A inclusão escolar e professores que ensinam Matemática:
algumas considerações a partir de uma pesquisa
Erica Aparecida Capasio Rosa
Unesp, Rio Claro/SP, Brasil
[email protected]
Ivete Maria Baraldi
Unesp, Bauru/SP, Brasil.
[email protected]
Comunicação Oral
Pesquisa Finalizada
Resumo Expandido.
Este texto têm a intenção de colocar em destaque o tema inclusão
escolar, especificamente discutir sobre a inclusão de alunos com
deficiência nas salas de aulas regulares de Matemática. Para isso
utilizaremos as narrativas produzidas na dissertação de Rosa (2014)
intitulada: “Professores que ensinam matemática e inclusão escolar:
algumas apreensões” que teve como objetivo “elaborar uma compreensão
sobre a inclusão de alunos com deficiência, transtorno global do
desenvolvimento, altas habilidades e superdotação no cotidiano escolar
das aulas de Matemática”.
Para elaborar tal compreensão utilizou-se narrativas constituídas por meio
da História Oral como metodologia de pesquisa. A pesquisa foi composta
por nove narrativas orais de professores que ensinam matemática, sendo
que sete são professores de Matemática e duas são professoras de
educação especial. Ao analisarmos as narrativas, três temas foram
destacados e se tornaram as seguintes categorias de análise: “À primeira
vista”, na qual foram discutidas as sensações dos professores que
ensinam Matemática ao observar que em sua sala de aula há alunos com
deficiências, bem como as sensações
das professoras de educação
especial em relação ao conteúdo de matemática que comumente tinham
que ensinar para as crianças com deficiência e do qual, às vezes, não
tinham domínio. Na segunda categoria - “Formação” - foi discutida
a
formação dos professores entrevistados em relação à educação especial
e em relação à Matemática para a inclusão, fazemos também uma análise
sobre a formação continuada do município em que foi realizada a
pesquisa assim como uma reflexão sobre a formação do professor na
perspectiva da educação inclusiva. E o terceiro tema destacado gerou a
categoria “Que escola é essa?” onde foi debatido sobre que escola temos
atualmente. Gostaríamos de ressaltar, embora houvesse a necessidade
de estabelecer essas categorias, os temas foram transversais e
atravessaram toda a dissertação.
Nesse trabalho, portanto, a partir da pesquisa esboçada anteriormente,
apresentaremos um panorama histórico enfocando a marginalidade das
pessoas com deficiência em relação à sociedade e à escola, bem como
as mudanças em termos de políticas públicas brasileiras referentes à
educação especial numa perspectiva inclusiva (RODRIGUES, 2008).
Além desse panorama, pretendemos discutir sobre a formação do
professor (de Matemática) na perspectiva da educação inclusiva
(VITALIANO; VALENTE, 2010). Para isso, utilizaremos alguns trechos das
narrativas produzidas na dissertação de Rosa (2014). Por exemplo, a
narrativa de uma das professoras entrevistadas “Nas escolas temos todas
as mazelas, todo tipo de problema, aluno que passa fome, aluno que é
molestado por familiares, aluno que tem pais presos, aluno que viu pais
morrerem. E quanto mais a escola está inserida numa realidade social
mais pobre ou numa comunidade com mais problemas; a questão da
droga é muito forte, e quanto mais esse aluno está inserido nestes
problemas, mas difícil é a escola...” nos permite mostrar que a inclusão
escolar atravessa a sala de aula passando por todo o contexto em que
cada escola está inserida.
Outro trecho que podemos destacar é um que se refere ao cotidiano
escolar e aos alunos com deficiência: “Atualmente, com esses dois
alunos, só uma vez que eu vi um coleguinha convidando-os para o
lanche, os outros não, saem correndo e esquecem deles. A professora de
EE sempre vai buscá-los, sempre ficam sentadinhos e não vão na onda
das crianças, se eu deixar, eles ficam o tempo todo sentadinhos na sala
de aula. É triste de ver isso, mas é assim a todo o momento”. Ele nos
permite perceber uma exclusão daqueles alunos pelos seus colegas,
mostrando que ainda é preciso trabalhar essas situações na sala de aula
de Matemática e na escola como um todo. Em relação ao conteúdo
matemáticos, um trecho de narrativa da mesma professora destacada
acima, esboça o trabalho realizado e faz com que percebamos que a
formação do professor que ensina Matemática ainda é bastante
deficitária, quando se trata da inclusão de alunos com deficiência:
“Trabalhar matemática com esses dois alunos com deficiência que tenho
atualmente é muito difícil, quando eu trabalho com números inteiros eu
desenho o número negativo e dou para eles pintarem, uma montagem”.
Por meio das narrativas dos professores que ensinam Matemática,
portanto, pretendemos mostrar que as discussões sobre inclusão são
várias e também em muitos segmentos que envolvem etnia, desigualdade
social entre outros temas. Leis sobre a inserção dos alunos com
deficiência estão sendo estabelecidas e implantadas sem estrutura física
e social adequada para torná-las realidade, é o que denunciam os
professores. E são os professores que sofrem com as políticas públicas,
pois estão em exercício na sala de aula e tendo que atender a todos os
alunos com qualidade. Ainda, que os professores não são os únicos
responsáveis pela educação e sim todos que estão envolvidos com a
educação, por exemplo, a equipe gestora da escola, a família e os
administradores políticos. A educação inclusiva exige mais do que leis,
necessita de postura profissional diferenciada, material adaptado, salas
de recursos, cursos de aperfeiçoamento, ou seja, um novo olhar para a
educação.
Além de transformar a escola, a formação inicial e continuada dos
professores que ensinam Matemática precisa ser repensada. A formação
inicial, atualmente, ainda está muito aquém de abordar a inclusão escolar
com a devida profundidade e abrangência, deixando que alguns alunos
da licenciatura, futuros professores, sejam ignorantes sobre essa
temática. Não podemos esquecer que a Declaração de Salamanca, há 20
anos, preconizava a inclusão escolar e anunciava a necessidade da
formação do professor, tanto a inicial quanto a continuada.
Enfim, pretendemos mostrar que a partir da pesquisa realizada também
pudemos compreender e olhar o outro como um ser singular e que
merece respeito independente de sua etnia, deficiência, cor e outros
nomes que damos às pessoas para diferenciar do que chamamos de
normal. Aprendemos que a educação escolar inclusiva não se refere
apenas às pessoas com deficiência e sim a todos aqueles que
permaneceram às margens de uma sociedade que há séculos luta por
igualdade e justiça social. Para alcançar uma sociedade justa, com
escolas novas, deveriam existir práticas que permitam a inclusão, de
todos, de um modo geral.
Palavras chave: Inclusão escolar, Educação Matemática, Formação de
Professores.
Referências:
Rosa, Erica Aparecida Capasio. Professores que ensinam Matemática e a
inclusão escolar: algumas apreensões. 2014. 161f. Dissertação (Mestrado em
Educação Matemática). Universidade Estadual Paulista, Rio Claro (SP). 2014.
RODRIGUES, Olga Maria Piazentin Rolim. Educação Especial: história,
etilogia, conceitos e legislação vigente In: Capellini, Vera Lucia M F. (org.)
Práticas em educação especial e inclusiva na área da deficiência mental.
Bauru: MEC/FC/SEE, 2008.
VITALIANO, Célia Regina. VALENTE, Silza Maria Pasello. A formação de
professores reflexivos como condição necessária para a inclusão de
alunos com necessidades educacionais especiais. In VITALIANO, Célia
Regina (org.) Formação de professores para a inclusão de alunos com
necessidades educacionais especiais. 1ª ed. – Londrina, PR: EDUEL,
2010.
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