AMANDA PEROBELLI
ANO 1 | NO 02 | SET • 2010 | EXEMPLAR CORTESIA
os robôs
do abcd
Os braços mecânicos que sustentam
a indústria automobilística
R$ 500 milhões
Saiba como acessar o
financiamento da FINEP
glauco arbix
Inovação: chave para o desenvolvimento
econômico sustentável do Brasil
AMANDA PEROBELLI
AMANDA PEROBELLI
editorial
vantagens competitivas
O Brasil, a Região e o mundo estão passando por mudanças. Tão velozes e profundas
quanto as que marcaram o aparecimento dos
robôs e a automação industrial no final do
século passado. Esta edição de INOVABCD é
mais um retrato deste quadro sustentado por
iniciativas como o Observatório da Inovação,
do Instituto de Estudos Avançados, retratado
na reportagem Projetando tendências inovadoras (pág. 28).
Durante anos, o custo da mão de obra da
Região, fruto da qualidade e da organização
de seu trabalhador, foi apontado como fator
negativo para explicar fuga de empresas. E
também para justificar sua substituição pelos robôs. Mas, como destaca Glauco Arbix
(pág.6), a lógica da inovação é oposta. No
ambiente altamente competitivo promovido
pela inovação, o alto salário se transforma
em vantagem competitiva.
As matérias sobre os Robôs do ABCD representam um balanço histórico e tecnológico da
indústria automotiva nacional e internacional.
Os robôs não foram a catástrofe anunciada
quando começaram a ocupar o chão das fábricas. Na realidade, hoje, o futuro depende mais
do homem que está por trás da máquina, de
empresários, trabalhadores, de seus sindicatos e governos do que de outros fatores.
E, é esta vantagem competitiva que promete fazer diferença para o futuro do ABCD.
Mas, para isto é preciso que a Região e
o Brasil acreditem no seu potencial. Sem
esta crença, ninguém se mobiliza e o mundo continua como é, cheio de carências
econômicas, sociais e ambientais.
A conversa do correspondente Flávio Aguiar
na Alemanha com sindicalistas ligados à
Volkswagen é paradigmática: automação
não precisa necessariamente ser confundida com a robotização dos processos, ambientes de trabalho ou dos seres humanos
que ali convivem. Tudo depende deles, e de
quem tem a iniciativa nas transformações,
bem como do modo em que dividem e organizam o poder das decisões.
É com a promoção desta fé nas mudanças
e na capacidade do homem de promovê-las
que a revista INOVABCD renova mais uma
vez seu compromisso e agradece as manifestações de apoio recebidas ao longo destes quatro meses de circulação e durante o
lançamento oficial da publicação, realizado
na Pinacoteca Municipal de São Bernardo no
dia 14 de agosto, como registra a reportagem Lançamento INOVABCD (pág. 11).
Celso Horta
ANO 1 | NO 02 | SETEMBRO • 2010
AMANDA PEROBELLI
especial robotização
12
03Editorial
VANTAGENS COMPETITIVAS
06Entrevista - Glauco Arbix
ATIVISTA DA INOVAÇÃO
O especialista em inovação fala sobre sustentação econômica, política industrial e estratégias para um desenvolvimento sustentável do ABCD e do País
09Eleições
INOVAÇÃO NA PAUTA DOS CANDIDATOS
Dilma defende aumento do PIB à pesquisa, Serra propõe
ampliação de convênios e Marina vê alternativa ao desenvolvimento sustentável
10 Notas
11 Evento
LANÇAMENTO INOVABCD
Cerimônia reúne agentes da inovação na Pinacoteca Municipal de São Bernardo
Educação
12 BRAÇOS MECÂNICOS NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA 25
DE PORTAS ABERTAS
18 O OUTRO LADO DA ROBOTIZAÇÃO
A UFABC recebe a comunidade em evento, na busca por
diálogo com a Região
20 OS ROBÔS E SEUS PROBLEMAS MARAVILHOSOS
26Transporte
22 ROBÔS DA FEI BATEM BOLA
O ÔNIBUS DO FUTURO
Veículos movidos a diesel de cana começam a passar por
testes em São Paulo
28 Tendências
18
SÉRGIO NOBRE
acredita no avanço
tecnológico, se
implementado de
forma responsável
Projetando tendências inovadoras
O Observatório da Inovação da USP é um laboratório de
ideias e projetos para o futuro
31 Case
ARTICULAÇÃO PRÓ INOVAÇÃO
IATDI busca integrar pesquisa, produto, setores produtivos
e instituições de ensino da Região
32Serviços
FOMENTO E FINANCIAMENTO
Milhões de reais disponíveis a projetos inovadores. Descubra como acessá-los
34 Ponto de vista
ANNE LEWIS-OLSSON
Investimento tecnológico gera retorno em forma de crescimento econômico
EXPEDIENTE: INOVABCD é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. INOVABCD não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Travessa Monteiro Lobato, 95 – Centro
São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 Editor: Celso Horta (MTb 140002/51/66 SP) Redação: Caio Luiz, Camila Galvez, Clébio Cavagnolle Cantares, Gilberto Nascimento, Joana Horta
e Niceia Climaco. Correspondente: Flávio Aguiar Arte: Ligia Minami DEPARTAMENTO COMERCIAL: FONE (11) 4335-6017 Publicidade: Jader Reinecke ASSINATURA: Jéssica D’Andréa
Impressão: Leograf Tiragem: 40 mil exemplares
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
5
FOTOS: LUCIANO VICIONI
entrevista
Glauco Arbix
Joana Horta
Glauco Arbix é um defensor
da inovação. Sociólogo
por formação é professor,
membro do Conselho
Nacional de Ciência e
Tecnologia e Coordenador do
Observatório da Inovação e
Competitividade do Instituto
de Estudos Avançados da
USP. No governo Lula, foi
presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA) e coordenador, até
2009, do Núcleo de Assuntos
Estratégicos da Presidência
da República (NAE). É
ainda membro do Grupo de
Especialistas do Programa
de Desenvolvimento das
Nações Unidas (PNUD-ONU).
Agora, Arbix prepara-se para
exportar conhecimento.
Dias antes de embarcar para
os Estados Unidos, onde
ministrará aulas de inovação
em programas de mestrado,
atendeu a reportagem
da INOVABCD para uma
entrevista onde defende a
inovação como chave para o
desenvolvimento econômico
sustentável do Brasil.
Glauco Arbix:
multiplicidade
na defesa
de ações
inovadoras para
o crescimento
sustentável
do País.
6
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
ATIVISTA
DA INOVAÇÃO
Filósofo, pesquisador e consultor, Glauco Arbix se multiplica na defesa
de ações inovadoras para o crescimento sustentável do País.
INOVABCD - A inovação pode sustentar o
desenvolvimento econômico?
Glauco Arbix – São muitos os empecilhos
para a manutenção do crescimento econômico. Nas instituições públicas existem fraquezas na capacidade de elaboração e acompanhamento de projetos, enquanto nas privadas
há pouca inclinação para melhorias significativas nos padrões de produção e qualidade.
Impostos, burocracia, regulação insuficiente,
taxa de juros. Não há varinha mágica, mas
acredito que o desafio central do Brasil está
em tornar a sua economia mais inovadora. É
por essa via que o País pode se ligar a cadeias
globais, com retornos significativos.
INOVABCD – O senhor defende a criação
de uma Agência Nacional de Inovação.
Qual seria a missão dessa agência?
Arbix – A proposta de criação de uma Agência Nacional de Inovação acompanha um
diagnóstico que vários pesquisadores fazem
sobre esse gargalo que existe para que o Brasil
consiga se estruturar e sustentar um desenvolvimento econômico a médio e longo prazos. A
Agência seria um centro com recursos significativos, para programas de grande porte, capaz
de dar consistência e qualidade às prioridades
fundamentais, diminuindo a distância entre
plano de governo e ação institucional e, por
isso, subordinada à Presidência da República.
Se quisermos construir um país com soberania e autonomia, que eleve o padrão de vida
da população, temos a obrigação de orientar
a economia para essas questões. Como é que a
gente faz isso? Concentrando recursos, criando
foco e fazendo a diferença.
INOVABCD – O Brasil deve inovar
também na concorrência internacional?
Arbix - Quem um dia teve a ideia de que o
Brasil seria para sempre um celeiro de baixos salários e qualidade duvidosa de seus
produtos, errou no passado, erra mais agora e vai continuar errando no futuro. Principalmente, porque em uma competição
que não preza por qualidade ou geração
de empregos qualificados, existe um número gigantesco de países que podem ser melhores que nós. Por isso é tão importante
que se utilize a inovação para transformar
a economia, elevar o padrão e diversificar
aquilo que se faz. O Brasil não pode ser um
país dependente de commodities, de produtos de baixo valor agregado.
INOVABCD – Temos política industrial e
maturidade para pensar alto?
Arbix – A questão da maturidade tem que
ser abordada de duas formas. Do ponto de
vista histórico, o Brasil possui experiências
riquíssimas de políticas industriais. Entre
as décadas de 1940 e 1980, atingiu altas taxas de desenvolvimento, começamos a nos
desenvolver antes dos asiáticos. O ABCD
não existiria se não houvesse uma política
industrial. Porém, geramos uma desigualdade muito grande. Atraíamos as multinacionais, mas oferecíamos um mercado fechado. Hoje, o Brasil está sendo chamado
a fazer política industrial em um regime
menos protegido. Houve privatizações, a
economia está mais dinâmica e, ao mesmo
tempo, vivemos uma democracia. INOVABCD – Você coordenou o NAE do
Governo Federal. Como a inovação era
discutida nesse Grupo?
Arbix – A questão da tecnologia era muito
forte nas discussões do NAE. A ideia básica era profissionalizar o Governo, com um
corpo de profissionais capazes de dirigir,
coordenar e criar a inteligência de um país.
Um ministro não pode tomar uma decisão
que vai mudar um cenário por décadas,
sem ter um apoio. O NAE dialogou com
um grupo inglês, um dos mais avançados
do mundo, e que teve influencia fundamental para o estabelecimento de uma política
de parques tecnológicos.
INOVABCD – O Governo enxerga a
necessidade de inovação?
Arbix – O Governo evoluiu muito nos últimos anos, traçando uma diretriz voltada à
inovação. O Brasil começou a se movimentar depois de 25 anos de inércia. Tivemos a
Lei de Inovação, a Lei do Bem, contratação
de pessoal qualificado, uma série de programas financiados pelo BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) e pela Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos). Pela Lei de Inovação
você consegue colocar recursos públicos em
empresas privadas esperando como retorno
que a inovação reflita na melhoria da qualidade dos empregos, da renda e da qualidade
de vida. Isso é muito positivo.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
7
“Quem um dia teve a
ideia de que o Brasil
seria, para sempre,
um celeiro de baixos
salários e qualidade
duvidosa de seus
produtos, errou no
passado, erra mais
agora e vai continuar
errando no futuro.”
INOVABCD – Essas linhas de fomento
estão sendo utilizadas pela indústria?
Arbix – Parcialmente. Existe uma dificuldade reconhecida de nossas empresas para
investir no desenvolvimento e na inovação.
Isso é reflexo desses quarenta anos de economia ultraprotegida, onde as empresas
não criaram uma dinâmica de incorporar a
inovação em suas estratégias para sobreviver à concorrência. Inovação é investir nas
pessoas, renovar aquilo que você faz para se
diferenciar no mercado, mas isso no Brasil é
muito recente. Segundo os dados do último
IPEA, nós não chegamos a 2% de empresas
que inovam e exportam.
INOVABCD – E o trabalhador, o que ganha
nesse processo?
Arbix – Durante todo o período de desenvolvimento brasileiro, o baixo salário era
uma vantagem comparativa. A lógica da
inovação é oposta, o alto salário é uma vantagem. Você tem que trabalhar de um jeito
mais qualificado e de forma mais criativa.
As empresas que inovam, crescem e valorizam trabalhador, salários e escolaridade. As
pesquisas indicam que trabalhadores que
inovam possuem escolaridade maior que a
média das empresas brasileiras.
8
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
INOVABCD – Existe razão para o
trabalhador temer o robô?
Arbix – Depende muito das políticas que as
empresas seguem para implementar a automação. A briga não é contra a máquina. O
problema está na adoção de uma política de
automação predatória. Existe a política de
inovação e automação que consegue utilizar
a experiência de quem trabalha. É verdade
que o robô tira o posto de trabalho de quem
estava ali, mas ele precisa ser programado.
Quem programa? Um trabalhador. Não há
uma obrigatoriedade que o robô seja um
predatório. Depende de como você implementa as soluções.
INOVABCD – Quais mecanismos podem
garantir uma automação saudável?
Glauco Arbix – Quanto mais distante estiverem os sindicatos da elaboração, discussão
e execução das políticas de automação, pior
para os trabalhadores. Isso orienta a preservação dos postos de trabalho. De repente é
necessário aprender inglês porque essas máquinas foram programadas em inglês. Existe
um radicalismo, que eu acho ingênuo, que
renega a automação. Mas os trabalhadores
são os primeiros interessados; podem e devem negociar com as empresas a requalificação e a política de automação.
INOVABCD – O ABCD está se integrando
às políticas de inovação de sua indústria?
Arbix – Sim, e tem que fazer isso maciçamente, pois a Região vive esse processo. Lá
atrás, os metalúrgicos passaram a discutir a
necessidade das fábricas da região produzirem novos modelos, pois sem isso a qualidade da produção entraria num processo de estagnação. Então veio o robô e isso significava
que a matriz ou a empresa estavam elevando
o padrão. O debate sobre inovação interessa
antes de mais nada a quem trabalha, mas de
uma forma paradoxal. É preciso dizer que
são muito raros os sindicatos que se preocupam com a inovação.
INOVABCD – Como a Região pode inovar
para se adaptar a esse cenário?
Arbix – As empresas locais viveram e vivem
pressões de concorrência, porque estão próximas dos grandes mercados, têm mão de
obra mais qualificada, o custo da terra é
mais caro, os aluguéis, o transporte. Quando você coloca tudo isso em custos, o ABCD
acaba perdendo uma série de atrativos. Mas,
ao mesmo tempo, esse é o diferencial. Para
algumas empresas vale a pena, para outras
não. Com essa mão de obra ultraqualificada
e a sua localização, uma série de empresas
que necessitam dessas características podem
ser atraídas. A política industrial tem que estar voltada para substituir lacunas na capacitação industrial do País.
INOVABCD – O senhor é um caso de
exportação de conhecimento brasileiro
em inovação para os EUA?
Arbix – Se você quiser, pode chamar assim.
Nos próximos seis meses vou ministrar aulas de mestrado em inovação, na Universidade de Wisconsin e na capital, Madisson.
É praticamente a mesma aula que eu dou
aqui em São Paulo, na pós-graduação da
USP. Essa será minha primeira experiência
como professor fora do Brasil, mas existem
muitos outros brasileiros, pesquisadores e
professores compartilhando conhecimento
pelo mundo.
eleições
propostas
inovação na pauta
dos candidatos
Dilma defende aumento do PIB à pesquisa, Serra propõe ampliação
de convênios e Marina vê alternativa ao desenvolvimento sustentável
Além de segurança, saúde e educação – assuntos sempre presentes nas propostas dos candidatos à Presidência – a inovação tecnológica,
fundamental para o desenvolvimento e crescimento econômico do país, também ganha destaque na pauta dos presidenciáveis. A INOVABCD
localizou nas propostas de Dilma Roussef , José Serra e Marina Silva, referências de estímulo à inovação. Saiba quais as ideias dos candidatos
para os próximos quatro anos de governo.
Dilma Roussef
Partido PT
Coligação “Para o Brasil Seguir Mudando”
Vice Michel Temer
Para a candidata do PT, a inovação aparece como proposta junto ao desenvolvimento industrial e agrário. Dilma pretende
enfatizar a inovação através do incentivo às pesquisas, da transformação dos centros de pesquisas em centros de difusão
de conhecimento e transferência de tecnologia entre empresas estrangeiras e instituições de ensino e pesquisa federais.
Para tanto, a candidata propõe o fortalecimento dos 122 institutos implantados, o aumento de 50 mil para 220 mil pesquisadores, mestres e doutores, a implantação de 450 novos centros tecnológicos, escolas técnicas em cidades com mais
de 50 mil habitantes e o aumento de bolsas concedidas pelo CNPq e Capes. Além da implantação do número de patentes,
domínio das tecnologias de fabricação de satélite e veículos lançadores e aumento do monitoramento por satélite do desmatamento dos biomas brasileiros. Dilma também inclui em sem plano de governo a melhora dos mecanismos de crédito
e o aumento da produtividade no País. A candidata sugere, como forma de incentivo ao desenvolvimento tecnológico, o
aumento dos investimentos em pesquisa e inovação de 1,4% do PIB para até 2%.
José Serra
Partido PSDB
Coligação “O BRASIL PODE MAIS”
Vice ÍNDIO DA COSTA
Com foco no desenvolvimento industrial, Serra propõe o apoio às instituições de pesquisa e formação tecnológica,
com recursos públicos e privados. O candidato ainda reconhece a necessidade de estimular a integração entre
universidades e empresas, possibilitando a contratação e treinamento de novos cientistas. Para o candidato do
PSDB, os recursos aplicados em inovação devem visar também o meio ambiente, com investimentos em energias
renováveis, controle de poluição, incentivo de tecnologias limpas e proteção e recuperação ambiental. Serra pretende
ampliar para todo o Brasil alianças como a que o governo do Estado de São Paulo possui com a FAPESP (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e as universidades estaduais USP, UNICAMP e UNESP. Além disso,
o candidato pretende elevar de 5% para 18% o número de doutores formados no País e estudar a criação de uma
agência nacional de inovação para tratar de políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Marina Silva
Partido VERDE
Vice GUILHERME LEAL
Marina Silva vê o conhecimento como base para a prosperidade sustentável do país. Por isso, tem como proposta a
crescente parceria entre as instituições de ensino e ações sociais que impulsionam o desenvolvimento e a sustentabilidade ambiental. Para a candidata do PV, o investimento em inovação é a saída para aproveitar melhor o território
e as riquezas naturais do país, através de uma economia sustentável e com baixa emissão de carbono. Marina propõe
o incentivo ao empreendedorismo, criatividade e inventividade como impulsionadores da economia, além da valorização da inovação tecnológica como elemento fundamental para o desenvolvimento. A candidata pretende ainda
priorizar o desenvolvimento da bioeletricidade como matriz energética, criando condições para levar o combustível
feito a base de cana-de-açúcar para o transporte público no Brasil.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
9
notas
novidade no ar: presidente Lula
inaugura TV dos Trabalhadores
Em 23 de agosto, foi ao ar o primeiro programa produzido pela TV dos Trabalhadores (TVT). Após a transmissão,
o Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, discursou e afirmou que a estreia da TVT representa um
divisor de águas no processo da democracia. “A emissora, dirigida por trabalhadores, dá novo vigor a algo que
é sagrado para todos nós: a liberdade de imprensa”. A
programação é gerada pelo canal 46 de Mogi das Cruzes
e retransmitida por uma rede de canais, entre eles o 48
UHF, que alcança a Grande São Paulo e a Região do
ABCD. Valter Sanchez é o diretor responsável pelos programas, exibidos entre 19h00 e 20h30. A programação
também está disponível no portal www.tvt.org.br
Lula discursa na estreia da TVT
Novos ônibus para a Copa
A Scania anunciou a criação do ônibus BRT (Bus Rapid Transport), programado para operar em nove
das 12 cidades da Copa 2014. O investimento do País, nesse tipo de transporte, será de R$ 6 bilhões
até 2013. Com fábrica em São Bernardo, a Scania terá a divisão de BRT comandada por Claudio de
Senna Frederico, ex-secretário de Transportes do Estado de São Paulo. Empresas do setor de transporte
querem aproveitar o impacto dos projetos da Copa para que, até o fim da década, o sistema BRT esteja
implantado em mais 38 cidades. Para os transportadores, os BRTs têm custo de implantação equivalente a um décimo do metrô e pode ser feito em menos tempo. Algumas linhas de BRT têm capacidade
para transportar até 45 mil passageiros/hora, metade da capacidade máxima de uma linha de metrô.
programe-se
Governo cria
Sala de Inovação
As empresas brasileiras que planejam investir
no desenvolvimento de novas tecnologias terão
o apoio do governo federal com a criação da
Sala de Inovação. O novo espaço, cujo local e
data de implantação estão sendo definidos,
reunirá órgãos oficiais para apoiar os empresários na elaboração de projetos, captação de
recursos e outras atividades. A criação da sala
foi proposta pela Mobilização Empresarial pela
Inovação (MEI), movimento liderado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Diadema eleva
taxa de emprego
O setor industrial na região do ABCD criou,
aproximadamente, 1,3 mil postos de trabalho
no mês de julho, de acordo com pesquisa realizada pelo Ciesp (Centro das Indústrias do
Estado de São Paulo) e pela Fiesp. Diadema
registrou o melhor resultado e foi responsável
pela criação de 1,2 mil vagas na indústria, alcançando o terceiro melhor resultado entre as
regionais do Ciesp no Estado. O crescimento
foi estimulado pelas variações positivas dos
setores de produtos de metal. Em todo o Estado, a pesquisa do Ciesp/Fiesp registrou a
criação de 12,5 mil postos de trabalho, um
crescimento de 0,5% no nível de emprego industrial estadual.
14 a 16 de SETEMBRO
TecnoBebida Latin America | 8ª Feira Internacional de Soluções e Tecnologia para a Indústria de Bebidas da América Latina. Local: Transamérica Expo Center - Av. Dr. Mário Villas Boas Rodrigues, 387, Santo Amaro, São Paulo, SP
20 a 24 de SETEMBRO
XX Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas e XVIII Workshop ANPROTEC
“Desbravando Campos Inovadores, Desenvolvendo Empreendimentos Sustentáveis”.
Local: Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, Parque dos Poderes, Campo Grande, MS
18 a 24 de OUTUBRO
SNCT | Semana Nacional de Ciência e Tecnologia - Ciência para o Desenvolvimento Sustentável. Local: Em todo
o Brasil. Mais informações no Ministério da Ciência e Tecnologia, Esplanada dos Ministérios, Bloco “E”, Sala 278,
Brasília, DF | http://semanact.mct.gov.br/
23 a 28 de OUTUBRO
JOINT CONFERENCE 2010 | XX Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial, XI Simpósio Brasileiro de Redes Neurais e IV Encontro de Robótica. Local: Campus Universitário da FEI SBC, Av. Humberto de Alencar Castelo Branco,
3972, São Bernardo do Campo, SP
10
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
Prêmio para
novas ideias
Estão abertas as inscrições para o 2° Prêmio
Suvinil de Inovação, que tem como objetivo incentivar a criação de projetos de inovação e desenvolvimento nas áreas de decoração, química e produtos. Podem se inscrever estudantes
matriculados em qualquer curso de graduação
ou técnico no ano letivo de 2010, e seus orientadores, que devem ser vinculados à mesma
instituição de ensino dos alunos, além de uma
categoria destinada também a profissionais. As
inscrições seguem até 10 de outubro e podem
ser realizadas pelo site http://www.suvinil.com.
br/Inovacao
evento
lançamento da inovabcd
Evento promove encontro de agentes inovadores da Região
A edição número 1
da revista INOVABCD
foi comemorada
em um lançamento
que proporcionou
a troca de ideias
entre agentes da
inovação das sete
cidades do ABCD.
O evento, realizado
na Pinacoteca de
São Bernardo do
Campo, contou
com a presença
de representantes
das prefeituras,
universidades,
empresas e
entidades. O
lançamento da
INOVABCD refletiu
sua proposta:
olhar diferenciado
e reflexão diante
do potencial de
crescimento que a
Região detém com
a ferramenta da
inovação.
A INOVABCD surge
em um momento de
efervescência de inovações.”
Uma revista como a
INOVABCD é a chance de
trazer reflexões sobre um
assunto que faz parte do
nosso dia-a-dia.”
Luiz Marinho, Prefeito de SBC
Plínio Zornoff Taboas, pró-reitor da UFABC
A revista terá a mesma
qualidade do ABCD MAIOR
e tratará de um tema
importante para a Região,
mas pouco valorizado pela
imprensa.”
As inovações estão
em todos os cantos, basta
ter um olhar aguçado para
percebê-las.”
Marcelo Mauad, diretor
da Faculdade de Direito São
Bernardo
Edinaldo de Menezes, viceprefeito de Riberão Pires
É preciso promover
o diálogo entre o que é
produzido nas indústrias
e pesquisado nas
universidades.”
Desconheço no País
uma publicação que trate
tão diretamente do tema
inovação.”
Jefferson Conceição,
Secretário de Desenvolvimento
Econômico de SBC
Fausto Cestari, assessor
especial em Tecnologia e
Inovação de São Caetano
O Brasil precisa se
apropriar dos meios de
produção para evoluir, e a
revista vem em um ótimo
momento, a fim de produzir
esse debate e influenciar
decisões estratégicas.”
Promover a mudança
e avançar é a missão da
Região.”
Luis Paulo Bresciani,
Secretário de Desenvolvimento
Econômico de Diadema
Sérgio Nobre, presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Celso Horta, diretor da
INOVABCD: O ABCD precisava
de uma revista que mostrasse
a natureza da atividade social,
política e empresarial da Região
e tudo isso passa pela inovação.”
Fernando Campoi, Marcel
Dellabarba, Evandro Nogueira
e André Senador, executivos
do Grupo Volkswagen do Brasil:
“Parabéns pela iniciativa pioneira.”
especial robotização
braços
mecânicos
Excelência e agilidade garantem o espaço
dos robôs nas montadoras do ABCD
Clébio Cavagnolle Cantares
12
AMANDA PEROBELLI
Braços mecânicos
na linha de produção
da Volkswagen,
responsáveis por
processos como
soldagem, estamparia,
carroceria, pintura e
manipulação de peças
13
especial robotização
Atualmente, não
existe defasagem
tecnológica entre
os sistemas
de automação
utilizados no
Brasil comparados
aos países
tradicionalmente
líderes em
tecnologia.
Garra mecânica na
linha de montagem da
Volkswagen, que possui
510 robôs apenas na
fábrica de São Bernardo
do Campo
xcelência e agilidade. Essas são as qualidades empregadas aos robôs da
indústria automobilística
no Grande ABCD, terra
que abriga boa parte das
montadoras brasileiras.
Na região, estão instaladas a Volkswagen, a
Ford e a General Motors (GM), todas detentoras
de linhas de produção automatizadas, ou seja, utilizam na fabricação de automóveis os famosos (e no
passado, razão de muita discórdia) robôs.
As máquinas, embora parecidas na estrutura,
se diferenciam pela aplicação em processos de
ferramentas para manipulação, soldagem, laser,
medição, aplicação de massas, alternadas especificamente para cada função dentre estamparia,
carroceria, pintura e montagem final. Só na região, são 1.019 robôs. A Volkswagen lidera com
510 máquinas, seguida pela GM, com 259, e Ford
com 250. Os números retratam apenas os equipamentos em funcionamento no ABCD.
A busca pela inovação é constante, especialmente nos processos de soldagem, pintura e movimentação de peças que, segundo as indústrias,
são atualizadas constantemente por equipamentos cada vez mais rápidos e precisos. O objetivo
é comum: a busca por robôs mais ágeis, leves
e menores, que se integrem com facilidade ao
conjunto de ferramentas da linha de produção.
Atrelado a isso, A Volkswagen e a Ford utilizam
simuladores capazes de estudar e testar virtual-
mente novos processos antes de preparar a
produção ou requisitar um novo equipamento aos fornecedores de robôs.
No topo das inovações em automação
está a modernização da soldagem, hoje realizada mais frequentemente por máquinas,
o que gerou mais precisão, agilidade e segurança, culminando com produtos mais bem
acabados e seguros. Apesar de ser um item de
prateleira, como define Olavo Vidal, gerente
de Engenharia de Manufatura e Armação
da Volkswagen, o robô precisa ser adequado
e integrado aos sistemas e equipamentos da
montadora, justamente onde entra o simulador Fábrica Digital.
“Utilizamos este conjunto de softwares para
sabermos se a resposta obtida nas simulações é
a melhor para o processo. Eram testes traçados
em pranchetas e, agora, essa ferramenta permite ajustes antes de o projeto ir para a linha de
montagem. É um estudo que permite sabermos
quantos e quais tipos de robôs, pinças e ferramentas vamos precisar para uma determinada
célula ou ilha, que é o conjunto operacional
pelo qual o carro passa na linha de produção”,
explica Vidal. Os softwares simulam a interação
do homem com os equipamentos, inclusive, na
questão de ergonomia. “O sistema indica se determinada atividade, realizada de forma repetitiva, é confortável e eficaz para o trabalhador, ou
se precisa ser redefinida, ou ainda, realizada por
robôs. Hoje, conseguimos antecipar problemas
da linha por meio da simulação virtual.”
Segundo Silvio Illi, gerente da planta industrial da Ford em São Bernardo, a montadora conta com uma área dedicada a “virtual
manufacturing”, na qual os novos processos
são estudados, desenvolvidos e testados virtualmente antes de serem requisitados aos
parceiros especialistas, ou seja, antes de a
indústria encomendar um robô. “Todo ano
temos investido em inovação e tecnologia.
Processos de soldagem, pintura, movimentação de partes e produtos são atualizados
constantemente. O avanço tecnológico é um
processo de inovação e transformação que
possui uma função essencial para o negócio
automotivo se manter competitivo no mercado global”, explica o gerente.
A pesquisa e o desenvolvimento para automação são realizados dentro das empresas, seguindo a padronização de suas matrizes. Os robôs, entretanto, são adquiridos em geral de três
fornecedores: Kuka, B.V. e Fanuc. Os processos
para aquisição e instalação são terceirizados,
conforme acordos globais com parceiros espe-
AMANDA PEROBELLI
cializados no desenvolvimento e implementação
dessas tecnologias de processos.
“São empresas especializadas e dedicadas
ao desenvolvimento e à produção de equipamentos. Atualmente, não existe defasagem
tecnológica entre os sistemas de automação
utilizados no Brasil comparados aos países tradicionalmente líderes em tecnologia.
Com o advento da globalização, os mesmos
OEM’s (Integradores de equipamentos) dos
países desenvolvidos estão presentes no Brasil e oferecem as mesmas tecnologias e soluções. Nossos fornecedores têm suas matrizes
radicadas nos Estados Unidos e na Europa”,
afirma o executivo da Ford.
Na Volkswagen os robôs são utilizados em
solda, armação, pintura, estamparia, colagem de vidros e montagem final. De acordo
com Vidal, em sua gerência – que responde
pelas fábricas paulistas Anchieta e Taubaté
(a mais moderna linha de Armação da marca alemã) e São José dos Pinhais, no Paraná – as pesquisas direcionam para a busca
de uma nova geração de robôs, seguindo
padrões mundiais da empresa. “Procuramos
novos processos de soldagem e, nessa busca por modernidade e eficiência, queremos
máquinas que tenham melhor interface com
os demais equipamentos, algo com controle
integrado, de forma que o conjunto se comunique perfeitamente e agregue ganho de
produtividade”, destaca o gerente.
A GM adotou um sistema global de manufatura (GMS – Global Manufacturing System), o que vem gerando modernização nas
plantas da montadora, tanto no processo produtivo, por meio de otimização das instalações
e do layout das fábricas, quanto na instalação
de novas ferramentas e equipamentos, no fluxo
do abastecimento de materiais para a linha de
montagem e logística. Algo que, segundo a empresa, começou com a produção do Chevrolet
Agile, na moderna unidade industrial de Rosario, na Argentina, uma das primeiras fábricas
da empresa a seguir o GMS.
Segundo a montadora, os sistemas automatizados garantem mais qualidade e uniformidade ao resultado final dentro dos processos de funilaria, pintura e montagem final,
com maior nível de repetição dos processos,
trazendo benefícios em termos de segurança e
ergonomia aos operadores, bem como melhora consistente na qualidade final dos veículos
produzidos. As novidades estão em várias
etapas do processo de manufatura, em
especial na soldagem. O nível de segu-
Olavo Vidal, gerente
de Engenharia de
Manufatura da
Volkswagen: “Hoje,
conseguimos antecipar
problemas da linha de
montagem por meio de
simulação virtual”
DIVULGAÇÃO
especial robotização
16
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
... apesar de
toda a evolução
tecnológica,
a presença
do homem é
imprescindível para
criar e controlar
a máquina. O
mercado está
em busca de
profissionais
dinâmicos que se
atualizam com
rapidez, facilidade e
dominem as novas
tecnologias”
Silvio Illi, gerente da planta
industrial da Ford em SBC
Linha de montagem da
Volkswagen: integração
homem-máquina
rança das operações da GM Mercosul, aliás, é
motivo de orgulho na companhia. “As unidades
industriais da região estão entre as mais seguras,
equiparadas àquelas que chamamos de fábricas
de referência”, observa José Eugênio Pinheiro,
vice-presidente de manufatura da GM na América do Sul.
O dilema da máquina contra o trabalhador é
tido como superado pelas empresas. Na visão dos
executivos, a automação contribui para o elevado padrão de eficiência e qualidade da operação,
além de resultar em ganho na produtividade e na
redução de processos antiergonômicos. “O trabalho braçal e repetitivo é uma forma de trabalho que naturalmente tem cedido espaço para a
tecnologia e para a automação. Esse processo foi
iniciado com a Revolução Industrial e, desde então, o mundo está cada vez mais automatizado”,
destaca Illi, da Ford. “No entanto, apesar de toda
a evolução tecnológica, a presença do homem é
imprescindível para criar e controlar a máquina.
O mercado está em busca de profissionais dinâmicos que se atualizam com rapidez, facilidade e
dominem as novas tecnologias.”
Para o vice-presidente de Recursos Humanos
da Volkswagen, Josef-Fidelis Senn, aumentos ou
reduções nos processos de automação são justificados principalmente pelos fatores: ergonomia,
qualidade, financeiro e produtividade. “É fácil
perceber que o nível de automação na indústria
automobílistica cresceu muito nos últimos anos.
Devido aos altos níveis de recursos demandados,
toda automação considerada como não mandatória requer uma criteriosa análise dos resultados financeiros. É preciso analisar se o balanço
entre estes resultados, custos de produção, produtividade, amortização e impactos em qualidade serão positivos”, diz Senn. “O fator qualidade
deve ser avaliado de uma forma especial quando
se fala em automação, uma vez que processos
seguros e estáveis aumentam os níveis de qualidade do produto final. O nível de automação na
indústria automotiva no Brasil ainda é menor do
que na Europa, Estados Unidos e Japão, porém,
com o aumento da demanda por produtividade,
qualidade e competitividade, a tendência é um
aumento gradativo deste índice nos próximos
anos”, acrescenta o executivo.
Senn destaca que, hoje, diferentes tecnologias
são necessárias para o aumento da automação,
em especial a robotização. “Existem diversas
outras tecnologias que são utilizadas, como as
modernas linhas de prensas que fazem o processo de estampagem aumentar sua eficácia em até
300%, as linhas de pintura com dispositivos automáticos de pré-tratamento e aplicação de tinta
em carrocerias, e também a integração de
sistemas de informação, sistemas integrados
de controle, como os supervisórios e sensorização, entre outros”, afirma o vice-presidente de RH da montadora alemã. “Nossa
avaliação é de que a automação gera benefícios diretos aos trabalhadores, pois garante
o aprimoramento contínuo das condições de
trabalho, especificamente para as questões
de ergonomia, além de permitir uma melhor
organização dos processos. Considerando o
nível de automação existente em nossas fábricas, não entendemos como um fator de redução de postos de trabalho, mas como uma
oportunidade para o aperfeiçoamento das
atividades. E isso é o que temos constatado
em nossas unidades produtivas”, conclui.
A prova disso, segundo ele, está na contratação de 312 funcionários para a fábrica Anchieta em agosto, com o objetivo de ampliar
a capacidade de produção. Os novos colaboradores atuam nas áreas de armação, pintura
e montagem final. Para reforçar sua trajetória de crescimento no Brasil, a Volkswagen
anunciou, no fim de 2009, investimentos da
ordem de R$ 6,2 bilhões no País entre 2010
e 2014. Com a injeção de crescimento previsto para este ano e as atuais contratações, a
capacidade de produção da fábrica Anchieta
será elevada dos atuais 1,3 mil veículos por
dia para 1,6 mil unidades diárias.
Segundo o coordenador da Comissão de Fábrica na Volkswagen Anchieta, José Roberto
Nogueira da Silva, o dilema da queda de braço
entre máquinas e trabalhadores ocorrido quando a automação teve início, no final da década
de 90, hoje é compreendido. “A empresa precisava de velocidade e precisão na produção para
ser competitiva. Alguns serviços eram muito
difíceis de fazer, além da demora. Se não houvesse a modernização, a fábrica não resistiria.
Hoje, vemos grandes avanços, especialmente
na tecnologia em soldagem. Desgasta menos o
trabalhador, traz velocidade e competitividade
para a empresa. A máquina precisa do ser humano para comandá-la e o ser humano precisa
dela para ter perfeição e agilidade. Claro que
houve um preço a ser pago no começo, mas
hoje é mais tranquilo”, destaca José.
A visão das montadoras é única sobre um
fator essencial: atender as demandas do mercado de forma competitiva, com produtos
em escala de produção rápida e com o máximo nível de qualidade, o que só é possível
por meio da modernização dos processos produtivos.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
17
especial robotização
Em 21 anos,
montadoras do
ABC perderam
58 mil empregos.
A média é de
2,8 mil ao ano
Para Sérgio Nobre,
presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos do
ABC, o avanço da
tecnologia é inevitável,
mas deve ser pensado
de forma responsável
O outro
lado da
robotização
Niceia Climaco
A reestruturação da indústria automobilística no ABCD, a partir dos anos 1990,
com a introdução da robotização, estava
diretamente ligada ao cenário internacional
de mudanças da produção. Os novos métodos de organização afetaram o nível de
emprego, com perda de postos de trabalho
nas empresas. Diante dessa nova realidade
e como resultado da inovação, a indústria
nacional tornou-se mais competitiva, ganhou projeção internacional e o volume de
produção passou a ser recorde.
Em 21 anos, as indústrias metalúrgicas
do ABC perderam 58,7 mil empregos, o que
significou 2,8 mil postos de trabalho a menos
por ano. Os dados são baseados no levantamento da subseção Dieese (Departamento
Intersindical de Estudos Sócioeconômicos
e Estatísticos) do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, que inclui as quatro cidades,
Santo André, São Bernardo, São Caetano e
Diadema. Em 1989, as empresas empregavam 159,2 mil trabalhadores e em 2010, até
maio, um total de 100,5 mil pessoas. Nessa
base do sindicato, as montadoras e autopeças são representativas, significam 55%
do total. Só as indústrias automobilísticas
equivalem a 30%.
A história da perda, mas também da recuperação de emprego, sofreu influência das
medidas adotadas pelos governos Collor, Fernando Henrique e Lula, nos últimos anos. Na
época do presidente Collor, em 1990 – as indústrias metalúrgicas no ABCD, com grande
presença das montadoras –, tinham 119 mil
trabalhadores. Daí até o final da gestão FHC,
em 2002, eram 79,7 mil empregados, uma redução de 30,5 mil postos de trabalho, em 12
anos. Esse período foi marcado por uma política de recuperação econômica, com alta de
impostos e abertura indiscriminada do mercado nacional às importações.
O processo de reestruturação interna
obrigou a indústria nacional a investir na
modernização do processo produtivo,
qualidade e lançamento dos novos
produtos no mercado. Toda essa modernidade
era necessária para as empresas se tornarem
mais competitivas, tanto no mercado interno
quanto no externo. O aumento de produtividade foi fundamental para a sobrevivência
das empresas. Porém, para os trabalhadores,
significou perdas de postos de trabalho. A recuperação começou a ser notada a partir do
governo Lula. Em 2004, o emprego nas indústrias da Região, na base do Sindicato dos
Metalúrgicos do ABC, era de 86,6 mil postos
de trabalho. Em 2010, até maio, as empresas
contabilizavam um total de 100,5 mil empregos, um acréscimo de 13.8 mil vagas, em cinco
anos e meio.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sergio Nobre, considera drástica a perda de postos de trabalho se a iniciativa for vista de forma isolada. Ele diz que
o avanço da tecnologia é inevitável, porém a
mudança deve vir acompanhada de uma série de medidas. A redução da jornada de trabalho, por exemplo, contribui para diminuir
o desemprego. E isso é realidade nas empresas da Região. “Aqui, a jornada de 40 horas é
praticada há mais de 10 anos”, afirma.
Outro aspecto analisado pelo sindicalista é o
de que a robotização foi introduzida em alguns
setores das montadoras como solda e pintura.
Nesse caso, Nobre considera a medida positiva, já que se tratavam de áreas que prejudicavam a saúde do trabalhador. “O movimento
repetitivo e o forte cheiro de produto químico
adoeciam os trabalhadores”, comenta.
Se, por um lado, as empresas demitiram
e reduziram jornada, por outro, investiram
na reestruturação da produção. “Foram
criadas novas formas de organização da
produção em células, a produção foi racionalizada e os estoques reduzidos”, conta.
Além disso, outro fato deve ser levado em
conta. A realidade hoje é diferente da vivida
naquela época. Antigamente, as montadoras fabricavam todos os componentes dos
veículos. Hoje, os serviços foram terceirizados, o que significa que parte da perda dos
postos de trabalho pode ter sido absorvida
pela cadeia da indústria automotiva, como
a indústria de autopeças.
Se considerado o emprego na indústria
automobilística nacional, o quadro é de crescimento. Em 2010 (até junho) o segmento
empregava 112 mil trabalhadores, 2,8% a
mais do que em 1991, com 109 mil postos de
trabalho, de acordo com o Dieese.
FOTOS: AMANDA PEROBELLI
GIORGIO ROMANO
MÁRIO SALERNO
ARTUR HENRIQUE
fantasma da destruição – A
reestruturação da indústria automobilística veio acompanhada de novas formas
de organização da produção. Os métodos,
gestão de trabalho e automação da produção passaram a ser a meta das grandes
companhias americanas e européias, tanto
nas matrizes quanto nas subsidiárias espalhadas pelo mundo.
O professor da área de Economia Institucional da Universidade Federal do ABC
(UFABC), Giorgio Romano, explica que
as mudanças nas empresas da Região estavam atreladas a um movimento mundial,
relacionadas a importantes fatores que explicam o quadro de emprego. Primeiro, o
modelo americano de produção enfrentava
uma crise nos anos 70 com o aumento brutal do preço do petróleo, o que gerou uma
recessão em toda a Europa. Na sequência,
começou a surgir a preocupação com o
meio ambiente, ou seja, era necessário que a
produção levasse em conta a inovação para
provocar uma resposta positiva ao ambiente. E, por fim, a grande concentração de
trabalhadores provocava uma organização
sindical mais forte.
“Juntou-se a isso uma economia concorrente forte, a do Japão, que introduzia no
mercado carros pequenos e mais econômicos”, explica. Segundo ele, essa situação
acelerava a busca por um novo padrão de
produção, consequentemente com reflexos
no nível de emprego.
De acordo com o professor Romano, o
fantasma que se imaginava da destruição
da indústria acabou não se concretizando.
Embora com menos postos de trabalho, a
indústria é mais competitiva e os trabalhadores ganharam em qualificação profissional, condição necessária para o novo modelo que começava a se formar. “Houve pouco
desinvestimento”, afirma. Ao contrário, a
produção de veículos hoje é estimada em
três milhões de unidades, três vezes superior
ao volume fabricado há vinte anos, de cerca
de um milhão de veículos no país.
“No primeiro momento houve um processo inevitável de redução drástica da mão
de obra, mas o importante foi que as empresas não saíram daqui, ainda permanecem e
mais tarde, com a estabilização da economia, como vemos hoje, houve uma expansão. Ou seja, com a robotização tem menos
trabalho, mas aumenta a produtividade, a
economia cresce e absorve os trabalhadores”, explica.
Além desse aspecto, Romano explica outra contrapartida da automação industrial.
O novo sistema de produção exige mais
qualificação dos trabalhadores. “E ainda
cria mais condições para discutir a jornada de trabalho. Hoje, a sociedade está mais
preparada para discutir 40 horas”.
ascensão japonesa – Para o
professor de Gestão da Inovação da Poli
(USP), Mario Salerno, é difícil atribuir a
redução do número de postos de trabalho
exclusivamente à automação,. “Ainda há
uma infinidade de trabalhadores em área de
retaguarda”, diz. De acordo com ele, não se
pode ver o fato de uma forma isolada. “A
Volkswagen de São Bernardo, por exemplo,
não está só nesta Região. A montadora tem
fábrica também no Rio de Janeiro e no Paraná”, observa.
Outro aspecto observado por Salerno é
o patamar da indústria que deve ser levado
em conta e o controle de gestão, que veio
atrelado às mudanças. “Hoje, o tamanho da
fábrica é outro, bem menor e mais fácil do
que gerenciar 40 mil trabalhadores em apenas uma empresa”.
O presidente nacional da CUT (Central
Única dos Trabalhadores), Artur Henrique,
ressalta que as atuais referências e os panoramas são outros. No início eram apenas
três grandes montadoras, Volkswagen, Ford
e GM. A Fiat chegou depois e mais recentemente houve a invasão das europeias e das
japonesas como Peugeot, Citroën, Renault,
Toyota e Honda. “A indústria vive de produto, o que determina é o modelo”, afirma
o sindicalista. Para se ter uma ideia do que
representou a ascensão japonesa, em 1960,
o Japão participava com apenas cerca de 3%
da produção mundial. Sua fatia pulou para
mais de 30% no final dos anos 80.
Artur Henrique explica que a introdução
das novas tecnologias na indústria é inevitável, porém o processo aumenta a produtividade. “Naquela época se falava que o
emprego iria acabar, mas, isso não se confirmou”. Ele explica que muitos postos de trabalho foram eliminados, mas foram
absorvidos em outras funções.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
19
especial robotização
VINICIUS NAVARRO
Os robôs e
seus problemas
maravilhosos
A robotização era inevitável e os
metalúrgicos alemães passaram a liderar
as discussões sobre a inovação
Flávio Aguiar
As máquinas têm histórias fascinantes. Talvez
tanto pelas soluções que trazem – aliviando o
fardo dos humanos – quanto pela ameaça que
representam na imaginação – tornando estes
inúteis. Minha mãe me contava uma história
fantástica. Numa noite de gala, no Teatro São
Pedro, até hoje o mais importante em Porto Alegre, uma platéia tão seleta quão numerosa lotou
cadeiras, frisas e camarotes para ouvir ópera.
Mas no palco não havia um único cantor. No
centro da cena, perante os olhares siderados, estava uma máquina: uma vitrola automática. A
maravilha estava menos na qualidade das gravações apresentadas, de cantores famosos na época
(Enrico Caruso, Tito Schipa, entre outros), e mais
no fato de que aquela máquina trocava os discos
sozinha, com a ajuda de um braço mecânico.
Robô: história de uma palavra
O fascínio da máquina era um tema da época
(começo do século XX), e foi a base para a criação e a popularização da palavra robô. A palavra nasceu na literatura, em língua tcheca. Quem
primeiro a usou em público foi o escritor Karel
Capek (1890 – 1938), mas ele dizia que o verdadeiro criador fora seu irmão, também escritor,
Josef Kapek (1887 – 1945, morto num campo de
concentração nazista).
A expressão nasceu no meio de uma família
de palavras: rab, escravo; robota, trabalho rotineiro e sem imaginação, ou também trabalho
forçado; e robotnik, servo. A peça, escrita em
1921 e estreada em 1922, chamava-se (em inglês,
língua para a qual foi logo traduzida) “Rossum’s
Universal Robots”. Esse era o nome de uma
empresa, então no “futuro” – lá pelos anos 50
do século passado – especializada na criação de
robôs, que substituíam os humanos. Esses robôs
tinham menos de mecânica e mais de engenharia
genética (termo então desconhecido), mas ainda
assim tinham de ser “montados”.
O passo seguinte coube ao escritor norte-americano (nascido na Bielo-Rússia) Isaac Asimov
20
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
“No palco não havia
um único cantor. No
centro da cena, perante
os olhares siderados,
estava uma máquina:
uma vitrola automática”
À direita, Joachim
Fährmann, representante
sindical da Volkswagen,
em Wolfsburg, Alemanha
(1920 – 1992). Em 1941, no seu conto “Liar”
(“Mentiroso”), Asimov criou a palavra robotics – robótica – para descrever a criação, o estudo e o que chamou de “as leis da robótica”,
segundo as quais um robô não deve fazer mal
aos humanos, deve obedecer a eles, salvo se
isso contrariar a primeira lei, e deve preservar
a si próprio, desde que isso não contrarie as
leis anteriores.
inovações dramáticas
Desde a Antiguidade, o homem cria máquinas – muitas apenas para diversão – que
se assemelham aos seres vivos, ou reproduzem suas atividades, desde patos mecânicos
que podem “comer” e “excretar” até bonecos
que tocam piano. Mas essas práticas inocentes traziam também à tona um secreto medo
de que essas “criações” fossem o espelho de
uma lenta, mas segura e gradual “desumanização”. A humanidade estaria se transformando segundo a imagem das peças mecânicas que criava, não só se tornando supérflua,
mas também “robotizando-se”. Esse temor
virou dramático na mesma medida em que,
a partir de meados do século XX, os robôs
viraram a vanguarda da automação na indústria e outras atividades paralelas.
O primeiro “robô moderno” entrou numa
linha de produção em 1960, na General
Motors, para lidar com peças extremamente quentes. A partir daí, o uso de aparelhos
semelhantes, digitalizados e programáveis,
se alastrou por toda a indústria, definindo
uma nova “modernidade” que tornava tudo
que viera antes “obsoleto”. A automatização
das linhas de produção ganhou em volume e
intensidade durante as décadas de 70 e 80,
mudando a relação dos trabalhadores com
as máquinas e introduzindo modificações
nas fábricas e na organização do seu espaço. Aliada à prática do chamado Toyotismo
como ideal de processo produtivo e à idéia
da produção just in time, a crescente automatização mudou a paisagem do trabalho.
Aparentemente, as máquinas podiam pulverizar o trabalho humano – e também, o que
era mais dramático, os postos de trabalho
antes a eles reservados. Para se proteger dessa condição, o trabalhador teria de enfrentar
a obrigação de esquecer os “sentimentos humanos”: solidariedade, criatividade e outros.
Enfrentar a “obrigação” de “robotizar-se”,
de criar uma nova identidade, definida não
mais pela sua própria história, mas pela sua
inserção nas expectativas de uma empresa.
Uma história diferente
Mas nem tudo precisava acontecer assim.
Tive a oportunidade de conversar com dois
membros do sindicato IG Metall, dos metalúrgicos alemães, sobre uma experiência
original e criativa desenvolvida na sede da
Volkswagen, em Wolfsburg, na Alemanha:
o brasileiro Flávio Benites (assessor para
relações internacionais) e o alemão Joachim
Fährmann, coordenador do processo interno de discussão sobre “Organização inovadora do trabalho” na fábrica.
Para ambos, a chave inovadora do “processo Volkswagen” esteve no comportamento do
sindicato diante da crise pela qual a empresa
passou em 2005, quando esteve ameaçada de
perder o controle sobre seu próprio capital e
sobre as decisões a serem tomadas.
Segundo Joachim, a seção sindical do IG
Metall na Volkswagen compreendeu que
inovações na organização do trabalho dentro da fábrica eram inevitáveis, e tomou a
iniciativa de liderar o processo de discussão
dessas inovações. Essa disposição, ao invés
do posicionamento sistematicamente contrário a mudanças na forma do trabalho,
preservou a capacidade do sindicato e dos
trabalhadores na manutenção de direitos, de
postos de trabalho e também os capacitou a
discutir as condições gerais da produção industrial e suas implicações na Volkswagen.
O processo, que começou em 2006, continua até hoje, e, segundo Joachim, com razoável sucesso. Ele chegou a ser definido como o
estabelecimento de “um micro-corporativismo
democrático”, que substituiu o corporativismo
tradicional, de caráter vertical, hierarquizado
ao máximo, e avesso a discussões amplas.
Segundo Joachim e Benites, tudo o que se
passa na fábrica, em termos de inovação ou
reorganização dos processos de trabalho, envolve a discussão nos grupos envolvidos. O
acúmulo de conhecimento e de know-how
organizacional desse processo, que vai para
o quinto ano de duração, é imenso. As condições do IG Metall na Volkswagen, e as da
própria fábrica, são muito especiais.
Na prática, existe uma quase identificação
entre a Volkswagen e a cidade de Wolfsburg, a
uma hora de Berlim, a oeste. Tudo, na cidade,
“é Volkswagen”. Isso gera, por exemplo, uma
condição muito diversa daquela vivida, por
exemplo, no ABCD, onde diferentes montadoras de grande porte convivem no mesmo município, cada uma com seu estilo e organização.
Em segundo lugar, diversamente de outros lo-
cais de trabalho, o IG Metall representa todos os
tipos de trabalhadores envolvidos na produção
– da montagem aos escritórios, do operário ao
engenheiro. Isso dá um poder de representação
ao sindicato que são raros na Alemanha e fora
dela. O IG Metall representa 89% dos trabalhadores da Volkswagen, e assim tem a condição de
liderar, além do contrato coletivo de trabalho, a
discussão das condições específicas em cada seção da fábrica. Aí reside outro aspecto original:
a discussão desses contratos se dá diretamente
com a direção da fábrica. Isso, segundo Joachim, reforçou o papel do sindicato ao tomar ele
a iniciativa da discussão sobre a reorganização
do trabalho, seja junto à sua base ou ao management da empresa. “Com isso”, disse Joachim,
“impedimos também que a fábrica absorvesse a
identidade dos trabalhadores.
Assim mesmo, os números que traduzem
a dimensão da fábrica e sua nova realidade são dramáticos. Cinquenta anos atrás, a
Volkswagen tinha 60 mil operários na linha
de montagem. Hoje, tem 60 mil trabalhadores ao todo. Mas na montagem estão 18 mil.
Perguntado sobre o futuro desse processo,
Joachim declarou que ele está “na puberdade”.
É preciso, insistiu, que ele amadureça dentro da
própria fábrica para tornar-se uma cultura que
atravesse gerações; isso, estima ele, deve levar
pelo menos mais cinco anos. Depois, deverá
ser posto em cotejo com outros processos, de
outras montadoras. E mais tarde ainda, deverá
entrar em contato com processos de outros setores produtivos da sociedade.
Perguntado sobre o que diria a seus colegas
sindicalistas do Brasil, Joachim ponderou:
“Eu contaria a nossa história, para que entendessem a natureza do nosso processo, e o
que isso teria de interessante para os processos que eles estão vivendo, sem querer impor
nada, ou sequer sugerir que o nosso resultado
é melhor do que outros”.
O exemplo mostra que a robótica, agora
entendida como um aspecto da produção, não
precisa necessariamente se confundir com a robotização dos
processos, ambientes de
trabalho ou dos seres
humanos que ali convivem. Tudo depende
deles, e de quem tem a
iniciativa nas transformações, bem como do
modo em que dividem
e organizam o poder das
decisões.
AMANDA PEROBELLI
especial robotização
Robôs da FEI
batem bola
Em outubro, a instituição receberá
um dos mais importantes eventos de
robótica da América Latina
Camila Galvez
Flávio Tonidandel,
professor da FEI,
apresenta time de robôs
preparados por uma
equipe de alunos da
instituição para a Joint
Conference
São cinco jogadores – incluindo o goleiro
- de cada lado, que se movem com destreza
e rapidez pelo gramado em busca da bola.
Eles avançam contra o adversário e constroem suas jogadas em segundos. São acompanhados de perto por câmeras, que controlam
cada movimento. São pequenos, mas bastante ágeis. De repente, a “redondinha” escapa
dos pés de um jogador mais habilidoso e vai
parar direto no gol adversário. A comemoração, porém, vem exclusivamente de fora do
campo, já que os jogadores ainda não aprenderam a tirar a camisa. Eles são robôs do
time de futebol do Centro Universitário da
Fundação Educacional Inaciana (FEI).
O time começou em 2003 com alunos de
graduação e pós-graduação dos cursos de
Ciências da Computação e Engenharias Eletrônica e Mecânica. O primeiro robô, do tamanho de um cubo mágico, custou cerca de
R$ 400. O robô que deve participar em outubro da Joint Conference, um dos mais importantes palcos de apresentações de pesquisas e
competições da América Latina, precisou de
mais de R$ 10 mil em investimentos para sair
do papel. Ele será o grande trunfo da equipe
durante o evento, que ocorrerá no campus
da FEI, em São Bernardo, e deve reunir mais
de 200 robôs, todos completamente autônomos, ou seja, sem interferência humana para
realizar as atividades.
Cerca de 250 equipes de diversos países,
entre eles Brasil, Inglaterra, China, Irã, Chile, Venezuela, Colômbia e México, fizeram a
pré-inscrição para participar da competição,
de acordo com o coordenador da conferência e do projeto de robótica da FEI, Flávio
Tonidandel. “O recorde de participação na
história do evento até agora foi de 60 times.
Esperamos que 70% das equipes, ou seja, 175
das que fizeram a pré-inscrição confirmem a
participação, portanto, a conferência já começará com um belo recorde”, destaca.
O Joint Conference ocorrerá entre os dias
AMANDA PEROBELLI
23 e 28 de outubro e abrigará simultaneamente
três eventos. O primeiro deles é a IV Jornada
de Robótica Inteligente, que envolve o Encontro Nacional de Robótica Inteligente/Latin
American Robotics Symposium (Lars/Enri), a
Latin American Robotics Competition/Competição Brasileira de Robótica (Larc/CBR) e as
finais da Olimpíada Brasileira de Robótica. Os
outros dois eventos dos quais a FEI será sede
são o XX Simpósio Brasileiro de Inteligência
Artificial e o XI Simpósio Brasileiro de Redes
Neurais Artificiais. A programação ainda prevê seis workshops, seis minicursos e sete palestras internacionais, todos sobre robótica, redes
neurais e inteligência artificial.
programação –
As competições da
Jornada de Robótica Inteligente acontecerão entre os dias 24 e 27, das 9h às 18h, no
Ginásio de Esportes da FEI. Já o Lars/Enri
está na sétima edição e é um evento anual
internacional que promove apresentações
de artigos técnico-científicos elaborados por
pesquisadores e estudantes de graduação e
pós-graduação dos cursos de Ciência da
Computação, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecatrônica e áreas afins do Brasil
e Exterior. As apresentações serão nas salas
do prédio K da FEI.
A Larc/CBR é uma competição de robôs
autônomos com equipes de diversos países,
distribuídas em oito categorias. Na FEI, a
competição incluirá também as finais da
Olimpíada Brasileira de Robótica, com projetos desenvolvidos por alunos e professores
dos ensinos médio, técnico e fundamental
de escolas de todo o País.
O Simpósio Brasileiro de Inteligência Artificial (BSIA) é a principal conferência nessa
área no Brasil para apresentação de pesquisas
e aplicações. Mais de 30 artigos são apresentados neste encontro internacional. Já o Simpósio Brasileiro de Redes Neurais Artificiais
(SBRN) está na 11ª edição e é a principal conferência no Brasil dedicada a redes neurais.
Esta é a primeira vez que a FEI sediará o
Joint Conference, que ocorreu pela última vez
no Brasil, em 2008, em Salvador (BA). Para o
professor Tonidandel, será uma ótima oportunidade para trocar experiências e ampliar
a pesquisa na área. “Teremos os melhores artigos de robótica, redes neurais e inteligência
artificial e também receberemos novos talentos para estimular o desenvolvimento da ciência e tecnologia do País”, afirma.
Rodolpho Leme: noites sem dormir para programar o robô perfeito
de olho nos preparativos
O time de robótica da FEI é formado por dez alunos, escolhidos a dedo. Eles chegam a passar noites em
claro fazendo os últimos ajustes nos robôs. No processo de seleção da equipe, inscreveram-se 70 alunos para
apenas três vagas, cada uma delas destinada a um curso (ciências da Computação, engenharia eletrônica e
engenharia mecânica). Para participar é preciso ter ótimas notas e muito interesse, caso de Rodolpho Leme. O
jovem veio da cidade de Leme, no interior de São Paulo, atraído pela fama da FEI no ensino de Engenharia. Ele
cursa o 6º ciclo do curso de Engenharia Eletrônica.
Leme ficou sabendo do projeto de robótica quando ingressou na faculdade, por meio de amigos. “Fui
conversar com o professor Flávio, mas na época a seleção daquele ano já tinha acontecido. Tive de esperar
quase um outro ano inteiro para que o processo seletivo abrisse novamente”, relembra. Mas não esperou
passivamente. Enquanto não podia fazer parte da equipe, o estudante procurou se integrar de outra forma.
“Passei a conversar muito com os colegas e até ajudar em alguns problemas, mesmo do lado de fora. Isso
facilitou a escolha do professor quando finalmente pude me inscrever”, comemora. Para participar do projeto, os estudantes precisam dedicar ao menos 20 horas semanais ao laboratório de robótica, no qual dispõe
de todos os equipamentos necessários para desenvolver a atividade.
A tarefa não é nada fácil, mas possibilita que os alunos coloquem em prática aquilo que aprendem na sala
de aula. Os desafios são enormes e, no meio do caminho, há decepções. “O robô anterior ao atual era leve, ágil,
e tínhamos orgulho dele. Levamos o time para Salvador e voltamos de lá com todas as unidades queimadas.
Os meninos chegaram tristes, dizendo que precisávamos desenvolver um projeto novo”, diz Tonidandel. Para
alcançar esse objetivo, a equipe pesquisou novas tecnologias e estudou os times que se destacaram nas competições. A partir de então, criou melhorias como uma mudança mecânica das peças, que tornou o robô mais
robusto e resolveu um problema sério, especialmente em competições internacionais. “Quando chegamos para
a RoboCup em Singapura, em junho deste ano, um competidor do Irã viu os nossos robôs e disse: Vocês vão
jogar com isso? Ele achava que as peças eram leves demais, e, infelizmente, tinha razão”, lamenta.
Além de ganhar mais peso, os robôs novos têm um sistema de dribles diferente, tiveram o chute aprimorado e agora podem até dar o famoso “chapéu” no adversário. Cada unidade funciona com quatro baterias
(de 7,4 volts cada) e cinco motores, que neste ano tiveram a potência elevada de 15 para 50 watts. “Não é
simplesmente pela competição que fazemos esse trabalho. Cada time que se inscreve deve apresentar um
artigo detalhando o projeto. Quando a equipe ganha, as demais correm para ver o que ela fez e desenvolvem
tecnologias melhores, o que faz todos avançarem”, destacou.
O objetivo principal é que as melhorias nos robôs não fiquem estagnadas ou apenas concentradas em um
determinado grupo. O encontro se transforma, então, em um espaço de troca de conhecimentos. O futebol é a
categoria mais popular da competição, mas a Joint Conference reúne ainda outras categorias, como robôs
para resgates e atividades domésticas. “Em alguns anos o mundo será repleto de robôs, inclusive com inteligência artificial. Há diversas aplicações práticas possíveis para a tecnologia, desde a indústria até nosso
próprio lar. Esses meninos estão conectados com o futuro”, garante Tonidandel.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
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24
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
AMANDA PEROBELLI
comunidade
amanda perobelli
educação
“UFABC para Todos”
abriu as portas da
universidade para
alunos do ensino médio
e demais interessados
em conhecer a
instituição de ensino
DE portas ABERTAS
A UFABC recebe a comunidade em evento, na busca pelo diálogo com a Região
Camila Galvez
A UFABC (Universidade Federal do
ABC) realizou nos dias 06 e 07 de agosto o
evento “UFABC para Todos”, que abriu as
portas da universidade para alunos do ensino médio e demais interessados em conhecer
a instituição de ensino. Cerca de 100 estudantes, professores e servidores se envolveram diretamente na organização de mais de
70 atividades realizadas no Campus Santo
André e no Bloco Sigma, em São Bernardo.
Esta foi a primeira vez que a universidade
abriu suas portas à comunidade. O pró-reitor de extensão da UFABC, Plínio Táboas,
explicou que o evento está alinhado à política educacional da universidade, que preza pelo diálogo com a Região. “Queremos
mostrar o que é a UFABC e atrair novos
alunos, lembrando que 50% das vagas são
para estudantes de escolas públicas. Abrir
as portas da universidade não é algo novo,
mas a proposta da UFABC que é diferenciada. É importante que potenciais estudantes
entendam isso”, afirmou.
Weasley Aparecido da Silva Sampaio e
Stephanie Caroline Peixoto Menino, alunos do terceiro ano do ensino médio da
Escola Estadual Professor Francisco Lou-
renço de Melo, de Rio Grande da Serra,
são dois dos estudantes de escolas públicas
que visitaram a instituição. Foi a primeira vez que entraram em uma universidade
desse porte. Para Stephanie, a visita valeu
para ter certeza do que ela quer. “Assisti a
uma palestra sobre biologia e vi que é com
isso mesmo que vou trabalhar, estudando as
plantas e os animais”, garantiu.
O colega Weasley chegou com a certeza
de que queria cursar Filosofia. Saiu de lá
em dúvida: “Gostei muito de engenharia
ambiental. Agora não sei mais o que fazer”,
afirmou. Weasley ainda tem um semestre
pela frente para descobrir se prefere cursar
o bacharelado em Ciência e Humanidades
ou o bacharelado em Ciência e Tecnologia
da UFABC. Atrair os alunos e estreitar os
laços com a comunidade foram os principais objetivos da realização do evento.
Fórum Social
A reunião ordinária do Fórum Social do
ABCD, que reúne organizações não governamentais e instituições do movimento social dos sete municípios da Região, também
fez parte do evento. A “ocupação da UFABC” foi uma das bandeiras definidas pelo
Fórum durante seminário realizado no pri-
meiro semestre deste ano. A ideia foi aproveitar o evento da instituição de ensino para
estreitar as relações do movimento social
da Região com a UFABC. O Fórum nasceu
durante a 2ª Jornada Cidadã, realizada em
novembro de 2008, no Sesi de Santo André,
resultado de um esforço multilateral entre os
poderes públicos, sindicatos e entidades do
movimento social para debater propostas e
soluções para os problemas da Região.
Táboas mostrou-se satisfeito em conhecer
as demandas dos movimentos sociais e garantiu que a universidade está aberta para
trocas e que deve participar ativamente das
ações do Fórum daqui pra frente. “A ciência trouxe conhecimento, benefícios, mas
também trouxe doenças. Essa universidade
tenta mostrar um caminho de diálogo com
a sociedade para que possamos buscar inovação sadia e constante. Queremos ensinar,
mas também queremos aprender”, disse.
Universidade e Fórum Social criaram um
calendário de encontros com o intuito de
colocar em pauta na UFABC as demandas
dos movimentos sociais. As conversas serão
em torno dos principais eixos sistematizados pelo Fórum: cultura, saúde, economia
solidária, moradia, questões de raça e gênero, entre outras.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
25
transporte
sustentabilidade
Clébio Cavagnolle Cantares
Veículo movido
a combustível
sustentável em teste
de comprovação de
alta performance,
para produção e
comercialização
em escala
busca por soluções sustentáveis avança a passos
largos no Brasil. Apesar
da descoberta do pré-sal,
o aquecimento global e
a progressão de problemas ambientais abrem caminhos para
combustíveis renováveis. Com esse foco, a
Amyris Brasil S.A., subsidiária da Amyris
Biotechnologies Inc., e a Mercedes-Benz
do Brasil iniciaram nova etapa para produção em escala do diesel feito a partir da
cana-de-açúcar.
Por meio de cooperação técnica com
parceria da SPTrans, a BR Distribuidora
e a Viação Santa Brígida - uma das principais companhias de transporte de passageiros de São Paulo -, já estão em testes
os primeiros ônibus movidos pela mistura
do diesel renovável na capital paulista. O
programa faz parte de uma iniciativa que
tem o objetivo de comprovar a alta performance e os benefícios do combustível proveniente da cana.
26
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
A Mercedes já vinha realizando testes
em caminhões desde dezembro, conforme
antecipado nas duas últimas edições de
INOVABCD. Os testes iniciais comprovaram a redução de emissões de materiais
particulados. Além de auxiliar no combate à poluição, o novo combustível vem
acompanhado da façanha de não alterar
o desempenho do motor e manter o consumo baixo.
Os testes contemplarão seis ônibus da
Viação Santa Brígida. Três veículos circularão com mistura de 10% de diesel renovável Amyris e 90% de óleo diesel comercial,
que já tem 5% de biodiesel, resultando em
uma composição com aproximadamente
15% de combustível renovável. Os outros
três ônibus circularão apenas com diesel
comercial para fins de referência.
A mistura proveniente da cana produzida
pela Amyris tem como base um hidrocarboneto que utiliza tecnologia de fermentação.
Justamente por ser um hidrocarboneto, este
combustível pode ser utilizado diretamente
Os primeiros
ônibus com o
produto renovável
circularão durante
seis meses em
linhas com grande
fluxo atendidas
pela Viação Santa
Brígida.
DIVULGAÇÃO
o ônibus
do futuro
Veículos movidos a diesel de cana começam
a passar por testes em São Paulo
nos motores convencionais a diesel, sem a
necessidade de alteração na estrutura de
distribuição existente.
A análise das amostras de diesel da cana
(chamado AMD10) e do óleo lubrificante
de motor está a cargo da Mercedes-Benz,
maior fabricante de caminhões e ônibus
da América Latina e parceira da Amyris
no programa de testes e certificação do
combustível. Em testes internos realizados
previamente pela montadora, com larga
experiência em avaliações de combustíveis
alternativos, o diesel de cana apresentou
9% de redução na emissão de particulados
na atmosfera quando comparado ao diesel
derivado do petróleo, sendo isento de enxofre em sua composição química. De origem totalmente renovável, os estudos preliminares mostraram que o produto é capaz
de reduzir a emissão dos gases causadores
do efeito estufa em mais de 90%.
Em termos de consumo e desempenho,
a montadora destacou nos testes que, em
ensaios comparativos, todos os parâme-
tros de controle do motor permaneceram
exatamente iguais. Não ocorre aumento
do consumo e, segundo a empresa, o novo
biocombustível se mostra uma alternativa
interessante por não requerer alterações na
estrutura da frota atual, ou seja, os motores
não passarão por mudanças ou adequações
para receber o diesel da cana-de-açúcar.
Os primeiros ônibus com o produto renovável circularão durante seis meses em linhas
com grande fluxo atendidas pela Viação Santa Brígida. Os testes representam importante
passo no cumprimento das metas determinadas pela Lei Municipal de Mudanças Climáticas – em vigor em São Paulo -, que prevê
a redução gradual do uso de combustíveis
fósseis, com a eliminação total até 2018.
Em função das propriedades que permitem introdução sem alterar a estrutura
de abastecimento dos veículos, o diesel de
cana é uma das alternativas mais promissoras para viabilizar o cumprimento das
metas dessa lei, pois não há limite técnico
para o percentual de mistura a ser utili-
zado. “Esta oportunidade é fundamental
para comprovar as qualidades do diesel de
cana em situações reais de uso no Brasil”,
afirma Adilson Liebsch, gerente de Produto e Marketing da Amyris.
Os parâmetros a serem monitorados
estão divididos em consumo de combustível/óleo lubrificante, contaminação de
óleo, emissões (opacidade), durabilidade
dos componentes de motor e veículo, desempenho dos veículos – de acordo com a
percepção dos motoristas e características
de manuseio do combustível – transporte,
mistura e armazenamento.
O encerramento dos testes está previsto para dezembro de 2010. A partir daí, o
combustível da Amyris poderá ser utilizado, futuramente, em grande escala. “A certificação pela Agência Nacional de Petróleo
(ANP) seguirá o processo pós-testes e, em
2011, a usina da empresa será construída.
A escala comercial deverá ser iniciada em
2012”, destaca Luciana Di Ciero, gerente de
assuntos regulatórios da companhia.
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
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tendências
observatório da inovação
Caio Luiz
projetando tendên
O Observatório da Inovação da USP
Encontro no IEA-USP
reúne especialistas
e empresários que
buscam e valorizam a
inovação
riado em 1986, o Instituto
de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo (IEA/USP) se dedica à
pesquisa e discussão dos
mais variados temas envolvendo política, cultura e ciência. Com a
intenção de obter análises mais precisas, recorre a disciplinas distintas e à colaboração
de personalidades renomadas em conferências e na composição de seus grupos de estudo. Entre elas, o geógrafo Aziz Ab’ Saber
e o escritor português José Samarago.
Um dos desdobramentos recentes do
Instituto, fundado e idealizado no início
de 2007 pelo sociólogo Glauco Arbix (leia
entrevista à página 6), é o Observatório de
Inovação e Competitividade do IEA, que se
propõe a prospectar tendências e analisar
alternativas econômicas e sociais em projetos e publicações realizados em parceria
com instituições públicas e privadas.
O embrião da entidade foi a pesquisa in-
28
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
titulada “Inovação: Estratégias em sete países”. O trabalho, encomendado pelo Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e desenvolvido por vários autores, esmiúça políticas
públicas de nações como a Finlândia, Japão
e Irlanda, em prol do desenvolvimento. O
objetivo era olhar para o exterior e buscar
informações que pudessem ser aplicadas à
realidade brasileira, representando soluções
e avanços para o país.
Durante a execução deste projeto, que
seria a primeira atividade do Observatório,
Glauco Arbix e o chefe do Departamento
de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da USP, Mário Salerno, notaram
que havia a ausência de um órgão com visibilidade que reunisse pesquisadores para
tratar de temas em torno da inovação. “Faltava uma instituição perene que promovesse
discussões sistemáticas e que tivesse caráter
propositivo ao se disponibilizar para enten-
Faltava uma
instituição perene que
promovesse discussões
sistemáticas e que
tivesse caráter
propositivo ao se
disponibilizar para
entender a atualidade,
preparando e apoiando
políticas ao fazer
recomendações e
sugestões baseadas
em estudos”.
Mário Salerno, chefe do
Departamento de Engenharia de
Produção da Escola Politécnica da USP
ncias inovadoras
DIVULGAÇÃO
é um laboratório de ideias e projetos para o futuro
der a atualidade, preparando e apoiando
políticas ao fazer recomendações e sugestões baseadas em estudos”, afirma Salerno,
coordenador executivo da iniciativa.
Segundo ele, a entidade é “sui generis”,
pois trabalha em rede com colaboradores
de empresas e institutos, valendo-se de um
corpo de “empregados” enxuto, flexível e
de baixo custo, uma vez que boa parte dos
trabalhadores se renova - dependendo da
pesquisa – ou são orientandos e bolsistas
dos projetos em construção. “A ideia é ser
um órgão de inteligência sobre processos
de evolução. Especificamente, trabalhamos
com propostas articuladas não necessariamente dentro do IEA, onde fica a sede do
Observatório”, explica o engenheiro.
Como exemplo do alinhamento de grupos diversos, Salerno cita o projeto em que
pós-graduandos selecionados por editais e
apoiados pela Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep), ainda com suporte econométrico e estatístico do Instituto de Pes-
quisa Econômica Aplicada (IPEA), foram
designados para mapear o que está acontecendo em relação à inovação em estados
brasileiros. “Nem conheço os alunos fisicamente. Estão dispersos no Rio de Janeiro,
Paraná, no interior de São Paulo, colhendo
e comparando dados para fechar um livro
que levou dois anos para alcançar o estágio
atual. Somos multidisciplinar, multinstitucional e multilocal”, explica Salerno.
Do ponto de vista acadêmico e empresarial, o coordenador acredita que existem
poucas entidades de mesmo cunho e que,
portanto, “o Observatório é uma referência inédita neste sentido. Claro que estamos
começando, é preciso aumentar a verba e
angariar parcerias, mas, para tanto, precisamos ter um portfólio de análises e projetos
de grande porte que atraía atenção para o
debate da inovação no Brasil”, refletiu.
De olho na Inovação
As principais missões do Observatório podem ser divididas em duas: produção de pesquisas universitárias e realização de pesquisas para outras instituições. A primeira é de
interesse público e acadêmico, pois divulga
conhecimento, tanto do setor público (municipal, estadual e federal) quanto do setor
privado, elaborado por estudantes em projetos universitários que participam por livre e
espontânea vontade. Praticamente não possui orçamento, além do providenciado pela
USP, ao arcar com salários dos professores
e estagiários, e ao fornecer estrutura física
para colocar em pauta discussões em seminários no auditório do IEA.
A segunda parte está vinculada à execução
de projetos de pesquisa que contam com remuneração e orçamentos estipulados e inteiramente direcionados à conclusão da proposta,
como foi a da ABDI ou da Finep. Nestes casos
há contratação de equipe para fazer as
avaliações requisitadas e os trabalhos
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
29
PETER ILICCIEV
... buscamos
estabelecer uma
relação orgânica com o
Observatório porque é
um departamento que,
assim como nós, possui
acúmulo significativo
nos processos de
desenvolvimento”
PAULO GADELHA,
presidente da Fiocruz
30
INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
têm duração média de seis a 12 meses.
Para o cientista político da USP e doutorando em sociologia Demetrio Gaspari de
Toledo, o sucesso do Observatório de Inovação e Competitividade se deve a dois fatores. “Nossa estrutura propositadamente
mutável, sem ter custos fixos e elevados com
quadro de empregados, que onerariam o
Estado por ser mais uma instituição dispendiosa do meio, faz com que não precisemos
nos desdobrar em busca de projetos de pouco ou relativo interesse para pagar contas
ou recorramos a algum fundo público para
nos manter.”
As circunstâncias são o outro lado da equação que sustenta o grupo, garante Toledo. “A
conjuntura dos institutos de ciência, tecnologia
e inovação dá ênfase a trabalhos feitos em rede
que tenham ampla gama de contatos. Usamos
isto a nosso favor porque o que temos a oferecer são ideias e conhecimento que exigem poucos gastos”, analisa o sociológo que acompanhou os primórdios do processo de montagem
da instituição e hoje é pesquisador.
Visando o Futuro
De acordo com a avaliação de Toledo, a
tendência é que as ações do Observatório
sejam replicadas por conta de um problema
histórico das últimas três décadas no Brasil:
a supervalorização do curto prazo. “Quem
tem o caráter da observação inserido no
fundamento está menos preocupado com o
imediatismo, com a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), se os juros vão subir ou não”, exemplifica. “Empresas e entidades abraçam a ideia de projetar caminhos
a médio e longo prazo. O intuito de apontar
possibilidades e entender para onde vamos
vem sendo valorizado.”
O próximo passo para a consolidação definitiva seria a produção de periódicos de alcance no setor de políticas públicas que envolvam áreas de inovação. “Ainda estamos
em fase de formação enquanto instituição.
Nestes dois anos e meio avançamos ao difundir e tornar conhecidas nossas pesquisas
pelo Brasil e ao olhar para o exterior a fim
de coletar visões diferentes do futuro. Estas
são nossas maiores contribuições.”
O pesquisador defende a publicação de
estudos e indicadores em forma de boletins
para fornecer ao público conjuntos de infor-
mações relevantes que possam orientar os
setores público e privado a aumentarem o
nível de desenvolvimento em âmbito nacional. “O fundamental é propagar o conteúdo
para chegar a gestores públicos, associações
empresariais e universidades”, prioriza.
Associações
O Observatório vem se aproximando hoje
de instituições, por exemplo, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para buscar
a troca de experiências e conhecimento. A
diversidade de atuações de ambos os órgãos
na concretização de estudos incentiva o diálogo permanente. “Sempre tivemos a intenção de fazer um centro de pesquisa e nos
baseávamos no IEA. Agora, buscamos estabelecer uma relação orgânica com o Observatório porque é um departamento que, assim como nós, possui acúmulo significativo
nos processos de desenvolvimento”, afirma
o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.
Há 110 anos em operação, a Fiocruz é
um centro médico hospitalar associado ao
Ministério da Saúde, localizado no Rio de
Janeiro, que presta serviços ambulatoriais,
fabrica vacinas, realiza pesquisas, apresenta
informação e comunicação em saúde, ciência e tecnologia, controle da qualidade de
produtos e serviços, entre outras atividades.
A instituição contém dez mil funcionários
e pretende inaugurar centros de pesquisa nos
estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Piauí nos próximos anos. Gadelha
enxerga vínculos a serem explorados em questões ligadas à biodiversidade, natureza da bioética, na própria modelagem institucional e,
principalmente, na maneira de pensar inovação como tema central conectado à construção da saúde no País. Para ele, essa é uma das
grandes preocupações atuais. “Hoje, a saúde
representa de 8% a 10 % do PIB brasileiro”,
disse Gadelha ao enfatizar a importância do
ramo e da criação de parcerias.
Há previsão de contratação de pesquisas do Observatório por parte da Fiocruz.
Negociações em andamento demonstram
que a cooperação integrada acontecerá em
breve. “Estamos no detalhamento do programa, que é a primeira etapa. Em seguida
assinaremos um termo de compromisso”,
confirma Gadelha, que manteve em sigilo o
conteúdo das pesquisas.
articulação
case de sucesso
Joana Horta
articulação pró inovação
Desarticulação entre pesquisa e desenvolvimento
(P&D) e produção na região do ABCD
Quem resolve
Instituto de Ação Tecnológica e
Desenvolvimento Inovador (IATDI)
A saída
União de especialistas para a promoção da
cultura inovadora
Fundado há pouco mais de um ano, o Instituto
de Ação Tecnológica e Desenvolvimento Inovador
(IATDI) busca integrar pesquisa, produto, setores
produtivos e instituições de ensino da Região do
ABCD. Fundado por pesquisadores com espírito
empreendedor e conhecimento de mercado, o instituto nasce para suprir uma demanda de orientação
em projetos tecnológicos e de inovação, com foco
nas pequenas e médias empresas da Região.
Para atender diferentes setores, o instituto está
formando uma rede de especialistas, entre mestres
e doutores. “Buscamos fortalecer uma rede de contatos, onde um indica outro. Por exemplo, eu conheço vinte doutores, que conhecem outros tantos, e
assim conseguimos uma rede que contemple diversas capacidades”, explica Alexandre Lancin, sóciofundador do instituto. “Com essa base formada, podemos atender às demandas produtivas da Região,
sem dispensar setores por falta de conhecimento.
O empresário não enxerga a pesquisa, enquanto o
pesquisador não enxerga o produto. Essa é a aproximação que estamos fazendo.”
A atuação da instituição se dá através de núcleos de desenvolvimento, organizados em setores, a
fim de concentrar a demanda para elaboração de
projetos e programas específicos, junto ao público
beneficiado, possibilitando o desenvolvimento de
empresas através de estudos, pesquisas e acesso
à tecnologia e inovação. Os núcleos se dividem
em desenvolvimento da saúde, desenvolvimento
da cultura, desenvolvimento industrial, desenvolvimento do setor turístico, desenvolvimento do setor
de tecnologia da informação e desenvolvimento
do setor de energia.
A administradora e sócia-fundadora, Silvana
Pompermayer explica que o desenvolvimento industrial da Região se constituiu no fortalecimento da
produção e não no investimento em P&D. Por isso,
hoje os empresários encontram tanta dificuldade
para unir o planejamento de negócio à inovação. “As
empresas locais atendiam demandas e sobreviviam
disso. De uma década para cá, a concorrência, a
globalização e uma nova conjuntura econômica estão forçando as empresas a pensarem diferente em
P&D”, reforça. “As empresas querem a inovação e a
tecnologia. Alguns empresários estão mais preparados, mas a grande maioria não tem experiência e
nem paciência de aguardar o processo de criação.
Por isso, é preciso estimular essa cultura.”
Com uma ideia simples, Silvana conseguiu,
através do IATDI, uma bolsa de pesquisa para o
desenvolvimento de um projeto inovador, voltado
para a indústria moveleira local. “Queremos criar
o móvel Pop, estimulando a produção de móveis
populares, com maior qualidade, menor custo e
que atendam às especificações do programa Minha Casa, Minha Vida”, afirma. Para desenvolver
o projeto, o instituto trabalhará em conjunto com
designers e desenvolvedores de tecnologia da informação, para a criação de maquetes eletrônicas,
com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia, por concurso do CNPq.
De acordo com Silvana, para o empresário fica
apenas o trabalho de pensar na inovação. “Faz
parte do projeto encontrar a empresa que produzirá esse bem e essa, por sua vez, não tem que dar
nenhuma contrapartida. E para uma empresa, é
sempre interessante ter um cliente CNPq, que vai
trabalhar para um programa federal”, acrescenta.
O projeto é um exemplo da capacidade do IATDI
de perceber as demandas locais, entender as diretrizes dos investimentos públicos e unir a pesquisa
ao desenvolvimento do produto, gerando emprego,
renda e melhoria da qualidade de vida, prerrogativas da instituição
Silvana Pompermayer,
diretora do IATDI:
“Queremos criar o
móvel Pop, estimulando
a indústria moveleira
popular, com maior
qualidade, menor
custo e que atenda
às especificações do
programa Minha Casa,
Minha Vida, do Governo
Federal”
amanda perobelli
O problema
SETEMBRO DE 2010 | INOVABCD
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serviços
Fomento, financiamento
Milhões de reais e serviços de apoio estão disponív
FINEP
Subvenção Econômica à Inovação
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da
Ciência e Tecnologia, publicou no início
de agosto uma chamada pública para
disponibilizar R$ 500 milhões à inovação tecnológica. O objetivo é apoiar
empresas brasileiras, por meio da concessão de recursos não-reembolsáveis,
no desenvolvimento de projetos inovadores. As empresas interessadas tem
até 7 de outubro deste ano para enviar
o formulário eletrônico disponibilizado
no site da Finep.
Podem participar da licitação empresas brasileiras de qualquer porte, individualmente ou em associação, com
mais de dois anos de funcionamento e
situação ativa em 2009. Cada empresa
poderá entregar apenas uma proposta
por tema, independentemente de figurar individualmente ou em associação
na proposta. No mínimo 40% dos recursos serão dedicados a pequenas
empresas, empresas de pequeno porte
e microempresas.
Confira na tabela ao lado as áreas
contempladas com a subvenção:
ÁREA 1 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TICs)
Desenvolvimento de processos de fabricação ou projetos de componentes eletrônicos, optoeletrônicos, magnetoeletrônicos, ferroelétricos e microeletromecânicos; de dispositivos, equipamentos ou sistemas para a Copa do Mundo de 2014 e
as Olimpíadas de 2016, nas áreas de segurança pública, mobilidade urbana e governo eletrônico e de equipamentos; e de
dispositivos e sistemas para comunicações de alta velocidade, para do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL).
ÁREA 2 | ENERGIA
Desenvolvimento de soluções para exploração e desenvolvimento em campos off-shore de petróleo e/ou gás,
incluindo modelagem de bacias, imageamento sísmico e aquisição e processamento de dados; de plantas-piloto
para obtenção de etanol de segunda geração a partir de biomassa e algas; e de sistemas de tração elétrica,
baterias e capacitores aplicados a veículos elétricos automotores, inclusive em versão híbrida.
ÁREA 3 | BIOTECNOLOGIA
Desenvolvimento de inovações em bioprodutos para aplicação em agricultura; de inovações em bioprodutos para
aplicação nas indústrias farmacêutica e de cosméticos; e de inovações em bioprodutos para diagnóstico rápido
de doenças infecciosas, degenerativas e genéticas.
ÁREA 4 | SAÚDE
Desenvolvimento de dispositivos de uso em saúde humana, com ênfase em implantáveis; de equipamentos, com
ênfase aos destinados a diagnóstico, hemodiálise e acessórios; e de inovações em moléculas e processos que
contribuam para desenvolvimento da produção nacional de insumos farmacêuticos ativos e medicamentos para
uso em tratamentos.
ÁREA 5 | DEFESA
Desenvolvimento de soluções integráveis para vôo autônomo; de sistemas ligados à segurança e controle de navegação; e
de materiais para proteção balística individual e de veículos para emprego militar.
ÁREA 6 | DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Desenvolvimento de sistemas de massificação do acesso à internet, visando a atender as políticas públicas de inclusão
digital, no contexto da PNBL; de tecnologias sustentáveis para habitação segundo os princípios da coordenação modular decimétrica e da industrialização de ciclo aberto; e de produtos e serviços inovadores para a acessibilidade.
SUBVENÇÃO ECONÔMICA À INOVAÇÃO
Total R$ 500 MILHÕES
Tecnologias da Informação e Comunicação
R$ 90 milhões
Energia
R$ 90 milhões
Biotecnologia
R$ 90 milhões
Saúde
R$ 90 milhões
Defesa
R$ 90 milhões
Desenvolvimento Social
R$ 90 milhões
PORTE / FATURAMENTO BRUTO 2009 (FB):
CONTRAPARTIDA
Micro / FB inferior ou igual a R$ 2,4 milhões (mi):
10%
Pequena / FB superior a R$ 2,4 mi e inferior ou igual a R$ 16 mi:
20%
Média 1 / FB superior a R$ 16 mi e inferior ou igual a R$ 90 mi:
50%
Média 2 / FB superior a R$ 90 mi e inferior ou igual a R$ 300 mi:
100%
Grande/ FB superior a R$ 300 mi:
200%
OUTRAS INFORMAÇÕES: www.finep.gov.br
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INOVABCD | SETEMBRO DE 2010
financiamento e suporte à inovação
eis para projetos inovadores. Saiba como acessá-los
CNPq Bolsas de
Fomento Tecnológico
e Extensão Inovadora
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) oferece Bolsas de Fomento Tecnológico
e Extensão Inovadora, destinadas à formação e capacitação
de pesquisadores e agregação de especialistas, que contribuam para a execução de projetos de pesquisa, de desenvolvimento tecnológico ou atividades de extensão inovadora
e transferência de tecnologia. As bolsas são vinculadas a
projetos selecionados em função de editais ou encomendas
do CNPq por convênios com Ministérios, Secretarias, entidades do Governo Federal e Estadual, Secretarias estaduais e
municipais e Fundações de Amparo à Pesquisa.
Para solicitação do auxílio, o pesquisador deverá apresentar um coordenador residente no país, vinculado a uma instituição brasileira, pública ou privada, que se constitua como
empresa, instituição de ensino, pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, atividades de extensão e transferência de tecnologia ou organização não-governamental, entidade técnica ou
de classe, bem como associações profissionais, que realizem
atividades dirigidas ao desenvolvimento tecnológico, à atividade de extensão inovadora ou à transferência de tecnologia.
O bolsista deverá ser residente e em situação regular
no País e ter seu currículo cadastrado e atualizado na
Plataforma Lattes. Não poderá acumular bolsas, embora
possa receber suplementação. As linhas de fomento do
CNPq contemplam projetos de longa e curta duração.
APEX Brasil
PEIEX
Criado no início de 2009 pela Apex-Brasil, o Projeto de extensão industrial exportadora (PEIEX) visa a capacitação de empresas com potencial
de exportação. O objetivo do projeto é incrementar a competitividade e
promover a cultura exportadora nas empresas de micro, pequeno e médio
porte, qualificando e ampliando os mercados das indústrias iniciantes em
comércio exterior.
O PEIEX funciona por meio de técnicos extensionistas e núcleos operacionais, localizados em várias cidades do Brasil, que atendem as empresas,
oferecendo soluções e auxílio nas áreas de administração estratégica, capital humano, finanças e custos, vendas e marketing, produto, manufatura
e comércio exterior, o que ajuda a tornar a empresa mais forte e mais competitiva em um mercado cada vez mais acirrado. Em 2009, o PEIEX atendeu
mais de 3,5 mil empresas.
Para inscrever a empresa no programa, deve-se
preencher a Ficha de Inscrição disponibilizada pela
equipe técnica e/ou associações de classe e encaminhá-la ao núcleo operacional mais próximo.
Outras informações
www.apexbrasil.com.br
BOLSAS DE LONGA DURAÇÃO
Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI)
Iniciação Tecnológica e Industrial (ITI)
Especialista Visitante (EV)
Extensão no País (EXP)
Apoio Técnico em Extensão no País (ATP)
Fixação e Capacitação de RH - Fundos Setoriais (SET)
Apoio à Difusão do Conhecimento (ADC)
Iniciação ao Extensionismo (IEX)
BOLSAS DE CURTA DURAÇÃO
Especialista Visitante (BEV)
Estágio/Treinamento no País (BEP)
Estágio/Treinamento no Exterior (BSP)
OUTRAS INFORMAÇÕES: www.cnpq.br
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ponto de vista
Anne Lewis-Olsson
DIVULGAÇÃO
O investimento
feito no
desenvolvimento
do caça Saab
Gripen já deu um
retorno à Suécia
de pelo menos
2,6 vezes, na
forma de geração
de crescimento
econômico.
investimento no Gripen
já se pagou
rojetos de desenvolvimento sofisticados e de grande
porte sempre requerem a
resolução de problemas
tecnológicos ao longo do
caminho. Toda a produção
tecnologicamente avançada se vê envolvida em uma
“nuvem de novas tecnologias”, as chamadas
compensações tecnológicas. O desenvolvimento de aeronaves militares pertence ao conjunto mais avançado deste tipo de projetos.
Em um estudo recente, o professor sueco
Gunnar Eliasson concluiu que o investimento
feito no desenvolvimento do caça Saab Gripen
já deu um retorno à Suécia de pelo menos 2,6
vezes, na forma de geração de crescimento econômico. Isso ocorreu em função da criação de
um novo conhecimento industrial, durante a
execução do projeto militar, viabilizando uma
produção adicional para a área civil.
Por meio de estudos de casos, Eliasson
ilustra como isso é possível e como as novas
tecnologias, criadas durante o processo de
desenvolvimento do sistema Saab Gripen,
se difundiram através da economia sueca e
formaram a base tecnológica de novos programas de produção na área civil.
No estudo, ele enfatiza dois aspectos responsáveis por este resultado positivo na economia
do país. Primeiramente, destaca o papel fundamental da agência sueca encarregada da aquisição de material militar (FMV). Em segundo
lugar, ele detalha o importante papel do empreendedorismo local ou comercialização de
competências na economia para maximizar a
exploração desta “nuvem de tecnologias”.
Ele investigou a ligação dos movimentos
decorrentes do desenvolvimento da aeronave de combate Gripen com as compensações identificadas na área civil, derivadas
deste projeto. A maioria delas foi capturada
e comercializada pelas empresas diretamente envolvidas no desenvolvimento desta aeronave sueca (Saab, Volvo Aero e Ericsson)
e as demais, por empresas de fora.
A conclusão de Eliasson é a de que o valor na área civil, gerado pelo Gripen, menos
os custos de oportunidade, acumulado por
todo o período, dividido pelo investimento
feito em pesquisa e desenvolvimento, é pelo
menos equivalente a 2,6. Ou seja, o investimento feito no Gripen deu um retorno à sociedade sueca de, pelo menos, 2,6 vezes, na
forma de crescimento econômico adicional. De acordo com Eliasson, todas as empresas avançadas engajam-se em uma produção
conjunta quando se trata do desenvolvimento
de novos produtos. Elas desenvolvem não somente o produto em si, mas também a nuvem
de compensações, que fica disponível gratuitamente para outras empresas, cujo valor gerado para a economia do país é proporcional
à sua capacidade de comercialização.
A indústria de aviação sueca começou
como parte do esforço de defesa do país, na
década de 30, para uma situação de ameaça
que se avizinhava. Na época, a Suécia já era
uma nação industrializada, mas não ainda
uma das principais economias industriais.
Hoje, a Saab tem sido uma impressionante geradora de tecnologias, contribuindo
para catapultar a indústria manufatureira
do país a várias posições de liderança, no
período pós-guerra. Parte destas compensações foram capturadas e comercializadas
com sucesso por outras empresas do grupo
Saab. No entanto, os sucessos mais importantes ocorreram fora do grupo Saab.
Diante disto, conclui-se que o desenvolvimento dos produtos avançados não somente se distingue por si próprio, como também
pelo fato da indústria de aviação sueca, com a
Saab em seu centro, atuar como uma universidade técnica para a indústria do país. Um
programa de cooperação industrial, portanto,
proporciona benefícios muito maiores que o
investimento negociado em contrato.
Anne Lewis-Olsson é diretora de Comunicação para o
Brasil da Saab
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Os braços mecânicos que sustentam a indústria