UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU DOUTORADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA MESAQUE SILVA CORREIA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR NA ESCOLA PÚBLICA: a construção da realidade desejada na imperfeição do fazer diário SÃO PAULO – BRASIL 2013 1 MESAQUE SILVA CORREIA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR NA ESCOLA PÚBLICA: a construção da realidade desejada na imperfeição do fazer diário Texto apresentado à banca de defesa de Tese como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Educação Física no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade São Judas Tadeu. Linha de Pesquisa: Educação Física, Escola e Sociedade. Orientadora: Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda. SÃO PAULO – BRASIL 2013 2 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu Bibliotecário: Ricardo de Lima - CRB 8/7464 C824e Correira, Mesaque Silva Educação física escolar no contexto da educação popular na escola pública: a construção da realidade desejada na imperfeição do fazer diário / Mesaque Silva Correira. - São Paulo, 2013. f.278: il. ; 30 cm. Orientador: Maria Luiza de Jesus Miranda. Dissertação (doutorado) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2013. 1. Educação física escolar. 2. Educação Popular. 3. Pedagogia Feireana. I. Miranda, Maria Luiza de Jesus. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física. III. Título CDD 22 – 796 3 MESAQUE SILVA CORREIA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR NA ESCOLA PÚBLICA: a construção da realidade desejada na imperfeição do fazer diário BANCA EXAMINADORA TITULAR: __________________________________________ Profª. Drª. Ana Cristina Passarella Brêtas Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP __________________________________________ Profª. Drª. Marília Velardi Universidade Estadual de São Paulo – USP __________________________________________ Profª. Drª. Sheila Aparecida. S. Silva Universidade São Judas Tadeu – USJT __________________________________________ Profª. Drª. Elisabete dos Santos Freire Universidade São Judas Tadeu – USJT __________________________________________ Profª. Drª. Maria Luiza de Jesus Miranda BANCA EXAMINADORA SUPLENTE: __________________________________________ Profº. Drº. Marcos Garcia Neira Universidade Estadual de São Paulo – USP __________________________________________ Profª. Drª. Graciele Massoli Rodrigues Universidade São Judas Tadeu - USJT SÃO PAULO – BRASIL 2013 4 O SONHO DAS ESCOLAS COMUNITÁRIAS1 Eu não diria que haja grandes antagonismos entre as escolas comunitárias que conheço, mas que elas têm diferenças: sonhos, competências e gostos diferentes, pedagogias parecidas mas não necessariamente iguais. Há também uma certa conotação em sua natureza que abarca a todas, uma espécie de sonhos e de impulso aberto e democrático. As escolas comunitárias nascem de um desejo e de uma utopia ─ o desejo de fazer e de servir. Quando ela se distancia da possibilidade de diálogo de abertura, perde seu endereço histórico, político, cultural, perde sua identidade e aí deveria apagar o atributo comunitário, porque já não é. Existe nas escolas comunitárias ─ particulares ou públicas ─ um ímpeto de prestar serviço e formar. O sentido de formação e a responsabilidade do processo de formar numa escola comunitária está muito mais demandado. Ela exige muito mais, pela sua própria natureza. Do ponto de vista das classes populares, vemos que as escolas comunitárias foram e vem sendo uma invenção a que as classes trabalhadoras se entregaram no sentido de formar seus filhos, reagindo ao descaso do governo com relação à educação. Na minha compreensão política as massas não devem substituir o Estado. A escola popular comunitária deve, de um lado trabalhar para a formação dos próprios filhos e de outros, fustigar o governo, criticando e exigindo que ele cumpra o seu dever. Acho que uma das brigas fundamentais que o educador brasileiro deve ter hoje é a briga pela escola pública. PAULO FREIRE, em palestra na Escola Comunitária de Campinas, publicada em “O Comunitário, março de 1994, nº. 38, ano VI, p.6 1 5 Pode parecer até uma grosseria da minha parte estar aqui dizendo isso, numa escola que não é pública. Mas não! Eu tenho todo o respeito por esta escola e digo mais, acho que deveriam existir muitas escolas assim. O governo, numa perspectiva democrática, não teria jamais o direito, nem a insanidade de, em nome do poder público fechar o privado. Esta escola deve continuar existindo, mas deve apoiar a briga em favor da escola pública. 6 AGRADECIMENTOS Durante o tempo em que passei desenvolvendo este estudo, recebi ajuda de diferentes fontes, hoje, momento em que finalizo mais uma etapa da minha vida acadêmica, não poderia deixar de agradecer a essas pessoas que, até mesmo sem saber, e sem que eu pudesse evitar, ajudaram-me tanto. Àquele que tem o controle de todas as coisas, Deus. Que me iluminou no decorrer dessa caminhada e me dotou de ensinamentos e sabedoria para realizar este estudo; As minhas filhas Isabele Correia Neves e Steffany Correia Neves pela inteligência ao perceber minhas angústias e a sabedoria de me acompanhar passo a passo sempre que possível; Ao meu amigo e companheiro Edmar Neves, sempre presente em todos os momentos ─ muito obrigado por ter compartilhado com amor e carinho a iniciação, construção e finalização deste trabalho, sempre acreditando que o seu final seria um sucesso; A minha mãe Raimunda Silva Correia que com sapiência e paciência me educou e me ensinou a respeitar e valorizar os meus semelhantes e por me mostrar com o seu carinho que as dificuldades que encontramos no caminho podem se transformar em desafios quando existe determinação e confiança; As minhas irmãs e irmãos pelas palavras de incentivo; As minhas amigas Alessandra Barreto e Bruna Marques pelos conhecimentos construídos e compartilhados; pelos momentos inesquecíveis que vivemos e por estarem sempre dispostas a me ouvir e a contribuir com meu 7 amadurecimento intelectual, às vezes, me decepcionando com o objetivo de me verem crescer ─ Amigas/irmãs tenham a certeza de que tudo, tudo valeu a pena! Aos professores da Pós - graduação por terem contribuído à minha formação; Àqueles que mobilizados, aceitaram ao desafio de conviver com incertezas: educadores da Escola Estadual de Educação Popular Professor Paulo Freire que participam desse processo de pesquisa e ação da prática educativa. À minha amiga e orientadora professora Marília Velardi que no decorrer desse estudo esteve sempre disposta a me ouvir e ajudar ─ amiga, meus sinceros agradecimentos, não apenas pela cooperação, mas pela dedicação, carinho, amizade, paciência e pelas valiosas contribuições e sugestões para o aprimoramento deste trabalho, bem como por ter me dado condições de expressar qualitativamente os eventos ocorridos no ambiente pesquisado. À minha orientadora professora Maria Luiza de Jesus Miranda: mãe, amiga, cúmplice, que em nenhum momento duvidou da contribuição desse estudo para área da Educação Física. Ou melhor, para a formação humana e profissional dos educadores da escola Paulo Freire ─ minha querida amiga, espero que Deus me dê sabedoria para saber utilizar a trilha legada pelos seus inúmeros ensinamentos. A todos aqueles que com olhares silenciosos e cúmplice me ajudaram as horas difíceis. 8 Finalmente sou grato àCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, por ter financiado este estudo. 9 SUMÀRIO RESUMO........................................................................................................ 12 ABSTRACT.................................................................................................... 14 1- NAS ROTAS DO COTIDIANO ESCOLAR ─ MOVIDO POR UTOPIAS, BANHADO POR REALIDADES: o caminhar de um educador e pesquisador viajante................................................................................... 16 2- PREPARATIVOS DA VIAGEM ─ direcionando nossos olhares para os fundamentos da pesquisa qualitativa com viés participativo............. 26 3- A PARTIDA – a escola de Educação Popular idealizada pelo poder público amapaense...................................................................................... 40 3.1- A segunda descoberta ─ a escola viva................................................... 47 3.1.1- Sintetizando a segunda descoberta..................................................... 57 4- PRIMEIRA PARADA DO PERCURSO: momento de socialização a respeito da paisagem que foi ficando no caminho enquanto a viagem seguia.............................................................................................................. 62 5- RELATOS DOS CAMINHOS PERCORRIDOS EM BUSCA DE UMA ESCOLA ACOLHEDORA, E DE UMA EDUCAÇÃO DIALÓGICAPROBLEMATIZADORA................................................................................. 79 5.1- Princípios da Educação em Direitos Humanos como garantia a igualdade e a diversidade............................................................................... 96 5.2 – Caminhando nas esteiras da Educação em Direitos Humanos............ 101 6- CAMINHANDO RUMO À REESTRUTURAÇÃO DO PROJETO POLÌTICO-PEDAGÓGICO: trilhas a serem descobertas........................... 106 118 6.1- Ações empreendidas............................................................................... 6.2- Reflexão analítica do caminho percorrido e a emergência de um novo caminhar......................................................................................................... 135 139 7- DO DESNORTE VIVIDO A UTOPIA POSSÍVEL....................................... 7.1- Educação Física Escolar: uma experiência libertadora no contexto da Educação de Jovens e Adultos...................................................................... 142 10 7.2- Narração dos acordos............................................................................. 155 CONSIDERAÇÕES (FINAIS) SOBRE OS PERCURSOS DA VIAGEM ....... 158 REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO................................................................. 163 ANEXOS.......................................................................................................... 175 ANEXO – 1: Projeto Político-Pedagógico construído no ano de 1997........... 176 ANEXO – 2: Projeto Político-Pedagógico em fase de elaboração – iniciado no decorrer da pesquisa................................................................................. 204 11 RESUMO O presente estudo foi desenvolvido no interior da Escola Estadual de Educação Popular Professor Paulo Freire, pertencente ao sistema de ensino público amapaense. A referida escola foi criada com a utopia de vivenciar o desenvolvimento de uma Educação Popular no solo da escola pública e atender jovens e adultos que por inúmeras razões encontravam-se afastado do ambiente escolar. No entanto, com o passar dos anos por conta do descaso do poder público local seus reais motivos de existência foram aos poucos sendo esquecidos, e a escola que foi construída para atender o povo deixou de existir aos poucos e encontra-se em um processo de sucateamento total. Motivos esses que desencadeou na equipe de professores de Educação Física da referida escola a vontade de transformar o imobilismo o qual se encontravam em ação. Foram essas uma das razões que deram origem a estruturação desse estudo, que teve como objetivos de compreender o contexto político educacional no qual as aulas de Educação Física estavam sendo realizadas e identificar possibilidades de desenvolvimento de uma Educação Física crítica e emancipatória no contexto da educação popular na escola pública. Para tanto, estruturou-se um processo de pesquisa da prática educativa, em que estiveram envolvidos quatorze agentes escolares dentre eles a direção escolar, membros da equipe técnica pedagógica, quatro professores de Educação Física e professores de outros componentes curricular. Para dinamização do estudo e problematização da prática pedagógica os referidos participantes foram divididos em dois grupos ─ o grupo que caracterizei como geral em que dele participavam todos os sujeitos envolvidos no processo de pesquisa; e o grupo dos professores de Educação Física, grupo esse responsável em problematizar especificamente o trabalho desenvolvido em nossa área de conhecimento e atuação. Como técnica de coleta de dados, empregou-se a entrevista semiestruturada a qual foi aplicada à gestora escolar com o objetivo de obter maiores esclarecimentos sobre as bases filosóficas da escola e o momento político em que a escola foi pensada. Fez-se uso da dinâmica do Círculo 12 de Cultura para problematização do cotidiano escolar. Como instrumentos de coleta de dados, utilizou-se o diário de campo, registros fotográficos e gravações de alguns depoimentos realizados no momento de dinamização do Círculo de Cultura. A realização dessa investigação revelou que o desenvolvimento de uma educação crítica e emancipatória, no cotidiano da Educação Popular na escola pública, só é possível mediante a formação crítica dos educadores, que ocorrerá no processo democrático da educação, isto é, da tentativa de se construir a autonomia intelectual e profissional do educador juntamente com a autonomia social da instituição educativa, do contrário a garantia da política oficial do governo continuará permeando os espaços educativos e a escola continuará sendo um aparelho ideológico do Estado responsável pela produção e reprodução das desigualdades sociais enquanto legitimadora das desigualdades existentes, independente da nomenclatura a ela atribuída. Mediante os debates e conflitos suscitados com o grupo de professores de Educação Física, e pelos acordos fomentados no decorrer do processo de formação, conclui-se que as aulas de Educação Física desenvolvidas na escola poderão formar um aluno (a) crítico (a) capaz de exercer sua cidadania plena na vida em sociedade, e, especificamente, no que concerne ao acesso, ao consumo e à participação na cultura corporal. Enquanto educador freireano envolvido nesse processo de pesquisa e formação afirmo que é chegada a hora dos profissionais de Educação Física avançarem na descoberta de caminhos democráticos e participativos para o desenvolvimento de projetos educativos verdadeiramente comprometidos com a emancipação social, práticas utopicamente possíveis de realização e necessárias. Práticas estas que, pela dinâmica da vida social e escolar, apresentam-se como ações concretas e inacabadas, portanto, imperfeitas e parciais, mas que por meio delas, a Educação Física nas dependências da escola, poderá sair do status de obrigatoriedade para o de legitimidade. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física Escolar - Educação Popular - Educação freireana. 13 ABSTRACT This study was developed within the State School Adult Education Teacher Paulo Freire, belonging to the Amapá State education system. That school was created with the utopia of experiencing the development of popular education in the soil of public school and meet young people and adults who for various reasons were away from the school environment. However, over the years due to the neglect of local government their real motives of existence were gradually forgotten, and the school that was built to meet the people gradually ceased to exist and is in the process of scrapping total. These reasons that triggered the staff of the Physical Education teachers of that school will transform stasis which were in action. These were some of the reasons that led to the structuring of this study, which aimed to understand the educational policy context in which physical education classes were being held and identify opportunities to develop a critical and emancipatory Physical Education in the context of popular education in public school. To this end, a structured research process of educational practice, they were involved in fourteen school agents among them school management, teaching crew members, four physical education teachers and teachers of other curriculum components. To study the dynamics of teaching practice and questioning those participants were divided into two groups ─ the group characterized as general in which it participated in all subjects involved in the research process, and the group of physical education teachers, this group responsible for problematize specifically the work in our area of knowledge and activity. As a technique for data collection, we used a semi-structured interview which was applied to the school management in order to obtain further information about the philosophical underpinnings of the school and the political moment in which the school was designed . Made use of the dynamics of the Culture Circle for questioning the school routine. As instruments for data collection, we used the field diary, photographic records and recordings of some statements made at the time of energizing the Culture Circle. The realization of this investigation showed 14 that the development of a critical and emancipatory education, in everyday Popular Education in public schools, is possible only through critical training of teachers, which will take place in the democratic process of education , ie, the attempt to build intellectual and professional autonomy of the teacher along with the social autonomy of the educational institution, otherwise the guarantee of official government policy will continue permeating the educational spaces and the school will continue to be an ideological state apparatus responsible for the production and reproduction of social inequalities as legitimizing the inequalities , regardless of the nomenclature assigned to it . Through debates and conflicts arising with the group of physical education teachers , and encouraged by agreements during the training process, it is concluded that physical education classes developed at school may discipline a student ( a) critical ( a) able to exercise their full citizenship in society, and specifically with regard to access , consumption and participation in physical culture . While Freire educator involved in research and training process say that the hour of physical education professionals to advance the discovery of democratic and participatory ways to develop educational projects truly committed to social emancipation, utopian practices of achievement possible and necessary. These practices that the dynamics of social and school life, present themselves as unfinished concrete actions and therefore imperfect and partial, but through them, the Physical Education on school grounds, you can leave the status of the obligation to legitimacy. KEY WORDS: Physical Education – Popular Education – Freirean Education. 15 1- NAS ROTAS DO COTIDIANO ESCOLAR ─ MOVIDO POR UTOPIAS, BANHADO POR REALIDADES: o caminhar de um educador e pesquisador viajante O sonho viável exige de mim pensar diariamente a minha prática; exige de mim a descoberta, a descoberta constante dos limites da minha prática, que significa perceber e demandar a existência do que eu chamo espaços livres a serem preenchidos. O sonho possível tem a ver com os limites destes espaços e esses limites são históricos, [...]. A questão do sonho possível tem a ver exatamente com a Educação Libertadora, não com a educação domesticadora. A questão dos sonhos possíveis, repito, tem a ver com a Educação Libertadora enquanto prática utópica. Mas não utópica no sentido do irrealizável; não utópica no sentido de quem discursa sobre o impossível, sobre os sonhos impossíveis. Utópica no sentido de que é esta uma prática que vive a unidade dialética, dinâmica, entre a denúncia e o anúncio, entre a denúncia de uma sociedade injusta e expoliadora e o anúncio do sonho possível de uma sociedade que pelo menos seja menos expoliadora, do ponto de vista das grandes massas populares que estão constituindo as classes sociais dominadas (FREIRE, 1982, p. 100). A imagem e o fragmento acima são representações de um percurso iniciado no ano de 2003, momento em que adentrei na vida acadêmica e passei a realizar uma nova leitura de homem, escola e sociedade. 16 No decorrer deste caminho, tive contato com uma gama de literaturas com paradigmas humanizadores que me ajudaram na construção de uma visão de mundo também humanizadora. Desse modo, fui agraciado com o convívio próximo com educadores que me ajudaram na construção de uma visão de mundo pautada no clamor das classes populares. No que concerne às literaturas posso destacar os escritos de HABERMAN,1987; NIDELDOFF, 1987; 1992; KARL MARX, 1979, 1997; GRAMSCI, 1978, 1982; SCHON, 1987; GIROUX, 1992; MCLAREN, 1991, 1997; PAIS, 2003; MATURANA e VARELA, 2001, e especialmente os escritos de FREIRE, 1971, 1976, 1979, 1980, 1987, 1996, 1997, 1999, 2000, 2001, 2006, 2009. No curso de formação em Ciências Sociais as educadoras Lúcia Borges; Rose Maura Flexe; Maura Leal; No curso de Pedagogia a educadora Sandra Malheiro, Sumaya Costa Quemel e o educador Sérgio Coutinho, assim como no curso de Educação Física a Educadora Ethiene Cavalera e o educador Edmar Neves, pautados em uma pedagogia ativa possibilitaram a compreensão de que um turista geralmente vê não aquilo que faria falta ver, uma vez que, direciona seu olhar para aquilo que lhe é solicitado ver. Desta forma, vendo o que normalmente se vê, em seu caminhar como turista2, ele mais intui do que descobre, e guarda na memória as imagens que nem sempre são verdadeiras, mas que teve contato enquanto turista. Esse grupo de educadores me ensinou que é também assim que se desdobra o processo educacional em que o professor apenas se preocupa em 2 O termo “turista” trata-se de uma metáfora ora utilizado no seu sentido lato ora em seu sentido contextual e conotativo. 17 expor os conteúdos programáticos e manter a disciplina dos alunos no decorrer das aulas, direcionando sua ação educativa para a construção de um tipo ideal de homem e sociedade. No curso de formação de Mestrado e Doutorado os educadores/pesquisadores Edivaldo Gois Junior; Aylton Figueira Junior e as educadoras/pesquisadoras Eliane de Toledo; Ana Cristina Passarelas Brêtas; Ana Martha de Almeida Limongelli; Irene Conceição Andrade Rangel; Marília Velardi e Maria Luiza de Jesus Miranda, ensinaram-me a lição de que nas rotas do cotidiano o pesquisador corre o risco de vivenciar este papel de turista, ao limitar seus olhares a ver apenas o que seus quadros teóricos lhe permitem ver, ao preferir os “contextos de demonstração” aos de “descobrimento”; ensinaram-me que esses olhares limitados não levam a compreensão de que o pesquisador que caminha atento nas rotas do cotidiano pode teorizar as pequenas descobertas que vai realizando em plano periférico ─ teorização de contextos periféricos, mas não superficiais. Com base nesses ensinamentos, cheguei ao entendimento que o educador pesquisador precisa desempenhar um papel diferente do turista. Uma vez, que o caminho percorrido pelo turista é sempre um caminho pré-estabelecido, com rotas que quase sempre levam aos mesmos lugares, condicionam visões, limitam reflexões em decorrência das adaptações que vai realizando mediante o roteiro que o fazem percorrer. Compreendi que o pesquisador viajante precisa caminhar em sentido contrário ao do turista. Não pode ser orientado por uma rota totalmente estabelecida, que condiciona a viagem a lugares já visitados, e, consequentemente, acaba impossibilitando a construção de um percurso de 18 descobertas e de aventuras. Por esse motivo, mesmo tendo um guia teórico que direciona sua visão de homem e mundo, e ajuda na compreensão do fenômeno estudado, o pesquisador viajante não pode direcionar seu olhar para apenas àquilo que suas bases teóricas lhe permitem ver, pois pode correr o risco de privilegiar o factual em detrimento do simbólico, o visual em lugar do oculto, o plural em oposição ao singular. Ficando deste modo, intelectualmente alienado. Pois, “o mundo da vida não está dependente de teorias, muito embora estas o ajudem a criar” (PAIS, 2003, p. 53). Desde então, busco desempenhar o papel de pesquisador viajante. Assim tenho observado que quando viajo pelos espaços educativos, conforme o trajeto é percorrido, a paisagem do ambiente muda e os elementos de minha observação se transformam ─ Diversas metodologias de ensino/práticas educativas padronizadas; turmas homogenias/turmas heterogenias; modelos de ensino construídos para atender as exigências das políticas educacionais/práxis pedagógicas que buscam a conscientização humana; relações autoritárias entre professores e alunos/diálogos estabelecidos para construção do conhecimento. Ao observar toda essa diversidade de mudanças ocorridas nos ambientes educativos, percebo que em mim algo também se transforma e, assim com a utopia de um educador e as incertezas de um pesquisador viajante tenho buscado transitar nos espaços educativos munido de um olhar provisório, interino, experimental. Sabendo que os elementos que compõem determinado espaço educativo são frutos resultantes de visões de mundo que regem opções políticas. Neste sentido, enquanto educador/pesquisador tenho procurado desenvolver uma pedagogia do cotidiano, em que busco impregnar de sentido 19 todos os atos de minha ação educativa e compartilhar muito mais do que conhecimento ─ compartilho o mundo e as experiências vivenciadas. Numa sociedade como a nossa (fragmentada pelo capital), é preciso ensinar para o entendimento da necessidade a tolerância, e o respeito à diversidade. Por esse motivo, no decorrer do desenvolvimento da práxis pedagógica, desequilibro-me, duvido, suspeito, luto, tomo partido, faço-me presente no mundo. Pois como bem pontua Gadotti (2007, p. 42) “educar é posicionar-se, não se omitir”. Desta forma, acredito que: Não pode haver caminho mais ético, mais verdadeiramente democrático do que testemunhar aos educandos com pensamentos, as razões por que pensamos desta ou daquela forma, os nossos sonhos, os sonhos por que brigamos, mas ao mesmo tempo, dando lhes provas concretas, irrefutáveis de que respeitamos suas opções em oposição às nossas (FREIRE, 1993, 38). Por isso mesmo, a cada viagem, concretizo a certeza de que o conhecimento é luta para que, tanto as esfarrapadas quanto os esfarrapados do mundo, como todos os agentes sociais comprometidos em romper com as relações de opressão, participemos da construção de um mundo em que seja menos difícil amar, aceitar e tolerar o outro (que pensa e age diferente de mim, e que por isso mesmo merece respeito), um mundo que possamos reinventar de baixo para cima. Foi pensando desta forma que no ano 2008 realizei uma viagem a uma escola da rede pública de ensino amapaense que se caracterizava como freireana, ocasião em que investiguei a manifestação da violência simbólica no 20 cotidiano da escola pública, na relação professor-aluno, aluno-aluno. Tal investigação apontou que mesmo diante de um contexto educativo que se denominava freireano, o fenômeno da violência se manifestava de forma multifacetada e multicausal, e emergia de maneira silenciosa e articulada (CORREIA, 2010). Essa passagem anterior pela escola me aproximou da comunidade escolar e no ano de 2011, em um encontro casual com alguns professores de Educação Física da referida escola (que aqui chamarei de Professor Pedro3, Professor Ademir4 e Professora Ana Rita5), tive contato com as dificuldades que tem enfrentado no decorrer das atividades educacionais, atividades estas que segundo os professores têm sido desenvolvidas num contexto de deterioração do ensino e da instituição educativa. Segundo os professores: Professora Ana Rita: A escola Paulo Freire atualmente encontra-se em um processo de sucateamento total, temos desenvolvido nossas atividades em um contexto educativo precário. As aulas de Educação Física tem sido realizadas aos trancos e barrancos. Não temos materiais didáticos pedagógicos, nem espaço físico adequado para desenvolvimento das aulas práticas. Professor Pedro: Além dessa situação, o que tem nos incomodado é o fato que nossa escola é denominada de escola freireana, no nosso Projeto político Pedagógico somos orientados por essa pedagogia, no entanto, francamente! Quase nada sabemos dessa pedagogia – isso tem nos incomodado há algum tempo. Professor Ademir: Na verdade, o que “eu” acho, é que durante um bom tempo nos vitimizamos frente a essa situação, mas gostaríamos de fazer algo para reverter esse quadro. Não queremos mais que nossos alunos tenham seu processo educativo fragmentado. Parece brincadeira, mas como 3 Professor Efetivo do quadro do Estado desde 1996. Professor Efetivo do quadro do Estado desde 2001. 5 Professora do Contrato administrativo desde 2008. 4 21 disse a professora Rita nossa escola nem quadra e nem refeitório possui. Professor Pedro, e insisto, a educação por nós exercida é mais tradicional do que libertaria. Professora Ana Rita: estamos falando essas coisas com você, porque temos liberdade, devido sua pesquisa realizada aqui na escola. Você naquela época fez com que nós pensássemos melhor no trabalho desenvolvido. Professor Pedro: Verdade, como você tem estudado sobre a pedagogia freireana quem sabe você não pode nos ajudar. Outro olhar para nossa atividade docente eu acho importante (algumas dicas já ajudam). Através dessa conversação, percebi que havia, de forma ampla e oficializada, a preocupação assumida por parte desses educadores de pensar alternativas para o desenvolvimento de uma Educação Física crítica e emancipatória, que fosse coerente com os princípios filosóficos da escola. Naquele momento, fiz daquelas falas as seguintes leituras: estão percebendo a necessidade de fazer com que o imobilismo ao qual se encontram seja transformado em ação; estão percebendo que precisavam dar a si mesmo um sentido à prática educativa ─ um sentido que floresça da análise e da reflexão da própria realidade cotidiana; estão compreendendo que chegou o momento de elaborar a própria experiência educativa pautada na compreensão da realidade, e, quem sabe, a partir da reflexão da realidade vivida possam contribuir para que a escola onde desenvolvem suas ações educativas, seja de fato o que deveria ser, freireana. Portanto, dada à necessidade de problematizar a ação educativa, naquele contexto rico pela vontade de modificação por parte do grupo de educadores, mas ao mesmo tempo miserável pelo descaso do poder público, minha trajetória como 22 pesquisador estava novamente diante do compromisso de acompanhar uma ação educativa em situações de problematização da práxis pedagógica e minha aprendizagem acadêmica entrelaçada ao trabalho docente. Uma vez que, concebo que o pesquisador educacional precisa descobrir-se construtor de mundos, em que ao problematizar o cotidiano escolar participe ativamente do processo de criação das verdades da Ciência que faz. Inspirado em Marx (1979), diria: “o caráter terreno do pensamento humano é a práxis”. Dessa forma, em meio a muitas utopias manifestadas neste reencontro com os professores de Educação Física, encontramos motivação para buscar resposta para o seguinte questionamento: Dê que forma é possível desenvolver uma Educação crítica e emancipatória voltada para os segmentos marginalizados da sociedade, considerada as limitações com as quais vivemos na esfera pública estatal? Sendo assim, iniciamos uma viagem coletiva com o intuito de compreender o contexto político educacional no qual as aulas de Educação Física estavam sendo realizadas, assim como de como identificamos possibilidades de desenvolvimento de uma Educação Física crítica e emancipatória no contexto da educação popular na escola pública. Portanto, como educador e pesquisador viajante, iniciei a viagem com a comunidade escolar orientado pelos fundamentos teóricos e epistemológicos da pesquisa-ação. No entanto, no meio do percurso me dei conta que apenas uma parte da comunidade escolar dava sentido à caminhada. E como afirma Colin (2006), no desenvolvimento de uma pesquisa-ação ao mesmo tempo em que a comunidade envolvida produz conhecimento, também produz sentido, e o sentido 23 como construção social depende essencialmente do meio em que ele se desenvolve, e como não pode haver produção de sentido a qualquer custo, em qualquer lugar e da mesma maneira, é que a pesquisa-ação não pode ser desenvolvida em um determinado espaço social sem que haja um sentido, uma razão de existir. Caso isso ocorra, estaremos falando de qualquer coisa, menos de pesquisa-ação. Por conta do desnorte vivido, foi que nesta viagem tomei a decisão de rever as bases metodológicas que as direcionavam, para que pudéssemos encontrar um caminho mais seguro, e até mesmo mais adequado aos anseios da comunidade de interferência; o tempo que tínhamos para realização da viagem; assim como, as rotas que nos foram disponibilizadas. O da pesquisa qualitativa com viés participativo. Conforme a viagem se desenvolvia e pairavam os pensamentos, cheguei ao entendimento de que o desenvolvimento de uma educação crítica e emancipatória no cotidiano da Educação Popular na escola pública, só é possível mediante a formação crítica dos educadores, que virá do processo democrático da educação, isto é, da tentativa de se construir a autonomia intelectual e profissional do educador juntamente com a autonomia social da instituição educativa. Do contrário, a garantia da política oficial do governo continuará permeando os espaços educativos, e a escola continuará sendo um aparelho ideológico do Estado responsável pela produção e reprodução das desigualdades sociais quanto legitimadora das desigualdades existentes, independente da nomenclatura a ela atribuída. 24 Do grande esforço despendido para superar naturais limites “talvez o esforço resida precisamente na natureza dessa busca que nunca termina. Se terminasse, não seria tão interessante, seria como buscar um produto quadrado, terminado, perfeito, não humano” (BORDA, 1987, p. 11) é essa a nossa contribuição. Que a partir de agora compartilhamos com nossos pares. 25 2- PREPARATIVOS DA VIAGEM ─ direcionando nossos olhares para os fundamentos da pesquisa qualitativa com viés participativo A história nunca se fecha por si mesma e nunca se fecha para sempre. São os homens, em grupos e confrontando-se como classes em conflito, que “fecham” ou “abrem” os círculos da história. (FLORESTAN FERNANDES, 1977, p. 5) O final do século XIX foi o tempo-espaço para a gestação de profundos impactos na sociedade e na cultura, alguns dos quais se estendem para dentro do século atual, muitas vezes com novos contornos. Entre estes movimentos, está o dos cientistas sociais que começaram a questionar se o método de investigação científica utilizado pelas Ciências Físicas e Naturais que se ancorava em uma perspectiva positivista de conhecimento era de fato eficaz e coerente para análise dos fenômenos humanos e sociais (GOLDENBERG, 2000; ANDRÉ, 2003; MELUCCI, 2005; STRECK, 2010), passaram a perceber que o desenho da pesquisa tradicional clássica com tendência positivista que busca a aplicação de certas regras, métodos e técnicas sujeitas à construção de uma determinada racionalidade convencionalmente aceita por uma pequena comunidade composta por indivíduos denominados cientistas, que aprisionavam o conhecimento, impossibilitando os homens e as mulheres de produzir novos conhecimentos, sem o rigor dos padrões convencionais de observação, extraindo dos sujeitos a possibilidade de descoberta das coisas e de estruturação de novos conhecimentos não lineares, não previsíveis, nem hipotéticos (BORDA, 1990; HABERMAS, 1990; IANNI, 1996; EIZIRIK, 1999; SANTOS, 2005; FEYERABEND, 2011). 26 Esses mesmos estudiosos passaram a perceber que as comunidades científicas, as quais se movem num solo epistemológico com tendência meramente positivista, Tendem a monopolizar a definição de ciência e a decidir o que é e o que não é científico. Além do mais, essas comunidades científicas exercem uma nítida influência sobre a manutenção do status quo político e econômico que cerca o sistema industrial e capitalista dominante. Sob essas condições, evidentemente, a produção do conhecimento neste nível acha-se orientada para a preservação e o fortalecimento do sistema (BORDA, 1990, p. 44). Por esse motivo, a produção do conhecimento com tendência meramente positivista acaba impossibilitando a construção de novos olhares e a descoberta de caminhos para aprofundamento do conhecimento das realidades concretas, já que esses cientistas optam por trabalhar com dados e fatos convencionais ao sistema capitalista, deixando de levar em consideração outros objetivos que poderiam se tornar relevantes, ou, caso fossem estudados, analisados e problematizados, mostrariam as contradições e fraquezas inerentes ao sistema social capitalista vigente (IANNI, 1996; SANTOS, 2005; BRESCIANI, 2007). Nessa mesma direção Maturana (1997, p. 256) denota que a ciência exerce um determinado domínio sobre as realidades, clarifica o autor que “a ciência desempenha um papel central na validação do conhecimento em nossa cultura ocidental e, portanto, em nossas explicações e compreensões dos fenômenos [...]”. Ao discutir sobre isso, Brandão (1990) clarifica que o trabalho científico divide o mundo sobre o qual realiza a prática de “conhecer para agir” em dois 27 opostos: o lado “popular” dos que são pesquisados, para serem conhecidos e dirigidos; versus o lado “científico”, de quem produz o conhecimento, determina seus usos e dirige o “povo”, em seu próprio nome ou, com mais frequência, em nome daqueles para quem trabalha. Coerente com essa posição, Santos (2005), salienta que o conhecimento produzido pelo lado científico é mínimo e reduzido, por fechar as portas a muitos outros saberes sobre o mundo, tornando um conhecimento desencantado e triste ao transformar a natureza num autômato. Entretanto, Santos (2005) denota que modernamente são muitos os indícios de que o modelo de racionalidade científica pautado no solo epistemológico com tendência meramente positivista atravessa profunda crise. Para o autor, a crise do paradigma dominante é resultado do aprofundamento do conhecimento desenvolvido pelas Ciências Humanas e Sociais permitindo ver os limites, as insuficiências e a fragilidade dos pilares em que se funda a pesquisa tradicional clássica para análise dos fenômenos sociais. Santos (2005) também coloca que a ampla e diversificada reflexão epistemológica sobre a produção do conhecimento desencadeada pelas Ciências Humanas e Sociais tem buscado caracterizar a situação intelectual do tempo presente. É enfático ao afirma que grande parte dos cientistas adquiriram uma competência e um interesse filosóficos para problematizar a sua prática científica. Por esse motivo, nunca houve tantos cientistas-filósofos como atualmente. Desta forma, no percurso da ciência hodierna percebemos mudanças significativas na forma de produção do conhecimento científico e na maneira pela qual os grupos sociais populares vêm sendo compreendidos pelas comunidades científicas, levando alguns epistemólogos a refletirem: a quem deve servir a 28 ciência? Quais usos sociais temos feito da ciência? Como produzir conhecimento em uma sociedade livre? Como produzir conhecimento consciente do próprio conhecimento produzido? (BOURDIEU, 2004; VASCONCELLOS, 2002; MORIN, 2005; SANTOS; 2005; FEYERABEND, 2011). Esse processo de mudanças foi intensificado a partir da segunda metade do século XX, com o aumento dos movimentos populares e com o aparecimento de novas concepções de ciência, já que as abordagens tradicionais e predominantes até o momento tinham as populações e os grupos populares como objeto de estudo e, como tal, passivo frente à geração e produção do conhecimento (ROCHA, 2004). Por sua vez, “os métodos de uso comprovado nas ciências da matéria revelam-se inadequados às ciências biológicas e inoperantes às ciências do homem” (EL ANDALOUSSI, 2004, p. 16), tornando-se ineficazes para análise e compreensão do contexto histórico social vigente. É nessa fase áurea de surgimento de novas concepções de ciência, de percepção de homem enquanto objeto/coisa, que se dá a ruptura com o paradigma positivista e com a hegemonia do saber científico, os quais engrenam o saber epistemológico e metodológico em torno da pesquisa em Ciências Sociais e Humanas (SCHMIDT, 2006). E, assim, se percebe a necessidade de participação das comunidades pesquisadas na construção e produção do conhecimento científico. Como bem denota Santos (2005, p. 50), “chegamos ao final do século XX possuídos pelo desejo quase que desesperado de complementarmos o conhecimento das coisas com o conhecimento do conhecimento das coisas, isto é, com o conhecimento de nós próprios”. Portanto, a extrapolação dos métodos e 29 a distância em que separa a teoria e a prática, o conhecimento e a ação, o pesquisador e o prático têm possibilitado, nas últimas décadas, a emergência e o desenvolvimento de uma nova vertente de produção do conhecimento científico ─ a pesquisa qualitativa. A historiografia dessa vertente de pesquisa registra que sua origem se dá principalmente no campo da Antropologia e da Sociologia moderna. No entanto, sua trajetória de construção epistemológica e metodológica acontece mediante reflexões suscitadas em várias áreas do conhecimento. Todavia, conforme os apontamentos de Denzin e Lincoln (2006), a construção desse campo de conhecimento não se encontra isenta de tensões, contradições e problematizações. Caldas e Bertero (2007) explicam que os primeiros respingos dessas tensões e contradições presentes no campo da pesquisa qualitativa acontecem na fase denominada de etnográfica ─ momento em que surge o trabalho de campo, em que se busca conhecer o exótico a partir do ponto de vista do pesquisador. Elucidam os autores que nas décadas que se seguem os pesquisadores qualitativos começaram a questionar a importância de estruturação de métodos científicos, assim sendo, o rigor científico ganhou destaque no debate e trouxe à tona a necessidade de construção de um método quase estatístico para o desenvolvimento de estudos qualitativos. Na fase posterior o foco de problematização a respeito da pesquisa qualitativa se assentou na interpretação dos resultados achados em campo. Sua comunidade científica começou a perceber que o pesquisador assume o papel de 30 interprete de interpretações, assim a generalização dos fenômenos aconteceria mediante a descrição profunda dos resultados. Ainda nesta fase, os pesquisadores qualitativos começam a perceber que os modelos de verdade e métodos utilizados já não dão conta de explicar a complexidade dos fenômenos presentes no âmbito social. Fato que culminou em inúmeras reflexões com relação à devida importância que deve ser dada ao contexto social, em que o pesquisador encontra-se inserido, as experiências vividas e criadas coletivamente. É nesta fase também que os pesquisadores principiam os questionamentos a respeito dos critérios tradicionais de avaliação e interpretação dos fenômenos sociais usados até então, assim como a confiabilidade dos resultados e a capacidade de generalização da pesquisa qualitativa (BURRELL; MORGAN,1979). Gergen e Gergen (2006), também colocam que neste momento o papel do pesquisador e sua supremacia são problematizados ─ uma vez que é percebido que o conhecimento produzido pela pesquisa qualitativa não pode ser de origem especulativa, e o pesquisador qualitativo não pode estudar os sujeitos à maneira que o botânico pesquisa a samambáia, por exemplo, nem tão pouco da forma pela qual o zoólogo observa o crustáceo. Assim sendo, buscam-se novas metodologias, novas formas de narrativas, e, sobretudo, novas maneiras de teorização dos contextos pesquisados, uma vez que, passou-se a observar que as teorias frutos dos estudos realizados em contextos específicos não dão conta de problematizar o mundo como um todo, pois elas são locais e devem ajustar-se a problemas específicos e a situações particulares (BURRELL E MORGAN, 1979; SANTOS, 2005; DENZIN; LINCOLN, 2006). 31 Ao discutir sobre o processo histórico de construção da pesquisa qualitativa, Flick (2006), esclarece que nos dias atuais o rótulo de pesquisa qualitativa é usado em termo “guarda-chuva” sob o qual abriga várias maneiras que auxiliam os pesquisadores da vida cotidiana nas investigações dos fenômenos sociais. O referido autor, ao reconhecer a diversificação e variedade de tradições e estratégias que ganham a rubrica de pesquisa qualitativa, afirma que o que há de mais comum entre suas diversas formas é a tradição hermenêutica, uma vez que esta abordagem parte do pressuposto de que os atores sociais direcionam suas ações mediante suas crenças, percepções, sentimentos e valores e seu comportamento social está relacionado a sentidos, significados que não se podem conhecer imediatamente, necessita ser desvelado. Conforme o pensamento de Denzin e Lincoln (2006), a pesquisa qualitativa tem buscado situar o observador no mundo, mediante um conjunto de ações que dão visibilidade ao mundo e possibilitam inúmeras interpretações. O pesquisador deve direcionar suas ações para o entendimento do fenômeno em termo de significados que as pessoas a ele conferem. A competência da pesquisa qualitativa centra-se no mundo da experiência vivida, pois é nele que a crença individual, prática social e cultural entrecruzam-se. Por esse motivo, o pesquisador qualitativo passa a ser considerado como um instrumento de investigação. Ele confia em si mesmo, ele conversa com as pessoas, ele acredita no que escreve. Em razão disso, há a necessidade de um contato direto e prolongado com o campo de investigação, para que possa alcançar 32 uma descrição detalhada de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos observados, citações literais do que as pessoas falam sobre suas experiências, atitudes, crenças e pensamentos; trechos ou íntegras de pensamentos, correspondência, atas, ou relatórios de casos (PATTON, 1986, p. 22). Desta forma, para os pesquisadores qualitativos A realidade social é uma construção social da qual o pesquisador participa e, portanto, os fenômenos só podem ser compreendidos mediante uma visão holística, que levem em consideração os componentes de uma dada situação em suas interações e influências recíprocas, o que exclui a possibilidade de se identificar relações lineares de causa e efeito e de se fazer generalizações de tipo estatístico [...] para os “qualitativos” conhecedor e conhecidos estão sempre em interação e a influência dos valores é inerente ao processo de investigação (ALVES, 1991, p. 3). É por esse motivo que no desenho da pesquisa qualitativa, a imersão do pesquisador no contexto pesquisado, assume um caráter essencial, pois ela possibilita a interação do pesquisador com os participantes, permitindo a compreensão dos significados atribuídos pela comunidade de interferência ao fenômeno estudado, como bem observa Farraço (2003, p. 60). [...] se estamos incluídos, mergulhados, no nosso objeto, chegando, às vezes, a nos confundir com ele [...]. Somos, no final de tudo, pesquisadores de nós mesmos, somos nosso próprio tema de investigação. [Assim] [...] no lugar de perguntas como que significa essa atitude? O que quer dizer esse cartaz? Que significa esse texto? Qual o sentido dessa fala?, devemos nos perguntar que leituras “eu” faço dessa atitude, cartaz, texto ou fala? (FARRAÇO, 2003, p. 160). 33 Diante destas provocações, um estudo com viés qualitativo não se inicia com foco totalmente definido. Seu foco vai sendo delineado de acordo com o desdobramento da pesquisa, tendo em vista que na maioria das vezes a comunicação dos resultados ganha um caráter descritivo. Assim, a descrição da pesquisa qualitativa deve ser fiel aos eventos do campo. Portanto, deve ser menos científica e mais literária, menos científica e mais ética e estética (GOLDENBERG, 2000; FLICK, 2009; DENZIN E LINCOLN, 2006). Podemos dizer, então, que a pesquisa qualitativa assenta-se hoje sobre um campo transdisciplinar, o que não significa especialização nem superficialidade, ao contrário, têm assumido multiparadigmas de análises, derivados do Positivismo, da Fenomenologia, da Hermenêutica, do Marxismo, da Teoria Crítica e do Construtivismo, nos quais seus pesquisadores têm adotados diversos procedimentos metodológicos, técnicas e instrumentos de investigação para conhecimento, análise e problematização de um fenômeno em seu ambiente natural. Enfim, os pesquisadores qualitativos têm procurado tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a ele (CHIZZOTTI, 2003). Por esse motivo, os métodos qualitativos procuram justamente dar voz aos que a têm sufocada por aquelas outras vozes que, à custa de tanto, se fazerem ouvir e abafam todas as demais. É o caso das pesquisas participativas 6, as quais se pautam na investigação-ação e seguem determinado processo cíclico de 6 Investigação-Ação; Pesquisa Participante; Pesquisas-Ações; Pesquisa Colaborativa; Aprendizagem- Ação; Prática Reflexiva; Projeto-Ação; Aprendizagem Experimental; Prática Deliberativa; Pesquisa Práxis; Investigação Apreciativa; Prática Diagnóstica; Avaliação-Ação; Metodologia de Sistemas Flexíveis e a Aprendizagem Transformacional, entre outras. Ver em: KEMMIIS, (1987); CHARLOT, (2002); EL ANDALOUSSI, (2004); DEMO, (2004); IBIAPINA; (2008); PIMENTA e FRANCO, (2008); THIOLLENT, (2006-2009); DENZIN e LINCOLN (2006). 34 aprimoramento da prática pela oscilação sistemática entre agir no campo da prática e investigação a respeito dela (PAIS, 2003, TRIPP, 2005; IBIAPINA; 2008). Segundo Streck (2010) as pesquisas participativas andam de mãos dadas com a Educação Popular, sendo que ambas foram originadas no contexto de uma forte tomada de consciência das desigualdades sociais e da luta por justiça social, acompanhada não menos por forte repressão. Para o autor, na confluência dessas duas práticas, assenta-se um método que possibilita conhecer a realidade em que vivem os grupos populares, que servem tanto para fins pedagógicos quanto investigativos, a ponto de não haver delimitação precisa das fronteiras entre educação e pesquisa. Neste contexto, percebe-se que, o desenvolvimento das pesquisas participativas se dá em via de mão dupla, onde a comunidade pesquisada tem passagem garantida. Em razão disso, as pesquisas participativas têm sido bastante utilizadas nos lugares onde melhor se pode contar, escutar, dialogar e problematizar ─ entre a camada da população que durante muito tempo foi marginalizada e excluída do processo de produção do conhecimento, e entre os grupos sociais que mesmo fazendo parte de uma “elite intelectual” teve a fala censurada pelos percalços da história. Por isso mesmo, as pesquisas participativas ao oportunizarem as classes populares a contar e recontar a história a partir da própria história compreende que o social não se resume àquilo que nos é apresentado com maior concretude ou visibilidade. Mas acredita que para decifrar esse outro social quase que invisível a olho nu, ou tão aparente que quase sempre passa despercebido aos olhos do pesquisador preocupado em olhar para a realidade com “olhos do 35 falcão”, necessita desafiar as enraizadas “hierarquias de credibilidades” ainda presentes na cultura científica. Pois, As falas do senso comum traduzem um saber. Trata-se de um saber “não sabido” sobre o qual os seus detentores não refletem com critérios de cientificidade. Deles dão testemunho sem conseguirem a sua apropriação. São locatários de um conhecimento cuja propriedade oferecem a quem desse saber queiram saber: através de entrevistas, histórias de vida, observação participante etc (PAIS, 2003, p. 134). Para Ibiapina (2008) as pesquisas participativas, quando utilizadas no âmbito educacional, tem o propósito de transformar as escolas em comunidades críticas, de professores que problematizam, pensam e reformulam práticas, tendo em vista a emancipação profissional. Sendo que as condições básicas para desenvolvimento de uma pesquisa-participativa é que o estudo seja desenvolvido dentro de um espaço social onde desenvolve uma prática susceptível de melhoria, em que o pesquisador leve em consideração a espiral de planejamento ─ ação, observação, reflexão, nova ação; e que essa espiral seja fomentada de forma colaborativa. Da mesma forma, Franco, elucida que o sentido da pesquisa participativa na prática educativa é de: [...] considerar a voz do sujeito, sua perspectiva, seu sentido, mas não apenas para registrar [para] posterior interpretação do pesquisador: a voz do sujeito fará parte da tessitura da metodologia da investigação. Nesse caso, a metodologia não se faz por meio das etapas de um método, mas se organiza pelas situações relevantes que emergem no processo. Daí a ênfase no caráter formativo dessa modalidade de pesquisa, pois o sujeito deve tomar consciência das transformações que vão ocorrendo em si próprio e no processo. É também por isso que tal metodologia assume o 36 caráter emancipatório, pois mediante a participação consciente os sujeitos da pesquisa passam a ter oportunidade de se liberar de mitos e preconceitos que organizam suas defesas à mudança e reorganizam a sua autoconcepção de sujeitos históricos (FRANCO, 2005, p. 486). Deste modo, a pesquisa participativa no âmbito educacional é considerada como uma estratégia para aprimoramento da prática educacional, do ensino e, em decorrência do aprendizado de alunos. É uma alternativa metodológica, e mesmo uma prática pedagógica, que se alicerça na construção de conhecimentos, que auxiliam à identificação e o esclarecimento das teorias implícitas na prática, ao mesmo tempo em que possibilita os atores sociais da prática se apropriam criticamente de algumas teorias educacionais, para as transformações de suas concepções sobre o fazer pedagógico e, em decorrência, produzir transformações em suas práticas educativas (BERBIER, 2002; TRIPP, 2005; FRANCO 2008). Assim sendo, o pesquisador do cotidiano escolar que orienta suas ações pelos fundamentos teóricos, metodológicos e epistemológicos da pesquisa qualitativa com viés participativo, possibilita à comunidade: uma interferência na ampliação do conhecimento a respeito de si mesma, identificar seu potencial político, e questionar seu lugar na história, sobre o processo de vitimização sofrido pelos interesses dos senhores detentores do capital ─ o que podem fazer da história presente e formulam a noção de direitos e deveres (DEMO, 2007). No contexto descrito, a palavra participação reconhece a necessidade de socialização do poder do pesquisador, do protagonismo com outros cujos interesses mais imediatos nem sempre coincidem com os interesses do pesquisador (STRECK, 2010). “Ambos, pesquisador e “sujeitos pesquisados”, 37 desenvolvem potencial interrogativo sobre a sociedade vigente. Estabelecem diretrizes, sonham, enxergam o que os olhos ainda não viram. A dimensão existencial de ambos é alterada” (HERBERT, 2008, p. 34). Por esse motivo, que no decorrer dos processos de pesquisa, orientação e investigação sobre a presente tese, passei a compreender que, ao desenvolver tal pesquisa, desenvolvia ao mesmo tempo, inúmeras possibilidades de fazer-me pesquisador. Tal afirmativa poderá ser confirmada no decorrer da leitura deste estudo por meio dos posicionamentos e escolhas por mim realizados. Cabe elucidar, nesse momento, que por encontrar-me imerso no cotidiano escolar, ao mesmo tempo em que problematizo o cotidiano pesquisado, ajudo na produção da ação, banho-me dos efeitos do conhecimento e da ação produzida. E neste caso, a minha história enquanto educador pesquisador está indissociável ao tema que estudo. O lugar de onde falo está intrinsecamente ligado a minha história, já que sou fruto da Educação de Jovens e Adultos oferecida pelo sistema público de ensino amapaense. Dito isto, solicito ao leitor deste estudo que realize sua leitura com olhos de Romeu, através dele será possível encontrar a utopia de uma equipe de educadores que jamais morrerá e que sempre acalentará o sonho de construirmos uma escola pública que ofereça possibilidades concretas de libertação e vivência de experiências profundas de democracia. E mais, não idealize e nem critique pela simples necessidade de fazer isso, procure as incompletudes, os tempos de produção dessa escola e, dentro deles, construa e proponha possibilidades em suas práticas educativas. Por esse motivo solicito ao leitor que: 38 Levas teus olhos por este caminho7 que ultrapassa os limites daquelas coisas exatas que ficaram na outra margem; a gravura da paisagem que agora vês na objetiva moldura é a imagem codificada de uma outra figura bem mais objetiva e mesmo que não pareça ela está bem aqui refletida na pintura da tua cega retina é por aqui que se começa a viagem. 7 Poema de Milton Rauber, intitulado ─ Depois da paisagem. 39 3- A PARTIDA – a escola de Educação Popular idealizada pelo poder público amapaense IMAGEM-2: Prédio da Escola de Educação Popular Paulo Freire FONTE: Pesquisador (2011) No segundo semestre do ano de 20118, partimos rumo ao nosso destino, mas sem conhecer nossos itinerários e trajetos. Apenas tínhamos em mente que o itinerário e o caminho se faria ao caminhar, e levávamos na bagagem a utopia de encontrarmos caminhos que nos levassem à construção de uma Educação Física crítica e emancipatória no contexto da Educação Popular na escola Pública. Como bom pesquisador viajante, iniciei o trajeto da pesquisa levando comigo alguns grãos de areia que soltava aos poucos para que em um momento posterior pudesse voltar e rever o percurso. 8 Neste período o referido estudo já havia sido autorizado pelo Comitê de Ética da Universidade São Judas Tadeu. Sob o CAAE - 0104.0.219.000-11 40 Vale ressaltar que a passagem da viagem primeiramente foi comprada pelos professores de Educação Física; pela Gestora escolar; Secretário administrativo e em seguida por alguns membros da comunidade escolar como Coordenação Pedagógica e professores de outras áreas que compõem o currículo escolar. Os quais reconheceram a importância de estruturação de um processo de pesquisa da prática educativa para desenvolvimento de ações educacionais coerentes com os princípios filosóficos da escola e com sua razão de existir. Confesso que neste trecho inicial da viagem debrucei-me na tentativa de conhecer a escola de Educação popular idealizada pelo poder público amapense e a escola viva ─ a qual os educadores têm procurado desenvolver suas atividades educativas. Assim sendo, a imagem-epígrafe acima, se configuram como imagem temática, ou mais que isso, em imagem emblemática do contexto educativo em que nossos olhares direcionaram-se no decorrer dessa viagem. Desta forma, com o objetivo de obter maiores esclarecimentos sobre as bases filosóficas da escola e o momento político em que a escola foi pensada, enquanto caminhávamos, realizei uma entrevista sistematizada com a educadora que aqui chamarei de Maria do Céu, diretora em exercício até o presente momento. Para registrar o diálogo, utilizei o diário de campo, por ser um instrumento de pesquisa que ajuda o pesquisador no registro das observações, comentários e reflexões pertinentes no discurso do informante (TRIVIÑOS, 1987). No decorrer da entrevista fiquei atento às expressões faciais, corporais e ao vocabulário utilizado pela professora Maria do Céu. Busquei mais ouvi-la e, 41 quando necessário, realizei interferências breves e pontuais. Tal postura foi fundamental para gerar um terreno linguístico comum e propício à exteriorização das ideias de ambos os lados, assim como, a compreensão mútua delas. Comecei a entrevista solicitando à professora que descrevesse o contexto no qual a Escola de Educação Popular Professor Paulo Freire foi pensada. Segundo a diretora, no ano de 1995, as reflexões coletivas de uma equipe de educadores amapaenses sobre o cotidiano escolar gerou crítica à estrutura da escola tradicional e alimentou o sonho de resgatar a experiência do educador brasileiro Paulo Freire uma equipe, que desenvolvia suas atividades profissionais na Secretaria de Estado da Educação ─ SEED, sugeriu a criação de uma escola pública que atendesse jovens e adultos que por inúmeras razões encontravam-se afastados do ambiente escolar. De acordo com a professora Maria do Céu, em diversas reuniões com o objetivo de discutir e sistematizar a proposta desta nova escola, essa equipe de educadores escreveu o projeto de implantação da Escola de Educação Popular, que se pautou nos seguintes princípios9: Garantir espaço desenvolvimento de democrático habilidades aos jovens intelectuais e que adultos para oportunizem o aperfeiçoamento das estruturas cognitivas, raciocínio e pensamento crítico, criativo e participativo nas atividades políticos-social-cultural e da economia de sua própria realidade. Garantir espaço democrático para Alfabetização, Pós-alfabetização e Suplência I e II, para os educandos afim de que os mesmos possam progredir estudos posteriores. 9 Neste momento, a professora Maria do Céu, se pautou no Projeto Político Pedagógico da escola, lendo os princípios citados, os quais encontram-se materializados em, forma de objetivos específicos na página 66. 42 Oportunizar situações de ensino, à construção e reconstrução de conhecimento, objetivando a instrumentalização dos educandos para que os mesmos possam intervir na sociedade. Propiciar atividades de diálogo, de questionamento crítico, baseado no conceito de homem como sujeito – agente, onde a educação escolar fornecerá e dará voz aos educandos e aos grupos sociais capazes de participar em toda a esfera da vida pública. Salientou a diretora que na época, o governador do Estado do Amapá, disposto a investir em alternativas de educação para o Estado, na perspectiva de “reparo” dos prejuízos históricos causados pelo cerceamento a uma educação de qualidade ao povo amapaense em virtude de uma educação com tradição elitista e marginalizada das classes populares10, com base no levantamento de dados sobre a realidade educacional do município de Macapá, realizado pela equipe de educadores que acalentava o sonho de estruturação da escola inspirado na Educação Popular, adotou o projeto sem restrições dando o seu aval para a implantação. Dessa forma, consta no histórico da escola que sua criação se deu através do Decreto nº 0145, em 20 de janeiro de 1997, do Governo do Estado do Amapá – GEA, autorizada a funcionar mediante a portaria nº 317/99 da Secretaria de Estado da Educação – SEED, com o objetivo de atender a grande demanda de alunos fora da idade/série. E iniciou suas atividades em 20 de janeiro de 1997, 10 Ao utilizarmos o termo “classe” neste estudo estamos nos referindo à experiência fundada numa outra cultura econômica, social, política e cultural, capaz de criar uma identidade de classe; Nas palavras de Thompson (1987), a classe acontece quando homens, como resultado de experiências comuns (herdadas ou adquiridas socialmente), sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra homens cujos interesses diferem (e geralmente se opõem) aos seus. Quase sempre a experiência de classe é determinada, pelas relações de produção em que os homens nasceram, ou entraram. O termo “classes populares” será utilizado para designar as experiências de um grupo de sujeitos os quais não possuem nem controlam quaisquer meio de produção e se encontram no fundo das estruturas econômicas e de autoridade política. 43 funcionando no prédio da SEED até 2003, transferindo-se para o prédio alugado, localizado na Rua Raimundo Ozanan nº 105, Bairro Central, CEP: 68900-840, Macapá- AP. Segundo a educadora Maria do Céu, a partir daquele momento, a utopia de vivenciar o desenvolvimento de uma educação popular no interior da escola pública, começou a ser concretizada no Estado do Amapá. O poder político local, preocupado com a formação continuada dos educadores, desencadeou uma série de intercâmbios movidos pelo desejo de aprimorar a prática pedagógica. Pois, acreditavam os idealizadores da escola, que mediante a capacitação do corpo técnico e pedagógico, a escola poderia desenvolver suas ações educativas coerentes com os seus ideais filosóficos e com sua razão de existir. Por esse motivo, palestras com estudiosos da pedagogia freireana e trocas de experiências com movimentos de Educação Popular foram promovidos. Destacou a professora Maria do Céu, em seu depoimento, dois momentos emblemáticos desse movimento de Educação Continuada oferecido pelo Governo do Estado à equipe técnica e pedagógica da escola. No ano de 1998 a escola recebeu a visita do professor José Eustáquio Romão, na época ocupava o cargo de diretor do Instituto Paulo Freire, que fica localizado no Estado de São Paulo, o qual proferiu uma palestra sobre os princípios filosóficos da pedagogia freireana. Denotou a gestora, que na ocasião, o professor José Eustáquio Romão, amparou e reconheceu a escola como autenticamente freireana e expressou emoção e satisfação em exposição a mais de 700 profissionais de Educação: “Encontrei no 44 Estado do Amapá uma Escola que Paulo Freire se orgulharia se estivesse a oportunidade de conhecê-la”11. Outro momento importante para ampliação das experiências profissionais aconteceu com a visita da equipe de educadores do MOVA (Movimento de Alfabetização de Adultos), de Porto Alegre ─ RS. Nessa ocasião, os educadores da referida equipe, verbalizaram que a escola Paulo Freire estava em sintonia com os princípios político-filosóficos do MOVA, de oferecer uma educação libertadora a homens e mulheres que se encontravam em processo de descoberta da leitura do mundo para pronunciação da palavra. Esclareceu ela, que no início de funcionamento da escola, a equipe pedagógica implantou o planejamento participativo, os projetos pedagógicos interdisciplinares e parcerias interinstitucionais, além de implantar a Coordenação diretiva, a Coordenação pedagógica, o Conselho escolar e o Grêmio estudantil. Com certo brilho nos olhos, a professora Maria do Céu, externou que a escola Paulo Freire foi construída alicerçada; em primeiro lugar, na convicção de que uma instituição educativa necessita tanto estar ancorada na realidade em que se encontra inserida, quanto ser impulsionada por uma utopia, pois seus idealizadores partiram do pressuposto de que a escola enquanto instituição social precisa acreditar que os sonhos têm poder transformador e que, em sua tarefa diária de socializar o conhecimento historicamente construído, ela pode transformar pessoas capazes de se inserir na sociedade, sonhá-la melhor e, a partir deste sonho, construir um projeto pessoal; em segundo lugar, na certeza de 11 Frase relatada pela educadora no momento da entrevista para reproduz o testemunho do professor José Eustáquio Romão na ocasião da palestra ao se referir sobre a escola recentemente implantada pelo governo amapaense. 45 que em um ambiente cheio de preconceito e violência, competição e consumismo, elementos que na sociedade atual invadem a relação do sujeito com o conhecimento, a escola precisa ser o espaço em que a utopia rege as relações e os sonhos, pautam os projetos e acalantam a esperança das classes populares. A propósito, a leitura cartográfica12 por mim realizada, do Projeto Político Pedagógico da escola, vai ao encontro do depoimento da professora Maria do Céu. Encontra-se registrado que: O currículo da Escola Estadual Professor Paulo Freire está organizado de acordo com a Proposta Político Pedagógica baseada na Tendência Progressista Libertadora, buscando a superação das condições de dominação a que está submetida a maioria da população, proporcionando uma ação pedagógica dialética onde se efetive a construção do conhecimento e a relação entre aprendizagem – cidadania - desenvolvimento social. O currículo desenvolverá ações que abrangem toda a comunidade escolar, através de uma atitude interdisciplinar, dinâmica, criativa, espontânea, comprometida, autônoma, contextualizada, investigativa, prazerosa, desafiadora, original, lúdica, contemplando Educação e Trabalho na forma de complexo temáticos (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, 1997, p. 68). Nesse sentido, já no primeiro trecho percorrido descobrir que a Escola de Educação Popular Professor Paulo Freire iniciou suas atividades educativas com o objetivo de atender jovens e adultos excluídos do processo de cidadania e vivenciar na prática o desenvolvimento de uma Educação Popular no interior da escola pública, ancorada na proposta pedagógica desenvolvida pelo educador brasileiro Paulo Freire. 12 Leitura Cartográfica no contexto desse estudo significa uma leitura aprofundada, detalhadas com idas e vindas no texto. 46 Restava então descobrir como a escola Paulo Freire estava desenvolvendo sua missão. Na verdade, eu tinha alguns indícios, no entanto, restava-me conhecer melhor a escola. 3.1- A segunda descoberta ─ a escola viva A segunda descoberta, não menos importante que a primeira, foi fundamental para o desenho do itinerário inicial da viagem. Como pesquisador viajante, convoquei os agentes escolares para uma reunião coletiva, pois sabia que mediante seus discursos a escola viva seria revelada. É mister referendar que no âmbito da Educação Popular, a estratégia de reunião coletiva para problematização de uma dada realidade social e modos de ver, pensar e sentir o mundo e sua presença no mundo é denominada de “Círculo de cultura”. De acordo com Streck; Rendin e Zitkoski (2010), no Círculo de cultura o diálogo deixa de ser uma simples metodologia ou técnica de ação grupal e passa a ser a própria diretriz de uma experiência didática ancorada nos pressupostos de que aprender é “dizer a palavra”. Desta forma, Streck; Rendin e Zitkoski (2010, p. 70) sintetizam os fundamentos do Círculo de Cultura com as seguintes palavras: 1. Cada pessoa é uma fonte original e única de uma forma própria de saber, e qualquer que seja a qualidade deste saber, ele possui um valor em si por apresentar a representação de uma experiência individual de e de partilha na vida social. 2. Assim também cada cultura representa um modo de vida e uma forma original e autentica de ser, de viver, de sentir e de pensar de uma ou de várias comunidades sociais. Cada cultura só se explica de 47 seu interior para fora e os seus componentes “vividos-e-pensados” deve ser o fundamento de qualquer programa de educação ou de transformação social. 3. Ninguém educa ninguém, mas também ninguém se educa sozinho, embora pessoas possam aprender e se instruir em algo por conta própria. As pessoas como seres humanos, educam-se umas as outras e mutuamente se ensinam-e-aprendem, através de um diálogo mediatizado por mundos de vivências e de cultura entre seres humanos, grupos e comunidades diferentes, mas nunca desiguais. 4. Alfabetizar-se, educar-se (e nunca: “ser alfabetizado”, “ser educado”) significa algo muito mais do que apenas aprender a ler palavras e desenvolver certas habilidades instrumentais. Significa um processo dialógico em que importa mais o próprio acontecer partilhado e participativo do processo do que os conteúdos em que se trabalha, a tomar consciência de si-mesmo (quem de fato e de verdade sou eu? Qual o valor de ser-quem-sou?); tomar consciência do outro (quem são os outros com quem convivo e partilho a vida? Em que situações e posições nós nos relacionamos? E o eu isto significa?) e tomar consciência do mundo (o que é o mundo em que vivo? Como ele foi e segue socialmente sendo construído para haver se tornado assim como é agora? O que nós podemos e devemos fazer para transformá-lo?). Segundo os autores, o Círculo de cultura é uma estratégia educativa dinamizada em um dado espaço social em um momento em que as pessoas se colocam em círculo, para debater sobre determinado assunto, no qual ninguém ocupa um lugar proeminente, todos ensinam e aprendem ao mesmo tempo. Assim: Os participantes do “Círculo de cultura”, em diálogo sobre o objeto a ser conhecido e sobre a representação da realidade a ser decodificada, respondem às questões provocadas pelo coordenador do grupo, aprofundando suas leituras de mundo. O debate que surge daí possibilita uma re-leitura da realidade, que pode resultar no engajamento do 48 alfabetizando em práticas políticas com vistas à transformação social (GADOTTI, 1996, p. 38). Desta forma, no texto desse estudo, ao diálogo que emerge do Círculo de Cultura chamarei de discurso pedagógico, tomando emprestado a expressão empregada por Orlandi (1983), a qual refere-se como um discurso circular, isto é, um discurso institucionalizado sobre as coisas, que não se sobrepõe independentemente ao contexto vivenciado, dando ao agente de pesquisa a possibilidade de interpretação do discurso para além das falas dos interlocutores, mas por ela e suas circunstâncias. Deste modo, ao situar o discurso pedagógico para além da fala dos agentes escolares, sobre o cotidiano da instituição educativa, abre-se a possibilidade de compreensão de algumas ações educativas presentes no ambiente escolar que, de certa forma, determinam ou pelo menos ajudam a clarificar o fazer escolar, que estão diretamente vinculadas com as falas. Assim, as palavras desses sujeitos se constituem em matéria-prima para compreensão da realidade atual da instituição educativa. Pois como denota Freire (1986, p. 143) “a insistência de começar a partir da descrição sobre as experiências da vida diária baseia-se na possibilidade de se começar a partir do concreto do senso comum para chegar a uma compreensão rigorosa da realidade”. Continuei fazendo uso do diário de campo para registro das falas e observações circunstanciais. Para dar subsídios às reflexões posteriores realizei gravações, filmagens e registros fotográficos deste momento ─ por acreditar que esses recursos audiovisuais contribuem para uma original aproximação ao 49 ambiente pesquisado e potencializa interpretações mais pontuais pelas mensagens neles contidas. Para garantia do anonimato fiz a opção de identificar os agentes escolares como: P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11, P12, P13, P14. Com exceção dos professores de Educação Física os quais continuarei chamando pelo nome fictício de Professora Ana Rita; Professor Ademir; Professor Pedro e Professor Igo, assim como a gestora escolar que manterei o pseudônimo de Maria do Céu13. Desta forma, com o objetivo de estabelecer um diálogo próximo, harmonioso e problematizador, iniciei as atividades no Círculo de cultura falando um pouco sobre mim, das minhas visões de escola, homem e sociedade. Essa fala inicial foi essencial principalmente para que os que ainda não me conheciam pudessem se sentir a vontade para externar suas opiniões e sentimentos com relação à escola. Tomando emprestadas as ponderações de Gadotti (2007), verbalizei minhas concepções com relação à escola, declarei que a concebo como um lugar especial, um lugar de esperança e luta. Por esse motivo, não a tenho como um lugar exclusivo para o ato de estudar, mas para se encontrar, conversar, confrontar-se com o outro, discutir, fazer política, realizar e construir utopias. No plano da realidade escolar, seus agentes devem gerar insatisfação com o já dito, o já sabido, o já estabelecido. Pois na era em que vivemos, a escola tem se tornado o palco onde todas as contradições sociais, étnicas e culturais se encontram e 13 É válido salientar que distinguirei os professores de Educação Física para que o leitor possa identificar seus discursos pedagógicos no decorrer do estudo. 50 cabe à escola fazer com que cada singularidade se manifeste e que ao mesmo tempo a diversidade seja valorizada. Coerente com essa posição, expliquei à comunidade que cada vez mais me aproximo da visão de sujeito freireana ─ enquanto ser inconcluso, inacabado e incompleto, mas condicionado pelas experiências que vivencia ao longo de sua existência. E que diante de uma sociedade fragmentada pelo capital como a nossa, em que as experiências e oportunidades vivenciadas pelos grupos sociais são distintas e nem sempre acontecem com a mesma intensidade, a instituição educativa precisa construir um projeto particular alicerçado nas necessidades de seus alunos, professores e agentes escolares; precisa desempenhar um papel essencialmente crítico e criativo, que possibilite a estruturação por parte de sua comunidade de um aprender e pensar autônomo. Expliquei que essa forma de pensar tem me levado a vivenciar a máxima de Paulo Freire: “Quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. Ressaltei que em conjunto, com os grupos nos quais interfiro, tenho procurado conhecer a realidade vivida para que melhor possamos problematizá-la. Para tanto, parto da interrogação a respeito das experiências vividas, e sigo buscando olhar para o cotidiano na tentativa de extrair o que há de mais e menos aparente, porém fundamental para sua (re)construção. Assim sendo, ainda neste momento inicial sublinhei que as razões que levaram a retornar à escola, pautavam-se principalmente nas necessidades percebidas pela equipe de professores de Educação Física de pensar alternativas para o desenvolvimento de uma práxis pedagógica coerente com os princípios filosóficos da escola. 51 Neste momento, a gestora escolar solicitou a palavra e afirmou que o movimento desencadeado pelos idealizadores da escola e pelo próprio poder público local da época desmobilizou-se. Disse ela, que o olhar para a unidade escolar como lócus e foco da formação, como uma organização que aprende enquanto promove o desenvolvimento de seus profissionais e alunos, foi, aos poucos, sendo substituído por uma política de desvalorização educacional. Enfatizou que, a partir do momento em que a escola foi retirada do seio da Secretaria de Educação, sua comunidade tem desenvolvido as ações educativas em prédios alugados pelo Governo do Estado, prédios que não oferecem a estrutura necessária para desenvolvimento das práticas educativas da escola. Com a voz trêmula, foi categórica ao afirmar que com o passar dos anos a escola que foi criada para o povo deixou de “existir aos poucos”, sendo esquecida pelo poder público local e encontra-se em um processo de sucateamento total. Esclareceu: Desde sua criação já mudamos de prédio três vezes, há uma rotatividade de educadores e matérias didáticos pedagógicos quase não temos, os índices de reprovação são altíssimos, desenvolvemos nossas ações educativas em verdadeiro estado de abandono escolar (MARIA DO CÉU – GESTORA DA ESCOLA). Expliquei a ela que foram essas as razões que desencadearam na equipe de professores de Educação Física da referida escola a necessidade de fazer com que o imobilismo no qual se encontram fosse transformado em ação, e começaram a perceber que precisavam dar um sentido de ser à prática educativa, um sentido que nascesse da análise e da reflexão da própria realidade cotidiana. 52 Perceberam que chegou o momento de elaborar da própria experiência pautada na compreensão da realidade. Tal esclarecimento foi fundamental para que a gestora verbalizasse que: Considero louvável a iniciativa da equipe dos educadores físicos da escola, em almejarem transformações significativas na prática pedagógica, como educadora e gestora da escola sei que trilhar os princípios filosóficos da escola é uma missão árdua e espinhosa, pois o desejo de vivenciar uma experiência de Educação Popular no contexto da escola pública aos poucos foi se transformando em uma utopia sem possibilidades de realização, pois assim como o poder público local esqueceu os reais motivos de construção da escola, alguns educadores que aqui atuam não acreditam na pedagogia freireana. Acredito que por não conhecê-la em sua essência, consideram irreal sua aplicabilidade (MARIA DO CÉU – GESTORA DA ESCOLA). No entanto, como “só é harmoniosa a escola autoritária” (GADOTTI, 2007, p. 12), mediante o posicionamento da gestora, alguns professores manifestavamse dizendo que os ideários filosóficos os quais deveriam orientar as ações pedagógicas na escola se perderam no tempo, e que diante do contexto atual em que a escola se encontra não conseguiam ver significado na referida proposta. Como podemos perceber no depoimento do (P1). A escola Paulo Freire é um celeiro de sujeitos marginalizados, recebemos aqui, tudo que não presta e que as outras escolas não dão conta de educar. Temos aqui alunos ex-presidiários, alunos que estão pagando medidas sócio-educativas, alunos que pararam de estudar mais de dez anos e que desaprenderam até o alfabeto, além de alunos com necessidades educacionais especiais. Neste momento a (P2) (uma das poucas educadoras que permanece na escola desde sua implantação), relatou que no desenvolvimento das atividades 53 com os alunos, os professores, em sua maioria, sentem-se muito inseguros quanto ao próprio papel. Segundo ela, na proposta original da escola, a função do educador deveria ser de “facilitador” da aprendizagem. O aluno era quem deveria decidir o que iria aprender, como aprender e quando aprender. Para ela, essa forma de direcionamento da prática pedagógica fez e continua fazendo com que muitos educadores tenham receio de ter atitudes reiteradas no perfil do professor da escola “tradicional”. Esclareceu: Aqui na escola Paulo Freire, nós professores, mesmo tendo no calendário escolar um dia específico para planejamento, não planejamos coletivamente nossas aulas, pois alguns professores entendem que por ser uma escola de Educação popular não precisamos planejar, tudo deve partir do aluno, fazendo com que nossa interferência seja mínima no aprendizado do aluno. Quase sempre não estabelecemos limites. As palavras da (P2), foram prolongadas com o relato da (P10), do (P13) e da (Professora Ana Rita). Eu acredito que desenvolvo minha prática pedagógica, de certa forma, com autoritarismo. O relacionamento com os estudantes não é, mas a essência do trabalho sim. Percebo que na maioria das vezes desenvolvo conteúdos longe da realidade vivida pelos meus alunos, pois quando me proponho a discutir com eles, a participação da turma é quase nula, até concordo que muitos colegas pensam que atuar com base numa perspectiva freireana dispense o planejamento, o que não é meu caso. No entanto, mesmo antes desta reunião já achava inviável continuar meus trabalhos consciente disso. Que bom, que no fundo essa estranheza com ação pedagógica desenvolvida no interior de uma escola não é só minha (P10). Estamos finalizando o ano letivo de 2011. Sinto que as coisas vão se tornando iguais. É geral na sala dos professores a falta de entusiasmo na 54 hora de ir para a sala de aula. Reclamações acerca de aulas chatas e monótonas (P13). O que nós professores de Educação Física temos percebido, é que o ensino por nós desenvolvido é bastante incoerente com os ideais filosóficos que deveriam orientar as ações escolares. São muitos os fatores que contribuem para que isso ocorra. Falta de conhecimento da pedagogia de Paulo Freire – uma vez que no curso de formação não tivemos contato com seus escritos e por sua vez a escola não nos oferece formação continuada; não temos espaço físico adequado para a prática esportiva e outras manifestações da cultura corporal, nossos alunos por sua vez não conseguem atribuir um significado as nossas aulas (PROFESSORA ANA RITA). Na ocasião a professora Maria do Céu, aproveitando o posicionamento dos professores e munida de um diálogo problematizador, posicionou-se dizendo que: “diante dos retratos apresentados acredito que compete a todos nós fazermos com que a escola se torne cada vez mais inclusiva para continuar recebendo todos aqueles que a ela procuram, mesmo diante das inúmeras dificuldades que enfrentamos. É nossa tarefa!”. Neste momento, cada um dos agentes escolares refletia a sua maneira de pensar e trabalhar, e davam sugestões para mudanças iniciais como: de formação continuada e até mesmo de mudança dos pressupostos filosóficos da escola. Este foi um momento de problematização profunda da ação pedagógica, problematização essa que não ficou isenta do debate e do conflito. No entanto, mesmo diante daquele diálogo conflituoso e harmonioso, estávamos dando os primeiros passos coletivos para problematização da prática vivida por cada um daqueles sujeitos e a escola viva estava aos poucos sendo revelado. Observei que cada um ao seu modo começava a sair de sua “gaiola 55 epistemológica”, de sua zona de conforto, a qual possuía um horizonte muito próximo. A libertação dessa “gaiola” epistemológica se iniciou no momento em que questionamos o mundo vivido por cada agente escolar, mas a libertação total só poderia acontecer a partir do momento em que as necessidades individuais se materializassem em necessidades do grupo, pautadas na realidade escolar. Conforme as colocações eram feitas, a escola viva era revelada e o próprio grupo começou a vislumbrar a possibilidade de realização de uma pesquisa para além das aulas de Educação Física. Vejo que estamos diante da possibilidade de refletirmos sobre nossas ações pedagógicas de forma coletiva, mesmo que essa iniciativa tenha partido dos professores de Educação Física, vejo que é uma necessidade do grupo (P2). Concordo! Ao invés de ficarmos nos vitimizandos na sala dos professores, poderíamos começar a pensar alternativas para desenvolvermos um trabalho comum, se o professor Mesaque e os professores de Educação Física acharem que não vai prejudicar o trabalho que pretendem desenvolver. (P1). Também concordo. Quando o professor fala que nós nos achamos vítimas isso me leva a pensar, que os nossos alunos não são marginais, mas são marginalizados muitas vezes por nós mesmo (P6). No término da referida conversação, que não se limitou apenas aos expoentes dos discursos citados acima, encontrei-me, pois, no desafio de realizar as seguintes ponderações: A leitura que realizo das falas iniciais de cada um de vocês é que ─ ainda que de forma inconsciente na maioria das vezes, o pensar freireano está presente entre vocês ─ quando vocês conseguem trazer a utopia, contribuindo para redimensionar a prática educativa na escola, incluindo 56 além da luta corporativa, a luta por uma educação inclusiva, libertaria e emancipatória. A essência do pensar freireano é fundamentalmente alimentada por uma perspectiva utópica. E se pararmos para refletir passaremos a perceber que o alicerce básico da atividade docente é a busca por uma escola pública capaz de atender, em sua plenitude os direitos e as necessidades da população e, neste contexto, dos profissionais que nela trabalham. Desse ponto de vista, em cada reivindicação, em cada estranhamento com a ação docente, e com a estrutura da instituição educativa vocês colocam-se na perspectiva dessa grande utopia freireana. E assim, entre um discurso e outro, no desenvolvimento do Círculo de cultura passei a sentir a presença do pensar freireano entre nós. Para Freire (1992, p. 10) “minha esperança é necessária, mas não é suficiente. Ela só não ganha a luta, mas sem a luta ela fraqueja e titubeia. Precisamos da esperança crítica, como o peixe necessita da água despoluída”, por isso mesmo, senti na escola viva a presença do pensar freireano. 3.1.1- Sintetizando a segunda descoberta Após ter esquadrinhado o cotidiano da escola Paulo Freire, chego à segunda descoberta desta viagem que ainda nos reserva muitas outras surpresas. Assim, enquanto os agentes escolares descansavam registrei no meu diário de campo a síntese dessa preciosa descoberta. Do discurso dos agentes escolares extraí que a escola Paulo Freire foi construída para atender jovens e adultos que se encontravam fora do ambiente educativo. No entanto, mesmo que o Projeto Político Pedagógico da escola tenha como concepção filosófica os fundamentos epistemológicos da pedagogia 57 freireana, as atividades desenvolvidas na escola não seguem tais princípios. Para Paulo Freire: Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é proporcionar condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar (FREIRE, 1997, p. 39). Na epistemologia freireana a escola precisa pautar suas ações rumo ao futuro, porque precisa pensar o futuro. No entanto, suas ações devem estar totalmente engajadas no presente. Sua ação, portanto, é contraditória. Por esse motivo, as relações entre pensamento utópico e ação pedagógica são complexas e dialéticas (GADOTTI, 2007). Assim sendo, diante do discurso pedagógico apresentado pelos agentes escolares pode-se observar primeiramente que o poder público amapaense com o passar dos anos esqueceu os reais motivos pelos quais a escola Paulo Freire foi construída, o que tem feito com que a comunidade escolar tenha que desenvolver suas atividades educativas sem as condições mínimas necessárias, tanto estruturais como conceituais. Por sua vez, na leitura do discurso pedagógico dos agentes escolares, pode-se perceber que tais educadores têm desenvolvido suas atividades educativas de forma isolada. Não há planejamento participativo na escola, consequentemente não existe socialização de dificuldades. É importante perceber que essa falta de planejamento participativo tem feito com que os educadores desenvolvam suas ações sem objetivos comuns. Além disso, ao se vitimizarem 58 frente à realidade vivida, de certa forma acabam violentando simbolicamente os alunos e alunas. Como podemos conferir no discurso do (P6) “[...] nossos alunos não são marginais, mas são marginalizados muitas vezes por nós mesmos”. Ao retornarmos ao discurso dos agentes escolares, confere-se que a referida equipe de educadores considera que as atividades educativas desenvolvidas na escola são incoerentes com os princípios filosóficos adotados pela escola, o que tem provocado insatisfação por parte de alguns educadores. Além de todos os problemas suscitados, os professores de Educação Física, têm enfrentado dificuldades para desenvolver suas atividades pedagógicas devido à falta de materiais didático-pedagógicos e estruturais da escola. Como pode ser verificado: “não temos espaço físico adequado para a prática esportiva e outras manifestações da cultura corporal, nossos alunos por sua vez não conseguem atribuir um significado às nossas aulas" (PROFESSORA ANA RITA). Diante do discurso dos agentes escolares, pude contemplar uma escola que é vítima da crise de utopia que vivenciam os gestores das políticas públicas educacionais amapaenses, crise essa que afeta a qualidade do ensino oferecido a aproximadamente 750 alunos advindos das mais distintas regiões do Estado do Amapá. No entanto, como bem pontua Gadotti (2007), ao mesmo tempo em que a crise é perder o foco, não ter respostas para questões triviais, mas essenciais para se viver melhor, é também ruptura e promessa. Com esse ponto de vista, pode-se também perceber que em meio a um contexto educativo em que falta quase tudo, existe o essencial ─ as pessoas ─ que não perderam o sonho de construir uma escola que possa atender as necessidades educativas de sua comunidade. 59 A partir do momento em que a escola viva foi revelada, vislumbrou-se a estruturação de um trabalho colaborativo. Mesmo diante do reconhecimento de que a tarefa que nos é colocada no decorrer do caminho não é fácil, o que nos levou a embarcarmos nesta viagem, foi a certeza de que é uma tarefa possível e imprescindível para o desenvolvimento de uma ação educativa crítica e emancipatória no cotidiano da escola pública. Como educador e pesquisador viajante, estou ciente que vários caminhos somados, podem viabilizar a concretização da utopia que nos move. Alguns deles estão diretamente ligados a um trabalho interior, que inclua a subjetividade; outros só podem ser pensados e estruturados de forma coletiva por meio da reflexão-pesquisa-formação-ação. Como educador freireano, percorrer junto com a comunidade escolar os caminhos de uma pedagogia em construção, é uma provocativa que em mim desperta paixões e deixa nos meus lábios um sabor de frescor, de esperança, de vontade de continuar construindo sonhos e utopias, de acredita que é urgente fazer com que sonhos e utopias estimulem e movimentem a fantasia e a esperança crítica. Pois, como bem expressa Guerreiro (2010) no poema “Pedagogia Erótica”, construído para sintetizar uma pedagogia de esperança e luta: A morte do ato pedagógico como refúgio de Tânatos desfolhando a vida na sala de aula como negação do ato de amor, como silêncio da palavra e germe da apatia. 60 Não a Tânatos como caminho, suborno do conhecimento, Não mais apedrejar sonhos e aprisionar utopia. Tragamos a sedução de Eros ao ato pedagógico, o desejo de engendrar a vida, a dialética que reinventa o ato de amor. 61 4- PRIMEIRA PARADA DO PERCURSO: momento de socialização a respeito da paisagem que foi ficando no caminho enquanto a viagem seguia O que era informe adquiriu forma, o que não tinha ordem temporal estruturou-se entre antes e depois. Surgiram associações, detalhes esquecidos foram recuperados, ligações foram estabelecidas. Os episódios descontínuos integram-se em um quadro. O que não parecia ter começo nem fim delimita-se. A sequência é um distanciamento, uma desdramatização, um deslocamento de si dentro do ocorrido. Uma sessão foi operada; trata-se apenas de uma versão da história, mas que dá uma primeira inteligibilidade. Não se busca uma explicação, mas a explicação constrói-se na narrativa. Isto com as palavras do dia a dia; as palavras ordinárias. O benefício é de ordem cognitiva, de uma inteligibilidade reflexiva que tem como benefício adicional favorecer uma autoestima, sem a qual não há estima do outro. O “eu” assume-se e posiciona-se. O “eu” profissional constrói-se ao mesmo tempo que o “eu” da identidade pessoal. Essa via feita de histórias torna-se uma coisa que nos pertence e da qual, no entanto, já nos separamos (CIFALI, 2001, p. 113). Quando viajo procuro observar atentamente a paisagem que se esvai ao longo do caminho, no entanto, em cada parada procuro visualizar a paisagem de diferentes ângulos, pois sei que a paisagem do lado direito ou esquerdo do caminho percorrido nunca é a mesma. Entretanto, como felizmente se trata de uma viagem coletiva, a paisagem contemplada nesses diferentes ângulos foi socializada e o caminho em que iríamos percorrer até chegarmos a nossa próxima parada foi acordado coletivamente. Dessa forma, como bom viajante, ao considerar a paisagem observada pelos agentes escolares, a expressão dos seus discursos, a reflexão sobre o que foi dito, levando em consideração consenso e conflito presentes em suas falas, ainda na fase de reconhecimento da escola viva, pude perceber, um desejo 62 coletivo pela descoberta mútua. Tal desejo passou a funcionar como fio condutor da curiosidade da busca, da cumplicidade, da escuta e, a partir de então, começamos a construir ponto a ponto, como bons artesãos, o cenário real para a vivência de uma educação crítica e emancipatória no cotidiano da educação popular na escola pública. Deste modo, tomando como referência os diálogos suscitados no Círculo de cultura e já me sentindo parte integrante da escola - sujeito também responsável pelo delineamento das ações que possam contribuir para o aprimoramento da prática pedagógica - convoquei os agentes escolares para a realização de outro Círculo de Cultura com objetivo de socializar os resultados obtidos neste primeiro momento e a sistematização do trabalho coletivo. Portanto, no mês de dezembro de 2011 realizamos o referido Círculo de cultura. No dia marcado estava tudo pronto. Fiz a opção em chegar com aproximadamente uma hora de antecedência (queria sentir e pensar a escola, pois estávamos a poucos minutos de tomar decisões que de certa forma mudaria a dinâmica pedagógica vivenciada durante algum tempo por aquela comunidade). Ao passear por entre os corredores estreitos, abafados e escuros da escola, ao olhar para cada sala de aula, aflorava dentro de mim um sentimento contraditório: ao observar a estrutura da escola, queria de alguma formar contribuir para a alteração daquele cenário, mas ao mesmo tempo me sentia pequeno diante das mazelas que ora observava. Foi como se eu percebesse naquele momento que a luta diária daquela comunidade escolar era uma luta imensurável. Em meio às contradições e mazelas percebida entendi a necessidade da equipe de professores de Educação Física da Escola Paulo Freire, pela busca de um 63 trabalho estruturado de forma coletiva, agregando a comunidade escolar como um todo. Na concepção de Gadotti (2007b), estar à frente de processos educativos e atuar na educação das classes populares é sempre impregnar-se de sentidos todos os atos de nossa vida cotidiana. É entender e transformar o mundo e a si mesmo. É compartilhar o mundo compartilhando mais que conhecimentos, ideias, compartilhar o coração. Neste dia, a tarde estava ensolarada ─ para variar ─ os agentes escolares aos poucos foram chegando e se acomodando em uma sala gentilmente cedida pela gestora escolar para nosso encontro. Os diálogos que antecederam a reunião giravam em torno da tarde quente e da reunião que se aproximava. Observei que alguns agentes escolares estavam com câmeras fotográficas nas mãos, papel e caneta. Na fala de alguns, percebia certo entusiasmo pelo delineamento da pesquisa e ao mesmo tempo tensão e apreensão pelo início da reunião. Às 14 horas e 22 minutos, horário indicado pelo meu relógio, deu-se início as atividades do Círculo de Cultura. Comecei o diálogo com a comunidade escolar fazendo uso de uma imagem que leva a diversas percepções e favorece a aquisição de múltiplas e díspares possibilidades de ser. Sugeri aos agentes escolares que dissessem o que estavam vendo, o que a imagem mostra? O que será que ela representa? Observe a imagem abaixo: 64 Figura 3:XXXXXXXXXXX Fonte:http://www.portalexamedeordem.com.br Aos poucos os agentes escolares foram se posicionando em relação à imagem: É um educador preso que busca analisar a sociedade mediante estudo (P3). Vejo uma enorme ampulheta e dentro dela um homem escrevendo, que pode ser um professor. Essa imagem me remete ao isolamento em que muitos de nós temos nos colocado no decorrer de nossa prática educativa (...) vejo também que ele seleciona o que considera bom ou ruim, assim como fazemos nosso dia a dia (P11). É um desenho provocativo! Pensando no propósito de estarmos aqui, e olhando atentamente para o desenho vejo que ele mostra um grande deserto construída por áreas movediças onde se encontra ancorada alguma coisa em forma de uma ampulheta que serve como proteção para os turistas, talvez esse desenho represente nossa posição atual aqui na escola em que nem nós mesmos temos percebido (P9). É uma ampulheta, com um homem dentro que esta estudando alguma coisa. Ela demonstra como precisamos de silêncio para nos concentrar (P7). 65 Concordo com o colega que é uma imagem bastante provocativa, como professora de Educação Física e atuando em uma escola que como as demais escolas públicas do nosso país apresentam inúmeros problemas, olho para a imagem e busco aproximar tanto da Educação Física como do contexto da escola pública. Quando penso especificamente na Educação Física, como professora sinto-me exatamente nessa posição totalmente sozinha, quando penso na escola pública vejo que atuo no meio do nada (PROFESSOR ADEMIR). O objetivo de iniciar o diálogo com a referida imagem foi de provocar na comunidade escolar uma reflexão a respeito de que, como isolamos os outros e nos isolados do contexto o qual estamos inseridos; como temos provocado certa separação entre a vida escolar e a vida em sociedade. Sendo que essa separação tem feito com que muitos educadores deixem de utilizar as próprias experiências de suas vidas e de seus alunos no desenvolvimento de sua prática educativa. Na minha perspectiva, como pesquisador, a imagem apresenta um intelectual que tende a isolar exogenamente o contexto - tomando como rígida “estrutura” explicativa - dos acontecimentos que pretende explicar. É claro que as “estruturas” rígidas fazem parte de determinado contexto sociológico, mas também são compostos por “acontecimentos” inesperados ou fortuitos. Pensando na representação simbólica que a imagem ora desenvolve me vem à mente: o que se precisa saber sobre a realidade? Pensando no contexto educativo vivenciado pelos agentes escolares, essa imagem foi escolhida por trazer em seu bojo o reflexo dessa realidade, realidade que tem tomado a forma de areia que passa... Pois como bem salienta o poema “A areia que passa”14 de Arthur Rodrigues: Passa a areia e assim se repete o interminável ciclo da vida 14 Poema publicado no site: www.litteris.com.br 66 Que vai do nosso próprio tempo Do nosso real entendimento. O olhar angustiado Vigia a lenta areia a mudar de plano A marcar o tempo A cobrar respostas Vira-se ampulheta e volta-se a contar o tempo A estreitar os minutos que nos separam da eternidade. Os anos passam Passamos nós e a ampulheta continua... O seu interminável e lento processo de decretar sentenças. Em decorrência do respeito e do comprometimento que tenho com o processo de formação dos agentes escolares, que mediante o posicionamento de alguns deles com relação à imagem fui realizando algumas ponderações no sentido de provocar tal reflexão - fragmentação das experiências vividas no âmbito social mais amplo e as experiências que a vida escolar tem me proporcionado. Busquei elucidar como essa separação tem impossibilitado naquela comunidade o uso da criatividade, da resolução coletiva de problemas comuns, assim como tem feito eles se desviarem das bases filosóficas as quais a escola se orienta. Ainda nesse primeiro momento da reunião, apropriei-me de um pequeno texto denominado “Os oprimidos como mestres”, produzido por Andrea Canevaro, diretor do departamento de Ciências da Educação da Universidade de Bologna, 67 Itália, o qual encontra-se publicado no livro: “Paulo Freire: uma biobibliografia” produzido pelo educador Moacir Gadotti, que traz os seguintes ensinamentos: OS OPRIMIDOS COMO MESTRES O saber é um processo e a consciência é a intencionalidade diante do mundo. É isto que Paulo Freire sempre nos diz. Ele nos previne: devemos aprender com os oprimidos e com eles elaborar uma pedagogia. Se fizermos o contrário, impondo uma pedagogia que é nossa arrogância, e impondo nossa alfabetização, a consciência se esboroa. E se esboroa a intensidade diante do mundo. Por tudo isso, e muito mais, Paulo Freire e a Pedagogia do Oprimido amedrontam. E fascinam. O medo leva a desistir: gostaríamos de esquecer para não nos empenhar-se em algo que Viver é não ter a vergonha de ser feliz escandaliza. Mas existe Cantar o fascínio em empenhar-se numa cientificidade e cantar e cantar beleza de ume eterno aprendizprotagonistas. que tem os oprimidos A como mestres como sujeitos Eu sei que a vida devia Ser bem melhor e será Através da leitura do texto, as ponderações que se seguiram foram em relação à responsabilidade que cada agente educativo tem com a alfabetização de seu aluno, sobre a leitura do mundo, mas também, com a formação humana adequada ao nível de cidadãos que queremos e precisamos ter em nosso país. O texto fez com que os agentes escolares pensassem a realidade em que a escola Paulo Freire tem desenvolvido suas ações educativas, e entre uma fala e outra foi 68 se percebendo que a realidade por eles vivida é também a realidade da grande maioria das escolas públicas das regiões norte e nordeste do nosso país. Em meio ao debate do referido texto uma professora a qual seu comportamento a mim era motivo de preocupação ─ sempre cabisbaixa, com expressão séria e sem pronunciar uma única palavra, fez a seguinte colocação: Após ficar aqui escutando vocês falarem todas essas coisas, e lendo o texto e buscando fazer a minha interpretação, percebo que esse texto é provocativo. Ele traz em seu conteúdo uma espécie de intimação para todos nós, ou vamos para o lado de que realmente temos que ir, o do comprometimento com o processo educativo de nossos alunos, ou desenvolvemos uma educação alienante para formação de sujeitos alienados. Lendo e pensando entre linhas ele traz outra mensagem, reagimos contra qualquer ato que impede de educarmos para a transformação mesmo sendo criticados pelos tarefeiros ou nos recolhemos em nossas salinhas e continuamos fazendo a pedagogia da boa vizinhança (P8). Após as ponderações da professora aquela sala foi tomada por alguns segundos por um silêncio total. Assim, encontrei-me, pois, no desafio de realizar as seguintes provocações ancoradas nos questionamentos levantados por eles na primeira reunião coletiva, questionamentos que estavam diretamente ligados às necessidades sentidas que de alguma forma os motivavam a buscarem soluções para eliminar desconexões. 69 Qual caminhos vamos seguir para que a escola possa desenvolver suas ações de forma coerente com seus princípios filosóficos? Como podemos desenvolver uma Educação Física escolar crítica e emancipatória no seio de uma escola em que tudo falta, mas tem gente com sonhos e utopias? O silêncio que entreparava aquela sala foi aos poucos sendo substituído por olhares que transmitiam insegurança, preocupação, mas ao mesmo tempo a certeza que o caminho para construção de uma educação emancipatória no cotidiano da escola estava sendo delineado. Foi quando, a professora de Educação Física, juntamente com a orientadora escolar do período matutino, e (P6) e (P9) apresentaram-me o calendário escolar para o ano de 2012, e para minha surpresa nele estavam demarcados os dias nos quais as reuniões da pesquisa sobre a prática pedagógica deveriam acontecer: Na sua ausência marcamos uma reunião para discutirmos o calendário escolar para o ano de 2012, pois necessitávamos enviar para a Secretaria de Educação até o dia 31, aí pensamos em um dia que para todos nós é ideal que são todas as terças-feiras. Pode ser? Pensamos inclusive que as reuniões podem acontecer no intervalo das 17h30min às 18h30min, já que é o período de transição de um turno para o outro e os professores da manhã poderão estar aqui estão aqui por conta do planejamento semanal que será obrigatório (P1). Assim pensamos inclusive o que inicialmente poderíamos fazer. Como o Projeto Político Pedagógico da escola 15 foi construído por uma equipe de professores do Estado do Pará, que nem mesmo sabemos quem são, e a sistemática de avaliação não segue o que o Conselho Estadual de Educação preconiza ─ nele o aluno deve ser avaliado mediante conceito, no entanto, a 15 Encontra-se nos anexos desse estudo. 70 Secretária de Educação exige atribuição numérica, e as disciplinas que compõe a matriz curricular atualmente não são as mesmas, algumas foram retiradas enquanto outras foram incorporadas, como é o caso da disciplina Educação Física. Pensamos em começar organizando a casa ─ reestruturando nosso Projeto Pedagógico (PROFESSORA ANA RITA). outra questão que nos preocupa são os livros didáticos que recebemos anualmente, quase sempre eles não atendem nossas necessidades, os conteúdos estão distantes da realidade de nossos alunos, o contexto cultural descrito nos livros faz menção a outras regiões do país, a realidade do caboclo da Amazônia quando aparece fica no segundo plano, como conteúdo marginal. Gostaríamos de fazer uso desse material, mas ainda não conseguimos estabelecer um plano comum para todas as disciplinas. Pensamos em abordar essa questão também (P6). Como sabemos professor que os pressupostos filosóficos que a escola busca seguir, é composto por conceitos chaves, conceitos esses que ajudam no direcionamento da atividade docente daqueles educadores que orientam suas ações educativas com base nessa pedagogia. Não sabemos se neste momento é viável, mas pensamos em estudar alguns desses conceitos já que como relatamos anteriormente não temos nenhum tipo de formação continuada para conhecimento e aprofundamento dos princípios básicos que orientam essa pedagogia (P9). O fragmento seguinte é resultante das necessidades percebidas coletivamente especificamente pelos professores de Educação Física e verbalizadas pelo professor Igo: Mesmo sabendo que a nossa necessidade é também a necessidade dos demais professores da escola, com relação as aulas de Educação Física gostaríamos a partir do estudo dos termos chaves proposto por Paulo Freire, desenvolver o ensino da cultura corporal bem próximo desses conceitos. Realizar aulas práticas e teóricas em consonância com aos propósitos da escola, o duro para nós é descobrir como fazer isso. 71 Naquele momento, mais uma vez tive a certeza que a necessidade de estruturação de um projeto de pesquisa da prática educativa havia se tornado uma necessidade coletiva. Posso afirmar que no trajeto dessa viagem, um dos momentos mais emocionantes por mim vivido foi exatamente este. A tentativa desse grupo de educadores é uma atitude que em mim desperta paixões: o desejo de encontrar alternativas para o desenvolvimento de uma Educação crítica e emancipatória; é uma declaração assumida da equipe de educadores com o compromisso com uma escola pública que propicie a experiência profunda e total da cidadania para todos; A utopia que movimenta os professores de Educação Física de fazer com que suas aulas não se reduzam ao aprendizado de técnicas e destrezas motoras, e sim de vivenciar na prática a possibilidade de libertação do aluno de falsas ilusões, de falsos interesses e desejos, de estruturação de uma Educação Física que seja fundamentada numa concepção libertadora de ensino que leve o aluno a compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizados da sociedade, processos esses que formam as falsas convicções, interesses e desejos, e ajudam a manter as contradições e injustiças sociais (KUNZ, 1994; DARIDO, 2003). É o que provoca em mim tal emoção. Nesse percurso da viagem, comecei a observar que aqueles educadores e educadoras queriam tanto aprender algo novo como contribuir com o aprendizado do colega, queriam eternizar a viagem de alguma forma, guardar na memória um movimento que estava sendo construído por cada um e por todos ao mesmo tempo (as câmeras fotográficas são a prova disso). Assim, encontro Franco (2012, p. 160) nos trazendo que: 72 O professor imbuído de sua responsabilidade social, aquele que se vincula, se compromete, se implica coletivamente no projeto pedagógico da escola, acredita que seu trabalho significa algo na vida dos alunos, esse professor tem uma prática pedagogicamente fundamentada. Ele insiste, busca, dialoga, mesmo que não tenha muitas condições institucionais para tal. Franco (2012) caracteriza esse processo, no qual o professor se compromete com a ação educativa, de vigilância crítica. Ao mergulhar neste processo, o professor passa a testar e refletir sobre sua prática educativa, e busca meios para transformá-la. A figura abaixo evidencia as câmeras fotográficas utilizadas por alguns agentes escolares para registro da reunião. Figura 4: Câmeras fotográficas dos agentes escolares. Fonte: Pesquisador. Arquivo pessoal 2011. Apresento também o calendário escolar em que os agentes escolares inseriram os dias em que deveriam acontecer as reuniões da pesquisa. 73 74 75 76 77 Portanto, no mapa do nosso percurso tínhamos que trilhar na reestruturação do Projeto Político Pedagógico da Escola, os caminhos conceituais da proposta pedagógica freireana para que pudéssemos encontrar um sentido comum ao uso do livro didático, assim como, no campo da Educação Física, encontrar meios para desenvolver o ensino da cultura corporal ancorado nos pressupostos pedagógicos freireanos adotados pela escola. 78 5- RELATOS DOS CAMINHOS PERCORRIDOS EM BUSCA DE UMA ESCOLA ACOLHEDORA, E DE UMA EDUCAÇÃO DIALÓGICA-PROBLEMATIZADORA Vejo as paisagens sonhadas com a mesma clareza com que fito as reais. Se me debruço sobre meus sonhos é sobre qualquer coisa que me debruço. Cada vida, a dos sonhos e a do mundo, tem uma realidade próxima, mas diferente, com as coisas próximas e coisas remotas. As figuras do sonho estão mais bem próximas de mim [...]. Só o que sonhamos, é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizando, pertence ao mundo e a toda gente. (FERNANDO PESSOA) Desde meu reencontro como os agentes escolares, a partir de 2011, venho acompanhando a preocupação de todos e as inúmeras discussões travadas sobre a necessidade de sistematização da proposta de formação de professores com relação à pedagogia freireana, para que a escola possa desenvolver um trabalho que seja coerente com os princípios filosóficos que segue. As necessidades básicas apontadas no Círculo de cultura estavam diretamente ligadas às discussões da prática educativa que envolve a construção coletiva do conhecimento, o delineamento do Projeto Político- Pedagógico da Escola e a necessidade de pensar alternativas para que as aulas de Educação Física pudessem se desdobrar nas esteiras de um ensino dialógico- problematizado, por extensão, crítico e emancipatório, o que exige a utilização do diálogo como estratégia e da transformação da consciência como meta. Para alcançar tais objetivos nos dividimos em dois grupos: o primeiro, que aqui chamarei de grupo geral, do qual fazia parte toda a comunidade escolar, incluindo os professores de Educação Física, o que se debruçaram no estudo da 79 pedagogia freireana e na reestruturação do Projeto Político- Pedagógico da escola; e o grupo formado apenas pelos professores de Educação Física que tinham a vocação de, mediante as discussões travadas no grupo geral, pensar nos meios para o desenvolvimento de uma Educação Física crítica e emancipatória no contexto da Educação Popular na escola pública. No grupo geral, nossa primeira empreitada foi o estudo da pedagogia freireana: a intenção era conhecer o Educador Paulo Freire e suas principais ideias pedagógicas. Assim sendo, os primeiros diálogos no Círculo de cultura foram alimentados por esse desejo. Inicialmente a dinâmica acordada foi que cada agente escolar deveria buscar o máximo de informações sobre o educador para que pudesse estar socializando a descoberta com os demais. As primeiras descobertas realizadas pelos agentes escolares giraram em torno da biografia de Paulo Freire, de seu método de alfabetização, assim como, de alguns procedimentos por ele adotado no ato do fazer educativo, como a dialogicidade. No entanto, no decorrer dos diálogos os agentes escolares apresentaram dificuldades para compreensão mais aprofundada do pensamento pedagógico freireano. Na memória dos encontros vividos entram-se registrados os seguintes depoimentos: No início a leitura fluiu naturalmente. Mas depois não conseguir entender muita coisa, às vezes ele fala uma coisa e volta a essa mesma coisa, ai não entendo nada. Não é fácil! (PROFESSOR IGO). Essa foi a mesma impressão que eu tive, embora eu tenha percebido tal coerência, o que eu não conseguia algumas vezes era compreender o que ele dizia (P14). Concordo, inclusive marquei um trecho que até agora busco explicação, esta no livro “Pedagogia da Autonomia: saberes necessários a prática educativa” nas páginas – 23 e 24. Diz assim: “do ponto de vista 80 democrático em que me situo, mas também do ponto de vista da radicalidade da metafísica em que me coloco e que decorre minha compreensão do homem e da mulher como seres históricos e inacabados e sobre que se funda a minha inteligência do processo de conhecer, ensinar é algo mais que verbo transitivo-relativo. Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente mulheres e homens descobriram que era possível ensinar”. O que eu não entendendo é por que ele se coloca assim? O que ele fala no início parece que não tem nada haver com o final da frase. Aí eu me pergunto – o que ele falou é isso mesmo? Essa foi só uma passagem de tantas outras que deixei de compreender (P8). Também concordo com tudo que já foi dito com relação ao que Paulo Freire escreveu. Ao realizar a leitura de algumas coisas havia momento em que era um linguajar tão acessível e fácil compreensão e em outros extremamente complexos que um sujeito sem orientação não consegue entender, e se assim fizer corre o risco de ter uma interpretação equivocada do autor. Mas de uma coisa eu tenho certeza que há um excesso de romantismo nas palavras dele, que em alguns momentos pode vim a prejudicar a ação pedagógica de for seguida a risca (P6). Em razão das dificuldades apresentadas pelos agentes escolares para compreensão dos escritos freireanos, nos encontros que se seguiram, tomei a decisão de direcionar a leitura sobre a pedagogia freireana, e na medida do possível ir sanando as dúvidas levantadas pelos agentes escolares. Começamos nossa busca com a pergunta: Quem foi Paulo Freire? Nos nossos diálogos, averiguamos que Paulo Regis Neves Freire nasceu em 19 de setembro 1921 em Pernambuco, no nordeste brasileiro, em uma região predominantemente agrária, governada com paternalismo pelos proprietários dos engenhos de açúcar. Sua população na grande maioria era composta por trabalhadores analfabetos submetidos a uma secular relação de compadrio com os proprietários da terra e a influencia do poder católico tradicional. Foi criado no 81 bairro da Casa Amarela e cresceu na companhia de meninos camponeses e urbanos, filhos de trabalhadores rurais e citadinos, vindo a falecer em São Paulo no ano 1997 (PASSETI, 1998). Encontramos em Gadotti (1996), que Paulo Freire foi um estudioso cujo seu pensamento sobrevive à poeira do tempo e permanece atualizado, suas ideias cruzaram fronteiras e o transformaram em um grande pensador referendado pela academia, pelos movimentos sociais e por aqueles que sonham sonhos possíveis e lutam por um mundo melhor. Denota o referido autor que, Paulo Freire, já na infância, realizou a descoberta de que antes de ações políticas supostamente conscientes, as coisas mudam a partir de outro princípio, aquele que diz respeito a ver e viver o mundo desde a infância. Uma forma de ser educado que depende, antes de tudo, da afetividade para se conviver e superar a vida como ela se apresenta. Nos relatos de Gadotti (1996) encontra-se expresso que Paulo Freire após realizar seus estudos no Colégio Osvaldo Cruz, ingressou na Faculdade de Direito de Recife, onde se formou, mas nunca exerceu a advocacia. Embora tendo se formado em Direito, descobriu sua vocação de educador. Porém, Paulo Freire educador, tinha como premissa: educar para a liberdade e trabalhar em prol daqueles que ainda não haviam aprendido a decodificar o mundo por meio da leitura. De acordo com Gadotti (1996), sua primeira experiência se deu no SESI Serviço Social da Indústria - onde trabalhou com famílias operárias nos “Círculos de Pais e Professores”; e vivenciou o que ele mesmo denominou de “uma educação social”. Sua estadia no SESI se deu num período de 10 anos, entre 1947 a 1957. Tal experiência possibilitou a Paulo Freire a elaboração de sua tese 82 de docência para a cadeira de Historia e Filosofia da Educação, apresentada a Escola de Belas Artes de Pernambuco, defendida em 1959. Nela, ao analisar os aspectos político-sociais do processo educacional brasileiro, o educador elucida a necessidade de estruturação de um processo educativo coerente com o contexto social da realidade a que se aplica, para ter força instrumental, como agente das mudanças sociais. Portanto, em sua tese, encontra-se uma forte crítica ao desenvolvimento da educação brasileira, que em seu entendimento acontecia desvinculada dos reais interesses do país (ROSSA, 1988). Foi seu primeiro trabalho de fôlego, denso, com reflexões que seriam aprofundadas em suas obras posteriores, entre elas: “Educação como prática da liberdade” e “Pedagogia do oprimido”. Tanto em Gadotti (1996) como em Brandão (2005), encontramos que Paulo Freire, munido do pensamento de que a educação é um caminho para a liberdade, apresentou-se para o nordeste brasileiro, para o Brasil e o mundo no final da década de 50 e início da década de 60. Quando juntamente com sua esposa, a educadora Elza Maria Costa de Oliveira, organizaram o “Serviço de Extensão Cultural” da Universidade Federal de Pernambuco e participaram ativamente do Movimento de Cultura Popular de Recife. Ainda neste período, com a ajuda de uma equipe de colaboradores, apresentou uma proposta concreta de alfabetização que possibilitou o aprendizado da leitura e da escrita em 45 dias. Durante todo esse período Paulo Freire acumulou experiências no campo da alfabetização de adultos em áreas urbanas e rurais próximas a Recife, experimentando novos métodos, técnicas e processos de comunicação. 83 Nos relatos apresentados por Gadotti (1996), encontra-se registrado que a partir de 1961, o método, já estruturado, foi posto em prática em 1962, estendeuse a João Pessoa (Paraíba) e Natal (Rio Grande do Norte), onde desenvolveu a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”. Experiência esta que deu divulgação nacional ao seu método. Na leitura cartográfica por nós realizada podemos perceber que o método de alfabetização desenvolvido por Paulo Freire não era um método abstrato de aprendizagem, mas um jeito concreto de ensinar e aprender as palavras e o mundo. Uma pedagogia que possibilitava os homens e as mulheres se alfabetizarem politicamente, o que significava ir além da aquisição dos códigos da leitura e da escrita. Mas a partir da apropriação do código da leitura e da escrita marcar a sua presença no mundo mediante dizer sua palavra. Conforme os diálogos no Círculo de cultura se intensificavam passamos a observar que nas entrelinhas da pedagogia freireana, há o desenvolvimento de um processo educativo que parte da realidade concreta dos alunos e alunas e suas formas de interpretação, que busca superá-las e construir um conhecimento novo. Este conhecimento novo integra a prática e a teoria, e desperta ambos os sujeitos do processo educativo – educando e educador; dirigente e dirigido; liderança e base – para a luta de transformação da realidade. Uma das aprendizagens adquiridas neste momento inicial foi a de que Paulo Freire pensou numa alfabetização que fosse em si um ato de criação, capaz de desencadear outros atos criadores. 84 De acordo como Beisiegel (1974, p. 165), a ideia básica do método desenvolvido por Paulo Freire é a adequação do processo educativo às características do meio. Denota o autor que: Paulo Freire encontrara no modo de realizar esta associação, necessariamente, as características intrínsecas do processo educativo. A semelhança de muitas outras importantes descobertas, o seu método também apresenta notável simplicidade. Começava por localizar e recrutar os analfabetos residentes na área escolhida para os trabalhos de alfabetização. Prosseguia mediante entrevistas com os adultos escritos nos Círculos de cultura e outros habitantes selecionados entre os mais antigos e os mais conhecedores da localidade. Registravam-se literalmente as palavras dos entrevistados a propósito de questões referidas às diversas esferas de experiências da vida no local: questões sobre experiências vividas na família, no trabalho, nas atividades religiosas, política, recreativas etc. O conjunto das entrevistas fornecia à equipe de educadores uma extensa relação das palavras de uso corrente na localidade. Essa relação era entendida como representativa do universo vocabulário local e dele se extraíam as palavras geradoras ─ unidade básica na organização do programa de atividades e na futura orientação de debates que teriam lugar nos Círculos de cultura. Para Beisiegel (1974), quase sempre as palavras geradoras selecionadas giravam em torno de 17. Dentre elas, eram mais frequentes: eleição, voto, povo, governo, tijolo, enxada, panela, cozinha. Segundo o autor, cada palavra dessa era dividida em sílabas, estas eram reunidas em composições diferentes, formando novas palavras. Esclarece o autor que a discussão das situações sugeridas pelas palavras geradoras permitia que os homens e as mulheres se conscientizassem da realidade vivida e da necessidade da sua participação na transformação dessa 85 mesma realidade, tornando mais significativo e eficiente o processo de alfabetização dos homens e mulheres que aravam a terra. Desta forma, na perspectiva freireana o próprio sujeito adulto se educava, mediado pelo coordenador de debates (o professor), mediante a discussão de suas experiências de vida com outros indivíduos que participam da mesma experiência. No entanto, clarifica Gadotti (1996) que, apesar do método freireano ser fundamental para a pedagogia da alfabetização, ao longo dos tempos vem se tornando mais do que um método que alfabetiza, é uma teoria do conhecimento a favor da compreensão da educação em que a natureza política é a preocupação central. Esclarece Gadotti (1996, p. 40) que: O método obedece às normas metodológicas e linguísticas, mas vai além delas, porque desafia os homens e as mulheres a se alfabetizarem, a se apropriarem do código escrito e a se politizarem, tendo uma visão de totalidade da linguagem no mundo. Durante nossas investigações descobrimos a existência de dois momentos importantes que podem confirmar as ponderações de Gadotti quanto à ampliação do pensamento freireano, a publicação da obra “Educação como prática da Liberdade” datada no ano de 1969, e a publicação da obra “Pedagogia da Autonomia” de 1975. A primeira obra encontra-se apoiada no pensamento social católico, no existencialismo e pragmatismo. Nas entrelinhas do livro Freire define o homem como sujeito, agente da história, em suas relações ativas com o mundo. No entendimento de Freire, o homem pode transcender a realidade, graças à sua relação com Deus que é uma relação alicerçada na liberdade, não na dominação. 86 No entanto, esclarece ele, o homem pode também acomodar-se como um animal, no momento em que apenas está no mundo e não com o mundo. Desta forma, no decorrer da obra, Freire assegura que a educação pode ajudar o homem a ser sujeito de sua própria história. Mas é enfático ao afirmar que não é qualquer educação, e sim uma educação crítica e direcionada à tomada de consciência sobre a sua situação no mundo, que leva o sujeito a adquirir a responsabilidade social e política. Uma educação baseada no diálogo e não no monólogo. No decorrer da obra os elementos do pragmatismo podem ser percebidos na educação problematizadora, que se volta para a realidade do educando, para as experiências presentes por ele realizadas. No que concerne os elementos do existencialismo, esta obra é fortemente marcada pela importância ativa do indivíduo no mundo, a importância da reflexão e da conscientização frente à realidade vivida. O diálogo pode ser entendido como a marca da existência humana e de sua ação existencialista. A publicação do livro “Pedagogia da Autonomia” de 1975, reflete a influência da teologia da libertação. Nela encontra-se expresso que a humanização é uma vocação do ser humano. Porém, a desumanização é provocada pelas injustiças sociais, exploração e violência, é a essência da contradição entre opressores e oprimidos. Na perspectiva de Freire, os opressores transformam os oprimidos em objetos, em seres inanimados socialmente. Todavia, cabe ao próprio oprimido restaurar sua humanidade e a humanidade de seus opressores. Essa restauração pode acontecer na medida em que os oprimidos deslocam os opressores de sua posição e não se tornam novos opressores, mas desse processo de humanização de mão dupla em que oprimidos e opressores se 87 libertam surge um novo homem ─ consciente de sua posição no mundo e comprometido com a libertação de seus semelhantes. Observamos que no solo epistemológico freireano, a educação exerce um papel fundamental nesse processo de humanização. Atenuamos que a educação “bancária”, a qual o professor é sujeito do conhecimento e o aluno objeto, é por extensão desumanizadora. Uma vez que, o ato educativo não se processa mediante uma ação dialogada, não há o processo de conscientização do aluno frente à realidade vivida, apenas é depositado sobre ele os conteúdos tidos pelo professor e pelo sistema de ensino como importantes para sua formação. Em sentido contrário, percebemos que a educação libertadora atua. Ela leva a conscientização. Os estudantes, através do diálogo, tornam-se capazes de ver sua situação no mundo e como transformá-la. Os homens e as mulheres libertam-se em grupo. Desta forma, na medida em que a reflexão e ação achamse intimamente ligadas, pronunciar a palavra verdadeira implica transformar o mundo. Essa forma de concepção do ato educativo fez com que Paulo Freire aos poucos fosse se transformando em um dos mais expressivos intelectuais latinoamericanos, não só apenas pela importância suscitada pelo método dialógico, mas principalmente pelo papel de educador como instigador político que o levou aos mais distantes pontos do planeta, engajando-se em diversas lutas e reafirmando sua vocação humanista (PASSETI, 1998). Na busca de sintetizar Paulo Freire, Passeti (1998, 21) descreve que: Paulo Freire lembrava personagens de Guimarães Rosa: um compadre, um sábio do sertão que vagueia sem destino, um delicado Diadorim, um 88 formoso Riobaldo. Outras vezes parecia sair, simultaneamente da literatura de Mario Vargas Liosa e Garcia Marques. Podia ser um paciente homem de romances de Jorge Amado, capaz de entender o significado da autoridade patriarcal redimensionada pela anarquia dos desejos. Era um poeta recifense como Manoel Bandeira ou um embaixador como João Cabral de Mello Neto. Entre tantas identidades, a certeza que temos é que Paulo Freire foi o autor de uma pedagogia antiautoritária, e por extensão libertadora. Que não se prendeu aos muros da escola e as paredes da sala de aula, mas se contentou com a sombra da mangueira para dialogar com homens, mulheres e crianças sonhos possíveis. Caminhou entre gentes como andarilho do óbvio, um libertário pela estrela azulada que navegava no nada. Não temos dúvidas, que: Paulo Freire na nova dimensão para qual migrastes, na tua insaciável vocação de ser mais, acho impossível que te seja negada a sombra de uma mangueira, de onde esteja nos vendo e ouvindo. Imagino até que a mangueira tenha sido a árvore da vida, no paraíso primordial. Nós que aqui ficamos á sombra desta mangueira, na terra das muitas exclusões, olharemos todos os dias para o horizonte da esperança de onde nos acenas. Teu olhar continuará nos desafiando, para dizer-nos que a luta não acabou, até que o sonho coletivo ceda lugar a realidade nova de uma terra sem exclusões, onde não se tenha vergonha de proferir a palavra amor (ANDREOLE, 1997, p. 45). No decorrer dos diálogos, os agentes escolares aos poucos foram descobrindo o quanto suas ações pedagógicas estavam distantes dos fundamentos epistemológicos da pedagogia freireana. Em cada encontro realizado, a cada nova descoberta, conscientizavam-se disso. Destaco as palavras da professora (P12). 89 Conforme nossas discussões vão avançado, percebo como nossas ações escolares estão longe dessa pedagogia, percebo também a importância de nossa escola ser freireana. Entendo agora inclusive porque nossos alunos são oriundos em sua grande maioria das partes periféricas de Macapá, a partir das discussões geradas no grupo comecei a olhar meus alunos de forma diferenciada, a sensação que tenho é que estou mais próximo deles e sinto que eles também estão mais próximos de mim. O que eu gostaria de saber, é o que devemos fazer para reproduzir a pedagogia freireana aqui? Neste momento, lembrei-me das ponderações de Gadotti (2007) quando denota que não se pode entender o pensamento pedagógico de Paulo Freire deslocado de um projeto social e político. Em razão disso, não se pode “ser freireano” apenas cultivando suas ideias. Isso exige em primeiro lugar, comprometer-se com a construção de um “outro mundo possível”. Uma vez que a pedagogia desenvolvida por Paulo Freire é uma pedagogia sem fronteiras, que rompe as barreiras do impossível e realiza um convite aos homens e mulheres para transformar o mundo. Segundo Gadotti (2007), Paulo Freire se sentia constrangido, quando alguns dos adeptos a sua pedagogia buscavam repetir mecanicamente o que havia escrito, dito, ou feito. Para Gadotti, ele era radicalmente contrário aos “repetidores de suas ideias”, uma vez que, o próprio Paulo Freire buscava revisitar as suas ideias para inseri-las no contexto onde se encontrava e, assim, nos deu testemunho de que não era um repetidor de suas próprias ideias. Era coerente com elas. Por esse motivo que ele solicitava aos educares e educadoras para que escrevessem pedagogias. 90 No decorrer das discussões fomentadas no Círculo de cultura, os agentes escolares mediante um processo de formação, foram descobrindo que para o desenvolvimento de um processo educativo ancorado na pedagogia freireana há a necessidade de formação continuada do professor. Uma vez que, nas entrelinhas da pedagogia freireana, o processo educativo é visto como uma prática libertadora tecida pelo próprio homem no processo histórico de sua humanização, o que exige de cada educador multidimensionalidade a que compreensão engloba de uma que prática educar filosófica, implica uma sociológica, antropológica, cultural, política, estética, ética, pedagógica, comunicacional e informacional construída na interação da relação que os homens e as mulheres estabelecem com o mundo. Essa dimensão do processo educativo exige dos atores envolvidos o estabelecimento de novas relações com a educação, com a política e a informação. Posso afirmar que um dos ensinamentos mais marcante desse momento de formação inicial foi a compreensão por parte dos agentes escolares de que a pedagogia freireana procura despir-se de qualquer forma de pré-conceito e práticas cristalizadas no processo de formação para levar os homens e as mulheres ao encontro de uma pedagogia que é recheada de saberes essenciais ao exercício da prática educativa crítica. Quando nos debruçamos na leitura do livro “O que é método Paulo Freire” publicado no ano de 2005 pela editora brasiliense, de autoria do Educador Carlos Rodrigues Brandão, passamos a entender que a pedagogia desenvolvida por Paulo Freire é uma pedagogia alicerçada na ação e reflexão, teoria e prática, no diálogo entre os sujeitos do processo educativo e na autonomia em que a 91 relatividade dos saberes construídos já aponta a mudança de nossas atitudes diante do mundo. Tal entendimento nos levou a perceber que um processo educativo ancorado nesta vertente pedagógica exige dos sujeitos envolvidos uma busca constante de superação do “ser”. Essa superação requer um processo formativo em que a interação dialógica permite a construção do sujeito-grupo, sujeito-contexto, sujeito-realidade, sujeito-participante. Pois, como bem pontua Maclaren (1999, p. 270), “[...] a pedagogia freireana não reduz o mundo a um texto mas, estipula as condições para a possibilidade de existência de modos diversos de conferir sentido às experiências vividas”. É por esse motivo que nas esteiras freireanas a formação dos homens e mulheres não pode se dar mediante um processo reduzido em si mesmo, a um treinamento meramente instrumentalizado das técnicas de ensino, mas antes deve “prescindir da incessante busca de criação de um „saber-pensar‟, de um pensar certo‟, de um „pensar critico‟. Pensares e saberes que, não se contentando com a fonologia e a morfologia da tecnologia ou da ciência, se alongam, até sua sintaxe” (FREIRE, 1994, p. 146). O fascinante neste processo de descoberta, de formação, foi contemplar a mudança que cada agente escolar passava. No decorrer dos nossos encontros fui testemunha de um redesenhar a pedagogia freireana. Neste redesenhar havia presente o coração, a mente, e as ações modificadores de cada agente escolar. Aos poucos foram compreendendo que são muitas as coisas que precisam saber para ensinar, uma vez que, atuar na perspectiva freireana exige do educador: Rigorosidade metódica; Pesquisa; Respeito aos saberes dos educandos; Criticidade; Estética e Ética; Corporificação das palavras pelo exemplo; 92 Risco, aceitação ao novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; Reflexão crítica sobre a prática; O conhecimento e a assunção a identidade cultural; Consciência do inacabamento; O reconhecimento de ser condicionado; Respeito à autonomia do ser educando; Bom senso; Humildade, tolerância, e luta em defesa dos direitos do educando; Apreensão da realidade; Alegria e esperança; Convicção de que a mudança é possível; Curiosidade; Segurança, competência profissional e generosidade; Comprometimento; Compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo; Liberdade e autoridade; Tomada consciente de decisões; Saber escutar; Reconhecer o que é a educação ideológica; Disponibilidade para o diálogo; querer bem os educandos (FREIRE, 2009, p. 7-8). No entanto, no decorrer das discussões atentei para o fato de que os agentes escolares necessitavam, antes de qualquer coisa, encontrar respostas dentro de cada um para a pergunta: “o que precisamos ser para ensinar?”. São inúmeras as respostas. Devemos, quem sabe, ser uma criança para continuar sonhando com algo que seja possível e impossível; ou ser rebeldes como nossos alunos e alunas, já que essa pode ser a marca de sua vitalidade e inteligência; ser autônomos para que mesmo diante de um espaço regido pelas políticas conservadoras possamos criar um ambiente onde os que a ele adentram passam se interrogar a respeito de si mesmo, ou quem sabe precisamos ser sujeitos que conseguem socializar o poder que tem em suas mãos para que o educando possa assumir-se como sujeito também da produção do saber. No transcorrer de nossos encontros nos aproximamos de uma educação que por natureza é um ato político, que possibilita um processo de reeducação de todos os sujeitos envolvidos, que ultrapassa as fronteiras da transmissão de 93 conteúdos, e exige uma postura consciente de homens e mulheres diante do mundo e do outro que necessariamente não pensa e age como “eu”. Entre uma leitura e outra, fomos aos poucos desvendando Paulo Freire e seus escritos. Os agentes escolares começaram a fazer associações com a prática que desenvolviam na escola e criaram o desejo de aproximação dessa prática a pedagogia. Conforme as discussões iam se alargando, surgiu a necessidade de buscar desenvolver um trabalho coletivo com os livros didáticos oferecidos pela escola. Segundo relato de alguns agentes escolares os conteúdos dos livros didáticos, na maioria das vezes, são distantes da realidade vivida pelos alunos e alunas. Nas memórias do Círculo de cultura esse fato se evidencia: Os livros didáticos que recebemos, não atende nossas necessidades, os conteúdos estão distantes da realidade de nossos alunos, o contexto cultural descrito nos livros faz menção a outras regiões do país, a realidade do caboclo da Amazônia quando aparece fica no segundo plano, como conteúdo marginal. Gostaríamos de fazer uso desse material, mas ainda não conseguimos estabelecer um plano comum para todas as disciplinas (P5). Pensando no que estudamos nas últimas semanas, acredito que poderíamos pensar em extrair dos conteúdos expressos nos livros e das necessidades presentes em cada turma temas geradores. O que acham? (PROFESSOR ADEMIR). Eu pelo menos acho bem coerente, nós trabalhamos no decorrer do ano letivo com alguns temas como: Orientação Sexual; Violência; Drogas; Trabalho Infantil; Cidadania; Racismo; Deficiência; Alcoolismo; Prostituição; Gravidez Precoce; Obesidade; Sedentarismos; Valores Morais; Problemas Sociais; Emprego/Desemprego; Moradia; Saneamento Básico; Abandono de Vulnerável, que alguns são os temas transversais propostos pelos PCN‟s, a diferença é que a escolha do tema tem que se dá pela necessidade da turma e não apenas pelo que preconiza os livros e os PCN‟s (P1). 94 A partir da necessidade percebida, os agentes escolares realizaram uma análise coletiva dos conteúdos propostos pelos livros didáticos, assim como, realizaram uma avaliação diagnóstica das necessidades presentes em cada turma. Dessa análise e avaliação ficou acordado que no decorrer do ano de 2012, os diversos componentes curriculares deveriam focalizar um ensino interdisciplinar referente a uma educação para os Direitos Humanos e para o respeito à diversidade. Tal escolha foi assentada no fato de que muitos alunos desconhecem os princípios básicos que regem a vida em sociedade alimentada por direitos e deveres, assim como a escolha se alicerçou no fato da clientela da escola ser totalmente heterogenia, oriunda dos mais distintos grupos sociais e que por esse motivo em alguns momentos os agentes escolares tem vivenciado situações de discriminação e desrespeito de um aluno para com o outro, ou de um grupo de alunos para com o outro. Os agentes escolares são unânimes em ressaltar que na vida extraescolar os alunos e alunas da escola Paulo Freire sofrem diversas formas de preconceito e discriminação ─ pela idade, pela etnia, pelo vocabulário, pelo bairro onde moram, pela orientação sexual. Segundo eles, os preconceitos e discriminações sofridos na maioria das vezes são reproduzidos na escola e consequentemente em outros espaços sociais. A realidade atual vivida pelos alunos e alunas da escola Paulo Freire já havia sido detectada em um estudo por mim realizado no ano de 2008, quando foi observado que o fenômeno da violência no ambiente escolar se manifestava de forma multifacetada e multicausal, e emergia de forma silenciosa e articulada, em 95 que os professores encontravam dificuldades para o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem (CORREIA, 2010). As diversas violências sofridas e provocadas pelos alunos eram em sua grande maioria oriundas de pré-conceitos e discriminação. 5.1- Princípios da Educação em Direitos Humanos como garantia a igualdade e a diversidade Dada à necessidade de desenvolvimento de uma Educação pautada nas esteiras dos Direitos Humanos e para o respeito à diversidade, os debates no Círculo de cultura giraram em prol de compreensão dos princípios da Educação em Direitos Humanos. Atenuamos que no contexto da Educação Popular, educar em Direitos Humanos, pressupõe o desenvolvimento de um processo educativo que ultrapassa os muros da escola, não estando ancorada apenas em aspectos meramente cognitivos, mas pressupõe a inserção ativa dos membros de uma dada comunidade em suas atividades. Exige um processo educacional global, onde os educandos possam se construir mediante um relacionar-se experiencial com o mundo da vida (NETO, 2007). Tal perspectiva compreende que os Direitos Humanos não são apenas indicativos de direitos fundamentais que devem ser respeitados, mas, sobretudo, como uma defesa da igualdade entre os seres humanos, respeitando suas diferenças (SANTOS, 1997; DIAS, 2007). 96 Desta forma, o respeito à igualdade e ao mesmo tempo à diversidade existente entre os seres e os grupos humanos é indispensável para assegurar a igualdade sem aniquilar as diferenças. Uma vez que, os fundamentos dos Diretos Humanos denotam que todos nós independente das múltiplas diferenças biológicas ou culturais somos iguais em dignidade e, portanto, somos iguais em direitos (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, Art. I, 1948). Santos (1997) aponta que modernamente a igualdade é um paradigma de inclusão social. No entanto, lembra-nos o autor que a igualdade não pode ser tomada como uniformidade que acaba desconsiderando a diversidade. Para Santos “[...] as pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza (1997, p. 111)”. Comparato (2011) clarifica que a pós-modernidade possui um grande impacto no campo dos Direitos Humanos, principalmente porque ela nasce orientada por valores que são diversos daquele da modernidade. O valor da liberdade que é mantido como fundamental, mas ao lado da liberdade não mais igualdade e fraternidade, agora diversidade e tolerância, portanto, o convívio com a diferença. Denota o autor que se o grande símbolo de consagração dos valores da modernidade é a Revolução Francesa de 1789, a eclosão dos valores pósmodernos se dá ao redor de maio de 68 em Paris, quando o movimento estudantil aliado a uma série de outras identidades reivindica e postula a garantia de realização de direito a diferença, então esse discurso é um discurso extremamente pertinente, junto com a emergência da luta por afirmação do movimento feminista, a questão do gênero, dos movimentos sociais em sua grande diversidade, 97 postulando por um direito a terra, por um direito ao teto, a questão indígena, o direito a garantia de um regionalismo cultural em oposição à globalização, o que de certa forma, vem dá um colorido a identidade da própria cidadania. Desta forma, ao nos debruçarmos sobre os princípios da Educação em Direitos Humanos e buscando problematizá-los em um país como o Brasil, e em especial no contexto do Estado do Amapá, mais especificamente no chão da escola de Educação Popular Professor Paulo Freire, não poderemos ignorar a luta do poder público brasileiro e amapaense para desenvolvimento de uma educação para todos. Com essa luta, o ideal da política governamental é garantir efetivamente a igualdade. Todavia, na perspectiva de uma educação para a aceitação do diferente, faz-se necessário atentarmos para que a ideia do “para todos” não adentre os muros da escola no formato de desrespeito às diferenças. Uma vez, que não se pode garantir a igualdade sem a devida tolerância à diferença (DIAS, 2007). Na busca de encontrar coerência às ações educativas que deveriam ser fomentadas a partir desse processo de formação, conforme os estudos referentes à Educação em Direitos Humanos alargavam-se os agentes escolares e buscavam fazer associações ao pensamento pedagógico freireano. Uma associação realizada pelos agentes escolares que merece ser referendada é a de que a Educação em Direitos Humanos assenta-se na necessidade de dialogar com os vários saberes que permeiam o universo de compreensão do mundo. Nesse sentido, é de fundamental importância que o educador e a educadora reconheçam e respeitem o saber do educando. Tal associação pode ser confirmada nas palavras freireanas abaixo: 98 Se, de um lado, não posso me adaptar ou me “converter” ao saber ingênuo dos grupos populares, de outro lado não posso [...] impor-lhes arrogantemente o meu saber como verdadeiro. O diálogo em que vai desafiando o grupo popular a pensar a história social com a experiência igualmente social de seus membros, vai revelando a necessidade de superar certos saberes que, desnudados vão mostrando sua “incompetência” para explicar os fatos (FREIRE, 1997, p. 32). Descobrimos, então, que educar em Direitos Humanos exige uma escuta sensível e uma ação compartilhada entre educador e educando, capaz de promover processos autônomos de produção do conhecimento. Nas esteiras da pedagogia freireana a conscientização é um importante elemento movedor das práticas educativas transformadoras. A consciência do ser-no-mundo possibilita a construção de sujeitos socialmente críticos e participativos em determinado espaço social. Conscientes de seu inacabamento e, por isso mesmo, capazes de serem protagonistas de suas próprias histórias. Enquanto educador/pesquisador, imbricado no processo de formação dessa equipe de educadores, no momento em que busco situar a Educação em Direitos Humanos no contexto educativo em que se desdobra o referido estudo, fica latente a necessidade dos agentes escolares de assumirem o diálogo como fio condutor de suas ações, para que possam estabelecer critérios de convivência cada vez mais tolerantes e respeitadores, assim como, o processo educativo possa se desenvolver tendo como elemento mediador os saberes tanto do educador como dos educandos. Pois como bem denota Candau (1998, p. 36): A Educação em Direitos Humanos potencializa uma atitude questionadora, desvela a necessidade de introduzir mudanças, tanto no 99 currículo explícito, quanto no currículo oculto, afetando assim a cultura escolar e a cultura da escola. Portanto, um processo de Educação em Direitos Humanos deve acima de tudo ser capaz de sensibilizar e humanizar, por sua própria metodologia, muito mais do que pelo conteúdo daquilo que se aborda. Sensibilizar e humanizar pressupõe reconhecer a presença da opressão permanente transmitida pela própria cultura. Por isso, Freire (1987. P. 37) afirma que: Constatar esta preocupação implica, indiscutivelmente, reconhecer a desumanização, não apenas como viabilidade ontológica, mas como realidade histórica. É também, e talvez sobretudo, a partir dessa dolorosa constatação que os homens se perguntam sobre a outra viabilidade ─ a de sua humanização. Ambas na raiz de sua inclusão, os inscrevem num permanente movimento de busca. Humanização e desumanização, dentro da história, num contexto real, concreto, objetivo, são possibilidades dos homens como seres inconclusos e conscientes de sua inconclusão. Mas se ambas são possibilidades, só a primeira nos parece ser o que chamamos de vocação dos homens. Vocação negada, na injustiça, na exploração, na opressão, na violência dos opressores. Mas afirmada no seio da sociedade, de justiça, de luta dos oprimidos, pela recuperação de sua humanidade. Tal perspectiva de Educação em Direitos Humanos mantém uma ligação direta com os ideais de democracia, cidadania, paz e justiça social, tão caros aos que labutam pelos Direitos Humanos em nosso país. Ao teorizarmos a Educação em Direitos Humanos como garantia à igualdade e à diversidade, temos a limpidez de que pensar em estratégias que possam contribuir para a formação de sujeitos conscientes e responsáveis pelos seus atos, não se constitui em uma tarefa fácil, haja vista, que o terreno da educação para a conscientização e para a liberdade, 100 pressupõe conhecer o lugar o qual se atua e a importância de colocar em dúvidas conhecimentos e certezas, questioná-los a partir de condições próprias do meio em que se vive. Mediante a essas observações, as instituições educativas, em especial as da rede pública de ensino, em que se constituem em um verdadeiro palco onde as diversas contradições sociais se encontram, precisam primar pela construção de um ambiente pedagógico para formação e propagação das identidades sociais. Acredita-se que esse ambiente poderá ser edificado por intermédio de uma práxis educativa, problematizadora e que tematize e desnaturalize a desigualdade e a dominação, com intenção de envolver os educandos na luta política por uma sociedade mais justa e diversa, em que sua gente possa ter ódio porque é capaz de amar, mais também ser respeitado porque é diferente. 5.2 – Caminhando nas esteiras da Educação em Direitos Humanos A diminuição de minha estranheza ou de minha distância da realidade hostil em que vivem meus alunos não é uma questão de pura geografia. [...] Minha abertura á realidade negadora de seu projeto de gente é uma questão de real adesão de minha parte a eles e a elas, a seu direito de ser. (FREIRE,1998,p.155) Dada a necessidade de desenvolvermos um ensino pautado na Educação em Direitos Humanos para que a comunidade estudantil pudesse atenuar para a importância da igualdade e ao mesmo tempo do respeito às diferenças, os agentes escolares da escola Paulo Freire no decorrer do ano de 2012 buscaram desenvolver um ensino focado nos princípios de igualdade e diferença. 101 Assim sendo, o que busco materializar nas entrelinhas dessa tese é relatar, criticamente a singular oportunidade que aos 31 anos de idade tive de vivenciar uma experiência didática de inspiração freireana. O que realmente ocorreu? Como os princípios da Educação em Direitos Humanos haviam sido amplamente debatidos no grupo geral, em comum acordo foi decidido que as disciplinas que compõem o currículo escolar desenvolveriam debates inicialmente sobre a temática: cultura e identidade. Assim, os professores de Educação Física, juntamente com os professores de História e Geografia, desenvolveriam um trabalho comum, cada um focando sua área de atuação, mas, ao mesmo tempo, fazendo analogia com os outros componentes curriculares. A ideia era mostrar aos alunos e alunas como a cultura de cada povo mantêm uma ligação direta com seu espaço geográfico, e acabam determinando as manifestações corporais e a identidade de cada povo. As disciplinas Língua Portuguesa e Matemática desenvolveram reflexões com relação às variações linguísticas e a economia que acaba determinado os modos de ser e viver de cada grupo social. Os componentes curriculares: Educação Artística e Ensino Religioso fomentaram o debate que englobava a temática da arte e religião. O objetivo primeiro é mostrar como os diversos credos religiosos estão atrelados à etnia, à cultura e à arte, elementos esses que mantém forte ligação com a identidade de cada povo. 102 No decorrer dessa dinâmica de ensino, a gestora escolar e o corpo técnico pedagógico ficaram com a tarefa de auxiliar todos os professores e professoras para que seus planejamentos fossem de fato efetivados. Desta forma, evidencio a experiência de articulação dos diversos componentes curriculares que atuaram em sintonia pela busca de objetivos comuns. Evidencio ainda o movimento flagrado durante o trajeto da pesquisa que arrastou grande parte dos agentes escolares para atuarem com ênfase na pedagogia freireana, o que exigiu comprometimento e aguçada percepção da realidade. O trabalho interdisciplinar desenvolvido no ano de 2012, foi o ponto de partida para que os agentes escolares iniciassem um movimento educativo em sintonia com a pedagogia freireana. Uma vez que, a proposta educativa delineada pelos agentes escolares passou a funcionar como um instrumento de intervenção dos educandos no mundo. Ao colocarem no horizonte da prática educativa, o inadiável desejo de atuar com base nas necessidades concretas apresentadas pelos educandos, os agentes escolares começaram a desenvolver um currículo emancipatório, pois, mediante um trabalho que objetivava a conscientização dos alunos frentes as diversas identidades presentes no seio da escola, buscaram transcender uma visão fragmentada de currículo, prescritiva, estática, cristalizada. Visão esta amplamente propagada nos livros didáticos recebidos pelos educadores, que acaba por delimitar uma determinada concepção de homem, mundo, sociedade e educação. 103 Nas esteiras da pedagogia freireana o currículo escolar não pode ser reduzido a uma pura relação de conteúdos programáticos. Para Paulo Freire, a compreensão do currículo deve englobar a vida na escola, o que nela se realiza e o que não se realiza. Assim como deve contemplar a força da ideologia em sua representação não só no plano das ideias, mas no campo da prática concreta (FREIRE, 1999). Foi essa concepção de currículo que, a partir dos diálogos travados no Círculo de cultura, os agentes escolares procuraram desenvolver no cerne da escola um currículo pleno, original, ancorado na realidade vivenciada por seus alunos. Currículo esse que aos poucos foi buscando superar a noção de conjunto de conteúdos acumulados e transmitidos mecanicamente. Tal metodologia permitiu a construção de um caminho com idas e vindas, recheado de contradições, conflitos, anseios, desejos que foram tomando contorno ao longo do desenvolvimento do trabalho educativo. Enquanto agente de pesquisa entrelaçado no processo de formaçãoreflexão-ação desse grupo de educadores, posso afirmar que tal processo, ainda que inconcluso, permitiu que os educadores aos poucos elaborassem seus próprios conhecimentos pautados na compreensão da realidade. Observei que a concepção de homem, delineada pelos agentes escolares, passou a manter uma forte ligação com a pedagogia freireana na sua concretude individual e na sua dimensão. Pois, como bem pontua Freire (1993), é na reinvenção de si mesmo, na experimentação do que se herda, recebe ou adquire do contexto social que se pode criar e recriar as experiências humanas, e fazem com que o ser humano venha se tornando este ser que, para ser, tem que estar sendo. Este ser histórico 104 e cultural que não pode ser compreendido apenas pela biologia ou pela genética, nem tampouco apenas pela cultura este ser que vive, em si mesmo, a relação dialética entre o social e o individual. Nas declarações de alguns educadores no decorrer do Círculo de cultura há a confirmação desse ser humano: Existem eventos, situações oferecidas pela vida em sociedade que não há como vivenciá-las intensamente sem descobrir e atribuir significado primeiramente por cada um de nós (P3). Mesmo diante da realidade em que nossa escola vive, há hoje em nosso grupo uma vontade imensa, uma vibração interior que nos move rumo a um objetivo comum (PROFESSOR PEDRO). Quando passamos a focalizar o processo educativo numa perspectiva mais acolhedora, mais dialógica, nossos alunos foram se transformando, na medida do possível eles vem participando das aulas. Quando comecei a trabalhar a variação linguística e falei que existe uma língua padrão considerada correta, mas que também existem formas diferentes de comunicação, e que nenhuma delas pode ser considerada errada, comecei a perceber que meus meninos e meninas ficaram mais a vontade para se expressar. Mesmo eu tendo abordado inicialmente a temática da variação linguística, muitos assuntos vieram a reboque durante as aulas. A cada aula eu me transformo, e tenho certeza que essa transformação respinga neles (P10). Foi nessa perspectiva emancipatória que a vontade de re-elaboração do Projeto Político-Pedagógico da Escola foi sendo cada vez mais alimentada. Assim sendo, munido dos conhecimentos adquiridos no decorrer dos encontros do Círculo de cultura, e do comprometimento com a formação pessoal e profissional que cada agente escolar tinha, nos dedicamos a reestruturação do Projeto Político-Pedagógico. 105 6- CAMINHANDO RUMO À REESTRUTURAÇÃO DO PROJETO POLÌTICOPEDAGÓGICO: trilhas a serem descobertas Uma das maiores preocupações dos agentes escolares relacionou-se ao Projeto Político-Pedagógico da escola, que se encontrava inalterado desde a implantação no ano de 1997. Segundo os agentes escolares, o referido projeto nada tinha haver com a realidade vivenciada por eles no decorrer da prática educativa. Um elemento que representa esse distanciamento encontra-se na sistemática de avaliação prescrita no projeto atual, prescrito que os alunos sejam avaliados mediantes conceitos, enquanto que o Conselho Estadual de Educação amapaense preconiza a avaliação numérica. Além disso, na perspectiva dos agentes escolares: Quando a gente lê aquele projeto de 97 não observamos muita aproximação com a prática desenvolvida pela escola, em conversas sobre o projeto atual da escola chegamos a conclusão que ele foi construído de maneira fragmentada, ficamos sabendo que foi elaborado por uma equipe de educadores do Estado do Pará que se quer visitou as dependências da escola e sua redondeza. Por isso, que gente percebe diversas incoerências na concepção do projeto, e fica difícil seguir um projeto desse (MARIA DO CÉU – GESTORA DA ESCOLA). A verdade é que a necessidade de re-laboração do Projeto Político-Pedagógico da escola é urgente, uma vez que ele encontra-se totalmente ultrapassado, foi construído em 1997, então é um período muito longo, no decorrer de nossas atividades pedagógicas temos apontado inúmeras necessidades, mas até agora nada foi feito. Se pararmos para pensar o projeto da escola tem sido avaliado constantemente por nós, mas fica só na avaliação, nada, além disso. (P11). Concluindo, o coletivo de professores não está satisfeito com o Projeto Pedagógico da escola (PROFESSOR ANA RITA). 106 A partir do que expressaram os agentes escolares ficou latente os motivos que moviam a equipe pedagógica e administrativa da Escola Paulo Freire e a reestruturação do Projeto Político-Pedagógico da escola. Desta forma, os encontros posteriores no grupo geral, se deram principalmente com esse objetivo. Para tanto, na primeira reunião realizada como o objetivo de sistematização do trabalho de reestruturação do Projeto Político-Pedagógico, busquei identificar a percepção que cada agente escolar tinha referente a esse documento. Encontrei em alguns relatos que: Para mim é um documento que respalda a ação docente (P3). Dar subsídio para o planejamento pedagógico, quando se tem um Projeto Político-Pedagógico bem estruturado e atualizado, fica até mais fácil desenvolver as atividades semanas e um trabalho coletivo o qual estamos almejando desde o final do ano passado (P8). Dentre os documentos que temos na escola, é o mais importante, ele diz o que a escola realiza e o que sua comunidade pensa. Se não temos esse documento não temos identidade (PROFESSOR ADEMIR). Assim como os demais colegas concebo o Projeto Político-Pedagógico como de extrema importância para a escola, é um plano em que encontra-se registrado toda a vida escolar e inclusive deve apontar possível soluções para problemas presentes. Teoricamente o que sei é isso (P4). Pela leitura realizada do nosso P.P.P atual é isso mesmo, é um documento que contém as metas da escola, como ela é constituída (P14). Como professor de Educação Física nunca participei da elaboração de um Projeto Político-Pedagógico, mas sei que é um documento fundamental para escola e para nós educadores, uma vez que através dele podemos contribuir para que a escola seja aquilo que queremos que ela seja, no nosso caso, nem se fala, haja vista que na maioria das vezes alguns colegas e até o corpo pedagógico da escola não entende como necessária nossa participação, somos tidos apenas como professores recreadores (PROFESSOR PEDRO). 107 Pelos relatos dos agentes escolares observei que eles concebem o Projeto Político-Pedagógico como um importante documento que oferece subsídio à prática educativa. Nas ponderações do professor de Educação Física encontra-se expresso que é um documento importante, mas que na maioria das vezes não participam de sua elaboração pelo fato de alguns agentes escolares não entenderei quão importante é a participação coletiva. Mediante tais percepções convidei os agentes escolares a nos debruçarmos no estudo do Projeto Político-Pedagógico, a fim de encontrarmos uma explicação teórica que pudesse respaldar a construção desse documento, para que sua reestruturação acontecesse ancorada nos fundamentos básicos e nos princípios delineados teoricamente para sua construção. Sintetizo a seguir os principais achados oriundos dos debates fomentados no Círculo de cultura desenvolvido no grupo geral. Gostaria de deixar explicito que, a referida síntese se constitui em uma grande paráfrase dos debates suscitados em decorrência da leitura realizada de alguns textos referente à temática do Projeto Político-Pedagógico, que aqui foram complementados com os escritos de alguns estudiosos que se dedicaram no estudo desse importante documento para cultura organizacional da instituição educativa. Percebemos que o Projeto Político-Pedagógico deve explicitar princípios e estratégias concretas, que constituem o compromisso político e pedagógico coletivo da comunidade escolar, que deve ser fruto da reflexão e investigação realizadas por seus agentes escolares. Verificou-se que esse processo se consolida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9394/96), que estabelece no art. 12 inciso I a responsabilidade do 108 estabelecimento de ensino na elaboração e execução de sua “proposta pedagógica”, com o intuito de refletir sobre a intencionalidade educativa presente na instituição de ensino. Atentou-se para o fato de que todas as ações propostas na elaboração do Projeto Político-Pedagógico devem estar relacionas com os princípios norteadores do planejamento dialógico, ou seja, o entendimento do planejamento da escola, que visa garantir a participação efetiva dos vários segmentos escolares avaliando objetivamente as necessidades e expectativas de todos, sendo, portanto um processo sempre inconcluso, consequentemente, suscetível a mudanças necessárias durante sua concretização. Encontramos presente nos escritos de Veiga (1997), que o projeto políticopedagógico é um plano de ação escolar que delineia de forma global a identidade da instituição educativa. É um documento em que se encontra registrado a organização do trabalho na escola, a definição de sua função social, a concepção filosófica, política e os direcionamentos administrativos da escola. Denota que seu direcionamento e efetivação deve essencialmente acontecer por meio de um processo democrático, em que as ações presentes não podem ser definidas aleatoriamente, mas sim coletivamente e que almejam determinados objetivos comuns. Acrescenta Neira (2004), que as referidas ações não podem ser superficiais, e sim fundamentadas em necessidades coletivas, concretas e possíveis de realização. Corroborando com Neira (2004), Vasconcellos (2007, p. 43) esclarece que a realidade escolar só poderá ser alterada mediante a fomentação de ações concretas, em que “[...] não basta qualquer ação. Não pode 109 ser qualquer ação, pois não temos qualquer finalidade, e não partimos de qualquer realidade”. Desta forma, o Projeto Político-Pedagógico tem como vocação a busca por uma escola com um caminho, de uma ação movida por desejos intencionais amplamente declarados, que são germinados por um compromisso definido coletivamente. Por esse motivo, é que todo Projeto Pedagógico é, também, um Projeto Político, uma vez que mantém uma relação estreita com o compromisso sociopolítico e com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político porque mantém compromisso com a formação cidadã dos sujeitos para um determinado tipo de sociedade. E é pedagógico porque é no momento do fazer educativo que se vivencia o que se definiu como política (VEIGA, 1997). Para Castro (1998, p. 403): É necessário que o projeto político-pedagógico se apóie em relações democráticas e autônomas, onde o autoritarismo, o corporativismo e a competitividade cedem lugar ao processo democrático e autônomo de tomada de decisões e onde a divisão fragmentada e hierarquizada do trabalho ceda lugar ao trabalho cooperativo e emancipador de atores comprometidos e interessados na realização de um trabalho educativo de qualidade. Nas esteiras desse pensamento Contreras (2012) afirma que, uma escola pode ser considerada como autônoma, quando é capaz de estabelecer sua própria dinâmica de funcionamento, sem violar a unidade do sistema. Para Freire (1996), a autonomia exige um ato comunicante co-participativo, exige uma reflexão crítica e prática de modo que o próprio discurso teórico tenha que ser coerente à sua explicação. Para Gadotti (2007), autonomia e liberdade são algo a 110 ser constantemente construídos. Daí se justifica a necessidade de se constituir no seio da instituição educativa condições de discussões conscientes, criativas e críticas, resultantes de um esforço coletivo e sempre inacabado, que exige seu aprimoramento constante. Nesse sentido, como educador estou imerso no processo de formação e na busca de concretização das utopias desse grupo de educadores. No momento em que paro para analisar as transformações que a escola Paulo Freire vivenciou desde sua implantação, começando com as mudanças de localização periódicas, o esquecimento pelo poder público amapaense dos reais motivos que levaram a implantação da escola, e o contexto atual em que a prática educativa se materializa, começo a perceber de forma mais nítida que este espaço escolar necessita da reestruturação do seu Projeto Político-Pedagógico, assim como verifico, a importância de uma organização coletiva em que os agentes escolares, por meio do diálogo, possam examinar e questionar as relações de poder presentes no seio da escola, para que possam, construir democraticamente o currículo da escola e articular a prática educativa num movimento de açãoreflexão-ação e assim sejam respeitados como sujeitos, autores de sua própria prática educativa. No entanto, devo esclarecer que, no momento em que as literaturas referentes à vocação do Projeto Político-Pedagógico estavam sendo debatidas e problematizadas no Círculo de cultura, mesmo diante da compreensão por parte dos agentes escolares dos “textos selecionados”, senti necessidade de abrir “aspas” para o debate com relação à importância sine qua non da visão de sociedade que os agentes escolares possuem para estruturação de um trabalho 111 coletivo na escola. A referida necessidade aflorou em virtude de, alguns discursos pedagógicos proferidos na ocasião do Círculo de cultura ainda estarem limitados aos muros da escola e presos aos textos lidos, o que na maioria das vezes provocava uma separação entre a vida escolar e a vida em sociedade. Esse momento de compreensão da visão de sociedade dos agentes escolares foi fundamental para que pudéssemos situar a vida escolar dentro de um contexto mais amplo, uma vez que, para estruturação de qualquer trabalho educativo desenvolvido no seio da escola, há a necessidade de pensar a sociedade, e de como nossa comunidade, e consequentemente nossa escola, está mergulhada nos problemas sociais, pois, a problematização da vida em sociedade esclarece melhor para o aluno sobre seu verdadeiro papel enquanto agente de mudanças sociais. Autores como Nidelcoff (19787); Arendt (1988); Souza (2005) e Gadotti (2007) nos lembram de que, se a atenção de um sujeito para com o outro é essencial, não menos importante é a atenção para com o mundo, ou seja, os atores sociais precisam se reconhecer como seres humanos que tem uma vida em comum na sociedade. No entanto, para problematizarmos as relações humanas na sociedade, temos que buscar entender como são fomentadas essas relações a nível micro. Nesta mesma direção, Senett (1995) e Souza (2005), denotam a existência de um declínio nas relações entre vida pública e vida privada. Afirmam os referidos autores que boa parte dos indivíduos tem assumido uma condição extremamente passiva em relação a problemas que se supunha serem comuns. Se pararmos para pensar por um instante nos problemas de ordem social que afetam a vida em sociedade como os da banalização dos valores como 112 caráter, amor ao próximo, respeito, cidadania, tolerância ao diferente, ética e as inúmeras facetas que modernamente a violência possui, passamos a observar que tais problemas são sinais seguros da crise social, e como em toda crise é destruída uma parte do mundo, alguma coisa comum a todos nós, então não há como existir a lei do "cada um por si, e apenas Deus por todos", pois não vivemos isolados no mundo. Nessa linha de pensamento, a escola precisa torna-se um espaço de problematização do que ocorre no mundo, para que possamos continuar acreditando em um mundo mais justo, com seres humanos mais tolerantes e fraternos. Por outro lado, desenvolver a ação educativa dando condições aos alunos de entenderem a importância de sua participação na vida em sociedade e que diante da identificação das mazelas sociais não poderão se omitir e explicitamente aceitar o desafio de não desertar da jornada em comum que temos pela frente - contribuir para construção de uma sociedade cada vez mais democrática e para a formação de sujeitos cada vez mais cidadãos - que conseguem transformar uma conquista pontual em uma vitória coletiva. Ao se construir o Projeto Político-Pedagógico, é fundamental que os agentes escolares atentem para o fato de que a escola tem o dever e o compromisso ético de ampliar os horizontes de sua comunidade estudantil, ofertando-lhes uma educação problematizadora e por extensão conscientizadora, educação esta que mantém uma ligação estreita com os conhecimentos que circulam no ventre das camadas populares e que precisam de mais espaço dentro dessa sociedade (PIACENTINI, 1991). 113 Os agentes escolares precisam atentar que o ato educativo, na complexidade do processo civilizatório desencadeado pelas sociedades do século XXI, exige a compreensão do conhecimento em sua pluralidade, conhecimento este que necessita de um olhar global, porém se faz necessário um olhar pontual, uma vez que, na dinâmica social moderna, o conhecimento das partes depende do conhecimento do todo, da mesma forma que o conhecimento do todo não poderá ser adquirido sem o conhecimento das partes, já que o conhecimento é construído a partir de redes e teias de saberes, poderes e fazeres que se retrointeragem no processo de apreensão e compreensão da realidade (ALVES, 1998; MORIN, 2010). Essa nova parada realizada no decorrer da viagem, foi fundamental para que os agentes escolares atentassem para o mundo existente para além dos muros da escola, foi essencial para que pudessem se interrogar a respeito da própria compreensão da vida em sociedade, e como essa concepção influencia diretamente a vida escolar. Da mesma forma, como foi fundamental para que percebesse que na dinâmica da vida escolar não cabem mais sujeitos com especialidades únicas e habilidades específicas. Na era do conhecimento, a sociedade clama por sujeitos com muitas e variadas especialidades para que possam entender o mundo e construir novos lugares para os sujeitos históricos com seus diferentes papéis na formação da cultura escolar (MORIN, 2010). Assim sendo, no momento de elaboração do Projeto Político-Pedagógico, é essencial que toda comunidade escolar (direção, professores, funcionários, alunos da escola, pais e responsáveis, além de toda a comunidade em que a escola está 114 inserida), participem do levantamento dos problemas escolares e sociais, sugiram soluções, compartilhem as dúvidas. Faz-se necessário que tanto a administração, como o planejamento e execução desse documento aconteça de forma democrática, e que a escola esteja aberta às concepções multiculturais nas quais se destacam as relações de gênero e etnias, além dos diversos princípios e orientações religiosas. Como já dito anteriormente, no contexto da globalização e do neoliberalismo a instituição educativa tem cada vez mais se tornado um palco onde todas as contradições sociais se encontram. Portanto, a dimensão multicultural, ao mesmo tempo em que amplia as possibilidades da escola, a torna singular, na medida em que o universo cultural de cada um é único e cabe seus agentes escolares valorizarem a singularidade de cada sujeito. Para que a ação educativa se traduza numa aprendizagem formadora da cidadania plena para todos, é necessário que as escolas planejem o seu tempo para que toda a comunidade escolar discuta o Projeto Político-Pedagógico em acordo com a realidade a qual está inserida, entendendo que o projeto só se materializará se as ações nele contidas forem palpáveis e se as ferramentas necessárias estiverem ao alcance de todos. No que concerne à participação dos professores de Educação Física neste movimento de discussão e desenvolvimento de planos de ações da escola, há de se ressaltar que este é um momento ímpar para que os professores de Educação Física possam legitimar a disciplina de Educação Física como componente curricular, tão importante para o desenvolvimento da função social da escola, como os demais componentes que compõem a matriz curricular escolar. Fazendo 115 com que mediante a participação dos professores de Educação Física na elaboração do Projeto Político-Pedagógico os demais agentes escolares possam perceber a importância da disciplina para construção de sentidos, significados, valores, intenções, entre outros fatores sociais que viabilizam ao educando a apreensão da vida em sociedade, e para própria organização pedagógica da escola. Pois como bem pontuam Moreira e Pereira (2009, p. 36) “somente, assim, a Educação Física será valorizada, porém, essa valorização deve iniciar-se com o próprio profissional. Para isso, faz-se necessário a consciência política do professor”. Consciência essa que no âmbito educativo poderá ser atingida mediante uma postura docente que esteja comprometida pedagógica e politicamente, vindo se materializar na participação das atividades interdisciplinares que envolvam a escola como um todo. No momento em que os professores de Educação Física participam ativamente do planejamento da vida escolar, e junto com os demais agentes escolares realizam uma avaliação crítica e continua dos propósitos da escola e da sua própria função enquanto educadores, essa participação acaba refletindo na sua função sócio-política que por sua vez pode vir a materializar-se em uma prática educativa em que prima pela formação integral do educando, uma vez que, nos percalços da história, a disciplina de Educação Física, tem sido tratada no ambiente escolar como mera atividade de lazer, física ou recreativa e, como consequência disso, transformou-se em instrumento de segregação das pessoas de acordo com o nível de habilidade ou limitações. 116 Muito embora não se possam negar os esforços empreendidos nas últimas décadas por professores e pesquisadores16 que publicam acerca da Educação Física Escolar, em conjecturarem diversos caminhos, meios e estratégias para transformá-la em um componente curricular escolar tão importante para formação do aluno como qualquer outro presente na escola, cuja função última é formar e educar para compreensão e transformação da realidade circundante, utilizando como elemento mediador sua especificidade que é a cultura corporal de movimento. À sombra desta problemática, a reestruturação coletiva do Projeto PolíticoPedagógico da escola Paulo Freire, poderá ter como consequência, a eliminação da divisão do trabalho escolar, uma vez que, pelas razões acima mencionadas, a área da Educação Física escolar tem vivenciado o empoderamento da prática e a inoperância do discurso. Ou seja, há um privilegio exacerbado do trabalho corporal em detrimento do intelectual, sendo necessário que haja superação dessa dicotomia, uma vez que, o movimento humano é por essência uma forma de expressão cultural e, por esse motivo, são inerentes a ele elementos históricos, políticos, pedagógicos, filosóficos, sociológicos, éticos e étnicos que devem ser devidamente abordados na escola para que se possa compreender o verdadeiro lugar de movimentar-se em nosso mundo. Ao pautar suas ações nesse solo problematizador, o professor de Educação Física contribui para que seu aluno possa entender o movimento humano e 16 Eleonor Kunz (1994-2000-2006); Valter Bracht, (1991-1992-2001); Coletivo de Autores (1992); Mauro Betti (1996); Francisco Caparroz, (1997); Irene Conceição Rangel Betti (1992-1999); Assis Sávio (2001); Suraya Darido (2003); Eliane de Toledo; Marília Velardi; Vilma Lení Nista-Piccolo (2009), entre outros. 117 consequentemente escolher, vivenciar, planejar e ser capaz de julgar os valores a ele associados, mais do que apenas praticá-los sem entender seus reais significados e benefícios. Assim sendo, diante das idas e vindas, encontros e desencontros, momentos harmônicos e conflituosos, os agentes escolares partiram do pressuposto de que as ações autônomas e democráticas deveriam permear toda a reestruturação do projeto político-pedagógico, para que o próprio processo desencadeado pudesse se constituir num instrumento de aprendizado da prática autônoma e democrática que poderá ser refletida no processo de ensino aprendizagem. Assim sendo, a experiência vivenciada pelos agentes escolares se constituiu em um importante passo para o exercício da democracia, que futuramente poderá se alargar para além dos muros da escola. Mediante essas observações, retomo ao processo fomentado pelos agentes escolares para reestruturação do Projeto Político-Pedagógico da escola. 6.1- Ações empreendidas O primeiro movimento iniciado na escola foi um processo de conscientização da “comunidade escolar”17, com o objetivo de elucidar a importância de reestruturação do Projeto Político-Pedagógico da escola da escola. Nesta reunião foi explanado pela gestora escolar a importância de fomentação de um processo democrático para reestruturação do Projeto Pedagógico, processo esse que incluía a participação de todos de forma efetiva 17 Foram convocados apenas os professores que ainda não haviam participado das reuniões do Círculo de cultura por escolha própria, funcionários de apoio e representantes de turma. 118 no planejamento das ações. Ressaltou que inicialmente seria necessária a realização de um diagnóstico da realidade escolar e que para essa atividade a participação dos alunos, funcionários de apoio e professores de todas as disciplinas e membros do corpo técnico pedagógico era fundamental. Nas ponderações da diretora escolar esse diagnóstico era essencial para traçar os objetivos do projeto e definir as ações que a escola deverá fazer. Foi enfática ao afirmar que: A reestruturação desse documento para nós é um desafio, não possuímos experiências em coordenar ações dessa natureza, por isso, a reestruturação do projeto também é para nós um processo de aprendizado, e pelos estudos que temos feitos como a ajuda do professor Mesaque, estamos cientes da importância que todos nós temos para delineamento das ações. Os alunos e funcionários de apoio podem nos auxiliar na construção desse documento nos ajudando a compreender de forma mais ampla a escola que temos, os professores com suas experiências nos ajudaram a traçar as ações e projetos (MARIA DO CÉU - GESTORA ESCOLAR). Nos estudos de Veiga (2004) encontra-se explícito que no desenvolvimento de construção do Projeto Político-Pedagógico da escola é salutar que se criem estratégias e condições para desenvolvimento de um trabalho coletivo, uma vez que, as percepções e os anseios dos envolvidos é que dará base para o delineamento das ações e adequação do trabalho educativo à realidade social em que a escola encontra-se inserida. No entanto, denota o referido autor, que não se trata de um processo simples, pois exige de seus agentes o compromisso com a ressignificação da própria prática, pois “todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas com o futuro” (p. 12). 119 Desta forma, a segunda ação fomentada para reestruturação do Projeto Pedagógico foi a realização do diagnóstico da realidade escolar, a qual foram percebidas as carências e necessidades emergenciais fundamentais para a elaboração das ações. As principais carências e necessidades emergenciais detectadas e que serão descritas no Projeto Político-Pedagógico da escola foram: Percebeu-se a necessidade que a escola tem em possuir um prédio próprio com adaptações adequadas para atender Portadores de Necessidades Especiais, Quadra Poliesportiva e Laboratório de Informática Educativa – LIED, para um bom andamento e desempenho das atividades escolares. Verificou-se que a escola possui uma biblioteca, que ainda conta com poucos exemplares para o atendimento dos três turnos, já foram providenciados alguns exemplares, porém ainda necessita de constantes atualizações para um melhor atendimento. Foi detectado que no decorrer do ano letivo há um número grande de evasão escolar e o índice de repetência é muito elevado. Das falas dos professores chegou-se a conclusão que a escola precisa oferecer um de processo de formação continuada para aprimoramento da prática educativa, dar condições matérias para desenvolvimento da atividade educativa, assim como de estruturação de um acompanhamento sistemático das atividades escolares por parte do serviço técnico. Das observações dos alunos ficou latente a necessidade de maior adequação das aulas as suas realidades sociais e educacionais. Foi sugerido pelo corpo técnico pedagógico a fomentação de projetos escolares para auxiliarem o trabalho educativo (DIÀRIO DE CAMPO DO PESQUISADOR, 2012). Mediante o diagnóstico da realidade escolar iniciou-se a reestruturação do Projeto Político-Pedagógico da escola propriamente dito. Observei que após o diagnóstico realizado os agentes escolares sentiram-se mais seguros para 120 delineamento das ações que deveriam realizar. Ficou acordado que o “novo” Projeto Político-Pedagógico da escola contemplaria os seguintes itens: APRESENTAÇÃO IDENTIFICAÇÃO DO ESTABELECIMENTO Localização Dependência Administrativa Entidade Mantenedora Ato de Autorização da Escola Local ORGANIZAÇÃO DA ENTIDADE ESCOLAR Modalidade de Ensino Turno de Funcionamento Ambientes Pedagógicos OBJETIVOS GERAIS MARCO SITUACIONAL Breve Histórico da Realidade Escolar MARCO CONCEITUAL – Fundamentação Teórica Concepção de Gestão Democrática e Administração Colegiada Formação Continuada, Organização da Hora Atividade, Reunião Pedagógica e Conselho de Classe Organização do Tempo Escolar – Ensino em Etapas Organização Curricular Utilizada Concepção Curricular – O papel do Currículo na Formação Humana do Aluno, os limites e as possibilidades da Prática Docente Avaliação, Sistemática de Avaliação e Ações Relativas à Recuperação Paralela MARCO OPERACIONAL Linhas de Ação da Escola Objetivos, Metas e Ações – Administrativas e Pedagógicas Hora Atividade, Reunião Pedagógica, Conselho de Classe Gerenciamento e Otimização dos Recursos Financeiros Órgãos Colegiados, Organização Interna da Escola e suas funções específicas Relações entre os Aspectos Administrativos e Pedagógicos Estratégias da Escola para Articulação e Participação da Família e Comunidade. Definição das Ações Relativas á Formação Continuada. Atividades Escolares em Geral, e as Ações Didático- Pedagógicas a serem desenvolvidas durante o Tempo Escolar. Qualificação dos Espaços Pedagógicos e Necessidades enfrentadas pela Escola. Acompanhamento e Avaliação do Projeto Político Pedagógico. (DIÀRIO DE CAMPO DO PESQUISADOR, 2012). 121 A reestruturação do Projeto Pedagógico da Escola Paulo Freire iniciou-se no mês de agosto de 2012, com uma equipe de trabalho que conta com representantes da gestão escolar, dos professores e alunos. O referido documento, até o presente momento, encontra-se em fase de reestruturação. No entanto, ao longo desse processo, pude perceber o quanto a reestruturação desse documento significa para toda a comunidade escolar ─ significado que vai desde a melhoria das ações pedagógicas até o reconhecimento da autonomia dos agentes escolares no delineamento das ações. Sua finalização ainda exige a vinculação pública desse documento e a aprovação pelas instituições externas à escola. No entanto, como guisa de conclusão de um trabalho inconcluso pode-se destacar que no seio da escola o delineamento de um trabalho participativo tem como resultado a construção da consciência crítica dos membros envolvidos, do reconhecimento do sentimento de pertencimento naquela comunidade. Uma vez que, os envolvidos nesse processo vão se conscientizando de que são elementos constituintes do meio o qual então inseridos, e atenuam que sua participação em maior ou menor grau é fundamental para o delineamento das ações e para que o projeto político-pedagógico futuramente não venha se tornar um documento que apenas existe na escola para cumprimento das exigências legais, mas sim para nortear o trabalho pedagógico desenvolvido. É mister salientar que o processo de reestruturação do Projeto PolíticoPedagógico da escola da escola Paulo Freire, acontece mediante ricos momentos de estudos que levam a um processo de aprendizado constante, que por sua vez geram conflito devido aos dilemas e às dificuldades que se colocam a um trabalho 122 dessa natureza na escola. Pois, por mais democrático que seja o processo, chegar a pontos comuns que possam representar os anseios e vontades de um amplo coletivo escolar e não apenas de um grupo de educadores requer diálogo constante, e recuo sempre que necessário. Como no decorrer desse processo, não atuei como mero espectador, pude perceber que no momento em que as ações eram acordadas coletivamente havia um maior comprometimento dos agentes escolares com sua estruturação em detrimento daquelas que eram apenas comunicadas. Um ensinamento marcante que se fixa é que participar significa perseverar, e no interior da instituição educativa o momento de construção ou reestruturação do Projeto PolíticoPedagógico da escola se torna um momento privilegiado para tal participação e comprometimento dos agentes escolares. Ficou latente que quando os agentes escolares participam das tomadas de decisões, também se sentem motivados a discuti-las e buscar estratégias para realizá-las. A reestruturação conjunta do Projeto Político-Pedagógico da Paulo Freire suscitou uma reflexão à respeito da importância da formação Político-Pedagógica do educador. No decorrer desse processo passei a compreender que para que qualquer educador realize uma análise da realidade escolar e da própria ação educativa, faz-se necessário uma formação nas dimensões Política e Pedagógica, para que no momento da análise o contexto sócio-político seja considerado como parte integrante do processo educativo. Pois, se ao problematizarem a vida escolar, os agentes escolares separarem o pedagógico do político, podem cair no reducionismo e até mesmo culparem a si próprios pelo fracasso escolar. 123 Freire (1993) alertou os educadores dos limites da educação e, sobretudo, dos limites da prática educativa. Era enfático ao afirmar que a educação não pode tudo. No entanto, essa percepção só é alcançada por aqueles que conseguem construir uma visão política e pedagógica do processo educativo, caso contrário desenvolverão uma concepção ingênua ou até mesmo alienada. Para Freire: Não há prática educativa, como de resto nenhuma prática, que escape a limites ideológicos, epistemológicos, políticos, econômicos, culturais. [...]. Creio que a melhor afirmação para definir o alcance da prática educativa em face dos limites a que se submete é a seguinte: não podendo tudo, a prática educativa pode alguma coisa. [...]. Esta afirmação recusa, de um lado, o otimismo ingênuo que tem a educação a chave das transformações sociais, a solução para todos os problemas; de outro, o pessimismo igualmente acrítico e mecanicista de acordo com o qual a educação, enquanto supra-estrutura, só pode algo depois das transformações infra-estruturais (FREIRE, 1993, p. 96). Ao refletir sobre os apontamentos de Freire (1993), referente à necessidade de construção de um pensamento crítico em detrimento de uma visão ingênua e alienada do processo educativo, podemos considerar a existência de dois tipos de profissionais atuantes nos espaços educativos: os especialistas técnicos e os intelectuais transformadores18. No momento de problematização para a reestruturação do Projeto PolíticoPedagógico da escola da escola Paulo Freire e das aulas de Educação Física, na quais apresentarei no tópico seguinte, pude perceber a presença desses dois tipos de educadores no seio da escola. 18 Para fins desse estudo, os intelectuais técnicos serão compreendidos como aqueles ao desenvolverem suas atividades pedagógicas no seio da escola, a transformam mais burocráticas do que pedagógicas. Os e os intelectuais transformadores como aqueles que mesmo diante de um contexto burocrático buscam democratizar suas ações e fazer com que a ação docente esteja a favor do trabalho educativo. 124 No decorrer dos encontros do Círculo de cultura passei a observar que alguns líderes escolares19 “profetizavam um credo e praticavam outro”. Ou seja, mesmo diante do contexto diagnosticado pelos agentes escolares havia resistência para aceitação das situações trazidas à tona, havia por parte desses líderes escolares um desprezo da relação entre os fatos pedagógicos e os fatos sociais existentes na prática educativa, uma verdadeira dicotomia entre o contexto social e a realidade cotidiana escolar. Em muitas partes do projeto políticopedagógico poderá ser verificada tal dicotomia, a exemplo no item 8.9 em que é denominado de: “Qualificação dos Espaços Pedagógicos e Necessidades enfrentadas pela Escola”. Na primeira parte, encontra-se descrito que: A Escola Estadual “PAULO FREIRE” funciona em um prédio alugado, onde este possui 11 (onze) salas, sendo 05 (cinco) salas de aula, que funcionam de acordo com a necessidade das turmas, formadas mediante as matrículas efetivadas a cada ano letivo. Em sua estrutura física, a escola possui um amplo auditório com capacidade de comportar 200 pessoas, entretanto, este não possui um sistema apropriado de refrigeração. As instalações físicas e o mobiliário estão organizados na intenção de proporcionar um ambiente agradável, sendo que as salas são equipadas com ventiladores e condicionadores de ar, boa iluminação, atendendo as medidas de higiene, tornando o espaço acolhedor e propício à aprendizagem [...] (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO – 2012, p. 69). Quando na verdade a realidade é outra, como podemos observar nas figuras abaixo: 19 Os lideres escolares são aqueles que exercem cargos comissionados na escola como: (Gestora escolar; Diretor administrativo; Secretário escolar e Coordenadores de área, entre eles o coordenador de Educação Física). 125 20 Figura - 5: Corredor principal da escola Figura - 6: Auditório Figura - 7: Bebedouro Fonte: Arquivo icnográfico do pesquisador – 2012. Os Diretores administrativos, juntamente com os Coordenadores de área, na maioria das vezes buscavam demonstrar que os problemas diagnosticados não eram condizentes com a realidade da escola, desta forma, rejeitavam a presença dos problemas levantados, focavam suas atenções no delineamento de ações individualizadas e que quase sempre vinham para atender a interesses extraescolares vinculados às diretrizes técnicas. Portanto, a partir deste momento, comecei a perceber que embora alguns agentes escolares estivessem envolvidos no processo de pesquisa e formação, havia interesses individuais que de forma quase que invisível impossibilitavam o desenvolvimento de algumas ações. Outro exemplo claro desse caminhar descompassado, pode ser percebido na convocação para delineamento das ações na elaboração do projeto. Pois, 20 O uso das imagens foi autorizado pela Gestora escolar no momento em que assinou o Termo de Consentimento Livre Esclarecido que foi enviado para o CEP para autorização da referida pesquisa. 126 mesmo diante dos debates suscitados em torno dos princípios e condições necessárias para elaboração do trabalho coletivo, (no qual requer a participação da comunidade interna e externa da escola21), no entanto, foi convocada para participar apenas a comunidade interna da escola. Ao atentar para o que até então era desconhecido ou invisível, pois, aos meus olhos as coisas estavam bem ordenadas, busquei interpretar as ações sociais dos líderes escolares e seus discursos, para poder rever meu papel enquanto agente de pesquisa naquele contexto e buscar compreender quais as reais necessidades daquela comunidade. Assim sendo, a partir desse momento, no trajeto que realizamos para cada paisagem que ficava no caminho, meu olhar se modificava na busca de desmistificar seus enigmas e fazer revelações. Durante o trajeto, comecei a perceber que mesmo no contexto da Educação Popular na escola pública, desenrolam-se relações de poder, às vezes inconscientes e subliminares sob a forma de poder simbólico, aquele que Bourdieu (2001, p. 7-8) caracteriza como “esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Mas que se impõe como legítimo por ser simbólico (BOURDIEU, 2001). Assim, como passei a identificar nas ações de alguns líderes escolares diante da presença de um poder formal e impessoal, materializado em forma de um poder legal, o qual não faz uso da força física, porém se vale da influência social e política para que qualquer ação social que de alguma forma 21 Para fins deste trabalho estamos entendendo como comunidade interna a direção, os professores, os funcionários e os alunos da escola. E como comunidade externa, os pais e responsáveis, além de toda a comunidade em que a escola está inserida. 127 venha a desestabilizar a ordem seja desarticulada e consequentemente inviabilizada. Na concepção de Weber, se na trama das ações sociais existe uma série de ocorrências que colocam uma pessoa na posição de impor sua vontade sobre as outras, faz-se necessário atentarmos para a presença da dominação, que segundo ele é a possibilidade de um mandado seja obedecido. É a [...] possibilidade de que um homem, ou um grupo de homens, realize sua vontade própria numa ação comunitária, até mesmo contra a resistência de outros que participam da ação. (WEBER, 1982, p.211). Ao direcionar meu olhar por esse solo epistemológico, logo identifiquei relações de poder na escola lócus da pesquisa. Como na sociedade amapaense os líderes escolares ainda são submetidos a uma secular relação de compadrio com os gestores políticos e a influencia do poder político partidário - uma vez que a escolha desses líderes acontece mediante indicação política, consequentemente as relações pedagógicas que estabelecem no seio da escola seguem as diretrizes políticas partidárias -, ou seja, no trama das relações pedagógicas há existência de um poder externo que se materializa nas ações desses líderes escolares. No caso da escola Paulo Freire as interações estabelecidas diariamente quase sempre se configuram enquanto relações de um poder formal e impessoal, poder próprio das organizações burocráticas – que são exercidos em nome dos órgãos administrativos do sistema e chegam no bojo da escola nas ações dos líderes escolares. No entanto, esse poder formal e impessoal, acaba respaldando e até justificando o exercício do poder simbólico exercido pelos líderes da instituição, uma vez que, no discurso dessas lideranças as ações delineadas no 128 seio da escola devem seguir as ordens e exigências de superiores - sujeitos que possuem boa intenção e que querem a melhoria da instituição educativa, que não as impõem por vontade própria apenas seguem as determinações dos órgãos oficiais. Como podemos verificar nas palavras do (P14): Enquanto representante da Secretária Estadual da Educação, já que exerço cargo comissionado, gostaria de esclarecer que quando busco fazer com que vocês sejam mais cautelosos nas ponderações de vocês, nos anseios, é porque estou quase que diariamente na secretaria e sei como o secretário e seus colaboradores tem buscado exaustivamente melhorar a educação do nosso Estado, o problema é que tudo vem de cima, e ele pouca coisa pode fazer, quando eu freio algumas coisas é porque sei das possíveis consequências. Quem acaba enchendo muito o saco poderá ser devolvido para a secretária e será lotado sei lá pra onde. Vocês professores de Educação Física nem todos são efetivos e sabem o que as ações de vocês podem causar. Já avisei o professor Igo. Portanto, fica explícito nas palavras do (P14), a tentativa de convencimento da não existência de nenhuma ação impositiva por ele exercida na escola, o que ele busca é sempre cumprir as imposições vindas dos órgãos oficiais. No entanto, esclarece Weber (1982) que o poder formal e impessoal quase sempre se apoia em normas regimentares e em ordens vindas dos órgãos administrativos do sistema de ensino, que se fundamentam nas leis, decretos e resoluções. Por sua vez, esclarece Bourdieu (2001), que o poder simbólico existe mesmo onde não podemos vê-lo e os sistemas simbólicos atuam como instrumentos de conhecimento e de comunicação, o que faz com que essa forma de poder muitas vezes obtenha resultados quase que mágicos semelhantes aos obtidos pela força. É um poder capaz de se impor como legítimo, dissimulando a força que há em seu fundamento. No entanto, clarifica Bourdieu (2001) que o poder simbólico é 129 ignorado tanto por aqueles que se submetem como por parte daqueles que o exercem. Se analisarmos com cautela as ponderações do (P14) passamos a observar que as diretrizes dos órgãos oficiais chegam aos dirigentes escolares em forma de poder simbólico, já que eles executam, com a colaboração objetiva de sua consciência ou de suas disposições previamente organizadas e preparadas para tal, reconhecendo como necessárias e crendo nelas, prestando-lhe obediência. Portanto, ao mesmo tempo em que exercem o poder simbólico sobre os demais agentes escolares, sofrem o poder simbólico dos gestores dos órgãos oficiais como (Secretário de Educação e Chefes de repartições de ensino). No entanto, quando o (P14) se expressa da seguinte forma: “Quem acaba enchendo muito o saco poderá ser devolvido para a secretária e será lotado sei lá pra onde. Vocês professores de Educação Física nem todos são efetivos e sabem o que as ações de vocês podem causar. Já avisei o professor Igo”, esse poder consentido e não admitido como tal é desvendado e cede lugar a um poder formal e impessoal, manifestado em relações de antagonismo e confronto e em lutas pela imposição de ideias ou pela conquista de posições de poder. É importante observar que, o poder exercido pelo (P14) sobre os demais agentes escolares neste momento é totalmente racional, e se ancora em interesses políticos, pois suas palavras podem ser interpretadas como instrumento de ameaça àqueles que por ventura descumprirem as regras externas à escola. A partir do momento em que detectei a presença do poder simbólico e do poder explícito na escola, o qual talvez eu tivesse fechado os olhos no decorrer da pesquisa, passei a refletir sobre o verdadeiro papel da pesquisa-ação no ambiente 130 educativo, e compreendi que não havia um mesmo significado atribuído a ela pelos agentes escolares, e por mais que tentasse mobilizar os agentes escolares na busca de objetivos comuns. O máximo que eu conseguiria é agitar a base e o resultado esperado não seria atingido porque os líderes escolares não percebiam como importantes nossas ações e não tinham consciência ou não queriam perceber o poder o qual estavam submetidos e submetiam os agentes escolares. Comecei a perceber que o caminho percorrido até então tinha sido delineado com ajuda dos líderes escolares por pura conveniência, a presença deles nas reuniões era uma forma de garantir a manutenção do status quo, assim como de fazer com que as ações determinadas em grupo não fugissem do controle. Gostaria de salientar que a Gestora escolar por não ter experiência no cargo que ocupa e nem formação na área, delega seus afazeres aos Coordenadores Pedagógicos e Administrativos da escola, os quais são responsáveis pelo delineamento das regras que buscam exercê-las como não arbitrárias, e sim necessárias para todos. A presença do poder simbólico e do poder formal e impessoal é uma constante nas relações estabelecidas no solo da escola Paulo Freire, uma vez que os agentes escolares desenvolvem suas ações pedagógicas mediante o comando de diretrizes externas ou por decisões referendadas pelos líderes escolares. Os líderes escolares desenvolvem um poder simbólico, reconhecido pela maioria e vivenciado sem muitos questionamentos. Como esses poderes são diluídos e quando se manifestam estão sempre bem respaldados, as situações conflituosas existentes no seio da escola acabam se manifestando pontualmente, e quando se 131 manifestam são justificadas como importantes para o desenvolvimento da prática pedagógica. Entretanto, neste caminhar extremamente problematizador, houve um momento bem visível em que o poder simbólico cedeu lugar ao poder explícito No movimento da greve dos professores das escolas Estaduais do Estado do Amapá22. No decorrer de três meses, os professores das escolas públicas estaduais, foram às ruas reivindicar por melhores condições de trabalho; melhoria das estruturas físicas das escolas; combater o assédio moral no ambiente de trabalho; o aumento arbitrário do número de aulas do professor; a lutar pela implementação da Lei do Piso Salarial Nacional; Manutenção e respeito ao Plano de Cargos, e Carreira do Magistério e implementação da Lei da Gestão Democrática. Observei que, na medida em que o movimento de greve evoluía e as negociações com as lideranças não aconteciam, os órgãos oficiais utilizam como instrumento de poder o corte de ponto salarial, mais uma forma declarada de uso do poder formal e impessoal delineado por Weber (1982), uma vez que, a decisões tomadas por homens que realizam trabalhos burocráticos e usam a burocracia para desarticular uma ação social é um dos meios de poder mais altamente desenvolvido nas mãos de sujeitos que objetivam controlar os outros. Por sua vez, é o modo mais racional de exercer o poder, poder este que quase sempre atende aos interesses políticos, econômicos ou de qualquer outra natureza. 22 Durante este período as atividades de pesquisa na escola foram suspensas, tomei a decisão de acompanhar o movimento grevista com a intensão de verificar como as ações de poder se manifestavam no trajeto da greve. 132 Neste período de greve, as relações estabelecidas pelos líderes escolares com os demais agentes escolares, foi bastante conflituosa. Os líderes escolares, como elemento de confiança do sistema, obrigavam-se a uma atitude considerada por eles prudente: não participando ativamente dos movimentos grevistas e tornarem-se os portadores das mensagens ameaçadoras dos órgãos oficiais. Como são indicados por seus “padrinhos” para exercerem cargos comissionados, sentem-se no dever de encontrar mecanismos para que a maioria dos agentes escolares não participe do movimento grevista, o que nem sempre conseguem. Faz-se importante compreender, que nesta relação de poder, se os líderes escolares não conseguem encontrar meios para paralisar os grevistas de sua escola correm o risco de sofrerem severas sanções, como perda do cargo comissionado, o que quase sempre faz com que eles utilizem meios arbitrários para persuadir os manifestantes, como corte do ponto salarial (que por sua vez é respaldado pelos líderes dos órgãos oficiais); devolução dos grevistas para a Secretária de Educação a qual deverá encaminhá-los para outro estabelecimento de ensino que geralmente fica localizado longe de sua residência. Verificou-se, durante o movimento deflagrado, que quase sempre os professores do “Contrato administrativo”, são obrigados a não aderirem a greve para garantir a permanência do contrato, muitas vezes, tornam-se fiéis colaboradores dos líderes escolares, sendo alvos fáceis do exercício do poder simbólico. O movimento de greve trouxe à tona as relações conflituosas dos professores entre si. No período de greve, as divergências e os conflitos existentes entre aqueles participantes do Sindicato e os não-participantes foram 133 declarados. Observei que os sindicalizados são os que ocupam o espaço nas reuniões para comunicar as definições sobre a greve, as assembléias que serão realizadas, as manifestações, entre outras medidas a serem tomadas. Os não sindicalizados quase sempre reagem às mensagens de seus colegas participantes de diferentes formas: não concordando com algumas negociações, pois temem a impossibilidade de suas reivindicações serem atendidas, como se os colegas sindicalizados fossem seus advogados na causa que é também sua; manifestando total indiferença, como se a greve não fosse problema seu, e reagindo contrariamente, dizendo que não vão a nenhuma manifestação, criando um conflito interno no próprio movimento grevista, deixando cada vez mais explicito a relação de poder que corre no solo da escola. Vale ressaltar que, na ocasião da greve, diferentes atores mobilizam suas forças no sentido de exercerem o poder, seja pelo uso das sanções e vigilância, como fazem os órgãos oficiais, seja pela influência social, política ou ideológica utilizada pelos líderes escolares em relação a seus pares ou a seus oponentes, na luta pela conquista de seus direitos. O poder simbólico, encoberto e conivente do dia a dia, cede lugar ao poder explicito, em relações de luta aparente pela imposição das ideias dos diferentes grupos. Portanto, o movimento de greve, ainda que legítimo pelas reivindicações acima apresentadas, descortinou uma cadeia hierárquica de poder presente no solo da escola. Assim, compreendi que algumas ações delineadas no chão da escola Paulo Freire, são produzidas para silenciar e aprisionar movimentos julgados inadequados à manutenção do status quo. Atentei para a existência de um poder externo que se materializa na escola nas ações dos líderes escolares, 134 da mesma forma que percebi a existência de poder nas relações estabelecidas pelos agentes escolares. Esses poderes, dependendo da forma como são exercidos, podem se desdobrar em poder simbólico ou formal, o que requer observá-los e analisá-los no interior de práticas efetivas. 6.2- Reflexão analítica do caminho percorrido e a emergência de um novo caminhar Em primeiro lugar, o tempo não é o tempo veloz da ação, mas o tempo paciente da reflexão. A reflexão tem o seu próprio tempo. E a segunda coisa é que o pensador é o senhor das suas ideias e do seu pensamento do começo ao fim do processo. E, portanto, a vida intelectual é uma experiência de autonomia – autonomia na lógica do tempo e autonomia na lógica das ideias. E é por causa disso que o intelectual é capaz de se comprometer politicamente. Isto é, no sentido de fazer da política – e não do poder o lugar privilegiado do exercício da sua ação a partir do tempo de reflexão e da lógica das suas ideias (CHAUÍ, 2000, p. 54). O caminho percorrido pelos agentes escolares para a reestruturação do Projeto Político-Pedagógico da escola Paulo Freire, foi repleto de diálogo e conflito. As curvas, encruzilhadas e bifurcações encontradas no decorrer do trajeto evidenciaram que quando planejamos a participação para uma intervenção mais eficiente e eficaz com vistas à transformação do processo político pedagógico desenvolvido na escola, necessitamos de um planejamento participativo. No entanto, essas mesmas curvas, encruzilhadas e bifurcações nos fizeram refletir que um planejamento participativo aborda um aspecto crucial da dimensão política que é a questão do poder. E, como bem postula Gadotti (1998) esse é um dos grandes entraves para o desenvolvimento do trabalho participativo na escola. Não por conta do poder em si, mas porque quase sempre não existe uma socialização 135 dele na instituição educativa. E como argumenta Demo (1988, p. 22) “participação que dá certo causa problema porque mexe com o poder e ninguém perde poder sem reclamar”. Por esse motivo, o poder presente no seio da escola, quando não socializado, acaba desestruturando o trabalho colaborativo que se queira realizar. Os eventos ocorridos trouxeram a compreensão de que participação não é ausência, superação, eliminação de poder, mas que ao desenvolvermos ações e projetos colaborativos necessitamos que o poder presente no solo da escola seja exercido de outra forma. Se pararmos para pensar especificamente na construção do Projeto Político-Pedagógico em que o envolvimento de todos os atores externos e internos a escola é essencial para desdobramento do trabalho, a participação desses sujeitos não pode acontecer por meio de decreto ou por convocação de um agente escolar dominante, porque isso facilmente cairia no imobilismo. Até porque, pelas experiências vividas, posso afirmar que o fenômeno da participação não acontece de graça. Ela acontece mediante a imersão e intervenção dos sujeitos envolvidos no processo na realidade a qual fazem parte. Essa participação necessariamente precisa acontecer pela via da autocrítica, que possibilita o reconhecimento das tendências impositivas e, pelo diálogo aberto com os indivíduos envolvidos na ação - sujeitos interessados no processo, que deixaram de ser vistos como objeto, clientela, público alvo. Os eventos por nós vivenciados foram fundamentais para o entendimento de que no momento de elaboração de um trabalho colaborativo na escola, como foi o caso da reestruturação do Projeto Político-Pedagógico da escola Paulo Freire, nada impede, por exemplo, que se busque convencer a comunidade da necessidade de determinada ação, desde que o processo de convencimento se 136 faça dentro de um espaço conquistado de participação, ou seja, partindo-se dos interesses da comunidade, levando em conta sua contribuição e suas potencialidades deixando também de convencer-se do contrário (DEMO, 1988; VASCONCELLOS, 2007; PADILHA, 2007; CARIA, 2011). Essa fase da pesquisa evidenciou que a questão do poder presente no solo da escola é muito séria. A realidade escolar é composta por um conjunto de forças que interagem cotidianamente, em sentidos muitas vezes opostos. Quando o poder subliminar cede lugar ao poder explícito, as relações estabelecem-se em meio a constante clima de tensão, clima esse que no fundo pode ser caracterizado como a luta política pelo poder, pela hegemonia de determinadas formas de pensamentos no interior da escola. Ficou evidente que na medida em que cresce a participação do professor na esfera pedagógica, tal professor é levado a questionar também as questões de ordem política. As relações de poder, situadas na esfera da política e nesse caso a partidária, são as grandes limitadoras do processo de participação. No entanto, se embarcamos nessa viagem com o objetivo de organizar a escola e fazer com que seus agentes escolares desenvolvessem suas ações pedagógicas ancoradas nos princípios da pedagogia freireana - linha filosófica da qual a escola busca balisar suas ações, mediante o contexto aqui descrito, em que o poder é utilizado como uma ferramenta para opressão de um sobre o outro, realizar o mesmo caminho se apresentou como uma miragem, pois as necessidades da grande maioria eram outros e não aquela apresentada no início do estudo. Infelizmente, para que a comunidade da escola Paulo Freire desenvolva suas ações coerentes com a 137 abordagem freireana, faz-se necessário uma mudança na cultura organizacional da escola, assim como nas relações, primeiro internas e depois, em longo prazo, de forma articulada com os demais setores da sociedade, as mudanças externas. Após o desnorte vivido, da clareza que tínhamos dos rumos e dos caminhos que havíamos percorridos de forma descompassada, eu, juntamente com a equipe de professores de Educação Física, tomamos a decisão de seguirmos essa viagem sozinhos para que nossa utopia não morresse, apenas fosse transformada em algo mais palpável e possível de realização. Assim, a professora Ana Rita, os professores Pedro e Ademir, após a greve dos professores ser considerada ilegal pelo Ministério Público do Estado do Amapá, retomaram as atividades da pesquisa e ainda continuaram contando com a ajuda do professor Igo – Coordenador de área. 138 7- DO DESNORTE VIVIDO À UTOPIA POSSÍVEL A posição normal do homem no mundo, como um ser da ação e da reflexão, é a de „ad-mirador‟ do mundo. Como um ser de atividade que é capaz de refletir sobre si e sobre sua própria atividade que dele se desliga, o homem é capaz de afastar-se do mundo para ficar nele e com ele. „Ad-mirar‟ a realidade significa objetivá-la, apreendê-la como campo de sua ação e reflexão (FREIRE, 1971, p. 65). Diante dos entraves que encontramos para desenvolvimento de um trabalho colaborativo no interior da escola, e frente à situação de greve dos professores que por vários motivos acabaram desmobilizando o processo de pesquisa e formação, em uma reunião coletiva com os agentes escolares, ficou decidido por duas principais razões que o processo de pesquisa seria finalizado ─ Porque embora a proposta de uma escola pública popular, já existisse, não fora pensada para realidade a qual vive a educação pública do Estado do Amapá, em que as relações estabelecidas no interior da escola estão diretamente vinculadas a interesses políticos partidários; e a escola, ainda que desenvolva sua função social de socializar os saberes historicamente construídos, precisa atender as emergências administrativas oriundas dos gabinetes dos diversos setores da administração pública, que não param de chegar no interior da escola. A segunda razão, igualmente relevante, é que as necessidades da grande maioria dos agentes escolares eram outras como: condições básicas para desenvolvimento da prática pedagógica, falta de carteira, material de expediente, de limpeza, e até mesmo de espaço para receber todos os sujeitos que à escola se dirigiam em busca de vaga. Como podemos perceber nos discursos abaixo que justificam a finalização das atividades do grupo geral: 139 Professor Mesaque, quando iniciamos as atividades com o senhor e com a equipe de professores de Educação Física não tínhamos consciência da realidade a qual desenvolvíamos nossas atividades educativas. No meu entendimento conforme fomos tomando pé de como deve ser uma escola construída exclusivamente para o povo como a nossa, que reunir sujeitos de vários grupos sociais, começamos a perceber que não somos coitadinhos não! Como debatemos nos nossos encontros, a realidade de nossa escola não é diferente da realidade enfrentada por diversas escolas públicas do nosso Estado, realidade essa que vocês que pesquisam o cotidiano escolar diariamente acabam vinculando em livros, textos, teses. A diferença é que a denuncia teórica e a comprovação pela vivência cotidiana é enorme. Quando se vive e sente, a dimensão é outra, inimaginável. Creio que para pensamos em construirmos uma escola realmente freireana precisamos primeiramente arrumar nossa casa e estreitar nossos objetivos (P8). Talvez você não tenha tido conhecimento, mas dentre as inúmeras greves protagonizadas pelos educadores amapaenses essa foi à primeira em que nós participamos ativamente, todas as outras éramos levados não participar com a justificativa que tudo acabaria em pizza e o trabalho escolar seria prejudicado. Amigo, nos últimos meses mediante as nossas vivencias muita coisa mudou, mas acho que mesmo diante desse reconhecimento estamos remando contra a maré, não temos o básico, como material de expediente e limpeza. Entende? (P3). Verdade! Muitos sujeitos que vem aqui na escola querendo estudar às vezes precisam voltar porque não temos como recebê-los. Mas o que vale ser esclarecido é que nada foi em vão, pelo contrário, as coisas que debatemos, os ensinamentos que adquirimos esse levaremos para sala de aula. Talvez a nossa decisão de não mais continuar é porque precisamos de tempo para conhecer melhor os desafios da nossa prática, mesmo que os colegas tenham pontuado algumas das nossas necessidades precisamos ter consciência dos desafios que se colocam na nossa prática (P11). É, o duro é saber por onde começar. Acho professor que o grande desafio é descobrir a perversa burocracia do serviço público e dominar sua linguagem e gíria. Para nós dominar a linguagem significa desvelar os códigos que movimentam a burocracia do Estado e consequentimento do fazer político da instituição educativa, fazer esse que na maioria das vezes nos 140 chega até nós em forma de decretos que regulamentam nossas ações, ditam o que devemos e não devemos realizar nas quatro paredes da sala de aula (P2). Concordo em parar por aqui, em pensar como você mesmo fala utopicamente, precisamos saber por onde recomeçar, gostaria muito de continuar estudando com vocês, mas dentro dos limites que trabalhamos vejo que a luta é outra (P12). Diante do discurso dos agentes escolares, o processo de formação e o desenvolvimento das atividades de reestruturação do Projeto Político – Pedagógico apresentaram-se inviáveis. Mas, como afirma Freire (1991), a forma pela qual o trabalho administrativo é desenvolvido pelo poder público estatal acaba prejudicando até mesmo as classes dominantes, mas, afinal, enquanto dominantes, terminam por ajustar a máquina burocrática a seus interesses. O que infelizmente torna-se quase uma miragem é colocar essa burocracia e o poder resultante dela ao serviço dos sonhos progressistas de um governo popular e não populista. Dito isso, surge o seguinte questionamento: se Paulo Freire teve a sabedoria de reconhecer essa dificuldade, em verbalizar sua experiência administrativa no interior de um governo considerado de esquerda, como o PT, apesar de todos os conflitos e contradições que possa aglutinar, o que dizer da luta travada pelos educadores amapaenses, em especial dos educadores da escola de Educação Popular Professor Paulo Freire, cuja ação educativa tem sido desenvolvida mediante o exercício do poder simbólico e do poder formal, resultante das disputas internas, contradições e antagonismos que marcam as brigas políticas? 141 O fato é que para o grupo em geral, as atividades de problematização da prática pedagógica já não faziam sentido e significado, a leitura que realizo dos discursos acima apresentados é que os agentes escolares estavam percebendo que diante do contexto vivido, ficar problematizando a ação educativa era remar contra a maré, é ter cada vez mais consciência do problema sem nada conseguir fazer, muito menos avançar, porque as pessoas que deveriam ajudar nessa mobilização rumo a uma escola mais democrática e um ensino mais conscientizador não abriam espaços para diálogos. No entanto, e apesar de tudo, os professores de Educação Física os grandes idealizadores desse movimento, continuaram compreendendo que mesmo diante da desmobilização do grupo geral, a utopia de desenvolver uma Educação Física crítica e emancipatória no contexto da escola Educação Popular na escola pública, é possível de realização. Pois como clarifica Vale (2002), apesar de todos os entraves que impõe o sistema político vigente à rede pública de ensino, a escola pública precisa continuar funcionando. Em um país em que ainda encontramos um número elevado de analfabetos funcionais, os educadores não podem e nem tem o direito de impedir que o espaço formal de transmissão de conhecimento seja utilizado como manobra política e renegado por aqueles que têm o dever de movimentar a escola pública rumo aos anseios do povo. Assim pensando, continuamos nosso caminhar rumo ao desenvolvimento de uma Educação Física Escolar coerente com a visão freireana. 7.1- Educação Física Escolar: uma experiência libertadora no contexto da Educação de Jovens e Adultos 142 Na impossibilidade de continuarmos a viagem na companhia dos demais agentes escolares, o grupo de professores de Educação Física, mediante as armas que tinha ao seu alcance, buscou direcionar seu trajeto rumo ao objetivo proposto inicialmente. Desta forma, nos encontros que se seguiram, buscamos dialogar a respeito da área da Educação Física Escolar, para que pudéssemos vislumbrar algumas possibilidades de desenvolvimento de um trabalho educativo no seio da escola, coerente com os princípios filosóficos que orientam as ações pedagógicas da escola. Assim pensando, no decorrer do trajeto, ao problematizarmos a área da Educação Física, em especial a escolar, passamos a observar que o ensino, durante muito tempo, esteve vinculado a um processo de dominação e autoritarismo, mas que também não é de hoje que os diversos educadores e pesquisadores têm buscado superar o autoritarismo presente nas quadras de aulas por intermédio de um ensino libertador. Nos estudos de Castellani (1988), encontramos que os apontamentos foucaultianos referentes ao poder disciplinador, em que as diversas instituições educativas utilizam para transformar os corpos dos sujeitos dóceis e produtivos, foi incorporado pela área da Educação Física. Neste mesmo caminhar, Rego (1985) nos trouxe que, no século passado, a medicina higienista, utilizando do seu saber/poder, ditava padrões de conduta comportamental aos indivíduos, definindo dispositivos estratégicos de regulamentação dos comportamentos e da vida íntima dos diversos setores da 143 sociedade. Nos escritos do referido autor, encontra-se declarado que fundamentadas na teoria biológica do meio, as prescrições higienistas ditavam os territórios onde deveriam ser estabelecidas as relações entre os indivíduos, não admitindo a existência de uma diversidade de saberes referente ao corpo. Disciplina, moral, higiene, baseadas nos "métodos" militaristas importados, estavam associadas aos objetivos da Educação Física. Neste sentido, Carmo (1985, p. 16) denota que no período imperial brasileiro "a Educação Física funcionava como instrumento de domínio do corpo, não pela mente do individuo, mas o domínio do corpo pelos valores de uma época" No momento em que paramos para refletir sobre o desenvolvimento da Educação Física no interior da escola do século XXI, chegamos à conclusão que esta concepção de corpo/saúde da medicina higienista influenciou no passado e, de certa forma, continua influenciando bastante a Educação Física no Brasil. Transcrevo alguns discursos proferidos pelos agentes escolares a esse respeito: A educação com viés higienista apesar de ser pouco debatida nos dias atuais, ainda é muito presente nos ambientes educativos. Quando infelizmente desenvolvemos uma ação educativa em que as atividades corporais tem um fim em si mesmas, e nos preocupamos em padronizar comportamentos e pensamentos, tem como resultado do processo educativo sujeitos acríticos, disciplinados e obedientes à hierarquia, isso para mim nada mas é do que higienizar corpos (PROFESSOR ADEMIR). Outro exemplo pode ser dado com as práticas exercidas por alguns professores que determinam cada uma das relações que o corpo do aluno deve estabelecer com o objeto de sua manipulação, prescrevendo qual o padrão que se deve utilizar para realizar determinado movimento (PROFESSOR PEDRO). Uma coisa que me perturba bastante é a forma como alguns colegas da nossa área desenvolvem suas atividades na escola, por terem sido formados nessa vertente higienista e militarista, 144 acabam reproduzindo essa forma de educação, e não atentam que o tempo vivido é outro, que o sujeito é outro e consequentemente os desafios da nossa prática também são outros. Assim, continuam utilizando os mesmos ritmos, sinais, comandos, normas temporais para desdobramento do processo de aprendizagem da cultura corporal na escola (PROFESSORA ANA RITA). Verdade! E o que se almeja como resultado desse processo de padronização é que o corpo do aluno se adéque a determinados movimentos. O pior é que quem atua com base nessa perspectiva quer que o ritmo individual seja ajustado ao coletivo de maneira que possa conseguir com que os alunos alcancem uma maior eficiência nos movimentos. A pergunta que me faço é: esses movimentos vão servir pra que e pra quem? (PROFESSOR PEDRO). Além de todo que foi dito, como gosto muito de trabalhar com os esportes na escola, vejo que essa forma de ensinar é muito presente na pedagogia do esporte. Também acho que nada tem de educativo quem utiliza a prática esportiva na escola para padronizar corpos e esportivizar sujeitos. Para mim, quando o treinamento esportivo impossibilita o aluno de perceberse, faz com que seu corpo se transforme em um corpo, pouco expressivo, calado e controlado pelas regras das próprias modalidades e pelas normas impostas pelo professor (PROFESSOR IGO). Mediante as ponderações dos professores, verbalizei aos agentes escolares que o ensino da Educação Física ao longo dos tempos, tem trazido para sala e quadra de aula resquícios dessa forma de controle do corpo, embora que os mecanismos utilizados se alterem o objetivo quase sempre é o mesmo ─ padronização e repetição dos movimentos para alcance de comportamentos desejados. Todavia, nos encontros que se seguiram, o desafio era fazer com que os agentes escolares percebessem que a Educação Física Escolar vem sofrendo uma transformação dos valores que norteiam sua prática, que os seus próprios discursos e anseios são reflexos dessa transformação. 145 Assim sendo, com base em alguns estudos e pesquisas23, que podem conduzir para mudanças teóricas e metodológicas na Educação Física, por trazerem no seu bojo reflexos da corrente progressista da educação e identificarem as questões políticas e sociais inerentes à atuação do profissional de Educação Física e, assim também, passam a levantar bandeira em favor do desenvolvimento de uma concepção de ensino que busca superar o ensino tradicional centrado no autoritarismo e na dominação, busquei fazer com que a equipe de educadores percebesse que esses estudos têm feito com que muitos profissionais de Educação Física se posicionem em favor de uma concepção transformadora de educação, e no seu fazer diário refletiam sobre o movimento humano de forma dinâmica e contextualizada. Aos meus olhos o importante no decorrer desse processo de problematização da área da Educação Física Escolar foi a percepção de que os problemas referentes a ação pedagógica não serão resolvidos com medidas reformistas, com mudanças apenas metodológicas, mas que sua transformação necessita de mudanças estruturais profundas em relação aos objetivos, conteúdos, relação professor-aluno, planejamento e avaliação. E que o processo educativo se transforme em uma arma a favor da libertação dos alunos das amarras da opressão e dominação que por muito tempo assolam as atividades corporais na escola. 23 Como exemplo: Go Tani (1996); Francisco Caparroz, (1997); Valter Bracht, (1992); Coletivo de Autores (1992); Vitor Marinho Oliveira, (1994); Eleonor Kunz (1994, 2004); Luzirene Costa Bezerra Druckur (2004); Marcos Garcia Neira (2004, 2007, 2009). 146 Por esse motivo, no trajeto da pesquisa nosso caminhar foi se delineando no sentido de fazer com que no interior da escola Paulo Freire a disciplina Educação Física seja desenvolvida de tal maneira que a ação dos agentes escolares da área da Educação Física seja coerente com os pressupostos filosóficos da escola, e que a disciplina Educação Física possa conquistar seu espaço e sua "real" importância, não apenas para os alunos, mas também para os demais agentes escolares, pois, segundo a equipe de professores, apesar de todos os esforços empreendidos a disciplina de Educação Física no interior da escola Paulo Freire ainda não se equiparou às demais disciplinas quando refletimos sobre sua relevância no quotidiano dos alunos. Coerente com tais objetivos, seguimos nossa viagem e, no decorrer do caminho, buscamos ampliar e ressignificar nossos conhecimentos, assim como adquirir novos para que pudéssemos vislumbrar o desenvolvimento de uma Educação no interior da escola Paulo Freire que tenha como vocação o estabelecimento de uma ação pedagógica da e para a liberdade. No decorrer do trajeto encontramos que Freire (1989) defende a tendência libertadora e vincula a educação a conscientização e politização para a liberdade; em seu entendimento, essa liberdade deve ser coletiva, social e política, na qual juntos, homens e mulheres serão agentes de transformação de sua sociedade. Para ele, o processo educativo é considerado um ato político, assim como o ato político é um processo educativo. Para Freire (1989), a educação problematizadora deve fundamentar-se na relação dialógico-dialetica (na relação dialogal, a problemática é colocada "num contexto dialético de uma teoria do conhecimento" e não apenas como uma troca 147 de ideias entre os sujeitos envolvidos no processo, mas como uma possibilidade de conscientização do próprio nível de percepção do indivíduo, transformando-se este nível em um objeto de análise crítica da sociedade). Na sombra da pedagogia freireana, o diálogo é entendido como sendo um método de investigação pedagógica, que possibilita com que as técnicas de ensino e aprendizagem sejam incorporadas não apenas a cada fragmento da verdade que possa aparecer em versos e diferentes posicionamentos teóricos, mas também e acima de tudo, para assegurar o desenvolvimento dialético de sua própria verdade, considerando os elementos novos que emergem do contexto social em que a prática pedagógica se materializa. Tais apontamentos reafirmaram o entendimento de que na pedagogia freireana o educando passa a ser sujeito de sua ação e de sua história e a educação torna-se um instrumento criado por e para ele e não como uma préfabricação. Assim, homens e mulheres, assumem um compromisso consigo e com sua exterioridade, reafirmando sua subjetividade e historicidade numa relação dialética. Ao realizarmos a leitura do livro “Pedagogia do Oprimido” de 1987, encontramos algumas princípios marcantes da pedagogia freireana - neste solo epistemológico a investigação temática é utilizada como um processo que tem a vocação de identificar aspectos da realidade a qual os sujeitos estão inseridos, assim como verificar o que eles já conhecem e o que pensam sobre o mundo, para que o educador tenha consciência de qual assunto lhe é mais interessante, pois esse processo dialogal com a realidade em que o aluno encontra-se inserido, com a sua percepção sobre ela, possibilita que o aprendizado dos alunos seja 148 construído no coletivo, e que o professor possa socializar o poder que possui e mediante esse processo se conscientize de que não é detentor de todo conhecimento e muito menos da verdade absoluta. Se a ação pedagógica for estruturada nas linhas do pensamento freireano, a problematização do tema proposto deve partir de um educador que no decorrer da prática pedagógica encontra meios para incentivar e motivar a participação do aluno. Desta forma, o diálogo torna-se condição sine qua non para perceber posturas, posições, pontos de vista distintos, modos de compreensão do mundo, e, de forma democrática, compartilhar conhecimentos, pois, os ensinamentos freireanos postulam que mesmo que muitos sujeitos envolvidos no processo educativo venham de situações de miséria e de indignação, os conhecimentos apresentados por eles são riquíssimos, desde que sejam valorizados pela ação pedagógica desdobrada pelo professor. No livro “Pedagogia da Autonomia” de 1975, Freire verbaliza que no ato da prática educativa a ação problematizadora torna-se uma das principais etapas do processo de apreensão do mundo, pois a ação problematizadora leva em consideração o compromisso emancipador solidário daquele conhecimento, da construção-reconstrução do mundo lido, da transformação das condições de vida, da libertação dos sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem. Através dessa leitura passamos a compreender que Paulo Freire compreendia a escola não apenas como um espaço de produção de conhecimento, mas também de transformação social. E por meio de sua pedagogia leva os educadores a acreditarem nas utopias, na transformação, numa sociedade mais justa e igualitária. Para tanto, esclarece que é preciso que cada 149 um alimente dentro de si a esperança, a ousadia, a coragem de enfrentar as adversidades do dia a dia; é preciso, igualmente, acreditar na integridade, na beleza, e no poder de transformação do ser humano, principalmente daqueles a quem a vida fecha as portas (FREIRE, 2000). Com base em tais ensinamentos, começamos a entender que a pedagogia freireana deve se materializar em um caminho que não possui uma via única, mas diversas trilhas que deverão ser constantemente refeitas. Pois compreendemos que para Freire (1985), uma educação popular e verdadeiramente libertadora se constrói a partir de uma educação problematizadora, baseada em perguntas provocadoras de novas respostas, no diálogo crítico e emancipatório, por consequência libertador, e na tomada de consciência de sua presença no mundo. Portanto, ficou claro para nós que o cerne da pedagogia freireana, é que os indivíduos se “sintam sujeitos de seu pensar, discutindo o seu pensar, sua própria visão de mundo, manifestada implícita ou explicitamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros” (FREIRE, 1985, p. 141). Desse modo, enquanto agente de pesquisa percebo que no momento em que os agentes escolares buscam em Freire uma sustentação teórica para ancorar suas atividades educativas, colocam-se o desafio de procurar no âmbito educativo em que se encontram inseridos caminhos democráticos, participativos, que possam abrir a possibilidade de construir uma Educação Física Escolar da comunhão social, solidária, e não competitiva e violenta, na qual o processo de ensino/aprendizagem não se restrinja ao simples exercício de certas habilidades e destrezas motoras, mas que seja capaz de desenvolver nos sujeitos a capacidade 150 de refletir sobre suas potencialidades corporais e, com autonomia, exercê-las de maneira social e culturalmente significativa e adequada. Para tanto, é essencial que os agentes escolares compreendam que o desenho de uma Educação Física no contexto de uma escola de Educação Popular não pode partir apenas da seleção de temas e conteúdos e manter uma ligação entre eles. É preciso que os sujeitos envolvidos no processo educativo atribuam sentidos e objetivos aos temas e conteúdos trabalhados, e percebam ainda, que sua função enquanto educador é de articular os temas e conteúdos trabalhados às necessidades dos educandos, promovendo dessa forma o crescimento pessoal com a reflexão sobre o que é ensinado, por meio de uma ação pedagógica que respeita os valores, as tradições e o indivíduo com sua complexidade e individualidade. Durante as investigações, os agentes escolares foram percebendo que o desafio no qual colocavam a sua prática pedagógica implicava na estruturação de metodologias coerentes com a pedagogia freireana. Ou seja, essencialmente dialógicas e, por extensão, conscientizadoras, que proporcionem aos sujeitos do processo educativo a apreensão do objeto cognoscível, e a tomada de consciência dos indivíduos em torno do mesmo. Exige ainda, situar a prática educativa no contexto cotidiano da escola, para que não corressem o risco de desenvolverem a prática educativa deslocada do mundo vivido pelo educando, já que a escola e os agentes educativos não estão blindados à concretude da realidade em que estão inseridos, pelo contrário, respiram e vivenciam cotidianamente situações vinculadas a seu contexto, o que exige seus 151 posicionamentos, quer no âmbito formal da aula, quer fora dela (WITTIZORECKI; MOLINA NETO; BOSSLE, 2012). No decorrer desse processo, os agentes escolares manifestaram-se de várias formas, verbalizaram seus pensamentos e vislumbravam um ensino da Educação Física ancorado nesses preceitos: Fica cada vez mais claro que para Paulo Freire a prática educativa deve abarcar todas as dimensões dos sujeitos, e a escola deve oferecer condições para exploração de todas. Assim quando aplicamos um conteúdo temos que trabalhas as habilidades inerentes a ele, mas não parar por aí, criar estratégias para desenvolvimento cognitivo e social dos alunos (PROFESSORA ANA RITA). Como falamos anteriormente, em todos os textos lidos Paulo Freire traz apenas os princípios de sua pedagogia, na verdade, na minha ingenuidade eu achava que encontraríamos em seus textos uma espécie de manual de sua pedagogia, assim como encontramos naqueles livros como 1.000 atividades para desenvolvermos na escola (PROFESSOR ADEMIR). Na verdade, pelo que compreendi no fazer diário cada professor precisa identificar assuntos, temas que estejam claro relacionados a sua disciplina e que os alunos dão significados a eles (PROFESSORA ANA RITA). A proposta pedagógica freireana é muito parecida com a do professor Eleonor kunz,(PROFESSOR IGO). Vale ressaltar que no decorrer da problematização referente à pedagogia freireana, os agentes escolares, reconheceram que mesmo diante da complexidade que envolve o desenvolvimento de uma ação educativa ancorada em tais princípios, esse método de aprendizagem é pertinente ao contexto educacional da escola Paulo Freire. Pois, mediante as aprendizagens adquiridas, os alunos poderão escrever sua própria historia de vida, assim como, proferir testemunhos sobre ela. 152 No diálogo com Freire (1981), Kunz (2004, p 149) chama a atenção para a estruturação do ensino da Educação Física na perspectiva dos ensinamentos freireanos, para ele, uma Educação Física crítica e emancipatória, e por extensão libertadora não deve limitar a prática pedagógica à transmissão de gestos padronizados no seu sentido técnico. Mas, “resgatar o sujeito na relação dialógica com o mundo, pelo Se-Movimentar. Trata-se de desenvolver ações conjuntas de professores e alunos, com vistas à transformação do mundo vivido e respectivo mundo do movimento, para nele serem realmente reconhecidos como sujeitos”. É por esse motivo, que ao ancorarmos a ação educativa nos princípios da pedagogia freireana, precisamos possibilitar aos homens e às mulheres a oportunidade de redescobrir-se/readmirar-se através do movimento humano e da retomada reflexiva do próprio processo em que vai se descobrindo/admirando, manifestando sua palavra na medida em que vão se conscientizado da sua posição no mundo. No entanto, no decorrer desse processo, cabe ao educador, enquanto agente impulsionador de transformações internas e externas, direcionar o processo de conscientização/libertação pela via da reflexão, pois se esse caminho não for percorrido, correrá o risco de sua ação ter o efeito parecido de um sujeito que pretende salvar um outro indivíduo de um terrível acidente. Pois como bem pontua Freire (1987, p. 29): Os oprimidos, nos vários momentos de sua libertação, precisam reconhecerse como homens, na sua vocação ontológica e histórica de Ser Mais. A reflexão e a ação se impõem, quando não se pretende, errôneamente, dicotomizar o conteúdo da forma histórica de ser do homem. 153 Portanto, as descobertas que realizamos nos deram a compreensão de que o caminho pedagógico percorrido por Paulo Freire precisa ser constantemente aperfeiçoado e adaptado ao contexto em que a prática educativa se materializa contexto histórico, espaço geográfico de aplicação, ensino escolar e não escolar, área de conhecimento, etc. Como podemos verificar nos discursos pedagógicos abaixo: Vejo que o essencial é atentar para as características de cada turma. Como nossa escola é totalmente plural no decorrer da nossa prática pedagógica devemos buscar identificar o vocabulário dos alunos, principalmente no que concerne a Educação Física (PROFESSOR PEDRO). Não sei, é uma ideia, mas quem sabe para cada conteúdo buscar escolher os movimentos selecionados pelo próprio mundo do aluno, no conteúdo dança, por exemplo, podemos partir do que eles têm mais vivencias e depois introduzir outros ritmos, assim o conteúdo apesar de ser decidido por nós (dança), os ritmos vem deles (PROFESSORA ANA RITA). Creio que é bem pertinente. A dúvida que eu tenho é como teorizar isso? (PROFESSOR IGO). Mediante aplicação de situação – problema os quais precisarão encontrar formas para resolver. Professor Igo, vejo que no momento em que desdobro um conteúdo de dança e contextualizo a história de cada ritmo, ou até mesmo de uma dança folclórica posso levar o aluno a penetrar nessa história e se ver através dela, outra forma é a metodologia da pesquisa, mas não qualquer pesquisa, mas aquela em que o alunos é levado a encontrar respostas para questionamentos que são complexos mas que fazem parte do mundo da vida, como a história do nosso Marabaixo ─ que é uma dança típica do povo amapaense e pouco se sabe sobre ela. Quem trouxe? Como surgiu? Suas modificações no decorrer dos tempos? E a resistência do povo para permanecer viva como cultura popular. Aí no momento em que os alunos estão realizando as atividades precisamos solicitar que eles fiquem atentos aos acontecimentos julgados impactantes no contexto da história que estão investigando, a forma de viver, comunicar e os gestos corporais do povo envolvido na trama. No decorrer da aula para que possamos pontuar o conhecimento adquiridos 154 pelos alunos, podemos criar uma espécie de fichas onde deverão ser registrados os pontos centrais da apresentação, assim como as ponderações por nós realizadas (PROFESSORA ANA RITA). Tudo bem! Mas essa dinâmica servirá para todos os conteúdos e temas trabalhados? (PROFESSOR IGO). Ai que no meu entender vem a coerência com a pedagogia freireana, a rigorosidade do ensino vai estar na determinação dos conteúdos, porque esses precisamos seguir, agora o tema, a modalidade, o ritmos, a luta, a brincadeira pode vim deles, que serão fruto de suas vivencias (PROFESSORA ANA RITA). A partir do diálogo travado pelos agentes escolares encontrei-me no desafio de realizar a seguintes ponderações: que embora estivessem cientes do caminho básico que deveriam percorrer para reestruturar o ensino da Educação Física nas esteiras da pedagogia freireana. Precisariam no decorrer da prática educativa ficar atentos às necessidades de ampliação e renovação, pois esse alerta dos educadores, além de ser coerente com o pensamento freireano, possibilita o estabelecimento de práticas alternativas para a educação em sentido amplo e para a Educação Física em particular. Diante da utopia possível, foi desenvolvida uma proposta de Educação Física Escolar baseada na pedagogia freireana: 7.2- Narração dos acordos As aulas de Educação Física deverão ultrapassar a tradicional prática esportiva, muito comum na nossa área. Logo, o ensino do esporte e outros conteúdos relacionados à cultura corporal como a dança, a ginástica, as lutas, brincadeiras de ruas, brinquedos, atletismo deverão ser ministrados em aulas teórico-práticas, e ancorados nos princípios da pedagogia freireana, em que o 155 cerne é a reflexão sobre a ação. Para tanto, utilizar-se-á como pressupostos metodológicos a descoberta orientada e a metodologia de resolução de problemas. No entanto, para desdobramento de cada conteúdo o professor deverá realizar um planejamento participativo com os alunos, com o objetivo de fazer com que os elementos presentes no mundo da vida dos alunos e suas necessidades sejam levados em consideração no ato da ação educativa. Com a intenção de desenvolver o trabalho em equipe, para que seja fomentada a capacidade de organização, de cooperação e a solidariedade entre os discentes, serão ministrados conteúdos teóricos, sobre os quais os alunos apresentarão seminários que poderão ser dinamizados da forma a qual acharem mais oportuna, desde que essas formas possam se constituir em um meio para fomentação de discussão com a turma sobre o assunto estudado. Como a escola Paulo Freire ainda não tem uma quadra poliesportiva, sempre que possível, os conteúdos trabalhados em sala serão aplicados na praça “Nossa senhora da Conceição”24 nas aulas práticas. Desta forma, os professores terão a oportunidade de fazer com que a comunidade estudantil vivencie de forma ampla e bem mais contextualizada os conteúdos abordados em sala. No decorrer da prática pedagógica, buscarão desenvolver uma postura democrática tanto na escolha dos temas que deverão ser abordados em cada conteúdo como na forma de avaliação do desempenho do aluno. 24 Praça pública que fica localizada a aproximadamente 500 metros da escola. 156 Na tentativa de sermos coerentes como a pedagogia freireana, os conteúdos propostos deverão ser debatidos com a turma, com intuito de escolher aqueles que mais interessam aos alunos, que por extensão são mais relevantes para o seu dia a dia. A avaliação do processo ensino aprendizagem deverá ser constantemente debatida, sendo que para cada turma o professor deverá encontrar uma estratégia, estratégia essa que deverá ser coerente com o perfil de cada turma. Acredita-se que essas diretrizes ajudarão os professores a desenvolver uma Educação Física que se legitime no interior da escola Paulo Freire, através do desenvolvimento de conteúdos relevantes para o quotidiano dos alunos, construídos coletivamente na interação da sala de aula. Pois, diante dos obstáculos que encontraram para desenvolvimento de uma Educação Física crítica e emancipadora no interior da escola pública essa é a contribuição dessa equipe de educadores que embora tímida para eles representa um grande avanço. 157 CONSIDERAÇÕES (FINAIS) SOBRE OS PERCURSOS DA VIAGEM Chegaste na primavera, com as esperanças, e migrastes no outono, com os grãos generosos e as frutas maduras. Teu dia foi bom e fértil: das amarras da opressão, fizestes pedagogia; da velha realidade, novas utopias. Depois de ti, não somos mais os mesmos. Agora sabemos que a palavra é geradora de cumplicidade: prende, liberta, constrói possibilidades. Sabemos também que a educação é a mais acabada das obras inconclusas: socializa os homens, humaniza a sociedade. Temos, pois, a liberdade de pensar que és o nosso patrimônio. Dos letrados e dos iletrados, dos homens que aram a terra e dos sem-terra, dos que 25 trabalham e dos excluídos . Sabe-se que a conclusão de um trabalho de pesquisa é sempre provisória. Quando esse trabalho é construído na perspectiva da pedagogia freireana, essa conclusão torna-se mais provisória ainda, uma vez que as reflexões sobre o ato de ensinar e aprender quase sempre nos leva a inúmeros caminhos. No caso específico deste estudo, ao buscarmos incessantemente compreender o contexto político educacional no qual as aulas de Educação Física estavam sendo realizadas na escola de Educação Popular Professor Paulo Freire e identificar possibilidades de desenvolvimento de uma Educação Física crítica e emancipatória no contexto da Educação Popular na escola pública, fomos levados a percorrer diversos caminhos, a buscar fundamentos teóricos que respaldassem as indagações e as exigências explicativas suscitadas pelo caminhar, além de que, a dinâmica da vida escolar - neste caso a vivenciada pelos agentes escolares da Escola de Educação Popular Professor Paulo Freire - fez com que alguns pressupostos metodológicos da pesquisa-ação, vertente essa em que iniciamos a “Carta a Paulo Freire”. Poema de Maria Jussara Dutra Vieira, presidente do CPERS, escrito quando do falecimento de Paulo Freire, em 2 de abril de 1997. 25 158 viagem, fossem abandonados no meio da caminhada para que tal percurso acontecesse de forma coerente com os anseios da comunidade estudada. As investigações revelaram que o contexto político educacional em que a escola de Educação Popular Professor Paulo Freire desenvolve sua ação educativa repete e reflete as determinações políticas da classe dominante, na qual pretende que a escola seja um mecanismo de reprodução dos ideais políticos partidários, mediante um discurso pedagógico que em alguns momentos chega no solo da escola em forma “dialogal”, mas que esconde um poder dissipado, em outros momentos mediante um discurso autoritário que revela um poder formal e intransferível. Os caminhos percorridos no decorrer da investigação trouxeram à tona que o desenvolvimento de uma Educação Popular no contexto da escola pública amapaense é uma utopia ainda impossível de realização, já que, a sociedade amapaense ainda mantém a herança de uma sociedade que não consegue se livrar da tutela, do apadrinhamento, do paternalismo e de alguns mecanismos autoritários que predominam nas relações sociais. Mecanismos esses que acabam chegando ao interior da escola e subsidiam relações servis que por consequência garantem a hierarquia entres os atores do cenário escolar. Apesar de todas essas dificuldades, a iniciativa dos professores de Educação Física em buscar desenvolver suas ações pedagógicas coerente com os princípios filosóficos da escola e com sua razão de existir, demonstrou que a luta por uma educação pública de qualidade, e pautada no clamor das classes populares, é uma luta que não pode prescindir de uma compreensão crítica e clara da forma a qual o Estado vem gerindo a escola. 159 A experiência por nós vivida revelou que o desenvolvimento de uma educação crítica e emancipatória no cotidiano da Educação Popular na escola pública, só é possível mediante a formação crítica dos educadores, que virá do processo democrático da educação, isto é, da tentativa de se construir a autonomia intelectual e profissional do educador juntamente com a autonomia social da instituição educativa. Do contrário, a garantia da política oficial do governo continuará permeando os espaços educativos e a escola continuará sendo um aparelho ideológico do Estado responsável pela produção e reprodução das desigualdades sociais quanto legitimadora das desigualdades existentes, independente da nomenclatura a ela atribuída. No decorrer do processo de pesquisa, os professores de Educação Física se conscientizaram de que não existe um modelo para atuar numa concepção libertadora. O que existe é uma teoria do conhecimento que se utiliza de pressupostos que poderão ser recriados a cada instante e com qualquer grupo social a ser investigado. Acredita-se, portanto - pelas experiências vividas e pelos acordos fomentados no decorrer do processo de formação - que as aulas de Educação Física desenvolvidas na escola poderão formar um aluno (a) crítico (a), capaz de exercer sua cidadania plena na vida em sociedade, e especificamente no que concerne ao acesso, ao consumo e à participação na cultura corporal, mediante uma ação educativa dialógica e problematizadora, em que o educador direciona sua ação educativa para o desenvolvimento das potencialidades do educando, assentando-se na diversidade dos conteúdos em detrimento da eleição de uma única modalidade, na provocação da curiosidade e construção coletiva do 160 conhecimento, em que o aluno é levado a refletir sobre os objetivos das atividades corporais propostas, além de buscar estabelecer um elo entre a vida cotidiana e a prática da Educação Física desenvolvida na quadra de aula, para que através do diálogo crítico a respeito das atividades corporais e do mundo vivido os educandos sejam desafiados a assumirem-se enquanto seres epistemologicamente curiosos diante dos fenômenos que compõem a realidade circundante, trabalhando desta forma para a elevação do nível de consciência, e, contribuindo, assim, para o processo de emancipação de cada aluno. Enquanto educador freireano, envolvido nesse processo de pesquisa e formação, “finalizo” essa viagem com a certeza de que é chegada a hora dos profissionais de Educação Física avançarem na descoberta de caminhos democráticos e participativos para desenvolvimento de práticas educativas verdadeiramente comprometidas com a emancipação social, práticas utopicamente possíveis de realização e necessárias. Práticas estas que, pela dinâmica da vida social e escolar, apresentam-se como ações concretas e inacabadas, portanto imperfeitas e parciais, mas que poderá ser através delas que a Educação Física no interior da escola poderá sair do status de obrigatoriedade para o de legitimidade. Do grande esforço despendido para superar naturais limites, espero que as contribuições dessa pesquisa correspondam ao esforço despendido, mesmo reconhecendo seu caráter aberto, como se o inacabado apenas apontasse para o muito que nesta área deve ser feito e construído. No entanto, mesmo que essa construção aconteça mediante imprevistos e surpresas, o importante é que: 161 Aparelhei o barco da ilusão E reforcei a fé de marinheiro. Era longe o meu sonho, e traiçoeiro O mar... (Só nos é concedida Esta vida Que temos; E é nela que é preciso Procurar O velho paraíso Que perdemos). Prestes, larguei a vela E disse adeus ao cais, à paz tolhida. Desmedida, A revolta imensidão Transforma dia a dia a embarcação Numa errante e alada sepultura... Mas corto as ondas sem desanimar. Em qualquer aventura, O que importa é partir, não é chegar. Poema: Viagem Miguel Torga (1962) 162 REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO: ALVES, A. J. Planejamento da pesquisa qualitativa. Cad. Pesquisa. São Paulo (77): p. 53-71, maio, 1991. ALVES, N. Trajetórias e redes na formação de professores. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 2003. ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. Tradução por M.W.B Almeida. 2ª ed. 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Gostaria de salientar que os demais conteúdos do projeto não sofreram nenhum tipo de alteração. 207 SUMÁRIO 2.0 APRESENTAÇÃO ................................................................................... 05 3.0 IDENTIFICAÇÃO DO ESTABELECIMENTO .......................................... 06 3.1 Localização ............................................................................................. 06 3.2 Dependência Administrativa ................................................................... 06 3.3 Entidade Mantenedora ............................................................................ 06 3.4 Ato de Autorização da Escola ................................................................. 06 3.5 Local ........................................................................................................ 06 4.0 ORGANIZAÇÃO DA ENTIDADE ESCOLAR .......................................... 06 4.1 Modalidade de Ensino ............................................................................. 06 4.2 Turno de Funcionamento ........................................................................ 07 4.3 Ambientes Pedagógicos .......................................................................... 07 5.0 OBJETIVOS GERAIS .............................................................................. 08 6.0 MARCO SITUACIONAL .......................................................................... 08 6.1 Breve Histórico da Realidade Escolar ..................................................... 08 7.0 MARCO CONCEITUAL – Fundamentação Teórica ................................ 14 7.1 Concepção de Gestão Democrática e Administração Colegiada ........... 20 7.2 Formação Continuada, Organização da Hora Atividade, Reunião Pedagógica e Conselho de Classe ......................................................... 24 7.3 Organização do Tempo Escolar – Ensino em Etapas ............................ 28 7.4 Organização Curricular Utilizada ................................................................. 28 7.5 Concepção Curricular – O papel do Currículo na Formação Humana do Aluno, os limites e as possibilidades da Prática Docente .......................... 7.6 29 Avaliação, Sistemática de Avaliação e Ações Relativas à Recuperação Paralela ......................................................................................................... 34 8.0 MARCO OPERACIONAL ............................................................................ 36 8.1 Linhas de Ação da Escola Objetivos, Metas e Ações – Administrativas e Pedagógicas................................................................................................ 208 36 8.2 Hora Atividade, Reunião Pedagógica, Conselho de Classe.. 37 8.3 Gerenciamento e Otimização dos Recursos Financeiros ......... 40 8.4 Orgãos Colegiados, Organização Interna da Escola e sua funções específicas .................................................................................................. 41 8.5 Relações entre os Aspectos Administrativos e Pedagógicos ..................... 60 8.6 Estratégias da Escola para Articulação e Participação da Família e Comunidade ................................................................................................ 61 8.7 Definição das Ações Relativas á Formação Continuada ............................ 62 8.8 Atividades Escolares em Geral, e as Ações Didático- Pedagógicas a serem desenvolvidas durante o Tempo Escolar ......................................... 8.9 63 Qualificação dos Espaços Pedagógicos e Necessidades enfrentadas pela Escola .......................................................................................................... 65 8.10 Acompanhamento e Avaliação do Projeto Político Pedagógico ................. 66 9.0 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 67 10.0 ANEXOS ...................................................................................................... 69 209 2.0 APRESENTAÇÃO A apresentação do Projeto Político Pedagógico deste Estabelecimento de Ensino explicita princípios e estratégias concretas, constituindo-se em compromisso político e pedagógico coletivo, portanto fruto da reflexão e investigação. Esse processo se consolida na Lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação que estabelece no art. 12 inciso I a responsabilidade do Estabelecimento de Ensino na elaboração e execução de sua “proposta pedagógica”, com o intuito de refletir sobre a intencionalidade educativa presente nessa instituição de ensino. Todas as ações propostas na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola relacionam-se com os princípios norteadores do planejamento dialógico, ou seja, o entendimento do planejamento da escola, que visa garantir a participação efetiva dos vários segmentos escolares avaliando objetivamente as necessidades e expectativas de todos, sendo portanto um processo sempre incluso e suscetível a mudanças necessárias durante sua concretização. A trajetória desta caminhada se deu através da realização de reuniões, encontro com os pais, dinâmicas de grupo, palestra com envolvimento da comunidade escolar em parceria com (Promotor, Assistente Social, Psicóloga, Conselho Tutelar...) com o objetivo de prestar esclarecimento à família /comunidade sobre o ECA e a sua participação e responsabilidade sobre a vida de seus filhos. Através deste trajeto desenvolvemos um trabalho compartilhado, com união de esforços em garantia de um ambiente de trabalho mais agradável e voltado para um ensino de qualidade. Este projeto constitui uma reflexão acerca da concepção da educação e sua relação com a sociedade e a escola, o que não dispensa uma reflexão sobre o homem a ser formado, a cidadania e a consciência crítica, pois o grande desafio da escola está em garantir um padrão de qualidade técnica e política para todos, e que não respeite apenas a diversidade local, social e cultural, mas entenda que o aluno é o sujeito concreto, real, histórico, social e ético do processo educativo, 210 consolidando um processo de ação-reflexão-ação que exige o esforço conjunto e a vontade política do coletivo escolar. Fundamentar este projeto numa concepção emancipadora, significa trilhar vários caminhos com coragem, consciência e muita esperança de uma escola melhor para todos. 3.0 IDENTIFICAÇÃO DO ESTABELECIMENTO 3.1 Localização: A Escola Estadual de Educação “Professor Paulo Freire” – Ensino Fundamental, localizada na Av: Acelino de Leão, nº167, Bairro do Trem, Macapá-AP. 3.2 Dependência Administrativa: 3.3 Entidade Mantenedora: Governo do Estado do Amapá. 3.4 Ato de Autorização da Escola: Criada através do Decreto nº 0145, em 20 de Janeiro de 1997. Autorizada a funcionar mediante a portaria nº 317/99. 3.5 Local: Zona Urbana. 4.0 ORGANIZAÇÃO DA ENTIDADE ESCOLAR 4.1 Modalidade de Ensino A Escola Estadual de Educação Popular “Professor Paulo Freire”, atende aproximadamente 750 alunos regularmente matriculados no período diurno e noturno de 1º, 2º, 3º e 4º etapas. A escola ainda dispõe de professores especializados em atendimentos com necessidades específicas para atender alunos, quando necessário, em todas as etapas. 211 QUADRO DEMONSTRATIVO Total de Alunos: 1. 750. Direção: 1. Número de Funcionários Administrativos: 10. Biblioteca: 01. TV Escola: 01. Serviços Gerais: 14. Ensino Fundamental: 1º, 2º, 3º e 4º etapas. Número Total de Professores: 43. Número de pessoas que atuam na Coordenação Pedagógica: 5. 4.2 Turno de Funcionamento O período de trabalho desenvolvido nesta Escola para o Ensino Fundamental, obedece a legislação em vigor de 4 horas aulas por turno distribuídas da seguinte forma: Matutino, Vespertino e Noturno. 1º Etapa (1º e 2º série): Manhã, tarde e noite. 2º Etapa (3º e 4º série): Manhã, tarde e noite. 3º Etapa (5º e 6º série): Manhã, tarde e noite. 4º Etapa (7º e 8º série): Manhã, tarde e noite. 4.3 Dependências da Escola. Direção: 01. Secretaria Escolar: 01. Nº total de salas de aulas: 15. Biblioteca: 01. Sala de Multimídia: 01. Auditório: 01. Sala de Equipe Pedagógica: 01. 212 Sala dos Professores: 01. Deposito: 01. 5.0 OBJETIVOS GERAIS O objetivo do Projeto Político-Pedagógico é imprimir na escola, dinâmica curricular significativa, mobilizando a comunidade escolar para o conhecimento e socialização dos processos de construção desse conhecimento, garantindo a todos a participação na sua construção e expressão. Dessa forma a escola cumpre sua função social de democratizadora do saber fundamentada nos seguintes objetivos: · resgatar a intencionalidade da ação (marca essencialmente humana), possibilitando a (re) significação do trabalho; · ser um instrumento de transformação da realidade; · ajudar a construir a unidade (e não a uniformidade), superar o caráter fragmentário das práticas educativas, a mera justaposição, possibilitando a continuidade da linha de trabalho da instituição; · propiciar a racionalização dos esforços e recursos utilizados para atingir fins essenciais do processo educacional; · ser um canal de participação efetiva, superar as práticas autoritárias individualistas, ou disputas de vontades individuais, na medida em que há um referencial construído e assumido coletivamente; · aumentar o grau de realização/concretização do trabalho; · fortalecer o grupo para enfrentar conflitos, contradições e pressões, avançando na autonomia e na criatividade; (como exemplo, o bullying) · colaborar na formação dos participantes; 6.0 MARCO SITUACIONAL 6.1 Breve Histórico da Realidade Escolar 213 Analisando a sociedade ainda presente nos dias de hoje nos deparamos com uma grande instabilidade econômica, social e cultural, em conseqüência de uma sociedade capitalista, elitista que assegura os benefícios para a hegemonia dominante. Presente nessa sociedade, temos uma escola que apresenta caráter de uma instância social de transmissão/ assimilação/ produção de conhecimentos privilégio da minoria, onde a sociedade cumpre a função de manter os benefícios e a produção de conhecimentos a seu favor, assegurando assim seu poder sobre a classe trabalhadora. Essa realidade ainda está convictamente expressa nas escolas brasileiras, que apresentam forma de seletividade e exclusão, e o discurso do cotidiano escolar ainda está distante da realidade dos nossos educandos, em função de uma prática eficiente que garanta a democratização do saber. Contradição que nos posiciona ao refletirmos sobre essa sociedade de classes, onde a escola não deve ser uma sociedade ideal em miniatura, pois ela não esconde o conflito social que deve ser, pedagogicamente, evidenciado para ser enfrentado e superados, acreditando que a escola deve preparar o educando para o exercício consciente da cidadania. Considerando as finalidades dispostas na Constituição Federal e Estadual, bem como na Lei de Diretrizes e Bases, que tem por princípios uma educação básica de qualidade, gratuita e obrigatória, que ofereça condições de acesso e permanência do educando, bem como o direcionamento sócio-político do ensinoaprendizagem na formação de cidadãos participativos, a escola posiciona-se para o atendimento integral do educando. Com fundamentação nesses princípios a educação enfrenta desafios de mudança e ressignificações urgentes, sendo assim o Estado do Amapá, através de reflexões, reformulação das Diretrizes Curriculares Nacionais, com enfoque no trabalho coletivo/reflexivo, aponta em forma de estudos, capacitações, formação continuada, metas e ações que possam direcionar a prática educativa a um eficiente exercício da cidadania. Assim esta escola pertence à Rede Estadual de Ensino, e foi criada através do Decreto nº 0145, em 20 de janeiro de 1997, do Governo do Estado do Amapá – 214 GEA, autorizada a funcionar mediante a portaria nº 317/99 da Secretaria de Estado da Educação – SEED, com o objetivo de atender a grande demanda de alunos fora da idade/série. E iniciou suas atividades em 20 de janeiro de 1997, funcionando no prédio da SEED até 2003, transferindo-se para o prédio alugado, localizado na Rua Raimundo Ozanan nº 105, Bairro Central, CEP: 68900-840, Macapá- AP. Atualmente, a escola esta localizada em um prédio alugado na Rua Acelino de Leão nº 176, bairro Trem, Macapá-AP, e atende uma clientela de 750 alunos na modalidade de Educação de Jovens e Adultos, através de etapas. Sendo que a 1º etapa corresponde a 1º e 2º série; 2º etapa: 3º e 4º série; 3º etapa: 5º e 6º série e 4º etapa: 7º e 8º série do ensino fundamental, funcionando nos três turnos (manhã, tarde e noite). O primeiro gestor nomeado foi o professor Lúcio Marciel da Silva e atualmente e administrada pela diretora Marluce Maia da Silva e tem como diretor adjunto Otailton Costa Vieira. A postura dessa escola frente aos problemas de exclusão dessa sociedade em que está inserida a nossa clientela necessita articular o trabalho escolar através de uma concepção pedagógica que atenda as especificidades e diversidades dos educandos presentes nessa Escola, instrumentalizando-os na socialização de um saber fundamentado num currículo que respeite a seleção de conteúdos, vinculando as relações entre a educação escolar e as práticas sociais, valorizando também as experiências extra-escolares. Essa escola situada na zona urbana atende uma clientela de baixa renda proveniente de áreas vizinhas (Pará), áreas ribeirinhas, zona rural, idosos; indígenas; reeducandos; abrigados; bem como alunos com necessidades específicas. Outro problema relevante que enfrentamos, é que a escola é a única no estado que atende alunos diurnamente na faixa etária de 15 anos provenientes de todos os bairros de Macapá, normalmente, são alunos que repetiram inúmeras vezes a mesma série, ou seja, com sérias dificuldades de aprendizagem, sendo visível a falta de acompanhamento dos familiares, aumentando assim os níveis de evasão. Diante desta problemática, faz-se necessário que a escola encaminhe 215 ações que possam amenizar ou até mesmo solucionar estes problemas. Estas ações visam esclarecimentos às famílias, promoção de visitas, direcionando a prática em garantia do controle da evasão e repetência, procurando assim consolidar as relações escola/família/sociedade. Nesse sentido, a escola procura esclarecer os pais, sobre a necessidade dos mesmos em garantir a educação escolar de seus filhos, dando-lhes estabilidade para avançar nos estudos, pois o fato de mudar de uma escola para outra ou até mesmo para outro município, causa instabilidade no educando prejudicando-lhe a continuidade na aprendizagem cuja defasagem leva ao abandono e até mesmo a repetência em alguns casos. A escola ainda encontra barreiras nesse sentido, mas avança no trabalho de conscientização conforme observa-se na estatística abaixo: Ano 2007 Alunos aprovados: Alunos reprovados: Alunos transferidos: Alunos desistentes: Ano 2008 Alunos aprovados: Alunos reprovados: Alunos transferidos: Alunos desistentes: Ano 2009 Alunos aprovados: Alunos reprovados: Alunos transferidos: Alunos desistentes: 216 Ano 2010 Alunos aprovados: Alunos reprovados: Alunos transferidos: Alunos desistentes: Nesse contexto valorizamos uma concepção pedagógica que busque a seriedade na transmissão do conhecimento, através de uma prática concreta que valorize a diversidade cultural do educando, consciente de que essa prática só é possível coletivamente, pois é um compromisso sério e envolvente que não se realiza por si só. Urge, portanto o compromisso de melhorar as relações interpessoais entre professor/funcionário, professor/aluno e professor/professor em sintonia às necessidades educacionais presentes na escola tendo clareza e responsabilidade no desempenho de cada função. Ainda evidenciando os conflitos presentes na prática, diagnosticou-se em reuniões pedagógicas a necessidade de estabelecer critérios quanto a utilização da hora-atividade e formação continuada, cujo desenvolvimento possa atender às necessidades que os professores enfrentam em sala de aula, instrumentalizandoos no trabalho com produção, interpretação e reestruturação de textos, fragilidades ainda presentes nessa escola. Esse trabalho contribuirá para subsidiar o professor no processo ensino/aprendizagem podendo articular com mais eficiência teoria/prática, eliminando a distância ainda existente e efetivando também novas formas na avaliação ainda presas em práticas autoritárias. Outra prática importante que requer atenção na formação continuada é a inclusão de alunos com necessidades educacionais específicas, fator complexo e necessário que muitas vezes causa insegurança nos professores, pois a escola presta atendimento específico aos alunos com necessidades específicas. No âmbito escolar, a inclusão refere-se ao processo de educar, ensinar no mesmo grupo, adolescentes e adultos com e sem necessidades específicas, durante parte ou na totalidade do tempo de permanência na escola. Assim a 217 escola deve estar preparada para atender todo tipo de aluno, respeitando suas diferenças e educando de acordo com o ritmo e as possibilidades de cada um. Isso é a garantia do princípio democrático da escola para todos. A inclusão provoca mudanças nas perspectivas educacionais, pois não se limita somente aos alunos com necessidades educacionais específicas, mas a todos os envolvidos no processo educacional, professores, alunos, funcionários, ou seja, o êxito do processo depende do envolvimento de toda a comunidade escolar. Educação Inclusiva se faz não só legalmente, mas com ações e relações na escola/sociedade em oportunidades iguais para todos, é com esse ideal que a escola lança seu desafio em função de uma educação voltada para a transformação social, pois educação se constrói em comunhão. A vida escolar do educando ocorre em um determinado tempo e um determinado espaço. Dessa forma é necessário exercer mediação pedagógica consciente, evidenciando uma aprendizagem significativa para toda a vida, respeitando o ritmo, o tempo e as experiências do educando. As vivências escolares constituem um espaço adequado para que as relações pedagógicas sejam democráticas e assegurem a formação cidadã do estudante. Contextualizando as necessidades e a oferta da escola em garantir uma educação de qualidade, coloca-se a seriedade na organização e utilização do tempo e do espaço do aluno na escola, conduzindo a aplicação dos conteúdos com coerência e contrapondo-se a sua fragmentação. Da mesma forma que o espaço utilizado em salas de aula, possui ambiente claro, arejado, dentro das normas de higiene e limpeza, sendo a distribuição de alunos por turmas compatíveis a um ambiente agradável e acolhedor, propício à aprendizagem. O educando participa de 4 horas aulas diárias de efetivo trabalho em sala de aula, garantindo o aproveitamento do tempo do educando, onde as atividades estão voltadas para o ensino/aprendizagem, propiciando o acesso ao saber elaborado em todas as disciplinas, cujo conteúdo é essencial para a vida dos educandos em suas múltiplas dimensões. 218 O espaço ofertado pela escola atende às necessidades de acomodação do educando, pois oferece espaço coberto para as atividades educacionais, entretanto, a escola ainda não dispõe de recursos pedagógicos de qualidade e em quantidade suficiente para subsidiar e enriquecer os conteúdos, o que dificulta a aprendizagem do educando, mostrando assim a necessidade de aquisições de materiais sempre que necessário. Quanto aos equipamentos físicos que a escola dispõe, pode-se perceber que alguns necessitam de reposição, mas são bens utilizados e organizados na medida do possível, devido ao esclarecimento sobre o uso e cuidados que se desenvolvem no coletivo escolar. Assim, a escola prossegue sua meta na valorização do trabalho compartilhado e nas relações interpessoais entre a comunidade escolar, engendrando um trabalho de participação mais sólida dos pais na escola. A construção dessa relação só é possível, devido a clareza da gestão adotada por essa escola, pois o amor deve aliar-se a competência profissional, iluminada por um compromisso claro e atuante. É importante enfatizar ainda que aprimorar as boas relações já existentes com o Colegiado Escolar (Conselho Escolar, Conselho de Classe, APMFs...) é garantir uma participação mais efetiva da família/comunidade na escola e viabilizar uma educação voltada para a democratização do saber, meta primordial desta escola. Outro assunto debatido é a implantação do Grêmio Estudantil e alunos representantes de turma para o ano de 2011. A gestão democrática é a essência dessa relação ativa cuja crítica, criatividade e compromisso estimulam o processo de libertação. “A história nos faz, refaz e feita por nós continuamente.” 7.0 MARCO CONCEITUAL - Fundamentação Teórica da Escola A filosofia da Escola Estadual de Educação Popular “Paulo Freire” garantindo os princípios da Educação Nacional, é atingir a meta de uma educação de qualidade, enfatizando técnicas que propiciem o fazer coletivo, permitindo a 219 reflexão crítica e dando condições ao educando de posicionar-se como sujeito do conhecimento. Buscar a partir da realidade dos educandos suas condições de partida e interferir para superar esse momento inicial, garantindo assim uma educação de qualidade voltada para a cidadania. A proposta da escola é garantir a todos um bom ensino, isto é, a apropriação dos conteúdos escolares básicos que tenham ressonância na vida dos educandos, ou seja, a atuação da escola consiste na preparação do educando para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhes um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. Nesse sentido, a concepção educacional dessa escola busca a emancipação social do educando, procurando garantir-lhe direitos e oportunidades de intervirem na sociedade, contribuindo assim para a transformação social. “Educação é um fenômeno próprio dos seres humanos, significa afirmar que ela é, ao mesmo tempo, uma exigência do e para o processo de trabalho, bem como ela própria, um processo de trabalho.” (SAVIANI, 1992, p. 19). Os princípios norteadores da educação estão fundamentados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 e asseguram: I- igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II- liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III- pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV- respeito à liberdade e apreço à tolerância; V- gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VI- valorização do profissional da educação escolar; VII- gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino; VIII- garantia de padrão de qualidade; IX- valorização da experiência extra-escolar; X- vinculação entre educação escolar, o trabalho e as práticas sociais; 220 Fundamentada nesses princípios e nas leis vigentes que regem o Ensino Brasileiro, Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, ECA, DCE, essa escola se posiciona no sentido de educar para a vida, partindo do pressuposto que educação se constrói coletivamente, sendo o crescimento individual ou coletivo resultado da troca e da reflexão sobre as experiências e conhecimentos acumulados por todos e por cada um. Com base nos estudos realizados em Simpósios, Capacitações e nas leis acima citadas essa escola estará redirecionando sua prática no sentido de cumprir com êxito sua missão de promover uma educação transformadora na formação integral de seus educandos, preparando-os para o exercício de sua cidadania, destacando assim a possibilidade de reverter o quadro das desigualdades sociais, através de uma educação de qualidade, com a clareza e transparência necessária à compreensão de todos os envolvidos no processo. Destacamos assim, evidenciando a concepção do homem que temos nos dias de hoje, como um ser natural e social, um agente da natureza com capacidade de transformá-la para atender às suas necessidades. Sua ação é intencional e planejada, produzindo bens materiais e não materiais que são apropriados de diferentes formas pelo homem, conforme (SAVIANI, 1992). “O homem necessita produzir continuamente sua própria existência. Para tanto, em lugar de se adaptar a natureza, ele tem que adaptar a natureza a si, isto é, transformá-la pelo trabalho”. Considerando que o homem constitui-se um ser histórico, faz-se necessário compreendê-lo em suas relações inerentes a natureza humana. O homem é antes de tudo, um ser de vontade, um ser que se pronuncia sobre a realidade, um autor de sua própria história. A sociedade em que esse homem está inserido deve atuar como mediadora do saber e da educação presente no trabalho concreto dos homens, que criam novas possibilidades de cultura e de agir social, a partir das contradições geradas pelo processo de transformação da base econômica. 221 Ainda temos uma sociedade calcada na ideologia do neoliberalismo, heterogênea e fragmentada, marcada por desigualdades de todo o tipo (classe, etnia, gênero, religião, etc.), um terço excluído e fatalmente condenado à marginalidade. Essa crescente fragmentação do social que potencializaram as políticas conservadoras foi por sua vez reforçada pelo excepcional avanço tecnológico e científico e seu impacto sobre o paradigma produtivo contemporâneo. Cabe a escola intervir com uma educação mediadora, para a construção do homem histórico, compromissado com as tarefas do seu tempo, participante da construção de uma nova realidade social, em busca da realização plena. “É o chegar histórico do homem a uma totalidade de capacidade, a uma totalidade de possibilidade de consumo e gozo podendo usufruir bens espirituais e materiais” (GADOTTI, 2007). Em uma sociedade de classe a educação tem uma função política de criar condições necessárias para emancipação das classes trabalhadoras, o que implica no direito de todos participarem efetivamente da condução da sociedade, poder decidir sobre sua vida social, e é ainda o fortalecimento da consciência para intervir de modo criativo, organizado na transformação estrutural da sociedade onde a escola estará presente e exercerá um papel fundamental na formação desse cidadão crítico e responsável, pois educação é o aperfeiçoamento do homem que dela necessita para se constituir e transformar a realidade. Segundo Pinto (1994) a educação é um processo histórico de criação do homem para a sociedade e simultaneamente de modificação da sociedade para benefício do homem. A educação só pode realizar-se através de mediações práticas que se desenvolvem a partir de um projeto educacional, vinculado por sua vez a um projeto histórico-social, onde a instituição escolar é o lugar por excelência desse projeto, no que concerne a sua dimensão educacional. É a instituição escolar que viabiliza que as ações pedagógicas dos educadores se tornem educacionais, na medida em que os impregna das finalidades políticas da cidadania que interessa aos educandos. Se de um lado, a 222 sociedade precisa da ação dos educadores para a concretização dos seus fins, de outro lado os educadores precisam do dimensionamento político do projeto social para que sua ação tenha real significação como mediação do processo humanizador dos educandos (SEVERINO). Então, entender educação numa sociedade historicamente determinada, significa entendê-la como práxis humana, ou seja, prática intencionalizada fecundada pela significação simbólica já fruto do próprio pensamento, que se efetiva como mediação para a construção da cidadania, contribuindo para integração dos homens nessa tríplice universo do trabalho, da sociabilidade e da cultura simbólica. É a partir dessa exigência que se pode compreender a importância da escola para a construção da cidadania, através do direcionamento de sua prática para a transformação social, concluindo que só mesmo um sistema universalizado de ensino estará em condições de enfrentar o desafio da construção da cidadania. O grande desafio histórico é dar condições ao povo brasileiro de se tornar cidadão consciente, (sujeito de direitos), organizados e participativos do processo de construção político-social e cultural. Angel Pino in (Boff) (SEVERINO, ZALVARA e OUTROS 1992, p. 15.25), consideram que “o conceitos de cidadania traduz ao mesmo tempo, um direito e o exercício desse direito. Sem este, aquele é uma mera fórmula”. Portanto a educação como um dos principais instrumentos de formação da cidadania, deve ser entendida como a concretização dos direitos que permitem ao indivíduo, sua inserção na sociedade. E nesse sentido, o papel da escola na formação de valores e na cidadania é vital e fatal para qualquer sociedade. Daí a enorme importância que se deve dar e esse assunto. Já que estamos em ciclo de melhoria da escola básica, esse é assunto que merece atenção detida. Então priorizar uma escola que tenha um compromisso social frente a atual política educacional brasileira, é a meta do ensino ofertado nessa escola, constituindo-se em um esforço permanente na busca de uma educação mais igualitária, justa para todos os cidadãos, independente de suas condições pessoais ou sociais, como pré-requisitos para a ascensão do educando no 223 exercício de sua cidadania, êxito somente alcançado através de um trabalho coletivo entre professores, funcionários, pais, alunos e comunidade. Segundo Cristina Gomes Machado (2002) o processo educativo há de se revelar capaz de sistematizar a tendência à inovação o papel criador do homem, mediante essa sociedade com tantas desigualdades econômicas e culturais. Para isso, é preciso implantar no Sistema Educacional uma pedagogia mediante, a qual, não apenas reforme o ensinamento, mas que também facilite a aprendizagem. A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96, ao propor a formação tecnológica como eixo do currículo assume, segundo KUERGER (2000), a concepção que aponta como a síntese entre o conhecimento geral e o específico, determinando novas formas de selecionar, organizar e tratar metodologicamente os conteúdos. Segundo (LIBÂNEO) a função social da escola numa visão de Pedagogia Progressista, é a divisão de conhecimentos como tarefa primordial, tratando não de conteúdos abstratos, mas vivos, concretos e portanto, indissociáveis das realidades sociais, transmitindo de maneira lógica, coerente e sistemática, os conhecimentos técnico-científicos culturais. A escola assim, é um importante instrumento para situar o cidadão no âmbito da sua atualidade. O processo de transmissão e assimilação dos conhecimentos é indispensável mas não suficiente para compreender a verdadeira função da escola. A educação escolar não pode ser reduzida a pura transmissão de conhecimentos. Os conhecimentos transmitidos devem ser vivos e concretos, e não conhecimentos abstratos autônomos, como se os mesmos tivessem vida própria, como se existissem independentemente das condições histórico-sociais. Nesse sentido a relação ensino/aprendizagem tem caráter intencional, como meios de desenvolvimento do educando utilizando mecanismos que possam garantir que os conteúdos socioculturais sejam assimilados, em garantia do seu desenvolvimento. O educador é um mediador do diálogo do educando com o conhecimento. Assumindo a intervenção, a diretividade do processo revê a diferença entre o seu saber e o do educando, comprometendo-se com a assimetria inicial, 224 caminhando na direção de diminuir gradativamente essa diferença. A intencionalidade no ensino, é ter uma proposta clara do trabalho pedagógico, é propor e não impor, é desafiar o educando para aprender a pensar, elaborar e criar conhecimentos. Gramsci afirma que todos os homens são intelectuais, e o educador um ser político e técnico, e insiste e em afirmar que: “A competência técnica do educador passa pela apropriação da capacidade de dirigir o pedagógico, como sujeito da construção do projeto pedagógico com seus educandos, passa pela apropriação da capacidade de planejar, selecionar atividades significativas, sedutoras, interessantes e variadas teoricamente fundamentadas, para atingir objetivos claramente definidos e especificados, proporcionando conhecimento do educando através de estratégias de intervenção pedagógica”. O educador precisa resgatar a confiança dos educandos em sua própria capacidade para aprender, propiciar a eles a oportunidade de aprender com prazer e êxito, sendo esta tarefa técnica-política fundamental do educador. Paulo Freire referenda essa idéia, ao afirma que: “O cumprimento da tarefa do educador progressista implica o desenvolvimento do mundo opressor através dos ensinos dos conteúdos, implica ainda de um lado, a luta incansável pela escola pública, de outro, o esforço para ocupar o seu espaço no sentido de fazê-la melhor. Esta é uma luta que exige claridade política e competência cientifica” (...) “fazer educação popular na escola pública requer o reconhecimento dos limites que por sua vez são políticos e históricos” (...) “ir superando esses limites é a tarefa prioritária do educador”. Enfim, é preciso colocar em prática uma relação pedagógica democrática aliada ao rigor cientifico, à seriedade, ao compromisso do trabalho e a uma didática capaz de resgatar a condição do educando como sujeito do conhecimento como afirma Paulo Freire. O sujeito da construção do conhecimento é aquele que apropria-se da capacidade de desvelar as contradições da realidade, de colocar-se sempre numa postura questionadora diante do mundo e , com os outros, atuar como agente histórico. No âmbito pessoal, é um sujeito capaz de aprender pensando, 225 formulando hipóteses, considerando as contradições entre as próprias hipóteses construídas, superando conflitos cognitivos e avançando no sentido de novas reestruturações. Conceituando a avaliação dentro do processo ensino-aprendizagem, a mesma deve ocorrer como um processo contínuo com função diagnóstica, tornando possível detectar falhas que possam aderir do desenvolvimento da aprendizagem e subsidiar as tomadas de decisões futuras, dentro do processo ensino- aprendizagem. Numa pedagogia que tem como valor básico a cidadania consciente a importância da avaliação está aí, intrinsecamente ligada a um planejamento participativo, onde através dela os objetivos estratégias e conteúdos são revistos. A avaliação propicia elementos ao educando e ao educador para que revejam também seus avanços, ampliando sua consciência. Numa abrangência maior ela fornece elementos para que a própria comunidade envolvida, possa tornar-se mais consciente e competente em relação ao seu papel de agente de mudanças. A avaliação como um processo de reflexão, visa compreensão de fenômenos e não apenas valoração de resultados - bom ou mal, certo ou errado, aprovado ou reprovado, ela assume então um caráter de pesquisa, de esforço científico, de construção do conhecimento e também de formação de construtores do conhecimento. Nesse contexto a avaliação pretende entre outras coisas, valorizar o conhecimento e as habilidades que os educandos adquiriram e desenvolveram no programa acadêmico de que participam. Por isso temos que ver a avaliação como um aspecto integral do processo ensino-aprendizagem e como parte essencial das tarefas que o docente executa em sua prática. 7.1 Concepção de Gestão Democrática e Administração Colegiada A gestão democrática da escola está intimamente associada à qualidade ético-política da educação que defende a formação do cidadão, na perspectiva de sua emancipação intelectual, cultural e moral. 226 Discutir a gestão democrática da escola significa enfrentar a estrutura autoritária da sociedade brasileira, em termos de ausências e princípios da igualdade e da justiça, que naturalizam as desigualdades econômicas e sociais, reforçam a privatização do que é público, reduzem os direitos dos trabalhadores e privilegiam o mercado. Os fundamentos da gestão democrática, liberdade, autonomia, igualdade, qualidade, fortalece e instrumentaliza pais, alunos, funcionários e professores para consolidar a cultura pública e especificamente o direito a educação como direito humano. Neste momento, a Diretora da escola tem um papel relevante na condução da autonomia responsável que experimenta saberes e transgride o velho estilo de gestão, criando coletivamente formas de garantir direitos, de humanizar relações, os tempos e os espaços pedagógicos, porque todo lugar de criança e adolescente tem que ser humano, sem segregação, onde o ato de educar seja um fazer ético, solidário, esculpido com a dignidade do ser humano e do mundo. Uma sociedade que não reconhece direitos não se humaniza. Torna-se, assim, necessária a organização de espaços coletivos de reflexão e análises contínuas das práticas pedagógicas, sociais e escolares, para que todos os educadores, gestores e professores participem de maneira democrática e construtiva. A concepção de gestão incorporando os princípios democráticos constitui um aprendizado que se processa no nível das instituições sociais, e que se expressa por suas práticas políticas e culturais. Esse processo de gestão democrática constrói-se no interior da escola, na correlação de forças entre o instituído politicamente e o construído democraticamente. A própria LDB deixa margem a várias modalidades de escolha de dirigentes, cabendo a cada sistema ou escola conceber a sua própria modalidade. Afirma Severino (1992), que a escola é o lugar, a instância social que serve de base mediadora e articuladora de outros dois projetos que envolvem o agir 227 humano: de um lado, o Projeto Político da Sociedade e, de outro lado, o Projeto Pessoal dos sujeitos envolvidos na educação. Os conceitos de democracia e prática democrática precisam ser compreendidos e interpretados no interior da escola, e a partir daí, estabelecer um processo de gestão que fundamentalmente esteja vinculado aos objetivos pedagógicos, políticos e culturais da escola. “Se é possível obter água cavando o chão, se é possível enfeitar a casa, se é possível crer desta ou daquela forma, se é possível nos defender do frio e do calor, se é possível desviar leito dos rios, fazer barragens, se é possível mudar o mundo que não fizemos, o da natureza, por que não mudaram o mundo que fazemos, o da cultura, o da história, o da política?” (FREIRE, 2.000:98). A cultura democrática cria-se com prática democrática. Os princípios e as regras dessa prática, embora ligados à natureza universal dos valores democráticos tem uma especificidade intrínseca à natureza da escola e ao Projeto Pedagógico de cada escola ou sistema escolar. A escola não é democrática só por sua prática administrativa, ela torna-se democrática por toda sua ação pedagógica e essencialmente educativa. Por isso a escola precisa ser concebida não mais como organização burocrática, mais como instância de articulação de Projetos Pedagógicos partilhados pela direção, professores e comunidade. Nesse contexto, instâncias de decisões coletivas que fazem parte da estrutura de funcionamento da escola - como os Colegiados, Conselhos de Classe, Assembléias de Pais e Mestres e as reuniões pedagógicas de professores ou pais, são fundamentais e merecem toda a atenção do diretor da unidade, que deverá pautar seu trabalho pelas discussões e pelos encaminhamentos definidos por elas. Considera-se que seja o Conselho de Classe, capaz de dinamizar o coletivo escolar pela via da gestão do processo de ensino, foco central do processo de escolarização. Entretanto, para que isso aconteça é fundamental que tanto a equipe pedagógica quanto os professores da escola estejam atentos aos rumos dados às relações sociais presentes na organização de todo o trabalho escolar. 228 Dependendo do tipo de relação pedagógica estabelecida entre os sujeitos e sua prática, assim como do conhecimento que se produz nessa relação, os rumos dessa instância seguirão os caminhos da construção crítica e democrática da escola ou ao contrário, permanecerão reproduzindo uma cultura escolar apegada ao autoritarismo, à seletividade e à exclusão social. A proposta de administração colegiada se insere no contexto de uma concepção democrática de administração. Seu pressuposto fundamental, é que a estratégia para a promoção de uma forma qualitativa de tomada de decisões, no interior da escola e conseqüentemente, na sociedade, é o da participação coresponsável. A participação favorece a experiência coletiva ao efetivar a socialização de decisões e a divisão de responsabilidades. Ela afasta o perigo das soluções centralizadas e dogmáticas desprovidas de compromisso com os reais interesses da comunidade escolar, efetivando-se como processo de co-gestão. Desta maneira, a administração colegiada se constitui numa mediação política necessária à formação e à prática pedagógica da escola, de modo a atender aos legítimos interesses das camadas populares. A administração colegiada, ao se efetivar como prática democrática de decisões, exige uma mudança no papel desempenhado pelo diretor de escola. O diretor, antes de ser um administrador, deve ser um educador. Mais ainda, um educador por excelência, como diz (MAKARENKO), “Dificilmente pode surgir uma boa coletividade e uma situação criativa para o trabalho dos educadores, se à frente da escola está um homem que só sabe ordenar e mandar. O diretor é o principal educador da coletividade, o educador mais experimentado, com maior autoridade.” Os princípios fundamentais desta escola estarão pautados nessa concepção de gestão democrática e instâncias colegiadas, como base na construção do processo educativo organizado de forma à desenvolver um trabalho em equipe, tendo o Diretor como mediador e articulador das ações, cujo objetivo é saber se organizar, para explicitarem as diferenças entre as posturas, clarearem os conflitos e articularem as ações, de modo que não se perca de vista à riqueza de divergências, para a proposição de projetos que valorizem a concepção de uma educação transformadora. 229 A importância da participação coletiva na avaliação da Proposta Pedagógica, consiste na necessidade de espaços para a reflexão, a reelaboração de seus rumos, avanços em propostas, ações e perspectivas, promovendo assim, a contínua melhoria do trabalho e das condições ambientais e pedagógicas, de modo a criar experiências educacionais estimulantes e mobilizadoras, que oportunizem à comunidade escolar o aprendizado e a promoção humana. A escola avaliando-se e percebendo suas necessidades, pode tomar iniciativas para superá-las. Quando isso não acontece, quando a escola não se coloca a tarefa de analisar as próprias práticas, vai sofrer as conseqüências de uma avaliação externa, aumentando o seu grau de fragilidade e dependência. 7.2 Formação Continuada, Organização da Hora Atividade, Reunião Pedagógica e Conselho de Classe A Formação Continuada dos Profissionais da Educação tornou-se uma meta das políticas educacionais nos últimos anos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, ao tratar dos “Profissionais da Educação” estabelece no art. 67 que: Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: (...) II- aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; (...) IVprogressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; V- período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho... A Formação Continuada dos Profissionais da Educação Pública deverá ser garantida pela Secretaria Estadual da Educação, cuja atuação incluíra a coordenação, o financiamento e a manutenção dos programas como ação permanente e a busca de parceria com universidades e instituições de Ensino Superior. 230 Sendo uma meta de Políticas Educacionais, reforçada no Plano Nacional de Educação, garantido pela Secretaria de Educação, como já vem sendo realizado, os profissionais já estão participando de vários “Programas de Formação Continuada dos Professores e Profissionais da Educação”. A Secretaria de Estado da Educação do Amapá, ao se debruçar no Projeto Político-Pedagógico, estabelece como uma de suas metas a “Valorização dos Profissionais da Educação” e, neste propósito, um “Programa de Formação Continuada dos Professores e Profissionais da Educação”. Nas últimas décadas os Profissionais da Educação se depararam com transformações gigantescas e muito rápidas, não estando suficientemente preparados para lidar com tais mudanças, o mundo mudou, o avanço tecnológico, transformou com muita rapidez o processo de informação. Tais mudanças afetaram e muito a vida destes profissionais. Surge a cada dia a necessidade de aprimoramento teórico, o acolhimento destas novas informações com o único objetivo: o êxito na prática docente e também na democratização do saber. Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se necessário que a escola reformule o seu tempo, estabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores, fortalecendo a escola como instância de educação continuada. Considerando a importância da formação do professor na fundamentação de sua prática pedagógica, evidencia-se também a organização da hora-atividade como espaço de reflexão e crescimento do profissional. A Lei Estadual nº. 0949, de 23/12/2005, publicado no diário oficial do Estado nº 3668 em 23 de dezembro de 2005. A hora atividade é o tempo reservado ao professor em exercício de docência, para estudos, avaliação e planejamento. A organização da hora atividade deverá garantir carga horária que permita ao professor a realização de atividades pedagógicas relacionadas ao exercício da docência, devendo favorecer o trabalho coletivo dos professores, priorizando as experiências compartilhadas, tendo em vista o entrosamento dos professores do mesmo ciclo, a formação de grupos de professores para o 231 planejamento e desenvolvimento de ações necessárias ao enfrentamento de problemáticas específicas diagnosticadas no interior da escola. Envolve também estudos e reflexões a respeito de atividades que caracterizam a elaboração e implementação de projetos e ações, que visem a melhoria da qualidade de ensino, propostos por professores, direção e equipe pedagógica, bem como o atendimento de alunos, pais e outros assuntos da comunidade escolar. Deverá permitir a realização de atividades pedagógicas individuais, sem serem separadas do exercício da docência. Nesse sentido a escola encaminhará a hora atividade como o momento de questionar o conteúdo e especificar suas múltiplas dimensões e faces à serem exploradas, garantindo a interdisciplinaridade através de questões desafiadoras, que conduzem ao saber elaborado e contribui na formação de cidadãos críticos e atuantes. Dessa forma, estabelecer com responsabilidade os espaços de discussões coletivas dentro do espaço escolar, oportuniza o crescimento e o enfrentamento de tomadas de decisões coerentes com o objetivo de traçar metas, trilhando caminhos que enriquecem e fortalecem as relações dentro da escola. Dentro de uma proposta pedagógica transformadora, é imprescindível haver na escola um espaço reservado às trocas, ao repensar das práticas. VASCONCELOS (2002, p.150), menciona que é importante ter espaço de reflexão sobre o planejamento durante o ano: o que está dando certo, o que está tendo dificuldade, que mudanças podem ser feitas, etc. Este espaço pode ser tanto a reunião pedagógica semanal quanto os momentos de planejamento (contato pessoal - ou em grupos - do professor com a Coordenação Pedagógica). Muitas vezes as reuniões pedagógicas nas escolas são utilizadas para recados e orientações burocráticas. Percebemos a necessidade de resgatar os objetivos das reuniões dentro de uma visão dialética e reflexiva, na qual a equipe pedagógica e o quadro de professores e funcionários tenham um trabalho integrado e não hierarquizado, tendo como principal meta a formação continuada dos professores e em conseqüência qualidade na pratica educativa. 232 Outro momento de reflexão privilegiado no ambiente escolar é o Conselho de Classe, espaço prioritário da discussão pedagógica, composto principalmente pelos discentes, docentes e pela equipe pedagógica que trabalham com determinadas turmas da mesma faixa etária ou mesma escolaridade. O papel político dos conselhos de classe era o de reforçar e de legitimar os resultados dos alunos, como veredictos finais, acabados fornecidos pelo professor e registrado em seu diário. Nesses Conselhos os professores não trocavam suas ansiedades e dificuldades com o trabalho docente, sem discutir as diferentes posições entre si, ocorrendo assim uma relação individualizada e de isolamento profissional. Assim sendo o objetivo fundamental da instância, que é propiciar a articulação coletiva dos profissionais num processo de análise compartilhada, que consideram a globalidade ótica dos professores, perde sua importância e riqueza no trato das questões pedagógicas. Nesse sentido outra característica fundamental do Conselho de Classe é configurar-se como espaço interdisciplinar de estudo e tomadas de decisão sobre o trabalho pedagógico desenvolvido na escola e, nesse sentido, é um órgão deliberativo sobre: · objetivos de ensino a serem alcançados; · uso de metodologias e estratégias de ensino; · critérios de seleção de conteúdos curriculares; · projetos coletivos de ensino e atividades; · formas, critérios e instrumentos de avaliação utilizados para o conhecimento do aluno; · formas de acompanhamento dos alunos em seu percurso nas etapas; · critérios para a apreciação do desempenho dos alunos ao final das etapas; · elaboração de fichas de acompanhamento do aluno para o registro de sua vida escolar; · formas de relacionamento com a família; · proposta curriculares alternativas para alunos com dificuldades específicas; 233 · adaptações curriculares para alunos com necessidades educacionais específicas; · propostas de organização dos estudos complementares; Um novo Conselho só é possível ser efetivado quando os sujeitos que o integram apoderam-se, conscientemente dele, colocando-o a serviço de seus propósitos, articulando-o com o Projeto Político Pedagógico comum. Esses momentos precisam ser urgentemente repensados pelas escolas como espaços educativos dos professores na construção de uma proposta para a ampliação de sua expectativa. 7.3 Organização do Tempo Escolar – Ensino em Etapas A etapa incorpora a concepção de formação global do sujeito, partindo da diversidade e dos ritmos diferenciados, em que encontra a situação de desenvolvimento e aprendizagem do educando no processo educativo. Portanto, a etapa, representa um tempo contínuo estruturado com maior profundidade, na medida em que a aprendizagem é encarada como um agrupamento proposto pela fase do educando em sua formação. Os educadores trabalham coletivamente nas etapas, sendo que a responsabilidade pela aprendizagem é sempre compartilhada por um grupo de docentes e não mais de modo individual. Ensinar é dispor de um tempo definido para atingir objetivos, com isso a introdução das etapas não é um fim em si, mas um meio potencial de tornar a escola mais eficaz. As etapas procuram contrariar a lógica da escola seriada e sua avaliação. Não significa eliminar a avaliação formal, nem a informal, apenas redefine seu papel com ações complementares. Na recuperação de estudos o professor dispõe de recursos para a recuperação paralela, como subsídios para evitar a defasagem dos conteúdos na vida escolar do educando e garantir-lhe a apropriação do saber. Esse processo será desenvolvido à medida em que forem constatadas dificuldades ou falhas na aprendizagem, mediante o acompanhamento contínuo do aluno, oportunizando-lhe reforço para atingir os objetivos propostos. O ensino 234 em etapas rompe com a seriação e adota uma nova articulação para o tempo escolar baseado no desenvolvimento do aluno. O Ensino Fundamental organizado em etapas nessa escola, corresponde a 4 anos, divididos em etapas, 1º, 2º, 3º e 4º etapas. Ou seja, a primeira etapa corresponde a 1ª e 2ª séries, a segunda etapa corresponde a 3ª e 4ª séries, a terceira etapa corresponde a 5ª e 6ª séries e a quarta corresponde a 7ª e 8ª séries. Assim, o educando tem em cada etapa, um espaço de tempo de 4 anos para desenvolver os conhecimentos trabalhados em sala de aula, respeitando o seu ritmo de aprendizagem. 7.4 Organização Curricular Utilizada A organização curricular desta escola, se encontra distribuída em forma de disciplinas que englobam, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96: Língua Portuguesa Matemática Ciências História Geografia Arte Projetos Língua Estrangeira Educação Física Os conteúdos são trabalhados em sala de aula, através de atividades diversas, que serão selecionadas de forma a atender às peculiaridades do educando, obedecendo a ordem da etapa e com objetivo de preservar suas experiências, valores, anseios, próprios de sua realidade sócio-cultural, 235 conduzindo o saber popular para a superação crítica dessa realidade, garantindo o acesso ao conhecimento mais elaborado, onde os valores devem ser trabalhados para a construção de uma sociedade digna de melhor qualidade de vida, e uma educação de excelência. 7.5 Concepção Curricular – O papel do Currículo na Formação Humana do Aluno, os limites e as possibilidades da Prática Docente A discussão sobre currículo implica em uma discussão sobre as relações de poder na sociedade. O currículo é o centro da Educação, é a essência em torno da qual se constroem as práticas pedagógicas. E como tal, é parte da estratégia de legitimação de uma classe sobre outra, de um gênero sobre outro e de uma etnia sobre outra, portanto, esta seleção não se faz inocentemente e sem conflitos. Segundo Libâneo, é consensual que na base dos sistemas de ensino e das escolas está a relação direta professor-aluno para a qual devem convergir todas as ações. Pensar o currículo é pensar a escola e ousadia de lutar. Em tempos de mudanças, onde mundialmente se questiona o atual modelo de sociedade – o neoliberalismo - há muito que se reorganizar. Reorganizar no sentido de garantir as condições dignas de vida, melhorar as condições de trabalho, de superar as diferenças sociais, de democratizar a sociedade e nesta as relações de trabalho para concretizar um outro mundo possível. Não há uma luta no nível da individualidade, de ações isoladas. Só é possível construir essa possibilidade com a definição de um projeto educacional que contemple as necessidades dos trabalhadores e conjuntamente, rompamos as estruturas e o pensamento hoje estabelecidos. Assim o currículo pode ser descrito como um projeto educacional planejado e desenvolvido a partir de uma seleção da cultura e das experiências das quais deseja-se que as novas gerações participem, a fim de socializá-las e capacitá-las para exercer sua cidadania com responsabilidade e democracia. 236 Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes na sociedade, uma das bases concretas em que praticam os preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que visem à superação do preconceito e da discriminação. A contribuição da escola na construção da democracia é a de promover princípios éticos de liberdade, dignidade, respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade e diálogo no cotidiano. Encontrar formas de cumprir o princípio constitucional de igualdade exige sensibilidade para a questão da diversidade cultural e ações decididas em relação aos problemas gerados pela injustiça social. A construção curricular coletiva, requer o compromisso ético de organização do trabalho em sala de aula, por intermédio do debate, da seleção de conteúdos que são considerados necessários à essas novas gerações, ordenado em campo de saberes. Os saberes escolares são uma seleção de cultura expressa neste currículo que define o que deve ser ensinado, define as metodologias, estratégias e avaliação. Diante das dificuldades que ainda se encontra para selecionar e organizar conteúdos escolares diferentes dos modelos tradicionais, a escola através do Projeto Político Pedagógico traça suas metas discutidas colegiadamente, e busca a ousadia da ressignificação dos conteúdos a serem trabalhados com seus educandos, buscando através de um estudo profundo do contexto sócio-cultural de sua clientela levantar dados que permitam a relevância na escolha dos conteúdos à serem desenvolvidos durante o ano letivo. Contribuir para essa formação, e buscar conhecimentos coletivamente, é garantir subsídios para um trabalho interdisciplinar e contextualizado. “A interdisciplinaridade é atualmente uma palavra-chave para a organização escolar. O que se busca com isso é, de modo geral, o estabelecimento de uma intercomunicação efetiva entre as disciplinas, por meio do enriquecimento entre elas”.(Machado) Contextualizar portanto, é uma estratégia fundamental para a construção de significações, é garantir o entrelaçamento dos conteúdos a um processo mais 237 amplo e significativo, que permite a apropriação do conhecimento relacionados a herança cultural , científica e espiritual de uma nação, grupo, ou uma comunidade. É portanto, quase inesgotável a quantidade de contextos que podem ser utilizados para ajudar os educandos a dar significado ao conhecimento . Enfatizando ainda o respeito na seleção de conteúdos, a escola estará contribuindo para uma formação consciente de seus educandos, onde a função do professor é o de articulador dos conteúdos/métodos/avaliação e mediador das relações professor/aluno. A seleção de conteúdos visa também relações entre a Educação Fundamental com a “Vida Cidadã”, articulando a abordagem entre vários dos seus aspectos: a saúde, a sexualidade, a vida familiar e social, o meio ambiente, o trabalho, a ciência e a tecnologia, a cultura e as linguagens, desenvolvendo ações solidárias e autônomas na constituição de conhecimentos e valores indispensáveis à vida cidadã. A Educação Fiscal também terá enfoque na seleção de conteúdos. É importante ressaltar também o trabalho efetivo no atendimento aos alunos provenientes da zona rural, valorizando a cultura do povo do campo, criando vínculo com a comunidade, gerando um sentimento de pertença ao lugar e ao grupo social, possibilitando assim a criação de uma identidade sócio-cultural que leve o educando a compreender o mundo e transformá-lo. Sendo assim, é imprescindível que os aspectos da realidade constituam apenas o ponto de partida, pois o ponto de chegada depende da inserção de conteúdos devidamente selecionados, que junto a uma seleção de outros materiais, seja de livros, jornais, documentários etc, que possam auxiliar os educandos no exercício na reflexão e produção de conhecimentos, permitindo assim, a compreensão da diversidade social, étnica, racial e sexual que compõem a sociedade brasileira e dos aspectos culturais diversos. Também de acordo com a Deliberação 04/06 que institui Normas Complementares às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, esses temas serão abordados na organização dos conteúdos enfocando que a Educação das Relações Étnico-Raciais, contemple divulgar e produzir 238 conhecimentos, atitudes, posturas e valores, preparando os cidadãos para uma vida de fraternidade e partilha entre todos contradizendo assim o preconceito e a discriminação. Destaca-se também o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, cujo objetivo é o reconhecimento e a valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como o reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, européias e asiáticas. Nesse sentido, as interações cotidianas que ocorrem nas salas de aula, tanto no conjunto de estudantes entre si, como com o corpo docente, assim como recursos disponíveis e/ou utilizados, vão criando todo um conjunto de rituais, rotinas e linguagens e contribuem decisivamente para a definição e legitimação do que é considerado saber autêntico e aceitável. Pensar o currículo é pensar a vida, a vida é ousadia de lutar, a luta é um instrumento coletivo, e a escola é o local da organização da luta para a vida. Construir um currículo exige uma compreensão de totalidade e profundidade sobre a função social da escola, revendo sua forma de organização e de gestão. Assim, a escola fundamentará seu trabalho coletivo, no sentido de preparar os educandos, para aceitar responsabilidades, tomar decisões morais e políticas, que precisam estar fundamentadas em juízos pautados na razão, ser fruto de processos de reflexão crítica nos quais sejam considerado o maior número possível de informações e perspectivas, ou seja, o ensino voltado para a formação e integração do educando, como membro solidário e democrático para uma sociedade similar. Uma meta desse alcance requer, conseqüentemente, que recursos e experiências de ensino e aprendizagem que dia-a-dia caracterizam a vida nas salas de aula, promovam a construção dos conhecimentos, habilidades, atitudes, valores, normas necessárias para ser bom cidadão e cidadã. Dessa forma, a finalidade dessa escola é a constante busca de aprimoramento de sua prática educativa no dia-a-dia, buscando colegiadamente definir suas ações, utilizando todos os meios e recursos para efetivar uma 239 educação de qualidade para todos. Realizando a organização de suas ações, pautada no princípio da qualidade, desenvolvendo e definindo coletivamente os grupos de formação continuada, voltados para o enriquecimento dos trabalhos efetivados nessa instituição educativa. A formação do professor é preferencialmente vista como algo prático, pois fundamentar a prática através da teoria deixa claro a importância de uma formação teórica de qualidade para o educador, é a garantia de uma prática eficiente para o educando. Investindo na formação teórica do educador a escola estará contribuindo para que a distância entre a teoria/prática, seja minimizada através da intervenção segura do educador com instrumentalização necessária à sua prática e à utilização de recursos didático-pedagógicos adequados como facilitadores da aprendizagem. “Educação de qualidade, fundamenta-se no envolvimento de toda equipe escolar, em função de atingir metas, empreender desafios e conquistar coletivamente os frutos dessa relação, onde a fundamentação dessa prática consiste em realizar uma luta clara, com competência científica e sobretudo aliada ao amor”. “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar”.(Paulo Freire). 7.6 Avaliação, Sistemática de Avaliação e Ações Relativas à Recuperação Paralela O compromisso com uma escola democrática, articulada a um projeto de emancipação social, necessita ressignificar a prática de avaliação desenvolvida no cotidiano escolar. Numa concepção pedagógica que tem como meta a construção da autonomia e da solidariedade, a avaliação passa a ser uma referência para o próprio adolescente, no sentido de superação das dificuldades que venha encontrando. 240 O papel da escola é que possa colaborar na formação do cidadão (objetivo de que participam outras instâncias sociais), pela mediação do conhecimento científico, estético, filosófico (especificidade). O conhecimento não tem sentido em si mesmo, deve ajudar a compreender o mundo, e a nele intervir. Assim sendo, entendemos que a principal finalidade da avaliação no processo escolar é ajudar a garantir a formação integral do educando pela mediação da efetiva construção do conhecimento, aprendizagem por parte de todos os alunos. Nesse sentido, entendemos que o educador tem um papel fundamental neste processo de mudanças, como mediador do processo ensino/aprendizagem e compromisso com a aprendizagem efetiva de todos os educandos. Ser educador não é ser mero transmissor de informações, é garantir que o educando aprenda, é ser capaz de favorecer as condições para a efetiva aprendizagem por parte de todos os educandos. Portanto, é fundamental atender o educando em suas dificuldades. O trabalho pedagógico precisa ser reconfigurado, pois a preocupação não é que o educando “passe de ano” ou “ tire boa nota”, mas que aprenda. Aprendizagem não se refere apenas à retenção de determinados conteúdos para o momento em que serão avaliados, mas representa a apreensão de conhecimentos emancipatórios que ampliem a possibilidade de compreender, interpretar, analisar, atuar, enfim interagir crítica e produtivamente com o mundo no qual o sujeito vive. Então a avaliação só terá sentido, vista como processo diagnóstico, contínuo, permanente e cumulativo, obedecendo à seqüência do ensino e da aprendizagem, bem como a orientação do currículo. Diante disso, coloca-se a necessidade dessa escola em se posicionar frente a esse contexto de avaliação e se desvincular de práticas presas em programas e conteúdos de livros didáticos, ainda existentes no cotidiano escolar, que dificultam a relação professor/aluno e impossibilita muitas vezes uma tomada de decisão coletiva nos Conselhos de Classe. 241 Porém numa visão de reflexão contínua, processo adotado por esta escola, a prática educativa já apresenta progressos e avanços no sistema de avaliar e registrar o desempenho dos alunos. Busca-se um caminho de avaliação/reflexão da prática, através de uma inter-relação permanente entre professor-alunoconhecimentos. Através de uma investigação contínua da realidade, onde coletase dados e informações sobre o desenvolvimento dos alunos, é possível registrar suas necessidades e possibilidades, sendo que o papel do educador será intervir na aprendizagem, redirecionando sua prática quando necessário, buscando assim uma avaliação contínua, cumulativa e diagnóstica que permitirá ao educador obter dados relevantes do educando e da realidade que o integra. Nesse sentido os procedimentos avaliativos do estabelecimento serão organizados, através de avaliações orais e escritas, atividades individuais ou em grupos, relatórios, entrevistas, apresentações de trabalhos, debates, pesquisas, contando com a utilização de outros recursos sempre que necessário. Os resultados das avaliações deverão ser registrados em diários de classe prevalecendo os aspectos cognitivos e informativos que acompanham o desenvolvimento do educando. Nelas estarão esclarecidos todos os conhecimentos que o aluno adquire ano a ano. Os diários serão preenchidos bimestralmente. O exame classificatório será oferecido pela escola conforme préestabelece a LDB. O ingresso do aluno no estabelecimento por Classificação, terá controle de freqüência, a partir da data efetiva de sua matrícula. A sistemática de avaliação adotada por nossa escola é processual, contínua, participativa, diagnóstica e investigativa; realizada através da observação e registro do desempenho do aluno, visando o constante redimensionamento da ação pedagógica educativa, nesta perspectiva de avaliação constante diagnóstica, organiza-se as próximas ações do estudante, da turma, e mesmo da escola no sentido de avançar no desenvolvimento do processo ensino aprendizagem, e conseqüentemente no avanço do conhecimento e da formação do educando. 242 Sendo assim, a avaliação adotada pela escola baseia-se nos seguintes aspectos: 1. COGNITIVO: Que envolvem o pensamento lógico, criticidade e a criatividade do aluno; 2. FORMATIVO: Que envolvem a participação, sociabilidade e responsabilidade do educando na sala de aula e nas atividades propostas. Obs.: *PENSAMENTO LÓGICO: capacidade de compreensão, coesão e coerência na construção e na evolução do processo ensino aprendizagem; * CRITICIDADE: desenvolvimento do educando e suspensão das análises críticas do senso comum para uma análise contextualizada, buscando o porquê das coisas criticamente; * CRIATIVIDADE: demonstra as diferentes linguagens do educando nas expressões escrita, oral e corporal por meio do movimento, externando evolução e construção do conhecimento; * PARTICIPAÇÃO: compete os interesses e o envolvimento nas várias atividades desenvolvidas pela comunidade escolar; * SOCIABILIDADE: compreende o relacionamento, afetividade, cooperação, responsabilidade com os colegas, educadores e demais funcionários da escola; * RESPONSABILIDADE: interesse e cumprimento das atividades propostas pela comunidade escolar. No acompanhamento do desenvolvimento do aluno em meio ao processo ensino aprendizagem, visando identificar os avanços alcançados e às dificuldades apresentadas, na busca de um redimensionamento da ação pedagógica a escola adota as seguintes simbologias; AO1 Atingiu os Objetivos 10,0 AO2 Atingiu os Objetivos 9,0 A03 Atingiu os Objetivos 8,0 S1 Satisfatório 7,0 S2 Satisfatório 6,0 243 S3 Satisfatório 5,0 NS1 Não Satisfatório 4,0 NS2 Não Satisfatório 3,0 NS3 Não Satisfatório 2,0 AD Apresenta Dificuldades 1,0 NF Não Freqüenta - A escola até o ano de 2011, adotava apenas o sistema de conceito como método de avaliação, obedecendo ao seguinte quadro: AO Atingiu os objetivos 7,6 a 10,0 S Satisfatório 5,1 a 7,5 NS Não Satisfatório 1,1 a 5,0 NF Não Freqüenta Sem freqüência No entanto, a escola sente a necessidade de adotar o sistema de avaliação utilizado nas demais escolas do Estado, onde as notas são atribuídas de acordo com uma escala de zero (0,0) a dez (10,0) conforme o rendimento bimestral do educando, isso se faz necessário na intenção de facilitar a transferência ou remoção de alunos deste estabelecimento de ensino. O processo de recuperação será ofertado preferencialmente no contra-turno e quando necessário, individualmente, de forma contínua e progressiva durante o período letivo, visando o aperfeiçoamento dos conteúdos defasados e garantia da apreensão básica dos mesmos. A recuperação é um dos aspectos da aprendizagem no seu desenvolvimento contínuo, pela qual o aluno com aproveitamento insuficiente, dispõe de condições que possibilitam a apreensão de conteúdos básicos. Os conteúdos serão ministrados com a utilização de metodologias, técnicas e estratégias adequadas às dificuldades de aprendizagem do educando, que deverão ser efetuados através de: · estudo dirigido; 244 · pesquisas; · atividades individuais e em grupos; · avaliação oral, escrita e dramatizada; · O aluno com aproveitamento insuficiente terá a sua disposição, formas de recuperação que lhe garantam o domínio dos conteúdos defasados e a devida orientação e encaminhamento, quando o caso de insuficiência no aprendizado, não apresentar progressos durante a recuperação e no desenvolvimento de atividades diárias em sala de aula. Já a reclassificação é o processo pelo qual a escola avalia o grau de desenvolvimento, experiência do aluno matriculado, levando em conta as normas curriculares gerais, a fim de encaminhá-lo ao período de estudo compatível com sua experiência e desempenho, independentemente do que registra o seu histórico escolar. No entanto ficam vedadas a classificação por etapa, ciclo, fase ou período inferior a anteriormente cursada. Com base numa avaliação diagnóstica, que evidencia os aspectos qualitativos da aprendizagem realizada cooperativamente, e que visa determinar até que nível os objetivos ou programação curriculares, previamente estabelecidos foram ou deixaram de ser alcançados pelos educandos, o educador estabelece parâmetros para avançar ou retomar os conteúdos de forma a garantir a qualidade do ensino/aprendizagem. Dessa forma o educador encaminhará sua prática, de maneira que possa transmitir de forma adequada o conhecimento aqueles educandos com dificuldades, traçando metas de recuperação paralela, individual, ou através do contra turno, onde estabelecerá a ação conforme a necessidade apresentada pelo educando. Se necessário o educador deverá utilizar métodos, técnicas, redirecionando sua prática para subsidiar as atividades desenvolvidas pelo educando, garantindo a apreensão dos conteúdos que o mesmo apresenta em defasagem. 8.0 MARCO OPERACIONAL 245 8.1 Linhas de Ação da Escola Objetivos, Metas e Ações – Administrativas e Pedagógicas; A Escola Estadual de Educação Popular “PROFESSOR PAULO FREIRE” procura manter o compromisso social frente a atual política educacional brasileira, constituindo-se em um esforço permanente na busca de uma educação mais igualitária justa para todos os discentes, independentemente de suas condições pessoais ou sociais, como pré-requisitos para melhor exercer sua cidadania. Este projeto viabiliza suas finalidades para atingir especificamente essa realidade, contanto com a participação coletiva dos funcionários, educadores, educandos, pais e comunidade. Estabelecer metas e ações condizentes ao crescimento profissional e educacional do estabelecimento, é prioridade na caminhada coletiva dos profissionais envolvidos na educação escolar dessa escola. Nesse sentido a escola estará engajando um trabalho voltado para a valorização do profissional, oferecendo condições de formação continuada, cujo objetivo principal é instrumentalizar o profissional para o desenvolvimento de suas funções, dando-lhe subsídios necessários para o enfrentamento das questões pertinentes à educação. Dessa forma, a linha desse marco explicitará o trabalho que será desenvolvido neste estabelecimento de ensino, visando sempre a garantia de uma educação de qualidade, voltada para a formação de cidadãos críticos e conscientes. 8.2 Hora Atividade, Reunião Pedagógica, Conselho de Classe A carga horária será organizada de acordo com estatuto do magistério, art. 18. Evidencia-se também que a disponibilidade dos horários não favorece na horaatividade, o encontro entre professores da mesma etapa, e sim de etapas diferentes ou individualmente, sendo assim o trabalho desenvolvido pelo professor na hora atividade conta com o apoio da equipe pedagógica do estabelecimento, 246 contribuindo para o entrosamento entre os professores, favorecendo a troca de experiências que enriquecem o trabalho em sala de aula. A escola contará com reuniões por áreas afinas no inicio de todos os bimestres, sendo que estas ocorrerão no contra-turno. As Reuniões Pedagógicas, do Conselho de Classe, APMF‟s, para esclarecimentos, tomadas de decisões, possíveis mudanças e redirecionamento da prática entre outros, serão efetuadas em horário e dias extras ao calendário escolar, visando o cumprimento dos 180 dias letivos previstos em lei. A escola oferta também, a recuperação em todas as etapas de ensino, que será efetuada de forma paralela, contínua e progressiva, durante o período letivo visando a melhoria do aproveitamento escolar e aperfeiçoamento do currículo. Sempre que possível a escola realiza atividades com outras instituições, participando de alguns eventos que contribuem para o entrosamento e envolvimento da família/comunidade assim como: · Festa do Folclore. · Festa da Família. · Feira de Irtercâmbio. · Feira de Ciências. · Gincana de Matemática. · Semana Paulo Freire. · Participação em outros eventos, sempre que há oportunidades. 8.3 Gerenciamento e Otimização dos Recursos Financeiros A Escola Estadual de Educação Popular “PAULO FREIRE”, recebe repasse de recursos financeiros, destinados à manutenção e outras despesas relacionadas à atividade educacional, através de verbas federais e estaduais. Portanto, qualquer promoção que vise angariar recursos financeiros para a escola ou terceiros só poderá existir se decidida em assembléia geral registrada em ata. 247 A utilização desses recursos serão revertidos para melhorias na escola, efetuados sempre com cautela e discernimento do que é prioritário realizar, favorecendo o ambiente escolar e contribuindo para o bom funcionamento da escola. 8.4 Orgãos Colegiados, Organização Interna da Escola e sua funções específicas A escola é uma organização que, como muitas outras lida com pessoas. Sua peculiaridade está em ser a primeira instituição que os cidadãos ainda crianças conhecem. O sucesso da escola depende do clima institucional, da competência didático-pedagógico da escola e da resposta dos alunos. Mas na verdade todos os fatores estão condicionados ao entrosamento entre escolas e famílias. A autonomia melhora muito as condições de integração dessas duas metades da educação porque institui a gestão participativa, que submete os processos decisórios às diferentes perspectivas dos professores, dirigentes, funcionários, pais e alunos. Com isso, ela não só aumenta a sintonia entre as vária partes, como melhora a qualidade das decisões. A Gestão participativa abrange diferentes níveis e áreas da administração escolar. O nível mais alto tem estatura equivalente à da Diretoria da Escola e é o Colegiado Escolar (também chamado Conselho de Escola, Associação de Pais, Mestres e Funcionários, Círculo de Pais e Professores, ou outras denominações). Outros dois colegiados são os Conselhos de Classe, que acompanham as atividades pedagógicas da escola e os Conselhos Fiscal e Deliberativo da Unidade Executora, responsável pela administração dos recursos financeiros da escola. O Colegiado Escolar é um órgão coletivo, consultivo e fiscalizador, e atua nas questões técnicas, pedagógicas, administrativas e financeiras da unidade escolar. 248 Como órgão coletivo, adota a gestão participativa e democrática da escola, a tomada de decisão consensual visando à melhoria da qualidade do ensino. A Direção da escola é compartilhada entre a Diretoria e o Colegiado Escolar. Ambos são responsáveis pelos resultados da escola. As ações estarão voltadas para o bom andamento escolar e aprimoramento do relacionamento entre esse colegiado, através de diálogos, dinâmicas de grupo e outros, pois órgão Colegiado que tem como objetivo promover a participação da comunidade escolar nos processos de administração e gestão da escola, visando assegurar a qualidade do trabalho escolar em termos administrativos, financeiros e pedagógicos. Nesse sentido as ações atenderão aos objetivos de inclusão da família/sociedade na escola, através da realização de festas e outros eventos que garantam a participação e presença dos mesmos na escola. Quanto aos aspectos financeiros e administrativos serão desenvolvidas ações pertinentes ao bom andamento escolar e garantia do padrão de qualidade do ensino ofertado no estabelecimento. Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMFs): Instituição auxiliar às atividades da escola, formada por pais, professores e funcionários. Tem como objetivo auxiliar a direção escolar na promoção das atividades administrativas, pedagógicas e sociais da escola, bem como arrecadar recursos para complementar os gastos com o ensino, a educação e a cultura. Portanto as ações estarão voltadas à integração e participação desse órgão, garantindo o bom desempenho e atuação do mesmo nas questões administrativas, sociais e pedagógicas da escola, desenvolvidas através de reuniões e esclarecimentos sempre que possível e necessário para o bom desempenho de suas funções. O Grêmio Estudantil e Alunos Representantes de Turmas, é um assunto em pauta, cuja questão se encontra em estudo para possível implantação no ano de 2011. As ações serão efetuadas através de reuniões para discussões e entendimento da necessidade de implantação; 249 Como a educação do aluno é a razão de ser da escola, nada mais lógico que as ações da escola busquem, direta ou indiretamente, o melhor atendimento possível de seus alunos. Para isso, deve-se ter em mente que os alunos não estão na escola apenas para receber estímulos. Eles devem ter papel ativo, de interpretar e aplicar os conteúdos adquiridos, construindo o seu próprio conhecimento e desenvolvendo suas aspirações, valores e comportamentos. Em vista disso, as funções administrativas e financeiras devem estar voltadas para aquela que é o objetivo principal da escola, a função pedagógica, a que se ocupa diretamente com a aprendizagem do aluno. Na escola “Paulo Freire” o quadro docente e técnico administrativo são compatíveis com a realidade da escola, sendo que todos os docentes possuem habilitação e estão compromissados com a educação. A estrutura organizacional do estabelecimento tem a seguinte composição: Direção; Diretor Adjunto; Equipe Técnico Administrativo e Apoio; Biblioteca; Coordenação Pedagógica; Corpo Docente: Professores; Conselho Escolar; Conselho de Classe; APMFs – Associação de Pais, Mestres e Funcionários a) Direção; A equipe de direção compete a gestão dos serviços escolares no sentido de garantir o alcance dos objetivos educacionais do Estabelecimento de Ensino, definidos na Proposta Pedagógica. Compete ao Diretor ( a ); 250 · cumprir e fazer cumprir a legislação em vigor, atendendo as ordem dos órgãos administradores; · responsabilizar-se pelo patrimônio público escolar recebido no ato da posse; · coordenar a elaboração e acompanhar a implementação do Projeto Político Pedagógico da escola, construído coletivamente e aprovado pelo Conselho Escolar; · coordenar e incentivar a qualificação permanente dos profissionais da educação; · implementar a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, em observância às Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; · coordenar a elaboração do Plano de Ação do estabelecimento de ensino e submetê-lo à aprovação do Conselho Escolar; · convocar e presidir as reuniões do Conselho Escolar, dando encaminhamento às decisões tomadas coletivamente; · elaborar os planos de aplicação financeira sob sua responsabilidade, consultando a comunidade escolar e colocando-os em edital público; · prestar contas dos recursos recebidos, submetendo-os à aprovação do Conselho Escolar e fixando-os em edital público; · coordenar a construção coletiva do Regimento Escolar, em consonância com a legislação em vigor, submetendo-o à apreciação do Conselho Escolar e, após, encaminhá-lo ao CEE para a devida aprovação; · garantir o fluxo de informações no estabelecimento de ensino e deste com os órgãos da administração estadual; · encaminhar aos órgãos competentes as propostas de modificações no ambiente escolar, quando necessárias, aprovadas pelo Conselho Escolar; · deferir os requerimentos de matrícula; · elaborar o calendário escolar, de acordo com as orientações da SEED, submetê-lo à apreciação do Conselho Escolar e encaminhá-lo ao CEE para homologação; 251 · acompanhar o trabalho docente, referente às reposições de horas/aula aos discentes; · assegurar o cumprimento dos dias letivos, horas-aula e horas atividade estabelecidos; · promover grupos de trabalho e estudos ou comissões encarregadas de estudar e propor alternativas para atender aos problemas de natureza pedagógico-administrativa no âmbito escolar; · participar e analisar da elaboração dos Regulamentos Internos e encaminhá-los ao Conselho Escolar para aprovação; · supervisionar a lanchonete comercial e o preparo da merenda escolar, quanto ao cumprimento das normas estabelecidas na legislação vigente relativamente a exigências sanitárias e padrões de qualidade nutricional; · presidir o Conselho de Classe, dando encaminhamento às decisões tomadas coletivamente; · definir horário e escalas de trabalho da equipe técnico-administrativa e equipe auxiliar operacional; · articular processos de integração da escola com a comunidade; · solicitar o suprimento e cancelamento de demanda de funcionários e professores do estabelecimento, observando as instruções emanadas da SEED; · participar, com a equipe pedagógica, da análise e definição de projetos a serem inseridos no Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino, juntamente com a comunidade escolar; · cooperar com o cumprimento das orientações técnicas de vigilância sanitária e epidemiológica; · disponibilizar espaço físico adequado quando da oferta de Serviços e Apoios Pedagógicos Especializados, nas diferentes áreas da Educação Especial; · assegurar a realização do processo de avaliação institucional do estabelecimento de ensino; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; 252 · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; · cumprir e fazer cumprir o disposto no Regimento Escolar a ser elaborado. b) Diretor Adjunto (Secretário administrativo); Compete ao Diretor (a) Adjunto: • substituir o Diretor em seus impedimentos; • responsabilizar-se pela coordenação administrativa, numa ação integrada com todos os setores e profissionais da unidade escolar; • planejar, coordenar e gerenciar todos os serviços de apoio administrativo das atividades da escola, supervisionando os responsáveis pelos encargos e serviços gerais; • viabilizar a utilização do ambiente escolar em consonância com o Coordenador Pedagógico, visando ao desempenho das atividades educacionais e comunitárias; • oferecer às autoridades competentes as informações pertinentes às inspeções administrativas na unidade escolar; • colaborar na destinação e no controle da movimentação dos recursos financeiros da escola, em consonância com as decisões da comunidade escolar; • gerenciar, com o Coordenador Pedagógico, o trabalho dos Agentes de Apoio Escolar, a fim de garantir a disciplina necessária ao bom desempenho das atividades pedagógicas; • distribuir e supervisionar as tarefas executadas pelos servidores da unidade escolar, assim como o material administrativo necessário; • co-responsabilizar-se pelo desenvolvimento dos recursos humanos da unidade escolar; c) Equipe Técnica Administrativa e Apoio; 253 A Equipe Administrativa é o setor que serve de suporte ao funcionamento de todos os setores do Estabelecimento de Ensino, proporcionando condições para que os mesmos cumpram suas reais funções. A equipe administrativa é composta por Secretaria e Serviços Gerais. A Secretaria é o setor que tem o seu encargo todo o serviço de escrituração escolar e correspondência do estabelecimento. Os serviços da secretaria são coordenados e supervisionados pela direção, ficando a ela subordinados. O cargo de secretário deverá ser exercido por um profissional devidamente qualificado para o exercício dessa função, indicado pelo diretor do Estabelecimento de acordo com as normas da SEED, em ato específico. Compete ao secretário ( a ): · conhecer o Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino; · cumprir a legislação em vigor e as instruções normativas emanadas da SEED, que regem o registro escolar do aluno e a vida legal do estabelecimento de ensino; · distribuir as tarefas decorrentes dos encargos da secretaria aos demais técnicos administrativos; · receber, redigir e expedir a correspondência que lhe for confiada; · organizar e manter atualizados a coletânea de legislação, resoluções, instruções normativas, ordens de serviço, ofícios e demais documentos; · efetivar e coordenar as atividades administrativas referentes à matrícula, transferência e conclusão de curso; · elaborar relatórios e processos de ordem administrativa a serem encaminhados às autoridades competentes; · encaminhar à direção, em tempo hábil, todos os documentos que devem ser assinados; · organizar e manter atualizado o arquivo escolar ativo e conservar o inativo, de forma a permitir, em qualquer época, a verificação da identidade e da regularidade da vida escolar do aluno e da autenticidade dos documentos escolares; 254 · responsabilizar-se pela guarda e expedição da documentação escolar do aluno, respondendo por qualquer irregularidade; · manter atualizados os registros escolares dos alunos no sistema informatizado; · organizar e manter atualizado o arquivo com os atos oficiais da vida legal da escola, referentes à sua estrutura e funcionamento; · atender a comunidade escolar, na área de sua competência, prestando informações e orientações sobre a legislação vigente e a organização e funcionamento do estabelecimento de ensino, conforme disposições do Regimento Escolar; · zelar pelo uso adequado e conservação dos materiais e equipamentos da secretaria; · orientar os professores quanto ao prazo de entrega do Livro Registro de Classe com os resultados da freqüência e do aproveitamento escolar dos alunos; · cumprir e fazer cumprir as obrigações inerentes às atividades administrativas da secretaria, quanto ao registro escolar do aluno referente à documentação comprobatória, de adaptação, aproveitamento de estudos, progressão parcial, classificação, reclassificação e regularização de vida escolar; · organizar o livro-ponto de professores e funcionários, encaminhando ao setor competente a sua freqüência, em formulário próprio; · secretariar os Conselhos de Classe e reuniões, redigindo as respectivas Atas; · conferir, registrar e/ou patrimoniar materiais e equipamentos recebidos; · comunicar imediatamente à direção toda irregularidade que venha ocorrer na secretaria da escola; · participar de eventos, cursos, reuniões, sempre que convocado, ou por iniciativa própria, desde que autorizado pela direção, visando ao aprimoramento profissional de sua função; · manter atualizado o Sistema de Controle e Remanejamento dos Livros Didáticos; 255 · fornecer dados estatísticos inerentes às atividades da secretaria escolar, quando solicitado; · participar da avaliação institucional, conforme orientações da SEED; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, com pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; · participar das atribuições decorrentes do Regimento Escolar e exercer as específicas da sua função. Aos auxiliares da secretaria compete executar os trabalhos que lhes forem atribuídos pelo secretário e atender as solicitações, recomendações e observações feitas com vistas ao aprimoramento do serviço. A escala de trabalho dos funcionários deverá ser estabelecidas de forma que o expediente da secretaria conte sempre com a presença de um responsável, independente da duração do ano letivo, em todos os turnos de funcionamento do estabelecimento. Compete aos técnicos administrativos que atuam na secretaria dos estabelecimentos de ensino, sob a coordenação do(a) secretário(a): · cumprir as obrigações inerentes às atividades administrativas da secretaria, quanto ao registro escolar do aluno referente à documentação comprobatória, necessidades de adaptação, aproveitamento de estudos, progressão parcial, classificação, reclassificação e regularização de vida escolar; · atender a comunidade escolar e demais interessados, prestando informações e orientações; · cumprir a escala de trabalho que lhe for previamente estabelecida; · participar de eventos, cursos, reuniões, sempre que convocado, ou por iniciativa própria, desde que autorizado pela direção, visando ao aprimoramento profissional de sua função; · controlar a entrada e saída de documentos escolares, prestando informações sobre os mesmos a quem de direito; 256 · organizar, em colaboração com o(a) secretário(a) escolar, os serviços do seu setor; · efetivar os registros na documentação oficial como Ficha Individual, Histórico Escolar, Boletins, Certificados, Diplomas e outros, garantindo sua idoneidade; · organizar e manter atualizado o arquivo ativo e conservar o arquivo inativo da escola; · classificar, protocolar e arquivar documentos e correspondências, registrando a movimentação de expedientes; · realizar serviços auxiliares relativos à parte financeira, contábil e patrimonial do estabelecimento, sempre que solicitado; · coletar e digitar dados estatísticos quanto à avaliação escolar, alimentando e atualizando o sistema informatizado; · executar trabalho de mecanografia, reprografia e digitação; · participar da avaliação institucional, conforme orientações da SEED; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, com pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; · exercer as demais atribuições decorrentes do Regimento Escolar e aquelas que concernem à especificidade de sua função. O serviço de apoio tem a seu encargo os serviços de conservação, manutenção, preservação, segurança e da alimentação escolar, no âmbito escolar, sendo coordenado e supervisionado pela direção do estabelecimento de ensino. Compete ao serviço de apoio que atua na limpeza, organização e preservação do ambiente escolar e de seus utensílios e instalações: · zelar pelo ambiente físico da escola e de suas instalações, cumprindo as normas estabelecidas na legislação sanitária vigente; 257 · utilizar o material de limpeza sem desperdícios e comunicar à direção, com antecedência, a necessidade de reposição dos produtos; · zelar pela conservação do patrimônio escolar, comunicando qualquer irregularidade à direção; · auxiliar na vigilância da movimentação dos alunos em horários de recreio, de início e de término dos períodos, mantendo a ordem e a segurança dos estudantes, quando solicitado pela direção; · atender adequadamente aos alunos com necessidades educacionais especiais temporárias ou permanentes, que demandam apoio de locomoção, de higiene e de alimentação; · auxiliar na locomoção dos alunos que fazem uso de cadeira de rodas, andadores, muletas, e outros facilitadores, viabilizando a acessibilidade e a participação no ambiente escolar; · auxiliar os alunos com necessidades educacionais especiais quanto a alimentação durante o recreio, atendimento às necessidades básicas de higiene e as correspondentes ao uso do banheiro; · auxiliar nos serviços correlatos à sua função, participando das diversas atividades escolares; · cumprir integralmente seu horário de trabalho e as escalas previstas, respeitado o seu período de férias; · participar de eventos, cursos, reuniões sempre que convocado ou por iniciativa própria, desde que autorizado pela direção, visando ao aprimoramento profissional; · coletar lixo de todos os ambientes do estabelecimento de ensino, dandolhe o devido destino, conforme exigências sanitárias; · participar da avaliação institucional, conforme orientações da SEED; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, com pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; 258 · exercer as demais atribuições decorrentes do Regimento Escolar e aquelas que concernem à especificidade de sua função. · zelar pelo ambiente da cozinha e por suas instalações e utensílios, cumprindo as normas estabelecidas na legislação sanitária em vigor; · selecionar e preparar a merenda escolar balanceada, observando padrões de qualidade nutricional; · servir a merenda escolar, observando os cuidados básicos de higiene e segurança; · informar ao diretor do estabelecimento de ensino da necessidade de reposição do estoque da merenda escolar; · conservar o local de preparação, manuseio e armazenamento da merenda escolar, conforme legislação sanitária em vigor; · zelar pela organização e limpeza do refeitório, da cozinha e do depósito da merenda escolar; · receber, armazenar e prestar contas de todo material adquirido para cozinha e da merenda escolar; · cumprir integralmente seu horário de trabalho e as escalas previstas, respeitado o seu período de férias; · participar de eventos, cursos, reuniões sempre que convocado ou por iniciativa própria, desde que autorizado pela direção, visando ao aprimoramento profissional; · auxiliar nos demais serviços correlatos à sua função, sempre que se fizer necessário; · respeitar as normas de segurança ao manusear fogões, aparelhos de preparação ou manipulação de gêneros alimentícios e de refrigeração; · participar da avaliação institucional, conforme orientações da SEED; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, com pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; 259 · participar das atribuições decorrentes do Regimento Escolar e exercer as específicas da sua função. O funcionalismo escolar, além de executar sua função específica, contribui, independentemente do cargo, na educação dos alunos, de maneira a orientá-los em múltiplas situações dentro do estabelecimento de ensino, tais como: orientação de procedimento nas refeições, nos toaletes, nas recreações, no pátio, até mesmo em esclarecimentos de dúvidas a cerca de diversos assuntos que possam lhe ser solicitado por parte dos discentes e docentes, etc. Essa nova realidade se estabeleceu devido à consciência do profissional de que a educação não compete somente ao regente em sala de aula e sim a integração de todo o quadro de prestadores de serviços presente na escola. d) Biblioteca; A biblioteca constitui-se em espaço pedagógico, cujo acervo se encontra à disposição de toda a comunidade escolar, sendo o responsável funcionário do quadro administrativo ou um profissional qualificado de acordo com a legislação em vigor, quando houver disponibilidade. A biblioteca possui regulamento próprio, onde estarão explicitados sua organização, funcionamento e atribuições do responsável, cuja elaboração do mesmo será feita pelo responsável em conjunto com a Equipe Pedagógica do Estabelecimento, com aprovação da Direção e do Conselho Escolar. Compete ao técnico que atua na biblioteca escolar, indicado pela direção do estabelecimento de ensino: · cumprir e fazer cumprir o Regulamento de uso da biblioteca, assegurando organização e funcionamento; · atender a comunidade escolar, disponibilizando e controlando o empréstimo de livros, de acordo com Regulamento próprio; · auxiliar na implementação dos projetos de leitura previstos na proposta pedagógica curricular do estabelecimento de ensino; 260 · auxiliar na organização do acervo de livros, revistas, gibis, vídeos, DVDs, entre outros; · encaminhar à direção sugestão de atualização do acervo, a partir das necessidades indicadas pelos usuários; · zelar pela preservação, conservação e restauro do acervo; · registrar o acervo bibliográfico e dar baixa, sempre que necessário; · receber, organizar e controlar o material de consumo e equipamentos da biblioteca; · manusear e operar adequadamente os equipamentos e materiais, zelando pela sua manutenção; · participar de eventos, cursos, reuniões, sempre que convocado, ou por iniciativa própria, desde que autorizado pela direção, visando ao aprimoramento profissional de sua função; · auxiliar na distribuição e recolhimento do livro didático; · participar da avaliação institucional, conforme orientações da SEED; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus colegas, com alunos, com pais e com os demais segmentos da comunidade escolar; · exercer as demais atribuições decorrentes do Regimento Escolar e aquelas que concernem à especificidade de sua função. A utilização da Biblioteca, deverá obrigatoriamente constar no planejamento bimestral, caso não ocorra, a coordenação pedagógica deverá ser informada antecipadamente para que a utilização do espaço seja agendada. e) Coordenação Pedagógica; A equipe pedagógica é o órgão responsável pela coordenação, implantação e implementação no estabelecimento de ensino, das diretrizes pedagógicas emanadas da Secretaria de Estado da Educação. 261 A equipe pedagógica deste estabelecimento de ensino é composta pela Pedagoga e Corpo Docente. Compete ao Professor Pedagogo: · coordenar a elaboração coletiva e acompanhar a efetivação do Projeto Político-Pedagógico e do Plano de Ação do estabelecimento de ensino; · orientar a comunidade escolar na construção de um processo pedagógico, em uma perspectiva democrática; · participar e intervir, junto à direção, na organização do trabalho pedagógico escolar, no sentido de realizar a função social e a especificidade da educação escolar; · coordenar a construção coletiva e a efetivação da proposta pedagógica curricular do estabelecimento de ensino, a partir das políticas educacionais da SEED e das Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; · orientar o processo de elaboração dos Planos de Trabalho Docente junto ao coletivo de professores do estabelecimento de ensino; · acompanhar o trabalho docente, quanto às reposições de horas-aula aos discentes; · promover e coordenar reuniões pedagógicas e grupos de estudo para reflexão e aprofundamento de temas relativos ao trabalho pedagógico visando à elaboração de propostas de intervenção para a qualidade de ensino para todos; · participar da elaboração de projetos de formação continuada dos profissionais do estabelecimento de ensino, que tenham como finalidade a realização e o aprimoramento do trabalho pedagógico escolar; · organizar, junto à direção da escola, a realização dos Pré-Conselhos e dos Conselhos de Classe, de forma a garantir um processo coletivo de reflexãoação sobre o trabalho pedagógico desenvolvido no estabelecimento de ensino; · coordenar a elaboração e acompanhar a efetivação de propostas de intervenção decorrentes das decisões do Conselho de Classe; · subsidiar o aprimoramento teórico-metodológico do coletivo de professores do estabelecimento de ensino, promovendo estudos sistemáticos, trocas de experiência, debates e oficinas pedagógicas; 262 · organizar a hora-atividade dos professores do estabelecimento de ensino, de maneira a garantir que esse espaço-tempo seja de efetivo trabalho pedagógico; · proceder à análise dos dados do aproveitamento escolar de forma a desencadear um processo de reflexão sobre esses dados, junto à comunidade escolar, com vistas a promover a aprendizagem de todos os alunos; · coordenar o processo coletivo de elaboração e aprimoramento do Regimento Escolar , garantindo a participação democrática de toda a comunidade escolar; · participar do Conselho Escolar, quando representante do seu segmento, subsidiando teórica e metodologicamente as discussões e reflexões acerca da organização e efetivação do trabalho pedagógico escolar; · coordenar a elaboração de critérios para aquisição, empréstimo e seleção de materiais, equipamentos e/ou livros de uso didático-pedagógico, a partir do Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino; · participar da organização pedagógica da biblioteca do estabelecimento de ensino, assim como do processo de aquisição de livros, revistas, fomentando ações e projetos de incentivo à leitura; · acompanhar as atividades desenvolvidas no Laboratório de Informática; · propiciar o desenvolvimento da representatividade dos alunos e de sua participação nos diversos momentos e Órgãos Colegiados da escola; · coordenar o processo democrático de representação docente de cada turma; · colaborar com a direção na distribuição das aulas, conforme orientação da SEED; · coordenar, junto à direção, o processo de distribuição de aulas e disciplinas, a partir de critérios legais, didático-pedagógicos e do Projeto PolíticoPedagógico do estabelecimento de ensino; · acompanhar os estagiários das instituições de ensino superior quanto às atividades a serem desenvolvidas no estabelecimento de ensino; 263 · promover a construção de estratégias pedagógicas de superação de todas as formas de discriminação, preconceito e exclusão social; · coordenar a análise de projetos a serem inseridos no Projeto PolíticoPedagógico do estabelecimento de ensino; · acompanhar o processo de avaliação institucional do estabelecimento de ensino; · participar na elaboração do Regulamento de uso dos espaços pedagógicos; · orientar, coordenar e acompanhar a efetivação de procedimentos didático-pedagógicos referentes à avaliação processual e aos processos de classificação, reclassificação, aproveitamento de estudos, adaptação e progressão parcial, conforme legislação em vigor; · organizar as reposições de aulas, acompanhando junto à direção as reposições de dias, horas e conteúdos aos discentes; · orientar, acompanhar e visar periodicamente os Livros de Registro de Classe; · organizar registros de acompanhamento da vida escolar do aluno; · organizar registros para o acompanhamento da prática pedagógica dos profissionais do estabelecimento de ensino; · solicitar autorização dos pais ou responsáveis para realização da Avaliação Educacional do Contexto Escolar, a fim de identificar possíveis necessidades educacionais especiais; · coordenar e acompanhar o processo de Avaliação Educacional no Contexto Escolar, para os alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem, visando encaminhamento aos serviços e apoios especializados da Educação Especial, se necessário; · acompanhar os aspectos de sociabilização e aprendizagem dos alunos, realizando contato com a família com o intuito de promover ações para o seu desenvolvimento integral; · acompanhar a freqüência escolar dos alunos, contatando as famílias e encaminhando-os aos órgãos competentes, quando necessário; 264 · acionar serviços de proteção à criança e ao adolescente, sempre que houver necessidade de encaminhamentos; · orientar e acompanhar o desenvolvimento escolar dos alunos com necessidades educativas especiais, nos aspectos pedagógicos, adaptações físicas e curriculares e no processo de inclusão na escola; · manter contato com os professores dos serviços e apoios especializados de alunos com necessidades educacionais especiais, para intercâmbio de informações e trocas de experiências, visando à articulação do trabalho pedagógico entre Educação Especial e ensino regular; · assegurar a realização do processo de avaliação institucional do estabelecimento de ensino; · manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com colegas, alunos, pais e demais segmentos da comunidade escolar; · zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores, funcionários e famílias; · elaborar seu Plano de Ação; · cumprir e fazer cumprir o disposto no Regimento Escolar deste estabelecimento de ensino. f) Corpo Docente: Professores; Compete ao Professor: · participar da elaboração, implementação e avaliação do Projeto PolíticoPedagógico do estabelecimento de ensino, construído de forma coletiva e aprovado pelo Conselho Escolar; · O professor (a) só poderá encerrar o bimestre letivo quando for completada a sua carga horária, mesmo que suas faltas sejam justificadas; · elaborar, com a equipe pedagógica, a proposta pedagógica curricular do estabelecimento de ensino, em consonância com o Projeto Político-Pedagógico e as Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; 265 · participar do processo de escolha, juntamente com a equipe pedagógica, dos livros e materiais didáticos, em consonância com o Projeto PolíticoPedagógico do estabelecimento de ensino; · elaborar seu Plano de Trabalho Docente; · desenvolver as atividades de sala de aula, tendo em vista a apreensão crítica do conhecimento pelo aluno; · proceder à reposição dos conteúdos, carga horária e/ou dias letivos aos alunos, quando se fizer necessário, a fim de cumprir o calendário escolar, resguardando prioritariamente o direito do aluno; · proceder à avaliação contínua, cumulativa e processual dos alunos, utilizando-se de instrumentos e formas diversificadas de avaliação, previstas no Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino; · promover o processo de recuperação concomitante de estudos para os alunos, estabelecendo estratégias diferenciadas de ensino e aprendizagem, no decorrer do período letivo; · participar do processo de avaliação educacional no contexto escolar dos alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem, sob coordenação e acompanhamento do pedagogo, com vistas à identificação de possíveis necessidades educacionais especiais e posterior encaminhamento aos serviços e apoios especializados da Educação Especial, se necessário; · participar de processos coletivos de avaliação do próprio trabalho e da escola, com vistas ao melhor desenvolvimento do processo ensino e aprendizagem; · participar de reuniões, sempre que convocado pela direção; · assegurar que, no âmbito escolar, não ocorra tratamento discriminatório em decorrência de diferenças físicas, étnicas, de gênero e orientação sexual, de credo, ideologia, condição sóciocultural, entre outras; · viabilizar a igualdade de condições para a permanência do aluno na escola, respeitando a diversidade, a pluralidade cultural e as peculiaridades de cada aluno, no processo de ensino e aprendizagem; 266 · participar de reuniões e encontros para planejamento e acompanhamento, junto ao professor de Serviços e Apoios Especializados, a fim de realizar ajustes ou modificações no processo de intervenção educativa; · estimular o acesso a níveis mais elevados de ensino, cultura, pesquisa e criação artística; · participar ativamente do Conselho de Classe, na busca de alternativas pedagógicas que visem ao aprimoramento do processo educacional, responsabilizando-se pelas informações prestadas e decisões tomadas, as quais serão registradas e assinadas em Ata; · propiciar ao aluno a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico, visando ao exercício consciente da cidadania; · zelar pela freqüência do aluno à escola, comunicando qualquer irregularidade à equipe pedagógica; · cumprir o calendário escolar, quanto aos dias letivos, horas-aula e horasatividade estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; · cumprir suas horas-atividade no âmbito escolar, dedicando-as a estudos, pesquisas e planejamento de atividades docentes, sob orientação da equipe pedagógica, conforme determinações da SEED; · manter atualizados os Registros de Classe, conforme orientação da equipe pedagógica e secretaria escolar, deixando-os disponíveis no estabelecimento de ensino; · participar do planejamento e da realização das atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade; · desempenhar o papel de representante de turma, contribuindo para o desenvolvimento do processo educativo; · dar cumprimento aos preceitos constitucionais, à legislação educacional em vigor e ao Estatuto da Criança e do Adolescente, como princípios da prática profissional e educativa; · participar, com a equipe pedagógica, da análise e definição de projetos a serem inseridos no Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino; 267 · comparecer ao estabelecimento de ensino nas horas de trabalho ordinárias que lhe forem atribuídas e nas extraordinárias, quando convocado. g) Conselho Escolar; O Conselho Escolar é um órgão colegiado de natureza consultiva, deliberativa e fiscal com o objetivo de estabelecer ao Projeto Político Pedagógico, critérios relativos à sua ação, organização, funcionamento e relacionamento com a comunidade, nos limites da legislação em vigor e compatíveis com as Diretrizes e Política Educacional traçadas pela SEED. O Conselho Escolar tem por finalidade promover a articulação entre vários segmentos organizados da sociedade e os setores da escola, a fim de garantir eficiência e qualidade do seu funcionamento. h) Conselho de Classe; O Conselho de Classe é um órgão de natureza consultiva e deliberativa em assuntos didáticos- pedagógicos, com atuação restrita a cada classe do estabelecimento de ensino aprendizagem na relação professor-aluno e os procedimentos adequados a cada caso. Será constituído pelo Diretor, pela Equipe Pedagógica, pelo Secretário (a) e por todos os Professores que atuam numa mesma classe, sendo o Diretor o Presidente e em sua falta ou impedimento, será substituído pela Equipe Pedagógica. A atribuição do Conselho de Classe é estudar cada caso, analisando o aluno como um todo e levando em consideração as suas limitações, desta forma, o resultado de aprovado ou de reprovado deverá ser após análise criteriosa de cada aluno, independente do número de disciplinas que tenha ficado com média final abaixo da exigida. O Conselho de Classe tem por finalidade: 268 · estudar e interpretar a aprendizagem na sua relação com o trabalho do professor, na direção do processo ensinoaprendizagem, proposta pelo plano curricular; · acompanhar e aperfeiçoar o processo de aprendizagem dos alunos, bem como diagnosticar seus resultados e atribuir-lhes valores; · analisar os resultados da aprendizagem na relação com o desempenho da turma com a organização dos conteúdos e o encaminhamento metodológico; · utilizar procedimentos que assegurem a comparação com parâmetros indicados pelos conteúdos necessários de ensino evitando a comparação dos alunos entre si; São atribuições do Conselho de Classe: · emitir parecer sobre assuntos referentes ao processo ensinoaprendizagem, respondendo a consultas feitas pelo Diretor e pela Equipe pedagógica; · analisar as informações sobre conteúdos curriculares, encaminhamento metodológico e processo de avaliação que afetem o rendimento escolar; · propor medidas que viabilizem um melhor aproveitamento escolar, tendo em vista o respeito à cultura do educando, integração e relacionamento com alunos na classe; · estabelecer planos viáveis de recuperação dos alunos, em consonância com o plano curricular do Estabelecimento de Ensino; · colaborar com a Equipe Pedagógica na elaboração e execução dos planos de adaptação de alunos transferidos, quando se fizer necessário; · decidir sobre a aprovação ou reprovação ou reprovação do aluno que, após a apuração dos resultados finais, não atinja o mínimo solicitado pelo estabelecimento, levando-se em consideração o desenvolvimento do aluno, até então; i) APMFs - Associação de Pais, Mestres e Funcionários; 269 A Associação de Pais, Mestres e Funcionários ou similares; pessoa jurídica de direito privado, é um órgão de representação dos Pais, Mestres e Funcionários deste Estabelecimento de Ensino, não tendo caráter político partidária, religioso, cuja finalidade é a integração entre a escola, família e a comunidade para o aprimoramento do processo ensino/aprendizagem, através de aproximação entre os educadores, pais e educandos, não sendo remunerados os seus Dirigentes e Conselheiros, sendo constituído pelo prazo de 02 anos. 8.5 Relações entre os Aspectos Administrativos e Pedagógicos A interação dos membros da comunidade escolar favorece a identificação dos fatores críticos e de sucesso da escola. Conseguir criar um clima de confiança, para aprender a fazer e receber críticas, sem reações emocionais intensas, torna forte o crescimento dos componentes do processo de gestão, possibilitando a identificação dos avanços e dificuldades, a partir dos princípios que fundamentam a gestão voltada ao desenvolvimento do ser humano como cidadão. Nesse sentido a escola prioriza o fortalecimento dessa relação, visando ofertar educação de qualidade. A gestão participativa permite colaborar no desenvolvimento de suas competências profissionais, vinculadas à capacidade e disposição de construir relações e estabelecer um clima de confiança mútua, compartilhamento da prática de estudo que promova uma mudança coletiva na maneira de pensar e agir. É numa relação dialógica que se abre caminho para que as pessoas desenvolvam vontade, disciplinando o desejo. Abre caminho para a construção de identidades apoiadas em valores dos quais tem consciência, sabendo defender de forma flexível, com capacidade de rever e mudar as ações. É nesse sentido que as relações se desenvolvem no ambiente escolar desse estabelecimento, ricas em estímulo, informações. É nesse ambiente que nos acolhe com respeito e nos permite na troca, no compartilhar, ampliar nossas percepções, nossa capacidade crítica de tirar conclusões, participando ativamente da construção de nossa própria história, junto com nossa equipe, onde 270 coletivamente temos a chance de nos tornar sujeitos, que se reconhecem e atuam como cidadãos. Uma identidade cidadã. 8.6 Estratégias da Escola para Articulação e Participação da Família e Comunidade A própria palavra integração traz consigo a idéia de integrar pessoas ou grupos através de uma ação/movimento. No caso da educação, este movimento deve ser realizado por cada educador envolvido, através de um diálogo permanente, para que todos sintam-se parte integrante nesse processo de construção de uma nova realidade social. O papel de integração da família é de primordial importância para favorecer as relações sociais, e é nesse ideal que a escola desenvolve ações que garantem a participação e envolvimento dos pais e comunidade, através de: · festas juninas com apresentações de danças típicas pelos educandos da escola; · apresentações de atividades envolvendo as datas comemorativas (Dia das Mães, Pais e outros); · gincanas; · reuniões bimestrais para diálogo com os pais, sobre o desempenho escolar de seus filhos; · realização de festividades do aniversário da escola; · palestras sobre assuntos instrutivos aos pais e comunidade (ECA, Disciplina etc.); · outros eventos que possibilitam a presença dos pais na escola; A necessidade de efetivar uma participação mais assídua dos pais é uma realidade escolar, e as ações a serem desenvolvidas nesse processo serão mais intensas e voltadas à integração escola/família/comunidade. 271 8.7 Definição das Ações Relativas à Formação Continuada É com o objetivo de aprimorar a prática educativa, em consonância à Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Plano Nacional de Educação, que a escola encaminhará suas ações para valorização e crescimento dos profissionais, visando a consolidação de uma prática mais eficiente, evidenciando os trabalhos em função do diagnóstico das necessidades apresentadas. Propostas: · diagnóstico da necessidade dos professores em relação ao conteúdo; · trabalhos com interdisciplinaridade, leitura, produção e interpretação de textos; · avaliação diagnóstica e continuada numa visão emancipadora; · inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais; · elaboração e execução de projetos; · disciplina na escola; · aprimoramento do relacionamento inter-pessoal na escola; . pesquisa da prática educativa com pesquisadores que manifestarem interesse em pesquisar o ambiente escolar. Diante das necessidades acima diagnosticadas em reuniões pedagógicas, planejamento o trabalho se desenvolverá, através de grupos de estudos, com a participação da equipe técnico pedagógica e corpo docente com utilização da hora-atividade e outras reuniões marcadas fora do horário de trabalho. Os recursos utilizados serão: bibliográficos, audiovisuais, dinâmicas de grupo, TV Paulo Freire, etc. Alguns temas serão efetuados com o envolvimento e orientação de outros profissionais qualificados. 8.8 Atividades Escolares em Geral e as Ações Didático- Pedagógicas a serem desenvolvidas durante o Tempo Escolar 272 Desenvolver as atividades escolares em consonância a realidade sóciocultural dos educandos é a meta da escola na realização das ações pedagógicas que terão enfoques voltados à qualidade de vida e integração entre família/escola/sociedade. Então de acordo com o calendário pré-estabelecido e para um bom andamento das atividades escolares: · O plantão pedagógico será no primeiro sábado subseqüente a entrega dos canhotos. · Quando possível a escola entregará em dezembro uma semana de avaliação a proposta pedagógica o horário das disciplinas do ano seguinte referente a cada turno. · O professor (a) só poderá encerrar o bimestre quando for completada sua carga horária, mesmo que as faltas sejam justificadas. · A utilização de recursos áudio visuais ou eletroeletrônicos em sala de aula é de competência exclusiva do professor (a). A escola desenvolverá também um trabalho em consonância com o Projeto “De braços abertos!”, cujos objetivos são: · criar uma rede de enfrentamento à evasão e exclusão escolar; · promover a inserção no sistema educacional (Rede Estadual de Educação Básica do Amapá) dos adolescentes que tenham sido excluídos, por evasão ou por não acesso à escola; Nessa perspectiva as ações estarão direcionadas e consensuadas num trabalho coletivo, participativo que visa a melhoria e acesso de todos numa educação de qualidade. As atividades desempenhadas no decorrer do processo, deverão envolver a comunidade escolar, a família mediante as ações propostas abaixo: · promover a conscientização dos pais através de reuniões para esclarecimentos sobre o Projeto “De braços abertos”; · palestras enfocando temas como: Drogas, Violência, Sexualidade e outros assuntos pertinentes; · debates sobre os temas abordados no Projeto “De braços abertos”; 273 · festa junina, com enfoque e resgate da cultura popular, com apresentações de danças e participação dos pais; · atividades para resgatar valores (honestidade, justiça, ética, respeito, solidariedade), através de vídeos, teatros, dramatizações e outros; · clube de leitura para desenvolvimento de ações, voltadas a leitura de textos diversificados e com conteúdos significativos, apresentações de teatros, jograis, datas comemorativas, danças, dramatizações, evidenciando cumplicidade e harmonia nos trabalhos; (Serão abordados textos e danças relativos a Educação das Relações Étnico-Raciais e História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, proporcionando aos educandos conhecimentos condizentes à sociedade na qual está inserido, promovendo sempre a valorização dessas culturas). · gincanas objetivando o cooperativismo, a solidariedade, estimulando a parceria e participação com outras entidades (APAE e outros como forma de inserção); · projetos como (dramatização, teatros...) que permitem a participação dos educandos, com mediação dos docentes , em valorização do crescimento como cidadão participativo; · promover jogos inter-séries, interagindo os três turnos para a socialização dos mesmos; · as atividades serão desenvolvidas no estabelecimento utilizando os espaços (pátio coberto, sala de aula, biblioteca ou outros locais se necessário ); · envolvimento da comunidade escolar quanto à conscientização à conservação do meio ambiente, trabalho com reciclagem do lixo. Para a realização dessas ações o docente deve ter claro o seu papel de mediador e estar fundamentado na clareza dos objetivos a serem alcançados. Nesse sentido o docente estabelecerá uma relação mediada pelo dialogo, pelo respeito às diferenças entre todos os envolvidos, garantindo assim a participação espontânea do educando, despertando a curiosidade e a ousadia de arriscar, abrindo caminhos com liberdade para criar, viver e recriar ações com responsabilidade, construindo juntos um conhecimento mais real. 274 Esse trabalho pedagógico quando processado coletivamente permite ao professor uma integração dos conteúdos, o que contribui para uma aprendizagem mais significativa e global, ou seja, a interdisciplinaridade, que é um processo coletivo e solidário na organização e realização do trabalho pedagógico. 8.9 Qualificação dos Espaços Pedagógicos e Necessidades enfrentadas pela Escola A Escola Estadual “PAULO FREIRE” funciona em um prédio alugado, onde este possui salas de aula, que funcionam de acordo com a necessidade das turmas, formadas mediante as matrículas efetivadas a cada ano letivo. Em sua estrutura física, a escola possui um amplo auditório com capacidade de comportar 200 pessoas, entretanto, este não possui um sistema apropriado de refrigeração. As instalações físicas e o mobiliário estão organizados na intenção de proporcionar um ambiente agradável, sendo que as salas são equipadas com ventiladores e condicionadores de ar, boa iluminação, atendendo as medidas de higiene, tornando o espaço acolhedor e propício à aprendizagem, entretanto, percebemos a necessidade que a escola tem em possuir um prédio próprio com adaptações adequadas para atender Portadores de Necessidades Especiais, Quadra Poliesportiva e Laboratório de Informática Educativa – LIED, para um bom andamento e desempenho das atividades escolares. A biblioteca, ainda conta com poucos exemplares para o atendimento dos três turnos, já foram providenciados alguns exemplares, porém ainda necessita de constantes atualizações para um melhor atendimento. A ação proposta nesse sentido será efetuar aos poucos essa reposição, iniciando no período de 2014. 8.10 Acompanhamento e Avaliação do Projeto Político Pedagógico A Avaliação nesse processo é vista como ação fundamental para o êxito do Projeto Político Pedagógico, na medida em que é condição para as decisões significativas à serem tomadas. Sendo parte integrante do processo de construção 275 do projeto, é compreendida como responsabilidade coletiva. Á avaliação dessa forma é essencial para definição, correção e aprimoramento de rumos. O Plano de Avaliação será desenvolvido de forma sistemática, através de questionários e pesquisas e em reuniões semestrais para reflexão e revisão de estratégias para acréscimo ou não de ações sempre que necessário. Terão acompanhamento e avaliação o desempenho dos docentes, Pedagogos e Funcionários, o material didático, o currículo, o sistema de orientação docente, a infra-estrutura material da escola, a qualidade do ensino ofertado, enfim, toda ação relevante da Instituição Escolar, através de levantamentos, sugestões, debates, com o coletivo escolar (alunos, professores, funcionários, comunidade), para que compreendam que é coletivamente que se constroem ações significativas na escola. Os resultados obtidos serão analisados em conjunto por toda a comunidade escolar. Nesse sentido a avaliação será contínua, pois permite a revisão dos objetivos, ações, metodologias, proporcionando os momentos de reflexão e posicionamento sobre os resultados obtidos, visando novos rumos, aperfeiçoamento e até a exclusão de algumas ações se necessário. A participação do colegiado da escola (Conselho Escolar, Conselho de Classe, APMF‟s, Diretores, Equipe Técnico Pedagógica, Professores e Alunos) na avaliação compreende a análise dos rumos da escola, analisando o direcionamento das ações, evidenciando os pontos positivos e negativos garantindo o redirecionamento e acréscimo de ações conforme necessidade apresentada durante o percurso. Isso garante o êxito no Projeto e concretização das ações, colaborando na construção da identidade e exercício a diferença, a singularidade, a transparência, a solidariedade e à participação. Todo esse processo de avaliação reflexiva do caminho a ser percorrido, de mudanças a serem implantadas no Projeto serão realizadas através de reuniões, dinâmicas de grupo, garantindo a participação e informação entre escola/família/comunidade, logrando êxito de estar percorrendo um caminho sólido na busca da emancipação social das camadas populares e crescimento profissional dos envolvidos nessa caminhada. 276 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Nilda, Formação de Professores Pensar e Fazer. ed. Cortez, São Paulo, SP, 2002. DALBEN, Ângela I. L. de Freitas, In: Conselhos de classe e avaliação: perspectivas na gestão pedagógica da escola – Campinas, SP – Ed. Papirus, 2004, p. 31-39 55-68. ESTEBAN, Maria Teresa, A Avaliação no cotidiano escolar. In. (Org.). Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de Janeiro, 1999, p. 14-20. FALKEMBACH, Elza M. Fonseca, Planejamento participativo: uma maneira de pensá-lo e encaminhá-lo com base na escola. 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