Calculam as frequências alélicas para cada locus em cada população, com base nos indivíduos nela amostrados; - Calculam a verosimilhança de ocorrência do genótipo multilocus do indivíduo a atribuir, em cada população, pressupondo HWE e equilíbrio de ligação para todos os loci considerados; 163 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular - Atribuem o indivíduo à população em que a verosimilhança do seu genótipo é mais elevada. Quanto às diferenças, elas resultam principalmente da natureza dos indivíduos a atribuir (indivíduos reais ou indivíduos simulados com base nas frequências alélicas estimadas para cada população), da fórmula de cálculo da verosimilhança e do rigor (stringency) utilizado na atribuição. A primeira aproximação sugerida para atribuir indivíduos à população de origem foi efectuada por JAMIESON (1965) tendo-se baseado na verosimilhança de ocorrência de um dado genótipo numa população, estimada a partir das frequências alélicas de alozimas observadas nessa população. Mais tarde foi adaptada por PAETKAU et al. (1995) ao caso de genótipos multilocus de microssatélites, tendo para tal elaborado um programa designado de “the assignment test” disponível na internet 9. Estes autores utilizaram o procedimento “leave one out”, ou seja, usaram os indivíduos amostrados, dos quais retiraram sequencialmente o indivíduo a atribuir e recalcularam as frequências alélicas na população de origem. O cálculo da verosimilhança seguindo este método é efectuado considerando que o genótipo multilocus do indivíduo a atribuir é uma amostra multinomial das frequências alélicas que caracterizam cada população, assumindo que estas se encontram em HWE e em equilíbrio de ligação. O indivíduo é então atribuído à população na qual o seu genótipo tem maior verosimilhança. Por comodidade, os valores de verosimilhança são apresentados na forma logarítmica, pois como facilmente se deduz, a ordem de grandeza é muito pequena. Assim, a verosimilhança é calculada pelo logaritmo do produtório: ⎛ n 2 ⎞ para i=j log⎜ ∏ pij ⎟ ⎝ l =1 ⎠ e ⎛ n log⎜ ∏ 2 p i ⎝ l =1 ⎞ para i≠j ⎠ p j⎟ onde n significa o número de loci, i e j denotam os dois alelos no l ésimo locus e pi e pj indicam a frequência no i ésimo e j ésimo alelo do l ésimo locus na população considerada (HANSEN et al., 2001). 9 Endereço de internet: http://www.biology.ualberta.ca/jbrzusto/Doh.html 164 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular Este procedimento de cálculo da verosimilhança revela contudo uma limitação uma vez que, se o indivíduo a atribuir tiver um alelo num dado locus que não esteja presente em alguma das populações a testar, a verosimilhança desse genótipo nessa população é, então, igual a zero e assim será automaticamente excluída. No entanto, o alelo em questão pode ser raro nessa população e não ter sido amostrado apenas por acaso, não devendo ser excluída logo à partida. Para superar esta limitação, PAETKAU et al. (1995) sugeriram várias alternativas que basicamente consistem em: - Adicionar o indivíduo a atribuir a todas as populações eliminando desta forma as frequência alélicas nulas; - Substituir as frequências alélicas nulas por uma constante de pequeno valor; - Substituir as frequências alélicas nulas por 1/(2n+1), sendo n o número de indivíduos amostrados em cada população onde o alelo não foi detectado. Por outras palavras, é assumido que o alelo não encontrado na amostra seria o próximo a ser amostrado. Não tendo sido apresentado no estudo original qualquer método para estimar o intervalo de confiança dos resultados obtidos, este aspecto foi, posteriormente, desenvolvido por ALMUDEVAR (2000). No trabalho de CORNUET et al. (1999), o método de PAETKAU et al. (1995) é designado por “método frequentista” tendo sido também incorporado no programa GENECLASS. Um método semelhante ao de PAETKAU et al. (1995) é também apresentado por BANKS e EICHERT (2000), no programa WHICHRUN, disponível na internet10. Este programa apresenta uma melhor interface de utilização do que o programa “assignment test”, simula os indivíduos a atribuir com base nas frequências alélicas das respectivas populações, permite variar o grau de stringency com que os indivíduos são atribuídos às populações e possibilita avaliar a significância estatística de cada indivíduo atribuído. Concretamente, a possibilidade de variar a stringency consiste na escolha de um valor para o rácio (LOD score) entre o logaritmo de base dez do maior valor da verosimilhança e o imediatamente a seguir, que é utilizado como critério para atribuir o indivíduo a uma população. Isto significa que os indivíduos deixam de ser sempre atribuídos a uma população passando a sê-lo somente quando se verificar a relação de 165 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular grandeza estabelecida. Por exemplo, quando se considera um LOD score igual a 2, o indivíduo só será atribuído se o maior valor de verosimilhança for 100 vezes superior ao imediatamente a seguir no ranking de verosimilhanças calculadas para as populações. Por outro lado, a escolha de um LOD Score igual a zero é equivalente ao método original. Segundo ROQUES et al. (1999), a probabilidade de um genótipo (indivíduo) amostrado ter origem numa ou noutra população não é apenas função da verosimilhança da ocorrência desse genótipo em cada uma das populações mas também do seu tamanho relativo. Embora seja impossível saber com precisão a discrepância do tamanho relativo das populações estudadas, os valores de LOD score podem, assim, ser ajustados para ter em conta esse efeito, o que se revela de particular importância quando há necessidade de elevadas margens de segurança como é o caso de estudos forenses, nos quais normalmente se utilizam LOD scores iguais ou superiores a 3 (SHRIVER et al., 1997). Uma outra forma de calcular a verosimilhança de um dado indivíduo ter origem numa população, consiste na utilização do Teorema de Bayes, assumindo uma distribuição a priori uniforme. Tal procedimento foi adoptado por BUCHANAN et al. (1994) no estudo de 6 raças ovinas. Utilizando 8 microssatélites, simularam 1000 genótipos multilocus de cada raça, tendo por base as frequências alélicas obtidas nas respectivas populações amostradas, e atribuíram estes indivíduos simulados às populações cuja verosimilhança, calculada pelo teorema de Bayes, era maior, tendo obtido uma média de 95,7% de indivíduos correctamente atribuídos. Igual metodologia foi também aplicada, com resultados semelhantes, por outros autores, nomeadamente MACHUGH et al. (1998) e DIEZ-TASCON et al. (2000) no estudo de populações de bovinos e de ovinos, respectivamente. Inspirados no trabalho de RANNALA e MOUNTAIN (1997), sobre a detecção de indivíduos imigrantes ou descendentes de imigrantes através de uma aproximação Bayesiana, CORNUET et al. (1999) desenvolveram um método de atribuição –Método Bayesiano–, semelhante ao de PAETKAU et al. (1995), no qual o cálculo da verosimilhança é substituído pelo produto das probabilidades marginais da observação de um indivíduo com genótipo AkAk’ no locus j na população i, traduzido na expressão: 10 Endereço na internet: http://www-bml.ucdavis.edu/whichrun.htm 166 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular (nijk + 1 / K j + 1)(nijk + 1 / K j ) se k = k' (CORNUET et al., 1999) se k ≠ k' (CORNUET et al., 1999) (nij + 2)(nij + 1) 2(nijk + 1 / K j )(nijk ' + 1 / K j ) (nij + 2)(nij + 1) onde nijk é o número de cópias do alelo k amostradas no locus j na população i (não contabilizando o indivíduo a atribuir), nij é o número total de cópias de todos os alelos amostrados no locus j na população i, e Kj é o número total de alelos observados na colecção de populações no locus j. É de notar que a dificuldade anteriormente referida para a eventual presença de alelos com frequência nula, desaparece devido ao coeficiente 1/Kj. 5.1.2 Métodos de simulação/exclusão Uma das limitações dos métodos anteriores prende-se com o facto de um indivíduo, mesmo que não tenha origem nas populações amostradas, ser sempre atribuído a uma delas, não sendo importante até que ponto a verosimilhança seja pequena (pois é escolhido o valor maior entre as populações testadas). Por outro lado, estes métodos não dão uma medida de confiança da atribuição do indivíduo, pois a verosimilhança mencionada não mede a probabilidade de origem (pertença) mas apenas a probabilidade de ocorrência de um genótipo, o que é patente no decréscimo observado na verosimilhança sempre que aumenta o número de loci considerados, sendo de esperar também que aumente a probabilidade de um indivíduo ser correctamente atribuído. Há que ter em conta ainda situações específicas, no âmbito da medicina forense, da detecção de caça ilegal ou da certificação de origem de um produto animal, nas quais se revela de maior interesse garantir (especificando uma probabilidade) a exclusão de um indivíduo ou produto, relativamente a determinada origem referenciada como sendo verdadeira. Com o objectivo de dar resposta a estas questões, CORNUET et al. (1999) reformularam alguns dos métodos descritos anteriormente sugerindo uma nova metodologia que consiste em: – Calcular as frequências de cada alelo de cada locus em todas as populações candidatas, com base nos indivíduos amostrados; 167 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular – Simular um grande número de genótipos para cada uma das populações, tomando aleatoriamente alelos de acordo com a sua frequência, a fim de computar a distribuição do critério escolhido (distância ou verosimilhança) em cada população; – Localizar o valor do critério relativo ao indivíduo a atribuir, na distribuição de cada população simulada; a proporção de valores com maior distância, ou menor verosimilhança do que o valor do critério para o indivíduo a atribuir, é considerado como uma medida de probabilidade desse indivíduo pertencer à população; – Rejeitar todas as populações cuja probabilidade seja inferior a um valor mínimo (e.g. P<0,01)., sendo óbvio que a escolha deste valor tem repercussões sobre a repartição dos indivíduos pelas populações. No caso dos métodos de atribuição, a proporção dos indivíduos correctamente atribuídos fornece uma boa ideia da eficiência daqueles, mas no caso dos métodos de simulação/exclusão este parâmetro não pode ser calculado uma vez que o output relativo ao indivíduo em estudo pode tomar várias formas, como descreveram CORNUET et al. (1999). A situação ideal consiste na exclusão do indivíduo em causa de todas as populações menos da que realmente lhe deu origem, em oposição ao caso em que todas as populações são excluídas, concluindo-se, por uma forte evidência, que a população de origem desse indivíduo não foi amostrada. A metodologia da simulação/exclusão não requer o pressuposto de que a população de origem tenha sido amostrada, porque não compara populações, mas antes trata-as separadamente. Assim, este método pode ser usado com apenas uma única população. 5.1.3 Métodos baseados em modelos Os métodos atrás mencionados, disponíveis na sua maioria no programa GENECLASS, requerem uma prévia definição das populações amostradas, necessária ao cálculo das frequências alélicas respectivas e, posteriormente, ao cálculo do critério (distância genética ou verosimilhança) entre o indivíduo a atribuir e uma população. Pelo contrário, a metodologia inteiramente Bayesiana proposta por PRITCHARD et al. (2000), e disponível no programa "Structure"11, trata o número de populações (K) em 11 Endereço de internet: http://pritch.bsd.uchicago.edu 168 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular estudo como mais um parâmetro a estimar. As diferenças entre este e o método Bayesiano de RANNALA e MOUNTAIN (1997) foram extensivamente discutidas por BEAUMONT (2001). No método de PRITCHARD et al. (2000), a totalidade das amostras em estudo é considerada conjuntamente e constituída por indivíduos cujo genótipo comporta uma mistura de alelos retirados de um número desconhecido de populações e com frequências alélicas desconhecidas. O objectivo é, então, calcular simultaneamente o número de populações, as suas frequências alélicas e a proporção com que cada uma contribui para o genótipo de cada indivíduo, para que essas populações se encontrem em HWE e LE. Esta abordagem revela-se particularmente importante quando a estrutura do conjunto das populações de interesse é difícil de ser detectada por outros critérios, por exemplo morfológicos. A estimativa destes parâmetros exige, no entanto, a escolha combinada de um modelo de ancestralidade (“admixture model, no admixture model, linkage model, using prior population information”) e de um modelo de frequências alélicas (independentes, correlacionadas), o que, de alguma forma, implica um conhecimento prévio da história das populações em estudo, informação que nem sempre está disponível. Assim, é importante avaliar criteriosamente os resultados obtidos à luz dos pressupostos a partir dos quais eles foram construídos. Em termos práticos, este método utiliza a informação do conjunto de genótipos multilocus dos indivíduos amostrados para estimar um valor de verosimilhança para cada valor de K (número de grupos) num intervalo que se julgue adequado, com a correspondente estimativa da proporção do genoma de cada indivíduo que pertence a cada grupo construído. O valor de K com maior verosimilhança deverá, em princípio, ser o escolhido. No entanto, os autores do método referem que a estimativa de K deve ser considerada apenas como indicativa. No estudo de raças de animais domésticos, as populações são normalmente definidas à partida com base em caracteres morfológicos, daí poder-se inferir que a estimativa do número de grupos (K) faz pouco sentido neste caso concreto. No entanto, a análise dos valores de verosimilhança calculados para um intervalo de valores de K que contém o número real de raças amostradas, fornece-nos uma indicação da consistência entre a estrutura previamente definida e a que melhor é suportada em termos genéticos. Com este propósito, ROSENBERG et al. (2001) descreveram, com detalhe, o procedimento prático a seguir na avaliação de K e da percentagem de indivíduos correctamente atribuídos, quando é utilizado o método de 169 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular PRITCHARD et al. (2000), tomando como exemplo os genótipos multilocus de 27 microssatélites de 20 raças distintas de galinhas. No programa "Partition"12 DAWSON e BELKHIR (2001) apresentam uma abordagem semelhante ao método de PRITCHARD et al. (2000), diferindo essencialmente quanto ao tratamento matemático do output da Cadeia de Markov (MCMC). Também ANDERSON e THOMPSON (2002) utilizaram a mesma abordagem, por sua vez, formulada especificamente para situações nas quais as populações são constituídas por indivíduos “puros” ou por híbridos recentes de duas espécies. 5.1.4. Factores que influenciam os testes de atribuição e simulação/exclusão No que concerne à metodologia de atribuição, os resultados obtidos apresentam-se contraditórios, concluindo uns pela elevada capacidade de atribuição, enquanto que outros se situam em valores mais modestos. Com efeito, ROQUES et al. (1999) referiram, em peixe vermelho (Sebaster spp.), um sucesso de atribuição de 95 %, utilizando apenas 4 loci, enquanto que BAMSHAD et al. (2003), no estudo de populações humanas com proveniências diferentes (África, Ásia, Europa) e usando 60 microssatélites, não foram além de 96% de atribuição correcta. Importa então conhecer a causa desta disparidade de valores, analisando os factores que influenciam a capacidade de discriminação dos métodos de atribuição em geral (SHRIVER et al., 1997; SMOUSE e CHEVILLON, 1998; CORNUET et al., 1999; ROQUES et al., 1999; BAMSHAD et al., 2003), entre os quais se contam o número de loci e o seu grau de polimorfismo, o número de populações estudadas e a sua diferenciação genética, bem como o tamanho da amostra efectuada. De um modo geral, o número de indivíduos correctamente atribuídos aumenta com o número e com o polimorfismo (heterozigotia, número de alelos) dos loci utilizados (ROSENBERG et al., 2001). O polimorfismo requerido para os testes de atribuição foi estudado por ESTOUP et al. (1998) comparando o polimorfismo elevado dos microssatélites e o reduzido das alozimas e registando que o poder de atribuição era muito maior nos primeiros (92% vs 52%). BERNATCHEZ e DUCHESNE (2000), modelaram a relação entre o número de alelos e o número de loci requeridos para a 12 Endereço de internet: http://www.univmontp2.fr/~genetix/partition.htm 170 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular obtenção de uma certa probabilidade na atribuição, tendo concluído que, para além de 6 a 10 alelos por locus, não havia incremento significativo no poder de atribuição. No entanto, a sua abordagem baseou-se num modelo com apenas duas populações, sem ter sido considerado o grau de diferenciação entre elas e por isso resultando difícil inferir o número de loci e o polimorfismo óptimos em situações de mais do que duas populações. Também SMOUSE e CHEVILLON (1998) referiram a pouca utilidade dos loci com elevado número de alelos com baixa frequência. Porém, estas recomendações genéricas não são suficientes como critério de selecção dos microssatélite, pois tanto o número de alelos como a sua frequência estão dependentes das populações em estudo. Exemplos de metodologias para quantificar o poder de atribuição de cada microssatélite podem ser encontrados em SHRIVER et al. (1997) e BANKS et al. (2003). Quanto ao número de populações analisadas, SMOUSE e CHEVILLON (1998) referiram que quanto maior for o seu número, mais difícil será a atribuição para um mesmo nível de diferenciação genética e maior será o número de loci necessários. Parece correcto, assim, esperar que o poder de atribuição esteja positivamente correlacionado com o grau de diferenciação entre as populações, pois no caso extremo em que ocorresse fixação de diferentes alelos, a análise de um só locus seria suficiente para obter 100% de sucesso. No entanto, BLOTT et al. , (1999) não encontraram relação entre o erro na atribuição e o valor de FST entre populações. Também CORNUET et al. (1999) desenvolveram esta temática no estudo realizado simulando 10 populações divergentes segundo dois modelos de mutação diferentes (IAM e SMM), das quais foram amostrados entre 5 a 20 loci e entre 10 a 90 indivíduos por população. O objectivo foi inferir sobre a melhor combinação possível destas variáveis, em diferentes graus de diferenciação (0<FST<0,35) entre populações, quando é usado o método Bayesiano. Em suma, foi possível demonstrar que, com uma amostra de 30 indivíduos e usando 10 loci e com um grau de diferenciação entre populações correspondente a um FST = 0,1, o sucesso de atribuição situou-se nos 100%. Pelo contrário, quando a diferenciação foi pequena (FST = 0,01), o sucesso também diminuiu (~25%), mesmo quando foram amostrados 90 indivíduos e analisados 20 microssatélites. Por último, uma questão surge naturalmente: qual dos métodos é o melhor e, em particular, qual deles é o mais adequado à realidade dos animais domésticos? Como se pode deduzir, a resposta não é fácil, tanto mais que, como se viu anteriormente, não existe um parâmetro de qualidade que seja considerado válido para todos os métodos. 171 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular Não se conhece nenhum trabalho que compare todos os métodos que aqui foram referidos, em especial no que respeita aos que se baseiam em modelos com desenvolvimento ainda recente e aplicação em número reduzido. No que concerne aos outros, parece consensual que o método Bayesiano é aquele que, genericamente, melhores resultados produziu, ou seja, maior percentagem de indivíduos atribuídos correctamente (CORNUET et al., 1999; ARRANZ et al., 2001b). No entanto, é relevante aludir que o uso da metodologia Bayesiana é objecto de alguma controvérsia, centrada no facto da distribuição a priori ser, com frequência, baseada em pressupostos subjectivos, arbitrários ou mesmo convenientes (MEYER, 1983; SORENSEN e GIANOLA, 2002). 5.2. OBJECTIVOS Neste capítulo pretendeu-se avaliar: (a) a eficácia de alguns dos métodos de atribuição para discriminar a origem populacional de indivíduos quando aplicados às raças portuguesas de ovinos, utilizando para o efeito informação alélica de 19 microssatélites; (b) quais os factores e de que forma estes influenciam o poder de atribuição dos métodos; e (c) a hierarquização dos microssatélites estudados quanto ao seu poder discriminante. 5.3. METODOLOGIA Tendo em conta os objectivos mencionados, e tendo presente as vantagens e limitações já descritos, bem como a disponibilidade de programas informáticos que permitissem a sua aplicação, seleccionaram-se os seguintes métodos: 1. Método frequentista de CORNUET et al. (1999), adaptado de PAETKAU et al. (1995); 2. Método Bayesiano de CORNUET et al. (1999), adaptado de RANNALA e MOUNTAIN (1997); 3. Método das distâncias de CORNUET et al. (1999); 4. Método de simulação/exclusão Bayesiano de CORNUET et al. (1999); 172 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular 5. Método da máxima verosimilhança de BANKS e EICHERT (2000). O estudo dos primeiros quatros métodos foi realizado recorrendo ao programa GENECLASS13, utilizando os dois procedimentos existentes “as is” e “leave one out”. Para o método frequentista, considerou-se a frequência de 0,01 para os alelos que em algumas populações apresentassem frequência nula. No método das distâncias foram usadas todas as distâncias disponibilizadas, ou seja, DAS (Shared allele distance de CHAKRABORTY e JIN 1993), DC (Cord distance de CAVALLI-SFORZA e EDWARDS), DA, Dm e DS (distâncias de NEI et al., 1983), com excepção da distância (δµ)² (GOLDSTEIN et al., 1995b), por esta requerer um formato diferente de ficheiro e, principalmente, porque todos os estudos que dela fizeram uso terem referido os piores resultados (CORNUET et al., 1999; ARRANZ et al., 2001b). Pelo facto de alguns dos programas aplicados neste capítulo não permitirem a utilização de dados incompletos para os genótipos multilocus, foi elaborado um novo ficheiro para análise de dados, excluindo todos os animais dos quais, por qualquer motivo, não foi possível obter informação relativa a alguns dos alelos de um ou mais microssatélites. Assim, o novo número de animais considerados para cada raça encontra-se referido nas Tabelas 1 e 2 do Anexo 6. Alguns dos métodos empregues pressupõem que os microssatélites se encontrem em HWE e em equilíbrio de ligação nas populações estudadas. Com excepção do microssatélite McM357, optou-se por manter os restantes que não satisfizeram tais requisitos, uma vez que CORNUET et al. (1999) verificaram que desvios ligeiros do HWE (défice de heterozigotos) não afectavam significativamente a eficácia dos testes de atribuição. Os métodos de atribuição foram comparados quanto à sua eficácia (EA) traduzida em percentagem de indivíduos correctamente atribuídos à população de origem por cada um deles. Pelo contrário, BLOTT et al. (1999) preferiram utilizar o erro de atribuição, tendo considerado dois tipos de erro: o erro tipo I equivalente a 100-EA, e o erro tipo II definido como a percentagem de indivíduos atribuídos a uma dada raça, mas que na realidade não tiveram origem na mesma. Tendo em vista a comparação de resultados, considerou-se também esta abordagem neste estudo. No entanto, no cálculo do erro tipo II, os mesmos autores consideraram no denominador a totalidade dos indivíduos em 13 Endereço de internet: http://www.montpellier.inra.fr/URLB/ 173 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular estudo, enquanto aqui se achou ser mais correcto subtrair a este valor os indivíduos da raça para a qual se está a calcular o erro tipo II, para assim evitar uma distorção a favor de raças com tamanho amostral maior. Com o objectivo de quantificar o efeito resultante do facto de considerar, ou não, o genótipo do indivíduo que se está a atribuir, no cálculo das frequências alélicas da população de origem, adoptou-se os dois procedimentos correspondentes, ou seja, as opções “as is” e “leave one out” nos métodos já referidos. Sendo o número de raças em estudo um dos factores que podem influenciar a eficácia dos testes de atribuição, todos os métodos foram também aplicados considerando apenas as 5 raças, cuja morfologia nos pareceu mais distinta, nomeadamente a CA, a CB, a CGB, o MB e a SE, para se avaliar a amplitude desse efeito. Tal número foi escolhido de modo a permitir a comparação destes resultados com os obtidos por outros autores, nomeadamente ARRANZ et al. (2001b), em cinco raças ovinas espanholas, e KOSKINEN (2003), em cinco raças de cães finlandeses. No que se refere à metodologia de simulação/exclusão, optou-se por testar apenas o método Bayesiano, pois à semelhança dos resultados obtidos por vários autores (CORNUET et al., 1999; ARRANZ et al., 2001b), foi o que apresentou melhor EA. Por outro lado, como já foi referido, a comparação dos métodos de simulação/exclusão revela-se mais difícil já que exige mais parâmetros para a quantificação da sua eficácia. Assim, foram simulados 10000 indivíduos para cada população e considerado como critério de exclusão um nível de significância α=0,01. O poder informativo dos microssatélites nas raças de ovinos portuguesas foi estudado recorrendo ao programa WHICHLOCI (BANKS et al., 2003), tendo sido determinado o poder de cada locus isoladamente em cada população ovina pelo “método da população crítica” e para o conjunto das populações pelo “método da máxima verosimilhança” (BANKS e EICHERT, 2000). Em qualquer dos casos, simularamse 1000 indivíduos para cada população, tendo em conta as frequências alélicas nelas obtidas e considerou-se um valor de exigência (LOD score) igual a zero. Enquanto que para o segundo, o valor da EA para cada microssatélite obtém-se directamente, para o método da população crítica o resultado corresponde a um índice (score) calculado pela seguinte fórmula: Score=EA-[Erro tipo II*(100-Precisão)/Imprecisão)] 174 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular No entanto, quando se definiu a precisão = 100 (opção tomada), o score é transformado num valor igual à EA. Este procedimento foi repetido 10 vezes e a média dos 10 valores do score foi utilizada para quantificar o poder discriminatório de cada microssatélite em cada população e para o conjunto de populações, respectivamente. Este programa permitiu também testar o poder de atribuição com um número crescente de loci, utilizando para tal o ordenamento dos loci obtido anteriormente, até alcançar um nível pré-determinado (100%) para o sucesso da atribuição. Para avaliar as características dos microssatélites que influenciam a sua eficiência na discriminação da origem dos indivíduos nas raças ovinas portuguesas, realizou-se uma análise de correlação entre o score e os parâmetros mais referenciados como determinantes dessa eficiência, nomeadamente, a heterozigotia esperada não enviesada (HNB) (NEI, 1978), o número de alelos estimados pelo parâmetro “riqueza alélica” que tem em conta a variação do tamanho da amostra (ELMOUSADIK e PETIT, 1996) e o valor de FST WEIR e COCKERHAM (1984). Para o efeito, estes parâmetros foram calculados como foi descrito no capítulo anterior, mas apenas tendo em conta os indivíduos utilizados nos testes de atribuição. 5.4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores médios da eficiência de atribuição obtidos para cada método, segundo os procedimentos “leave one out” e “as is”, considerando as 14 raças ou apenas as 5 mais distintas, são apresentados na Tabela 26. Os valores individuais por raça e por procedimento constam das Tabelas 2 e 3 do Anexo 6. Tabela 26. Variação da eficácia da atribuição com o método, o procedimento ("as is" e "leave one out") e o número de raças consideradas. Métodos B F DAS DC DA Dm DS Média 14 Raças “1 out” “as is” 62,4 91,2 61,8 85,5 49,2 67,5 57,8 76,6 60,4 81,0 47,7 69,0 48,0 68,5 55,3 77,0 5 Raças “1 out” “as is” 88,6 98,5 87,1 94,7 75,7 83,7 79,1 90,9 81,8 93,5 76,1 90,1 76,4 89,4 80,7 91,5 DeP 14 R 5 R 28,8 9,9 23,7 7,6 18,3 8,0 18,7 11,8 20,6 11,8 21,2 14,1 20,5 12,9 21,7 10,9 DeR “1 out” “as is” 26,2 7,3 25,3 9,2 26,5 16,2 21,3 14,3 21,4 12,6 28,3 21,2 28,4 20,9 25,3 14,5 B – Bayesiano; DeP – Diferença de EA entre procedimentos; DeR - Diferença de EA entre número de raças; DAS - Share allele distance; DC - Cord Distance, DA, Dm e DS – Distâncias de Nei; F – Frequentista; R – Raças. 175 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular Da análise dos resultados obtidos foi possível constatar uma elevada variabilidade entre métodos, entre procedimentos e entre o número de raças envolvidas na análise. O método Bayesiano (B) foi o que melhores resultados apresentou para todas as situações estudadas, seguido pelo método frequentista (F). No que se refere aos métodos baseados em distâncias, obteve-se os melhores resultados com a DA. Exceptuando a posição relativa entre o método F e o da distância DA, ARRANZ et al. (2001b) obtiveram idêntica hierarquia de métodos, utilizando o procedimento “as is”, embora os respectivos valores absolutos de EA se tenham apresentado bastante superiores. A razão deste facto prendese, provavelmente, com a maior diferenciação observada nas 5 raças espanholas, a avaliar pelos valores de FST (0,07 vs 0,04), pois os resultados relativos à heterozigotia foram muito idênticos (0,76 vs 0,77). A ordem relativa estabelecida para os métodos com base na EA foi afectada pelo procedimento utilizado. Assim, enquanto o método DAS ocupou a 5ª posição para o procedimento “leave one out”, o mesmo posicionou-se em último para o “as is”. Os valores de EA obtidos com o procedimento “as is” foram sempre superiores para todos os métodos, tendo sido observada uma diferença média de 21,7 e 10,9 pontos percentuais, quando foram consideradas as 14 raças ou apenas 5 raças, respectivamente. Este facto sugere que a diferença entre procedimentos será maior quanto maior for o número de raças considerado. A escolha do procedimento a adoptar tem, assim, um efeito notório no sucesso ou insucesso apontado aos métodos de atribuição. Por outro lado, comparados os valores de EA tendo em conta as 14 raças ou apenas 5, verificou-se uma diferença média de 25,3 pontos percentuais para o procedimento “leave one out” e 14,5 para o “as is”. Estes resultados demonstraram a importância do número de raças em análise no sucesso ou insucesso dos métodos de atribuição e estão de acordo com as sugestões de vários autores que apontam para a necessidade de aumentar-se consideravelmente o número de marcadores e o número de indivíduos amostrados quando se pretende discriminar num grande número de populações, principalmente se o grau de diferenciação entre elas for pequeno (MOAZAMI-GOUDARZI et al., 1997; BLOTT et al., 1999; CORNUET et al., 1999; MAUDET et al., 2002a). Na Tabela 27 pôde-se observar como variou a EA para cada raça e para cada método, tendo sido omitidos os valores relativos às distâncias DS e Dm, por estes se terem revelado sempre inferiores. Optou-se por apresentar apenas os resultados do 176 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular procedimento “leave one out” por considerar-se que ele reproduz melhor a realidade prática dos métodos de atribuição, já que a origem do animal a atribuir é desconhecida. Constatou-se também uma elevada variabilidade de valores entre raças e entre métodos numa mesma raça, tendo a CA apresentado, de forma mais consistente, os valores de EA maiores para todos os métodos. Os registos históricos indicam que esta raça foi, provavelmente, importada de Espanha no final do século XIX, o que pode justificar uma maior diferenciação, fruto de um maior isolamento. Para as restantes raças, a posição relativa mostrou-se variável com o método utilizado. Por exemplo, a CB foi a raça com o segundo valor mais elevado de EA, considerando o método DAS, mas ocupou o terceiro lugar com base na metodologia Bayesiana. Pôde-se registar um comportamento semelhante quando se comparou entre as metodologias de atribuição. Com efeito, o método Bayesiano foi o que apresentou a EA média maior, mas foi o método DAS que revelou o valor absoluto maior (100%) para a CA, embora tenha sido também o método que expressou o valor mínimo (8,9%) para a CTQ. Tabela 27. Eficácia de Atribuição (EA) para cada raça, obtida com os vários métodos estudados segundo o procedimento "leave one out". Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL B 57,8 98,1 70,0 48,4 64,0 52,9 68,8 56,6 37,5 74,6 43,6 46,8 66,7 76,0 F 48,9 98,1 86,0 61,3 58,0 43,1 66,7 54,7 35,7 74,6 41,0 48,9 66,7 74,0 Métodos DA 51,1 100,0 96,0 51,6 34,0 39,2 77,1 58,5 23,2 72,9 43,6 46,8 70,6 74,0 Dc 37,8 98,1 96,0 41,9 34,0 39,2 77,1 64,2 19,6 74,6 43,6 40,4 66,7 64,0 DAS 17,8 100,0 98,0 32,3 22,0 19,6 64,6 52,8 8,9 72,9 38,5 19,1 62,7 64,0 Média 42,7 98,9 89,2 47,1 42,4 38,8 70,8 57,4 25,0 73,9 42,1 40,4 66,7 70,4 F* 89,3 99,1 95,4 95,6 87,3 84,0 92,2 89,1 75,6 93,2 87,4 85,8 89,2 95,0 B - Bayesiano, F - Frequentista, DAS - Shared allele distance, DC-Cord Distance, DA - distância de Nei, respectivamente, * Frequentista utilizando o programa WHICHRUN com indivíduos simulados. O programa WHICHRUN tem disponível um método idêntico ao frequentista, mas no qual os indivíduos a atribuir são simulados com base nas frequências alélicas das respectivas populações. Os valores da EA obtidos com este programa (Tabela 27) foram 177 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular muito superiores aos atingidos pelo método frequentista que utiliza indivíduos reais, o que está de acordo com os resultados obtidos por DIEZ-TASCON et al. (2000). Na Tabela 28 são apresentados os valores relativos ao erro tipo II para os métodos de atribuição nas 14 raças estudadas. A análise dos mesmos sugere que a média do erro tipo II é semelhante entre métodos, mas muito variável entre raças, registando-se o valor mínimo de 1,3% para a raça CC e o máximo de 17,4% para a CB. Tabela 28. Erro tipo II (percentagem média de indivíduos que são atribuídos erroneamente a cada uma das raças) para os vários métodos de atribuição e procedimento "leave one out". Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Média B 2,7 0,8 2,1 1,2 3,3 2,7 3,6 2,4 6,4 2,2 3,6 4,9 3,2 1,6 2,9 F 1,7 0,8 3,2 1,8 3,5 1,3 5,4 2,5 5,7 1,9 4,3 2,8 4,7 1,4 2,9 Método DAS 0,6 6,3 17,4 1,4 0,5 1,7 8,8 4,1 1,3 3,0 1,7 1,1 4,6 2,2 3,9 Dc 1,3 2,7 9,3 0,8 0,3 1,3 8,5 5,2 3,0 1,6 3,0 1,9 5,5 1,1 3,2 DA 1,6 2,2 6,5 1,5 0,9 1,4 8,5 3,5 3,7 1,8 3,1 2,7 3,9 1,4 3,0 Média 1,6 2,6 7,7 1,3 1,7 1,7 7,0 3,6 4,0 2,1 3,1 2,7 4,4 1,5 1,6 B - Bayesiano, F - Frequentista, DAS - Shared allele distance, DC-Cord Distance, DA - Distância de Nei Os valores elevados de erro tipo II obtidos para as raças CB e CM resultaram, principalmente, da atribuição errónea de indivíduos da raça CTQ (ver Tabelas 1 e 2 do Anexo 6), o que poderá ser uma consequência, como indicam evidências, pelo facto da última ter origem no cruzamento das duas primeiras raças (SOBRAL et al., 1987). É, no entanto, a partir do método DAS que se obteve os valores mais elevados de erro tipo II para as raças CB e CM, o que parece reforçar tal hipótese, pois esta distância ao quantificar a partilha de alelos, expressará valores semelhantes quando estão presentes a raça cruzada e as que lhe deram origem. TEIXEIRA (1991) observou maior facilidade de agrupamento dos indivíduos da CA e da CC com base em variáveis morfométricas. Os resultados obtidos para o método de simulação/exclusão Bayesiano, com o procedimento “leave on out” e nível de significância (α) igual a 0,01, são apresentados na Tabela 29 e Tabela 30. Por um lado, observou-se que, em média 88,8% dos indivíduos provenientes de uma raça não puderam ser excluídos dessa raça, o que é 178 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular equivalente a dizer que 11,2% dos indivíduos foram erroneamente excluídos da raça de proveniência, por outro lado, em média apenas 6,7% dos indivíduos foram excluídos de todas elas, excepto da raça de origem respectiva, com valores a variar entre 0% para a CB e 13,3% para a BEDM. Estes valores reduzidos sugerem assim ser inviável a utilização desta metodologia na rastreabilidade dos produtos animais das raças ovinas portuguesas, pois o grau de confiança normalmente exigido é superior (P≤0,001) ao que foi aqui considerado (P=0,01). Acresce ainda o facto de que em média, 48,8% dos indivíduos provenientes de uma dada raça, não serem excluídos de outras raças, com valores a variarem desde 90% dos indivíduos da CB a poderem passar por CTQ, até 0 % de indivíduos BEDM a passarem por CA. Por outro lado observou-se ainda que em média, 1,5% dos indivíduos foram excluídos de todas as raças excepto uma, mas que não se tratava da sua origem verdadeira. Tabela 29. Percentagens de animais com origem em cada raça (linha) que não puderam ser excluídos de outras raças (coluna), quando foi utilizado o método de simulação/exclusão Bayesiano, com o procedimento "leave on out" e nível de significância α=0,01. BEDM BEDM 84,4 CA 58,5 CB 88,0 CC 48,4 CGB 48,0 CGM 54,9 CM 75,0 CMP 67,9 CTQ 60,7 MB 50,8 MBB 79,5 MP 61,7 SE 70,6 SL 54,0 Erro II* 62,9 CA 0,0 96,2 14,0 9,7 2,0 11,8 10,4 17,0 10,7 5,1 2,6 10,6 11,8 8,0 8,7 CB 15,6 26,4 86,0 32,3 18,0 7,8 41,7 35,8 33,9 10,2 28,2 36,2 29,4 18,0 25,7 CC 33,3 39,6 66,0 83,9 20,0 43,1 60,4 54,7 48,2 30,5 48,7 38,3 43,1 46,0 44,0 CGB 53,3 79,2 84,0 48,4 90,0 62,7 66,7 75,5 58,9 52,5 48,7 63,8 78,4 68,0 64,6 CGM 64,4 60,4 84,0 58,1 66,0 88,2 70,8 83,0 64,3 54,2 71,8 61,7 78,4 62,0 67,6 CM 17,8 22,6 60,0 32,3 52,0 29,4 87,5 43,4 53,6 20,3 46,2 40,4 35,3 32,0 37,3 CMP 28,9 60,4 66,0 41,9 32,0 43,1 56,3 90,6 57,1 37,3 61,5 44,7 68,6 64,0 50,9 CTQ 51,1 67,9 90,0 45,2 64,0 62,7 85,4 73,6 82,1 57,6 79,5 63,8 70,6 76,0 68,3 MB 33,3 35,8 54,0 41,9 26,0 39,2 43,8 60,4 48,2 94,9 56,4 63,8 45,1 36,0 44,9 MBB 35,6 52,8 52,0 45,2 34,0 37,3 64,6 71,7 64,3 54,2 84,6 46,8 60,8 66,0 52,7 MP 44,4 54,7 80,0 48,4 44,0 49,0 60,4 69,8 57,1 83,1 69,2 89,4 60,8 58,0 59,9 SE 42,2 47,2 74,0 54,8 26,0 37,3 58,3 67,9 55,4 32,2 61,5 51,1 98,0 50,0 50,6 SL 20,0 32,1 50,0 32,3 24,0 23,5 45,8 45,3 46,4 23,7 53,8 31,9 49,0 88,0 36,8 Erro I* 33,8 49,1 66,3 41,4 35,1 38,6 56,9 58,9 50,7 39,4 54,4 47,3 54,0 49,1 48,2 Erro I – percentagem média de animais que sendo da raça em linha, não puderam ser excluídos de cada raça da coluna; Erro II - percentagem média de animais que sendo de cada uma das raças em linha, não puderam ser excluídas da raça da coluna; * - no cálculo da média não se considera os valores da diagonal a “negrito”. Tabela 30. Parâmetros de eficácia para o método de simulação/exclusão Bayesiano, com o procedimento "leave on out" e nível de significância α=0,01. Parâmetro BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Média a 84,4 96,2 86,0 83,9 90,0 88,2 87,5 90,6 82,1 94,9 84,6 89,4 98,0 88,0 88,8 b 15,6 3,8 14,0 16,1 10,0 11,8 12,5 9,4 17,9 5,1 15,4 10,6 2,0 12,0 11,2 c 13,3 9,4 0,0 12,9 10,0 7,8 6,3 1,9 3,6 5,1 2,6 6,4 7,8 6,0 6,7 d 2,2 0,0 2,0 3,2 0,0 3,9 0,0 1,9 3,6 0,0 2,6 2,1 0,0 0,0 1,5 e 8,9 1,9 4,0 12,9 4,0 5,9 6,3 3,8 8,9 0,0 7,7 4,3 2,0 6,0 5,5 a – % de animais cuja a raça de origem não foi excluída; b – % de animais que foram excluídos da sua raça de origem (100-a); c – % de animais que somente não foram excluídos da sua raça de origem; d – % de animais que não foram excluídos somente de uma raça mas que não era a da sua origem; e – % de animais que foram excluídos de todas as raças 179 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular Também em média 5,5% dos animais foram excluídos de todas as raças o que, em termos teóricos, poderia ser interpretado como provenientes das populações não amostradas, mas que, no caso concreto, eventualmente ser justificado pela presença de alelos raros nestes animais e com reduzida probabilidade de aparecerem em todas as populações (MAUDET et al., 2002a). De facto, a raça CC, foi simultaneamente a que apresentou a maior percentagem de animais excluídos de todas as raças (12,9%) e o maior número de alelos únicos (4) com reduzida frequência. Os indivíduos CB foram os que revelaram a tendência maior (66,3%) para passarem por outras raças, sendo a CTQ a raça pela qual foi mais provável (68,3%) que animais com outra origem lhe fossem atribuidos. Pelo contrário, os indivíduos BEDM foram os que evidenciaram a tendência menor (33,8%) para passarem por outras raças e a CA a raça pela qual foi menos provável (8,7%) que animais originários de outras raças passassem por ela. Os resultados relativos ao score de cada microssatélite em cada raça, isoladamente e para o seu conjunto, determinados com recurso ao programa WHICHLOCI, são apresentados na Tabela 3 do Anexo 6. Da sua análise foi possível constatar que o poder de cada microssatélite, avaliado pelo valor do score, mostrou-se muito variável com a raça. Tomando como exemplo o microssatélite OarFCB304, este apresentou um valor máximo de 0,83 para a CGM e um valor mínimo de 0,00 para o MP e a SE. Isto significa que aquele microssatélite foi capaz de atribuir correctamente 83% dos indivíduos no caso da CGM, enquanto que, para o MP e a SE esse poder foi nulo. Para se definir melhor esta variabilidade, construiu-se a Tabela 31 onde consta o número de vezes (igual ao número de raças) para a posição relativa que cada microssatélite ocupou quando estes foram ordenados de acordo com o score de atribuição em cada uma das 14 raças de ovinos estudadas. Quanto às características dos microssatélites que afectam o seu poder de atribuição nas populações ovinas portuguesas, foram estudados o efeito da heterozigotia, da riqueza alélica e da diferenciação genética (FST). A relação entre a HNB e o poder de atribuição dos microssatélites (score) foi analisada a dois níveis. Por um lado, a relação entre a HNB média de cada microssatélite nas 14 raças analisadas e o score respectivo, obtido pelo método da máxima verosimilhança do programa WHICHLOCI (Figura 29), por outro, a relação 180 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular entre a HNB de cada microssatélite em cada população e o score respectivo, obtido pelo “método da população crítica” no mesmo programa, conforme descrito na metodologia (Figura 30). Tabela 31. Número de vezes (igual ao número de raças) para a posição relativa que cada microssatélite obteve quando estes foram ordenados de acordo com o poder de atribuição em cada uma das 14 raças de ovinos estudadas, utilizando o programa WICHLOCI. BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 1ª 1 1 2 1 1 2 1 1 2 1 1 2ª 2 1 1 1 1 2 2 1 1 2 - 3ª 1 1 1 2 2 1 1 1 1 2 1 4ª 1 1 1 2 1 1 1 1 4 1 - 5ª 1 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 6ª 1 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 7ª 1 2 1 2 2 2 1 2 1 Posição Relativa 8ª 9ª 10ª 11ª 3 - 1 2 1 3 1 - 1 - 1 - 1 1 - 1 1 2 1 1 1 1 1 - 4 1 - 2 1 - - 1 2 1 1 2 - 1 1 - 2 1 2 - 2 2 - 1 1 1 - 1 - 2 - 12ª 13ª 14ª 15ª 16ª 17ª 18ª 19ª 1 1 5 1 1 1 1 1 1 1 2 4 1 2 2 2 1 2 1 1 2 3 1 1 2 1 2 1 2 3 1 1 1 3 1 1 2 1 1 1 1 1 3 1 2 2 1 1 1 2 1 1 2 3 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 2 1 1 1 3 1 2 3 1 1 0,30 0,25 Score 0,20 0,15 0,10 y = 0,3137x - 0,0448 R2 = 0,4782 0,05 0,00 0,5 0,55 0,6 0,65 0,7 0,75 0,8 0,85 0,9 H nb média Figura 29. Relação entre a média da heterozigotia esperada não enviesada das 14 raças, para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição. 181 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular 0,90 0,80 0,70 Score 0,60 0,50 y = -0,0846x + 0,2622 R2 = 0,0021 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 H nb Figura 30. Relação entre a heterozigotia esperada não enviesada (HNB) das 14 raças, para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição. No primeiro caso, foi registada uma correlação positiva e significativa (r=0,691; P<0,01), enquanto que no segundo, a correlação revelou-se negativa mas não significativa (r=-0,046; P>0,05). Esta contradição pode ser justificada pelo facto de o mesmo valor médio de HNB poder ser obtido pela combinação de vários valores de HNB individuais e, portanto, com valores de desvio padrão diferentes. Pela análise da Figura 31 pode-se notar uma tendência no sentido de quanto maior for o desvio padrão da HNB, menor é o score, embora esta relação não tenha sido estatisticamente significativa. Assim, o efeito da HNB no poder de atribuição dos microssatélites parece estar condicionado pela variância deste parâmetro nas populações a estudar. Isto sugere que os microssatélites não devem ser seleccionados apenas pelo valor da HNB numa dada população individualmente, mas sim com base na média e na variância da HNB para o conjunto de populações que se pretenda estudar, devendo ser seleccionados os que apresentem os maiores valores médios de HNB, mas com a menor variância possível. Uma relação positiva entre a HNB média e o poder de atribuição tem sido referida por alguns autores (BLOTT et al., 1999; ROSENBERG et al., 2001), enquanto outros não encontraram diferença de eficácia entre loci de heterozigotias elevadas ou baixas quando estudaram populações com valores baixos de FST (<0,1) (MANEL et al., 2002). 182 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular 0,30 0,25 Score 0,20 0,15 y = -0,5401x + 0,2195 R2 = 0,0739 0,10 0,05 0,00 0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1 0,12 DP Figura 31. Relação entre o Desvio Padrão (DP) da HNB para cada microssatélite nas 14 raças e o respectivo score de atribuição. Como pode ser observado na Figura 32, foi com a riqueza alélica média nas populações analisadas para cada microssatélite que o poder de atribuição apresentou a correlação mais elevada (r=0,898; P<0,01). A análise deste gráfico parece contradizer os resultados obtidos por BERNATCHEZ e DUCHESNE (2000), que sugeriram não haver ganho significativo no incremento da diversidade alélica para além dos 6 a 10 alelos por locus; enquanto que, no nosso estudo, é mantida a linearidade muito para além destes valores. Em contrapartida, deve-se ter em conta que os loci com maior número de alelos apresentam dificuldades técnicas acrescidas, nomeadamente na leitura dos géis, sobretudo se esta for efectuada “a olho nú”. Ao contrário do que foi referido anteriormente para a HNB, verificou-se ser positiva e significativa a correlação entre o DP e o score de atribuição. Assim, parece evidente que se deva seleccionar os loci com o maior valor da média e da variância da riqueza alélica para o conjunto de populações que se pretenda estudar. Do ponto de vista teórico, o marcador com maior poder de atribuição será o que apresentar maior variabilidade entre populações e menor dentro de cada população. O FST é um índice que quantifica a componente de variação dos loci entre populações. No 183 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular entanto, como pode ser observado na Figura 33, a correlação entre o θWC (estimador de FST) das 14 populações para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição, não 0,30 0,25 Score 0,20 0,15 y = 0,0094x + 0,1073 2 R = 0,8065 0,10 0,05 0,00 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 RA O média Figura 32. Relação entre a Riqueza Alélica (RAO) média nas 14 raças para cada microssatélite e o respectivo score. Figura 33. Relação entre o θWC nas 14 raças para cada microssatélite e o respectivo score de atribuição. 184 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular foi significativa (r=0,079; P>0,05). Conclusão idêntica foi apontada por BLOTT et al. (1999) e ROSENBERG et al. (2001). Este efeito parece ser mais evidente à medida que o nível de exigência (stringency) nos métodos de atribuição aumenta (BJØRNSTAD e RØED, 2002). BJØRNSTAD e RØED (2002) e MAUDET et al. (2002a) obtiveram melhores valores de EA quando compararam pares de populações com valores superiores de FST. Por último, concluiu-se que os 19 microssatélites revelaram-se insuficientes para alcançar-se um sucesso de 100% de atribuição para as raças ovinas portuguesas, apresentando em média o potencial de atingir apenas 90%. Os microssatélites ordenados de acordo com o score respectivo na atribuição para o conjunto das 14 raças encontra-se na Tabela 1 do Anexo 6, podendo constatar-se que os microssatélites BM6444, OarCP49 e BM4621 ocuparam as primeiras três posições, enquanto os BM1824 e BM6056 ocuparam as últimas. É interessante notar que os microssatélites isolados em bovinos atingiram, simultaneamente, os primeiros e os últimos lugares no ordenamento, segundo o poder de atribuição, sugerindo que nem sempre os microssatélites que foram isolados numa determinada espécie são os mais informativos nessa espécie. Comparativamente ao ordenamento obtido por ARRANZ et al. (2001b) em 5 raças espanholas de ovinos, verificou-se que os quatro microssatélites utilizados em comum (BM6444, OarFCB11, BM4621, OarCP34) ocuparam uma posição relativa idêntica, tendo também o BM6444 alcançado a primeira posição. No entanto, mais uma vez, a ordem de grandeza foi muito superior. 5.5. CONCLUSÕES Da análise dos resultados deste capítulo pôde-se concluir que a eficácia de atribuição foi muito variável com os métodos e procedimentos (“as is” ou “leave one”) utilizados e com a raça, tendo o número de raças em análise sido outro aspecto que ditou muito o sucesso ou insucesso desses métodos. O método Bayesiano foi aquele que, em média, produziu melhores resultados enqunto a CA e CTQ foram as raças que apresentaram o maior e o menor valor de eficácia, respectivamente. No teste de simulação/exclusão, a raça CB foi a que revelou a tendência maior para se confundir com por outras raças, enquanto a CTQ foi a que com maior probabilidade se verificou que animais com outra origem passavam por lhe pertencer. 185 Capítulo 5 – Discriminação racial dos ovinos Portugueses com base em informação molecular Pelo contrário, a raça BEDM foi a que evidenciou a tendência menor para se confundir com outras raças e a CA aquela pela qual foi menos provável que animais originários de outras raças lhe fossem atribuidos. Apesar de se ter observado que um elevado número (88,8%) dos indivíduos provenientes de uma raça não puderam ser excluídos dessa raça, o valor baixo (6,7%) dos indivíduos excluídos de todas com excepção da raça de origem respectiva, sugere ser inviável, também, a utilização desta perspectiva (exclusão) na rastreabilidade dos produtos animais das raças ovinas portuguesas. Assim, com a excepção da raça CA, os 19 microssatélites foram insuficientes para discriminar com segurança entre as 14 raças ovinas portuguesas. As expectativas que têm vindo a ser apontadas às metodologias descritas, não se traduziram num êxito cabal quando aplicadas às raças portuguesas de ovinos, provavelmente devido à baixa diferenciação, a avaliar pelos valores de FST observados, em resultado de uma eventual separação evolutiva relativamente recente e/ou de um fluxo génico entre populações relevante. Com efeito, MAUDET et al. (2002a) constactarm que só quando os valores de FST são superiores a 0,1, é que os testes de atribuição se tornam promissores. Contudo, assim que o desenvolvimento tecnológico permita um custo aceitável, a utilização de um elevado número de microssatélites (ou SNPs) permitirá colmatar as limitações apresentadas. No que diz respeito aos microssatélites, a escolha deve, entre outros aspectos, incidir nos que apresentarem o maior valor médio de riqueza alélica e de heterozigotia esperada, relativamente ao conjunto de populações em análise. Neste estudo os microssatélites BM6444 e OarCP49 foram os que apresentaram os melhores resultados e por isso, os mais adequados para discrimação racial dos ovios portugueses, enquanto que os microssatélites BM1824 e BM6506 foram os que se classificaram em última posição. 186 Capítulo 6 – Considerações finais e perspectivas futuras CAPÍTULO 6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS É reconhecido que a análise dos padrões de variação genética molecular constitui hoje em dia uma faceta decisiva na reconstrução da história evolutiva, na estimativa da diversidade genética e na estruturação das populações de animais, o que naturalmente abrange as espécies domésticas. A utilidade de tais procedimentos tem sido igualmente comprovada na gestão destes recursos genéticos, uma vez que permite uma melhor definição das unidades taxómicas quando se trata de tomar decisões sobre quais as populações a conservar e auxilia na escolha dos progenitores em esquemas de reprodução com vista a minimizar a perda de variabilidade genética. Com o estudo que agora se apresenta pretendemos aplicar aquelas metodologias aos ovinos portugueses e extrair delas informação que fosse útil para a caracterização da diversidade genética e diferenciação das raças ovinas portuguesas numa perspectiva de conservação. Com esse propósito determinou-se a variabilidade de 20 microssatélites em 14 raças portuguesas de ovinos, num total de 717 animais. A análise desses resultados permitiu avaliar o grau de estruturação da população portuguesa de ovinos e estimar parâmetros de diversidade genética em cada uma das raças. Os valores então obtidos indicaram a presença de uma diferenciação estatisticamente significativa (P<0,01), embora comparando com registados em estudos semelhantes noutras raças europeias, o valor médio atingido tenha sido inferior (FST=0,026). O mesmo significa que da diversidade global observada, apenas 2,6% se deve a diferenças entre raças, cabendo os 97,4% restantes às diferenças existentes entre indivíduos no seio de cada raça. Por outro lado, os valores de diversidade genética intra-racial situaram-se ligeiramente acima dos observados também noutras raças europeias da mesma espécie, apenas superados pelas espanholas. Os resultados do nosso estudo parecem, assim, consonantes com os registos históricos sobre o passado recente das raças ovinas portuguesas. Com efeito, os investigadores da altura descreveram uma população ovina composta por animais de três tipos conforme o velo, não sendo raro, contudo, observálos a todos num mesmo rebanho, factor revelador não só da pouca importância que o conceito de raça representava na altura para os criadores, como das circunstâncias que propiciavam os cruzamentos, ao que não será alheio o valor baixo da diferenciação que registámos. Só a partir do início do século XX este panorama foi alterado com a implementação dos programas levados a cabo pelos Serviços Oficiais da Agricultura 187 Capítulo 6 – Considerações finais e perspectivas futuras tendo como finalidade caracterizar e melhorar os ovinos, acções que viriam mais tarde a servir de base à criação oficial das raças da actualidade. Também as associações de criadores e os registos zootécnicos só viriam a ter lugar muito recentemente, a partir dos anos oitenta, aspectos que foram determinantes para a redução do fluxo génico entre raças e para a implantação de uma identidade racial, embora não tenham travado a redução drástica do efectivo ovino, que se tem vindo a observar. Os resultados obtidos neste estudo demonstraram contudo que foi mantido um grau elevado de diversidade, certamente em resultado de uma diversidade inicial muito grande por um lado, e da pouco expressiva pressão selectiva dos programas de melhoramento. A diferenciação baixa registada entre as raças ovinas pode justificar o facto dos 19 microssatélites se terem revelado insuficientes para, com a excepção da raça CA, discriminar com segurança entre as 14 raças portuguesas de ovinos quando se utilizou os testes de atribuição e simulação/exclusão. No futuro, poderíamos ultrapassar facilmente este insucesso através do aumento do número de microssatélites a analisar, mas as abordagens mais recentes têm procurado fazer uso de polimorfismo de genes que afectam características morfológicas definidoras das raças, como é o caso do gene MCR1 envolvido na cor da pelagem, perspectiva que nos tem interessado em particular. Não obstante, a informação molecular revelou-se adequada a estabelecer a relação de similaridade entre as raças, com recurso ao cálculo de distâncias genéticas e construção de fenogramas. Os dados assim tratados expressaram um agrupamento das raças conforme o tipo de lã e a distribuição geográfica, o que denota a influência das forças evolutivas subjacentes à divergência entre raças, concretamente a selecção para o tipo de velo e a deriva genética associada ao isolamento geográfico. Para aferir com precisão o seu efeito, este último factor será objecto de uma análise estatística posterior, envolvendo a correlação entre distâncias genéticas e distâncias geográficas. As raças CA, MB e CB foram as que mais distaram entre si, enquanto que a CM e a CTQ as que mais se aproximaram, resultados corroborados pela Análise Factorial de Correspondência realizada. Ainda neste âmbito, devemos realçar dois aspectos reveladores da fiabilidade do uso de microssatélites neste tipo de estudo, apesar das limitações conhecidas. Por um lado, o caso da CA, uma vez que os resultados obtidos foram de encontro à hipótese, anteriormente avançada por alguns autores, segundo a qual, esta terá sido introduzida em Portugal nos finais do século XIX; por outro, o registo da proximidade já conhecida, entre a CM e CTQ. 188 Capítulo 6 – Considerações finais e perspectivas futuras Um outro objectivo centrou-se na definição de uma hierarquia entre as raças quanto à prioridade de conservação, perante um cenário de recursos escassos e necessidade de escolher. A partir da aplicação de duas abordagens propostas na bibliografia, a de WEITZMAN e a do core set, obtiveram-se resultados contraditórios, uma vez que a ordem de prioridade de conservação estabelecida se revelou invertida entre si. Este resultado refletiu a ponderação diferente implícita nos métodos, um que optou por dar prioridade a raças consideradas geneticamente afastadas independentemente da diversidade intra-racial que contenham e o outro pelo contrário, que elegeu como prioritárias as raças cuja diversidade intra-racial se mostrou superior, independentemente da distância genética entre elas. Estes resultados põem em evidência o dilema inerente ao arbítrio da escolha de raças para fins de conservação de diversidade genética. Pese embora a complexidade que esta temática envolve, parece-nos que qualquer que seja a estratégia tida como a mais adequada, deva promover a remuneração justa dos criadores que optem por raças autóctones, assente no princípio de que as raças se devem conservar a si mesmas pelo rendimento que gerarem e não através de subsídios de eficácia eventualmente duvidosa a longo prazo. O caso da raça Merina Branca constitui um bom exemplo, já que sendo uma das raças ovinas portuguesas alvo de maior incidência de acções de melhoramento genético conserva uma diversidade elevada, em resultado naturalmente da dimensão considerável do efectivo, aspecto que por seu turno minimiza a perda de variabilidade por deriva genética. Por se ter revelado uma das raças em estudo mais dissemelhantes, foi também a que registou maior prioridade de conservação, nos dois métodos aplicados. Todavia, e no que se refere às raças com efectivo reduzido urge, no curto prazo, evitar a perda irreparável desse património genético ainda que para tal possam ser necessárias compensações de natureza monetária ou outra. A utilização de loci ditos neutros, como é o caso dos microssatélites, apresenta algumas vantagens para os fins a que nos propusemos neste estudo, no entanto, estamos cientes de que, a curto prazo, e em resultado dos avanços nas áreas da biologia molecular e das tecnologias de genotipagem em massa, estes tenderão a ser substituídos por polimorfismos de nucleótido único (SNPs). A concretização dos projectos de sequenciação do genoma dos animais domésticos constituirá um grande impulso nesse sentido. Todos esses progressos permitirão avaliar de forma mais objectiva os recursos genéticos dos animais domésticos. A variabilidade de genes responsáveis por 189 Capítulo 6 – Considerações finais e perspectivas futuras características produtivas e de resistências a doenças será, obviamente, o alvo preferido como forma de valorizar raças portadoras de variantes com interesse económico ou científico e assim de justificar a manutenção de raças autóctones. Nesse sentido, a equipa na qual nos inserimos tem vindo a realizar alguns estudos que visam avaliar a variabilidade de loci candidatos relacionados com a qualidade do leite e da carne. Contudo, para que os resultados alcançados nestes e em futuros estudos seja consequente, torna-se necessária a aquisição de equipamento laboratorial com maior capacidade de resposta e a concertação com as associações de criadores que procedem à recolha e organização dos dados produtivos. Um outro aspecto, não menos interessante de salientar é a importância que os recursos genéticos dos animais domésticos, constitui como modelo para a investigação científica de mecanismos funcionais básicos. Um exemplo que ilustra bem esse potencial é o caso do fenótipo callipyge identificado em ovinos da raça Dorset. O seu estudo permitiu descobrir um tipo de herança não mendeliana até então desconhecida, a sobredominância polar (COCKETT et al., 1996), o qual poderá ocorrer também na herança de outros fenótipos, incluindo eventuais doenças hereditárias complexas da espécie humana. A base genética subjacente ao referido fenótipo foi identificada como uma transição de A para G, designada de SNPCLPG, e localizada no que se parece ser um elemento regulador que controla a expressão génica na região próxima dos genes PEG11 e MEG8 (CHARLIER et al., 2001). As principais características que tornam os animais domésticos um modelo excelente, são a diversidade genética elevada que apresentam e a possibilidade de se obter famílias extensas por cruzamento orientado, vantagens que no âmbito da biologia molecular, se revelam mais importantes à medida que passamos da genómica para a transcriptómica, protéomica, metabolómica e interactómica. A história e a localização geográfica fizeram de Portugal um ponto de confluência de variadíssimos povos e comerciantes, por consequência, um reduto de elevada diversidade genética de raças de animais domésticos em geral, e de ovinas em particular, conforme revelou este estudo. Assim, e por todas as razões já apontadas justifica-se a tomada de medidas urgentes que visem impedir a perda de tão valioso património. Porque cremos que só se valoriza o que se conhece julgamos que o estudo das raças portuguesas de animais domésticos constitui um meio privilegiado de 190 Capítulo 6 – Considerações finais e perspectivas futuras promover a sua conservação, aspecto para o qual pretendemos continuar a dar o nosso contributo. 191 Referências Bibliográficas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAMS, R. P. e RIESEBERG, L. H. (1998). The effects of non-homology in RAPD bands on similarity and multivariate statistical ordination in Brassica and Helianthus. Theoretical and Applied Genetics 97, 323-326. 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Equipamento Na execução do trabalho experimental foi utilizado o material e o equipamento que a seguir se apresenta: - Agulhas estéreis 0,80 mm, Vacuette®greiner - Aplicadores, Vacutainer para tubos de vácuo de 9 ml - Arca frigorífica a -70 ºC, Forma Scientific - Arca térmica, Camping gaz com acumuladores - Autoclave JSM modelo NR 384 - Balança TM 560 Gibertini - Balança Sartorius, máximo 162 g - Balões volumétricos 25 ml, 100 ml, 250 ml, 500 ml, 1000 ml, 2000 ml, Duran - Banho-maria, Julabo SW-20C - Caixas de cartão para guardar os microtubos eppendorf com DNA (10x10), Sarstedt # 95.64.997 - Câmara de fluxo laminar, Nuaire Classe II Type A/B3 - Centrifuga : Sigma 2k15, B. Braun Biotech International - Centrífuga Bifuge 1.0, Heraeus Sepatech - Cuvettes de quartzo, Hellma 6040-UV de 10 mm - Doseador 100 ml, Geprüfte Sicherheit - Doseador 25 ml, Geprüfte Sicherheit - Doseador de 10 ml, Geprüfte Sicherheit - Detector de radiactividade, Series 900 (0,5-2K counts/seg) - Espectrofotómetro, Hitachi U-2000 - Espaçadores para o gel de poliacrilamida de 0,4 mm - Etiquetas auto-adesivas permanentes, Tesa® - Filme radiografia – Kodak XK –1 – (34 cm X 45 cm) Cat. 1653872 - Fita-cola 3M com 1,5 cm de largura - Fonte de alimentação, EC 105, E-C Apparatus Corporation - Fonte de alimentação, Pharmacia LKB- MultiDrive XL - Fonte de alimentação, LKB Broma 2197 - Frascos Duran 25 ml, 100 ml, 1000 ml e 2000 ml 239 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 - Frigoríficos, Iberna (4 estrelas) e Fagor (4 estrelas) - Goblés 50 ml, 100 ml, 250 ml, 500 ml, 1000 ml, Simax - Luvas látex - Potenciómetro, pH Meter 3320 Jenway - Microcentrífuga, Sigma 113 da B. Braun Biotech International, - Microondas, Ufesa Precise 190 - Micropipetas 0.1-2.5 μl, 2-20 μl, 20-200 μl, 100-1000 μl, Eppendorf - Micropipetas P1000, P200, P100, P20, P10, P2, Gilson - Microplacas de 96 poços para PCR, Costar® #6511 - Microtubos com tampa de 0.5 ml, Sarstedt # 72.735.002 - Microtubos com tampa de 1.5 ml, Sarstedt # 72.692.005 - Microtubos estéreis com rosca de 2ml, Sarstedt # 72.693.005 - Multipipeta de 5 a 100 μl e 50 a 1000 μl, Eppendorf - Parafilme, 4IN.x125 FT Roll Laboratory Film - Parafina líquida, Merck # 1.07162.100 - Pentes para o gel de agarose - Pentes para o gel de poliacrilamida - Pipeta Distriman até 12,5 ml, Gilson - Pipeta multicanal de 12, Transferpette®- 20-200 μl e 2,5-20 μl-- Brand - Pipetas Pasteur - Vidros com dimensões adequadas para a preparação dos géis de poliacrilamida - Pontas de micropipeta de 0.1-10 μl, 20-200 μl e 100-1000 μl, Sarstedt #701130, #70760002 #70762 (brancas) - Pontas para pipeta “Distritip” de 12,5 ml, Gilson - Pontas para pipeta “Distritip” de 125 μl, Gilson - Protectores faciais UVC-803 da UVP - Provetas de vidro 25 ml, 50 ml, 100 ml, 250 ml, 500 ml, 1000 ml, Normax - Secador de géis, Model SE 1169, Hoeffer Scientific Instruments - Sistema de análise de géis, BioCapture da Viver Lourmat - Suportes, Scotlab Eppendorf cat. Nº SL. 4112 e SL. 4111 - Tabuleiros para revelação dos géis corados com nitrato de prata - Termociclador PTC-100TM 240 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 - Tinas de electroforese horizontais Corporation; Minicell 370 e Midicell 350, ECApparatus - Tina de electroforese vertical TM SQ3 Sequencer, Hoefer - Transiluminador de luz ultra-violeta, LKB Bromma modelo 2011 - Tubos de centrífuga de 50 ml de polipropileno com rosca, NalgeneTM # 3119 - Tubos com rosca de 50 ml graduados, Sarstedt # 62.559001 - Tubos de vácuo de 9 ml com heparina de sódio, Vacuette®greiner - Vortex Genie – 2, VWR Scientific (máx. 8000 rpm) Todo o material descartável (pontas de pipeta, microtubos tipo eppendorf) usado foi esterilizado por autoclavagem a 121 ºC e à pressão de 1 atmosfera durante 20 minutos. 1.2. Reagentes - Acetato de Sódio anidro (C2 H3 O2 Na) – Sigma #S-2889 (NaAc) - Acetona - Ácido acético glacial 100% - Merck # 100063.2511 - Ácido etilenodiamino-tetracético (EDTA) – Sigma #ED4SS - Acrilamida – BDH Laboratories supplies # 44300 4X - Ready Sol DNA /PAGE, 40%- Pharmacia Biotech # 17-1308-01 - Agarose - GibcoBRL® (Life Technologies) # 15510-027 - Albumina Sérica Bovina (BSA) – Boheringer - Amberlite 1R120 – Rohn and HAAS Co # 63318 - Amberlite IRN-150L - Pharmacia Biotech #17-1326-01 - Azul de Bromofenol - Sigma # B-8026 - ATP [gama – 33P] – Cat #5840401 - Bicarbonato de potássio (KHCO3) - Sigma #P-9144 - Bis-Acrilamida – BDH Laboratories supplies # 44349 5X - Bind silane- Amersham Pharmacia Biotech # 17-1330-01 - Beta-mercaptoetanol – Merck #15433 - Brometo de Etídio (EtBr) – Sigma #E-1510 - Cloreto de amónia (NH4Cl) – Sigma #A-4514 - Cloreto de cálcio - Sigma #C-3309 241 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 - Cloreto de Magnésio (MgCl2) – Sigma #M-8266 - Cloreto de Potássio (KCl) – Merck #4936.0500 - Cloreto de Sódio (NaCl) – Merck #1.06404 - dNTPS (dATP, dCTP, dGTP, dTTP – 100mM) Amersham Pharmacia Biotech # 27-2035-02 - Espermidina – Sigma #S2501 - Etanol absoluto – Merck #1.00983.2511 - Fenol Red – Merck # 7241 - Ficoll (type 400) - Sigma F # 4375 - Formamida – Sigma #F-7508 - Gel Repel – CBS Scientific, Del Mar, USA - Hidróxido de Sódio (NaOH) – Sigma # S-0899 - Kit Silver SequenceTM DNA Sequencing System, Promega # Q4132 inclui: #Q440 Carbonato de sódio anidro #Q426A Nitrato de Prata # Q421A Bind Silane # Q427A Formaldeído, 37% # Q428A Tiosulfato de sódio - Marcador de 100 pb – MBI Fermentas #SM0321 - Marcador de 50 pb – MBI Fermentas #SM - N, N – Dimetilformamida – USB – US14862 - Polimerase Red Hot – Advanced Technologies #N.AB-0406/B - Polimerase – Bioline - Parafina Líquida – Merck #1.07162.1000 - Persulfato de amónia – Sigma # A – 3678 - Proteinase K – Sigma #P-8044 - Quinase polinucleotido T4 – Bio Labs, New England, com o respectivo tampão (10X) - Repel Silane - Amersham Pharmacia Biotech # 17-1332-01 - Sulfato dodecil sódio (SDS) - Amersham Pharmacia Biotech # 17-1313-04 - TEMED - Sigma # T – 9281 - Tris Base - Amresco # 0826 - Trizma HCl – Sigma #T-6666 - Ureia - – Sigma #U-6504 242 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 - Xileno cianol FF - Sigma X # 4126 Todos os reagentes utilizados foram de do tipo adequado à utilização em Biologia Molecular. 2 - PROTOCOLO DE EXTRACÇÃO DE DNA 2.1 -Composição e preparação das soluções e tampões Solução stock de EDTA 0,5 M pH 8,0 Para 200 ml de solução: Preparar 37,2 g de EDTA em 180 ml de água bidestilada e dissolver com agitador magnético. Verificar o pH e ajustar para pH 8,0 com NaOH (cerca de 3,0g/200ml de solução). Perfazer o volume para 200 ml e esterilizar em autoclave. O EDTA é pouco solúvel para valores muito abaixo de pH 8,0. Armazenar à temperatura ambiente. Solução stock Tris 1 M pH 8,0 Para 1 litro de solução: Preparar Trizma base 121,1 g em aproximadamente 800 ml de água bidestilada e dissolver. Ajustar o pH a 8,0 usando HCl concentrado. Perfazer a um litro, esterilizar em autoclave e armazenar à temperatura ambiente. Solução de lise dos glóbulos vermelhos (RCB) Para um litro de solução: Preparar 8,02 g de cloreto de amónia (NH4Cl), 1,0 g de bicarbonato de potássio (KHCO3), 200 μl de solução stock de ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) 0,5 M. Perfazer a 1,0 litro com água bidestilada. Esterilizar por autoclave e arrefecer a 4 ºC antes de utilizar. Conservar a 4 ºC. Tampão salino Tris pH 7,4 Para um litro de solução: Preparar 8 g de NaCl, 0,38 g de KCl, 3g de Trizma base e 0,015 g Fenol Red em aproximadamente 800 ml de água bidestilada. Dissolver e ajustar o pH a 7,4 utilizando HCl concentrado. Perfazer para 1 litro com água bidestilada, esterilizar em autoclave e arrefecer a 4 ºC antes de utilizar. Conservar a 4 ºC. Tampão TE pH 8,0 Para um litro de solução: Preparar 10 ml de solução Tris 1 M pH 8,0, 200 μl de solução stock de EDTA 0,5 M pH 8,0. Perfazer o volume a 1 litro com água bidestilada. Esterilizar pelo autoclave, e armazenar à temperatura ambiente. 243 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 Etanol 75% Adicionar 75 ml de etanol absoluto a 25 ml de água bidestilada. Armazenar à temperatura ambiente. SDS 10 % Para um litro de solução: Preparar 100g de SDS e perfazer o volume de 1 litro com água bidestilada. Armazenar à temperatura ambiente. Nota: Não autoclavar. Utilizar uma máscara na face para prevenir inalação do pó. Se necessário aquecer cuidadosamente para dissolver rapidamente. Solução saturada de NaCl (6M) Para um litro de solução: Preparar 360 g de NaCl e perfazer um litro com água bidestilada. 2.2 -Procedimentos Para a extracção das amostras de DNA, seguiram-se os protocolos que se descrevem • Transferir cerca de 10 ml do sangue para um tubo de centrífuga de 50 ml esterilizado e identificado. Perfazer o volume com solução de lise dos glóbulos vermelhos (RCB) à temperatura de 4°C, tapar, misturar e colocar numa tina com gelo. A lise dos glóbulos vermelhos é observável pelo escurecimento da solução de sangue. • Após a lise , centrifugar durante 10 minutos a 3500 rpm, a 4°C. • Retirar as amostras da centrífuga e colocar no gelo, decantar cuidadosamente rejeitando o sobrenadante que contém os glóbulos vermelhos lisados. Recolher o pequeno “pellet” de glóbulos brancos no fundo do tubo. • Adicionar 10 ml de Tampão Tris Salino (TBS) à temperatura de 4 ºC e agitar bem para ressuspender as células. • Centrifugar os tubos 3000 rpm durante 5 minutos. Decantar rejeitando o sobrenadante. • Adicionar novamente 10 ml de TBS e agitar para ressuspender as células. • Centrifugar os tubos 3000 rpm durante 5 minutos. Decantar deitando fora o sobrenadante. 244 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 • Adicionar 9 ml do tampão TE (pH 8,0) e agitar no vórtex vigorosamente para ressuspender as células. É importante que as células fiquem submersas na solução para que seja possível a ocorrência de uma boa digestão de DNA. • Adicionar 500 µl de EDTA 0,5 mM e 50 µl da solução de protease K a todos os tubos. Adicionar lentamente 500 µl de SDS (10%) a cada tubo, agitando enquanto se adiciona. Tapar os tubos e agitar vigorosamente. • Incubar todos os tubos a 50°C em banho-maria, de preferência com agitação suave durante pelo menos 3 horas. • Remover os tubos do banho-maria, deixar arrefecer e adicionar 4,3 ml de solução saturada de cloreto de sódio. Agitar vigorosamente durante 30 segundos e depois a 4000 rpm, durante 15 minutos. • Retirar cuidadosamente o sobrenadante com uma pipeta Pasteur para um tubo Falcon 50 ml com rosca, tendo o cuidado para não arrastar o "pellet" de sal e proteína. • Adicionar cerca de 30 ml de etanol absoluto a 4 ºC, fechar o tubo, inverter suavemente várias vezes até precipitar todo o DNA na forma de um novelo de filamentos brancos. • Retirar o DNA enrolado da solução utilizando uma ansa plástica. Lavar num pequeno volume de etanol (75%) (um pouco para cada amostra) e secar com papel de filtro. Transferir para um microtubo de tampa roscada devidamente identificado. • Adicionar uma quantidade apropriada (normalmente cerca de 500 µl) de tampão TE (pH 8), deixar a dissolver durante a noite a 4°C. • A concentração e a qualidade do DNA foram determinadas pela metodologia clássica de espectrofotometria, com base na leitura da absorvência a 260 nm (A260) e 280 nm (A280) de uma solução constituída por 5 μl da solução base de DNA a medir e 995 μl de tampão TE, utilizando como “branco” 1 ml de tampão TE. O valor de A260 foi multiplicado por 50 para se obter a concentração de DNA em μg/ml e o valor do rácio A260/A280 usado como indicativo da qualidade • Preparar soluções de trabalho prontas a utilizar, normalmente à concentração de 50 ng/µl. As soluções destinadas a uso corrente devem ser guardadas no frigorífico. As soluções não diluídas para guardar a longo prazo devem ser congeladas a 20°C. 245 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 3 - Protocolo da PCR 3.1 – Procedimento seguido na Unidade de Biologia Molecular do Laboratório de Bioquímica da Universidade de Otago - Nova Zelândia, incluiu: a) Marcação de um dos primers (no caso concreto o primer reverso) - Primer dissolvidos em tampão TE de acordo com as indicações do fabricante e a solução de trabalho à concentração de 20 pmol/μl. - T4 Quinase (10 000 U/µl) - Tampão da T4 Quinase (10X) - [℘ -33P]ATP (3000 ci/mmole) - Água MilliQ autoclavada Para 100 amostras, misturar todos os reagentes na proporção que se segue, adicionando em último a quinase e o P33. Incubar a mistura a 37 ºC cerca de 30 a 40 minutos. Primers 2 µl Tampão da Quinase 5 µl [℘ -33P] ATP 2,5 µl T4 Quinase 2,5 µl Água MilliQ autoclavada 38 µl b) Preparação de 1000 µl de solução para PCR (mesmo que 100 amostras) - Amostras de DNA (50ng/µl) - Tampão J (10X) - Para uma solução de 100 ml: 5,69 g de Trizma base, 1,45 g (NH4)2SO4, 0.914 g MgCl2, 468 μl de Beta-mercaptoetanol, 9 μl de EDTA (0,5M), 0,063 Espermidina. Dissolver com 80 ml de água bidestilada, ajustar a pH 8,8 com HCl, perfazer a 100 ml. - BSA (20mg/ml) - dNTPs 200 μM - Água MilliQ autoclavada Num microtubo de tampa (1,5 ml), misturar todos os reagentes na proporção que se segue 246 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 Primer não marcado 50 µl Tampão J 100 µl dNTPs 100 µl BSA 10 µl Red Hot Polimerase 5 µl Primer marcado 50 µl Água MilliQ autoclavada 685 µl Pipetar 10 µl desta mistura para cada um dos 96 poços de uma microplaca para PCR contendo cada um deles 2 µl de solução de DNA da respectiva amostra e adicionar uma gota de parafina para prevenir a evaporação. c) Colocar a microplaca no termociclador utilizando o seguinte programa térmico de amplificação: 3 ciclos 95 C 45 s 60 ºC 1min 3 ciclos 95 ºC 45 s 57 ºC 1min 3 ciclos 95 ºC 45 s 54 ºC 1min 3 ciclos 95 ºC 45 s 51 ºC 1min 20 ciclos 95 ºC 45 s 48 ºC 1min 3.2 - Procedimento seguido no Laboratório de Fisiologia Animal da UTAD, incluiu: a) Preparação de 1000 µl de solução para PCR (mesmo que 100 amostras) - Primers dissolvidos em tampão TE de acordo com as indicações do fabricante e solução de trabalho ajustada à concentração de 20 pmol/μl. - Amostras de DNA (50ng/µl) - Tampão 10X - dNTPs 200 μM - Água milliQ autoclavada - Polimerase da Bioline (5 U/µl) - Parafina líquida 247 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 Misturar num microtubo de 1,5 ml Tampão 100 µl Primer A 60 µl Primer B 60 µl dNTPs 100 µl TAQ Polimerase 5 µl Água 675 µl Depois de distribuir esta mistura por cada um dos “poços” da microplaca, contendo já 2 µl das amostras de DNA, foi adicionada uma gota de parafina líquida para prevenir a evaporação. Colocar no termociclador utilizando o seguinte programa térmico de amplificação: 3 ciclos 95 ºC 45 s 60 ºC 1min 3 ciclos 95 ºC 45 s 57 ºC 1min 3 ciclos 95 ºC 45 s 54 ºC 1min 3 ciclos 95 ºC 45 s 51 ºC 1min 20 ciclos 95 ºC 45 s 48 ºC 1min 4 - Protocolo da Electroforese 4.1 - Procedimento seguido na Unidade de Biologia Molecular, Laboratório de Bioquímica, Universidade de Otago - Nova Zelândia 4.1.1 - Preparação do gel de Acrilamida 6% desnaturante (8M Ureia ) 4.1.1.1- Preparação das placas de vidro a) Material Placas de vidro Álcool absoluto Acetona Gel Repel Fita adesiva com largura de 1,5 cm Espaçadores (0,4 mm de espessura) 248 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 Embora o Gel Repel não seja tóxico, convém utilizar luvas na preparação das placas, para não deixar marcas de dedos e para proteger da acção da acetona e do etanol utilizados na limpeza. b) Siliconização das placas de vidro • Marcar as placas exteriormente (1, 2). • Lavar bem as placas com detergente, passar bem por água e deixar secar. • Limpar o lado interno das placas com acetona e depois etanol absoluto, usando para o efeito folhas de papel de cozinha e deixar secar. • Aplicar o Gel Repel em toda a superfície interna da placa. Deixar secar. Esfregar bem com uma folha de papel de cozinha. Podem ser siliconizados cerca de 7 placas por cada toalhinha de Gel Repel. • Deixar secar bem e colocar os espaçadores entre as placas e imobilizar com molas e facilitar a aplicação de fita adesiva para manter firme a união entre as placas de vidro e vedar o espaço entre eles. Este conjunto (“sandwich”) está pronto a receber a solução de gel. 4.1.1.2- Preparação das soluções para o gel Solução stock de acrilamida (40%) Para 1 litro: misturar 380 g de acrilamida com 20 g bis-acrilamida (proporção de 19:1) e 38 g de amberlite. • Dissolver bem (cerca de 30 minutos) a mistura com água MilliQ em aproximadamente 800ml de água bidestilada • Remover a resina por filtração através de 3 camadas de papel Whatman #1 e ajustar o volume a 1 litro com água bidestilada. • Armazenar a 4 ºC num recipiente escuro. Tampão TBE 10x (solução stock) Para o volume de 1 litro: Preparar 108 g Tris-base, 55 g de ácido bórico, 40 ml 0,5M EDTA, pH 8,0. Adicionar água até perfazer um litro e autoclavar. 249 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 Instangel Para 1 litro: Preparar 480 g de ureia, 100 ml de TBE 10x, 150 ml de solução stock de acrilamida 40%. Perfazer a 1 litro com água bidestilada, dissolvendo bem. Persulfato de amónia 10% Para um volume de 500 μl: Preparar pesar 0,06g persulfato de amónia e adicionar 500 μl de água bidestilada. TBE 1x Para um litro de solução: Preparar 100 ml de TBE 10x e perfazer a 1 litro com água bidestilada agitar bem para homogeneizar. Formamide Loading Dye Para um volume de 100 ml: Adicionar a 100ml de Formamida cerca de 2-3 g de Amberlite, deixando actuar durante uma hora com agitação ocasional, tendo como objectivo a desionização da mesma. A 90 ml de formamida desionisada adicionar 10 ml de Tris 1 M (pH 7,2), 5 mg de azul de bromofenole 5 mg Xileno cianol FF. Persulfato de Amónia (APS) a 10% Dissolver 4 g de APS em 40 ml de água MilliQ e dissolver bem. 4.1.1.3 – Preparação do gel Material Uma proveta de 100 ml Um copo de 150 ml Instangel Persulfato de Amónia (APS) a 10% TEMED TBE 1X Pipetas Pasteur • Na “sandwich” colocar lateralmente molas para as manter firmes e paralelas, tendo o cuidado de estas pressionarem no meio dos espaçadores. • No copo juntar: 60 ml de Instangel, 360 250 l de APS, 48 l TEMED ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 • Agitar bem a mistura • Utilizando luvas, pois a acrilamida é tóxica enquanto líquida, deitar a mistura entre os dois vidros, mantendo-os ligeiramente inclinados e apoiados em duas pontas para evitar a formação de bolhas de ar. • Colocar o pente de forma invertida, isto é, com os bicos para fora por forma a que a mistura depois de solidificada forme nesta superfície uma linha direita. • Deixar cerca de 2 horas o conjunto em repouso, com uma pequena inclinação. • Tirar as molas, a fita adesiva e, com cuidado, o pente. • Lavar por fora as placas de vidro e passar bem por água a linha formada pelo pente no gel de forma a garantir que fica livre de eventuais pequenos pedaços. 4.1.1.4. Electroforese propriamente dita • Colocar as placas na tina de electroforese e preencher os respectivos reservatórios com TBE 1 X. • Com uma pipeta Pasteur lavar a linha do gel com tampão TBE 1X e aplicar o pente com os bicos para baixo, tendo muito cuidado de apenas picar ligeiramente o gel • Adicionar ao produto de PCR 10 μl de corante (Formamida Dye 98%) tendo o cuidado de verificar que o mesmo atravessou a camada de parafina que o cobre. Colocar no termociclador para desnaturar a 95 ºC durante pelo menos 2 minutos. • Aplicar 3 a 4 μl de amostra. Aplicar as amostras com genótipo conhecido nas extremidades do gel para servirem como referência. • Fechar a tina e ligar à corrente eléctrica definindo a potência de 1000 V durante cerca de 2 horas. O tempo de corrida depende do microssatélite. • Um pré-aquecimento é opcional. Nesse caso, após o pré-aquecimento, lavar novamente a linha do gel com o tampão TBE e aplicar o pente com os bicos para baixo., tendo muito cuidado de apenas picar ligeiramente o gel. • Após a corrida, retirar os vidros da tina, os espaçadores e com cuidado separar os vidros de modo a que o gel fique no vidro no qual não se aplicou o gel repel. • Aplicar uma folha de papel tipo filtro a toda a superfície do gel para o retirar do segundo vidro. • Secar o gel num secador de géis. • Medir a radioactividade do gel seco para confirmar que o produto radiactivo se encontra lá. 251 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 • Numa câmara escura, colocar o gel conjuntamente com um filme de radiografia numa caixa adequada para o efeito e deixar cerca de 18 horas a impregnar. Retirar a radiografia e revelar em máquina apropriada. • Identificar os alelos presentes em cada amostra. 4.2 Alterações efectuadas No Laboratório de Fisiologia da UTAD O procedimento seguido na UTAD sofreu as seguintes modificações: Na preparação dos vidros além de utilizarmos um produto com a mesma função que o Gel Repel (Repel Silane), utilizámos um outro produto (Bind Silane) com função oposta no segundo vidro, de forma a evitar que o gel se solte nas sucessivas imersões no processo de revelação. A solução de acrilamida utilizada foi uma solução pronta a usar (Ready Sol DNA /PAGE, 40%). A quantidade de produto de PCR aplicado foi apenas 2 µl, aspecto que se revelou de extrema importância, uma vez que quando era aplicado 4 µl não foi possível visualizar as microssatélites, mas apenas “borrões” devido ao excesso de amostra. A tina de electroforese utilizada, uma Hoefer TM SQ3 Sequencer, com dimensões muito diferentes das utilizadas na Nova Zelândia, exigiu condições de electroforese também diferentes. Assim, optámos por s uma corrida com potência constante de 45 W (voltagem e amperagem no máximo porque fica limitado pelo menor valor da potência). Normalmente foi realizado um pré-aquecimento de 10 minutos. Como nenhum dos primers foi marcado, na parte final, o gel manteve-se aderido a um dos vidros e tendo-se procedido à sua revelação com nitrato, de prata de acordo com a metodologia que se segue. 252 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 4.2.1 -Protocolo de revelação do gel de poliacrilamida pelo kit da Promega (Silver SequenceTM DNA Sequencing System) 1. Preparar três soluções: Solução fix/stop (10% de ácido acético glacial): adicionar 300 ml de ácido acético glacial em 2700 ml de água bidestilada, não reutilizar esta solução. Solução de coloração: combinar 2g (1 pacote) de nitrato de prata (AgNO3) e 3ml (1 frasco) de 37% de formaldeído em 2 litros de água bidestilada. Solução de desenvolvimento: dissolver 60 g de carbonato de sódio (Na2CO3) em 2 litros de água bidestilada e arrefecer a 10 ºC em gelo; imediatamente antes de utilizar (passo 6), adicionar 3ml de 37% formaldeído e uma alíquota de 400 μl de tiossulfato de sódio (10mg/ml); descartar o tiosulfato de sódio restante. 2. Separar as placas de vidro: após a electroforese, separar as placas de vidro com muito cuidado utilizando uma cunha de plástico; o gel deve permanecer agarrado à placa de vidro pequena. 3. Fixar o gel: colocar o gel num tabuleiro de plástico, cobrir com solução fix/stop e agitar bem durante 20 minutos ou até que o arrastamento do corante não seja visível; o gel pode ser armazenado na solução fix/stop durante a noite (sem agitar); guardar a solução fix/stop para terminar a reacção de desenvolvimento (passo9); se a solução de desenvolvimento ainda não estiver arrefecida, deve ser colocada no gelo nessa altura. 4. Lavar do gel: lavar o gel 3x (2 minutos cada) com água bidestilada utilizando agitação. Suspender o gel fora da água de lavagem e deixar drenar 10-20 segundos antes de transferir para a lavagem seguinte. 5. Coloração do gel: transferir o gel para a solução de coloração e agitar bem durante 30 minutos. 6. Completar a preparação da solução de desenvolvimento pela adição de 3 ml de 37% de formaldeído e uma alíquota de 400 μl de tiossulfato de sódio (10 mg/ml) para a solução de carbonato de sódio pré-arrefecida (10 ºC). Colocar 1 litro da solução de desenvolvimento pré-arrefecida num tabuleiro e o restante desta no gelo. 253 ANEXO 1 - Descrição dos protocolos utilizados no capítulo 2 7. Remover o gel da solução de coloração e transferir a solução para um frasco de recolha de prata, para não poluir as águas residuais. Lavar o tabuleiro em abundância com água bidestilada. Nota:Cuidado: o tempo do próximo passo (lavagem) é muito importante. O tempo total em que o gel é colocado em água bidestilada e o tempo em que é colocado em solução de desenvolvimento não deve ser superior a 5 a 10 segundos. Lavagens mais prolongadas resultam em sinal muito fraco ou ausência deste. 8. Lavagem do gel: mergulhar o gel rapidamente no tabuleiro contendo água bidestilada, drenar e colocar imediatamente no tabuleiro que contem solução de desenvolvimento arrefecida. Nota: se os procedimentos de lavagem forem demasiado longos, repetir passos 5, 7 e 8 com a solução de coloração. 9. Desenvolver o gel: agitar bem o gel por balanceamento até a banda temporária começar a desenvolver-se ou até as primeiras bandas serem visíveis; transferir o gel para a restante solução de desenvolvimento arrefecida e continuar o processo durante 2-3 minutos, ou até todas as bandas se tornarem visíveis. Nota: As bandas desenvolvidas aparecem claramente à luz. Duração de desenvolvimento prolongado resulta num elevado ruído de fundo que dificulta a clareza das bandas. 10. Parar o desenvolvimento: para terminar a reacção de desenvolvimento e fixar o gel, adicionar um litro de solução fix/stop. 11. Deixar secar o gel e aplicar um acetato para mais facilmente se escrever sobre ele. 254 ANEXO 2 Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população BM1824 BEDM CA CB CC CGB CGM CM BM4621 BM6444 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 CMP 257 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população BM1824 CTQ MB MBB MP SE SL Média BM4621 BM6444 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,25 0,00 0,00 0,00 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 258 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população BM6506 BEDM CA CB CC CGB CGM CM BM757 ETH225 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 CMP 259 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população BM6506 CTQ MB MBB MP SE SL Média BM757 ETH225 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,25 0,00 0,00 0,00 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 260 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população MAF209 BEDM CA CB CC CGB CGM CM MAF23 McM214 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 CMP 261 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população MAF209 CTQ MB MBB MP SE SL Média MAF23 McM214 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,25 0,00 0,00 0,00 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 262 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população McM218 BEDM CA CB CC CGB CGM CM McM357 OarCP20 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 CMP 263 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população McM218 CTQ MB MBB MP SE SL Média McM357 OarCP20 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,25 0,00 0,00 0,00 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 264 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população OarCP34 BEDM CA CB CC CGB CGM CM OarCP49 OarFCB11 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 CMP 265 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população OarCP34 CTQ MB MBB MP SE SL Média OarCP49 OarFCB11 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,25 0,00 0,00 0,00 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 266 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população OarFCB128 BEDM CA CB CC CGB CGM CM OarFCB20 OarFCB304 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 CMP 267 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população OarFCB128 CTQ MB MBB MP SE SL Média OarFCB20 OarFCB304 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 0,75 0,75 0,75 0,50 0,50 0,50 0,25 0,25 0,25 0,00 0,00 0,00 0,75 0,75 0,75 0,5 0,5 0,5 0,25 0,25 0,25 0 0 0 268 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população OarFCB48 BEDM CA CB CC CGB CGM CM OarHH64 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 CMP 269 ANEXO 2 - Gráficos de frequências alélicas de cada locus em cada população OarFCB48 CTQ MB MBB MP SE SL Média OarHH64 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 0,75 0,75 0,50 0,50 0,25 0,25 0,00 0,00 0,75 0,75 0,5 0,5 0,25 0,25 0 0 270 ANEXO 3 Tabelas do capítulo 3 Loci BEDM CA CB CC CGB CGM BM1824 5 5 5 5 5 5 BM4621 13 10 14 14 15 14 BM6444 17 12 14 13 16 18 BM6506 5 5 5 6 7 4 BM757 7 5 4 6 5 6 ETH225 6 5 5 8 5 7 MAF209 11 9 10 8 9 11 MAF23 6 5 6 4 7 6 McM214 9 9 9 9 12 10 McM218 9 7 8 7 10 8 McM357 11 8 8 7 10 10 OarCP20 7 6 9 9 9 8 OarCP34 7 5 6 7 6 6 OarCP49 13 12 11 13 17 20 OarFCB11 10 6 9 7 10 10 OarFCB128 8 7 9 7 8 8 OarFCB20 12 8 13 10 9 11 OarFCB304 11 7 10 10 10 13 OarFCB48 12 9 8 9 10 13 OarHH64 10 8 7 7 9 7 Média 9,5 7,4 8,5 8,3 9,4 9,9 EP 0,7 0,5 0,6 0,6 0,8 0,9 *Total – referido ao conjunto dos 717 indivíduos não considerando a raça. CM 5 13 14 7 6 5 9 7 11 7 8 10 6 13 9 7 11 8 9 6 8,6 0,6 CMP 5 14 18 7 5 4 12 4 9 9 10 8 7 17 9 6 10 9 11 10 9,2 0,9 Tabela 1 – Riqueza alélica observada por microssatélite e por raça. CTQ 5 17 11 7 6 5 9 8 11 11 10 9 6 18 8 9 13 12 11 9 9,8 0,8 MB 5 14 15 7 5 5 9 4 12 9 9 9 7 19 8 7 13 14 11 9 9,6 0,9 MBB 5 12 12 5 6 9 12 5 11 9 9 6 6 12 9 7 11 12 12 8 8,9 0,6 MP 5 16 18 6 7 5 11 5 11 9 8 10 6 17 9 8 10 9 11 10 9,6 0,8 SE 5 12 15 6 5 5 10 6 10 8 7 6 6 13 8 7 14 14 9 9 8,8 0,7 SL 5 11 12 8 7 4 7 5 11 8 8 8 6 12 7 7 10 11 9 9 8,3 0,5 *Total 5 19 22 8 10 11 14 9 16 12 15 13 7 26 14 13 16 21 17 11 14,0 1,2 Média 5,0 13,5 14,6 6,1 5,7 5,6 9,8 5,6 10,3 8,5 8,8 8,1 6,2 14,8 8,5 7,5 11,1 10,7 10,3 8,4 EP 0,0 0,5 0,7 0,3 0,2 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 0,2 0,8 0,3 0,2 0,5 0,6 0,4 0,3 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 273 Loci BEDM CA CB CC CGB CGM BM1824 5 5 5 5 5 5 BM4621 13 10 14 14 15 14 BM6444 17 12 14 13 16 18 BM6506 5 5 5 6 7 4 BM757 7 5 4 6 5 6 ETH225 6 5 5 8 5 7 MAF209 11 9 10 8 9 11 MAF23 6 5 6 4 7 6 McM214 9 9 9 9 12 10 McM218 9 7 8 7 10 8 McM357 11 8 8 7 10 10 OarCP20 7 6 9 9 9 8 OarCP34 7 5 6 7 6 6 OarCP49 13 12 11 13 17 20 OarFCB11 10 6 9 7 10 10 OarFCB128 8 7 9 7 8 8 OarFCB20 12 8 13 10 9 11 OarFCB304 11 7 10 10 10 13 OarFCB48 12 9 8 9 10 13 OarHH64 10 8 7 7 9 7 Média 9,5 7,4 8,5 8,3 9,4 9,9 EP 0,7 0,5 0,6 0,6 0,8 0,9 *Total – referido ao conjunto dos 717 indivíduos não considerando a raça. CM 5 13 14 7 6 5 9 7 11 7 8 10 6 13 9 7 11 8 9 6 8,6 0,6 CMP 5 14 18 7 5 4 12 4 9 9 10 8 7 17 9 6 10 9 11 10 9,2 0,9 Tabela 1 – Riqueza alélica observada por microssatélite e por raça. CTQ 5 17 11 7 6 5 9 8 11 11 10 9 6 18 8 9 13 12 11 9 9,8 0,8 MB 5 14 15 7 5 5 9 4 12 9 9 9 7 19 8 7 13 14 11 9 9,6 0,9 MBB 5 12 12 5 6 9 12 5 11 9 9 6 6 12 9 7 11 12 12 8 8,9 0,6 MP 5 16 18 6 7 5 11 5 11 9 8 10 6 17 9 8 10 9 11 10 9,6 0,8 SE 5 12 15 6 5 5 10 6 10 8 7 6 6 13 8 7 14 14 9 9 8,8 0,7 SL 5 11 12 8 7 4 7 5 11 8 8 8 6 12 7 7 10 11 9 9 8,3 0,5 *Total 5 19 22 8 10 11 14 9 16 12 15 13 7 26 14 13 16 21 17 11 14,0 1,2 Média 5,0 13,5 14,6 6,1 5,7 5,6 9,8 5,6 10,3 8,5 8,8 8,1 6,2 14,8 8,5 7,5 11,1 10,7 10,3 8,4 EP 0,0 0,5 0,7 0,3 0,2 0,4 0,4 0,3 0,3 0,3 0,3 0,4 0,2 0,8 0,3 0,2 0,5 0,6 0,4 0,3 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 274 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 3 - Valores de Heterozigotia Observada (HO) por locus e por raça. Locus BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 McM357 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL Média 0,667 0,698 0,600 0,742 0,820 ± ± ± ± ± 0,784 0,688 0,623 0,750 0,780 0,692 0,575 0,667 0,760 0,703 ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,070 0,062 0,069 0,079 ± 0,054 0,058 0,066 0,066 0,055 0,053 0,063 0,069 0,065 0,060 0,019 0,756 0,679 0,900 ± ± ± 0,936 0,900 0,824 0,813 0,849 0,857 0,881 0,923 0,830 0,863 0,840 0,847 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,064 0,064 ± 0,042 0,044 0,042 0,053 0,055 0,049 0,045 0,041 0,037 0,052 0,047 0,052 0,017 0,667 ± 0,623 0,680 0,742 0,780 0,784 0,729 0,774 0,696 0,695 0,641 0,681 0,745 0,720 0,711 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,070 0,066 0,066 0,079 0,059 0,058 0,063 0,057 0,059 0,058 0,066 0,065 0,060 0,063 0,013 0,489 0,585 0,700 0,613 0,680 0,726 0,583 0,679 0,732 0,746 0,692 0,787 0,628 0,720 0,669 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,075 0,067 0,065 0,087 0,066 0,062 0,070 0,064 0,057 0,055 0,063 0,057 0,066 0,063 0,021 0,622 0,642 0,720 0,774 0,700 0,628 0,708 0,717 0,821 0,678 0,769 0,575 0,726 0,800 0,706 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,072 0,065 0,063 0,075 0,065 0,068 0,064 0,061 0,049 0,059 0,058 0,069 0,061 0,057 0,018 0,467 0,585 0,260 0,742 0,520 0,392 0,521 0,283 0,500 0,593 0,513 0,340 0,373 0,340 0,459 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,074 0,067 0,062 0,079 0,071 0,068 0,071 0,061 0,064 0,062 0,069 0,066 0,066 0,067 0,035 0,667 0,887 0,680 0,677 0,800 0,784 0,854 0,906 0,804 0,729 0,846 0,702 0,784 0,740 0,776 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,070 0,043 0,066 0,084 0,057 0,058 0,050 0,040 0,051 0,056 0,050 0,063 0,057 0,062 0,020 0,467 0,491 0,660 0,742 0,700 0,608 0,583 0,528 0,554 0,729 0,564 0,660 0,608 0,640 0,610 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,074 0,068 0,067 0,079 0,065 0,068 0,070 0,068 0,064 0,056 0,068 0,066 0,067 0,068 0,022 0,756 0,660 0,640 0,774 0,700 0,843 0,792 0,755 0,857 0,831 0,744 0,660 0,726 0,780 0,751 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,064 0,064 0,068 0,075 0,065 0,051 0,057 0,059 0,045 0,048 0,060 0,066 0,061 0,059 0,018 0,867 0,679 0,740 0,677 0,800 0,686 0,646 0,698 0,714 0,797 0,692 0,745 0,726 0,780 0,732 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,051 0,064 0,062 0,084 0,057 0,065 0,068 0,062 0,058 0,051 0,063 0,060 0,061 0,059 0,016 0,489 0,426 0,360 0,258 0,540 0,490 0,440 0,537 0,400 0,436 0,245 0,385 0,519 0,380 0,422 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,075 0,067 0,068 0,079 0,070 0,070 0,070 0,068 0,063 0,063 0,059 0,067 0,069 0,069 0,024 0,711 0,698 0,760 0,710 0,680 0,863 0,625 0,585 0,679 0,729 0,641 0,787 0,784 0,840 0,721 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,068 0,062 0,060 0,081 0,066 0,048 0,068 0,067 0,060 0,056 0,066 0,057 0,057 0,052 0,021 0,667 0,604 0,780 0,677 0,720 0,824 0,646 0,698 0,696 0,763 0,641 0,681 0,843 0,820 0,719 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,070 0,067 0,059 0,084 0,063 0,053 0,068 0,062 0,059 0,054 0,066 0,065 0,050 0,054 0,019 0,667 0,830 0,740 0,871 0,860 0,922 0,771 0,755 0,839 0,746 0,821 0,766 0,824 0,740 0,797 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,070 0,051 0,062 0,060 0,049 0,038 0,059 0,059 0,047 0,055 0,053 0,059 0,052 0,062 0,017 0,756 0,679 0,840 0,677 0,880 0,726 0,521 0,679 0,768 0,797 0,795 0,787 0,745 0,720 0,741 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,064 0,064 0,052 0,084 0,046 0,062 0,071 0,064 0,054 0,051 0,055 0,057 0,060 0,063 0,022 0,689 0,717 0,680 0,677 0,800 0,726 0,771 0,736 0,679 0,814 0,769 0,872 0,706 0,720 0,740 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,069 0,061 0,066 0,084 0,057 0,062 0,059 0,060 0,060 0,049 0,058 0,046 0,063 0,063 0,015 0,889 0,736 0,940 0,613 0,720 0,824 0,875 0,793 0,732 0,695 0,692 0,745 0,824 0,740 0,773 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,047 0,060 0,034 0,087 0,063 0,053 0,047 0,055 0,057 0,058 0,063 0,060 0,052 0,062 0,023 0,711 0,830 0,820 0,774 0,880 0,784 0,708 0,774 0,696 0,661 0,667 0,702 0,784 0,740 0,752 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,068 0,051 0,054 0,075 0,046 0,058 0,064 0,057 0,059 0,060 0,065 0,063 0,057 0,062 0,017 0,600 0,849 0,600 0,936 0,820 0,804 0,646 0,755 0,804 0,848 0,744 0,681 0,843 0,760 0,764 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,073 0,049 0,069 0,044 0,054 0,056 0,068 0,059 0,051 0,046 0,060 0,065 0,050 0,060 0,026 0,711 0,642 0,600 0,581 0,640 0,196 0,333 0,736 0,375 0,644 0,462 0,447 0,608 0,820 0,557 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,068 0,065 0,069 0,089 0,068 0,056 0,067 0,060 0,062 0,061 0,068 0,069 0,067 0,054 0,044 0,666a 0,677ace 0,685acd 0,710ab 0,747b 0,711bc 0,663ace 0,693acd 0,698acd 0,729bd 0,678ace 0,670ac 0,716bde 0,720abc Média* EP 0,027 0,026 0,036 0,032 0,024 0,039 0,031 0,030 0,031 0,022 0,034 0,032 0,027 0,030 EPs 0,016 0,014 0,015 0,018 0,014 0,014 0,015 0,014 0,013 0,013 0,014 0,015 0,014 0,014 0,021 0,021 0,033 0,026 0,019 0,037 0,027 0,027 0,028 0,018 0,030 0,028 0,024 0,026 EPl * - Valores médios para cada raça com presença de, pelo menos, uma letra igual não diferem significativamente (P≥0,05) – WILCOXON signed ranks test. 275 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 4 - Valores de Heterozigotia Esperada não Inviesada (HNB) por locus e por raça. Locus BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 McM357 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 BEDM CA CB 0,755 0,800 0,609 ± ± ± 0,023 0,009 0,879 ± CC CGB CGM CM CMP CTQ MBB MP SE SL Média 0,764 0,789 0,773 0,772 0,732 0,773 0,751 ± ± ± ± ± 0,755 0,752 0,658 0,753 0,745 ± ± ± ± 0,044 0,021 0,015 0,018 0,012 0,018 ± 0,014 0,019 0,013 0,020 0,040 0,024 0,013 0,786 0,890 0,873 0,890 0,859 0,849 0,894 ± ± ± ± ± ± ± 0,868 0,854 0,870 0,890 0,886 0,833 0,866 ± ± ± ± 0,015 0,028 0,015 0,024 0,014 0,019 0,024 0,013 ± 0,022 0,016 0,017 0,014 0,012 0,020 0,008 0,919 0,875 0,870 0,875 0,878 0,866 0,879 0,880 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,856 0,854 0,840 0,886 0,863 0,797 0,867 ± ± ± ± 0,011 0,014 0,013 0,023 0,017 0,021 0,016 0,018 ± 0,012 0,017 0,019 0,017 0,023 0,027 0,007 0,576 0,647 0,638 0,674 0,700 0,703 0,674 0,672 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,726 0,653 0,659 0,773 0,651 0,736 0,677 ± ± ± ± 0,046 0,027 0,033 0,031 0,028 0,028 0,031 0,029 ± 0,025 0,026 0,027 0,022 0,028 0,023 0,012 0,754 0,681 0,739 0,743 0,728 0,705 0,709 0,755 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,761 0,743 0,764 0,717 0,687 0,794 0,734 ± ± ± ± 0,025 0,030 0,014 0,043 0,019 0,024 0,029 0,011 ± 0,015 0,021 0,017 0,026 0,029 0,016 0,008 0,600 0,602 0,415 0,717 0,608 0,574 0,545 0,386 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,627 0,634 0,687 0,621 0,542 0,397 0,568 ± ± ± ± 0,051 0,043 0,056 0,045 0,039 0,030 0,042 0,051 ± 0,030 0,023 0,033 0,041 0,019 0,050 0,027 0,739 0,845 0,757 0,667 0,746 0,742 0,803 0,863 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,809 0,777 0,844 0,723 0,860 0,777 0,782 ± ± ± ± 0,041 0,015 0,026 0,058 0,040 0,032 0,023 0,011 ± 0,019 0,020 0,017 0,039 0,015 0,025 0,015 0,617 0,543 0,648 0,707 0,632 0,643 0,642 0,576 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,596 0,687 0,643 0,702 0,648 0,644 0,638 ± ± ± ± 0,034 0,044 0,033 0,024 0,032 0,026 0,032 0,025 ± 0,025 0,011 0,031 0,027 0,027 0,026 0,012 0,818 0,710 0,696 0,821 0,815 0,817 0,782 0,760 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,818 0,855 0,791 0,802 0,775 0,836 0,793 ± ± ± ± 0,022 0,029 0,035 0,024 0,023 0,019 0,029 0,031 ± 0,018 0,012 0,025 0,027 0,020 0,019 0,012 0,866 0,696 0,737 0,793 0,793 0,759 0,734 0,726 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,709 0,801 0,748 0,792 0,717 0,768 0,760 ± ± ± ± 0,014 0,027 0,025 0,028 0,026 0,024 0,038 0,034 ± 0,038 0,017 0,029 0,022 0,035 0,028 0,012 0,850 0,794 0,719 0,713 0,804 0,841 0,823 0,830 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,805 0,818 0,805 0,791 0,764 0,797 0,797 ± ± ± ± 0,017 0,021 0,032 0,047 0,025 0,015 0,019 0,019 ± 0,018 0,016 0,019 0,020 0,022 0,022 0,010 0,762 0,748 0,722 0,789 0,796 0,836 0,705 0,694 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,751 0,788 0,738 0,762 0,761 0,831 0,763 ± ± ± ± 0,023 0,018 0,029 0,029 0,018 0,017 0,036 0,029 ± 0,023 0,021 0,017 0,020 0,014 0,014 0,011 0,768 0,657 0,776 0,801 0,773 0,798 0,696 0,756 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,773 0,757 0,704 0,765 0,767 0,743 0,752 ± ± ± ± 0,021 0,026 0,019 0,025 0,021 0,015 0,032 0,023 ± 0,018 0,020 0,027 0,019 0,019 0,023 0,010 0,888 0,833 0,819 0,847 0,909 0,905 0,826 0,858 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,860 0,874 0,892 0,797 0,864 0,851 0,859 ± ± ± ± 0,012 0,023 0,020 0,030 0,011 0,014 0,026 0,023 ± 0,022 0,018 0,013 0,033 0,020 0,018 0,009 0,830 0,640 0,825 0,720 0,839 0,814 0,770 0,750 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,846 0,779 0,809 0,795 0,808 0,796 0,787 ± ± ± ± 0,021 0,044 0,017 0,037 0,015 0,019 0,026 0,033 ± 0,012 0,019 0,016 0,019 0,016 0,018 0,014 0,727 0,766 0,694 0,719 0,807 0,817 0,772 0,777 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,717 0,780 0,786 0,834 0,801 0,788 0,770 ± ± ± ± 0,038 0,020 0,039 0,045 0,020 0,023 0,025 0,020 ± 0,025 0,013 0,021 0,012 0,016 0,021 0,011 0,865 0,683 0,882 0,849 0,779 0,825 0,806 0,830 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,852 0,827 0,863 0,801 0,889 0,844 0,828 ± ± ± ± 0,017 0,033 0,011 0,020 0,028 0,022 0,025 0,018 ± 0,015 0,021 0,012 0,018 0,014 0,016 0,013 0,715 0,759 0,790 0,763 0,795 0,739 0,786 0,748 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,798 0,680 0,772 0,703 0,719 0,725 0,749 ± ± ± ± 0,035 0,021 0,022 0,038 0,024 0,031 0,023 0,024 ± 0,021 0,029 0,025 0,029 0,032 0,028 0,010 0,756 0,811 0,652 0,851 0,799 0,779 0,777 0,779 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,801 0,816 0,761 0,685 0,774 0,748 0,771 ± ± ± ± 0,032 0,017 0,047 0,021 0,029 0,036 0,032 0,029 ± 0,021 0,023 0,030 0,049 0,031 0,033 0,013 0,789 0,794 0,698 0,772 0,769 0,674 0,602 0,749 ± ± ± ± ± ± ± ± 0,731 0,714 0,613 0,729 0,838 0,809 0,734 ± ± ± ± 0,031 0,021 0,035 0,032 0,031 0,045 0,044 0,030 ± 0,051 0,036 0,018 0,024 0,018 ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± MB ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± ± 0,032 0,033 0,774acd 0,733ab 0,729bc 0,773cde 0,782d 0,774cd 0,748abe 0,751abcf 0,774df 0,772df 0,767dce 0,766bcd 0,764bcd 0,763bcd Média* EP 0,021 0,020 0,025 0,015 0,017 0,018 0,019 0,026 0,017 0,016 0,017 0,015 0,021 0,022 EPs 0,006 0,006 0,007 0,008 0,006 0,006 0,007 0,006 0,005 0,005 0,006 0,006 0,005 0,006 0,020 0,019 0,024 0,012 0,016 0,018 0,018 0,025 0,016 0,015 0,016 0,013 0,020 0,022 EPl *-Valores médios para cada raça com presença de, pelo menos, uma letra igual não diferem significativamente (P≥0,05) – WILCOXON signed ranks test. 276 277 BEDM 0,706 0,857 0,902 0,517 0,706 0,558 0,707 0,544 0,785 0,840 0,822 0,715 0,722 0,866 0,799 0,688 0,840 0,667 0,715 0,757 0,736 0,024 CA 0,759 0,746 0,851 0,571 0,625 0,546 0,816 0,487 0,655 0,640 0,758 0,697 0,582 0,807 0,614 0,726 0,641 0,715 0,779 0,757 0,689 0,022 CB 0,559 0,870 0,846 0,572 0,682 0,381 0,713 0,585 0,649 0,686 0,673 0,672 0,732 0,787 0,792 0,653 0,859 0,752 0,619 0,652 0,687 0,026 CC 0,709 0,846 0,847 0,599 0,701 0,669 0,630 0,636 0,782 0,749 0,669 0,744 0,758 0,817 0,664 0,673 0,815 0,718 0,818 0,726 0,728 0,017 CGB 0,747 0,870 0,857 0,644 0,670 0,547 0,718 0,562 0,784 0,760 0,773 0,757 0,729 0,892 0,809 0,772 0,744 0,759 0,769 0,735 0,745 0,020 CGM 0,729 0,836 0,845 0,647 0,646 0,486 0,702 0,567 0,784 0,714 0,812 0,807 0,758 0,888 0,779 0,788 0,796 0,696 0,754 0,642 0,734 0,022 *Total – referido ao conjunto dos 717 indivíduos não considerando a raça. Loci BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 McM357 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 Média EP CM 0,721 0,832 0,856 0,605 0,662 0,483 0,763 0,562 0,749 0,682 0,792 0,669 0,655 0,788 0,724 0,726 0,767 0,743 0,737 0,583 0,705 0,021 CMP 0,679 0,877 0,866 0,610 0,701 0,338 0,836 0,477 0,731 0,687 0,802 0,637 0,715 0,843 0,708 0,732 0,803 0,698 0,739 0,702 0,709 0,029 CTQ 0,731 0,840 0,830 0,689 0,707 0,553 0,775 0,504 0,792 0,670 0,771 0,722 0,733 0,837 0,809 0,684 0,828 0,768 0,786 0,717 0,737 0,020 MB 0,698 0,835 0,826 0,582 0,691 0,563 0,743 0,612 0,828 0,763 0,786 0,752 0,713 0,855 0,746 0,739 0,809 0,635 0,784 0,668 0,731 0,019 Tabela 5- Valores do PIC (Polymorphism Information Content) por locus e por raça. MBB 0,717 0,836 0,821 0,581 0,723 0,619 0,811 0,563 0,757 0,716 0,770 0,680 0,675 0,863 0,780 0,717 0,845 0,774 0,745 0,572 0,728 0,020 MP 0,703 0,865 0,862 0,713 0,664 0,579 0,677 0,643 0,765 0,763 0,753 0,718 0,719 0,786 0,760 0,803 0,771 0,652 0,648 0,707 0,728 0,016 SE 0,616 0,868 0,841 0,584 0,621 0,429 0,833 0,589 0,743 0,685 0,721 0,712 0,722 0,846 0,777 0,761 0,863 0,668 0,751 0,808 0,722 0,025 SL Total* Média 0,708 0,730 0,699 0,804 0,868 0,842 0,764 0,881 0,844 0,684 0,631 0,614 0,754 0,706 0,682 0,342 0,531 0,507 0,738 0,786 0,747 0,569 0,587 0,564 0,807 0,786 0,758 0,730 0,758 0,720 0,761 0,797 0,762 0,799 0,752 0,720 0,693 0,745 0,708 0,824 0,867 0,836 0,758 0,792 0,751 0,749 0,769 0,729 0,816 0,831 0,800 0,674 0,725 0,708 0,712 0,768 0,740 0,778 0,731 0,700 0,723 0,752 0,024 EP 0,014 0,009 0,008 0,015 0,010 0,027 0,017 0,013 0,014 0,014 0,012 0,013 0,012 0,010 0,015 0,012 0,015 0,012 0,014 0,019 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Loci BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 McM357 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 Média EP BEDM 0,065 0,049 0,233 0,192 0,211 0,416 0,034 0,090 0,018 0,022 0,371 0,052 0,044 0,155 0,072 0,021 -0,006 0,053 0,081 0,113 0,114 0,026 CA 0,138 0,062 0,336 0,017 -0,017 0,014 -0,049 0,262 -0,009 0,133 0,396 0,013 0,039 0,029 -0,044 0,017 0,021 -0,058 -0,031 0,154 0,071 0,029 CB 0,036 0,010 0,091 -0,073 0,029 0,236 0,085 -0,027 0,087 -0,018 0,389 0,044 -0,011 0,159 -0,035 0,015 -0,034 0,137 0,087 0,096 0,065 0,024 CC -0,002 -0,035 0,085 0,059 -0,054 -0,030 -0,043 0,092 0,048 0,137 0,638 0,084 0,078 -0,034 0,027 -0,011 0,183 -0,027 -0,081 0,272 0,069 0,036 CGB -0,002 0,019 0,077 0,052 0,034 0,086 -0,062 -0,012 0,073 0,007 0,287 0,063 0,046 0,016 -0,019 -0,001 0,062 -0,055 -0,024 0,109 0,038 0,017 CGM 0,008 0,019 0,088 -0,017 0,105 0,142 -0,027 0,021 -0,028 0,027 0,437 0,051 -0,037 -0,000 0,137 0,107 -0,008 -0,022 -0,026 0,652 0,081 0,038 CM 0,108 0,071 0,127 0,006 -0,009 0,005 -0,058 0,048 0,000 0,052 0,500 0,142 0,191 0,081 0,193 0,005 -0,013 0,057 0,107 0,268 0,094 0,028 CMP 0,061 0,019 0,070 -0,028 0,017 0,259 -0,035 0,087 0,013 0,033 0,301 0,020 0,071 0,068 0,058 0,007 0,035 -0,025 -0,011 0,007 0,051 0,019 CTQ -0,021 -0,002 0,104 -0,013 -0,031 0,130 -0,007 0,009 -0,037 0,014 0,546 0,150 0,087 0,001 0,049 0,011 0,064 0,133 -0,017 0,411 0,079 0,034 MB -0,069 -0,034 0,110 -0,055 0,022 0,017 0,008 -0,068 0,055 -0,002 0,395 0,024 -0,021 0,110 -0,014 -0,033 0,158 0,013 -0,027 0,051 0,032 0,023 MBB 0,054 -0,026 0,190 -0,045 -0,004 0,121 0,054 0,199 0,041 -0,023 0,562 0,013 0,124 0,195 0,009 0,023 0,094 0,082 0,001 0,117 0,089 0,030 Tabela 6 - Valores de FIS por locus e por raça, calculados de acordo com ROBERTSON e HILL (1984). MP 0,173 0,038 0,165 0,024 0,078 0,371 0,002 0,024 0,120 0,026 0,463 -0,032 0,058 0,004 -0,006 -0,029 0,020 -0,007 -0,032 0,215 0,084 0,030 SE -0,003 0,006 0,139 -0,013 0,005 0,084 0,033 0,038 0,158 -0,003 0,167 -0,018 -0,049 0,024 0,056 0,082 0,074 -0,024 -0,044 0,195 0,045 0,016 SL Média -0,069 0,034 -0,004 0,014 0,199 0,144 0,007 0,008 -0,001 0,028 0,062 0,137 0,035 -0,002 -0,008 0,054 0,009 0,039 0,018 0,030 0,488 0,424 -0,004 0,043 -0,040 0,041 0,144 0,068 0,124 0,043 0,059 0,020 0,065 0,051 0,033 0,021 -0,031 -0,003 0,008 0,191 0,055 0,069 0,027 EP 0,051 0,060 0,054 0,046 0,050 0,045 0,056 0,043 0,054 0,052 0,041 0,051 0,052 0,058 0,055 0,053 0,056 0,051 0,055 0,058 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 278 Loci BM1824 BM4621 BM6444 BM6506 BM757 ETH225 MAF209 MAF23 McM214 McM218 McM357 OarCP20 OarCP34 OarCP49 OarFCB11 OarFCB128 OarFCB20 OarFCB304 OarFCB48 OarHH64 Média EP BEDM 0,118 0,142 0,277 0,152 0,176 0,224 0,099 0,246 0,077 -0,001 0,428 0,067 0,134 0,251 0,090 0,053 -0,028 0,005 0,208 0,100 0,141 0,024 CA 0,121 0,147 0,280 0,109 0,050 0,035 -0,054 0,082 0,057 0,018 0,466 0,060 0,066 -0,000 -0,054 0,062 -0,075 -0,098 -0,049 0,194 0,071 0,029 CB 0,014 -0,012 0,220 -0,098 0,026 0,376 0,103 -0,019 0,081 -0,005 0,502 -0,053 -0,006 0,098 -0,019 0,020 -0,067 -0,038 0,081 0,142 0,067 0,033 CC 0,030 -0,073 0,154 0,092 -0,043 -0,036 -0,015 -0,051 0,058 0,148 0,642 0,101 0,157 -0,029 0,060 0,059 0,281 -0,015 -0,101 0,251 0,084 0,038 CGB -0,040 -0,011 0,113 0,029 0,038 0,146 -0,074 -0,109 0,143 -0,008 0,331 0,147 0,069 0,054 -0,050 0,009 0,076 -0,108 -0,027 0,169 0,045 0,024 CGM -0,014 0,042 0,095 -0,032 0,111 0,319 -0,058 0,055 -0,032 0,097 0,420 -0,032 -0,032 -0,019 0,109 0,113 0,002 -0,062 -0,033 0,711 0,088 0,043 CM 0,118 0,087 0,181 0,103 -0,009 0,057 -0,078 0,115 -0,022 0,138 0,468 0,100 0,090 0,070 0,335 0,009 -0,072 0,106 0,170 0,460 0,121 0,033 CMP 0,144 0,048 0,121 -0,011 0,043 0,271 -0,055 0,095 0,005 0,030 0,355 0,145 0,073 0,121 0,104 0,043 0,043 -0,044 0,041 0,028 0,080 0,022 CTQ 0,011 0,007 0,215 0,013 -0,063 0,209 0,005 0,085 -0,058 0,018 0,505 0,133 0,090 0,023 0,077 0,082 0,141 0,162 -0,009 0,498 0,107 0,035 MB -0,038 -0,035 0,166 -0,154 0,069 0,066 0,050 -0,083 0,036 -0,009 0,469 0,079 -0,023 0,152 -0,030 -0,053 0,149 0,018 -0,034 0,112 0,045 0,029 MBB 0,064 -0,054 0,199 -0,033 -0,030 0,246 0,056 0,071 0,094 -0,000 0,697 0,052 0,168 0,147 0,004 0,060 0,138 0,158 0,014 0,152 0,110 0,036 MP 0,204 0,067 0,217 0,012 0,143 0,421 0,055 0,047 0,181 0,062 0,516 -0,058 0,147 0,023 0,042 -0,038 0,053 0,048 -0,004 0,446 0,129 0,036 Tabela 7 - Valores de FIS por locus e por raça, calculados de acordo com WEIR e COCKERHAM (1984). SE -0,022 0,026 0,130 0,031 -0,056 0,305 0,077 0,081 0,093 0,015 0,323 -0,040 -0,107 0,046 0,078 0,104 0,083 -0,103 -0,085 0,280 0,063 0,028 SL Média -0,009 0,050 -0,009 0,027 0,097 0,176 0,022 0,017 -0,007 0,032 0,144 0,199 0,048 0,011 0,006 0,044 0,068 0,056 -0,016 0,035 0,526 0,475 -0,011 0,049 -0,105 0,052 0,131 0,076 0,097 0,060 0,087 0,044 0,125 0,061 -0,021 0,001 -0,016 0,011 -0,014 0,252 0,057 0,086 0,029 EP 0,051 0,061 0,051 0,047 0,050 0,042 0,056 0,044 0,053 0,052 0,035 0,052 0,053 0,058 0,056 0,052 0,059 0,055 0,057 0,062 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 279 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 8 - Valores da contribuição absoluta (C Abs) e relativa (C Rel) para cada alelo dos 19 microssatélites. Loci - Alelo BM1824 - 170 BM1824 - 172 BM1824 - 173 BM1824 - 174 BM1824 - 176 BM4621 - 131 BM4621 - 137 BM4621 - 139 BM4621 - 141 BM4621 - 145 BM4621 - 147 BM4621 - 149 BM4621 - 151 BM4621 - 153 BM4621 - 155 BM4621 - 157 BM4621 - 159 BM4621 - 161 BM4621 - 163 BM4621 - 165 BM4621 - 167 BM4621 - 169 BM4621 - 171 BM4621 - 173 BM6444 - 117 BM6444 - 121 BM6444 - 127 BM6444 - 129 BM6444 - 131 BM6444 - 133 BM6444 - 135 BM6444 - 137 BM6444 - 139 BM6444 - 141 BM6444 - 143 BM6444 - 145 BM6444 - 147 BM6444 - 149 BM6444 - 151 BM6444 - 153 BM6444 - 155 BM6444 - 157 BM6444 - 159 BM6444 - 161 BM6444 - 163 BM6444 - 165 BM6506 - 191 BM6506 - 193 BM6506 - 195 BM6506 - 197 BM6506 - 199 BM6506 - 201 BM6506 - 203 BM6506 - 205 F1 6 1 0 1 0 2 5 0 4 1 3 3 0 1 1 14 3 3 5 0 3 2 0 0 6 1 14 0 2 2 3 3 0 3 0 0 6 1 0 8 1 120 1 0 1 0 2 2 3 1 1 1 1 0 C Abs F2 0 21 0 18 1 1 2 0 1 0 0 3 2 0 0 1 5 2 2 1 2 0 0 6 1 3 3 2 0 0 11 0 8 1 5 0 9 7 1 0 3 14 0 1 0 0 3 5 1 2 0 4 0 0 F3 0 2 0 0 1 16 2 0 14 52 1 2 3 0 4 6 6 9 1 0 0 0 2 0 0 4 0 1 4 21 0 0 2 1 1 4 3 2 2 5 0 3 3 0 12 8 5 1 12 0 5 0 0 10 280 F1 340 28 0 13 14 87 357 1 181 21 228 148 15 32 35 434 118 142 339 33 75 153 31 4 183 19 808 13 111 80 61 115 10 155 3 11 203 21 3 301 67 853 50 36 17 12 116 151 109 54 56 68 97 0 C Rel F2 4 455 9 369 42 31 129 31 22 2 6 120 82 0 5 31 151 73 129 35 32 4 14 130 24 90 118 37 4 13 177 4 246 28 320 1 254 221 22 11 240 77 18 40 3 27 132 313 21 65 8 383 6 2 F3 4 33 31 0 28 399 89 6 442 520 42 80 84 3 169 119 140 352 51 5 3 15 87 7 0 93 2 15 143 474 7 2 47 43 46 142 71 42 43 120 1 13 117 0 226 405 230 39 259 0 268 3 1 690 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 8 - Valores da contribuição absoluta (C Abs) e relativa (C Rel) para cada alelo dos 19 microssatélites (continuação). Loci - Alelo BM757 - 178 BM757 - 179 BM757 - 180 BM757 - 181 BM757 - 182 BM757 - 183 BM757 - 185 BM757 - 191 BM757 - 197 BM757 - 199 ETH225 - 141 ETH225 - 143 ETH225 - 145 ETH225 - 147 ETH225 - 149 ETH225 - 151 ETH225 - 153 ETH225 - 155 ETH225 - 157 ETH225 - 159 ETH225 - 161 MAF209 - 109 MAF209 - 111 MAF209 - 115 MAF209 - 117 MAF209 - 119 MAF209 - 121 MAF209 - 123 MAF209 - 125 MAF209 - 127 MAF209 - 129 MAF209 - 131 MAF209 - 133 MAF209 - 135 MAF209 - 137 MAF23 - 133 MAF23 - 135 MAF23 - 137 MAF23 - 139 MAF23 - 141 MAF23 - 143 MAF23 - 145 MAF23 - 147 MAF23 - 149 McM214 - 068 McM214 - 074 McM214 - 076 McM214 - 078 McM214 - 080 McM214 - 082 McM214 - 086 McM214 - 088 McM214 - 090 McM214 - 092 McM214 - 094 F1 2 0 2 3 0 1 0 0 12 0 2 0 3 1 14 1 11 2 0 0 1 2 0 0 0 0 1 0 1 6 0 0 13 1 59 2 11 0 6 1 1 12 0 0 0 3 14 6 1 0 2 0 2 0 13 C Abs F2 7 1 0 0 1 1 1 0 4 1 0 0 0 1 23 2 0 0 1 2 2 5 0 0 1 2 1 0 0 3 1 3 39 0 8 7 2 12 0 0 9 6 2 3 0 0 35 4 1 0 4 4 0 1 13 F3 1 1 29 2 6 1 0 1 1 1 8 1 1 1 8 1 0 0 0 0 1 2 2 0 0 3 15 0 1 5 0 12 1 4 1 4 9 3 1 0 1 1 0 0 0 0 13 4 0 0 2 1 0 1 0 281 F1 78 9 62 132 10 56 31 8 432 0 59 20 112 54 313 61 303 61 12 4 19 87 24 0 24 12 34 91 17 188 43 0 228 112 787 115 378 8 652 34 47 295 24 9 5 244 243 238 25 57 122 2 127 0 306 C Rel F2 249 66 0 0 35 36 70 0 103 13 10 1 3 26 427 95 2 1 32 40 20 171 2 13 40 46 13 36 0 82 81 108 554 8 86 308 44 427 40 1 270 120 146 190 19 7 481 127 47 2 177 156 10 108 253 F3 18 59 534 51 163 35 34 37 13 14 186 55 14 47 116 57 1 7 1 4 9 43 155 14 0 53 290 0 14 118 14 363 7 317 6 131 197 79 62 11 14 21 0 23 33 22 150 99 5 7 60 38 15 48 3 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 8 - Valores da contribuição absoluta (C Abs) e relativa (C Rel) para cada alelo dos 19 microssatélites (continuação). Loci - Alelo McM214 - 096 McM214 - 098 McM214 - 100 McM214 - 102 McM214 - 112 McM218 - 143 McM218 - 145 McM218 - 147 McM218 - 149 McM218 - 151 McM218 - 153 McM218 - 155 McM218 - 157 McM218 - 159 McM218 - 161 McM218 - 163 McM218 - 165 OarCP20 - 071 OarCP20 - 073 OarCP20 - 075 OarCP20 - 077 OarCP20 - 079 OarCP20 - 081 OarCP20 - 083 OarCP20 - 085 OarCP20 - 087 OarCP20 - 091 OarCP20 - 093 OarCP20 - 095 OarCP20 - 097 OarCP34 - 112 OarCP34 - 114 OarCP34 - 116 OarCP34 - 118 OarCP34 - 120 OarCP34 - 122 OarCP34 - 124 OarCP49 - 083 OarCP49 - 085 OarCP49 - 087 OarCP49 - 089 OarCP49 - 091 OarCP49 - 093 OarCP49 - 095 OarCP49 - 097 OarCP49 - 099 OarCP49 - 101 OarCP49 - 103 OarCP49 - 105 OarCP49 - 107 OarCP49 - 109 OarCP49 - 111 OarCP49 - 113 OarCP49 - 115 OarCP49 - 117 F1 0 10 12 2 14 5 3 5 0 0 1 22 0 1 1 36 0 0 1 1 4 0 2 1 3 1 0 0 0 1 6 1 10 3 3 1 0 1 0 1 1 3 2 0 0 0 0 1 0 0 12 16 1 0 0 C Abs F2 0 0 0 3 3 0 42 7 1 0 3 1 3 2 3 99 0 0 0 10 0 22 18 2 2 0 2 2 1 0 3 38 9 0 4 2 0 0 2 1 0 0 3 2 0 2 1 1 7 4 13 2 2 4 0 F3 0 2 5 1 0 12 26 4 2 8 0 2 6 17 3 10 0 1 1 0 3 1 22 2 3 2 0 0 0 2 8 17 8 2 11 1 0 1 3 16 0 5 5 1 1 6 0 43 3 7 4 5 5 5 1 282 F1 4 411 358 108 808 233 33 224 2 0 22 452 0 19 81 285 5 0 80 22 162 6 49 15 83 64 16 4 4 51 193 24 223 167 184 59 2 32 17 58 79 98 103 29 13 6 14 12 22 17 257 488 13 0 4 C Rel F2 30 7 0 109 118 5 371 251 15 7 92 13 115 54 172 622 40 15 2 344 6 595 358 35 43 21 116 130 40 5 73 486 172 5 193 80 0 18 102 22 4 3 95 101 7 68 33 22 281 142 212 39 39 185 16 F3 2 56 105 50 2 366 192 134 26 390 1 28 180 382 117 55 18 108 77 1 88 14 373 29 71 94 2 7 4 57 177 185 132 64 449 38 2 19 137 570 1 121 133 32 11 195 6 538 100 205 49 94 77 211 103 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 8 - Valores da contribuição absoluta (C Abs) e relativa (C Rel) para cada alelo dos 19 microssatélites (continuação). Loci - Alelo OarCP49 - 119 OarCP49 - 125 OarCP49 - 133 OarCP49 - 135 OarCP49 - 137 OarCP49 - 139 OarCP49 - 141 OarCP49 - 143 OarFCB11 - 117 OarFCB11 - 121 OarFCB11 - 123 OarFCB11 - 125 OarFCB11 - 127 OarFCB11 - 129 OarFCB11 - 131 OarFCB11 - 133 OarFCB11 - 135 OarFCB11 - 137 OarFCB11 - 139 OarFCB11 - 141 OarFCB11 - 143 OarFCB11 - 145 OarFCB128 - 099 OarFCB128 - 101 OarFCB128 - 111 OarFCB128 - 113 OarFCB128 - 115 OarFCB128 - 117 OarFCB128 - 119 OarFCB128 - 121 OarFCB128 - 123 OarFCB128 - 125 OarFCB128 - 127 OarFCB128 - 129 OarFCB128 - 131 OarFCB20 - 101 OarFCB20 - 105 OarFCB20 - 107 OarFCB20 - 109 OarFCB20 - 111 OarFCB20 - 113 OarFCB20 - 115 OarFCB20 - 117 OarFCB20 - 119 OarFCB20 - 121 OarFCB20 - 123 OarFCB20 - 125 OarFCB20 - 93 OarFCB20 - 95 OarFCB20 - 97 OarFCB20 - 99 OarFCB304 - 142 OarFCB304 - 150 OarFCB304 - 152 OarFCB304 - 154 F1 0 1 0 0 1 2 1 1 0 4 4 0 23 1 1 0 20 0 0 0 1 0 3 0 17 0 1 22 0 1 5 1 0 0 0 1 1 3 0 6 0 1 3 1 0 0 0 0 0 6 25 0 1 1 0 C Abs F2 2 5 0 0 3 0 8 3 0 2 9 0 1 0 1 1 23 5 4 3 1 2 6 1 16 28 5 3 7 0 8 7 6 1 6 0 5 0 1 2 0 1 0 4 2 1 0 0 21 2 0 0 1 0 0 F3 0 0 1 1 0 1 2 0 0 0 15 0 1 7 1 12 4 0 4 0 0 6 0 0 1 0 0 0 0 66 0 1 2 0 4 2 2 4 0 5 2 0 0 7 1 1 1 0 0 1 4 1 1 0 0 283 F1 3 180 0 4 59 65 60 19 4 100 90 21 612 85 21 18 358 17 4 4 36 3 117 31 343 10 180 774 10 9 118 30 27 4 1 79 42 81 1 240 16 113 258 21 8 0 23 3 17 351 569 4 55 57 0 C Rel F2 63 540 4 3 158 9 299 53 10 38 160 11 30 4 15 31 320 231 117 130 47 120 192 70 254 709 540 94 330 0 170 288 276 40 208 4 291 13 114 73 3 171 25 109 70 58 2 1 749 94 1 34 25 14 13 F3 2 28 18 23 10 26 68 3 11 5 219 5 10 408 28 358 41 12 106 7 10 227 6 34 14 0 28 5 3 604 2 32 72 4 111 98 99 76 29 123 45 4 0 148 22 59 62 2 0 53 69 49 49 2 14 ANEXO 3 - Tabelas do capítulo 3 Tabela 8 - Valores da contribuição absoluta (C Abs) e relativa (C Rel) para cada alelo dos 19 microssatélites (continuação). Loci - Alelo OarFCB304 - 158 OarFCB304 - 162 OarFCB304 - 164 OarFCB304 - 166 OarFCB304 - 168 OarFCB304 - 170 OarFCB304 - 172 OarFCB304 - 174 OarFCB304 - 176 OarFCB304 - 178 OarFCB304 - 180 OarFCB304 - 182 OarFCB304 - 184 OarFCB304 - 186 OarFCB304 - 188 OarFCB304 - 190 OarFCB304 - 192 OarFCB48 - 140 OarFCB48 - 144 OarFCB48 - 146 OarFCB48 - 148 OarFCB48 - 150 OarFCB48 - 152 OarFCB48 - 154 OarFCB48 - 156 OarFCB48 - 158 OarFCB48 - 160 OarFCB48 - 162 OarFCB48 - 164 OarFCB48 - 166 OarFCB48 - 168 OarFCB48 - 170 OarFCB48 - 172 OarFCB48 - 174 OarHH64 - 124 OarHH64 - 126 OarHH64 - 128 OarHH64 - 130 OarHH64 - 132 OarHH64 - 134 OarHH64 - 135 OarHH64 - 136 OarHH64 - 138 OarHH64 - 140 OarHH64 - 142 Total Valor Maior Valor maior em % F1 1 0 0 3 1 0 2 2 2 0 5 0 0 42 4 2 0 0 5 0 2 3 6 5 1 0 8 0 0 0 7 1 0 0 9 34 7 8 8 11 3 1 6 0 1 990 120 12,1 C Abs F2 1 3 0 2 1 0 5 1 0 0 1 0 0 4 8 4 0 1 0 0 1 1 3 0 5 1 1 1 3 0 19 1 1 0 3 0 1 7 0 3 10 1 1 6 0 998 99 9,9 F3 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 3 2 58 9 0 0 10 0 1 0 1 0 1 5 0 1 0 3 12 0 3 1 2 1 1 1 40 3 4 0 1 0 1 0 2 1001 66 6,6 284 F1 52 2 3 144 30 26 233 114 126 7 399 4 0 683 196 66 0 1 172 6 103 101 149 219 41 24 191 0 15 6 198 39 5 33 343 573 87 355 357 485 180 67 281 9 41 30262 853 2,8 C Rel F2 41 188 5 57 45 0 409 23 27 15 71 10 2 49 305 86 2 31 0 35 35 26 51 3 137 64 10 22 69 9 418 42 78 8 78 2 8 236 4 103 540 54 26 232 1 27427 749 2,7 F3 0 7 19 0 1 70 0 2 18 3 167 59 690 93 0 8 690 6 24 12 28 3 18 143 1 22 2 84 240 0 62 18 101 73 14 8 355 80 126 7 28 3 21 14 74 23733 690 2,9 ANEXO 4 Fenogramas obtidos com o método UPGMA ANEXO 4 - Fenogramas obtidos com o método UPGMA CMP SL CB SE MBB CA BEDM 24 30 90 24 11 16 20 2 59 MB CTQ CM CC CGM CGB 0.01 MP Figura 1 - Fenograma construído a partir da distância genética Drey pelo método UPGMA MBB CMP SE SL CA 26 613 6 6611 MB 11 BEDM CC 24 14 CB 89 CGM CGB MP CM 0.01 CTQ Figura 2 - Fenograma construído a partir da distância genética DL pelo método UPGMA 287 ANEXO 4 - Fenogramas obtidos com o método UPGMA SL CB MP MB BEDM CA 85 3 CC 70 MBB 38 11 18 512 64 CTQ CMP CM SE CGM 0.01 CGB Figura 3 - Fenograma construído a partir da distância genética DA pelo método UPGMA SL MP MB BEDM CB CA 79 CGB 29 6 57 10 15 317 7 75 CC SE CGM CMP MBB CM 0.1 CTQ Figura 4 - Fenograma construído a partir da distância genética Dc pelo método UPGMA 288 ANEXO 4 - Fenogramas obtidos com o método UPGMA SL CB BEDM CC MB 27 17 17 18 4 9 1 CMP 51 97 CA MP SE 0.01 CGB MBB CTQ CM CGM Figura 5 - Fenograma construído a partir da distância genética DS pelo método UPGMA 289 ANEXO 5 Tabelas do capítulo 4 ANEXO 5 - Tabelas do capítulo 4 Tabela 1 - Ordenadas dos nós do dendograma de WEITZMAN baseadas nas distâncias DS e DE. Representativa CM CGB MP CMP BEDM MP SL SL MB CB CB CA CA DS Ligação Distância Acumulada CTQ 0,045 0,045 CGM 0,066 0,111 CGB 0,080 0,191 MBB 0,089 0,280 CM 0,090 0,370 BEDM 0,093 0,463 SE 0,101 0,564 CMP 0,101 0,664 MP 0,104 0,768 CC 0,125 0,893 SL 0,144 1,036 CB 0,213 1,250 MB 0,235 1,485 DE Representativa Ligação Distância Acumulada CM CTQ 0,030 0,030 CGB CGM 0,038 0,068 BEDM CGB 0,050 0,118 MBB CMP 0,053 0,171 MBB SE 0,054 0,225 MP BEDM 0,056 0,280 MB MP 0,059 0,339 MBB CM 0,062 0,401 CC MBB 0,068 0,469 CB CC 0,076 0,545 MB SL 0,084 0,629 CB MB 0,119 0,748 CA CB 0,138 0,885 Ilustração 2 - Dendograma de WEITZMAN entre as 14 raças portuguesas de ovinos, baseado na distância DS. 293 ANEXO 5 - Tabelas do capítulo 4 Tabela 2 - Valores da diversidade marginal e ordem de prioridade de conservação, calculados a partir das distâncias DS e DE. DS V(S) Raça BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP SE SL 1,485 V(S\i) 1,394 1,257 1,335 1,367 1,414 1,419 1,418 1,394 1,441 1,260 1,396 1,389 1,390 1,377 DE dV(i) 0,091 0,228 0,150 0,118 0,072 0,066 0,067 0,092 0,045 0,226 0,089 0,096 0,095 0,108 dV(i)(%) 6,1 15,4 10,1 8,0 4,8 4,5 4,5 6,2 3,0 15,2 6,0 6,5 6,4 7,3 0,885 V(S-i) 0,830 0,748 0,785 0,815 0,842 0,847 0,834 0,832 0,856 0,784 0,826 0,830 0,831 0,813 dV(i) 0,055 0,138 0,100 0,070 0,044 0,038 0,051 0,053 0,030 0,102 0,060 0,056 0,054 0,073 Ordem de prioridade dV(i) (%) 6,2 15,6 11,3 8,0 5,0 4,3 5,8 6,0 3,3 11,5 6,7 6,3 6,1 8,2 DS CA MB CB CC SL MP SE CMP BEDM MBB CGB CM CGM CTQ DE CA MB CB SL CC MBB MP BEDM SE CMP CM CGB CGM CTQ V(S) - Diversidade total; V(S\i) – Diversidade total sem a raça i; dV(i) e dV(i)(%)- perda de diversidade, absoluta e relativa ("marginal"), respectivamente, associada ao desaparecimento da raça i. Tabela 3 - Valores da diversidade marginal e ordem de prioridade de conservação, considerando um grupo seguro constituído pelas raças CTQ, MB e SE, com base nas distâncias DS e DE. DS V(S) Raça 1,485 V(S\i) dV(i) DE dV(i) dV(i) (%) (%Seg) Seguro 1,115 0,370 24,9 Seguro + i BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP MBB MP SL 1,025 0,912 0,988 0,992 1,043 1,049 1,024 1,026 1,026 1,020 0,983 0,461 0,574 0,497 0,493 0,442 0,437 0,461 0,459 0,460 0,466 0,503 31,0 38,6 33,5 33,2 29,8 29,4 31,1 30,9 31,0 31,3 33,9 24,4 54,9 34,3 33,1 19,3 17,9 24,6 24,0 24,2 25,7 35,8 0,885 V(S-i) dV(i) Ordem prioridade dV(i) dV(i) (%) (%Seg) 0,700 0,185 20,9 0,645 0,562 0,594 0,630 0,656 0,662 0,638 0,647 0,641 0,643 0,609 0,240 0,323 0,292 0,256 0,229 0,223 0,247 0,238 0,244 0,242 0,277 27,1 36,5 33,0 28,9 25,9 25,2 27,9 26,9 27,6 27,3 31,2 29,8 74,4 57,5 38,0 23,7 20,5 33,5 28,7 31,8 30,7 49,3 DS DE CA SL CB CC MP CM BEDM MBB CMP CGB CGM CA CB SL CC CM MBB MP BEDM CMP CGB CGM V(S) - Diversidade total; V(S\i) – Diversidade total sem a raça i; dV(i) e dV(i)(%)- perda de diversidade, absoluta e relativa, respectivamente, associada ao desaparecimento da raça i comparativamente ao total; dV(i)(%Seg)– Perda de diversidade relativa, associada ao desaparecimento da raça i quando consideramos apenas a conservação do grupo seguro {[dV(seguro+i)dV(seguro)]/dV(seguro)*100}. 294 ANEXO 6 Tabelas do capítulo 5 ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 Tabelas 1 – Eficácia de Atribuição e Erro Tipo II para cada um dos métodos de atribuição testados na opção “as is”. Método Bayesiano (“as is”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 50 CGM 51 CM 48 1 39 1 1 1 42 1 1 MB 59 1 MBB 39 MP 47 SE 51 1 1 1 47 1 1 1 45 2 1 3 86,7 46 2 1 1 1 92,2 93,8 3 1 1 2 0,3 0,5 1,1 1,0 54 1 1 2 33 1 84,6 1 1 42 89,4 1 0,8 86,8 87,5 1 0,6 1,1 91,5 88,2 45 1 0,3 0,8 0,3 1 3 49 2 93,5 84,0 1 1 2 1 2 1 0,2 EA 100,0 29 53 50 1 50 56 683 2 53 CTQ Total 1 SL 100,0 CMP SL 1 SE 1,1 49 0,9 0,5 Erro Tipo II 98,0 60 NIMA N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos Método Frequentista (“as is”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 1 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 50 CGM 51 46 2 CM 48 1 44 CMP 53 CTQ 56 1 3 1 MB 59 1 1 1 MBB 39 MP 47 SE 51 1 1 SL 50 1 1 Total 683 0,8 0,3 1,7 0,6 36 1 1 1 1 1 SE 2 SL EA 1 80,0 100,0 53 1 47 1 1 1 27 1 1 1 1 40 1 1 3 4 2 1 2 3 1 1 41 2 1 50 1 2 2 84,7 2 30 1 3 76,9 1 2 38 1 1 1 1 0,3 1,9 0,8 1,8 0,8 1,9 2 80,9 86,3 44 1,4 46 1,7 0,5 Erro Tipo II N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos 297 79,2 73,2 2 1,1 91,7 2 2 2 80,0 90,2 2 42 1 2 1 1 87,1 1 3 1 94,0 1 1 2 1 92,0 99 NIMA ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 Método Distância DAS (“as is”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 22 2 10 1 4 1 SE SL EA 2 3 48,9 100,0 53 100,0 50 1 2 1 23 50 7 9 1 CGM 51 3 9 CM 48 CMP 53 2 2 5 CTQ 56 3 11 MB 59 3 3 MBB 39 2 3 MP 47 6 6 SE 51 1 SL 50 1 1 Total 683 0,5 1 3 23 1 1 1 1 1 1 3 1 26 6 1 1 1 43 1 4 2 12 37 1 17 2 2 4 7 1 4 2 1 5,1 11,1 0,8 0,2 0,9 6,1 1 1 1 2 1 46,0 1 1 1 1 2 74,2 1 1 2 1 49 3 69,8 30,4 1 2 83,1 2 20 1 4 51,3 3 3 1 21 2 44,7 2 1 37 2 72,5 1 1 40 80,0 2,7 1,6 222 2,1 1 89,6 1 3 51,0 0,6 1,8 0,8 0,9 Erro Tipo II NIMA N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos Método Distância DC (“as is”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 3 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 50 CGM 51 3 CM 48 1 CMP 53 1 2 CTQ 56 3 5 MB 59 MBB 39 MP 47 SE 51 1 1 SL 50 1 1 Total 683 0,6 1,1 3,4 0,5 34 1 2 1 SE 2 SL EA 2 75,6 100,0 53 100,0 50 1 1 1 1 2 26 1 36 1 2 2 37 6 2 1 1 1 1 2 3 44 1 11 1 29 1 1 1 1 1 0,5 0,3 1 1 3 2 2 1 5,0 2 3 2 1 2 44 1 1 83,9 1,8 3 1,1 1 72,0 72,5 1 3 50 2 2 1 0,5 91,7 1 83,0 1 51,8 4 1 84,7 27 1 2 69,2 2 35 1 2 2,1 2,1 74,5 41 2 80,4 1 37 92,5 1,0 0,9 130 Erro Tipo II N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos 298 NIMA ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 Método Distância DA (“as is”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 5 30 1 1 1 2 SE SL EA 3 2 66,7 100,0 53 CB 50 CC 31 100,0 CGB 50 CGM 51 4 CM 48 1 44 CMP 53 1 3 3 CTQ 56 3 MB 59 MBB 39 MP 47 SE 51 SL Total 50 1 1 1 24 2 1 1 2 30 1 1 2 4 34 7 2 3 3 1 60,0 2 1 1 66,7 1 91,7 1 81,1 2 1 12 1 27 1 1 1 49 2 2 1 1 3 2 26 1 3 4 3 1 1 3 29 1 3 1 3 50 1 1 1 683 0,6 1,6 4,9 0,5 5 1 1 1 2 3 1 0,2 0,3 5,4 2,5 1 3 1 1,8 0,6 3 1 2,2 1,7 48,2 1 1 83,1 66,7 61,7 40 1 78,4 2 45 90,0 2,1 0,8 159 Erro Tipo II N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos 299 77,4 2 43 2 1 NIMA ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 Tabelas 2 – Eficácia de Atribuição e Erro Tipo II para cada um dos métodos de atribuição testados na opção “Leave one out”. Método Bayesiano (“Leave one out”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 CB 50 1 CC 31 2 CGB 50 3 CGM 51 2 CM 48 1 CMP 53 CTQ 56 MB 59 1 MBB 39 1 MP 47 2 1 26 2 SE 51 1 SL 50 3 Total 683 2,7 2 2 15 3 3 1 3 57,8 4 1 1 1 2 1 70,0 1 48,4 2 1 1 3 1 1 1 32 2 1 1 3 1 5 1 64,0 2 4 27 3 1 3 3 1 3 52,9 1 2 1 1 1 3 1 1 1 33 2 7 2 1 1 1 4 3 30 4 1 2 5 4 2 10 1 3 2 EA 98,1 3 35 1 1 SL 1 52 1 3 SE 1 1 2 3 1 0,8 2,1 1,2 4 3,3 68,8 1 56,6 4 37,5 21 1 6 5 3 44 1 7 1 74,6 1 5 3 17 2 3 43,6 2 2 6 2 22 1 46,8 1 2 2 34 1 1 1 2 3 3 1 1 2 3 2,7 3,6 2,4 6,4 2,2 3,6 4,9 66,7 38 76,0 3,2 1,6 257 Erro Tipo II NIMA N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos Método Frequentista (“Leave one out”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 CB 50 CC 31 2 CGB 50 1 CGM 51 1 CM 48 1 CMP 53 1 CTQ 56 3 22 2 1 1 3 1 2 3 2 EA 1 2 48,9 98,1 1 3 19 1 2 29 1 2 2 1 5 2 4 22 5 2 1 2 32 1 9 1 1 4 1 4 29 4 4 1 3 1 13 2 20 1 1 1 1 1 1 2 3 4 1 2 59 1 1 1 39 1 1 2 MP 47 SE 51 1 2 SL 50 2 1 1 1 Total 683 1,7 0,8 3,2 1,8 3,5 1,3 3 2 1 5,4 86,0 2 1 MBB 1 3 1 MB 3 1 1 43 1 1 SL 1 52 1 4 SE 2 3 3 4 1 5 61,3 1 58,0 43,1 2 1 66,7 2 1 2 2 54,7 5 4 1 1 35,7 44 3 5 2 3 16 1 6 1 41,0 2 3 4 23 1 1 48,9 3 2 1 4 1 34 1 2 1 2,5 5,7 1,9 Erro Tipo II 4 4,3 2,8 74,6 66,7 37 74,0 4,7 1,4 261 NIMA N – Número de Animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos 300 ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 Método Distância DAS (“Leave one out”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 8 4 17 1 1 7 1 SE SL EA 2 4 17,8 100,0 53 1 49 1 2 8 10 2 50 8 10 3 11 CGM 51 4 11 CM 48 1 8 CMP 53 3 8 5 1 1 3 6 1 2 10 8 2 1 1 1 31 2 3 1 7 28 1 1 1 2 1 3 1 22,0 1 3 4 2 19,6 1 3 3 56 5 14 2 15 1 5 2 MB 59 3 4 1 1 3 1 43 MBB 39 2 5 2 2 2 1 3 MP 47 6 10 1 4 4 6 SE 51 1 10 2 2 2 SL 50 2 1 5 1 2 3 1 1 Total 683 0,6 1,7 8,8 4,1 3,0 1,7 1 6,3 17,4 1,4 0,5 1,3 32,3 1 CTQ 1 1 3 98,0 1 64,6 1 4 3 52,8 8,9 1 2 72,9 15 1 5 38,5 1 9 5 19,1 1,1 32 2 62,7 2 32 64,0 4,6 2,2 347 Erro Tipo II NIMA N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos Método Distância DC (“Leave one out”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 6 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 50 CGM 51 8 CM 48 2 CMP 53 1 6 CTQ 56 3 8 MB 59 1 1 3 MBB 39 2 MP 47 SE 51 1 SL 50 2 3 Total 683 1,3 2,7 9,3 0,8 17 2 1 2 4 2 2 2 SL EA 4 3 37,8 1 52 1 48 2 SE 2 4 13 4 7 2 1 17 1 4 2 2 3 5 20 8 2 2 37 2 3 1 7 34 1 1 18 3 11 5 1 5 19,6 1 2 1 44 2 2 2 74,6 1 4 4 2 17 1 4 1 1 4 1 1 96,0 1 1 2 98,1 41,9 2 3 1 34,0 3 1 9 39,2 2 77,1 1 1 1 64,2 43,6 5 4 5 4 1 4 3 19 2 1 6 1 3 1 1 1 1 34 1 66,7 1 4 2 1 2 3 32 64,0 1,3 8,5 5,2 3,0 1,6 5,5 1,1 288 0,3 3,0 1,9 40,4 Erro Tipo II N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos 301 NIMA ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 Método Distância DA (“Leave one out”) N BEDM CA CB CC CGB CGM CM CMP CTQ MB MBB MP BEDM 45 CA 53 CB 50 CC 31 CGB 50 CGM 51 CM 48 CMP 53 6 23 2 2 2 2 2 2 SE SL EA 2 2 51,1 100,0 53 1 48 2 2 2 16 3 6 2 17 5 2 1 1 1 1 5 1 1 CTQ 56 1 3 7 1 MB 59 2 1 1 1 MBB 39 2 MP 47 SE 51 1 2 SL 50 1 2 Total 683 1,6 2,2 6,5 1,5 5 1 1 2 4 4 4 20 8 3 2 37 1 4 1 2 7 31 1 1 1 17 3 13 1 2 4 2 1 1 96,0 1 51,6 3 3 2 34,0 3 1 7 39,2 1 77,1 1 1 2 2 1 4 1 1 43 3 6 1 58,5 23,2 72,9 1 3 4 3 17 1 4 5 2 3 4 3 22 1 3 2 1 1 1 2 36 2 70,6 1 2 1 2 1 3 37 74,0 1,4 8,3 3,5 3,7 1,8 4,0 1,4 270 1 0,9 1 1 3,1 2,7 1 46,8 Erro Tipo II N – Número de animais, EA – Eficácia de atribuição (%), NIMA – Número de indivíduos mal atribuídos 302 43,6 NIMA ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 303 ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 304 ANEXO 6 - Tabelas do capítulo 5 305