Especialização Proeja a Distância: formação de professores para atuarem com o PROEJA PROEJA Distance Specialization: the teacher’s training to proceed with PROEJA Maria José de Resende Ferreira Instituto Federal do Espírito Santo Campus Vitória e-mail: [email protected] Edna Graça Scopel Instituto Federal do Espírito Santo Campus Vitória e-mail: [email protected] Rony Claudio de Oliveira Freitas - Ifes Instituto Federal do Espírito Santo Campus Vitória e-mail: [email protected] RESUMO O estudo descrito neste artigo compõe as pesquisas sobre o Programa de Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos PROEJA no Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes. Tratamos aqui, especificamente da avaliação da oferta e do processo de formação das turmas do curso de Pós-graduação Lato Sensu em PROEJA na modalidade a distância. Nossa intenção é fazer uma análise do andamento desse curso objetivando estabelecer diálogos que possam compreender o processo formativo dos alunos por meio da disciplina Organização do Trabalho Pedagógico e da produção do Relato de Experiência. Com este trabalho consideramos que a discussões levantadas, possam contribuir para a reflexão das propostas curriculares dos cursos de Especialização a distância da instituição. Palavras-chave: PROEJA; Formação de Professores; Educação a Distância. ABSTRACT This article comprises researches on the Programa de Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA at Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes. Here, we deal specifically with the supply assessment and the formation process of the classes in Postgraduate Lato Sensu in PROEJA distance. Our intention is to analyze this class’s progress searching to establish a dialogue aiming the comprehension of the student’s development process through the disciplines Organização do Trabalho Pedagógico and the production of the Relato de Experiência. The theoretical basis for research supports two axis – teacher training and Educaçao a Distância (EaD).For the construction of the data, the information used was from Ife’s Academic System and also the Moodle environment. With this work, we consider the arguments raised, may contribute to a reflection of the proposed curriculum of the distance Specialization of the institute. Key words: PROEJA; Training of Teachers; Distance Education. 2 PARA INÍCIO DE CONVERSA ... Este estudo está inserido nas ações do grupo de pesquisa do Programa de Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA, financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica - SETEC do Ministério da Educação – MEC que desenvolve pesquisa no âmbito desse Programa. Os estudos descritos neste artigo estão inseridos em um contexto específico das ações desse grupo e trata de pesquisas sobre o andamento do PROEJA no Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes. Apresentamos aqui, especificamente da avaliação da oferta e do processo de formação das turmas do curso de Pós-graduação Lato Sensu em PROEJA1 na modalidade a distância. Nossa intenção é fazer uma análise do andamento desse curso objetivando estabelecer diálogos que possam compreender o processo formativo dos alunos por meio da disciplina Organização do Trabalho Pedagógico e da produção do Relato de Experiência. Nos últimos anos, de acordo com dados do Censo Escolar (INEP, 2011) verificou-se um aumento da oferta e da expansão da Educação a Distância no Ensino Superior, principalmente no que tange a formação de professores. Nesse último aspecto, em particular, tem-se apontado a Educação a Distância – EaD, como uma alternativa para enfrentar desafios na formação desses profissionais, no momento em que uma das linhas de ação do governo federal é ampliar os programas de formação inicial e continuada de docentes, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação brasileira. Gatti e Barreto (2009) ressaltam que vários fatores interagem na composição dos desafios à formação de professores, cuja análise revela a complexidade da questão. Elas destacam que: De um lado, temos a expansão da oferta de educação básica e os esforços de inclusão social, com a cobertura de segmentos sociais até recentemente pouco representados no atendimento escolar oferecido nas diversas regiões do país, provocando a demanda por um maior contingente de professores, em todos os níveis do processo de escolarização. De outro, as urgências colocadas pelas transformações sociais que atingem os diversos âmbitos da atividade humana e penetram os muros da escola, pressionando por concepções e práticas educativas que possam contribuir significativamente para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e moderna. No quadro de fundo, um país com grandes heterogeneidades regionais e locais, e, hoje, com uma legislação que estabelece a formação em nível superior 1 O Ministério da Educação em 2006, fomentou a oferta de cursos de Especialização em nível de pós-graduação lato sensu, com a finalidade de construir um quadro de referência e sistematizar concepções e práticas político-pedagógicas e metodológicas que orientem a implantação, implementação e monitoramento do PROEJA,. Em 2006, foram organizadas 15 unidades-pólo, inicialmente com ofertas de cursos presenciais, com uma média de 100 alunos por pólo. No ano seguinte foram organizadas mais 7 unidades-pólo, com um expressivo aumento no número de turmas no interior de alguns estados. Em uma terceira fase de ampliação, pretendeu-se a implantação de unidades-pólo da Especialização Proeja em todas as mesoregiões cobertas pelos recém-criados Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (Ifes, 2009). 3 como condição de exercício do magistério, num cenário em que a qualidade do ensino superior também está posta em questão (GATTI; BARRETO, 2009, p. 12). Nessa reflexão sobre a formação de professores apontamos o papel recente do Ifes. A Lei nº 11.892, de 29 de Dezembro de 2008 no Art. 7º institui que os Institutos Federais têm por objetivo ministrar, entre outros, “cursos de pós - graduação Latu Sensu visando à formação de especialista nas diferenças áreas de conhecimento” (BRASIL, 2008). Nesse sentido, a EaD, no contexto do Ifes é uma estratégia do processo educativo. Estratégia essa que contribui para o alcance das políticas nacionais para a Educação Profissional e Tecnológica, tais como: a expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica, a ampliação da oferta de cursos técnicos e a formação de professores numa crescente rede2. A ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇAO PROFISSIONAL TÉCNICA INTEGRADA À EDUCAÇÃO BÁSICA NA MODALIDADE DE JOVENS E ADULTOS Tendo em vista as inúmeras novidades e desafios políticos, didático-pedagógicos e metodológicos constantes no PROEJA – entendido como política pública voltada para a formação de jovens e adultos advindos de processos históricos que os cercearam do direito à conclusão da educação básica e de uma formação profissional de qualidade – é imprescindível a consolidação de uma política de formação continuada de profissionais – docentes, técnicos administrativos e gestores educacionais – como uma das maneiras fundamentais para se mergulhar no universo das questões que compõem a realidade desse público, de investigar seus modos de aprender de forma geral, tendo em vista compreender e favorecer lógicas e processos de sua aprendizagem no ambiente escolar (Ifes, 2009). Tal exigência fundamentou-se na escassez, na formação superior, em especial naquela voltada para o magistério, da abordagem de temas que contemplem as questões que permeiam 2 A partir do Decreto n.º 5.800/06, que instituiu o Sistema Universidade Aberta do Brasil – UAB, no qual se encontram as disposições sobre cursos, autorização, questões orçamentárias e prioridades de oferecimento, do Decreto nº 6.303/07 nas disposições acerca do credenciamento das instituições, pedidos de autorização e das atividades presenciais obrigatórias dos cursos à distância, bem como das demais legislações pertinentes, foram estruturadas as metas no conjunto da realidade institucional estabelecendo-se a necessidade de: 1) promover a expansão e interiorização da oferta de cursos e programas de educação profissional de nível técnico, graduação e pós-graduação na modalidade EAD; 2) reduzir as desigualdades de oferta da Educação Profissional e Tecnológica nas diversas regiões do Estado (com pesquisas de demanda constantemente atualizadas) e ampliar o acesso à educação pública de qualidade; 3) fomentar pesquisas relacionadas às tecnologias de informação e comunicação que possam contribuir para a formação de professores da educação básica e assim garantir melhorias na qualidade da educação; 4) produzir e socializar conhecimentos, contribuindo com a formação de cidadãos e profissionais altamente qualificados tanto no ensino da modalidade EAD quanto, processualmente, na modalidade presencial (PDI/Ifes, 2009). 4 o PROEJA tais como a relação trabalho-educação; a gestão democrática; os currículos integrados na direção da formação unitária; as especificidades da educação do campo; direitos humanos, diversidade e inclusão (Ifes, 2009). É em consonância com as questões acima e com experiências acumuladas que o Ifes implementa o Curso de Pós-graduação Lato Sensu em PROEJA na modalidade EaD3, com o objetivo de suprir carências no contexto da formação profissional de educadores e gestores, ao mesmo tempo em que busca colaborar na consolidação desse Programa. Foram oferecidas, nessa primeira oferta a distância, 120 vagas, 30 para cada um dos polos atendidos: Alegre, Linhares, Santa Teresa e Venda Nova do Imigrante. A oferta deste curso de especialização tem sido fundamental para o sucesso do PROEJA com as qualidades que se requerem para a educação no Brasil. Temos tratado de instigar professores a buscarem novas formas de atuação em uma área até então desprovida de formação sistemática de profissionais (Ifes, 2009). A equipe de professores atuante no curso é formada por 34% de doutores e 66% de mestres, sendo todos envolvidos de forma direta ou indireta com do PROEJA. Além dos professores o curso ainda conta com uma equipe de coordenação, 4 tutores presenciais e 12 tutores a distância. O curso é destinado para profissionais detentores de diploma de licenciatura ou de outro curso superior que atuem ou pretendem atuar em escolas de Redes Públicas de Ensino e atuem ou pretendam atuar na Educação Profissional e/ou na Modalidade Educação de Jovens e Adultos, bem como nas suas formas articuladas e integradas, tais como o PROEJA (Ifes, 2009). Perfil dos alunos - De acordo com a tabela abaixo, verificamos que 38,6% dos alunos do curso estão situados na faixa etária de 26 a 35 anos; 36,4% acima 36 anos e 6,8% de 18 a 25 anos. Percebemos que os alunos matriculados no curso são jovens e estão buscando uma formação específica para atuar no PROEJA, o que se justifica pelo fato do Programa ser algo recente no país ou simplesmente pela busca de melhoria na formação por professores que já atuam em redes públicas de ensino, muitos deles na EJA. 3 A carga horária total do curso é de 360 horas em atividades teóricas e práticas, individuais ou em grupos, realizadas através do ambiente moodle. São acrescidas outras 120 horas de estudos, destinadas à elaboração e apresentação de um Artigo Científico de Conclusão de Curso. Assim, o Curso soma ao todo 480 horas. 5 Tabela 1 - Faixa etária dos alunos matriculados na Especialização PROEJA Polo Total de alunos matriculados Alegre 33 Linhares 27 Santa Teresa 36 Venda Nova do Imigrante 36 Total 132 Fonte: Sistema Acadêmico Ifes/2010. 18 a 25 anos 9 3 8 13 33 26 a 35 anos 12 12 17 10 51 Acima de 36 anos 12 12 11 13 48 Na Tabela 2 pode ser observado um dado do curso que repete uma tendência observada nos resultados dos últimos censos escolares, o fato de haver mais mulheres que homens matriculados no ensino superior. No curso 77% dos alunos matriculados são mulheres. Tabela 2 - Sexo dos alunos matriculados na Especialização PROEJA Polo Alegre Linhares Santa Teresa Venda Nova do Imigrante Total Fonte: Sistema Acadêmico Ifes/2010 Feminino 25 18 29 31 102 Masculino 8 9 7 6 30 Na tabela 3, percebemos que apenas 23% dos alunos matriculados no curso moram nos municípios onde o polo está localizado, mostrando a necessidade de ampliação da oferta para outros municípios do estado. Evidenciamos que 77% dos alunos matriculados moram fora do município onde o polo que frequentam está localizado. Tabela 3 - Residência dos alunos matriculados na Especialização PROEJA Polo No município do polo Alegre 11 Linhares 11 Santa Teresa 03 Venda Nova do Imigrante 05 Total 30 Fonte: Sistema Acadêmico Ifes/2010. Fora do município do polo 22 16 33 31 102 De acordo com a tabela 4, há uma evasão de 19% dos alunos e conforme levantamento realizado pela coordenação do curso as principais causas da evasão são: conciliar trabalho, família e estudo; fazem outros cursos de especializações e/ou Mestrado (fase final) e problemas pessoais. Todos os alunos que justificaram, dizem querer fazer o curso em outro período. 6 Tabela 4 – Número de evadidos na Especialização PROEJA Polo Total de alunos matriculados Alegre 33 Linhares 27 Santa Teresa 36 Venda Nova do Imigrante 36 Total 132 Fonte: Sistema Acadêmico Ifes/2010. Total de alunos evadidos até dez/2010 8 6 6 5 25 Os alunos pontuam que os pontos positivos na metodologia do curso, são: a interação com os Tutores; a metodologia utilizada na avaliação presencial, na maioria das vezes um Seminário; e que alunos, tutores e coordenação conhecem toda a metodologia de avaliação da disciplina, quando da abertura da sala. Fraquezas identificadas: Trabalhos em grupo feitos à distância – alunos e professores estão se adaptando, entre outras coisas, no estabelecimento de diálogos a distância; disciplina dos alunos para realizar as tarefas dentro dos prazos estabelecidos; e clareza na comunicação. Os desafios para as ações a serem implementadas em 2011 são: lançamento da Revista Sala de Aula em Foco contendo relatos de experiências produzidos pelos alunos; orientações de Trabalho de Conclusão de Cursos e Seminário de Encerramento do Curso em novembro. Ao final de cada disciplina os estudantes fazem uma avaliação dos momentos e dos profissionais envolvidos. São nove questões de múltipla escolha, com pontuação de 1 a 5 cada uma, e uma avaliação qualitativa onde os alunos podem colocar sugestões e descrever as dificuldades que estão enfrentando. A tabela 5 abaixo apresenta um resumo das avaliações quantitativas das nove disciplinas4, de um total de treze, oferecidas e concluídas até a presente data. Tabela 5 – Avaliação de disciplinas feitas pelos alunos F U N D A M E N T O S T E N D Ê N C IA S F U N D A M E N T O S F IL O S Ó F IC O S E E D U C A C IO N A IS F IL O S Ó F IC O S E S O C IO L Ó G IC O S E D E P E S Q U IS A S O C IO L Ó G IC O S D A E D U C A Ç Ã O E M E P E N A D A E J A P R O F IS S IO N A L EJA M E T O D O L O G IA D A P E S Q U IS A E D U C A C IO N A L G E S T Ã O D A E S C OLA E C O N O M IA S O L ID Á R IA E C O O P E R A T I-‐ V IS M O 3,96 4,03 4,19 4,02 4,2 3,79 3,9 3,82 3,86 3,93 3,84 3,61 3,89 4,11 4,01 4,01 4,35 3,95 3,85 4,16 4,16 3,99 3,89 4,01 3,64 3,76 4,34 4 4,13 3,78 3,86 3,83 4,04 3,97 3,73 4,36 3,85 3,93 3,87 4,07 4,19 4,1 4,14 4,02 3,81 4,28 4,28 3,65 3,91 4,1 4,1 4,29 3,96 4,32 4,58 4,17 4,33 4,37 4,17 4,17 ITEM TEXTO DA QUESTÃO M E T O D O L O G IA D E A P R E N D IZ A -‐ G E M E M E A D 1 A forma de trabalho com os conteúdos facilitou a aprendizagem? 3,86 4,08 4,22 2 O tempo da disciplina foi bem distribuído? 3,95 3,84 3,88 3 As formas de avaliação foram claras e coerentes com trabalho desenvolvido na disciplina? 3,56 4,13 4 Os assuntos foram abordados no nível de aprofundamento satisfatório? 4,03 4,15 5 O tutor a distância orientou os trabalhos de forma satisfatória demonstrando interesse pela aprendizagem da turma? 3,82 6 A interação entre os alunos foi satisfatória? 3,67 7 A organização da sala de aula virtual contribuiu para o desenvolvimento das atividades e consequente aprendizagem? 8 Oa professora da disciplina mostrou interesse em atender às necessidades da turma, dentro da área que lhe compete? 9 A equipe de coordenação tem mostrado interesse em atender às necessidades da turma, dentro da área que lhe compete? O R G A N IZ A Ç Ã O D O T R A B A L H O P E D A G Ó G IC O D O P R O E J A Fonte: Ambiente Moodle (2011). 4 As disciplinas Organização do Trabalho Pedagógico do Proeja e Produção de Relatos de Experiências foram oferecidas concomitantemente. Por isso só tivemos uma avaliação para as duas. 7 A EXPERIÊNCIA COM A DISCIPLINA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NO PROEJA A importância da reflexão sobre o trabalho pedagógico na EJA no contexto do PROEJA5 é diretamente proporcional à afirmação de alguns princípios fundamentais que devem, a nosso ver, orientar a prática docente - sendo eles o ideal da emancipação humana, tão caro à educação, à EJA e ao PROEJA em particular -, o entendimento do fazer pedagógico como práxis, a compreensão de que o professor é um construtor de saberes. A experiência de organizar um curso na modalidade EaD exige de todo profissional uma mudança de princípios e concepções do que tange às práticas pedagógicas ao longo do processo de planejamento e execução do trabalho docente. Nesse sentido, ter uma visão geral do curso a ser ministrado, organizar o material didático impresso e produzir a sala no ambiente Moodle é um desafio para todo educador que no ensino presencial. Compreendemos que a educação escolar tem um papel fundamental no processo de mudança social, contribuindo na formação de sujeitos autônomos e conscientes de si. No entanto, sabemos que esse trabalho não corresponde a uma essência do processo educativo, mas sim é fruto da ação intencional dos sujeitos envolvidos nos atos de ensinar e de aprender. Dessa maneira, o ensino e a aprendizagem compreendem atitudes imbricadas de conteúdo político e que são capazes de interferir nos rumos da sociedade. Nessa perspectiva, ao afirmarmos a emancipação humana como princípio, renunciamos a visão que atribui tarefas estanques ao professor e ao aluno, cabendo ao primeiro ensinar, exclusivamente, e, ao segundo, somente aprender. A educação entendida como emancipação humana concebe os sujeitos como seres inacabados, incompletos, desprovidos de uma essência definidora das suas ações. Ao professor, então, esse ideal vem acompanhado da reflexão sobre sua ação, sobre o seu papel enquanto sujeito social e sobre as relações que constrói nos meios onde vivencia. O fazer do professor, assim entendido, converte-se em práxis, pois envolve o constante questionamento da prática docente, a construção e desconstrução de sentidos para essa prática. Como sujeito que reflete sobre sua ação, o professor abre espaço para refletir também sobre os saberes que ensina e, ao fazê-lo, pode compreender os saberes que constrói. Nesse sentido, a disciplina Organização do Trabalho Pedagógico no PROEJA - OTPP, permeadas por essas concepções, propôs uma reflexão sobre os fundamentos da prática 5 As disciplinas Organização do Trabalho Pedagógico do Proeja e Produção de Relatos de Experiências foram oferecidas concomitantemente. Por isso só tivemos uma avaliação para as duas. 5 Essa discussão encontra-se no material didático organizado para esse curso por PAIVA e FERREIRA (2011). 8 pedagógica e da gestão da sala de aula da EJA no contexto do PROEJA. Com esse direcionamento, foi discutida a importância da clareza que os professores devem ter a respeito dos parâmetros que orientam toda a ação pedagógica nessa modalidade de educação; a reflexão sobre Ensino e Aprendizagem na perspectiva de que quem ensina, aprende e de quem aprende, ensina, traz um novo olhar ao trabalho pedagógico na EJA e no PROEJA e coloca o aluno jovem e adulto trabalhador como aquele que tem experiências a socializar e que essas experiências, além de contribuírem para que os alunos contextualizem os conceitos trabalhados, a partir do diálogo e de reflexões, transformam-se em saberes a serem construídos. Outro direcionamento dado foram as abordagens dos aspectos mais práticos da ação docente, com ênfase nos conteúdos da aprendizagem e em algumas técnicas didáticas capazes de viabilizar o trabalho docente; foram analisadas a importância dessas técnicas ao discutirmos o papel do professor no momento do contrato didático, no processo de transposição didática e na metodologia da Resolução de Problemas, no qual afirmamos o seu protagonismo como produtor de saberes escolares. Conceitos como contrato didático e transposição didática foram tratados no sentido de mostrar que a sala de aula é um espaço social de trocas e de acordos, na qual o aluno, professor e saber se relacionam tendo como objetivo a aprendizagem significativa. E finalmente, reforçamos a importância de se reconhecer a sala de aula como um espaço de pesquisa e, portanto, de formação, no qual o professor reflete sobre seu trabalho e compartilha seu fazer pedagógico via relato de experiências, uma das formas de refletir sobre e na prática, construindo novos saberes docentes. O relato de experiências pedagógicas representa um revelar de segredos profissionais, ao mesmo tempo em que significa uma fuga do isolamento que muitas vezes marca o trabalho docente. Ao compartilhar experiências por meio da narrativa, o professor se propõe a tornar coletiva sua ação, dividindo angústias, sucessos, esperanças, frustrações... Por meio da escrita, toda uma experiência pode ser sistematizada com a finalidade de construir pontes de diálogo. Mais que dialogar com seus alunos, o professor deve também dialogar com seus pares. Mas esse diálogo deve ir além do que é dito. É preciso escrever aquilo que é dito, de modo a dar outro status ao que é vivenciado, ao que é experienciado, fazendo da experiência um elemento para a formação continuada e vendo nela um tempo que não se esgota em si mesmo. Relatar uma experiência significa, portanto, narrar e refletir sobre uma situação escolar, argumentando a respeito das implicações para o ensino, para a aprendizagem, para a escola e 9 para a sociedade. O relato de uma experiência exprime uma necessidade e um desejo: a necessidade de compartilhar pontos de vista em torno de uma situação vivida; um desejo de compreendê-la para além das suas aparências. Nesse sentido, temos no relato de experiência um meio muito eficiente de desenvolvimento e amadurecimento da prática docente. Tal perspectiva faz do relato de experiência um instrumento de solidariedade profissional. Ao narrar fatos, refletir sobre situações, o profissional divide sentimentos com seus pares, busca respostas para os problemas vivenciados por meio da interlocução com o outro, que, no relato, manifesta-se no sujeito leitor e naquilo que é relatado. Dessa forma, a narrativa e reflexão de experiências constituem-se em um meio de formação poderoso, pois levam o professor a sistematizar o vivido, ordenando-o num fio argumentativo. Esses argumentos estabelecem sentidos para a experiência vivida no contexto escolar e ao serem compartilhados, constroem sentidos em torno da educação escolar. Essa estratégia pedagógica foi desenvolvida como avaliação final do curso e sua receptividade foi avaliada como positiva pelos estudantes, quando solicitados a postarem suas opiniões sobre o andamento do curso. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pensar a formação de professores no contexto da EaD é um desafio posto pelo Programa e se constitui em um momento rico de experiências pedagógicas que têm provocado mudanças significativas em nossas práticas como educadores, reafirmando a relevância desses novos espaços formativos no desenvolvimento de saberes docentes. As experiências adquiridas nesse processo indiciam para percursos em que as práticas metodológicas visam uma aprendizagem realmente significativa, onde os alunos-professores possam atuar como mediadores e articuladores da construção coletiva do conhecimento, adquirindo a sensibilidade de reconhecer o potencial presente no campo de saberes da EJA e da Educação Profissional no contexto da EaD. 10 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 11.892 de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11892.htm>. Acesso em: 15/jan/2011. BRASIL. Decreto nº 5.800, de 8 de junho de 2006. Dispõe sobre o Sistema Universidade Aberta do Brasil - UAB. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2006/Decreto/D5800.htm Acesso em: 15/jan/2011. GATTI, Bernadete Angelina; BARRETO; Elba Siqueira de Sá (coord). Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009. INSTITUTO Federal do Espírito Santo. Ifes. Projeto Pedagógico: do Curso de PósGraduação Lato Sensu em Educação Profissional Integrada à Educação Básica na Modalidade De Educação de Jovens e Adultos. Vitória/ES. 2009. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS E ESTUDOS EDUCACIONAIS (INEP). Brasil tem hoje 5,9 milhões universitários. Notícias do INEP. Disponivel em: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/superior/news11_01.htm. Acesso em 13/01/2011. PAIVA, Maria Auxiliadora Vilela; FERREIRA, Maria José de Resende. Organizando o Trabalho Pedagógico no PROEJA. IN. FREITAS, Rony Claudio de Oliveira (Org). Repensando Proeja: Concepções para formação de educadores. Espírito Santo: Editora Ifes, 2011 (no prelo). PDI/Ifes. Projeto Pedagógico Institucional – PDI. 2009. Disponível em: WWW. Ifes.edu.br. Intranet. Documentos Públicos. Acesso: 10/01/2011.