ANAIS SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE NUMA ORGANIZAÇÃO PÚBLICA DE P&D FATORES QUE INFLUENCIAM A IMPLEMENTAÇÃO MÁRIO CARDOSO DOS SANTOS JR. ( [email protected] , [email protected] ) UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO DE MESQUITA FILHO" JORGE MUNIZ JR. ( [email protected] , [email protected] ) UNESP - CAMPUS DE GUARATINGUETÁ Resumo Esse artigo tem como objetivo analisar os fatores que influenciam a implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) em organizações de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Este estudo foi realizado no Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), que atualmente é o único instituto de P&D público certificado no Brasil na Norma NBR 15100, que é específica para os setores Aeronáutico, Espacial e Defesa. O trabalho também discute elementos para certificação em organizações públicas, que são um número menor do que as privadas. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada com gestores do IAE. Os fatores identificados foram categorizados em: pessoas, aquisição e pontuais. Palavras-chave: Qualidade, Sistemas de Gestão, NBR 15100, Organização pública, P&D. 1. Introdução Observa-se por parte das organizações que um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) devidamente implantado e implementado colabora na melhora de seus processos organizacionais e impacta na produção de bens e serviços. SAMPAIO (2011) apontou essa realidade em sua pesquisa quando mencionou vários autores que, ao longo do tempo, corroboram com essa perspectiva (Mann e Kehoe, 1994; Maani et al , 1994; Wisner e Eakins, 1994; Adam et al, 1997; Curkovic e Pagell, 1999; Terzioviski e Samson, 1999; Gupta, 2000; Romano, 2000; Withers e Ebrahimpour, 2000, 2001, Lee et al, 2001; Singels et al, 2001; Boutler e Bendell, 2002; Dick et al, 2002; Tari e Molina, 2002; Tari e Sabater, 2004; 2004; Quazi e Jacobs, 2004). No Brasil, os programas de certificação nas normas ISO 9001 entraram com a perspectiva de apoiar o esforço de modernização das organizações, sobretudo na indústria. Em relação às organizações públicas, PEREIRA (2002) indica que no período de 1930 a 1980 prevaleceu nelas a gestão burocrática e que, a partir dos anos 1990, foi substituída pela 1/11 ANAIS prática gerencial orientada para a eficiência. A despeito do atual consenso sobre as vantagens da implantação, o SGQ em seu início, com as antigas versões, contraditóriamente disseminaram a idéia que o mesmo servia apenas para “engessar e burocratizar” as atividades; se percebia que a certificação era então implantada tão somente, pela imposição do mercado e não como uma ferramenta para auxílio de melhores resultados. Os colaboradores recebiam essa tarefa como uma imposição a ser obedecida; pelo fato de não vislumbrarem um objetivo prático que troussesse qualquer benefício, ofereciam ao processo uma alta resistência. Essa realidade constatada nesses primeiros tempos chegou a dificultar para que as organizações, sobretudo pequenas e médias, a não conseguirem manterem-se certificadas chegando algumas vezes até mesmo a desistência da certificação. Porém, no decorrer dos anos, essa situação foi superada, cresceu o número de empresas certificadas em SGQ (Figura 1). No entanto há um número pequeno de organizações públicas certificadas. Dez. 2004 Dez. 2005 Dez. 2006 Dez. 2007 Nº de 660.132 773.867 896.929 951.486 certificações Tabela 1 – Número de empresas certificadas em relação ao ano. Fonte: INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDZATION (2010) Dez. 2008 982.832 Cada vez mais a certificação da organização dentro de um Sistema de Gestão deixa de ser uma imposição contratual e passa a ser uma orientação à administração na busca de resultados para todos os stakeholders. Existe semelhança no SGQ entre organizações públicas e privadas (FELÍCIO e SILVA, 2008). No entanto, as públicas apresentam características próprias e vem buscando novas formas de atender a sociedade. Esse artigo tem como objetivo analisar os fatores que influenciam na certificação de um Sistema de Gestão da Qualidade de uma instituição de P&D pública. Como objetivo específico visa identificar os fatores críticos relacionados à implantação e implementação do SGQ, sob a ótica dos gestores. Este estudo é delimitado ao único instituto de P&D público certificado no Brasil na Norma NBR 15100. As normas conferem à alta direção um papel importante e destacado, devendo esse inclusive ser evidenciado por auditoria. Portanto, o processo de implantação do SGQ acaba sendo catalisado nas organizações pelas chefias. A literatura apresenta fatores críticos para a implantação de um SGQ em organizações. (SOUSA, 2010; TANAKA, 2010; UETA, 2011). Nesse trabalho buscou-se consolidar tais fatores e os relacionar para o setor público, sob a perspectiva dos gestores da organização. O tema justifica-se devido ao predomínio do número de organizações certificadas da iniciativa privada em relação às organizações públicas. Nesse sentido, o presente trabalho 2/11 ANAIS pode contribuir para orientar os gestores da qualidade em uma reflexão sobre a melhor condução para implantação do SGQ, de forma a conquistarem a almejada certificação. Esse trabalho estrutura-se em seis seções. A seção 1 apresenta a Introdução com os objetivos e a delimitação. A seção 2 - Normalização e Sistemas de Gestão da Qualidade apresenta a fundamentação teórica, a seção 3 descreve o processo metodológico, a seção 4 apresenta a análise dos resultados da pesquisa e, finalmente, na seção 5, as conclusões são apresentadas, bem como sugestões para trabalhos futuros. Consolidados e relacionados os fatores são apresentados para que possam lançar luz sobre o tema, visando facilitar e incrementar a busca da certificação por outras organizações públicas. 2. Normalização e Sistemas de Gestão da Qualidade A satisfação às demandas dos clientes e a conformidade do produto ou serviço em relação a requisitos preestabelecidos constituem vantagens competitivas das empresas. A orientação para a qualidade fundamenta-se sobre o rigor em fornecer o que foi especificado e apóiam-se sobre ensaios, avaliações, inspeções, aspectos metrológicos, normas e regulamentos técnicos. A normalização traz significativos proveitos, conferindo adequação aos processos, produtos e serviços aos fins a que se destinam. A normalização é a atividade que prescreve no que tange a problemas existentes ou potenciais, o conjunto de atividades e ou tarefas destinadas ao uso comum e repetitivo e tem como objetivos: • • • • estabelecimento de regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação; satisfação dos clientes e produtores; atendimento às exigências dos regulamentos; e melhoria nos processos de comunicação e de trocas. A normalização se caracteriza como um processo dinâmico que inclui a ação de seus agentes interessados bem como por parte daqueles a quem por eles sejam afetados (organizações públicas , organizações privadas, consumidores, produtores, fornecedores, institutos de pesquisa, organizações de ensino, governos, etc.), organizando as atividades por meio da criação de regras ou normas, que procuram contribuir para o desenvolvimento social e econômico. O SGQ é a parte do sistema de gestão da organização focado em alcançar os objetivos da qualidade, sendo, portanto, um complemento aos outros sistemas de gestão da organização, como financeiro, ambiental, integrado. (SOUSA 2010) Cabe ressaltar que a normalização é de efeito voluntário ao passo que uma regulamentação, diferentemente, tem efeito compulsório. 3/11 ANAIS Embora a certificação não tenha efeito compulsório como no caso de regulamentação é importante destacar que, se verifica no Brasil e no mundo, o crescimento das organizações, tanto privadas quanto públicas, que são certificadas nas normas de Sistema de Gestão da Qualidade, conforme mostrados nas figuras abaixo. Certificados ISO 9001 no mundo 1.000.000 896.929 773.867 660.132 951.486 982.832 500.000 0 Dez. 2004 Dez. 2005 Dez. 2006 Dez. 2007 Dez. 2008 Fonte: International Organization for Standardzation (2010) Figura 1 – Certificação no mundo C e r t if ic a d o s IS O 9 0 0 1 n o B r a s il 2 0.0 00 15 .0 0 0 15 . 3 8 4 6 . 12 0 8 .5 3 3 9 . 0 14 D e z. 20 0 5 D e z. 2 0 0 6 14 . 5 3 9 10 .0 0 0 5 .0 0 0 0 D e z. 20 0 4 D e z. 2 0 0 7 D e z. 20 0 8 F o n t e: In t e rn a t io n a l O r g a n iz a t io n fo r S t a n d a r d za tio n (2 0 1 0 ) Figura 2 – Certificação no Brasil Para que uma organização possa trabalhar e ter como resultado o seu sucesso se fazem necessários certos controles de forma meticulosa, organizada e transparente dentro de uma visão sistêmica entre suas diversas partes como financeira, saúde e segurança ocupacional, marketing, ambiental e também o Sistema de Gestão da Qualidade SGQ que está focado em atingir os objetivos da qualidade. Segundo Maranhão (2005), o SGQ pode ser interpretado como um conjunto de recursos e regras implementado com o fim de orientar cada parte da empresa a executar a sua tarefa de forma correta no devido prazo, numa harmonia global, estando todas as partes numa direção comum, visando atingir o objetivo da empresa: ser competitiva no mercado. O fundamento dos sistemas de gestão da qualidade é que os objetivos sejam definidos; abordagens para o alcance desses objetivos sejam documentadas; a satisfação dos interessados com o alcance dos resultados seja medida e ações sejam tomadas para melhorar continuamente. (O´HANLON, 2006, pg. 8) Os princípios da gestão da qualidade são apresentados nas normas ISO 9001. Segundo a norma, o sucesso pode resultar da implementação e manutenção de um sistema de gestão concebido para melhorar continuamente o desempenho, levando em consideração, ao 4/11 ANAIS mesmo tempo, as necessidades de todas as partes interessadas. Oito princípios de gestão da qualidade estão identificados na norma, os quais podem ser usados pela Alta Direção para conduzir a organização à melhoria do seu desempenho. São eles: foco no cliente, liderança, envolvimento de pessoas, abordagem de processo, abordagem sistêmica para gestão, melhoria contínua, abordagem factual para tomada de decisão e benefícios mútuos nas relações com os fornecedores. (NBR ISO 9000 2005). As antigas versões do SGQ chegaram, infelizmente, a disseminar a idéia que o mesmo servia apenas para “engessar e burocratizar” as atividades; se percebia que a certificação era então buscada, tão somente, pela imposição do mercado e não como um auxílio uma ferramenta útil para a busca de melhores resultados. Não raras vezes o processo de implantação se dava de maneira totalmente impositiva pela alta direção e ao mesmo tempo sem qualquer participação da mesma em quaisquer atividades. Os colaboradores recebiam essa tarefa como uma imposição a ser obedecida e pelo fato de não vislumbrarem um objetivo prático e como algo que viria a trazer qualquer benefício, ofereciam ao processo uma alta resistência, mesmo porque é conhecido que naturalmente as pessoas oferecem sempre desconforto a mudança. Quando as empresas simplesmente reagem às pressões externas para a obtenção da certificação elas podem enfrentar o registro ISO 9001 como um objetivo primordial de per si, ou seja, apenas para atender uma exigência contratual; com isso não captam todos os benefícios inerentes à adoção do SGQ. Ao adotarem essa abordagem minimalista para o alcance da certificação, atingem um nível de melhoria e desempenho interno limitado (SAMPAIO 2011). Ao final do milênio passado com as versões da ISO 9001 incorporou-se os resultados como foco principal associado à melhoria contínua, sem deixar de lado a satisfação dos clientes. A partir de então torna-se evidente a participação da Alta Direção onde explicitamente em capítulo destacado pontua-se o papel a ser desempenhado pela mesma, sem jamais dispensar o envolvimento por parte de todos os colaboradores. A Norma também destaca o papel do Representante da Direção denominado RD. A Alta Direção deve indicar um membro da administração da organização que, independentemente de outras responsabilidades, deve ter responsabilidade e autoridade para Assegurar que os processos necessários para o sistema de gestão da qualidade sejam estabelecidos, implementados e mantidos, Relatar à Alta Direção o desempenho do sistema de gestão da qualidade e qualquer necessidade de melhoria, Assegurar a promoção da conscientização sobre os requisitos do cliente em toda a organização; e Resolver assuntos pertinentes à qualidade, com liberdade organizacional. NOTA A responsabilidade de um representante da direção pode incluir a ligação com partes externas em assuntos relativos ao sistema de gestão da qualidade (NBR 15100: 2010) 3. Processo metodológico 5/11 ANAIS Essa pesquisa utilizou abordagem qualitativa realizada por meio de entrevistas com os gestores de uma organização pública de P&D. Usando o referencial de Brymam (1989), as características de pesquisa qualitativa presentes no trabalho são: • • • • Ênfase na interpretação subjetiva das respostas dos gestores; Delineamento do contexto do ambiente de pesquisa; Importância dada à realidade organizacional da empresa pública de P&D; Proximidade com o fenômeno estudado, pois o autor principal tem contato funcional com a atividade da implantação. De acordo com Brymam (1989) a abordagem qualitativa capta as perspectivas e as interpretações das pessoas pesquisadas. Isso não significa ser menos rigorosa, mas torna o controle da pesquisa mais crítico. De forma a complementar a visão dos indivíduos da organização, foi necessária ao pesquisador, delinear o contexto da pesquisa por meio da coleta de dados sobre a estratégia, políticas, estrutura organizacional, processos e atividades, sistema de gestão (Van Maanem, 1979). A organização é representada por 16 departamentos e tem um total de 981 servidores. Foram entrevistados gestores. Entre eles o Representante da Direção (RD), cujo perfil é apresentado na Tabela 1. Tabela 1: Perfil dos entrevistados: ENTREVISTADO CARGO A B C D Chefe de laboratório Chefe de laboratório Chefe de seção Chefe de divisão Chefe de Coordenadoria RD Chefe de SubDiretoria E F G NÍVEL GERENCIAL TEMPO NA ORGANIZAÇÃO FORMAÇÃO baixo baixo baixo alto 31 anos 11 anos 26 anos 32 anos PÓS GRAD. DOUT. MESTRADO MESTRADO médio 30 anos GRAD. alto 09 anos DOUT. alto 21 anos DOUT. Foram entrevistados cerca de 20% dos gestores de alta gerência. Um chefe de coordenadoria classificado como de média gerência. As outras três pessoas estão em cargos de chefias de frações organizacionais ao nível de seção/laboratório, considerado na organização como o nível mais baixo de chefia. O percentual corresponde a menos de 5 % dos laboratórios do instituto. 4. Análise dos resultados 6/11 ANAIS O resultado das entrevistas indicou os fatores apresentados na tabela abaixo. Tabela 2: Descrição dos Fatores identificados Fator Descrição (ex de trecho de entrevista) Número de pessoas da equipe “O número de pessoas alocadas não e suficiente para atender a demanda de serviço”. Entrevistado A Refere-se à participação e apoio da alta direção da empresa nas atividades à 2) Comprometimento equipe de trabalho, da Alta direção “Falta de comprometimento da alta direção, não há cobrança maior nesse item frente aos outros...” Entrevistado D Refere-se à participação ativa dos servidores da organização para a realização das 3) Comprometimento suas atividades e engajamento na busca dos resultados do projeto de melhoria da Equipe “Nossos colaboradores não demonstram comprometimento com as práticas de qualidade para com o instituto...” Entrevistado C Dificuldade em aderir aos novos conceitos e culturas advindas da implantação do SGQ 4) Resistência a “Há muita dificuldade na implantação da Cultura da Qualidade por parte de mudanças elementos dentro da organização, eles resistem a aderir tendo em vista a novas práticas a serem observadas; Mas eu sempre fiz assim...” Entrevistado G) Licitação pública 5) Processo de “Há burocacia que emperra a aquisição de produtos e serviços essenciais para a Aquisição realização das missões...” Entrevistado B Conjunto de operações que estabelecem, sob condições especificadas, a relação entre os valores indicados por um instrumento (calibrador) ou sistema demedição e os valores representados por uma medida materializada ou um material de 6) Processo de referência, ou os correspondentes das grandezas estabelecidas por padrões. calibração “Falta de organizações capacitadas em realizar serviços de calibração seja por especificidades intrínsecos aos equipamentos, seja por parte de atendimento à demanda das empresas públicas parceiras.” Entrevistado A Exame cuidadoso e sistemático das atividades desenvolvidas em determinada empresa ou setor, cujo objetivo é averiguar se elas estão de acordo com as disposições planejadas e/ou estabelecidas previamente, se foram implementadas 7) Conflito entre com eficácia e se estão adequadas (em conformidade) à consecução dos auditorias objetivos. “Houve divergência entre auditores da NBR 17.025 e NBR 15:100” Entrevistado A Ferramentas que as chefias necessitam para premiar ou punir seus servidores 8) Sistema de quanto a realização das suas atividades. Reconhecimento e “Não temos em mãos a possibilidade nem de premiar os bons servidores e nem Recompensa de punir os maus” Entrevistado B Qualificação e preparação através de uma formação profissional para que aprimorar suas habilidades para executar funções específicas demandadas pelo 9) Capacitação mercado de trabalho. “Para poder impantar a Norma é necessário que se tenha capacitação para tal...” Entrevistado D 1) Tamanho da equipe Os fatores identificados, uma vez analisados e resumidos em três categorias principais: pessoas, aquisição e pontuais. Entende-se que os fatores 1 a 4 formam a categoria pessoas o fator 5 a aquisição e os demais o fator pontuais. 7/11 ANAIS Observou-se que todos os entrevistados relataram a relevância com relação ao fator pessoas, em verdade, seis entrevistados mencionam dificuldade com esse fator, a excessão justamente apontou que em seu laboratório “esse fator contribui, contrário ao que possa se pensa,r de forma positiva na implantação do SGQ" A Tabela 3 apresenta a relação dos fatores críticos de sucesso levantados com a literatura pesquisada. Tabela – 3 Fatores críticos de sucesso X Literatura pesquisada. Fator Falta de pessoal Comprometimento da Alta direção Comprometimento da Equipe Resistência a mudanças Aquisição Sistemática de calibração Conflito entre auditorias Sistema de premiação punição José Neto, 2010 Tanaka, 2010 X X X X Ueta, 2011 Felício, 2008 X X X X X X X X Vários fatores identificados na organização privada são comuns à organização pública pesquisada, outros são diferentes. A aquisição, por exemplo, é regulada pela Lei Federal 8666/1993, que estabelece normas para licitações e contratos e torna o processo demasiadamente complexo. Não somente porque não se pode escolher comprar diretamente de um fornecedor “x ou y” cuja credibilidade seja comprovada, nem tampouco porque não se pode escolher adquirir um produto da marca de sua preferência. Há ainda o fato de a organização ser uma Unidade Gestora Responsável (UGR), ou seja, uma unidade administrativa responsável pela realização de uma parte do programa de trabalho do Governo, e que implica que o IAE deve se submeter à outra organização, uma Unidade Gestora Executora (UGE), que tem a competência para empregar o crédito recebido; somente essa organização tem a prerrogativa, com relação à execução dos recursos destinados ao instituto, acrescentando mais etapas num processo já bastante complexo. O fator falta de pessoal embora também possa ser encontrado nas organizações privadas tem um tratamento diferente, pois na organização pública a inserção dos colaboradores ocorre mediante ao processo de concurso público e esse processo se submete a questões de esfera da política nacional. Para minimizar o impacto do fator aquisição, por exemplo, a organização conta justamente com o apoio da própria implantação do SGQ, pois nesse processo são revistos e atualizados os sub-processos referentes à aquisição, uma vez que a opinião dos clientes internos impacta nos indicadores de desempenho dos responsáveis pelo processo de 8/11 ANAIS aquisição, fazendo com que exista uma busca da satisfação dos clientes visando à melhoria contínua. Embora se tenha encontrado o fator conflito de auditorias o mesmo não foi evidenciado na literatura pesquisada. Isso possivelmente se deve ao fato de que, embora as organizações tenham cada vez mais procurado a certificação, como apontamos no início, dificilmente se busca, concomitantemente, duas certificações. Assim sendo, a frequência desse interesse concomitante em duas certificações apresente-se muito baixa e não resultem trabalhos nesse tema. 5. Conclusões O setor público apresenta fatores semelhantes aos das organizações privadas, pois é fato que recursos (sejam materiais ou pessoais) são sempre compreendidos como escassos em ambas. A pesquisa apresentou o fator inédito conflito de auditorias, conforme anlisado nos resultados apresentados. O maior óbice, na visão dos gestores, para a implantação e implementação do SGQ no IAE recai na categoria pessoas. A pesquisa apontou ainda que o segundo fator de maior impacto negativo é o processo de aquisição. Resultado esperado, pois associado à escassez de recursos há o fato da regulação pela Lei Federal 8666/1993 e a subordinação da gestão dos recursos pela UGE. Isso dificulta enormemente a possibilidade de adquirir produtos e serviços nos padrões de qualidade necessários para a produção de pesquisa e desenvolvimento de alta tecnologia. Embora a categoria pontuais tenha apresentado uma frequência superior ao fator aquisição, considerou-se como o terceiro maior fator impactante, pois o mesmo se caracteriza pelo agrupamento de diversos fatores. Ressalta-se o fato de que 40% da frequência desses outros fatores são identificados como sistema de punição/premiação, recaindo diretamente no fator de maior complexidade encontrado, ou seja, pessoas, pois a relação entre eles é direta, o que agrava ainda mais o fator. O fato de ser agrupado na categoria pontuais deu-se porque os entrevistados argumentaram sobre a inexistência de ferramentas que possibilitem o devido reconhecimento dos funcionários públicos que cumprem exemplarmente suas atividades, para os entrevistados esse fator deveria ser imputado ao Estado. Pelo exposto, acredita-se que a pesquisa atingiu o objetivo proposto, pois apresenta os fatores que constituem-se como óbices na implantação e implementação do SGQ, sob a visão dos gestores, da organização pública de P&D. Uma sugestão para futuros trabalhos sobre o assunto é ampliar a amostra, avaliar os fatores identificados associando-se também abordagem quantitativa. 9/11 ANAIS Essas duas sugestões se encontram em andamento. Referências BRYMAM, A. Research methods and organization studies. Unwin Hyman, Londres: 1989. CAUCHIK, P.A. et al. Metodologia de pesquisa em engenharia de produção e gestão de operações. Elsevier, 2010. FELÍCIO, D. ; SILVA, J. L. G. 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