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Estudo comparativo entre os fios de ácido poliglicólico e
poliglactina na ileocistoplastia em cães (Canis familiaris)
A comparison of polyglycolic acid and polyglactin suture in ileocystoplsty
in dog (Canis familiaris)
Maria de Lourdes Gonçalves Ferreira,* Marília Botelho de Oliveira Chaudon,** Edmundo Jorge Abílio,*** Eulógio Carlos
Queiroz de Carvalho,**** Nelson Jamel,***** Mario Antônio Pinto Romão,** Viviane Alexandre Nunes******
Resumo
O presente estudo visa comparar os fios de ácido poliglicólico e de poliglactina 910 em ileocistoplastia em cães. Utilizaramse 24 cadelas, SRD (sem raça definida), adultas, pesando em média 15kg, divididos em dois grupos iguais, os quais foram
submetidos a ileocistoplastia. No grupo A empregou-se o fio de poliglactina 910 e no B o fio de ácido poliglicólico. Os animais
foram acompanhados até o 42o dia de pós-operatório, sendo que no 7o, 14o, 21o, 28o, 35o e 42o dois animais de cada grupo
foram necropsiados para retirada da bexiga visando análise histopatológica da linha de sutura. Estipulou-se escores de 0 a 3
para reação inflamatória e absorção e de 1 a 3 para fibrose (cicatrização). Esses dados foram submetidos atratamento
estatístico (teste x2 – Qui-quadrado) onde a = 0,05. Nos animais do grupo A, do 7o ao 42o dia observou-se reação inflamatória
compatível com o período, enquanto os cães do grupo B, além da reação inflamatória, demonstravam também presença de
supuração até o 35o dia (p<0,05). Os cães do grupo A apresentaram sinais progressivos de fibrose, a partir do 7o dia, enquanto
os cães do grupo B só vieram a apresentar tais sinais após 21 dias. No 21o dia os cães do grupo B demonstraram sinais de
início do processo de hidrólise, e no grupo A estes sinais só foram evidenciados no 28o dia. Os cães do grupo B apresentaram
sinais de calcificação na linha de sutura a partir do 21o dia, fato não observado em todo período nos animais do grupo A. Houve
diferença significativa entre os fios utilizados no grupo A e no grupo B, no que se refere a reação inflamatória, grau de fibrose
e calcificação na linha de sutura, caracterizando o fio de poliglactina 910 como mais indicado para enterocistoplastia em cães.
Palavras-chave: estudo comparativo, ácido poliglicólico, poliglactina 910, transplante autólogo – veterinária, bexiga – cirurgia,
íleo – cirurgia, cães, cicatrização, suturas.
Abstract
A comparison of polyglycolic acid and poliglactin 910 suture was performed in dogs ileocystoplasty procedures. Twenty four
mongrel adult bitches weighting 15 Kg where dividided into two similar groups and submitted to ileocystoplasty. Polyglactin was
employed in group A; and Polyglycolic acid in group B. The animals were observed until 42nd day immediate postoperative
period, and two animals of each group necropsied to extract the urinary bladder for histopathological analysis. A score of zero to
three represented inflammatory reaction and absortion; a score of one to three for fibrosis (cicatrization). Data statistic analysis
were done (x2 test square – Qui) where a=0,05. Animals of group A showed up inflammatory reaction compatible to the period
from 7th to 42nd day; animals of group B showed up inflammatory reaction also but suppuration till the 35th day (p< 0,05). Group
A dogs presented progressive signals of fibrosis form up the 7th day; group B dogs showed up beginning process after 21 days.
Group B animals presented hydrolyses process in 21st day; in group A these signals appeared in 28th day. Animals of group B
presented calcification process in the suture line from 21st day; this was not observed in animals of group A. Showed up
significative difference between suture used in group A and Group B animals, due to inflammatory reaction, fibrosis level and
calcification of the suture line. We concluded that polyglactin was the most valuable for enterocystoplasty in dogs.
Keywords: comparative study, polyglycolic acid, poliglactin 910, autologo transplant – veterinary, bladder – surgery, ileo- surgery,
dogs, healing, sutures.
* Professora Dra. da Disciplina de Patologia e Clínica Cirúrgica Veterinária da UFF.
** Professor Dr. do Departamento de Patologia e Clínica Veterinária da Faculdade de Veterinária UFF.
*** Professor Dr. da Disciplina de Patologia e Clínica Cirúrgica Veterinária da UENF.
**** Professor Dr. de Anatomia Patológica da Faculdade de Veterinária da UENF.
***** Professor Dr. do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFRJ.
****** Professora Ms. da Disciplina de Patologia e Clínica Cirúrgica Veterinária da UFF.
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Introdução
Somente com a industrialização no último século é que foram
desenvolvidos novos materiais de sutura, tais como o ácido
poliglicólico e a poliglactina 910. De acordo com a resposta
que cada um deles produzia no organismo, puderam ser classificados em dois grandes grupos: fios absorvíveis e
inabsorvíveis. Tal classificação baseia-se no tempo que cada
fio leva para perder sua força tênsil e sofrer degradação pelo
organismo (Edlich et al., 1987).
Os estudos utilizando enterocistoplastia realizados por
Vordermark et al. (1992) e Gonzales et al. (1995) não enfocam,
respectivamente, o comportamento dos fios à base de ácido
poliglicólico e poliglactina e, no momento, não há uma padronização em relação ao fio de sutura ideal para ser usado
neste tipo de procedimento. O melhor fio é aquele que, com a
menor reação inflamatória possível, seja capaz de manter
sua força tênsil até que a cicatrização da ferida cirúrgica esteja completa, e seja absorvido, evitando com isso a formação
de cálculos.
O poder de recuperação da bexiga em todas as suas túnicas
é notado pelos autores de forma geral, tendo, contudo, merecido atenção de Hastings et al. (1975). Utilizando fio de
poliglactina, constataram que entre 14 e 21 dias do ato operatório ocorreu 100% de recuperação das estruturas da bexiga.
Ellison (1996), nas mesmas condições, acrescenta a recuperação de 100% da força tênsil do órgão. Peacock (1984)
afirmou que a cistectomia com mais de 75% do volume da
bexiga pode ser praticada, porém, com a preservação do
trígono vesical, ela se regenera em todas as funções, devido
à sua grande capacidade recuperadora.
Segundo os fabricantes, o Vycril é um material de sutura
absorvível confeccionado a partir de polímeros que são inertes, não-antigênicos, não-pirogênicos e provocam somente
uma leve reação tissular durante a absorção (Ethicon,
Johnson e Johnson), enquanto que o Safil é caracterizado
como estéril, absorvível, trançado e produzido a partir de ácido poliglicólico, afirmando ainda que quando utilizado, há
leve reação inflamatória que é típica de uma reação a um
corpo estranho, sendo envolvido por tecido conjuntivo fibroso
com o passar do tempo, até a sua absorção (B. BRAUN®).
Fossum (2002), preferiu material de sutura absorvível para
cirurgias vesical e uretral de pequenos animais, entre eles,
o ácido poliglicólico e a poliglactina 910 citando que a maioria dos fios de sutura parece perder a força tênsil mais rapidamente em urina alcalina que em urina ácida infectada ou
estéril.
Fontes e Sadi (1995) realizaram estudo comparando o comportamento de seis tipos de fios absorvíveis (catgut cromado,
ácido poliglicólico, poliglactina 910, polidioxane, poligliconato
e poliglecaprone 25) em bexiga de cão e para isso coletaram
biópsias da área suturada no 7º, 21º, 90º e 180º dia pósoperatório, onde avaliaram através da histopatologia o grau
de inflamação, presença de restos de fio e calcificações no
local da sutura. No sétimo dia foi possível identificar
macroscopicamente todos os fios de sutura na luz da bexiga;
porém, com 21 dias o epitélio cobria totalmente. Microscopicamente, aos 21 dias o material de sutura era visível em todos os cães, enquanto aos 90 dias não se observava presença dos fios de ácido poliglicólico e poliglactina. A reação inflamatória dos fios foi semelhante nos intervalos estudados,
não havendo diferença significativa entre eles. No sétimo dia
foi encontrada uma reação inflamatória exsudativa às custas
de poucos leucócitos polimorfonucleados e alguns histiócitos
e linfócitos, com edema discreto. Na avaliação do 21º dia foi
constatada presença de grande quantidade de fibroblastos e
fibrócitos, além da deposição de fibras colágenas. O urotélio
já estava totalmente recomposto, mostrando cinco a dez camadas de células. A reação inflamatória foi predominantemente mononuclear com presença de histiócitos, linfócitos e
raros plasmócitos distribuídos difusamente, além de cistos
formados por aglomerado de células, sem no entanto caracterizar a presença de células gigantes tipo corpo estranho.
Observaram ainda a presença de fibrose leve ou moderada
quando analisaram o fio de poliglactina.
Gonzales et al. (1995) realizaram enterocistoplastia
seromuscular em cães utilizando fio de poliglactina 910 na
sutura interrompida para reforçar sutura primária contínua com
catgut. Sacrificaram os animais oito semanas após a cirurgia
e ao exame post mortem observaram presença de pedículo
nutridor do enxerto intacto, e este, viável histologicamente.
Boyd et al. (1994) reconstituíram 11 pacientes utilizando como
material de sutura fios de ácido poliglicólico, ora utilizado em
padrão contínuo, ora em sutura circular para confecção de
esfíncter uretral artificial, não tendo descrito nenhum caso de
deiscência ou infecção no pós-operatório.
O objetivo deste estudo comparativo foi avaliar a utilização
dos fios de ácido poliglicólico e de poliglactina 910 em
ileocistoplastia em cães, e estudar a reação tecidual através
do grau de inflamação, fibrose da ferida cirúrgica (cicatrização), com o intuito de verificar qual dos fios testados está
mais indicado para realização deste procedimento.
Material e método
Vinte e quatro cadelas, adultas, pesando em média 15kg,
sem raça definida (SRD), doadas pelo Centro de Controle de
Zoonoses do Município de Niterói, RJ e provenientes de apreensões, foram submetidas ao experimento segundo as normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA
2003), sendo divididas em dois grupos de 12 animais cada: o
primeiro grupo (A) submetido a implante de autoenxerto ileal,
não-tubular, com pedículo vascular (ileocistoplastia) utilizando sutura em padrão contínuo tipo “Cushing” com fio
poliglactina 910 3.02 sertix gastrintestinal com agulha cilíndrica 3/8 de círculo medindo 3cm. O segundo grupo (B) diferiu
do primeiro em relação ao fio utilizado, que foi de ácido
poliglicólico 3.03 sertix com agulha cilíndrica 1/2 círculo medindo 2cm.
Foram realizados exames radiográficos simples e contrastados e ultra-sonográfico para avaliar a impermeabilidade da
bexiga e EAS (Elementos Anormais e Sedimentoscopia) para
determinar o pH da urina no 7o, 14o, 21o, 28o, 35o e 42o dias.
A cada sete dias, do 7o até o 42o dia, dois animais de cada
grupo foram eutanasiados, através de indução anestésica de
ação central (coma barbitúrico). Na necroscopia, as bexigas
foram colhidas in totum, preenchidas e mergulhadas em
formalina neutra tamponada a 10%. Após a fixação, as peças
foram clivadas, com atenção para o enxerto, os limites da
ferida e a área de sutura e reidratadas em soluções aquosas
alcoólicas, de concentrações crescentes, diafanizadas em
xilol, embebidas e incluídas em parafina histológica. Os cor-
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tes de 5 micra foram efetuados em micrótomo Spencer, da
América Optical. A coloração foi a de rotina, pelo método de
hematoxilina e eosina, segundo Prophet et al. (1994), e a
microscopia se deu em videomicroscópico de luz (Olympus
BX50), com sistema automático de fotomicrografia (Olympus
PM 30).
Para determinação do grau de inflamação, fibrose e processo de absorção foi utilizado um sistema de escore: a) para a
calcificação na linha de sutura e formação de cálculo vesical
foi considerado presença e ausência; b) reação inflamatória:
0 = reação inflamatória ausente; 1 = reação inflamatória aguda; 2 = reação inflamatória crônica e 3 = reação inflamatória
com supuração; c) grau de fibrose: (1) = primeiro estágio de
granulação; (2) = fibrose incipiente; (3) = fibrose densa e d)
processo de absorção: 0 = Ausência de sinais de absorção; 1
= presença de células gigantes com fio fagocitado; 2 = presença de células gigantes em fagocitose com sinais de início
de hidrólise e 3 = dissolução total do fio. Os dados são apresentados por meio de estatística descritiva, com quadros e
gráficos, bem como a estatística inferencial, por meio do teste x2 (Qui-quadrado). O nível de significância adotado foi de
5% (a = 0,05).
Resultados e discussão
Sharma (1977); Sharma e Khan (1978); Salle et al. (1990);
Fries et al. (1991); Gonzales et al. (1995) e Nandi et al. (1996)
utilizaram dois planos de sutura para fixação do enxerto em
enterocistoplastia. Diferentemente destes autores, no presente estudo utilizou-se o plano de sutura contínuo único, o qual
mostrou-se eficiente para fixação do enxerto conferindo
vedação hermética à bexiga, comprovada pelo teste do soro
proposto por Slatter (1998), conforme também empregado
por Vordermark et al. (1992); e Boyd et al. (1994), enquanto
que Slatter (1998) recomendou o padrão de sutura de Cushing
sobreposta por Cushing ou Lembert no reparo de ruptura de
bexiga, relatando que em cães sadios não há diferença entre
o padrão contínuo único ou em dupla camada.
Desgrandchamps e Griffith (1999) afirmaram que uma bexiga recuperada cirurgicamente deve promover armazenamento
adequado, permitir eliminação completa da urina e preservar
a função renal, conforme também foi observado no presente
estudo, onde todos os cães, tanto do grupo A como do B, não
exibiram evidências de quaisquer alterações funcionais no
trato urinário tais como extrusão do enxerto, infecção ou formação de cálculo. Estes resultados diferem de Salle et al.
(1990), que cogitaram a hipótese de isquemia, contração ou
severa reação inflamatória provocada por infecção ou irritação
química pelo contato do enxerto com a urina. Também não
foram observadas todas das alterações citadas por Laus et
al. (1995) em relação a enteroanastomose, onde os animais
do presente experimento apresentaram evolução clínica
satisfatória, não sendo observandos sinais de distensão abdominal relatados pelos autores, mas sim alguns animais
de ambos os grupos manifestaram prostração e febre, tendo-se restabelecido normalmente após 24 horas, tornandose ativos e com apetite, o que está de acordo com Salle et al.
(1990) e Gonzales et al. (1995), que consideraram comum a
ocorrência de febre nas primeiras 72 horas. Outro aspecto
digno de nota é que todos os animais iniciaram a micção de
12 a 18 horas após a cirurgia, a qual se mostrou sem nenhuma alteração, enquanto a exoneração intestinal ocorreu após
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24 horas, como também observado por Laus et al. (1995) em
relação ao trânsito intestinal após enteroanastomoses e por
Vordermark et al. (1992), que associaram o esvaziamento
vesical e menor tempo de contato da urina com a mucosa
intestinal à ausência de distúrbios eletrolíticos. Já no experimento de Salle et al. (1990) os cães, apesar de urinarem
espontaneamente, apresentaram muco na urina após a
enterocistoplastia.
Kaminsky et al. (1978), realizaram sutura com fio de ácido
poliglicólico na bexiga de coelhos, cães e gatos e só encontraram cálculos nos coelhos; Fontes e Sadi (1995) atribuíram
a não formação de cálculo ao pH ácido da urina dos cães; os
resultados obtidos corroboram esta observação, visto que
todos os animais do presente estudo apresentaram durante o
período de acompanhamento, pH urinário ácido variando entre
6,3 e 6,5. Estes autores ressaltaram ainda que a ausência de
contato direto do fio com a urina também dificulta a formação
de cálculos. O padrão de sutura de Cushing utilizado aqui, não
permitiu o contato do fio com a urina e não foram encontrados
urólitos. Entretanto, os animais do grupo B apresentaram
calcificação na linha de sutura (Figura 1) a partir do 21º dia,
evoluindo para metaplasia óssea no 42º dia pós-operatório,
contradizendo Fontes e Sadi (1995), que consideraram o cão
como modelo impróprio para o estudo da calcificação na linha
de sutura. Por outro lado, Fossum (2002) recomendou o uso
de fios de ácido poliglicólico e de poliglactina 910, ressaltando
que causam menor reação inflamatória, são mais resistentes
em urina ácida estéril ou infectada e promove menor formação
de cálculo que os fios inabsorvíveis. Entretanto, não faz referência à calcificação na linha de sutura, além de nossos resultados não serem homogêneos para os dois fios, tendo o fio de
ácido poliglicólico provocado mais reação inflamatória e
calcificação na linha de sutura.
Uma bexiga recuperada cirurgicamente, além de manter suas
funções fisiológicas conforme postulam Desgrandchamps e
Griffth (1999), também deve, dentro do possível, restaurar e/
ou preservar sua arquitetura anatômica. As imagens
radiográficas e ultra-sonográficas do 7o ao 21o dias, mostraram pequenas alterações na conformação anatômica das
bexigas situadas na face da enxertia, em ambos os grupos,
desaparecendo, porém, a partir do 28o dia. Desta forma, além
da manutenção das funções fisiológicas, preservou-se a anatomia do órgão; o emprego do diagnóstico por imagem é
citado por alguns autores, como Gonzalez et al. (1995), que
trabalharam com pacientes humanos; entretanto, não relatam os resultados obtidos. Também não foi detectada, em
todo o período, nenhuma evidência de ruptura da sutura, confirmando o que Bourne et al. (1988) revelaram a respeito da
manutenção da força tênsil dos fios estudados até o 14o dia.
Fontes e Sadi (1995), encontraram no 7o dia reação inflamatória exsudativa, caracterizada por poucos polimorfonucleares
e alguns mononucleares com presença de edema discreto
semelhantes para os fios estudados. No presente estudo, o
grupo A apresentou o mesmo padrão de reação inflamatória
com ausência de edema; já o grupo B evidenciou, além da
reação inflamatória, derrame hemorrágico e supuração em
alguns pontos (Figura 3), o que pode estar associado ao fio
de ácido poliglicólico produzir reação inflamatória exsudativa
tipo corpo estranho mais intensa que a descrita pelo fabricante do mesmo, o que retardou a cicatrização. De certo modo,
estas observações contradizem Postlethwait et al. (1975) e
87
Fontes e Sadi (1995), que associaram a reação até o 7o dia
ao trauma provocado pela passagem da agulha e não ao fio.
Entretanto, deve ser considerado que estes resultados referem-se a animais sadios, devendo ser realizadas observações em pacientes portadores de afecção vesical para melhor elucidar este comportamento dos fios testados.
No 14o dia, o grupo A revelou material fibrocelular com reação
inflamatória aguda leve e o grupo B persistência da reação
inflamatória e presença de granuloma piogênico (Quadro 1).
Fontes e Sadi (1995), constataram que o processo de regeneração tecidual ocorre simultaneamente ao processo inflamatório, tendo encontrado polimorfonucleares e fibroblastos.
No presente estudo, observou-se regeneração tecidual no
grupo A, enquanto o grupo B revelou reação inflamatória com
processo piogênico (Quadro 1).
Bimonte (1997) citou que a velocidade de absorção está diretamente relacionada com a vascularização do tecido e que a
poliglactina 910 é mais resistente à hidrólise que o ácido
poliglicólico, fato que também observamos no 21o dia. O grupo B apresentou sinais de hidrólise, fato observado no grupo
A, somente no 28o dia (Quadro 2).
Fatureto e Teixeira (1993) e Fontes e Sadi (1995), afirmaram
que a forma de absorção determina o grau de reação inflamatória, mas apesar dos fios utilizados no experimento sofrerem hidrólise (Quadro 2), a reação ao ácido poliglicólico foi
mais intensa que a da poliglactina.
No grupo B notou-se presença de tecido cicatricial (granulação)
somente no 35o dia, mas Fontes e Sadi (1995) afirmaram que
o processo cicatricial ocorre concomitantemente ao processo inflamatório. A partir da observação dos dados referentes
Quadro 1 – Escores da reação inflamatória e da fibrose (valores entre
parênteses) dos cães do grupo A (poliglactina) e B (ácido poliglicólico),
sendo 2 animais por dia para cada grupo, aos 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias
após a operação.
DIAS
GRUPO A
GRUPO B
7
o
14
o
o
21
28
o
35
o
42
o
1 (2)
1 (2)
2 (2)
0 (2)
0 (3)
0 (3)
1 (2)
1 (2)
2 (2)
0 (2)
0 (3)
0 (3)
3 (1)
3 (1)
3 (2)
3 (2)
3 (2)
2 (2)
3 (1)
3 (1)
3 (2)
3 (2)
3 (2)
2 (2)
Escores de reação inflamatória: 0 = reação inflamatória ausente; 1 =
reação inflamatória aguda; 2 = reação inflamatória crônica e 3 = reação
inflamatória com supuração.Escores de grau de fibrose: (1) = primeiro
estágio de granulação; (2) = fibrose incipiente; (3) = fibrose densa.
ao grau de inflamação e fibrose no presente estudo, do 7o ao
42o dia, pode-se afirmar que quanto mais intensa for a reação
inflamatória, mais lento será o processo de fibrose, ou seja, a
cicatrização da ferida cirúrgica (Figura 2).
Atribuiu-se o retardo do processo cicatricial do grupo B (Figura 2) à intensa reação inflamatória, caracterizada por reação
inflamatória supurativa, fator complicador para cicatrização
como também relataram Ellison (1996), Slatter (1998) e Harari
(1999).
Fontes e Sadi (1995), caracterizaram a reação inflamatória no
21o dia como predominantemente mononuclear, fato observado no grupo A; já o grupo B, evidenciou sinais de reação inflamatória com supuração até o 35o dia (Quadro 1 e Figura 3).
Rodeheaver et al. (1983) citaram que os fios de poliglactina e
de ácido poliglicólico tiveram melhor aceitação com menos
riscos e inconvenientes quando a indústria passou a produzilos encapados. No experimento em tela, utilizaram-se fios
encapados e, mesmo assim, a reação inflamatória ao fio de
ácido poliglicólico foi mais intensa e desfavorável
histologicamente que a apresentada pelo fio de poliglactina
com predominância de reação inflamatória com supuração
(Quadro 1) e calcificação na linha de sutura (Figura 2).
O teste c2 (Qui-quadrado) aplicado ao Quadro 1 para testar a
hipótese de independência dos fatores ao nível de 5% de
probabilidade (á= 0,05), com o valor de c2 Calculado = 17,14 demonstrou que a reação inflamatória nas suturas depende do
tipo de fio utilizado (p< 0,05). Sendo assim, quando se utiliza
a poliglactina 910, a percentagem de reação inflamatória é
inferior à percentagem de reação inflamatória relativa ao ácido poliglicólico (p< 0,05).
Quadro 2 – Escores de processo de absorção dos cães do grupo A
(poliglactina) e B (ácido poliglicólico), sendo 2 animais por dia para
cada grupo, aos 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias após a operação.
DIAS
GRUPO A
GRUPO B
7o
14o
21o
28o
35o
42o
0
1
1
2
3
3
0
1
1
2
3
3
1
1
2
2
3
3
1
1
2
2
3
3
Escore de processo de absorção: 0 = Ausência de sinais de absorção; 1
= presença de células gigantes com fio fagocitado; 2 = presença de
células gigantes em fagocitose com sinais de início de hidrolise e 3 =
dissolução total do fio.
R e l ação e n t r e R e a ção i n f l a m a t ór i a e F i br o s e
66,67%
80
3
60
2
40
1
20
I nf l amação
Fi br os e
0
0%
7
0
14
21
28
35
42
Gr upo A
Grupo A
Grupo B
Figura 1 – Gráfico de Percentagens de animais que apresentaram
calcificação nos grupos A e B.
7
14
21
28
35
42
Gr upo B
D i as
Figura 2 – Gráfico relacionando o grau de inflamação com a fibrose na
linha de sutura no 7º, 14º, 21º, 28º, 35º e 42º dias, nos animais dos
grupos A (poliglactina) e B (acido poliglicólico).
R. bras. Ci. Vet., v. 12, n. 1/3, p. 84-88, jan./dez. 2005
88
Conclusão
83,33%
Nas condições do experimento aqui apresentado, pode-se
concluir que: a relação entre a reação inflamatória e fibrose
demonstrou que o processo cicatricial ocorreu em menor
período de tempo quando se empregou a poliglactina e que a
mesma não apresentou reação inflamatória supurativa nem
calcificação na linha de sutura, sendo, assim, mais eficiente
que o ácido poliglicólico.
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
0%
10%
0%
G rupo A
G rupo B
Figura 3 – Gráfico de Percentagens de animais que apresentaram
reação inflamatória com supuração nos grupos A e B.
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Estudo comparativo entre os fios de ácido poliglicólico e poliglactina