PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU DO INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA DA SANTA CASA DE BELO HORIZONTE THARCISIO GÊ DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO DA RETIRADA PRECOCE DO CATETER VESICAL APÓS PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS 2013 II THARCISIO GÊ DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO DA RETIRADA PRECOCE DO CATETER VESICAL APÓS PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-graduação e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Medicina e Biomedicina. Orientador: Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti Coorientador: Prof. Dr Denny Fabrício Magalhães Veloso BELO HORIZONTE – MINAS GERAIS 2013 III THARCISIO GÊ DE OLIVEIRA AVALIAÇÃO DA RETIRADA PRECOCE DO CATETER VESICAL APÓS PROSTATECTOMIA RADICAL RETROPÚBICA Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-graduação e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Medicina e Biomedicina. Data da defesa: ____/____/____ Comissão Examinadora formada pelos Professores: Dr. Dr. Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti – Orientador Prof. Dr. Denny Fabrício Magalhães Veloso – Coorientador IV A Deus, por permitir tantas graças e conquistas ao longo desta caminhada. À Míriam, minha esposa, minha maior incentivadora e alicerce em todas as grandes conquistas alcançadas nos últimos anos de minha vida. Aos meus pais, Lázaro e Francisca, pela companhia fiel e tanto carinho prestado. Aos meus irmãos, Thales e Thomaz, meus maiores amigos e companheiros inseparáveis. V AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti, um amigo, professor e profissional de competência inquestionável, que esteve presente em toda a elaboração deste trabalho. Ao meu coorientador, Prof. Dr Denny Fabrício Magalhães Veloso por todo o companheirismo e colaboração no desenvolvimento deste projeto. Aos preceptores da residência de Urologia da Santa Casa de Belo Horizonte, que com seus ensinamentos diários me permitiram alcançar um novo estágio em minha carreira profissional e por participarem deste trabalho que propôs mudar rotinas já bem estabelecidas no serviço. Aos colegas residentes que convivi nos últimos 3 anos pela compreensão e apoio neste período. A todos os funcionários e professores do Centro de Pós-Graduação do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte (IEP), que foram sempre solícitos durante a realização do curso. VI SUMÁRIO AGRADECIMENTOS............................................................................................ V SUMÁRIO ............................................................................................................ VI LISTA DE TABELAS ......................................................................................... VIII LISTA DE ILUSTRAÇÕES E GRÁFICOS ........................................................... IX LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS.......................................... X 1. RESUMO ........................................................................................................... 1 2. ABSTRACT ....................................................................................................... 3 3. INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA ................................................ 5 3.1 História da prostatectomia radical ...................................................... 7 3.2 Anastomose vesico-uretral .................................................................. 8 3.3 Tempo para retirada do cateter vesical ............................................... 9 3.3.1 Revisão histórica sobre retirada precoce do cateter vesical de demora após prostatectomia radical ............................................................... 11 4. OBJETIVOS .................................................................................................... 14 5. MÉTODO ......................................................................................................... 15 5.1 Ética ..................................................................................................... 15 5.2. Tipo de pesquisa ................................................................................ 15 5.3 Pacientes e amostragem .................................................................... 15 5.4 Coleta de dados .................................................................................. 16 5.5 Propedêutica realizada ....................................................................... 17 5.6 Técnica cirúrgica................................................................................. 18 5.7 Critérios de exclusão .......................................................................... 24 5.8 Avaliação estatística ........................................................................... 24 VII 6. RESULTADOS ................................................................................................ 25 7. DISCUSSÃO .................................................................................................... 34 8. CONCLUSÕES ................................................................................................ 40 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 41 10. ANEXOS ........................................................................................................ 45 10.1 Aprovação do comitê de ética em pesquisa .................................... 46 10.2 Consentimento informado - prostatectomia radical retropúbica... 47 10.3 Consentimento informado - pesquisa clínica .................................. 48 10.4 Protocolo de coleta de dados ........................................................... 49 10.5 Classificação Tumor, Nódulo, Metástase (TNM) para câncer de próstata - UICC (2009)........................................................................................ 51 10.6 Classificação de risco para o câncer de próstata ........................... 52 VIII LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Protocolos de retirada precoce do cateter vesical .................... 10 TABELA 2 - Características pré-operatórias estratificada por grupo............ 25 TABELA 3 – Estadiamento clínico pré-operatório .......................................... 26 TABELA 4 – Classificação de de risco pré-operatório - ASA......................... 27 TABELA 5 - Características per-operatórias estratificadas por grupo.......... 29 TABELA 6 – Análise estatística – Continência imediata e precoce ............... 31 IX LISTA DE ILUSTRAÇÕES E GRÁFICOS FIGURA 1 – Ilustração da parede posterior da anastomose vesicouretral ... 21 FIGURA 2 – Ilustração da parede anterior da anastomose vesicouretral ..... 23 GRÁFICO 1 – Infecção urinária e Retenção urinária por grupos (%) ............ 30 GRÁFICO 2 – Continência Imediata e Precoce por grupos(%) ...................... 32 GRÁFICO 3 – Continência Imediata e Precoce (comparação de retirada Precoce x Tardia) ............................................................................................... 33 X LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS PSA – Prostatic specific antigen (Antígeno prostático específico) USTR – Ultrassonografia transretal SCMBH – Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte PR – Prostatectomia Radical PRR – Prostatectomia Radical Retropúbica PRL – Prostatectomia Radical Laparoscópica n – Número de pacientes do estudo Nº - Número CAT. – Tempo em dias de permanência do cateter vesical ANAST. – Tipo de sutura realizada na anastomose vesicouretral CISTO. – Realização de cistografia EST. – Estenose da anastomose vesicouretral RUA – Retenção Urinária Aguda CONTR. – Grupo controle CONT. - Continência NR – Não relatado no trabalho DPO – Dia de Pós-Operatório ITU – Infecção do Trato Urinário CEP – Comitê de Ética em Pesquisa UICC – Union Internacionale Contre Le Cancer TNM – Tumor, Nódulo, Metástase TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido CEM – Centro de Especialidades Médicas Metropolitano UI – Unidades Internacionais IMC – Índice de Massa Corpórea ng - Nonograma g – Grama Kg – Quilograma m² – Metro quadrado XI mL - Mililitro dL – Decilitro min – Minutos EC – Estadio Clínico TVP – Tromobose Venosa Profunda TEP – Tromboembolismo Pulmonar Hb - Hemoglobina -1- 1 - RESUMO Introdução: O tratamento do câncer de próstata através de prostatectomia radical está associado ao uso de cateter vesical de demora por período variável. Com o advento da cirurgia laparoscópica adquiriu-se experiência com o uso de sutura contínua para realização da anastomose vesicouretral, permitindo menor tempo de permanência do cateter vesical no pós-operatório. Há alguns anos esta sutura também tem sido utilizada em prostatectomia radical retropúbica com bons resultados. Objetivos: Avaliar a possibilidade de retirada precoce (três e cinco dias) do cateter vesical de demora após prostatectomia radical retropúbica com anastomose vesicouretral por sutura contínua. Avaliar, também, se a retirada precoce do cateter vesical tem influência nas taxas de infecção do trato urinário (ITU), estenose da anastomose vesicouretral ou continência urinária imediata e precoce (até 30 dias após a retirada do cateter) comparada à retirada habitual (10 a 14 dias). Método: No estudo foram avaliados, prospectivamente, 64 pacientes submetidos à prostatectomia radical retropúbica por câncer de próstata localizado ou localmente avançado. Os pacientes foram divididos, aleatoriamente, em três grupos: Grupo A (n = 24) permanência do cateter por três dias; Grupo B (n = 20) permanência do cateter por cinco dias; Grupo C – Controle (n = 20) permanência do cateter por 10 a 14 dias. Todos os pacientes foram submetidos ao mesmo tipo de cirurgia e anastomose vesicouretral. Foi aplicado protocolo específico durante todo o período de internação, sendo os pacientes avaliados, entre outros aspectos, quanto retenção urinária, estenose da anastomose vesicouretral e incontinência urinária. Resultados: Os pacientes foram avaliados por período de 9 a 15 meses. A média de idade geral foi de 66,1 ± 6,8 anos e a média dos valores séricos do PSA foi de 9,2 ± 6,1 ng/mL. O tempo cirúrgico médio foi de 118 ± 30,2 minutos. Não houve necessidade de hemotransfusão e não houve óbitos relacionados à operação. Não ocorreram casos de trombose venosa profunda, tromboembolismo pulmonar, abscesso pélvico ou urinoma. O tempo médio de internação foi de 3,75 dias para o grupo A (de três a cinco dias), 4,4 dias para o grupo B (dois a oito dias) e 2,86 dias para o grupo C (dois a quatro dias). Identificou-se ITU em 8,3% dos pacientes do -2- grupo A, em 5% do grupo B e em 30% do grupo C (p = 0,0134). Não ocorreram casos de estenose da anastomose vesicouretral no período de seguimento citado. A taxa de continência imediata geral para todos os grupos (incluindo o grupo controle) foi de 31,25%, sendo de 50% para o grupo A,de 35% para o grupo B e de 5% para o grupo C (p = 0,0053). Somando os grupos de retirada precoce do cateter vesical (grupos A + B), foi encontrado 43,2% de continência imediata, que quando comparado ao grupo C mostrou significância estatística (p = 0,0023). Em relação à continência precoce (até 30 dias após a retirada do cateter), encontrou-se um percentual de 54,7% somando-se todos os grupos, sendo de 67% para o grupo A, 60% para o grupo B e 35% para o grupo C (p = 0,0932). Nos grupos A + B o resultado foi de 63,6% de continência precoce. Comparando-se (A + B) x C novamente obteve-se significância estatística (p = 0,0329). Conclusão: É possível a retirada precoce do cateter vesical com um risco aceitável de retenção urinária no pós-operatório. A retirada precoce do cateter vesical parece reduzir as chances de infecção do trato urinário, mas não apresenta influência nas taxas de esclerose de colo vesical. A continência urinária ocorreu mais precocemente nos pacientes que permaneceram menos tempo com o cateter vesical, porém, em longo prazo, os resultados parecem ser semelhantes. Descritores: Próstata, câncer de próstata, prostatectomia radical retropúbica, anastomose vesicouretral contínua, retirada precoce do cateter vesical -3- 2 - ABSTRACT Introduction: Treatment of prostate cancer by radical prostatectomy is associated with the use of indwelling catheters for a variable period. With the advent of laparoscopic surgery experience is gained with the use of continuous sutures for vesicourethral anastomosis, allowing shorter time of permanence of bladder catheter postoperatively. For some years this suture has also been used in radical retropubic prostatectomy with good results. Objectives: Evaluate the possibility of early withdrawal (three and five days) of indwelling catheters after radical retropubic prostatectomy with vesicourethral anastomosis by continuous suture. Also assess whether early withdrawal of urinary catheter has an influence on the rates of urinary tract infection (UTI), vesicourethral anastomotic stricture or immediate urinary continence and early urinary continence (within 30 days after catheter removal) compared to the usual withdrawal (10 to 14 days). Method: The study prospectively evaluated 64 patients who underwent radical retropubic prostatectomy for localized or locally advanced prostate cancer. The patients were randomly divided into three groups: Group A (n = 24) catheter permanence for three days; Group B (n = 20) catheter permanence for five days; Group C - Control (n = 20) catheter permanence for 10 to 14 days. All patients underwent the same surgical procedure and vesicourethral anastomosis. Specific protocol was applied during hospitalization and patients were evaluated, among other things, as urinary retention, vesicourethral anastomotic stricture and urinary incontinence. Results: Patients were evaluated for a period of 9 to 15 months. The overall mean age was 66,1 ± 6.8 years and mean values of serum PSA was 9,2 ± 6,1 ng / mL. The mean operative time was 118 ± 30,2 minutes, there was no need for blood transfusion and there were no deaths related to the operation. There were no cases of deep vein thrombosis, pulmonary embolism, pelvic abscess or urinoma. The mean duration of hospitalization was 3,75 days for group A (three to five days), 4,4 days for group B (two to eight days) and 2,86 days for group C (two to four days). UTI was identified in 8,3% of patients in group A, 5% in group B and 30% in group C (p = -4- 0,0134). There were no patients with anastomotic stricture during follow-up. A overall immediate continence rate for all groups (including the control group) was 31,25%, being 50% for group A, 35% for group B and 5% for group C (p = 0,0053). Adding groups of early withdrawal of the bladder catheter (groups A + B), found 43,2% of continence shown that when compared with group C showed statistical significance (p = 0,0023). Regarding early continence (within 30 days after catheter removal), found a rate of 54,7% by adding up all the groups, being 67% for group A, 60% for group B and 35 % for group C (p = 0,0932). In groups A + B the result was 63,6% for early continence. Comparing (A + B) x C again yielded statistical significance (p = 0,0329). Conclusion: It is possible early withdrawal of bladder catheter with an acceptable risk of urinary retention postoperatively. The early removal of urinary catheter appears to reduce the chances of urinary tract infection, but has no influence on rates of bladder neck sclerosis. The urinary continence occurs earlier in patients who spent less time with the urinary catheter, but long-term results appear to be similar. Keywords: Prostate, prostate cancer, radical retropubic prostatectomy, continuous vesicourethral anastomosis, early withdrawal from the bladder catheter -5- 3. INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA No Brasil o câncer de próstata é a neoplasia visceral mais prevalente em homens após os 50 anos de idade, sendo também a segunda causa de morte nesta faixa etária. Estima-se que mais de 60 mil casos novos tenham sido diagnosticados no ano de 2012. Em 2010 o número de mortes por câncer de próstata foi de 12778 casos [1]. Mundialmente o câncer da próstata é o segundo tipo de câncer mais frequente em homens, com mais de 900 mil casos diagnosticados no ano de 2008. Aproximadamente 75% dos casos diagnosticados no mundo ocorrem em países desenvolvidos. A incidência mundial cresceu cerca de 25 vezes nas últimas décadas, sendo as mais altas taxas observadas na Austrália, Nova Zelândia, Europa Ocidental e América do Norte. No Brasil o rastreamento com a dosagem dos níveis séricos de antígeno prostático específico (PSA – prostatic specific antigen), o aumento da expectativa de vida da população, a melhoria e evolução dos métodos diagnósticos e da qualidade dos sistemas de informação do país podem explicar o aumento da incidência ao longo dos anos [1]. O único fator de risco bem estabelecido para o desenvolvimento do câncer da próstata é a idade. A média de idade em que mais se diagnostica o câncer de próstata se situa em torno de 60 a 65 anos. Outros fatores como a etnia e a história familiar da doença também são considerados fatores de risco para esse tipo de neoplasia. O câncer da próstata é aproximadamente 1,6 vezes mais comum em homens negros do que em homens brancos [1,2]. A análise histopatológica de fragmentos de biópsia prostática guiada por ultrassonografia transretal (USTR) é o exame que define o diagnóstico de câncer de próstata. A biópsia é realizada por indicação de alterações do exame digital retal ou por aumento dos níveis séricos do PSA. Desde sua introdução em 1987 o PSA tem sido utilizado para rastreamento do câncer de próstata em nível mundial. Recentemente diversas publicações estão colocando em discussão o real benefício do rastreamento desta patologia com o PSA, mas ainda hoje este é o exame laboratorial mais utilizado para este fim [3,4,5]. Há muitos anos o padrão ouro para tratamento de câncer de próstata localizado e localmente avançado com intenção curativa para pacientes com menos de 75 anos e expectativa de vida superior a 10 anos é a prostatectomia radical (PR). -6- Outras opções de tratamento incluem radioterapia externa, braquiterapia, tratamento expectante e até mesmo o que se denomina “vigilância ativa” [3]. As vias de acesso utilizadas para PR são a perineal, a retropúbica, a laparoscópica (intra ou extra-peritonial) e até mesmo laparoscópica assistida por robô (a mais utilizada nos Estados Unidos na atualidade). Estas técnicas cirúrgicas seguem padrões semelhantes, variando em alguns pontos. É importante relatar que apesar dos avanços nas vias de acesso para a PR, diferente de outras doenças, a via de acesso retropúbica não foi claramente suplantada pelos demais métodos à luz dos conhecimentos atuais. Segundo Alcarraz (Hospital Clínico Provincial de Barcelona, em 2010) “os resultados consistentes, somados a uma curva de aprendizado aceitável e o baixo custo, fazem com que a cirurgia convencional siga, ainda, como o procedimento de referência” [6]. Durante a operação, realiza-se a remoção completa da próstata e das glândulas seminais. A reconstrução do trato urinário é feita neste mesmo tempo através da anastomose entre a bexiga e uretra membranosa (anastomose vesicouretral). Esta reconstrução pode ser feita utilizando-se sutura contínua ou pontos separados. Historicamente realizavam-se pontos separados em todos os casos, porém, com o advento da cirurgia laparoscópica, foi introduzida a anastomose por sutura contínua, que em alguns poucos serviços (como o serviço de Urologia da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte - SCMBH) foi adaptada e utilizada, também, na cirurgia aberta. Como rotina é deixado cateter vesical de demora (Foley) por 10 a 14 dias para evitar fístula da anastomose e reduzir a chance de retenção urinária no pósoperatório precoce. Trabalhos recentes sugerem a retirada precoce do cateter (período menor que sete dias) com o emprego da via laparoscópica. Na literatura os relatos que sustentam esta retirada precoce ainda são escassos com a via retropúbica. No serviço onde o trabalho foi realizado, há experiência de mais de cinco anos com anastomose contínua na prostatectomia radical retropúbica (PRR). Com a experiência adquirida nos últimos anos com essa técnica, seu resultado consolidado no serviço somado aos dados promissores da literatura, optou-se por realizar um estudo prospectivo comparando a retirada precoce e tardia (habitual) do cateter vesical após PRR com anastomose contínua. -7- REVISÃO DE LITERATURA 3.1. – História da prostatectomia radical A primeira PR reportada foi realizada no Johns Hopkins Hospital em 1904 através do acesso perineal por Young [7]. Este mesmo autor publicou sua primeira série de casos em 1905. Em 1947, Millin realizou a primeira PRR [8]. Entretanto, até o início da década de 1980, a prostatectomia não tinha boa aceitação pelos cirurgiões devido altas taxas de morbidade e mortalidade. Finalmente, durante a década de 1980, com estudos aprofundados da anatomia cirúrgica da pelve masculina, foi realizada a primeira PRR com preservação dos feixes neurovasculares e mínimo sangramento operatório, em 1982, Walsh [9]. Essa evolução técnica possibilitou uma maior preservação da função miccional e erétil. Desde então, a prostatectomia tem sido realizada, rotineiramente, com resultados oncológicos e funcionais cada vez melhores [10,11,12]. A primeira prostatectomia radical laparoscópica (PRL) foi realizada em 1992 por Schuessler e Clayman [13] e em 1997 Raboy publicou o primeiro caso de prostatectomia radical laparoscópica por via extra-peritonial [14]. Mais recentemente no ano 2000 a PRL assistida por robô foi realizada dentro de um programa estruturado entre urologistas americanos e franceses, tornando-se a via de acesso preferencial dos norte-americanos (na atualidade, estima-se que 64% das prostatectomias radicais são realizadas com auxílio de robô) [6,15]. Existe uma tendência em determinar que a via de acesso minimamente invasiva apresenta melhores resultados do que a cirurgia aberta. Isto pode ser observado na grande maioria dos procedimentos cirúrgicos, porém em prostatectomia radical ainda não existem trabalhos na literatura que confirmem esta superioridade da cirurgia laparoscópica ou por robô sobre a via retropúbica [4,16,17]. -8- 3.2 – Anastomose vesicouretral Desde a realização da primeira PRR após publicação de Walsh em 1982, a anastomose vesicouretral foi realizada com quatro a oito pontos separados (originalmente seis) [3]. Na cirurgia aberta o campo visual é reduzido devido ao posicionamento do paciente e à configuração da pelve masculina (especialmente a sínfise púbica). Além disso, o cirurgião realiza os nós das suturas apenas com a sensação tátil e não sob visão direta das extremidades do fio e das estruturas cooptadas [18]. Com o acesso laparoscópico para a PR, a visão do campo cirúrgico tornou-se melhor. Em contrapartida, o tempo gasto para a realização da anastomose vesicouretral era excessivo, já que a realização de nós intra-corpóreo era tecnicamente difícil e por vezes demandava tempo maior do que a própria ressecção da peça operatória [18]. Inicialmente, Hoznek e col (2000) tentaram simplificar a técnica da anastomose vesicouretral utilizando uma sutura com 2 semicírculos e 3 nós. No entanto, a padronização da técnica da anastomose por sutura contínua laparoscópica, foi realizada por Van Velthoven e col em 2003. Em sua descrição inicial, eram utilizados 2 fios de ácido poliglicólico 3-0 com 15 centímetros de comprimento unidos nas suas extremidades. A sutura era realizada a partir da linha média posterior, continuando lateral e anteriormente de cada lado, até a linha média anterior [18,19]. Por fim, a sutura contínua reduziu o tempo necessário para a realização da anastomose vesicouretral pela via laparoscópica após a curva de aprendizado ter sido superada pelos autores. Tendo em vista a redução do tempo cirúrgico e os possíveis benefícios da anastomose contínua, Harpster e Brien (2007) foram os primeiros autores a publicar os resultados de uma técnica de anastomose vesicouretral por sutura contínua através do acesso retropúbico [20], sendo acompanhado por raras publicações como Forster e col (2009), Choichiro Ozu e col (2009) e a série apresentada neste estudo [21,22]. -9- 3.3 – Tempo para retirada do cateter vesical Ainda não existe definição precisa na literatura sobre quantos dias o cateter vesical deve permanecer no pós-operatório de PR. Nas descrições iniciais deste procedimento preconizava-se a retirada entre 21 e 30 dias. Com a evolução da técnica cirúrgica, a retirada se tornou mais precoce, sendo realizada em 14 dias na década de 1990. Souto e col (2004) afirmaram que a retirada no 7º DPO (dia de pósoperatório) tem a mesma taxa de complicações que a retirada no 14º DPO [23]. Estudos recentes demonstraram que a retirada ainda mais precoce estava relacionada a taxas menores de estenose da anastomose vesicouretral, melhor recuperação da continência urinária e taxas reduzidas de retenção urinária. A maioria destes trabalhos foi realizada utilizando-se anastomose com pontos separados. Muito pouco se descreveu sobre o uso da sutura contínua para anastomose vesicouretral em PRR (Harpster, 2007; Foster, 2009; Ozu, 2009). Na TABELA 1 apresenta-se uma análise retrospectiva de trabalhos realizados sobre a retirada precoce do cateter vesical em PR. Nesta tabela pode-se observar a via de acesso, o tempo de permanência do cateter, o tipo de anastomose realizada e outras características relevantes. É possível observar a evolução histórica de retirada precoce do cateter vesical após prostatectomia radical, comparando várias características diferentes, e observa-se uma tendência atual em realização da anastomose por sutura contínua após sua introdução pela via laparoscópica. Existe discrepância na apresentação de dados em alguns dos trabalhos mencionados, principalmente em relação ao período em que os desfechos foram avaliados. - 10 - - 11 - 3.3.1– Revisão histórica sobre retirada precoce do cateter vesical de demora após prostatectomia radical Dalton (1989) foi o primeiro à introduzir um protocolo para retirada precoce do cateter vesical quando a cistografia realizada no pós-operatório não evidenciava extravazamento através da anastomose vesicouretral (cistografia negativa). Nesta série, 55 pacientes submetidos à PR (anastomose com quatro pontos separados) foram avaliados com cistografia gravitacional para orientar a retirada precoce do cateter. O primeiro exame era realizado no sétimo DPO, e caso extravazamento moderado ou severo ocorresse, novos exames eram realizados no 11º e 14º DPO, respectivamente. O cateter vesical era retirado caso não fosse observado extravasamento. A taxa de sucesso na retirada do cateter vesical para os três grupos foram de 22%, 62% e 80%, respectivamente. Após oito meses de seguimento, 84% dos pacientes apresentavam-se continentes, 18% desenvolveram estenose da anastomose e 9% retenção urinária aguda (RUA)[24]. Em 1995 na Universidade de Indiana, Little conduziu um estudo piloto que permitiu a retirada do cateter vesical antes da alta hospitalar (no terceiro ou quarto DPO), caso houvesse mínimo ou não houvesse vazamento na anastomose pela cistografia. 82% dos 33 pacientes tiveram o cateter retirado antes da alta com uma média de 4,2 dias. O seguimento médio foi de 8,5 meses com uma taxa de continência de 70%, 3,7% de retenção urinária e nenhum caso de estenose da anastomose [25]. Dois anos após, Coogan (1997) atualizou o estudo com seguimento maior (17,4 meses) e com 43 pacientes. Neste trabalho, o tempo médio para a retirada do cateter foi de 4,1 dias e a continência foi de 69%. Um paciente apresentou RUA e outro teve estenose da anastomose [26]. Na literatura nacional, Souto (2000), relatou uma série de 30 casos com retirada precoce do cateter vesical, em que 71,4% dos pacientes (30 de 42) tiveram o cateter retirado no quarto ou quinto DPO após cistografia negativa. Apesar de não ter sido bem esclarecido no trabalho (tempo exato), a continência precoce e tardia foi de 46,7% e 83,3% com um tempo médio de seguimento de 13,7 meses. Nesta série não houve diferenças significativas com o grupo controle (retirada do cateter em 14 dias). Retenção urinária ocorreu em 6,7% e não houve estenose da anastomose [23]. - 12 - Santis (2000), publicou 100 casos, que foram submetidos à retirada precoce do cateter vesical com uma média de 8,5 dias. Neste trabalho, o autor realizou cistografia somente nos primeiros pacientes. Com um tempo médio de seguimento de 21 meses, 76% dos pacientes não precisavam utilizar mais forros de proteção, 2% apresentaram RUA e 9% estenose da anastomose [27]. Lepor (2001) descreveu seus resultados com uma série de 100 pacientes com retirada do cateter vesical no sétimo DPO após cistografia. Em três meses de seguimento, obteve-se uma taxa de 72% de continência urinária (até um forro por dia). RUA ocorreu em 12% dos pacientes e estenose da anastomose em 2%. Não houve diferença em relação ao grupo controle [28]. Albani (2001) relatou 19 pacientes que foram submetidos à retirada do cateter em três ou quatro dias (todos antes da alta hospitalar). A média para a retirada do cateter foi de 3,2 dias. A taxa de continência foi de 68,4% em 3 meses, não houve RUA ou esclerose de colo. No grupo controle houve 8,9% de esclerose de colo vesical [29]. Patel (2003) relatou 151 casos de PR onde foi possível a retirada do cateter vesical em três ou quatro dias em 76,8% dos pacientes, verificando 75% de continência em três meses, 19,3% de RUA e 12,1% de estenose da anastomose [30]. Noguchi (2004) relatou 70 pacientes, tendo conseguido retirar o cateter vesical no terceiro DPO em 97% após cistografia. O seguimento médio foi de 13,7 meses, com 89% de continência em três meses, 24% de RUA e 3% de estenose da anastomose. O único fator que influenciou, independentemente, a retirada precoce do cateter vesical, foi o extravazamento no teste da anastomose no per-operatório [31]. A série de Harpster (2007), de 72 pacientes, foi o primeiro trabalho publicado com anastomose vesicouretral por sutura contínua em PRR. Foi possível a retirada precoce do cateter em 63 pacientes (88%). Nos primeiros 25 pacientes foi realizada cistografia e nos demais, somente se houvesse suspeita de extravazamento no teste per-operatório. O cateter foi retirado em uma média de 3,4 dias (um a seis dias), tendo sido encontrado uma taxa de RUA de 19% e não houve casos de estenose da anastomose. A continência foi de 81% com seguimento médio de 31 meses. Notadamente, o autor observou que houve um retorno mais precoce da continência - 13 - nestes pacientes. Relata que daqueles pacientes continentes, 42% apresentaram continência imediata, 51% até o sétimo DPO, 81% até o 30º DPO e 100% até o 120º DPO [21]. Ozu (2009) relatou uma casuística de 55 pacientes submetidos à cirurgia aberta e anastomose contínua. O cateter foi retirado em três ou cinco dias, com uma taxa de continência de 83,3% em 24h e 90,7% em 72h após a retirada do cateter. Não houve estenose da anastomose ou RUA. O cateter somente foi retirado após cistografia negativa [22]. Pela via laparoscópica existem três trabalhos que merecem destaque. O primeiro foi realizado por Abbou (2000) e obteve uma média de quatro dias para a retirada do cateter vesical em 43 pacientes, submetidos à anastomose contínua. Não houve RUA ou estenose da anastomose, mas o tempo de seguimento médio foi muito curto (um mês). O autor observou uma continência de 84% [32]. Nadu (2001) descreveu 96 casos com a retirada do cateter ocorrendo entre dois e quatro dias, anastomose contínua e com realização de cistografia. Ocorreu 10,4% de RUA, não houve estenose da anastomose e uma taxa de continência de 93% com sete meses de seguimento [33]. Branco (2007), apresentou uma casuística de 12 casos com anastomose contínua com fixação posterior. Foi possível a retirada precoce do cateter em 92% dos casos (sétimo DPO) sem cistografia, com 75% de continência e nenhum caso de estenose da anastomose ou RUA [34]. - 14 - 4.OBJETIVOS Avaliar a possibilidade de retirada precoce (três e cinco dias) do cateter vesical de demora após o procedimento de prostatectomia radical retropúbica com anastomose vesicouretral por sutura contínua para tratamento de câncer de próstata. Avaliar também se a retirada precoce do cateter vesical tem influência nas taxas de infecção do trato urinário (ITU), estenose da anastomose vesicouretral ou continência urinária imediata e precoce (até 30 dias após a retirada do cateter) comparada à retirada habitual (10 a 14 dias). - 15 - 5. MÉTODO 5.1 – Ética Esta pesquisa foi realizada de acordo com as recomendações das normas para pesquisa envolvendo seres humanos do Ministério da Saúde e dos principais documentos internacionais de Ética em Pesquisa (Resolução no 196/96 do Ministério da Saúde) tendo sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da SCMBH, sob o número de registro 071/2011 (ANEXO 10.1). 5.2 – Tipo de pesquisa O estudo foi realizado no Serviço de Urologia da SCMBH, de forma prospectiva e com distribuição aleatória dos pacientes, no período de agosto de 2011 à fevereiro de 2012. Trabalho do tipo duplo-desconhecido, em que o paciente e cirurgião não tinham conhecimento do grupo ao qual o paciente foi inserido. 5.3 – Pacientes Foram estudados 64 pacientes atendidos no serviço de Urologia da SCMBH no período de agosto de 2011 até fevereiro de 2012. Os candidatos ao tratamento proposto foram pacientes que apresentavam, por definição, adenocarcinoma de próstata localizado (T1 e T2) ou localmente avançado (T3 e T4 ou alto risco pela classificação de D’Amico) sem sinais de doença metastática, que foram encaminhados para tratamento cirúrgico no serviço de Urologia da SCMBH. Na seção de anexos apresenta-se a 7ª edição da “Union Internacionale Contre le Cancer” (UICC) 2009 – classificação Tumor, Nódulo, Metástase (TNM), que é usada para estadiamento do câncer de próstata (ANEXO 10.5) e a classificação de D`Amico (1999) que agrupa os pacientes portadores de câncer de próstata em grupos de risco (ANEXO 10.6). A distribuição era realizada por sorteio logo após o ato cirúrgico. O sorteio foi realizado após a operação para evitar qualquer viés que pudesse interferir na realização da anastomose que seria confeccionada pelo cirurgião. - 16 - Durante o período do estudo, foram realizadas 78 prostatectomias radicais. Destes pacientes, 4 se recusaram a participar por motivos pessoais e outros dez foram excluídos do estudo pelos seguintes motivos: • Um paciente devido ao extravazamento significativo durante o teste da anastomose no per-operatório; • Um paciente devido a fístula urinária no pós–operatório, identificada por dosagem de creatinina pelo dreno; • Dois pacientes necessitaram permanecer com o cateter por período maior, já que o cateter foi inadvertidamente fixado por ponto durante a confecção da anastomose; • Um paciente estava em pré-operatório para transplante renal e não apresentava diurese habitual para ser incluído no estudo com segurança; • Um paciente foi submetido à PRL; • Quatro pacientes foram operados por outros cirurgiões que não aqueles inicialmente selecionados para realizar o estudo. Os 64 pacientes foram distribuídos, aleatoriamente, em um dos três seguintes grupos: Grupo A (n = 24) – Permanência do cateter vesical por três dias Grupo B (n = 20) – Permanência do cateter vesical por cinco dias Grupo C (n = 20) – Permanência do cateter vesical por 10 a 14 dias (Grupo controle) 5.4 – Coleta de dados A internação era realizada no dia anterior à operação, quando eram preenchidos dados de anamnese, solicitada reserva de sangue e os pacientes eram informados quanto aos riscos e benefícios da operação. Aos pacientes e acompanhantes, eram esclarecidos todos os detalhes da pesquisa e da operação que seria realizada, com ênfase na distribuição aleatória dos grupos e o direito à recusa em participar do estudo sem qualquer efeito sobre seu tratamento. Após explicação, os termos de consentimento livre e esclarecido (TCLE) sobre pesquisa clínica e PRR eram assinados. Os TCLE foram retidos pelo examinador e uma via foi entregue ao paciente e seu acompanhante, com os termos da pesquisa e telefone - 17 - de contato do serviço. O protocolo foi inicialmente aplicado durante a entrevista de internação do paciente e completado durante sua permanência hospitalar. Os protocolos iniciados foram completados no pós-operatório utilizando o sistema ALERT que é utilizado no ambulatório da SCMBH. Todos os membros da equipe do Serviço de Urologia se comprometeram em ajudar no preenchimento dos dados, sendo auxiliados pelo autor principal em todas as etapas. Ligações telefônicas eram realizadas para complementar dados pertinentes à evolução dos pacientes. 5.5 - Propedêutica realizada As operações foram realizadas conforme padronização que existe no Serviço (por dois cirurgiões com o mesmo treinamento). A cirurgia realizada foi a prostatectomia radical retropúbica que consiste na exérese completa da próstata, vesículas seminais e parte dos ductos deferentes. A preservação dos feixes vasculonervosos e a linfadenectomia foram realizadas conforme recomendações da literatura. A anastomose foi realizada por sutura contínua com dois fios PDS 3-0 (polidioxanona) com sutura anterior e posterior. Foi instalado cateter vesical de demora siliconizado nº 18 de duas vias e dreno de penrose nº 3 (com bolsa coletora) era posicionado para drenagem do espaço de Retzius (pré-peritonial). O fechamento da aponeurose foi realizado com Vicryl 1 e sutura cutânea com Monocryl 4.0. No 1º dia pós-operatório foi colhido eritrograma com finalidade de estimar a perda sanguínea em todos os pacientes. A grande maioria dos pacientes do grupo de retirada precoce do cateter (três ou cinco dias) permaneceram internados até a retirada do mesmo. Alguns pacientes do grupo de retirada em cinco dias que residiam em regiões próximas, receberam alta com o cateter vesical retornando para retirada do mesmo em regime ambulatorial. Os pacientes do grupo de retirada tardia (10-14 dias) receberam alta conforme evolução no pós-operatório e tiveram os cateteres retirados conforme programação de retorno ambulatorial. O dreno de Penrose era retirado quando havia drenagem mínima (menor que 50 ml/24h) no segundo ou terceiro DPO e a possibilidade de fístula urinária estava excluída. Pacientes que apresentassem complicações no pós-operatório seriam atendidos pelo plantão da Urologia na SCMBH. - 18 - As consultas ambulatoriais pós-operatórias foram realizadas no Centro de Especialidades Médicas Metropolitano da SCMBH (CEM) por volta do 14º DPO, para retirada de pontos e do cateter vesical. Neste primeiro retorno eram solicitados exames de urina. Novo retorno era marcado para aproximadamente 30 dias após a retirada do cateter, onde os pacientes eram avaliados quanto à ocorrência de RUA, continência urinária e sinais de ITU (avaliava-se também os resultados dos exames). Novas revisões eram agendadas para os meses três, seis e 12 de pós-operatório para avaliação de continência e estenose da anastomose vesicouretral. Foram considerados continentes pacientes que não apresentavam qualquer perda involuntária de urina ou necessidade do uso de forros/absorventes. Nas demais situações, considerou-se que os pacientes apresentavam-se com incontinência urinária. Estenose da anastomose foi suspeitada quando o paciente se queixava de jato urinário fraco, esforço para iniciar a micção, micção prolongada, gotejamento terminal ou sensação de esvaziamento vesical incompleto. Caso houvesse dúvida era solicitada cistoscopia. Infecção urinária foi diagnosticada e tratada quando o paciente apresentava sintomas irritativos do trato urinário e urocultura positiva. Considerou-se recidiva bioquímica ou doença residual, a elevação do PSA no pós-operatório a partir de 0,2 ng/mL. Neste caso, o paciente era encaminhado para radioterapia para tratamento complementar. 5.6 – Técnica cirúrgica No pré-operatório era exigido jejum de 8 horas. No dia anterior os pacientes recebiam dose de heparina não fracionada profilática (5000 UI) por via subcutânea. A anestesia realizada de rotina foi o bloqueio espinhal (anestesia raqueana). Com raras exceções, foi necessária conversão para anestesia geral (ocorreu em quatro dos 64 casos operados), sendo estas realizadas para melhor relaxamento e facilitar o ato operatório. No momento da indução anestésica, uma dose de cefalosporina de 1ª geração era administrada para profilaxia de infecção em sítio cirúrgico. Dose de reforço era aplicada caso o tempo operatório se estendesse além da meia vida da droga utilizada. O paciente era posicionado em “canivete invertido” (decúbito dorsal com a dorsoflexão da coluna toraco-lombar) para melhor exposição do campo operatório. Preparo habitual do campo operatório era realizado com tricotomia na sala de - 19 - operação. O material utilizado constava de caixa de laparotomia básica e afastador abdominal auto estático tipo Balfour com válvula. O cirurgião se posicionava à esquerda do paciente. As operações realizadas seguiram os princípios descritos por Walsh e Partin (2007) [9], porém com algumas modificações, como apresentadas a seguir. Antes da incisão, posicionava-se o cateter vesical de demora nº 16. Era realizada incisão mediana infra-umbilical de aproximadamente 8-10 cm por planos, sendo acessado o espaço de Retzius (pré-peritonial). Prosseguia-se com a abertura da fáscia endopélvica e dissecção do plexo venoso prostático, sendo o mesmo ligado com ponto em “X” de fio PDS 2.0 (polidioxanona). Um outro ponto transfixante retropúbico era realizado para manter a uretra em posição mais anatômica possível. Realizava-se secção com tesoura do plexo venoso dorsal e dos ligamentos pubo-prostáticos. Outro ponto com categute 2.0 era aplicado para prevenir sangramento de retorno do plexo venoso dorsal. O próximo passo era a dissecção cuidadosa do ápice prostático e da uretra membranosa neste nível. Quando a preservação do feixe vásculo-nervoso era factível, os mesmos (por vezes somente um dos lados) eram dissecados pela face lateral da próstata até sua porção mais distal ao nível do ápice prostático e uretra membranosa. A uretra membranosa era dissecada em sua totalidade e colocado um reparo sob a mesma com fita cardíaca. Procedia-se à secção uretral com lâmina de bisturi e, posteriormente, com tesoura, com o máximo de cuidado para evitar comprometimento das margens cirúrgica no ápice prostático. Após a secção uretral, o cateter vesical era cortado em sua extremidade mas mantendo o balão vesical insuflado para ser utilizado para exposição no restante da operação. À partir deste momento a próstata era dissecada retrogradamente com ligaduras sucessivas de pedículo em suas faces laterais, com fios inabsorvíveis (seda 3-0). Máximo cuidado era mantido para evitar secção inadvertida do feixe vasculonervoso, caso este tenha sido preservado. Quando a doença se caracterizava como localmente avançada, os feixes não eram preservados, e inclusive, uma ressecção mais radical da próstata era realizada, com ligadura mais lateral dos tecidos peri-prostáticos que também eram removidos. - 20 - A dissecção retrógrada continuava também para as vesículas seminais que eram expostas (junto aos ductos deferentes) após a abertura da fáscia de Denonvilliers e ressecadas após a ligadura de seus pedículos vasculares. Os ductos deferentes eram seccionados por cautério em um segmento mais proximal possível dos mesmos. Após este tempo, as vesículas seminais e os ductos deferentes eram tracionados superiormente para uma melhor dissecção de sua porção posterior junto ao colo vesical, para melhor evidenciação deste último. Neste próximo tempo realizava-se a separação da próstata junto ao colo vesical com auxílio de tesoura de dissecção e cautério. A preservação do colo vesical era realizada em pacientes sem doença palpável ou diagnosticada por biópsia na base da próstata. Inspeção era realizada neste momento para identificação dos meatos ureterais após a exérese da próstata. Caso os mesmos estivessem posicionados muito próximos ao colo vesical, realizava-se a cateterização dos mesmos com cateter nº 4 ou 6, para evitar lesão inadvertida durante a realização da anastomose. Caso houvesse indicação de linfadenectomia para estadiamento, esta era realizada neste momento. No serviço realiza-se somente a linfadenectomia pélvica (obturatória) de rotina em paciente com doença localmente avançada. Ligaduras sucessivas eram realizadas com fio inabsorvível (seda 3-0) para evitar linfocele. Muita atenção era dada ao nervo obturatório que se apresenta no campo de dissecção desta cadeia linfonodal. Revisão de hemostasia rigorosa era realizada neste tempo. Prosseguia-se com a introdução do cateter vesical de nelaton nº 18 por via uretral para a confecção da anastomose. Neste momento iniciava-se a anastomose vesicouretral (FIGURA 1). Esta anastomose era realizada com dois fios de PDS 3-0 (polidioxanona). O primeiro fio (Fio A) era utilizado para construção da parede posterior desta anastomose,que era iniciada, com ponto às três horas, na bexiga (“de fora para dentro”). O fio era reparado e a sutura seguia em sentido inverso na uretra (“de dentro para fora”), porém em localização contígua. O fio não era puxado totalmente e era deixado sem tensão para permitir os próximos pontos. O auxiliar mantinha durante toda a realização da parede posterior da anastomose uma pinça de preensão com uma gaze montada sob os pontos e realizando leve tração no colo vesical. Com esta - 21 - manobra, conseguia-se manter o colo vesical a uma distância de aproximadamente 5-7 cm da uretra, permitindo ao cirurgião melhor exposição para a continuação da sutura. A parede posterior da anastomose era então completada com chuleio simples até a posição de nove horas, respeitando a sequência dos pontos iniciais (“fora/dentro” na bexiga e “dentro/fora” na uretra). Habitualmente realizava-se, na parede posterior, cinco pontos sucessivos e os mesmos ficavam posicionados um pouco acima das posições de três e de nove horas, tendo em vista que esta etapa da anastomose era mais fácil tecnicamente de ser realizada do que a parede anterior. Esta é uma adaptação técnica que facilita ainda mais a conclusão da anastomose. FIGURA 1 – Ilustração da sutura realizada na parede posterior da anastomose vesicouretral Arquivo pessoal do Prof. Dr Denny Fabrício Magalhães Veloso adaptado por Tharcisio Gê de Oliveira - 22 - Após a conclusão desta linha de sutura, as duas extremidades do fio utilizado eram tracionadas lateralmente e observava-se, sob visão direta, a coaptação perfeita das bordas da parede posterior da anastomose. Atenção redobrada era dada para evitar interposição de tecidos (especialmente tecido adiposo da região) quando as bordas da anastomose eram aproximadas. As extremidades do fio permaneciam reparadas. Neste momento, trocava-se o cateter vesical de nelaton por outro siliconizado de demora nº 18 que era posicionado na bexiga sob visualização direta. O balão era insuflado com 10ml de água destilada. A anastomose era concluída com a sutura da parede anterior com outro fio PDS 3-0 (Fio B). Esta etapa era realizada em sentido inverso à primeira linha de sutura (de nove às três horas), porém mantendo a regra inicial de passagem dos pontos pela uretra e bexiga (“fora/dentro” na bexiga e “dentro/fora” na uretra). Normalmente era necessária a realização de três ou quatro pontos para a conclusão da anastomose, terminando o último ponto na uretra. As extremidades deste fio eram, então, tracionadas e amarradas com o fio da parede posterior em cada uma de suas extremidades (FIGURA 2). Neste momento, desfazia-se a posição de canivete invertido com dorsoflexão da coluna toraco-lombar que o paciente tinha sido colocado no início da operação para facilitar esta etapa. Quando não era possível a preservação do colo vesical, evidenciava-se desproporção entre o mesmo e a uretra (colo vesical com diâmetro maior). Nestes casos, realizava-se a sutura em “raquete”, para melhor adaptação da anastomose. Esta sutura era realizada deixando-se uma parte do colo para ser suturada após o término da anastomose. Confeccionava-se a mesma em dois planos com o próprio fio da anastomose, após os mesmos terem sido amarrados no término da anastomose. Nesta etapa (assim como toda a sutura da parede anterior) era dada atenção especial para evitar transfixar o cateter com ponto, o que ocorreu em dois pacientes deste estudo, tendo sido excluídos (identificado somente no pósoperatório quando tentou-se retirar os cateteres vesicais). Após a conclusão da anastomose, como rotina, realizava-se o teste da anastomose, introduzindo 120 ml de solução salina na bexiga através do cateter vesical. Caso observado extravazamento pela anastomose, o paciente era excluído do estudo (isto ocorreu em somente um paciente). - 23 - FIGURA 2 – Ilustração da sutura realizada na parede anterior da anastomose vesicouretral Arquivo pessoal do Prof. Dr Denny Fabrício Magalhães Veloso adaptado por Tharcisio Gê de Oliveira Após o teste realizado, era inserido dreno de Penrose no espaço de Retzius. O fechamento da aponeurose era feito com Vicryl 1 (poligalactina 910). A síntese cutânea era realizada com nylon 4.0 (Mononylon) ou Monocryl 4.0 (poliglecaprone). Uma bolsa de colostomia era posicionada sobre o dreno de penrose e era útil para mensuração do débito de drenagem do mesmo no pós-operatório. Liberava-se dieta branda oito horas após o ato anestésico e mantinha-se heparina não fracionada (5000 UI) de 8/8h por via subcutânea. Antibiótico profilático era administrado somente na indução anestésica e não era mantido de rotina no pós-operatório. ` - 24 - 5.7 – Critérios de exclusão - Pacientes submetidos à outros tratamentos prévios ou concomitantes à cirurgia, como quimioterapia, radioterapia, RTU de próstata ou prostatectomia para tratamento de hiperplasia; - Extravasamento considerável pela anastomose no per-operatório após teste com 120ml solução salina a 0,9%; - Pacientes que necessitassem de reoperação no pós-operatório precoce (sangramento); - Pacientes que no pós-operatório apresentassem sinais de fístula urinária (drenagem em excesso pelo dreno ou presença de creatinina na secreção drenada). 5.8 – Avaliação estatística Os dados foram apresentados como média ± desvio padrão da média. Os testes estatísticos foram realizados com o software Prism® versão 3-0. As variáveis categóricas foram comparadas pelo teste qui-quadrado. Os dados contínuos foram verificados quanto à sua normalidade pelo teste KolmogorovSmirnov e a seguir pelo teste de análise de variância (ANOVA), seguida pelo pós teste de Tukey. Os dados não paramétricos foram comparados pelo teste de Kruskal Wallis. Todos os resultados foram considerados significativos para uma probabilidade de significância inferior a 5% (p < 0,05). - 25 - 6. RESULTADOS A média de idade dos pacientes foi de 66,1 ± 6,8 anos variando de 50 a 81 anos. O IMC dos pacientes variou de 16,7 a 33,3 Kg/m² com média de 25,4 ± 3,5 Kg/m². O PSA no pré-operatório se situou entre 3,42 e 38 ng/mL com valores médios de 9,2 ± 6,1 ng/mL. Ao USTR o peso prostático estimado foi de 42,3 ± 18,5g. A dosagem de hemoglobina no pré-operatório foi de 14,6 ± 1,2 g/dL. Os grupos A, B e C foram semelhantes quanto às características préoperatórias (TABELA 2). TABELA 2 - Características pré-operatórias dos pacientes (estratificada por grupo). Apresentado como média ± desvio padrão Idade (anos) IMC (Kg/m²) PSA total (ng/mL) Peso próstata (g) Hemoglobina (g/dL) Grupo A Grupo B Grupo C Valor de p* 65,7 ± 6,6 65,6 ± 7,4 67,4 ± 6,9 0,665 24,1 ± 3,7 25,6 ± 3,1 26,5 ± 3,3 0,067 10,1 ± 8,8 7,9 ± 4,1 9,3 ± 2,9 0,491 39 ± 16,8 46 ± 21,6 42,9 ± 18 0,468 14,5 ± 1,1 14,6 ± 1,3 14,6 ± 1,3 0,952 Teste de análise de variância – ANOVA IMC – Índice de massa corporal; PSA – Prostatic Specific Antigen; Peso prósata – avaliado por ultrasom transretal durante biópsia no pré-operatório;Grupo A – cateter vesical permaneceu por 3 dias (n 24); Grupo B – cateter vesical permaneceu por 5 dias (n 20); Grupo C – cateter vesical permaneceu por 10 a 14 dias (n 20) - 26 - Foram operados pacientes com doença localizada e localmente avançada neste estudo. Do total de pacientes operados, 75,8% se encontrava em estádio clínico (EC) T1c, 16,7% no EC T2a, 4,5% no EC T2b e 3% eram considerados T2c. Os pacientes classificados como sendo de alto risco foram considerados junto ao grupo de doença localmente avançada (três por apresentarem gleason 8 na biópsia e dois com PSA maior que 20 ng/mL). O ANEXO 10.5 apresenta o estadiamento utilizado. TABELA 3 – Estadiamento clínico pré-operatório Grupo A Grupo B Grupo C Total (24) (20) (20) (64) T1c 66,6 (16) 85 (17) 85 (17) 75,8 (50) T2a 25 (6) 15 (3) 10 (2) 16,7 (11) T2b 4,2(1) 0 0 4,5 (1) T2c 4,2 (1) 0 5 (1) 3 (2) Estadio Clínico % (n) A classificação de risco pré-operatório da American Society of Anesthesiologists (ASA) está apresentada na TABELA 4. Observa-se que os pacientes do grupo A pertenciam mais frequentemente à classificação ASA I do que os outros grupos (p = 0,0276). É possível observar que praticamente todos os pacientes incluídos no estudo pertenciam à classificação ASA I e II, sendo encontrado somente um paciente ASA III no grupo B. - 27 - TABELA 4 – Classificação de risco pré-operatório - ASA Grupo A Grupo B Grupo C Total (24) (20) (20) (64) I 45,8 (11) 10 (2) 15 (3) 27,3 (16) II 54,2 (13) 85 (17) 85 (17) 71,2 (47) III 0 5 (1) 0 1,5 (1) p = 0,0276 Risco ASA % (n) Teste do Qui-quadrado: 10,9085 para 4 graus de liberdade >> p = 0,0276 Os pacientes selecionados no estudo foram operados, consecutivamente, por somente dois cirurgiões do serviço com experiência de ao menos 50 casos operados previamente. Não houve preferência na escolha dos pacientes, sendo os mesmos distribuídos de forma aleatória. A duração média dos procedimentos cirúrgicos foi de 118 minutos (± 30,2) variando de 59 a 180 minutos (p = 0,539). No primeiro DPO foi realizado a dosagem do eritrograma. A média da hemoglobina no pós-operatório foi de 11,4 ± 1,4 g/dL, tendo sido registrado uma queda de 3,2 ± 1,3 g/dL pontos com relação aos valores registrados no pré-operatório (p = 0,891). A drenagem pelo dreno de Penrose foi mensurada nos primeiros dias do pósoperatório ou enquanto fosse necessária. Encontraram-se os seguintes valores médios: 1° DPO - 78 ± 53,1 mL (entre 9 – 250 mL) – p = 0,787 2° DPO - 34 ± 29,5 mL (entre 0 – 170 mL) – p = 0,702 3° DPO – 8 ± 14,6 mL (entre 0 – 70mL) – p = 0,739 Foi necessária dosagem de creatinina em cinco pacientes no pós-operatório devido ao excesso na drenagem pelo dreno e suspeita clínica de fístula da anastomose vesicouretral. Quatro dos exames realizados demonstraram creatinina com valores inferiores àqueles encontrados no plasma do paciente em dosagem realizadas no mesmo tempo de coleta. Estes valores, portanto, permitiram que o cateter vesical fosse retirado precocemente se escolhido para os grupos A ou B. Um - 28 - dos pacientes apresentou dosagem de creatinina três vezes superior ao plasma, tendo sido diagnosticada fístula e o mesmo foi excluído do estudo. A preservação dos feixes vasculonervosos foram realizadas de acordo com as indicações registradas na literatura, sendo que houve preservação bilateral em 20,3% dos casos, unilateral em 37,5% e o feixe não foi preservado em 42,2%. As recomendações para linfadenectomia também foram seguidas e nesta série foram realizadas em 11 casos. A TABELA 5 mostra os valores de “p” quando os grupos foram comparados. Para as características relacionadas ao ato operatório (duração da operação, queda de hemoglobina no pós-operatório, preservação de feixes, realização de linfadenectomia e drenagem pelo dreno no pós-operatório) observou-se que os grupos eram semelhantes. Não houve necessidade de transfusão sanguínea nos pacientes operados, assim como não houve óbito no período de acompanhamento relacionado à operação. Não se constataram complicações, como trombose venosa profunda (TVP), tromboembolismo pulmonar (TEP), pneumonia, abscesso pélvico ou urinoma em paciente algum. O tempo médio de internação foi de 3,75 dias para o grupo A (de três a cinco dias), 4,4 dias para o grupo B (dois a oito dias) e 2,86 dias para o grupo C (dois a quatro dias). Um paciente sofreu atropelamento no 79º DPO com politraumatismo tendo ficado internado por quatro meses, mas recebeu alta com graves sequelas motoras. Estava continente desde o quarto dia após a retirada do cateter vesical. O paciente foi à óbito no 10º mês de pós-operatório (sete meses após o trauma), decorrente das lesões sofridas no acidente. Os pacientes desta série foram acompanhados (até o momento da análise dos dados) por um período de 9 a 15 meses e continuam sendo acompanhados pelo examinador e equipe do Serviço de Urologia. - 29 - TABELA 5 - Características per-operatórias estratificadas por grupo. Apresentado como média ± desvio padrão Duração (min) Queda de Hb (g/dL) Grupo A Grupo B Grupo C (n 24) (n 20) (n 20) 117,5 ± 36,1 125 ± 35,1 114,3 ± 17,6 0,539 3,1 ± 1,2 3,2 ± 1,7 3,3 ± 1,2 0,891 Preservação de Valor p * 0,1241 feixes % (n) Unilateral 33,3 (8) 45 (9) 35 (7) Bilateral 16,6 (4) 35 (7) 10 (2) 25 (6) 15 (3) 10 (2) 0,4021 1º DPO 85 ± 44,4 77,6 ± 66 74 ± 62,2 0,787 2º DPO 30,7 ± 27,9 38,4 ± 37,1 34,3 ± 24,5 0,702 3º DPO 9,6 ± 19,4 6,1 ± 11 7,6 ± 11,9 0,739 Linfadenec. % (n) Dreno (mL) Para DURAÇÃO, QUEDA DE HEMOGLOBINA e DRENO -Teste de análise de variância – ANOVA Para PRESERVAÇÃO DE FEIXES e LINFADENECTOMIA – Teste Qui-quadrado Duraçao – tempo em minutos da operação; Queda de Hb – Queda de hemoglobina no pós-operatório; Dreno – drenagem em mL pelo dreno de Penrose no pós-operatório; DPO – dia de pós-operatório; * comparação entre os grupos AxBxC Neste estudo houve somente um caso de retenção urinária no pós-operatório recente (grupo A – 4,2%). O paciente estava no 6º PO e houve necessidade de passagem do cateter vesical novamente (sem necessidade de auxílio endoscópico). - 30 - O mesmo permaneceu com o cateter por mais sete dias, quando foi retirado, e evoluiu sem demais complicações. Não houve retenção urinária nos grupos B e C. Foi encontrada uma alta taxa de ITU neste estudo, sendo marcante a incidência no grupo que permaneceu mais tempo com o cateter vesical. Identificou-se ITU em 8,3% dos pacientes do grupo A (dois de 24), 5% do grupo B (um de 20) e 30% do grupo C (seis de 20). O teste qui-quadrado comparando grupos A x B x C com dois graus de liberdade apresentou p = 0,447. Utilizando um grau de liberdade a comparação entre os grupos encontrou os seguintes resultados: A x C >> p = 0,0635; B x C >> p = 0,0375; A x B >> p = 0,6623 e (A+B) x C >> p = 0,0134. Observa-se portanto diferença significativa quando comparou-se o grupo de retirada precoce versus tardia do cateter vesical. GRÁFICO 1 – Complicações – infecção urinária e retenção urinária (estratificados por grupos) 50% 45% 40% 30% 35% Grupo A 30% Grupo B 25% Grupo C 20% 15% 10% 5% 8,3% 5% 4,2% 0% 0% 0% Retenção Urinária Infecçao Urinária Grupo A – retirada do cateter em três dias (n 24); Grupo B – retirada do cateter em cinco dias (n 20); Grupo C – retirada do cateter em 10-14 dias (n 20) Não foram identificados pacientes com estenose da anastomose vesicouretral no período de seguimento citado (9-15 meses). - 31 - Em relação à continência urinária foram considerados dois parâmetros iniciais de avaliação, sendo eles a continência imediata (paciente não utilizou fraldas em momento algum após a retirada do cateter vesical) e continência precoce (paciente que adquiriu continência completa em até 30 dias após a retirada do cateter vesical). Como citado anteriormente, os pacientes estudados continuam sendo acompanhados no Serviço e a continência é avaliada à cada três meses. A análise estatística para comparação entre os grupos é apresentada na TABELA 6. Os dados evidenciaram diferença estatística para continência imediata entre os pacientes submetidos à retirada precoce do cateter vesical quando comparados aqueles de retirada tardia. Não houve diferença entre os dois grupos de retirada precoce (A x B). Em relação à continência precoce observou-se diferença estatística significativa na comparação entre o grupo A x C e entre grupos (A+B) x C. Não houve diferença estatística entre grupo B x C e grupo A x B.. TABELA 6 – Análise estatística – Continência Imediata e Continência Precoce Comparação entre os Continência Imediata Continência Precoce Grupos A x B x C 0,0053 0,0932 Grupos (A+B) x C 0,0023 0,0329 Grupo A x C 0,0011 0,0363 Grupo B x C 0,0177 0,1134 Grupo A x B 0,3172 0,6471 grupos Apresenta-se o valor de “p” para comparação entre os grupos; x – representa os grupos que foram comparados; A+B x C – comparou-se a retirada precoce versus tardia do cateter vesical. Obteve-se uma taxa de continência imediata geral de 31,25% (todos os grupos, incluindo o grupo controle – p = 0,0053), sendo 50% para o grupo A, 35% para o grupo B e 5% para o grupo C. Somando os grupos de retirada precoce do cateter vesical (grupos A + B), foi encontrado 43,2% de continência imediata (p = 0,0023). - 32 - Em relação à continência precoce (até 30 dias após a retirada do cateter), encontrou-se um percentual de 54,7% somando-se todos os grupos (p = 0,0932), sendo 67% para o grupo A, 60% para o grupo B e 35% para o grupo C. Nos grupos A e B juntos, o resultado foi de 63,6% de continência (p = 0,0329). GRÁFICO 2 - Continência imediata e precoce (estratificada por grupos) 100% 90% 80% 67% 60% 70% 60% 50% Grupo A Grupo B 50% 35% 35% Grupo C 40% 30% 20% 5% 10% 0% Contnência Imediata Continência Precoce Grupo A – retirada do cateter em três dias (n 24); Grupo B – retirada do cateter em cinco dias (n 20); Grupo C – retirada do cateter em 10-14 dias (n 20) - 33 - GRÁFICO 3 - Continência imediata e precoce (comparação de retirada precoce x tardia) 100% 90% 80% 63,6% 70% 60% Grupo A + B 43,2% 50% 35% Grupo C 40% 30% 20% 5% 10% 0% Contnência Imediata Continência Precoce Grupo A – retirada do cateter em três dias (n 24); Grupo B – retirada do cateter em cinco dias (n 20); Grupo C – retirada do cateter em 10-14 dias (n 20); Continência imediata – (A + B) x C (p = 0,0023) Continência precoce – (A + B) x C (p = 0,0329) - 34 - 7. DISCUSSÃO O tempo para a retirada do cateter vesical após prostatectomia radical para tratamento do câncer de próstata vem sendo discutido há várias décadas. Desde as modificações técnicas que padronizaram a cirurgia que hoje é realizada, observamos que este período vem decrescendo progressivamente. Nos dias atuais o tempo de retirada do cateter vesical se estende de sete a 14 dias, variando muito de serviço para serviço [35]. Quando se aventou a possibilidade de retirada precoce do cateter vesical, muito se questionou sobre a possibilidade de maior ocorrência de abscessos pélvicos, urinoma, incontinência urinária e estenose da anastomose vesicouretral (ou esclerose de colo vesical), já que o maior tempo de permanência do cateter reduziria a chance destas complicações [24,25,36]. Por outro lado se esperavam evidentes vantagens com esta conduta, como diminuição da taxa de ITU, retorno precoce às atividades habituais e menor desconforto ao paciente [25,26,28]. O advento da cirurgia laparoscópica trouxe avanços, como a anastomose contínua, que possibilitou tentativas mais precoces de retirada do cateter vesical devido sua característica de maior impermeabilidade do que a anastomose de costume que era realizada por pontos separados. Inicialmente Hoznek e col (2000) [18] tentaram simplificar a técnica da anastomose vesicouretral utilizando uma sutura com dois semi-círculos e três nós. Porém, a padronização técnica da anastomose por sutura contínua laparoscópica, foi realizada por Van Velthoven e col. Em sua descrição inicial, era utilizado dois fios de ácido poliglicólico 3-0 com 15 centímetros de comprimento atados em uma das extremidades. A sutura era realizada desde a posição de 05:30h e 06:30h continuando superiormente até a posição de 12h [19]. Harpster e Brien publicaram em 2007 artigo com a padronização da técnica da anastomose por sutura contínua pela via retropúbica, sendo acompanhado por raras publicações como por Choichiro Ozu e col em 2009 [21,22]. No Serviço de Urologia da SCMBH este tipo de anastomose na cirurgia pela via retropúbica vem sendo realizado desde o ano de 2008 e tornou-se uma rotina. Com o grande volume de cirurgias realizadas por este serviço e com a experiência acumulada, observou-se que o resultado das anastomoses são cada vez melhores e mais confiantes, permitindo o questionamento de condutas do passado que talvez pudessem ser modificadas com esta nova experiência. - 35 - Muito se discute na literatura sobre a realização da cistografia precedendo a retirada do cateter vesical após PR. Alguns autores questionam haver aumento da incidência de estenose da anastomose vesicouretral quando há extravazamento à este nível no pós-operatório. Todos os trabalhos citados anteriormente não evidenciaram aumento destes índices e como pode ser observado na TABELA 1, os maiores índices desta complicação são encontrados em trabalhos que utilizaram anastomose com pontos separados, sendo praticamente inexistentes naqueles grupos de anastomose com sutura contínua. Alguns trabalhos na literatura demostraram que a cistografia pós-operatória não era um bom preditor de complicações e não era útil em definir sobre a retirada precoce ou não do cateter vesical. Albani e col (2002) e Nieder e col (2005) discutiram a necessidade de realizar a cistografia como rotina para a retirada precoce do cateter vesical em suas publicações [29,37,38]. Harpster e Brien (2007) utilizaram a dosagem de creatinina no primeiro DPO da secreção drenada para avaliar a integridade da anastomose vesicouretral. Dos 72 pacientes operados, três apresentaram aumento da creatinina na análise, que normalizou no segundo DPO. Nos primeiros 25 pacientes foi realizada cistografia, mesmo sem suspeita clínica de extravasamento urinário. Dois pacientes apresentaram pequeno extravazamento, mas mesmo assim todos foram submetidos a retirada precoce do cateter vesical. Os autores consideraram que a cistografia rotineira sem a suspeita de fístula foi inútil para mudar a conduta na retirada precoce ou não do cateter vesical. Após estes casos iniciais, a cistografia só era realizada com suspeita de fístula no pósoperatório ou se houvesse extravazamento durante o teste da anastomose no peroperatório [21]. Albani demonstrou em seu trabalho que após correlacionar os achados per-operatórios com aqueles da cistografia, não havia motivos de realizá-la de rotina, caso não houvesse extravazamento durante o teste da anastomose [29]. O estudo aqui descrito é o único (até a presente data) na literatura que apresenta os resultados da retirada precoce do cateter vesical após prostatectomia radical retropúbica utilizando anastomose contínua e sem uso de cistografia para a retirada do cateter. Considerando as características pré-operatórias dos pacientes inseridos em cada grupo (idade, PSA, IMC, hemoglobina pré-operatória e peso prostático) não - 36 - houve diferença estatística significativa entre os mesmos e os dados foram compatíveis com aqueles já relatados na literatura. Quanto ao estadiamento clínico (EC), observou-se que os pacientes do grupo A apresentavam EC um pouco acima daqueles pacientes dos grupos B e C, porém isto não os classificava como pacientes de pior prognóstico, já que pacientes estadiados no pré-operatório como T1c e T2a apresentam prognósticos muito semelhantes no longo prazo. Além disso, outras características devem ser levadas em conta sendo de igual ou até mesmo de maior importância como o PSA e o escore de Gleason [22,29]. Encontrou-se um maior número de pacientes ASA I no grupo A em relação aos grupos B e C (45,8% X 10%/15%). Esta diferença foi estatisticamente significativa (p = 0,0276), mas não influenciou os resultados obtidos no estudo, visto que pacientes classificados como ASA II apresentam comorbidades sistêmicas sem acometimento de órgão alvo e que controladas no pré-operatório não interferem no desfecho dos resultados encontrados. A curva de aprendizado em cirurgia pode ser definida como o número de casos necessários para realizar um procedimento dentro de tempo razoável e com índice aceitável de complicações, possibilitando evolução clínica pós-operatória adequada e menor tempo de internação [39]. Para melhor padronização dos dados estudados, optou-se por analisar somente as operações realizadas por dois cirurgiões com a mesma experiência. Antes de iniciar o trabalho, cada um dos cirurgiões que participaram do estudo havia realizado ao menos 50 PRR. Os tempos cirúrgicos e sangramento observados foram compatíveis com as descrições encontradas na literatura. O tempo médio foi de 118 ± 30,2 minutos, sendo menor no grupo C (114,3 ± 17,6 minutos) e maior no grupo B (125 ± 35,1 minutos), não houve diferença estatística sendo p = 0,539. A queda de hemoglobina média foi de 3,2 ± 1,3 g/dL variando minimamente entre os grupos (p = 0,891). Não houve necessidade de transfusão sanguínea em qualquer um dos grupos estudados. Estes dados demonstram ser totalmente condizentes com a literatura. Evidências já publicadas têm demonstrado que o número de prostatectomias radicais previamente realizadas pelo cirurgião afeta a evolução do paciente. Acredita-se que uma curva de aprendizado de 200 casos seria necessária para atingir um status de “especialista” [40,41]. Em princípio, o número de operações realizadas por cada cirurgião parece baixo, mas de acordo com estudo realizado no serviço de urologia da Universidade - 37 - de São Paulo publicado em 2012, à partir de 20 cirurgias realizadas o tempo cirúrgico parece se tornar adequado (passando de 150 para 120 minutos) e após a 30ª operação a necessidade de transfusão sanguínea reduziu de 9% para 3%, se tornando ideal [42]. A profilaxia com heparina foi realizada em todos os pacientes somente durante o período de internação, não sendo prescritos após a alta hospitalar. Nesta série não foram evidenciados casos TVP ou TEP. Os pacientes foram estimulados frequentemente a deambulação precoce no pós-operatório e acredita-se que a retirada precoce do cateter vesical tenha papel fundamental nestes resultados, já que possibilita maior liberdade aos pacientes de se locomover. Estes dados se revestem de grande importância, visto que o TEP é a principal causa de morte no pós-operatório de prostatectomia radical segundo Walsh [43]. A drenagem pelo dreno de penrose no pós-operatório foi considerada fator fundamental para a avaliação da retirada precoce do cateter vesical no pósoperatório. Neste estudo, obteve-se a drenagem pós-operatória durante os três primeiros dias, não sendo encontrado diferença estatística entre os grupos. Foi considerado excesso de drenagem quando os valores drenados ultrapassavam 150200ml no primeiro DPO, 100ml no segundo DPO e 50ml no terceiro DPO. Cinco pacientes necessitaram dosagem dos níveis de creatinina na secreção coletada. Destes, somente um apresentou valores elevados sendo considerado fístula urinária e foi excluído do estudo. Este parâmetro associado ao teste da anastomose no peroperatório foi capaz de substituir a cistografia e predizer quais pacientes poderiam ser submetidos à retirada precoce do cateter vesical sem acrescentar riscos. O desconforto com o uso do cateter vesical de demora após a prostatectomia radical foi avaliado através de questionário específico por Albani e col (2002). Após a alta hospitalar os pacientes respondiam um questionário por telefone onde eram perguntados sobre o que mais o incomodou no pós-operatório. O cateter vesical foi a maior queixa dos pacientes alcançando 79%, outros 13% queixaram-se da limitação funcional, 4% dor na cicatriz e por fim 4% do desconforto relacionado à problemas intestinais. Quando questionados se ficariam mais um dia para ter o cateter vesical retirado antes da alta, 100% respondeu que sim [29]. No estudo aqui descrito, o tempo médio de internação foi de 3,75 dias para o grupo A (de três a cinco dias), 4,4 dias para o grupo B (dois a oito dias) e 2,86 dias para o grupo C - 38 - (dois a quatro dias). Conclui-se ser justificável o aumento da permanência hospitalar em troca do benefício que o paciente pode obter. No presente estudo foi encontrado somente um caso de retenção urinária, que ocorreu no grupo A (4,2%). Este paciente apresentou drenagem aumentada pelo dreno de penrose no pós operatório (150ml no primeiro DPO, 100ml no segundo DPO e 70ml no terceiro DPO), mas a secreção tinha aspecto mais sanguinolento e a dosagem de creatinina foi normal. A retenção ocorreu no terceiro dia após a retirada do cateter vesical, que foi re-introduzido sem intercorrências e apresentava hematúria moderada com coágulos. O paciente permaneceu com o cateter por mais sete dias, tendo evoluído sem demais complicações. A retenção ocorreu provavelmente por coágulos e não por edema de anastomose como é relatado por alguns autores na literatura (geralmente ocorre nas primeiras 24 a 48 horas após a retirada do cateter). Não houve diferença estatística para este achado entre os grupos (p = 0,4289 com 2 graus de liberdade) [17,18,20,28] Foi encontrado uma alta taxa de infecção do trato urinário (ITU) neste estudo. Identificou-se ITU em 8,3% dos pacientes do grupo A, 5% do grupo B e 30% do grupo C. Observou-se diferença significativa quando comparou-se a retirada precoce versus tardia do cateter (A+B x C >> p = 0,0134). As altas taxas encontradas podem ser devido aos exames terem sido colhidos muito próximo ao momento da retirada do cateter vesical, que pode determinar o aparecimento de alterações compatíveis somente com contaminação e não ITU propriamente dita. No período recente posterior à retirada do cateter os pacientes podem apresentar sintomas irritativos do trato urinário, que pode confundir o examinador em sua decisão de tratar ou não uma ITU declarada. Este dado parece ser excluído da maioria dos trabalhos que envolvem a retirada precoce do cateter vesical de demora provavelmente por este fator de confusão. Mesmo levando em consideração o viés que pode ocorrer na avaliação de ITU nestes pacientes, observa-se que a retirada precoce do cateter vesical reduz consideravelmente a incidência destes episódios. Não foram identificados pacientes com estenose da anastomose vesicouretral. O seguimento dos pacientes neste estudo ainda é curto, mas artigos publicados na literatura demonstram que a estenose da anastomose ocorre em geral até 3 meses após a operação, portanto o período de maior incidência desta complicação foi observado em todos os pacientes avaliados [38]. Observa-se que os - 39 - índices de estenose da anastomose pouco devem variar com a mudança do tempo de retirada do cateter vesical, dependendo de outros fatores como o tipo de sutura realizada na anastomose e o material utilizado como descrito por alguns autores na literatura e observado na TABELA 1. Neste estudo a continência foi avaliada em dois momentos. Imediatamente após retirada do cateter vesical e 30 dias após a retirada do cateter. A análise estatística para comparação entre os grupos mostrou diferença estatística para continência imediata entre aqueles pacientes submetidos à retirada precoce do cateter vesical quando comparados aqueles de retirada tardia (A + B x C >> p = 0,0023). Não houve diferença entre os dois grupos de retirada precoce (A x B >> p = 0,3172). Em relação à continência precoce (até 30 dias) observou-se diferença estatística significativa na comparação entre o grupo A x C e entre grupos (A+B) x C. Não houve diferença estatística entre grupo B x C e grupo A x B. Observa-se, portanto, influência do tempo de permanência do cateter e o tempo de recuperação da continência urinária. Com o seguimento em longo prazo destes pacientes tem-se observado que as diferenças entre as taxas de continência observadas entre os grupos se tornam cada vez menores, por vezes se igualando em um determinado momento (após 12 meses). Estes dados se apresentam em acordo com aqueles publicados na literatura, evidenciando que a continência do paciente depende mais da técnica cirúrgica (preservação do esfíncter uretral externo e experiência do cirurgião) e da função da musculatura vesical pré-operatória. A retirada precoce do cateter, portanto, parece reduzir o tempo que o paciente se torna continente, mas talvez não apresente influência na continência em longo prazo [17,26,27,44] - 40 - 8. CONCLUSÕES O estudo realizado concluiu que em pacientes submetidos à prostatectomia radical retropúbica com anastomose vesicouretral por sutura contínua é possível a retirada precoce do cateter vesical com um risco aceitável de retenção urinária no pós-operatório. O risco de retenção urinária é maior quanto mais precoce ocorrer a retirada do cateter (terceiro ou quinto DPO). A retirada precoce do cateter vesical parece reduzir as chances de infecção do trato urinário, mas não apresenta influência nas taxas de esclerose de colo vesical. A continência urinária ocorre mais precocemente nos pacientes que permaneceram menos tempo com o cateter vesical, porém em longo prazo os resultados parecem ser semelhantes. - 41 - 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1 - Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva - INCA. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Coordenação Geral de Ações Estratégicas, Coordenação de Prevenção e Vigilância 2011. ISBN 978-85-7318-194-4 (versão eletrônica). 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J Clin Oncol. 1999 Jan;17(1):168-72. - 45 - 10.ANEXOS 10.1 - Aprovação do comitê de ética em pesquisa 10.2 - Consentimento informado – Prostatectomia radical retropúbica 10.3 - Consentimento informado – Pesquisa clínica 10.4 - Protocolo de coleta de dados 10.5 - Classificação Tumor, Nódulo, Metástase (TNM) para câncer de próstata – UICC (2009) 10.6 – Classificação de risco para o câncer de próstata – D`Amico (1999) - 46 - 10.1 - Aprovação do comitê de ética em pesquisa - 47 - 10.2 - Consentimento informado – Prostatectomia radical retropúbica - 48 - 10.3 - Consentimento informado – Pesquisa clínica - 49 - 10.4 - Protocolo de coleta de dados - 50 - - 51 - 10.5 - Classificação Tumor, Nódulo, Metástase (TNM) para câncer de próstata – UICC (2009) - 52 - 10.6 – Classificação de risco para o câncer de próstata – D`Amico (1999) Quando se propõe uma terapia curativa para câncer de próstata localizado ou localmente avançado, é de grande importância selecionar adequadamente o paciente, levando-se em consideração fatores prognósticos relevantes quanto à evolução pós-tratamento. D'Amico et al. (1999) estratificaram os pacientes com diagnóstico de câncer de próstata em alto risco, risco intermediário e baixo risco quanto à possibilidade de extensão extraprostática, envolvimento linfonodal e consequente recidiva tumoral após tratamento com intenção curativa. Os autores levaram e consideração o nível sérico do PSA, o escore de Gleason, a percentagem de amostras comprometidas na biópsia prostática e as características do tumor ao exame digital da próstata [45]