Estudo sobre o Compromisso e a Conciliação em Portugal Em colaboração com: Apoio de: UNIÃO EUROPEIA Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional Autoria ACONTESER LIDERAR COM RESPONSABILIDADE ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Título O Compromisso e a Conciliação em Portugal Promotor ACEGE em parceria com a Fundación MásFamilia e a IPSOS/APEME Apoio Compete – Programa Operacional Factores de Competitividade Autoria Fundación MásFamilia IPSOS/APEME Coordenação Global Fundación MásFamilia Coordenação Executiva Laura Sánchez Pardos, Esther Adrada, Roberto Martinez Comissão de Acompanhamento Marta Gonçalves, Carlos Liz, Gonçalo Corrêa d’Oliveira Execução Gráfica Indugráfica , Lda - Fátima Depósito Legal 366804/13 4 Índice Prefácio ................................................................................................................. 7 Introdução ............................................................................................................ 11 Dados Gerais ......................................................................................................... 15 Enquadramento Conceptual do Compromisso ..................................................... 21 Resultados ........................................................................................................... 33 Conclusões ............................................................................................................ 53 Notas .................................................................................................................... 58 5 ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Prefácio Prefácio Nas crises, como aquela em que estamos a viver, o líder empresarial tem, realmente, responsabilidades acrescidas. E, adicionalmente, o seu sentido de missão deverá obedecer a critérios de grandeza maior. Desta feita, a totalidade do programa em causa é dirigida à responsabilidade individual daqueles que lideram as empresas na nossa economia, porque acreditamos que é a partir deles que as empresas se transformam. Por outro lado, a ACEGE envolve-se e dinamiza o programa “AconteSer: Liderar com Responsabilidade” tendo em vista o Bem Comum, que consiste na sua razão fundamental, e com ênfase particular na defesa da competitividade das Pequenas e Médias Empresas portuguesas. No contexto das múltiplas propostas deste programa, a ACEGE elegeu três eixos fundamentais que procuram responder a preocupações concretas no âmbito das PME e que remetem para três compromissos dos líderes empresariais. Compromissos empresariais estes que sinalizam e relembram a importância dos líderes empresariais cumprirem as suas obrigações básicas de gestão – compromisso de pagamentos pontuais a fornecedores, compromisso com o projecto de vida dos colaboradores e compromisso com a família / sociedade. Três compromissos de honra que potenciam a função social mais basilar das empresas: garantir a sustentabilidade e a excelência da sua acção. 9 É no contexto do terceiro eixo, compromisso com a família / sociedade, que se enquadra o presente estudo, nesta segunda fase do programa AconteSER: Liderar com responsabilidade. Entendeu a ACEGE que para fundamentar a importância das medidas de conciliação que constam do Kit aconteSER e que foram divulgados nos workshops realizados pela Fundación MásFamilia, parceira desde a primeira hora da ACEGE neste programa e em concreto neste eixo, fazia falta um estudo que pudesse ajudar a compreender o grau de compromisso dos colaboradores com as suas empresas e de quais as medidas que mais afectam positiva e negativamente este mesmo compromisso. Este estudo que agora divulgamos vem mostrar nomeadamente que os colaboradores são extremamente sensíveis às medidas de conciliação familia e trabalho e que estas afectam muito positivamente o incremento deste compromisso com a empresa. Que esta iniciativa, que uma vez mais só é possível graças ao apoio do Programa COMPETE, programa Operacional Factores de Competitividade e aos nossos parceiros, CIP, IAPMEI, APIFARMA e CGD, seja mais um instrumento capaz de iluminar os líderes empresariais e ajudar ao aumento de lideranças responsáveis capazes de ajudar melhorar a competitividade das empresas e naturalmente ajudar a desenvolver a economia nacional. ACEGE 10 ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Introdução Introdução O compromisso é um fator chave nas organizações. Sem compromisso não há talento e sem talento não há resultados. As organizações procuram capacidades através de processos de recrutamento e seleção e desenvolvem-nos através da formação e capacitação, mas pouco ou nada fazem pelo compromisso e pelas emoções. Sabemos, de acordo com vários estudos, nomeadamente o de Towers Perrin, o qual contou com mais de 16 mil participantes, que o que mais compromete uma pessoa com a organização é saber que a direção se interessa pelo seu bem-estar pessoal. Contudo, continuamos a atuar como se tal não fosse verdade. Em 2011, a Fundación Másfamilia conduziu através do observatório efr um primeiro estudo qualitativo que define um modelo conceptual para gerir e avaliar o compromisso – o chamado Diamante do Compromisso. Este estudo permitiu tecer várias conclusões sobre as empresas espanholas no que diz respeito à relação de causa-efeito entre compromisso e conciliação. Em 2013, a Fundación Másfamilia propôs à ACEGE conduzir um estudo em Portugal sobre o mesmo tema e que será apresentado neste relatório. Melhoria da Gestão da Conciliação da vida pessoal, familiar e laboral Aumento do compromisso organizacional 13 ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Dados Gerais Dados Gerais Objetivos do estudo O objetivo geral deste estudo consistiu em perceber se e em que medida o compromisso dos trabalhadores é ou pode ser influenciado pela organização. Os objetivos específicos procuraram compreender quais as variáveis que aumentam o compromisso e como a conciliação da vida pessoal, familiar e profissional reforça o mesmo. Amostra O estudo contou com um total de 245 participantes, entre a parte qualitativa e quantitativa. A amostra do estudo quantitativo é composta por 150 trabalhadores e 80 empregadores/gestores. Os participantes foram recrutados de um universo de indivíduos de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 25 e os 54 anos, residentes em Portugal, trabalhadores por conta de outrem e empregadores e/ou gestores. O método de seleção da amostra foi por quotas de sexo, idade e região, no caso dos trabalhadores, e por quotas de dimensão da empresa, no caso dos empregadores. Como se pode observar na Figura 1, mais de metade dos trabalhadores são mulheres com idades entre os 25 e os 54 anos, sendo que mais de 40% dos inquiridos residem em Lisboa e trabalham em empresas de pequena, média e grande dimensão. No que diz respeito aos empregadores/gestores (Figura 2), metade são mulheres e com idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos. A maioria reside em Lisboa e é sócio/ proprietário de uma pequena empresa. 17 Fig. 1 – Caracterização da Amostra dos Colaboradores (N=150) Idade Sexo 25-34 anos Feminino 35-44 anos Masculino 45-54 anos Dimensão da Empresa onde trabalha Região menos de 10 empregados Grande Lisboa de 10 a 50 empregados Grande Porto de 51 a 250 empregados Outras Regiões mais de 250 empregados Fig. 2 – Caracterização da Amostra dos Empregadores e/ou Gestores (N=80) Sexo Região Feminino Grande Lisboa Masculino Grande Porto Outras Regiões Idade 25-34 anos 35-44 anos 45-54 anos Dimensão da Empresa onde trabalha menos de 10 empregados de 10 a 50 empregados Sócio / Proprietário de 51 a 250 empregados Gerente / Gestor mais de 250 empregados 18 Função A amostra do estudo qualitativo é composta por seis trabalhadores e sete empregadores e/ou gestores, recrutados de um universo de indivíduos de ambos os sexos, residentes em Portugal, trabalhadores por conta de outrem e empregadores e/ou gestores. Os trabalhadores que participaram no estudo qualitativo incluem cinco mulheres e um homem, dois com idade entre os 25-34, dois entre os 35-44 e dois entre os 45-54. Em termos de dimensão da empresa onde trabalham, duas têm menos de 10 trabalhadores, duas têm entre 10-50, uma entre 51-250 e a restante possui mais de 250 trabalhadores. Os empregadores e/ou gestores que participaram no estudo qualitativo incluem três mulheres e quatro homens, quatro com idade entre os 35-44, um entre 45-54 e dois com mais de 54. Relativamente à dimensão das empresas que gerem, duas têm menos de 10 trabalhadores, três entre 10-50 e duas entre 51-250 trabalhadores. Participaram ainda no estudo qualitativo dois responsáveis efr1 de duas empresas portuguesas, EDP e Santander Totta, certificadas pela Fundación Másfamilia como Entidades Familiarmente Responsáveis. 1 efr é um movimento internacional que,fazendo parte da RSE, se ocupa de avançar e dar respostas em matéria de responsabilidade e respeito com a conciliação da vida familiar e profissional, ao apoio à igualdade de oportunidades e à inclusão dos mais desfavorecidos, tomando como base a legislação vigente e obrigatória e a negociação colectiva, de forma a que as empresas efr realizem uma autoregulação voluntária nesta matéria. Na actualidade a Fundación Másfamilia é a proprietária do esquema privado de certificação efr, assim como do modelo de gestão ad hoc e licenciamento da marca do mesmo nome. O certificado efr empresa, é uma ferramenta profissional e inovadora, que sugere uma metodología simples e eficaz para possibilitar os processos de conciliação nas nas empresas. Mais informação: www.certificacionefr.org 19 ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Enquadramento conceptual do compromisso Enquadramento conceptual do compromisso O compromisso numa organização está intimamente ligado ao talento. Assim e de uma forma simples, é possível inferir que: Talento = Compromisso x Capacidade ou Competências T = CxC = C2 Este simples algoritmo permite obter conclusões que, entendemos, são passíveis de ser partilhadas. Assim, se numa organização, seja uma empresa no seu conjunto, um setor, departamento ou apenas uma pessoa, deduziríamos que: Comp = 0 Tassociado = 0 Independentemente das capacidades ou competências dessa pessoa ou organização, sem compromisso não há talento! O compromisso, por sua vez, é fator de outras variáveis e atributos que tornam bem mais complexo estabelecer equações. Não obstante, podemos dizer que: Comp = f (identificação com o projeto e empresa, desenvolvimento de expectativas, conciliação e sustentabilidade a longo prazo, compensação recebida, estilo de liderança, coerência organizativa, entre outros) 23 O compromisso organizacional é um tema amplamente estudado na literatura científica e do qual resultaram diferentes propostas de definições, modelos explicativos e sistemas de avaliação. Não obstante, para efeitos deste estudo podemos assumir que: O compromisso Organizacional está relacionado com a identificação das pessoas com a organização em que trabalham, com a integração entre os objectivos da organização e os objectivos individuais e com os vínculos que mantêm a ligação de uma pessoa com a sua empresa. MEYER, J.P.; ALLEN, N.J (1991): “A three-component conceptualization of organization of organizacional commitment” Human Resources Management Review, Nº 1 A evolução nos estudos sobre o compromisso demonstrou a multidimensionalidade do conceito, sendo o modelo mais utilizado o de Meyer & Allen,1991. Estes autores identificam três dimensões do compromisso: Compromisso Afetivo Compromisso Contínuo Compromisso Normativo Vejamos o que significam cada uma destas dimensões: O compromisso organizacional afetivo reflete a ligação emocional que uma pessoa tem com a sua empresa, ou seja, o “desejo de pertencer”. 24 Para alguns autores, esta dimensão representa a identificação individual do trabalhador com a organização. Esta está, por sua vez, relacionada com uma forte aceitação e identificação com os valores e objetivos da organização, com o exercício de esforços consideráveis a seu favor e com um desejo forte de se manter como membro da mesma. O compromisso organizacional normativo espelha igualmente uma ligação emocional com a empresa mas, neste caso, o que revela é a “obrigação de permanecer”. Em concreto, reflete o dever moral e a lealdade. A ideia é: se a empresa me confere certos benefícios ou se se comportou bem no passado, então, tenho que corresponder. É o caso de uma pessoa que pode sentir-se formalmente obrigada a desempenhar um trabalho no interior da organização, mas não se sente, necessariamente, afetivamente ligada a ela. O compromisso organizacional contínuo revela a ligação material que uma pessoa tem com a sua empresa, ou, por outras palavras, a “necessidade de pertencer”. Esta dimensão demonstra que a pessoa está vinculada à empresa porque investiu tempo, dinheiro e/ou esforço na mesma, sendo que deixá-la significaria perder tudo o que investiu, tanto ao nível material (salário, benefícios, …), como no que respeita ao nível não material (estatuto). A dimensão em causa pode igualmente estar presente quando o colaborador percebe que tem poucas alternativas de encontrar outro emprego (por razões do mercado laboral, baixa competitividade do seu salário, etc.) 25 Qual das três dimensões do compromisso organizacional será mais conveniente desenvolver junto dos colaboradores das nossas empresas? Tendo em vista a perspetiva da conciliação, o impacto mais importante recairia, em primeiro lugar, sobre a dimensão afetiva, posteriormente sobre a contínua e, praticamente, não existiria influência sobre a normativa. Poderíamos resumir afirmando que: O Impacto da conciliação sobre o compromisso: 2/3 é afectivo e 1/3 é normativo No compromisso afetivo, o colaborador manifesta várias atitudes específicas, de que é exemplo um significativo orgulho de pertença à empresa, traduzido numa emoção legítima quando afirma trabalhar para a instituição ou falando muito dela em reuniões com amigos e familiares. Desde logo, os comportamentos laborais mais desejados, tais como o alto desempenho, a pontualidade, a conduta “extra mile” (fazer mais do que as competências estabelecidas para as funções em causa) e uma atitude proativa, preveem-se melhor a partir de um nível elevado de compromisso afetivo. O compromisso afetivo tende a aumentar à medida que se experimenta um maior conhecimento da organização, estabilidade, autonomia, responsabilidade, impacto do trabalho nos objetivos organizacionais e significado do trabalho. 26 Mas o que influencia o compromisso? Diferentes estudos sobre o compromisso identificaram antecedentes e consequentes do compromisso, ou seja, as variáveis que influenciam o compromisso e quais são as consequências que dele derivam. Entre elas podemos mencionar: Como variáveis antecedentes destacam-se as características pessoais, como por exemplo o posto de trabalho, a liderança, a organização, a tarefa (identificação, significado, autonomia, variedade de competências, feedback), a satisfação pessoal, a satisfação com as oportunidades de promoção e de desenvolvimento da organização, participação por parte da direção, idade e antiguidade. • Pessoais • Tarefa • Posto de trabalho • Liderança • Organização • Satisfação • Participação Antecedentes Compromisso • Rendimento • Afetivo • Continuo • Normativo Consequentes As consequentes estão relacionadas com o rendimento (absentismo, produtividade,…); 27 Algumas relações que foram encontradas são: o compromisso de atitude (afetivo) correlaciona-se positivamente com: ambiente, autonomia, satisfação no trabalho, participação, decisões, nº de filhos, oportunidade de promoção, participação na gestão e idade. a participação por parte da direção está relacionada com o compromisso normativo o compromisso com o grupo tem uma maior incidência sobre o compromisso com a organização comparativamente ao compromisso com o chefe hierárquico. o compromisso correlaciona-se com a motivação ou com a satisfação. Até aqui, foi revisto o conceito de compromisso organizacional extraído dos estudos e da literatura relacionada com a temática em causa. Mas, na verdade, qual a visão que os colaboradores e os gestores das empresas têm face a este compromisso organizacional? 28 Enquadramento conceptual do compromisso Tal como foi apresentado no estudo realizado em Espanha “o compromisso no século XXI escreve-se com “c” de “conciliação”. Todavia, na realidade, o compromisso é um conceito multidimensional, o qual é expresso através do Diamante do Compromisso. Ou seja, um profissional pode estabelecer cinco tipos de vínculos com um projeto, os quais determinam o seu nível de compromisso: 1.Com a Função: Este vínculo é desenvolvido relativamente ao grau de identificação e prazer que o profissional tem com a sua atividade. Segundo as investigações de Mihaly Csikszentmihalyi, director do “Quality of Life Research Center” da Claremont Graduate University na California, o fator que diferencia os alunos extraordinários dos alunos normais, não é o coeficiente intelectual, nem o nível socioeconómico, mas antes o prazer que retiram daquilo que fazem. 2.Com a Relação com a Empresa: No vínculo de relação com a empresa podemos fazer referência ao aspeto contratual e, em particular, às condições de compensação totais que o profissional acorda com a organização. 3.Com a Cultura da Organização: existe um outro grupo de aspetos próprios da empresa e que têm uma influência positiva no tipo de compromisso. 29 Definidos como “cultura organizacional”, incluem: as medidas de conciliação e outras de “salário emocional” como as que se encontram contidas no efr, os valores da empresa, a comunicação, a força da marca, o impacto social da organização, etc. 4.Com o Líder: A relação que o líder estabelece com cada profissional da sua equipa converte-se num dos laços mais fortes para dar origem ao compromisso. Quando este vínculo falha, converte-se no primeiro motivo de mudança de empresa. Isto é, os profissionais mudam-se por causa dos seus chefes, e não por causa das empresas, e esta circunstância produz-se nos casos em que a proximidade do chefe eclipsa as atuações realizadas por uma organização, em muitos casos abstrata e distante, sendo que noutras amplifica e faz brilhar com luz própria as decisões corporativas. 5.Com a Equipa: As relações que um profissional estabelece com os seus companheiros de trabalho são um fator muito importante no momento em que este se compromete com um projeto. O bom ambiente favorece o trabalho em equipa, bem como o enriquecimento de ideias e iniciativas. Assim, se a pessoa tem interiorizados valores como o espírito de equipa ou de solidariedade, pode-se estabelecer um vínculo muito forte e eficiente neste âmbito. O modelo do Diamante do Compromisso permite analisar quais são as ações que se devem realizar numa organização de acordo com as suas características próprias e do momento em particular que a organização vive. A utilização deste modelo na reflexão sobre a estratégia a implementar numa determinada organização, proporciona uma ferramenta muito útil e uma visão que permite estabelecer as prioridades sobre as formas de atuar. 30 DIAMANTE DO COMPROMISSO Cada um dos vínculos pode ser decomposto em diferentes variáveis sobre as quais se pode trabalhar: Relação: –Recompensa – Salário / beneficios – Medidas de conciliação – Avaliação de desempenho – Ambiente de trabalho – Distância do trabalho Cultura: – Estilo de liderança – Imagem pública –RSC –Comunicação-informação – Valores corporativos –Comportamento com os stakeholders (pessoas, clientes, patrocinadores,…) – Coerência nas decisões – Cultura de conciliação 31 Função/Tarefa: – Satisfação com o trabalho/tarefa – Adequação com as expectativas – Variedade de tarefas realizadas – Autonomia no trabalho – Participação na tomada de decisões – Capacidade/ possibilidade de inovação Chefe/Líder: – Estilo de liderança – Reconhecimento das metas realizadas –Proximidade – Apoio percecionado – Interesse pelos problemas pessoais Equipa: – Trabalho em equipa – Coesão de grupo – Ambiente de trabalho – Nível de relação com os seus companheiros – Reconhecimento por parte da equipa A vermelho assinalam-se aquelas dimensões em que o modelo efr tem um impacto positivo, concluindo-se que se identificaram 17 dimensões distintas (61% sobre o total) o que comprova, portanto, que a relação causa-efeito é das mais potentes e interessantes. Esta conceção multidimensional do compromisso levou-nos ao desenho de um questionário que permite avaliar o grau de consistência de cada um destes vínculos numa organização. 32 ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Resultados Resultados Metodologia seguida No sentido de uma complementaridade de informação, optou-se por uma metodologia mista quantitativa e qualitativa. No estudo quantitativo foram aplicados questionários online (traduzidos e adaptados para Português da versão produzida pela Fundación Másfamilia) a indivíduos pertencentes à base de dados da plataforma de questionários online da Ipsos Apeme, atualmente composta por mais de 26.000 membros. No caso dos empregadores, o mesmo questionário foi aplicado a 44 empresários da ACEGE. A aplicação dos questionários aos trabalhadores teve lugar entre 8 a 24 de abril de 2013, enquanto os empregadores foram inquiridos entre 10 de Abril e 9 de Maio de 2013. Após a recolha e validação da informação, os questionários foram codificados para posterior análise estatística. No estudo qualitativo foram conduzidos dois focus groups, um com trabalhadores e outro com empregadores e/ou gestores. Ambos decorreram nas instalações da ACEGE e foram gravados em áudio com prévia autorização de todos os participantes. O focus group com os trabalhadores teve a duração de 67 minutos e ocorreu no dia 28 de maio de 2013. O focus group com os empregadores teve a duração de 57 minutos e ocorreu no dia 20 de maio de 2013. Ambos foram transcritos na íntegra antes de se proceder à análise de conteúdo. 35 Para além dos dois focus groups, foram ainda realizadas duas entrevistas aos responsáveis de duas empresas portuguesas, EDP e Santander, certificadas pela Fundación Másfamilia como Entidades Familiarmente Responsáveis (efr). As entrevistas tiveram a duração respetiva de 23 e 25 minutos e ocorreram a 5 de junho e a 27 de junho de 2013. 1. O que entendem por compromisso organizacional? Para os seis trabalhadores que participaram no focus group, o compromisso organizacional significa o “amor à camisola”, não só com a entidade para a qual estão a trabalhar, mas também com as chefias e com os pares. Significa não necessitar estar tantas horas no trabalho, gerir melhor e ter prioridades. Para isso, segundo os mesmos, “tem de haver harmonia e equilíbrio pessoal”, considerando também que o “mau compromisso” é sempre do próprio. Para os sete empregadores, o compromisso organizacional é dinâmico ao longo do tempo, no qual “existe um alinhamento entre ambas as partes”. Por um lado, a pessoa “sente” a empresa, adequa-se, considera-se parte integrante da mesma, sente que está a criar valor, envolve-se nela como se fosse sua, tem liberdade com responsabilidade e decide comprometer-se. Por outro, a empresa envolve a pessoa, comunica objetivos, disponibiliza condições que estão alinhadas com os objetivos de carreira e permite o desenvolvimento da pessoa no interior da organização. Segundo os mesmos, “percebem-se os motivos dos que ‘aguentam’ em tempos de crise”. Contudo, salientam, existem diferenças significativas entre as empresas de pequena e grande dimensão. Se nas empresas pequenas “o grau de controlo e motivação nasce da habilidade do dono da empresa para ter a equipa sobre o seu controlo”, 36 nas empresas grandes têm de existir métricas, objetivos e um controlo apertado. Responsável EFR 1: “[O compromisso organizacional] é acreditar que o trabalho é mais do que uma obrigação e não somente o motivo pelo qual eu sou paga (…). Nos casos em que as pessoas não sentem o compromisso com o a organização, o que está em causa é trabalhar para receber um salário, implicando que a função deva ser bem balizada e monitorizada. Pelo contrário, uma pessoa que esteja envolvida, dá o seu melhor para concretizar um trabalho, uma tarefa, um projeto.” Responsável EFR 2: “O compromisso é perceber bem a missão, os valores de uma organização, os objetivos da ‘casa’, partilhá-los e vivê-los. Temos um programa que visa eleger, todos os anos, as pessoas que melhor representam cada valor da organização. E todos os anos são escolhidas pessoas diferentes, o que significa que são muitos os colaboradores que se sentem comprometidos com os valores da organização”. 2. Que características destacariam numa pessoa que consideram comprometida com a sua organização? De acordo com os seis trabalhadores que participaram no estudo qualitativo, as características de elevado compromisso são o “nós”, o equilíbrio, o sentir-se bem, o gostar de trabalhar em equipa, a responsabilidade, a dedicação e o profissionalismo. Os sete empregadores e/ou gestores, por sua vez, referem como características de elevado compromisso a disponibilidade, a proatividade (novas oportunidades, mercados), a procura da criação de valor, a noção de serviço, a motivação e o motivar, o entusiasmo e ser entusiasta, a focalização, o perfeccionismo, 37 o tempo para a responsabilidade social (para os problemas dos outros na organização), a forte personalidade, a determinação, a capacidade de resistir, o “vestir a camisola”, a procura de ser confiante, a procura de dar o melhor de si à organização, a noção estratégica e a capacidade de ler o mercado. Responsável EFR 1: “[Características (…)]Alguém que recomenda a empresa e fala dela com grande orgulho. São pessoas que não se pautam por esforços mínimos, estando sempre disponíveis para a denominada ‘extra mile’, colocando até e por vezes, os aspetos pessoais em segundo plano”. Responsável EFR 2: “Colocam, muitas vezes, os interesses da organização em primeiro lugar, elogiando-a, tanto em situações profissionais como particulares. São pessoas que conseguem equilibrar harmoniosamente os interesses da organização, sem pôr em causa os interesses das pessoas que nela trabalham. São pessoas que partilham a linguagem coletiva da organização, sendo positivas e capazes de motivar e inspirar os outros.” 3. Quais os fatores de uma empresa que consideram que pode afetar o nível de compromisso de um trabalhador? De acordo com os 150 trabalhadores que participaram no estudo quantitativo, o fator que mais contribui para o compromisso com a empresa ao nível da função/tarefa (Figura 1) é a satisfação com a mesma (M=4.14); no que respeita à relação com a empresa (Figura 2) é o ambiente de trabalho (M=4.01); relativamente à cultura da empresa (Figura 3) é a cultura de conciliação trabalho-família (M=3.75): da relação com o superior/chefe (Figura 4) sublinha-se o reconhecimento do desem38 penho de tarefas (M=3.94) e, por último, no que à relação com a equipa/colegas diz respeito (Figura 5), é a própria relação com os colegas (M=4.11). Contudo, apenas 17% dos 150 trabalhadores consideram-se totalmente comprometidos com a sua empresa (Figuras 7 e 8). Segundo os trabalhadores, a variável que mais pode diminuir o compromisso com a empresa (Figura 6) é o atraso ou diminuição do salário. Responsável EFR 1: “Os fatores que podem afetar o compromisso são, a meu ver, os seguintes: a ausência de autonomia que a pessoa pode ter para desenvolver o seu trabalho, um possível ambiente ‘condicionado’, não só no que respeita às ferramentas que são colocadas à sua disposição, mas também a falta de apoio por parte dos colegas”. Responsável EFR 2: “A inexistência de transparência é um dos fatores que mais pode afetar o compromisso. As pessoas prezam instituições que percebem e conhecem, e nas quais e sentem envolvidas. Uma má comunicação no interior da organização é igualmente perniciosa”. 4. Como deve uma empresa atuar para aumentar o nível de compromisso da sua força de trabalho? De acordo com os seis trabalhadores, o que aumenta o compromisso com a empresa é a motivação, o exemplo, o sentir-se parte da solução, o envolvimento da pessoa no objetivo da empresa - “que tenha objetivos bastante definidos e que nós façamos parte deles” -, a identificação com os valores, o clima organizacional, a comunicação entre chefias e entre funções, a intercomunicação, a existência de um fluxo eficaz de informação, a transparência da comunicação, a confiança, o sentir que há justiça também na distribuição de resultados, no aco39 lhimento, o reconhecimento do empenho, outro tipo de recompensas em termos de flexibilidade de horários, conhecer bem os colaboradores com quem trabalhamos, dar-lhes atenção, poder ouvi-los, orientação e o coaching. Segundo os mesmos, a totalidade destes fatores é comum a todos os setores de negócio. A parte remuneratória “vem no fim, não influencia tanto”, sendo que também os sete empregadores inquiridos não concordam unanimemente que é a remuneração o fator que mais aumenta o compromisso. Os “ativadores” de compromisso são, na sua opinião, a perspetiva de carreira, a possibilidade de fazerem turnos suplementares quando necessário, a cultura de definição de objetivos e de envolvência, incluindo os resultados, o sentir confiança e responsabilidade, a liderança encorajadora (chefia/direção) e o espírito de serviço. Responsável EFR 2: “Existe um conjunto significativo de ações de motivação que podem ser desenvolvidas, sendo que nem sempre são os incentivos financeiros os que mais importam. O reconhecimento é extremamente importante, bem como a compreensão de que as pessoas nem sempre têm o mesmo estado de espírito. Por outro lado, existir um alinhamento ‘com o outro’ é fundamental. Além disso, cada vez mais é preciso informar, comunicar e envolver as pessoas, para que estas saibam exatamente qual é o seu papel no interior da organização. Por último, as boas relações entre colegas são igualmente fundamentais”. 40 5. Até que ponto consideram que ações e políticas de conciliação influenciam o compromisso de uma equipa? De acordo com os seis trabalhadores do estudo qualitativo, a influência da conciliação no compromisso percebe-se pela flexibilidade nas questões familiares, o facto de se ser visto de outra forma quando se está com problemas e de “pequenas coisas” que sirvam para melhorar a qualidade de vida dos colaboradores. Na perspetiva dos sete empregadores, a influência da conciliação no compromisso é de extrema importância, pois as pessoas cada vez mais procuram perceber qual é o valor que é conferido à sua vida pessoal. Ou seja, significa fazer tudo para que haja equilíbrio familiar. A temática da conciliação é, segundo os respondentes, um tema que está “na moda e que, durante anos, foi injusta e abusivamente relacionado apenas com a mulher, no que respeita à sua vida profissional e ao impacto na carreira. Assim, “a conciliação de carreira deve ser colocada tanto aos homens como às mulheres”. Na opinião dos inquiridos, “quem não concilia eficazmente o trabalho com a família, falha e o mesmo acontece com a organização, pois significa que os seus métodos não estão a ser bem implementados”. Segundo estes empregadores e no que a esta temática diz respeito, o panorama em Portugal apresenta melhorias significativas, apesar de se ter assistido a uma hipervalorização da vida profissional que prejudicou a vida pessoal de muita gente. A totalidade dos 80 empregadores e/ou gestores que responderam ao questionário online admitem igualmente existir uma relação entre a conciliação trabalho-família e o aumento do compromisso, considerando a maioria esta relação de elevado interesse (Figura 13). 41 Responsável EFR 1: “Sem dúvida nenhuma, as pessoas são seres completos e será nessa amplitude de papéis que reside a grande questão: ser ou não ser capaz de separar a vida pessoal da vida profissional ou saber equilibrar ambas. Na medida em que estes papéis acabarem por ser complementares, o facto de o colaborador ter o conforto de saber que a organização se preocupa também com a sua vida pessoal, e não se ser penalizado por isso, é extremamente importante. Seja porque temos de ir à escola de um filho, seja porque saímos mais cedo para fazer exercício físico, pois nos ajuda física e psicologicamente, por exemplo. Sentir que sou apoiada e incentivada deste ponto de vista aumenta, sem dúvida nenhuma, o meu envolvimento, rendimento e produtividade”. Responsável EFR 2: “Eu diria que é fundamental a empresa não ser somente ‘business oriented’, mas também ‘people oriented’. E quando a organização não se preocupa com o bem-estar dos colaboradores, os sinais são bastante visíveis. Trabalhar nestes sinais é imprescindível para a saúde da empresa e para diminuir, por exemplo, a sua taxa de turnover. E, para encontrar o equilíbrio certo, é necessário ouvir os colaboradores, para se trabalhar, seguidamente, nas diversas políticas e iniciativas de conciliação, indo ao encontro das suas queixas e necessidades. Por outro lado, os responsáveis pelo delinear e pela condução das políticas de RH têm de estar permanentemente atentos e ouvir, sempre, o que a organização está a ‘transmitir’ e a todos os seus níveis”. 42 6. Segundo vários estudos, Portugal lidera a lista de países da UE que mais horas dedica ao trabalho numa base anual e em que a produtividade é menor. Consideram que esta realidade pode ser devida, em parte, ao baixo nível de compromisso que as empresas geram na sua força de trabalho? No que diz respeito à relação entre carga horária e produtividade em Portugal, os seis trabalhadores consideram-na uma questão cultural, fruto de má gestão e de uma fraca avaliação do próprio trabalho no dia-a-dia. Os inquiridos enfatizam que as pessoas são pouco focadas e pouco organizadas, e que o problema não só é inerente às próprias pessoas, como também às chefias. A este respeito dão como exemplo o facto de não existir uma lista de prioridades e uma definição clara de objetivos. Por sua vez, os sete empregadores também consideram o binómio carga horária/produtividade como uma questão cultural, sublinhando que a geração dos 35-45 anos valoriza muito a saída tardia, devido a questões de status, ambição e até ganância. A geração dos 25-30 anos possui, por seu turno, uma preocupação intrínseca em compatibilizar a vida familiar com a vida profissional, “talvez por muitos serem filhos de pais separados”. Responsável EFR 1: “A meu ver, esta questão está significativamente relacionada com a noção espacial de tempo, ou seja, com a forma como cada país ou cultura ‘sente’ o tempo. Em segundo lugar, há que diferenciar se as pessoas são reconhecidas pelo tempo que trabalham ou pelos resultados do mesmo. O planeamento e a gestão de tempo são também atributos indispensáveis a considerar nesta temática. Todavia, considero mesmo que a questão cultural é a mais importante. Os portu43 gueses não têm a mesma noção do tempo comparativamente a um nórdico ou a um europeu do centro, por exemplo”. Responsável EFR 2: “Penso que não tem a ver com compromisso, mas sim com uma noção, ‘criada’ em Portugal, de que o bom colaborador é aquele que fica muitas horas na empresa. O que é completamente erróneo. Todavia e à medida que se vai evoluindo para modelos de gestão por objetivos, esta noção começa a perder força. Estar comprometido com a organização não tem rigorosamente nada a ver com o tempo que nela se permanece”. 7. Poderiam dar algumas sugestões às demais empresas portuguesas para aumentar o seu nível de compromisso? Quando questionados sobre conselhos para elevar o compromisso organizacional, os seis trabalhadores enumeram a partilha dos valores da organização, o facto de se sentirem como um elemento que realmente pertence à organização, serem consideradas “pessoas” e não apenas uma força de trabalho, serem conhecidos, a qualidade da relação com a chefia, (a existência de rituais/pequenas coisas) e o facto de a organização perceber aquilo que os seus próprios colaboradores valorizam. Enfatizam igualmente que “se a entidade patronal compreender as pessoas (problemas familiares, de saúde, entre outros) chegará também a altura em que esta também tem de ser compreendida (alturas de dificuldades) ”. Os inquiridos valorizam a preocupação com as pessoas e a escolha de projetos fora do contexto do trabalho, que os estimulem para determinados valores (como por exemplo, projetos comuns de voluntariado). 44 Por seu turno, os sete empregadores enfatizam que a alteração do compromisso família/trabalho só pode ser realizada pelos patrões e/ou pelos líderes. Ao salientarem a importância da conciliação, referem igualmente que aqueles que “optam só pela componente profissional” - doutoramento, especialização, ir para o estrangeiro – estão a cometer um erro. Responsável EFR 1: “Em primeiro lugar, o reconhecimento, o qual não passa, necessariamente, pelo dinheiro, mas sim pelo contributo que o colaborador dá à organização e também no sentido de se considerar a pessoa enquanto ser humano e não apenas como um número. Em segundo lugar, o papel das chefias, que é absolutamente fundamental, ou seja, ser-se sensível a estados de espírito ou preocupações que o colaborador possa ter. Em terceiro, um ambiente de trabalho que seja ‘simpático’ e no qual se possa ‘respirar’”. Responsável EFR 2: “Eu diria que ouvir os colaboradores, criando canais específicos para tal, é fundamental. Se os escutarmos, é muito mais fácil adequar a organização às suas necessidades e preocupações. Neste sentido, a comunicação interna é extremamente importante. Por outro lado, e se falamos com os clientes e nos preocupamos que estes tenham experiências positivas com a organização, devemos falar e ter a mesma preocupação com os colaboradores, para que também eles sintam que têm experiências positivas na organização para a qual trabalham”. 45 8. Como se pode medir/avaliar o compromisso das pessoas a uma organização? Quando se fala em avaliar o compromisso organizacional, os seis trabalhadores referem que este deveria ser medido, assegurando, contudo, que tanto o método como a frequência desta avaliação, tem de ser adequado a cada organização. Alguns referem que não a fazem por falta de tempo; outros respondem que a realizam, de forma qualitativa, na reunião semanal/ mensal de controlo. Há até quem refira a contratação pontual de um consultor externo para avaliar como as pessoas se encaixam na organização, em que tipo de papel, de forma a otimizar funções. Dois inquiridos referem o estudo das “Melhores Empresas para se Trabalhar” realizado pela consultora Heidrick & Struggles da seguinte forma: “Foi positivo ter esse feedback porque era completamente anónimo”. Contudo, os respondentes são unânimes quando referem não realizarem uma avaliação quantitativa e periódica do compromisso, mas sim uma avaliação de desempenho. “Não sei bem em que consiste uma avaliação do compromisso organizacional. Fazemos uma avaliação normal, realizada pelo diretor”. (…)” “Na avaliação anual de desempenho, uma das perguntas é se estamos comprometidos com os valores da empresa. E, mesmo que não se esteja, toda a gente afirma que está”. Há também quem refira que o faz através de conversas diárias porque “nem fazia sentido, porque somos muito poucos”. Outro trabalhador fala de um possível índice que permitisse, em organizações de grande dimensão, obter alguns indicadores pessoais sobre os trabalhadores (número de filhos, se tem ascendentes a cargo, entre outros), ajudando 46 a organização a avaliar a pessoa em termos de mobilidade ou de evolução da carreira. Os sete empregadores, por sua vez, confirmam que o compromisso com a conciliação é difícil de ser metricamente avaliado. Por isso, opta-se por algo mais informal, pelo grau de entusiasmo com que as pessoas trabalham, pelos desafios que abraçam, pela forma como encaram dificuldades, pela sensibilidade no dia-a-dia, pela assiduidade e disponibilidade. Os empregadores questionados referem também que o “Prémio Excelência no Trabalho” permite que as empresas de grande dimensão tenham surpresas interessantes, uma vez que os questionários sobre o ambiente geral da organização em causa são anónimos. No que diz respeito aos empregadores e/ou gestores que participaram no estudo quantitativo (N=80), a maioria tem interesse em avaliar o compromisso dos colaboradores com a empresa (Figura 9), de forma estruturada (Figura 10, mas adaptada a cada negócio (Figura 11). Mais de metade dos empregadores e/ ou gestores já avalia o compromisso (Figura 12). Quando questionados sobre há quanto tempo medem e como, apenas metade dos participantes responde. Destes, quase 30% diz fazer esta avaliação desde sempre e quase metade dos participantes refere que a medida que utiliza é confidencial. Responsável EFR 1: “Realizamos surveys com perguntas próprias, as quais permitem avaliar o envolvimento das pessoas. E temos dois tipos de questionários: um de clima, o qual tenta aferir a motivação por forma a aumentar o compromisso e outro de cultura organizacional, mais recente e que este ano, pela primeira vez, vai ao encontro desta ‘moda’ da gestão que 47 é, precisamente, avaliar o envolvimento dos colaboradores. Todavia, há que ter em consideração que este tipo de instrumento não é uma ciência exata, apesar de existirem itens que podem ser quantificados, sendo que a análise estatística ajuda. Os nossos estudos são elaborados via intranet da empresa e, apesar de não serem anónimos, são confidenciais. Interessa-nos sobretudo saber, por segmentos, o que determinado grupo sente relativamente à empresa. Temos um código de ética muito rígido e não avaliamos nenhum grupo que tenha menos de 15 elementos. Esta avaliação permite-nos perceber por que motivo uma unidade de negócio ou uma direção tem mais ou menos motivação, sendo que existe sempre o cuidado posterior de promover ações de mobilização para aumentar a motivação do grupo em causa. Como afirmei anteriormente, este será o primeiro ano em que vamos avaliar o envolvimento”. Responsável EFR 2: “Tudo se pode medir. Acabámos de realizar um questionário em 10 países que nos dá, claramente, uma fotografia da organização. E o mercado tem cada vez mais ferramentas que permitem avaliar diversos critérios e dimensões, sendo que o compromisso está entre eles. Por exemplo, e especificamente no que diz respeito ao compromisso, existe uma ferramenta que faz uma avaliação contínua, escolhendo, aleatoriamente, x colaboradores, os quais recebem no seu email uma mensagem que pergunta simplesmente : como se sente hoje? Existem, atualmente, imensas formas e ferramentas de avaliação”. 48 9. De que modo o modelo de gestão EFR influenciou o nível de compromisso na sua organização? Responsável EFR 1: “Fomos certificados em Janeiro, sendo que um dos nossos valores de marca reside no facto de sermos uma empresa humana. E, tal como os humanos são multifacetados, o mesmo acontece com a nossa organização. Todavia, ao termos na nossa génese a preocupação com as pessoas, só depois de serem feitas as auditorias e de elencarmos todas as medidas que nos permitiriam enquadrar o modelo EFR, é que tive a noção (e trabalho aqui há 12 anos) de que, enquanto empresa familiarmente responsável, temos 168 medidas, ‘extra lei’. Ou seja, destas 168 medidas, a maior parte delas existe desde sempre e há mais de trinta anos, o que significa que realmente fazem parte do ADN da empresa, e nem nos passa pela cabeça que não seja assim para todos. Com base em cinco pilares temos, por exem plo, apoio na saúde, para o colaborador e família, campos de férias para os filhos dos trabalhadores, visitas temáticas, estágios de verão e orientação profissional também para os filhos dos colaboradores - por exemplo, estágios de um a dois meses antes de estes terminarem as suas licenciaturas - apoio aos estudos, entre muitíssimas outras. A certificação EFR ajudou-nos, assim, a organizar e a nos apercebermos que temos inúmeras medidas às quais não dávamos o devido valor, por estarmos completamente habituados a elas. Ou seja, temos um enorme salário emocional o qual, a partir de agora e via a nossa intranet, vai poder ser devidamente comunicado – o que é extremamente importante, pois quando não o é, pode ter o efeito perverso de as pessoas pensarem que é um direito e não um ‘extra’ – e terá, decerto, um impacto brutal, principalmente num momento difícil como o que estamos 49 a passar, pois obriga-nos igualmente a valorizar não só o que fazemos pela empresa, mas o que ela faz também por nós. As normas e a certificação serviram também para nos dar esse alerta. Por outro lado, há pequenas coisas que surgem, das quais não nos tínhamos lembrado. Dou-lhe um exemplo: não tínhamos lugares de estacionamento para grávidas e deficientes e decidimos incluir mais essa medida. Assim, e resumindo, quais são as grandes vantagens da norma EFR? Sistematização, comunicação e organização. E, a partir daí, depois de percebermos as lacunas, só temos de melhorar”. Responsável EFR 2: “Eu diria que não foi o modelo de EFR que aumentou o compromisso, mas sim que a empresa aumentou o seu compromisso de acordo com os standards do modelo. Há sete anos que iniciámos este processo, sendo que a certificação entra num ‘comboio’ que está já em andamento. Toda a gente sabe que somos certificados em EFR, porque fizemos uma enorme divulgação. Como afirma o nosso presidente muitas vezes, ganhar a certificação foi muito mais importante do que ganhar um qualquer prémio em alguma área. Mas também é possível dar um exemplo muito concreto de como o modelo nos ajudou. Em 2007, e depois de termos realizado um inquérito de clima, institucionalizou-se a oferta da tarde aos colaboradores nos dias de aniversário dos seus filhos. Todavia, eram poucos os que gozavam desta medida, apesar de os termos sempre tentado sensibilizar para a sua importância. Quando veio a certificação - uma das suas grandes vantagens é o facto de sermos ‘obrigados’ a tomar medidas concretas e a comprometermo-nos a melhorar as que já temos - institu- 50 ímos um processo, simples, que passa por enviar às chefias, nos primeiros dias de cada trimestre, os aniversários dos filhos dos seus colaboradores. Cabe às chefias incentivar a utilização da medida e, no final do trimestre, através da aplicação em causa, ficámos a saber que 50 pessoas a usaram e 12 não o fizeram. Estes 12 pais foram incentivados, individualmente, a utilizar a medida, apesar de, e como seria de esperar, não os questionarmos sobre os motivos que tiveram para não o fazer. E, se no início, a percentagem de pessoas que tiravam a tarde dos aniversários dos seus filhos não era superior a seis ou sete por cento, hoje são mais de 80% aqueles que o fazem. A certificação obriga-nos a ter métricas e a ter melhorias, a dar-nos disciplina. Assim, diria que a certificação EFR aumentou mais o compromisso da organização. Por outro lado, pelo facto de sermos uma empresa de grande dimensão, temos muitas medidas e sabemos que há pessoas que valorizam mais umas do que outras. Se ter um seguro de saúde complementar ou uma licença de maternidade paga a 100% são medidas que todos valorizam, há também os que, porque têm filhos pequenos, a tarde do aniversário, outras têm filhos maiores e adoram o prémio que a organização dá quando estes completam o 12º ano, e assim por diante. Outro exemplo é o regime de trabalho a tempo parcial que temos, melhorado face à lei e que permite a uma pessoa que esteja a passar por alguma situação particular na sua vida, dizer, ‘eu preciso de passar para meio tempo agora durante dois ou três meses’, sendo que a organização confere esta possibilidade sem qualquer penalização. Tenho a certeza que a certificação EFR veio ajudar. 51 ESTUDO SOBRE O COMPROMISSO E A CONCILIAÇÃO EM PORTUGAL Conclusões Conclusões 1. 46 % dos empregados portugueses afirmam encontrar-se em níveis neutros, baixos e muito baixos de compromisso com a sua entidade. 2. Como já mencionámos, o compromisso é um conceito multidimensional (teoria do diamante do compromisso), no qual se repercute a função desenvolvida, a relação com a empresa, a cultura da organização, a relação com o chefe e/ ou superior e a relação com a equipa. Do estudo realizado em Portugal, podemos aferir que, no interior de cada vértice ou dimensão do diamante, as variáveis que maior influência têm na criação do compromisso, são as seguintes: Relativamente à Função/Tarefa, o mais influente com 4.14 (em 5) é a satisfação com o trabalho/tarefa. Na Relação com a Empresa, o que mais influencia é o ambiente de trabalho com 4.01 (em 5). Na dimensão Cultura, o mais influente é a cultura de conciliação família-trabalho, com 3,75 (em 5). Na Relação com o Superior Hierárquico, o que mais se valoriza é o reconhecimento dos objetivos alcançados, com 3,84 (em 5). Por último, no que respeita à variável Equipa, o que mais se destaca é a relação com os colegas, com 4,11 (em 5). 55 3. Tendo em conta as varáveis analisadas, pode-se concluir que um dos pontos básicos para uma melhoria do compromisso de um colaborador com a sua organização reside na criação de uma cultura de conciliação na organização em causa. 4. Atualmente, a conciliação da vida pessoal, familiar e laboral, é encarada de forma estreitamente relacionada com a mulher e o impacto na sua carreira, sendo de sublinhar, contudo, que esta noção tem tendência para se alterar, e ser relacionada com ambos os sexos, na medida em que os afeta a ambos. 5. 87% dos empresários e/ou gestores afirmaram que existe uma relação direta entre a conciliação e um maior compromisso. 6. A variável “idade” também deve ser considerada, retirando-se dos resultados que as pessoas mais jovens das organizações (entre 25 e 30 anos) são as que maior interesse demonstram na conciliação da vida familiar, pessoal e profissional. 7. Os resultados confirmam que, atualmente, o compromisso organizacional apenas é medido/avaliado por 42% das entidades em Portugal (58% reconhece que não o faz), seja por falta de tempo, interesse ou porque em certas ocasiões se confunde com a avaliação de desempenho. Contudo, vale a pena destacar que 95% dos inquiridos concordam deva existir uma avaliação específica para cada setor. 56 8. De uma forma geral pode dizer-se que em Portugal, o compromisso organizacional consiste num estreito reacionamento entrecolaboradores e empresa e vice-versa, independentemente do setor de atividade, e onde é sensível o contributo da conciliação família-trabalho para este compromisso. 9. Os tempos de crise que se vivem em Portugal servem igualmente para demonstrar os níveis legítimos de compromisso, sendo que o salário é o fator que menos importância parece ter neste compromisso. Em Portugal, o número ‘abusivo’ de horas que se passa no local de trabalho, sem corresponder a uma maior produtividade, é uma questão cultural, com tendência, contudo, para que a situação se altere com as novas gerações. 57 58 59 60 61 62 63 64