XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA VERTICALIZAÇÃO NA PRODUÇÃO DE VÁLVULA REGULADORA DE PRESSÃO PARA PANELAS DE PRESSÃO EM INDÚSTRIA DE ARTEFATOS DE ALUMÍNIO Ilson Cezar Luchtemberg (SUDATI) [email protected] Jose Donizetti de Lima (UTFPR) [email protected] Gilson Adamczuk (UTFPR) [email protected] Marcelo Gonçalves Trentin (UTFPR) [email protected] Este trabalho teve por objetivo analisar a viabilidade técnica e econômica da verticalização na produção de válvula reguladora de pressão para panelas de pressão de uso doméstico. A pesquisa teve como base a NBR 11823 que regulamenta o setoor de panelas de pressão, literaturas de produção, custos e análises financeiras para a decisão final quanto à verticalização da produção ou continuar adquirindo este componente de empresas terceiras. Optou-se pela utilização do alumínio no corpo da válvula devido ao grande conhecimento técnico na fundição e laminação deste minério pela empresa onde foi desenvolvido o estudo, diferenciando-se dos demais fabricantes que utilizam a liga zamac, produto com grande alternância de valores devido a sua a baixa oferta no mercado. A ênfase foi dada no retorno financeiro da atividade de forma que venha minimizar o custo de produção. Este componente representa 5,5% do custo do produto. Para a análise da viabilidade econômica foram utilizados os indicadores de rentabilidade (VPL, VPLA, IBC e ROIA) e dois indicadores de risco (TIR e pay-back). Os resultados apresentaram viabilidade e baixo risco, demonstrando ser atraente produzir internamente as válvulas reguladoras de pressão da empresa estudada. Palavras-chaves: viabilidade econômica, verticalização da produção, utensílios de alumínio, panelas de pressão 1. Introdução A panela de pressão foi desenvolvida pelo físico francês Denis Papin em 1861 construída em ferro. Na sequência, há 100 anos os americanos desenvolveram a panela de pressão em alumínio. A panela de pressão inventada por Denis faz com que a temperatura da água em seu interior ultrapasse os 100 °C, atingindo temperaturas próximas a 120 °C. Logo consegue-se uma redução no tempo de cozimento dos alimentos e uma economia de aproximadamente 20% da fonte de energia (ESTEVÃO, 2008). Estima-se, segundo dados do sindicato da indústria de metais não ferrosos do estado de São Paulo (SIAMFESP), que há um consumo médio mensal de 1,2 milhões de unidades de panelas de pressão de uso doméstico no mercado brasileiro. O IBGE estima que existam 47,7 milhões de residências no Brasil. Por outro lado, segundo o SIAMFESP 96% dos lares brasileiros possuem panelas de pressão, o que justifica o volume consumido mensalmente desse produto (IBGE, 1997). As empresas modernas e preocupadas com as mudanças globais da economia necessitam desenvolver novos produtos e melhoria contínua da produtividade para minimizar custos e maximizar recursos para que estejam sempre entre os parâmetros de competitividade que o mercado global exige. No mercado de panelas de pressão uma das estratégias possíveis que se apresenta é a verticalização, devido ao grande volume consumido e ao baixo custo final do produto. Em função da concorrência acirrada entre os fabricantes de utensílios domésticos em alumínio faz-se necessário a verticalização para tornar-se ainda mais competitivo no mercado. O objetivo deste trabalho é verificar a viabilidade técnica e econômica da produção da válvula reguladora de pressão para panela de pressão em contraponto a comprar este componente. Assim, busca-se apurar a viabilidade técnica e econômica da produção interna deste componente, segundo uma visão de verticalização da produção, tendo em vista que este item representa 5,5% do custo do produto na empresa estudada. Este custo representa o terceiro mais representativo da estrutura de custo do produto, dos quais os dois primeiros, o bojo e a tampa, já são produzidos pela empresa. 2. Revisão de Literatura A revisão de literatura permeará por três assuntos. Primeiro, como se trata de desenvolver um produto será abordado o processo de desenvolvimento de produto (PDP). Na sequência a questão da verticalização e por fim índices para análise de viabilidade econômica, necessários para alcançar o objetivo final deste artigo. 2. 1 O Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP) Segundo Corrêa e Gianesi (1993), a perda do poder de competitividades empresas brasileiras deve-se em grande parte a obsolescência das praticas gerenciais e tecnológicas aplicadas aos seus sistemas produtivos, tendo sua origem atribuída a cinco pontos básicos, a saber: Deficiência nas medidas de desempenho; Negligencia com considerações tecnológicas; Especialização excessiva das funções de produção sem a devida integração; Perda de foco dos negócios; 2 Resistência e demora em assumir novas posturas produtivas. Para efetuar um planejamento estratégico de desenvolvimento de produto, a empresa deve entender o limite de suas forças e habilidades no relacionamento com o meio ambiente, de maneira a criar vantagens competitivas em relação à concorrência, aproveitando-se de todas as situações que se apresentam cenários favoráveis. Desta forma, planejar estrategicamente consiste em gerar condições para que as empresas possam decidir rapidamente perante oportunidades e ameaças, otimizando suas vantagens competitivas em relação ao ambiente de concorrência onde atuam, garantindo sua perpetuação no tempo (TUBINO, 1997). De acordo com Csillag (1985), alguns pontos importantes sobre a fase de obtenção de informação e levantamento de dados são: informações técnicas, desenhos, custos industriais e análise de mercado. As informações precisam estar atualizadas para o bom planejamento e execução do projeto. Rozenfeld e Amaral (2006) consideram que: “um dos fatores bem conhecidos sobre o processo de desenvolvimento de produto é que o grau de incerteza no início deste processo é bem elevado, diminuindo com o tempo, mas é justamente no início que se seleciona a maior quantidade de soluções construtivas”. Back (1983) registra que, os processos de decisão não asseguram o sucesso de um projeto. No entanto, considerando que a maioria das decisões tomadas tendo como base informações limitadas ou incertas reforçam o fracasso do projeto. Seguindo uma morfologia de projeto bem definida minimizam-se os riscos. Paiva (2009) inserem os conceitos de Arquitetura de Produtos. Existem dois tipos básicos de arquitetura de produto: integral e modular. Em uma arquitetura modular, os elementos funcionais associam-se diretamente aos elementos físicos, ao passo que em uma arquitetura Integral, a associação dos elementos funcionais é muito mais complexa e indireta entre os componentes físicos. Além disso, a arquitetura Modular pode ser classificada em slot, bus e seccional. As classificações slot, bus e seccional, referem-se à maneira física como os módulos de um mesmo produto são interfaceados física ou eletronicamente entre si. Não há arquitetura ideal de produto. Todavia, a mesma deve estar em sintonia com os objetivos estratégicos da empresa. Para Martins e Laugeni (2001) todo produto deve ter três características principais: Funcional: o produto deve ser de fácil utilização, considerar os aspectos ergonômicos envolvidos, ter estética, comandos auto-explicativos, ser compatível com as preocupações ambientais; Manufaturável: o produto deve apoiar-se em tecnologias conhecidas e ter desenvolvimento através de equipes de áreas multidisciplinares no produto, no sentido de simplificar a sua fabricação; Vendável: deve agradar ao cliente e ser adequado às premissas de comercialização. Se esta última condição não for atendida de nada adiantaram os esforços das anteriores. 2.2 Verticalização da Produção A estratégia que prevê que a empresa produzirá internamente, ou pelo menos tentará produzir foi predominante no início do século, quando as grandes empresas praticamente produziam tudo o que usavam nos produtos finais. É definida como uma estratégia em que a empresa “faz tudo”. Esta verticalização era decorrente da preocupação em manter o controle sobre as 3 tecnologias de processo, de produtos e negócios (segredos industriais). Porém, o elevado número de atividades realizado internamente acarretou problemas gerenciais devido ao aumento do porte das empresas e atividades não ligadas diretamente ao negócio principal, com conseqüências para a perda da eficiência e o aumento do custo de produção. A horizontalização passou a ser uma opção para a manutenção da competitividade das empresas (MORO, 2007). Os conglomerados industriais WEG e Faber Castell, por exemplo, mantém em suas políticas a verticalização total de suas atividades para poderem permanecer competitivas no mercado mundial. Líderes absolutas no ramo de suas atividades, utilizam-se da estratégia de verticalização como âncora para permanecerem com preços competitivos no mercado que atuam (SILVA, 2002) De acordo com PORTER (1986), a integração vertical é a combinação de vários processos de produção, distribuição, vendas ou outros processos tecnologicamente distintos dentro de uma mesma empresa. Outra definição aponta para o fato de uma empresa agregar diversas fases de sua cadeia produtiva, aumentando assim o número de produtos ou processos intermediários para uso próprio. Segundo Vasconcellos (2002), a partir do momento em que uma empresa começa a desempenhar fases ou atividades de seu processo que anteriormente eram feitas por seus fornecedores, diz-se que essa empresa está se integrando para trás. Por outro lado, quando a empresa se desloca em direção de seus clientes, tem-se então a integração para frente. Para Porter (1986), a maioria das decisões entre “comprar ou fazer” ainda está calcada em questões exclusivamente financeiras e não deveria, pois a decisão de se integrar verticalmente é muito mais ampla e deve ir além das simples análises de custos e investimentos necessários. A magnitude e a relevância dos benefícios e custos da integração vertical devem considerar questões estratégicas, que envolvem a questão econômica tanto em termos diretos quanto indiretos através da sua importância na organização. Segundo Garfinkel (2002), as empresas devem levar em conta a tecnologia na hora da tomada de decisão de verticalizar, não podendo perdê-la de vista ao longo do percurso dessa decisão. Tomando a decisão de se integrar, ela deverá criar mecanismos internos, isto é, departamentos capazes de serem auto-suficientes, disponibilizando recursos para a criação e gerência do seu conhecimento tecnológico para toda a empresa. 2.3 Principais Indicadores de Análise de Viabilidade Para a análise da viabilidade econômica e financeira de um projeto pode se utilizar a metodologia multi-índice proposta por Souza e Clemente (2008), que procura se embasar o processo decisório quanto à aceitação ou rejeição de um projeto através da utilização de vários indicadores, onde os principais são: de retorno (VP, VPL, VPLA, IBC e ROIA) e de risco (TIR, TMA/TIR, pay-back e pay-back/N). De acordo com esses autores destacam-se: TMA: taxa mínima de atratividade, a melhor taxa com baixo risco, disponível para aplicação do capital em analise. A decisão de investir sempre terá pelo menos duas alternativas para serem avaliadas: investir no projeto ou naTMA; VPL: valor presente líquido que é a concentração de todos os valores de um fluxo de caixa, descontados para a data “zero” (presente) usando-se como taxa de desconto a TMA. Representa em valores monetários de hoje, a diferença entre recebimentos e os pagamentos de todo o projeto; 4 VPLA: valor presente líquido anualizado e tem o mesmo significado do VPL, porém interpretado por ano. Em suma, é o excesso de caixa por período. É um indicador muito utilizado para analisar projetos com horizontes de planejamento longos; IBC: índice beneficio/custo que representa para todo o horizonte de planejamento (N), o ganho por unidade capital investido no projeto após expurgado o efeito da TMA; ROIA: retorno sobre investimento adicionado que representa a melhor estimativa de rentabilidade, já expurgado o efeito da TMA, do projeto em análise. É análogo ao percentual do EVA (valor econômico agregado – economic value added); TIR: taxa interna de retorno que é a taxa que anula o valor presente liquido de um fluxo de caixa. Representa um limite para a variabilidade da TMA; Pay-back ajustado ou corrigido que é o período de recuperação do investimento. Representa o tempo necessário para que os benefícios do projeto recuperem o valor investido. Pode ser interpretado com uma medida de risco do projeto, e será descapitalizado utilizando-se a TMA. 3. Metodologia O presente trabalho de pesquisa baseia-se em um estudo de caso buscando investigar e explorar o referido tema através de coleta de dados e informações que satisfaça os interesses e objetivos do estudo. A metodologia proposta tem como base a coleta de informações através de livros, artigos, pesquisa de campo e sites da internet relacionados ao tema. No desenvolvimento de novos produtos, os departamentos de P&D, engenharia e produção necessitam ter o foco na utilidade de tal produto. Entretanto, na situação estudada, onde se trata de uma reengenharia na produção de uma válvula reguladora para panelas de pressão, o objetivo é simples: produzir este componente similar aos disponíveis no mercado com custos inferiores aos praticados atualmente no mercado. A justificativa para tal procedimento encontra respaldo no fato do consumo de aproximadamente 300.000 unidades mensais, adquiridas atualmente no mercado. Este trabalho foi desenvolvido seguindo com reengenharia da produção, pesquisa de materiais alternativos, domínio da tecnologia de produção, desenvolvimento de máquinas e verificação da viabilidade econômica, metodologia multi-índice proposta por Souza e Clemente (2008). As etapas técnicas do PDP da empresa estão sintetizadas na Figura 1. Para isso, utilizaram-se de informações coletadas em livros, internet, artigos publicados, tabelas e dados coletados na empresa que trouxeram informações necessárias para a configuração da estrutura apresentada. Figura 1 – Resumo esquemático das fases do desenvolvimento de produto na empresa 5 4. Resultados e Discussão 4.1 A Empresa O estudo de caso foi desenvolvido numa empresa do sudoeste do Paraná. Iniciou suas atividades 1998. A filial, onde foi desenvolvido o estudo, iniciou suas atividades com panelas de pressão no ano de 2001, e atualmente conta com um quadro de 200 funcionários e uma produção mensal de 300.000 unidades. 4.2 Resultados Os dados foram obtidos através de pesquisa teórica, junto a fornecedores de matérias-primas, com setores da administração da empresa e uma pesquisa de mercado envolvendo os aspectos de produção e recursos utilizados para fabricar a válvula reguladora de pressão. A decisão de produzir uma válvula reguladora de pressão depende de alguns fatores como, a possibilidade de utilizar materiais alternativos, percentual de representação na estrutura do produto, e aspecto de custos. O levantamento de informações antes da tomada de decisão é de extrema importância. Existem duas empresas que produzem a válvula reguladora de pressão no Brasil e utilizam como matéria-prima o zamac. As mesmas produzem este item artesanalmente. Devido ao grande volume consumido deste item pela empresa estudada, despertou-se o interesse em produzir este item internamente em alumínio, pois a mesma detém o know-how na fundição deste minério. A seguir serão apresentados os principais resultados encontrados na empresa em estudo. Os resultados aqui descritos foram pesquisados em empresas do ramo, na própria organização com levantamento das informações como o custo dos materiais, valores gastos nas pesquisas, valores com o pessoal de desenvolvimento das máquinas e equipamentos, custo dos materiais de consumo, custo com pessoal para operações, pesquisa da vida útil das máquinas e equipamentos, etc. A válvula foi internamente desenvolvida com base no item 4.3 da NBR 11823 (2008). 4.2.1 Investimentos do projeto Atualmente a organização em questão tem uma produção média mensal de 300 mil unidades e o estudo foi desenvolvido para esta produção podendo chegar até o máximo de 400.000 unidades. Acima desta quantidade o projeto deverá ser novamente revisto tendo em vista que deverá ser feito novos investimentos e a viabilidade do projeto poderá sofrer alterações. A Tabela 1 apresenta os valores referentes ao investimento inicial para inicio do projeto de verticalização da produção. Item 1 2 3 4 5 6 7 8 Descrição Pesquisa e Projetos Execução do Projeto Injetora de Alumínio Ferramenta p/ Injeção com 16 Cavidades Prensa Excêntrica 25 Ton. Ferramenta p/ Estampagem da Arruela Máquina p/ Fazer Rosca na Arruela Máquina p/ Montagem dos Componentes total Fonte: Empresa estudada Valor R$ 25.000,00 R$ 35.000,00 R$ 450.000,00 R$ 110.000,00 R$ 25.000,00 R$ 18.000,00 R$ 25.000,00 R$ 45.000,00 R$ 733.000,00 6 Tabela 1 – Investimento inicial em pesquisas, projetos, máquinas, ferramentas e execução 4.2.2 Custos de produção Nesta etapa serão apresentados os custos com matéria-prima e mão de obra para a montagem da válvula reguladora de pressão. Os valores descritos têm como fonte o praticado atualmente pela organização no seu processo e o qual será aplicado neste projeto para estudo da viabilidade da verticalização da produção desta válvula reguladora de pressão. Os principais custos encontram-se nas Tabelas 2 e 3. Item Descrição 1 Corpo da Válvula 2 Capa Plástica 3 Arruela Fonte: Empresa estudada Unidade kg un un Quantidade 0,029 1 0,003 Valor R$ 5,50 R$ 0,06 R$ 5,50 Custo unitário R$ 0,16 R$ 0,06 R$ 0,02 Tabela 2 – Custo de matéria-prima (MP) Item Descrição 1 Injeção do Corpo 2 Serviço arruela 3 Montagem Fonte: Empresa estudada Unidade h h h Quantidade 220 220 220 Valor R$ 9,00 R$ 4,23 R$ 4,23 Valor total R$ 1.980,00 R$ 931,00 R$ 931,00 Custo unitário R$ 0,007 R$ 0,003 R$ 0,003 Tabela 3 – Custo de mão de obra direta (MOD) Os valores encontrados na Tabela 4 foram baseados em histórico de processos praticados pela organização em questão e o custo de manutenção dos equipamentos foi fornecido pelos fabricantes dos equipamentos e analisado pelas equipes de manutenção industrial e de processo da organização. Item Descrição 1 Álcool 2 Macho 3/8 3 Energia Elétrica 4 Manutenção Fonte: Empresa estudada Unidade Lt Un Kw/h Quantidade 200 20 21.120 Valor R$ 1,35 R$ 38,00 R$ 0,12 Valor total R$ 270,00 R$ 760,00 R$ 2.534,00 R$ 1.000,00 Custo unitário R$ 0,001 R$ 0,003 R$ 0,008 R$ 0,003 Tabela 4 – Consumo e manutenção Somando os valores das Tabelas 2,3 e 4 tem-se que o valor unitário total de R$ 0,268 para produzir internamente a válvula reguladora. 4.2.3 Comparativo O comparativo de valores entre comprar a válvula reguladora de pressão de terceiros e (ou) produzir internamente verticalizando a produção inicia por uma confrontação simples entre os 02 valores. O valor praticado atualmente no mercado pelos fornecedores deste produto é de R$ 0,469, contra a estimativa de custo interna apresentada na seção anterior (R$0,268). A diferença entre os valores, R$ 0,201 é base do estudo para a viabilidade da verticalização da produção pela organização, delineado a seguir. 7 4.2.4 Viabilidade Econômica Nesta etapa serão apresentados os resultados dos indicadores econômicos: de retorno (VP, VPL, VPLA, IBC e ROIA) e de risco (TIR, TMA/TIR, pay-back e pay-back/N). Os cálculos foram realizados com auxílio da planilha eletrônica. A Figura 2 representa o fluxo de caixa do projeto para um período estimado 120 meses, que apresenta a diferença do valor unitário entre produzir, menos o valor praticado no mercado, multiplicado pelo consumo médio (300.000 unidades), o que representa R$60.300,00. Por outro lado, a Tabela 5 apresenta os indicadores econômicos. Figura 2 – Fluxo de caixa mensal de produzir internamente a válvula Indicador VP VPL VPLM IBC ROIA TIR Pay-back TMA/TIR Pay-back/N Fonte: Autores Valor R$ 4.674.993,33 R$ 3.941.992,33 R$ 51.224,49 6,38 1,56% 8,23% 13 0,10% 0,11% Decisão preliminar Projeto Viável Projeto Viável Projeto Viável Projeto Viável Projeto Viável Projeto Viável Projeto Viável Risco Baixo Risco Baixo Tabela 5 – Indicadores econômicos de viabilidade 4.2.5 Análise dos Indicadores 4.2.5.1 Valor Presente Líquido (VPL) A expectativa é de que a organização recupere os investimentos efetuados para a produção verticalizada da válvula reguladora de pressão. Recupere também o que teria auferido se esse capital tivesse sido aplicado no mercado financeiro a 0,80 % ao mês e, ainda lhe sobrarem os valores monetários de hoje à importância de R$ 3.941.992,33. É importante destacar que este projeto tem um horizonte de 10 anos. No final deste projeto a organização poderá vender as máquinas e equipamentos estimados em valor de mercado de hoje em R$ 90.000,00. Neste estágio, pode se afirmar que, entre realizar o investimento e (ou) continuar adquirindo de terceiros ou utilizar este valor para aplicar no mercado financeiro a uma taxa de 0,80 % ao mês (TMA), a decisão da verticalização da produção desta válvula reguladora de pressão se apresenta com um ganho bem expressivo. A informação do VPL, embora útil não é suficiente para suportar uma decisão de investimentos por apresentar um resultado global e não por período. 4.2.5.2 Valor Presente Líquido Mensal (VPLm) Com a informação do VPLm já se pode afirmar que, dependendo dos cenários futuros, o ganho mensal equivalente a horizontalização da produção da válvula reguladora de pressão é de R$ 51.224,49 além daquilo que seria auferido pela aplicação dos recursos no mercado 8 financeiro a uma taxa de 0,80% ao mês. Essa informação já permite melhor avaliação da magnitude do ganho. A deficiência comum entre o VPL e o VPLm para expressar o retorno de investimento consiste no fato de ambos expressarem em valores monetários absolutos e não em valores relativos, como é usual no mercado. 4.2.5.3 Índice Benefício/ Custo (IBC) O IBC visa, em parte, corrigir a deficiência do VPL e do VPLm que é a de expressarem o retorno em valores absolutos. O IBC é um indicador relativo e mede a expectativa de retorno para cada unidade de capital imobilizado no projeto. Para a produção verticalizada da válvula reguladora de pressão a expectativa é obter R$ 6,38 (em valores monetários) para cada R$ 1,00 imobilizado. É importante observar que este é um retorno além daquele que se teria se esse R$ 1,00 tivesse sido aplicado a TMA (0,80 % ao mês). Para os parâmetros de hoje, tratase de uma rentabilidade expressiva. De acordo com Souza e Clemente (2008), o IBC e o VPL têm o mesmo problema ao retratar o retorno global do projeto e não por período. Uma alternativa é encontrar o equivalente mensal do IBC, denominado ROIA. 4.2.5.4 Retorno Adicional Sobre o Investimento (ROIA) O ROIA é a melhor estimativa de rentabilidade para um projeto de investimento. Representa, em termos percentuais, a riqueza gerada pelo projeto. O projeto em análise apresenta um ROIA de 1,56% ao mês além da TMA (0,80%). Essa informação é a melhor estimativa de rentabilidade do projeto de investimento quanto à verticalização da produção da válvula reguladora de pressão. É importante considerar que o capital disponível para investimento já teria, por definição, uma aplicação de baixo risco com retorno de 0,80% ao mês. A decisão, agora, se resume em discutir se vale à pena investir no projeto (assumir o risco do investimento) para se ter um adicional de ganho da ordem de 1,56% ao mês. Aqui, fica bem evidente que a rentabilidade do investimento na verticalização da produção da válvula reguladora de pressão é expressiva. 4.2.5.5 Taxa Interna de Retorno (TIR) A TIR é a taxa que anula o VPL (e, por conseguinte o VPLm também) de um fluxo de caixa. Na verdade a TIR define um limite para a variação da TMA. Em quanto a TMA (estimada em 0,80 % ao mês) permanecer inferior a TIR (8,23% ao mês) as expectativas é de que haja mais ganho em se investir no projeto do que deixar o dinheiro aplicado na taxa à TMA. Assim, a proximidade (distância) entre a TIR e a TMA pode representar o risco (ou segurança) do projeto. Aqui, o risco está sendo interpretado como a possibilidade de se ter um ganho melhor do que se deixar o valor aplicado no mercado financeiro a 0,80% do que investir no projeto de verticalização da produção da válvula reguladora de pressão. É visível a segurança da decisão de empreender, dado que seria necessário que a TMA tivesse um aumento da ordem de 928% para que o mercado financeiro propiciasse o mesmo retorno da verticalização da produção. Diante do resultado obtido considera-se que é expressivo o ganho da verticalização. A Figura 3 ilustra essa situação, apresentando o comportamento do VPL em função da variação na TMA. Ressalta-se que o objetivo é analisar o espectro de validade da decisão tomada com base nos indicadores de retorno e de risco. Para o projeto em análise, a TIR encontra-se distante da TMA (8,23% - 0,8% = 7,43%) apontando para um projeto de baixo risco no que tange ao retorno financeiro do investimento. 9 Figura 3 – Espectro de validade da decisão 4.2.5.6 Período de recuperação do investimento (Pay-Back) Representa o tempo necessário para a recuperação do investimento. Também poderá ser interpretado como uma medida de risco. Quanto maior for o período de tempo para ter o retorno do capital investido, maior será o risco de o projeto fracassar. Diante do resultado encontrado no projeto, considera-se um risco muito baixo, o tempo é de apenas 13 meses em um projeto estimado de 120 meses. O risco representa apenas 0,11% de o projeto não ter êxito. É seguro afirmar que a verticalização da produção desta válvula reguladora de pressão é bastante atraente diante o que apresenta o Pay-Back. Em momentos de instabilidade financeira global as mudanças são repentinas e sem previsibilidade, e, ao investir em projetos com o menor tempo possível de retorno do capital, a possibilidade de se perder dinheiro no projeto diante das variações econômicas são minimizadas em relação a projetos com retorno do capital investido no final da vida útil do projeto. 4.2.5.7 Análise do Risco TMA/TIR e Pay-Back/N (tempo de vida útil do projeto) Analisando os indicadores de risco, dividindo a TMA pela TIR, constata-se que o risco é extremamente baixo, no presente estudo apresenta apenas 0,10%. Quanto menor for este indicador, menor o risco de o projeto fracassar. E diante desta análise é evidente o baixo risco de investir neste projeto. Analisando o pay-back em relação ao tempo de vida útil do projeto, constata-se que o risco também é muito baixo, o retorno se dará em apenas 0,11% do tempo de vida útil do projeto. Acompanhando as dificuldades financeiras da empresas no cenário atual, é possível afirmar com toda convicção que o tempo é bastante pequeno para se ter o retorno do capital investido no projeto. Na elaboração dos dados para a verificação da viabilidade econômica do projeto, não foi considerado a depreciação dos equipamentos. Neste estudo, a depreciação representa um valor anual de R$ 65.000,00. Este valor implica na redução da base do Imposto de Renda e desta forma representa mais um retorno para a organização ao verticalizar a produção da válvula reguladora de pressão. 5. Considerações Finais O setor produtivo de panelas de pressão é extremamente competitivo no mercado brasileiro. Neste contexto, a empresa para se sobressair deve manter foco especial nos custos de produção. O monitoramento constante dos custos de produção aliada à busca pela melhoria 10 contínua da produtividade concorre para que a organização se sobressaia perante aos seus concorrentes. A verticalização da produção da válvula reguladora de pressão é uma das alternativas para que a organização mantenha-se com o propósito de oferecer produtos que satisfaçam as necessidades de seus consumidores com menor preço de mercado. Os resultados encontrados satisfazem os objetivos proposto neste estudo, uma vez que foram descritos os processos de como, quando e o quanto disponibilizar para fabricar internamente a válvula reguladora de pressão. Os indicadores econômicos analisados no referido artigo demonstram a evidência clara e objetiva que é bastante atraente a verticalização da produção no caso apresentado. Entretanto, é preciso monitorar os custos de cada material (alumínio e zamac), para que, se a diferença entre estes sofrerem grandes variações, o projeto deverá ser revisto de acordo com as alterações de valores de cada minério. Como sugestão para estudos futuros, propõe-se que a organização acompanhe os valores dos minérios de alumínio e zamac e determine a relação de valores entre estes para que se os dados atualizados para tomada de decisão. Desta forma, pode-se determinar até que ponto a diferença de valores entre os minérios poderá oscilar, e desta maneira determina-se os valores aceitos para produção em alumínio e (ou) adquirir de empresas que produzam a válvula reguladora de pressão em zamac. 6. Agradecimentos Agradecemos à empresa estudada por ter cedido as informações para a elaboração do presente artigo, o qual foi apresentado aos diretores para tomada de decisão de produzir internamente a válvula reguladora. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11823:Utensílios domésticos – panela de pressão. Rio de Janeiro: ABNT, 2008. BACK, N. Metodologia de Projeto de Produtos Industriais. Guanabara Dois, 1983. CORRÊA, H. L. e GIANESI, G. N. 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