96 Fev / Mar de 2014 ISSN 1517-8021 Um ciclo de TRAGÉDIAS Novas mortes provocadas pelas chuvas, no fim do ano passado, desafiam poder público a estancar sucessão de calamidades causadas pelos temporais no Rio de Janeiro, às vésperas de grandes eventos internacionais. Soluções apontadas pelo CREA-RJ poderiam evitar tantos problemas. EDITORIAL Autovistoria predial: pegou, mas nem tanto A autovistoria predial já é uma realidade no município do Rio de Janeiro. Em vigor desde junho do ano passado, até o final de fevereiro apenas cerca de 3% dos 270 mil imóveis que precisam passar por vistoria entregaram seus laudos à Prefeitura. É muito pouco para uma cidade que acumula tragédias envolvendo incêndios, desabamentos de edifícios e outros problemas por falta de manutenção predial preventiva. E isso nos faz acender ainda mais o alerta quando, através dos próprios resultados dos laudos apresentados, vimos que 54% das edificações precisam de obras. Essa baixa adesão à Autovistoria se dá por diversos motivos. O primeiro – e que fez a Prefeitura adiar o prazo de entrega dos laudos até julho desse ano - é que ainda pairam muitas dúvidas na cabeça de síndicos, responsáveis por imóveis e até mesmo no corpo técnico. A lei precisa ser aperfeiçoada. Há questões que nem mesmo engenheiros e arquitetos estão entendendo ou preparados perfeitamente; imagine uma pessoa que não está habituada a lidar com esse tipo de inspeção. Além disso, pesa no bolso; é mais um gasto no orçamento. Muitos condomínios não têm reserva em caixa e têm que cobrar cotas extras para o pagamento da empresa ou profissionais contratados para a inspeção predial, gerando insatisfação entre proprietários de imóveis. O CREA-RJ realizou três seminários sobre o assunto – recebendo mais de 1500 mil pessoas em sua sede, além da transmissão ao vivo via web –, com palestras de especialistas sobre diversos aspectos da lei, como contratação de profissionais e o que deve ser vistoriado, além de outros detalhes, inclusive com esclarecimentos técnicos sobre como elaborar o laudo. Após a terceira edição do evento, realizada em 18/2, ainda vemos serem levantadas questões básicas. A Prefeitura “democratizou” sua obrigação de fiscalizar com os cidadãos do município. Mas para aceitarmos isso precisamos ter certeza de que essa tarefa trará resultados reais! Há profissionais que não estão seguros para assinar o laudo, atestando a segurança, por exemplo, da parte elétrica dos apartamentos e áreas comuns do prédio, se esta não for a sua especialidade ou se ele não tiver acesso a todos os apartamentos. É preciso sim, que a lei se modifique, que estipule que um corpo técnico ou que profissionais devidamente habilitados vistoriem, cada qual com suas capacidades e atribuições, as partes elétricas, de estrutura e partes mecânicas, entre outras. A lei aponta detalhes quanto aos itens da parte estrutural que devem ser vistoriados, como marquises, colunas e rachaduras, mas nada fala das fundações dos edifícios. Na parte elétrica não há quase nada especificado, apesar de estar entre as principais causas de incêndios. Profissionais sem conhecimento adequado podem olhar as caixas de disjuntores e dizerem que está tudo ok, quando pode não estar. Afinal, queremos ou não queremos a segurança da cidade por intermédio da manutenção preventiva? Continuaremos batendo na tecla de que é muito importante definir a especialização dos profissionais que farão as inspeções nos imóveis, uma vez que, diferentemente de outras profissões, na área tecnológica ou engenharia não existe a figura do “engenheiro geral”. Agostinho Guerreiro Presidente do CREA-RJ (www.crea-rj.org.br/blog-presidente) sumário REVISTA DO CREA-RJ Nº 96 Jan / Fev 2014 24 CHUVAS: UM DRAMA SEM FIM? Temporais continuam fazendo vítimas fatais. Soluções apontadas pelo CREA-RJ em 2011 poderiam ter salvado muitas vidas capa 07 INSTITUCIONAL 10 INSTITUCIONAL 12 13 INSTITUCIONAL INSTITUCIONAL PRÊMIO NIEMEYER AUTOATENDIMENTO GESPÚBLICA: OUTRA VITÓRIA PQRIO: MAIS SUCESSO Cerca de mil pessoas participaram da 3ª edição Prêmio Oscar Niemeyer, que distinguiu trabalhos de 140 estudantes Novas funcionalidades online garantem atendimento mais moderno, ágil e seguro Conselho recebe Prêmio GesPública Nível 3 (Alta) CREA-RJ ganha Troféu Prata no Prêmio Qualidade Rio em gestão Presidente Engenheiro Agrônomo Agostinho Guerreiro Diretoria 1º Vice-Presidente Engenheiro Civil Manoel Lapa e Silva 14 2º Vice-Presidente Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho Marlise de Matosinhos Vasconcellos 1ª Diretora-Administrativa Engenheira Civil Regina de Jesus Ramos Andrade AUTOVISTORIA 2º Diretor-Administrativo A NOVA LEI Engenheiro Mecânico CREA-RJ realiza seminários com mais de 1500 pessoas para debater como aplicar Lei da Autovistoria Oduvaldo Siqueira Arnaud 3º Diretor-Administrativo Engenheiro Florestal Glauber Marcio Sumar Pinheiro 1º Diretor-Financeiro Engenheiro Mecânico Jair José da Silva 2º Diretor-Financeiro Engenheiro Civil Jorge Nisenbaum 3ª Diretor-Financeiro Engenheiro Metalúrgico e de Segurança do Trabalho Rockfeller Maciel Peçanha 18 Comissão Editorial - CE Coordenador Engenheiro Eletricista-Industrial Eletrotécnica e de Operação-Eletricidade Alcebiades Fonseca PERIMETRAL Coordenador-Adjunto Geógrafo CIDADE Sergio da Costa Velho O trânsito no Rio de Janeiro vai piorar ou melhorar com a derrubada do elevado construído há mais de 50 anos? Membros Engenheiro Metalúrgico e de Segurança do Trabalho Rockfeller Maciel Peçanha Técnico em Mecânica Clenilson Silva de Paula Engenheiro Mecânico Jorge Saraiva da Rocha Suplentes Engenheira de Operação-Construção Civil, Segurança do Trabalho e Técnica em Edificações Teneuza Maria Cavalcanti Ferreira 22 Engenheiro Mecânico, de Segurança do Trabalho e Técnico em Mecânica Jaques Sherique Engenheiro Eletricista ENGENHÃO José Chacon de Assis QUAL A SAÍDA? Jorge Paulo da Rocha Técnico em Mecânica Relatório final do CREA-RJ aponta falhas no projeto da estrutura metálica do estádio Engenheira Eletricista-Eletrônica e Técnica em Eletrotécnica Ligia Pessoa de Azevedo Engenheiro Eletricista-Eletrônica e Civil Eloilton Soares Pereira de Souza Engenheiro Mecânico, de Operação-Mecânica e de Segurança do Trabalho Evaldo Valladão Pereira Assessoria de Marketing e Comunicação O 4G NA COPA BRASIL PRECISARIA DE QUATRO VEZES MAIS INFRAESTRUTURA PARA NOVA TECNOLOGIA ATINGIR META PREVISTA PARA O EVENTO 34 CORRIDA DOS ENGENHEIROS CREA-RJ E SEAERJ ORGANIZAM “SÃO SILVESTRE” DA ÁREA TECNOLÓGICA DO RIO DE JANEIRO 36 FISCALIZAÇÃO SCANNERS PORTÁTEIS CONTRIBUEM PARA SUSTENTABILIDADE, MODERNIZAÇÃO E AGILIDADE NA FISCALIZAÇÃO 41 Assessor Chefe Chico Junior Assessora Maria Dolores Bahia Editor Coryntho Baldez (MT. 25.489) Reportagem Viviane Maia Colaboradores Joceli Frias, Vera Monteiro, Uallace Lima, Gustavo Leoni e Renata Idalgo Estagiário: William de Assis Reportagem Ex Libris: Raphaela Gentil Projeto gráfico Paula Barrenne Diagramação Oca Editora Impressão Posigraf Tiragem 125 mil exemplares Publicidade: (21) 3232-4600 Rua Buenos Aires, 40 – Centro – RJ www.crea-rj.org.br O Progredir é um programa de capacitação e aperfeiçoamento de profissionais e estudantes integrantes do Sistema Confea/Crea. Participe das nossas palestras, seminários, conferências, cursos e workshops. Agora, também nos municípios do Interior e da Região Metropolitana. Descontos para profissionais em dia com o CREA-RJ, entidades de classe e estudantes. Saiba mais: http://app.crea-rj.org.br/creaEventos [email protected] | (21) 2179-2087 Institucional 7 Homenagem e reconhecimento em noite histórica CREA realiza cerimônia de entrega do III Prêmio Oscar Niemeyer que, em edição recorde, com presença de cerca de mil participantes, premiou mais de 140 estudantes R econhecimento profissional é o sonho dos novos profissionais que ingressam no mercado de trabalho. E 146 estudantes, de diversas instituições de ensino do estado do Rio de Janeiro, tiveram esse reconhecimento na terceira edição do Prêmio Oscar Niemeyer, em cerimônia realizada no último dia 29 de novembro, no hotel Rio Othon Palace, em Copacabana. “Um prêmio como esse nos valoriza e incentiva, dando a certeza de que estamos fazendo um bom trabalho e indo no caminho certo.”, afirma Michele Mothe, estudante da UFRJ premiada com sua tese de doutorado sobre escoamento de óleos pesados com ênfase em dispersões poliméricas em reologias. A premiação, promovida pelo CREA-RJ, homenageia o saudoso arquiteto Oscar Niemeyer, contemplando os melhores trabalhos de conclusão de curso universitário – graduação, mestrado e doutorado –, além de trabalhos de tecnólogos e técnicos de Nível Médio, nas áreas de Engenharia, Agronomia, Geologia, Geografia e Meteorologia, com o objetivo de dar visibilidade a novos projetos e abrir um maior diálogo entre os estudos técnicos e sua aplicação social. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 A premiação que homenageou o saudoso arquiteto reuniu mais de mil pessoas no Rio Othon Palace 8 Institucional Alunos da Gama Filho exibem troféu, com Agostinho Guerreiro ao centro e o professor Sergio Gavazza à direita. Homenageados da Uerj e a diretora da Faculdade de Engenharia, Maria Eugênia Gouveia, junto ao presidente do CREA-RJ. Homenageados do IME, Eduardo S. Lima e o ao centro. teligência através da interação com os centros de estudos. O CREA-RJ torna pública essas pesquisas, trazendo-as para a realidade, a fim de que deixem um legado positivo para a cidade”. EMOÇÃO DE FAMÍLIA Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia; Carlos Ricardo Niemeyer, diretor da Fundação Oscar Niemeyer; Paulo Niemeyer, bisneto do homenageado; Eduardo de Sousa, tenente-coronel do Instituto Militar de Engenharia (IME); Agostinho Guerreiro, presidente do CREA-RJ; Franklin Coelho, secretário especial de Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro; Vaciliki Xigis Dorneles, capitã que representou o Arsenal da Marinha; e Vera Niemeyer, viúva do arquiteto. CONTRIBUIÇÃO TECNOLÓGICA A cerimônia de premiação emocionou os mais de mil convidados presentes, entre eles reitores, diretores, orientadores, autoridades civis e militares, premiados e seus familiares. O presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro, abriu a cerimônia e ressaltou a importância da pesquisa feita pelos premiados. “O trabalho desses autores se torna a cada dia mais importante para a sociedade, pois traz uma enorme contribuição tecnológica para o país, capaz de promover mudanças significativas para o nosso futuro”, afirmou. Compondo a mesa da solenidade, além do presidente do Conselho, Agostinho Guerreiro, estavam Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia; Eduardo de Sousa, tenente-coronel do Instituto Militar de Engenharia (IME); Carlos Ricardo Niemeyer, diretor da Fundação Oscar Niemeyer; Franklin Dias Coelho, “É fantástico ver o crescimento do prêmio” – Franklin Coelho, secretário especial de Ciência e Tecnologia do município do Rio de Janeiro. secretário especial de Ciência e Tecnologia do município do Rio de Janeiro; Vaciliki Xigis Dorneles, Capitã de Mar e Guerra e diretora da Escola Técnica do Arsenal da Marinha que representou o Arsenal da Marinha; Paulo Niemeyer, arquiteto e bisneto do homenageado; e Vera Niemeyer, viúva do arquiteto. “É a terceira vez que participo do evento e é fantástico ver o crescimento do prêmio”, comentou o secretário Franklin Coelho, que complementou: “A iniciativa do CREA vem ao encontro do trabalho que a Prefeitura tem feito, que é promover a in- Vera Niemeyer se emocionou ao lembrar da dedicação e do amor com que o marido executava suas obras, além de sua constante preocupação social. “O Oscar nunca deixou de pensar nos problemas do Rio e este prêmio sintetiza o ideal de solidariedade que defendia. Ele dizia que engenharia e arquitetura estavam interligadas e o carinho dele pelos engenheiros era notório”, ressaltou. Já Carlos Ricardo Niemeyer, bisneto de Oscar, citou a paixão que o bisavô empregava em sua profissão. “Ele valorizava muito o saber técnico, mas também incentivava o conhecimento humano, legado que nos deixou. O ensinamento que fica é que devemos ser apaixonados por aquilo que fazemos e aliarmos a razão com a leveza e a beleza dos traços”, conclui. Este ano o Prêmio Oscar Niemeyer bateu o recorde de indicações, ratificando sua importância no meio acadêmico do Estado. Foram selecionados 102 trabalhos, de 146 autores, de 20 instituições de ensino, sendo 10 da rede privada e 10 da pública. Em comparação a 2011, primeiro ano do Prêmio, houve aumento de 26% no número de trabalhos apresentados. EDIÇÃO RECORDE Esta edição também elevou o número de trabalhos entregues por uma só instituição: a UFRJ, que indicou 22 Institucional Homenageados da ETAN, Centro Universitário Geraldo Di Biase, Unisuam, Instituto Federal Fluminense e Escola Técnica Rezende Rammel, tendo ao centro a diretora da ETAM, Vaciliki Dornelles, e Agostinho Guerreiro trabalhos. Em seguida vieram o IME (Instituto Militar de Engenharia), com 13; a UFRRJ, com 10; a UERJ, com 8; a UFF, com 7; a UFG, também com 7; a UNIFOA, com 6; e a PUC, com 5. “Essa condecoração ajudará muito na minha carreira, me destaca no mercado”, comenta Adão de Melo Neto, estudante do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Defesa do IME, que foi premiado por sua pesquisa ‘Mapeamento de Ambiente Interno Semi Estruturado com Múltiplos Veículos utilizando Sensor Visual Embarcado’. É importante destacar também que participaram pela primeira vez do Prêmio a Universidade da Zona Oeste (Uezo) e duas instituições de nível técnico: a Escola Estadual Rezende e Rammel (ETRR) e a Escola Técnica de Arsenal de Marinha (ETAM), o que vem confirmar o apoio e reconhecimento do CREA-RJ também para os estudantes de nível técnico. “O prêmio é muito importante, pois incentiva a pesquisa em todas essas áreas. Para nós, estudantes, abre portas e nos dá uma motivação a mais para continuar na vida acadêmica”, afirma Ana Paula Azevedo de Carvalho, tecnóloga da Uezo, premiada com um trabalho que apresenta a substituição do metal na indústria automobilística por sistemas poliméricos à base de poliamida e sebes. Os autores contemplados receberam certificado e troféu, cujo design é inspirado em uma das obras mais famosas de Oscar Niemeyer: o Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói. Já os orientadores e avaliadores receberam certificado e menção honrosa. (Raphaela Gentil e William de Assis) Alunos da UFRJ agraciados e o diretor da Escola Politécnica da UFRJ, Eduardo Serra, à direita de Agostinho Guerreiro. O prêmio, além de ser um incentivo ao estudante, pode lhe abrir novas portas HOMENAGENS ESPECIAIS Ao final do evento, o presidente do CREA presenteou a Fundação Oscar Niemeyer e também Vera Niemeyer com dois troféus. Ele agradeceu à viúva por sua contribuição para a realização do Prêmio: “Desde os primeiros passos, a Vera esteve conosco e se esforçou muito para tudo dar certo. Ela é uma pessoa importantíssima para esta celebração em memória do nosso grande Niemeyer. Sem ela, talvez tudo isto fosse impossível. Agradeço a todos e tenho a certeza de que o mestre Oscar está orgulhoso desta premiação”, concluiu. O diretor financeiro do CREA, João Araújo, entregou ao presidente Agostinho um troféu do prêmio. “Esse é o reconhecimento de toda a equipe do CREA e das Instituições de ensino ao seu importante trabalho frente ao nosso Conselho”, mencionou o diretor. Agostinho exibe o troféu Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 com o Tenente Coronel presidente do Conselho 9 Institucional 10 O CREA-RJ mais perto de você Novas funcionalidades online garantem atendimento mais moderno, ágil e seguro a profissional e empresas E conomia de tempo - evitando deslocamentos até o Conselho, dando mais tranqüilidade ao profissional, agilidade e velocidade no atendimento – é o objetivo principal dos novos Serviços Online, que já estão no ar, no Portal do CREA-RJ. Agora, profissionais e empresas podem emitir taxas de certidão e incorporação, multas e diferenças de ART sem precisar se deslocar até a sede do Conselho”, afirma o presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro. As novas funcionalidades vão ajudar os profissionais e empresas a emitirem, online, os formulários das certidões, já com o número de protocolo e com a guia de recolhimento. “Através desse serviço, o profissional e empresa acessam o portal do CREA-RJ e obtêm a documentação que precisa. Ele imprime o formulário, efetua o pagamento da guia e só comparece ao Crea para dar entrada. Não perde mais tempo para obter o formulário, a guia de recolhimento e o número de protocolo”, disse a Gerente de Registro e Acervo Técnico (GRAT), Cynthia Attié. “ MENOS BUROCRACIA Segundo a Gerente de Acervo Técnico, as novas funcionalidades irão reduzir as demandas presenciais, Institucional net; considerando ainda as diferenças de ART, taxas e multas, chegaremos a um número em torno de 2 a 3 mil guias emitidas emitidas diretamente pelo portal (www.crea-rj.org.br) por mês, que antes teriam que ser solicitadas diretamente nas unidades de relacionamento, disse a gerente. Em junho de 2013 foi instituído um Grupo de Trabalho pelo presidente do CREA-RJ formado por integrantes das gerências de Registro e Acervo Técnico, de Atendimento e de Apoio aos Colegiados, pelas coordenações de Documentação e de Tecnologia de Informação; e pelas assessorias de Planejamento e Desenvolvimento e de Marketing e Comunicação para desenvolver um sistema totalmente virtual no Conselho, com vistas à eliminação do processo físico. Essas novas funcionalidades disponibilizadas fazem parte de um processo maior de avanço tecnológico para o nosso público. “Até março de 2014, a cada 15 dias está prevista a liberação de uma nova funcionalidade On-Line para os profissionais e empresas”, informa a Gerente. UM SALTO TECNOLÓGICO Para o Presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro, a implantação do Sistema é um marco quase revolucionário do uso da Internet no CREA-RJ e, quem sabe, futuramente no Sistema Confea/Creas. “Estamos evoluindo muito. É um grande salto tecnológico que o Crea do Rio de Janeiro está dando. Para o profissional, é uma mudança de qualidade no atendimento; para as empresas, nem se fala, porque, gradualmente, vamos permitir que serviços que hoje demoram dias e semanas sejam feitos em curto espaço de tempo. É um grande salto de qualidade. E os nossos servidores do Atendimento terão uma grande melhoria de qualidade no seu trabalho interno, que impacta nas demais áreas do Conselho; é bom para todos. O aprimoramento desta ferramenta maravilhosa, que é o nosso Portal, nos conduzirá ao mundo virtual que é o futuro inevitável das organizações”, disse. (Chico Júnior) Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 não só no Atendimento, mas em vários departamentos do Conselho, como a fiscalização, o cadastro e o acervo técnico, que ficam liberados de atender o profissional para emitir, por exemplo, uma diferença de ART. Este Sistema visa desonerar estas áreas. “Só de requerimento de certidão são cerca de 700 por mês, ou seja, 700 pedidos que poderão ser efetuados pela inter- 11 12 Institucional CREA-RJ recebe Prêmio GesPública Nível 3 (Alta) Agostinho comemora a conquista de mais um prêmio pelo CREA-RJ, ao lado de Luiz Bergamini, coordenador do núcleo do Gespública do Rio de Janeiro O CREA-RJ recebeu em dezembro o certificado do Prêmio GesPública Rio de Janeiro classificação 3 (alta). Este nível mostra o grau de amadurecimento que a instituição alcançou rumo à excelência do atendimento como serviço público. O Prêmio faz o reconhecimento de órgãos públicos que executam programas de avanço, modernização e melhoria da gestão pública para melhorar seu atendimento. Ao longo de três anos o CREA-RJ vem seguindo critérios estipulados pelo Programa de Gestão Pública, que são alinhados com a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ). Durante esse período, o Conselho vem recebendo o reconhecimento pelos seus bons serviços através de certificados anuais emitidos pelo núcleo de GesPública do Rio de Janeiro. O CREA-RJ já tinha conquistado o GesPública 2 e 3. “É emocionante receber esse prêmio de Nível 3 (alta). Mostra que estamos levando o programa a sério e enfrentando os problemas. Coragem e ousadia nos levaram a esse patamar cada vez mais elevado. Só tenho a agradecer a equipe que se empenha a cada ano para nos trazer até aqui.”, comemora Agostinho Guerreiro, presidente do CREA-RJ. “Coragem e ousadia nos levaram a esse patamar elevado” – Agostinho Guerreiro SERVIÇOS MELHORES A equipe do Comitê Gestor do GesPública explica que o encurtamento do tempo de espera no atendimento ao público, a rápida resposta às reclamações e a melhoria na recepção do servidor e suas solicitações são alguns dos critérios avaliados pelos auditores externos do programa que levaram o Conselho a conquistar mais esse prêmio. “Estamos mostrando ao nosso público e ao governo nossa disposição em melhorar o serviço prestado à sociedade”, diz Márcia Tavares, coordenadora do Comitê de Gestão. A participação no prêmio é voluntária. O CREA-RJ é um dos poucos que aderiu e o único que tem o Prêmio GesPública Nível 3 (Alta). Todo e qualquer órgão público que queira obter tal certificação precisa fazer sua adesão junto ao Programa GesPública, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão do Governo Federal. “O CREA-RJ tem feito o dever de casa muito bem feito. Em nível nacional, é o Conselho que está mais bem qualificado no prêmio. Essa brilhante performance da atual administração do CREA-RJ mostra o comprometimento com a gestão pública brasileira”, comenta Luiz Bergamini, coordenador do núcleo de GesPública do Rio de Janeiro.(Renata Idalgo) Institucional 13 CREA-RJ RATIFICA Categoria Prata na premiação do PQRio P Equipe do CREA-RJ que participou da solenidade, com Agostinho, ao centro, com o Certificado e o Prêmio nas mãos. “O CREA-RJ é benchmark em todo o país, não só na Gestão da Qualidade, mas também em diversas outras áreas” – Luiz Bergamini oportunidade para elogiar o Conselho do Rio de Janeiro, lembrando que ele é referência para os outros Creas do Brasil. “O CREA-RJ é benchmark em todo o país, não só na Gestão da Qualidade, mas também em diversas outras áreas”, disse. Além de receber a premiação para o CREA-RJ, o presidente Agostinho Guerreiro fez a entrega de troféus a outros concorrentes. A PREMIAÇÃO O Prêmio Qualidade Rio é uma iniciativa que tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento do potencial econômico do Estado do Rio de Janeiro, através da modernização e capacitação tecnológica das suas organizações e promover mudanças capazes de levar o Rio de Janeiro a uma posição de destaque no cenário nacional e internacional com relação à competitividade, qualidade e produtividade. A premiação reconhece as organizações privadas e públicas fluminenses, que demonstram esforços efetivos rumo à excelência do seu modelo de gestão. São as seguintes categorias de premiação, num total de 500 pontos: Diploma Prêmio Qualidade Rio Menção Honrosa; Diploma Prêmio Qualidade Rio Categorias Bronze, Prata e Ouro; Medalha e Certificado Prêmio Qualidade Rio; e Troféu Prêmio Qualidade Rio. O sistema de avaliação adota como base os Critérios de Excelência do Prêmio Nacional da Qualidade, com itens que abordam de forma integrada e harmônica os principais aspectos do desempenho competitivo, tais como: liderança da alta administração, desempenho relativo aos clientes, gerenciamento de um sistema de informações e de processos, desenvolvimento de recursos humanos e otimização dos custos. (Viviane Maia) Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 elo segundo ano consecutivo, o CREA-RJ recebeu o Troféu e o Diploma Prêmio Qualidade Rio na Categoria Prata. A cerimônia, realizada no dia 18 dezembro, ocorreu no Salão da Caixa Cultural, no Centro do Rio de Janeiro e contou com a presença do secretário de Estado de Energia, Logística e Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro, Marcelo Vertis, que abriu o evento. Vertis parabenizou todos os ganhadores, salientando a importância das práticas da Gestão da Qualidade para a normatização de técnicas e produtos para o desenvolvimento econômico do Rio de Janeiro. “O Rio tem apresentado uma taxa de crescimento maior que a do Brasil, de um modo geral. E a Gestão da Qualidade, através do PQRio, tem se mostrado fundamental para isso, pois mostra o compromisso do Estado em atrair empresas e fornecedores de grande porte, alavancando a competitividade. Serão 200 bilhões de dólares de investimentos, nos próximos 5 anos”, afirma o secretário. O presidente Agostinho Guerreiro recebeu pelo CREA--RJ o Troféu e o Diploma Prêmio na Categoria Prata das mãos do Coordenador Executivo PQRio, Luiz Bergamini. Agostinho agradeceu muito a oportunidade, afirmando que a premiação é uma honra e uma forma de fazer crescer a qualidade da gestão. “O PQRio é importante para o Crea porque demonstra que o que realizamos é reconhecido como um trabalho de qualidade, uma gestão séria, moderna, ágil e feito em equipe. O trabalho que desenvolvemos é uma ferramenta para servir à sociedade”, resaltou. Luiz Bergamini aproveitou a 14 Institucional Autovistoria: dúvidas ainda preocupam CREA-RJ realizou seminários sobre Lei de Autovistoria. Mais de 1500 pessoas participaram dos três encontros; principais envolvidos ainda não se sentem seguros para cumprir corretamente a nova lei. André Cyriaco / Tempo Real Deborah O’Dena Mendonça, presidente da Abadi; Roberto Damasceno, Diretor Geral de Serviços Técnicos do Corpo de Bombeiros; Pedro Paulo Teixeira, Secretário-Chefe da Casa Civil da Prefeitura do Rio de Janeiro; Agostinho Guerreiro, presidente do CREA-RJ; Mozart Filho, analista de Normalização da ABNT; Alexandre Correa, vice-presidente de condomínios do Secovi-Rio; e Geisa Guedes, gerente geral da Ademi. O CREA-RJ realizou, nos últimos dias 3 de dezembro, 28 de janeiro e 18 de fevereiro, o I, II e III Seminários de Lei de Autovistoria e Elaboração do Laudo Técnico de Vistoria Predial (LTVP). Os eventos foram realizados em auditórios da sede do Conselho, no Centro do Rio e contou com a presença de mais de 1500 pessoas, além de ter sido transmitido ao vivo pela WebTv da instituição para milhares de pessoas. Gratuitos, os seminários tiveram como objetivo esclarecer ainda mais engenheiros, síndicos e demais interessados sobre os detalhes da Lei da Autovistoria, que está em vigor no município do Rio de Janeiro desde julho de 2013 e teve o prazo de entrega dos laudos estendido para 1º de julho deste ano. “Ainda pairam dúvidas. A lei é muito nova, precisa ser aperfeiçoada. Tem questões que nem mesmo o pessoal técnico está entendendo perfeitamente; imagine uma pessoa Institucional 15 André Cyriaco / Tempo Real Mais de 1500 pessoas, entre profissionais, síndicos e interessados em geral prestigiaram o evento Técnicos do Corpo de Bombeiros do Estado. Durante o segundo evento, Silvio Coelho informou que, de acordo com levantamento da Prefeitura, desde que a Lei da Autovistoria entrou em vigor, até a véspera do seminário, 5.719 edificações haviam entregues seus laudos, ou seja, pouco mais de 2% do total de cerca de 270 mil imóveis que devem ser vistoriados. Deste total, 1.622 emissões foram feitas só no mês de janeiro, dobrando o quantitativo de novembro de 2013. Em levantamento posterior, a Revista do CREA-RJ constatou que, até às 10h50 do dia 13/2, 7.268 autovistorias tinham sido comunicadas à Prefeitura. Dessas, 46% das edificações estão em conformidade e o restante, 54%, necessita de obras. “Uma das razões para se prorrogar o prazo foi a falta de entendimento dessa legislação. Toda iniciativa no sentido de levar mais explicação e solucionar problemas de aplicação da lei não só é valida como é muito desejada”, afirmou Silvio Coelho, que elogiou a iniciativa do Conselho ao dizer que “os seminários do Crea são super importantes e definitivos para o sucesso dessa lei”. De acordo com o secretário Pedro Paulo Teixeira, “os representantes dos imóveis não estão deixando para fazer a vistoria em cima da hora por falta de informação, pois síndicos e proprietários estão atentos à Lei, mas ainda têm muitas dúvidas, principalmente com relação ao preço para o serviço”. “Os condôminos tendem a optar pelo orçamento mais barato, mas esses preços fora do padrão de mercado podem gerar laudos de baixa qualidade. O barato sai caro e com esses preços lá em baixo a segurança que a lei pretende dar aos imóveis do município pode não ser alcançada”, alerta Agostinho Guerreiro. Marcelo Borges, Diretor Jurídico da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), presente no II Seminário, também levanta a bandeira da preocupação com preços versus qualidade do lau- Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 que não está habituada a lidar com esse tipo de assunto”, comenta o presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro, mencionando síndicos e responsáveis por imóveis. Autoridades e especialistas da área imobiliária e de engenharia participaram dos encontros. Agostinho Guerreiro presidiu a mesa. Em dezembro, a mesa foi composta também pelo Secretário-chefe da Casa Civil do Município, Pedro Paulo Teixeira; pela presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), Deborah O’Dena Mendonça; pelo vice-presidente de condomínios do Secovi-Rio, Alexandre Correa; pela gerente geral da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Geisa Guedes; pelo coronel PM Roberto Damasceno, Diretor Geral de Serviços Técnicos do Corpo de Bombeiros; e por Mozart Filho, analista de Normalização da ABNT. Já em janeiro, além do presidente Agostinho Guerreiro, compuseram a mesa membros de entidades representativas do mercado imobiliário, como o diretor jurídico da Abadi, Marcelo Borges; a gerente do departamento jurídico do Secovi-Rio, Solange Santos; o diretor técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Eugênio Guilherme Tolstoy, e o 2º vice-presidente da Ademi, Claudio Hermolin. Representando entidades governamentais, também estiveram presentes neste segundo encontro o chefe da Coordenadoria Geral de Fiscalização de Manutenção Predial da Secretária Municipal de Urbanismo, Silvio Henrique Coelho; além do coronel Roberto Fontenelle Damasceno, diretor geral de Serviços 16 Institucional André Cyriaco / Tempo Real André Cyriaco / Tempo Real Chefe da Casa Civil do município explica como será a fiscalização no Rio de Janeiro Alexandre Correa - lei de 1964 já prevê manutenção conservação das edificações do elaborado. Ele acredita que a aplicação prática da lei começa a pecar a partir da ausência de um modelo de laudo que deveria ser seguido pelos profissionais. “Cada um [profissional] tem feito do jeito que quer. E, infelizmente, isso tem sido norteado pelo preço que o condomínio está disposto a pagar. Quem quer um laudo qualitativo contratará um engenheiro ou arquiteto que, efetivamente, lhe dará o preço em razão do trabalho robusto que será feito. Agora, se esse síndico quiser um laudo apenas para cumprir a legislação, o preço a ser pago vai ser proporcional à baixa qualidade do trabalho realizado. E isso é um pecado”, alerta Borges. Tanto o secretário Pedro Paulo quanto o presidente Agostinho concordam que quanto maior for a divulgação da lei, mais rápido os resultados da Autovistoria serão alcançados. Além de divulgar o tema em seus próprios jornais e revistas, o CREA-RJ tem uma importante ferramenta, que é a “Cartilha Autovistoria: Prevenção agora é lei”. E foi baseado nesse material que representantes da Casa Civil e da Secretaria Municipal de Urbanismo, do CREA-RJ, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU-RJ), do Instituto de Engenharia Legal (IEL) e entidades ligadas aos síndicos, condomínios e construtoras, como o Sindicato de Habitação do Rio (Secovi-Rio), decidiram elaborar uma cartilha única sobre a Lei da Autovistoria. “Juntamos todas as cartilhas criadas pelas entidades participantes desse processo em uma só. Assim o cidadão terá uma visão completa de quais são os aspectos necessários para ser feita uma boa autovistoria”, comenta o secretário Pedro Paulo. A cartilha está disponibilizada, por enquanto, apenas por meio digital, nos sites da Secretaria Municipal de Urbanismo e do Secovi-Rio. A cartilha do CREA-RJ está no Portal do Conselho (www.crea-rj. org.br/publicacao/cartilhas-emanuais/). Informação para todos Durante as palestras, os convidados explicaram o papel que cabe a seus órgãos diante da nova lei. O coronel Roberto Fontenelle, do Corpo de Bombeiros, presente nos três encontros, afirmou que a corporação está engajada nessa causa, destacando que eventos como esses são de extrema relevância. “Essas iniciativas são importantes, pois ainda há bastante dúvida sobre o que fazer e como fazer. As concessionárias Cedae, Light e CEG se uniram a nós e já estamos orientando os profissionais desses órgãos para a realização da vistoria nas áreas de fornecimento de água, luz e gás”, contou o representante dos Bombeiros. No Seminário de dezembro, Pedro Buzatto Costa, da ABNT, ressaltou a importância do processo de normatização para que a Autovistoria seja uma ferramenta importante na conservação do imóvel. “A ABNT já possui normas que garantem a manutenção predial, mas criamos uma comissão de estudo e inspeção para complementar essas normas já existentes”, revela Buzatto. A comissão mencionada pelo analista da ABNT foi formada em abril de 2013 especialmente para analisar e adequar a NBR5674 - Manutenção de edificações: Requisitos para sistema de gestão de manutenção, à lei de Autovistoria, se for o caso, já que nesta norma havia lacunas quanto à avaliação técnica da manutenção e conservação dos edifícios, bem como quanto à segurança e aspectos de risco aos usuários e ao Institucional patrimônio. A presidente da Abadi, Deborah O’Dena, também reforçou a importância da Autovistoria. “A lei veio nos respaldar e dar subsídios a fim de mantermos nosso propósito de manutenção preventiva”. Segundo ela, o papel das administradoras é levar aos condomínios essa cultura de prevenção, com foco na otimização de recursos para a manutenção predial, permitindo assim a valorização do patrimônio. O Diretor Jurídico da Abadi, Marcelo Borges, complementou a opinião da presidente da Abadi, afirmando que é importante o síndico ser parceiro do profissional contratado, na hora de realizar a vistoria. “É importante que o engenheiro ou arquiteto entre nos apartamentos para realizar um laudo de qualidade e o síndico, se quiser ter uma chancela de que seu condomínio está seguro, deve facilitar esse acesso junto aos condôminos”. Já Alexandre Correa, vice-presidente de condomínios do Secovi-Rio, lembrou que a manutenção e conservação das edificações constam como uma das principais obrigações dos síndicos e responsáveis pelos imóveis na lei federal 4591/64. “Embora a obrigatoriedade existisse há muito tempo, efetivamente ela não era implementada, fosse pela questão orçamentária, ou por outro fator que identificamos, que é o proprietário achar que pode fazer qualquer tipo de obra em seu apartamento sem dar explicações ao condomínio, o que é errado”, enfatiza Alexandre. O representante do Secovi lembra que o desabamento de dois prédios da Rua 13 de Maio, na Cinelândia, no ano passado, se deu por causa de uma obra irregular em um deles e que essa tragédia levou a sociedade a cobrar que algo fosse feito com relação à fiscalização e manutenção predial. “Muitos profissionais ainda estão preocupados com a responsabilidade de assinatura de um laudo como esse. Temos vários pontos que ainda não foram suficientemente esclarecidos” - Agostinho Guerreiro Durante os três seminários foi realizado também um painel técnico sobre Legislação versus Responsabilidades. Elinei Winston Silva, engenheiro industrial, mecânico e de segurança do trabalho; Marcus Possi, engenheiro eletricista e de eletrotécnica; e Manoel Lapa e José Schipper, engenheiros civis; e Jaques Sherique, 17 engenheiro mecânico e de segurança do trabalho, falaram sobre como suas especialidades se encaixam na Autovistoria e são primordiais nas inspeções prediais em edificações, para o bom cumprimento da Lei. Ao final dos eventos houve debates, quando os membros da mesa responderam as dúvidas da plateia. “Muitos profissionais ainda estão preocupados com a responsabilidade de assinatura de um laudo como esse. Temos vários pontos que ainda não foram suficientemente esclarecidos”, conta Agostinho Guerreiro. Ele ressalta a importância de se definir, na Lei, a necessidade de especialização dos profissionais que farão as inspeções em cada parte dos imóveis, uma vez que, diferentemente da área médica, na engenharia não existe engenheiro geral. “Na medicina existe o clínico geral, mas na engenharia há sempre um engenheiro especializado em algum setor. O correto é a parceria de profissionais de diferentes áreas realizando as vistorias, ou então, o profissional contratado tem que ser um grande conhecedor, praticamente um especialista, em pelo menos três áreas: civil, elétrica e mecânica, que são as principais fontes de acidentes; destacadamente na questão da parte elétrica, que tem sido a origem de tantos incêndios”, finaliza o presidente do CREA-RJ. (Raphaela Gentil) Durante o ano de 2013, o CREA-RJ, por meio de seu Programa de Capacitação e Desenvolvimento Profissional – PROGREDIR, desenvolveu em sua sede e em inspetorias do interior do estado, diversos cursos e palestras gratuitas ligados à engenharia elétrica. Foram 22 cursos, com média de 25 participantes por turma, de acordo com o limite determinado pelo instrutor, pois a demanda era maior. Nas palestras, o número de participantes ultrapassou as 150 vagas. Em parceria com a Ecthos Consultoria e Desenvolvimento, essas ações foram realizadas na sede, no centro do Rio, e nas cidades de Campos dos Goytaquases, Itaocara, Niterói e Volta Redonda, tendo como instrutor o engenheiro eletricista Marcus Possi, com apoio de tutoria online dos engenheiros eletricistas Rogério Maurer, Gabriel Cardozo e Igor Cavalheiro Nobre. Segundo Marcus Possi, o treinamento abordou vários aspectos, entre eles legislação, técnicas de inspeção, relatórios de não conformidades, análise de documentação, e também oportunidades e estruturas de composição de preços para maior valia e cobrança dos laudos, a serem produzidos e emitidos em conformidade à Lei de Autovistoria. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 TREINAMENTO TAMBÉM PARA O INTERIOR 18 Cidades A Perimetral está sendo derrubada. E agora? Demolição do viaduto construído há mais de 50 anos provoca polêmica. O sistema viário da cidade ficará mais comprometido do que já está? Implosão Perimetral | Fernando Frazão / Agência Brasil P arte da Perimetral já foi implodida, contrariando a opinião de especialistas que defendiam a sua permanência. No último dia 24 de novembro, em cinco segundos, um trecho de pouco mais de um quilômetro entre a Avenida Professor Pereira Reis e a Rua Silvino Montenegro, na Zona Portuária, foi ao chão. Ao todo, 1.200 kg de dinamite implodiram as pilastras que sustentavam a via. Construída há mais de cinquenta anos, a Perimetral seguia do Caju até o Aeroporto Santos Dumont e cumpria um papel importante no sistema viário da cidade, ligando as zonas Norte e Sul sem que os motoristas precisassem passar pelo centro. A demolição faz parte do proje- to Porto Maravilha, de revitalização da Zona Portuária. Até 2015, um túnel vai substituir a Perimetral. A Avenida Rodrigues Alves será uma via expressa, sem sinais ou pontos de ônibus. DEMOLIÇÃO DESNECESSÁRIA? “Imaginar que o Porto Maravilha tem a ver com a Perimetral é Cidades ESTUDO ANTIGO De acordo com a Cedurp, a explicação para a retirada do Elevado ultrapassa razões estéticas, pois segue uma moderna concepção de mobilidade. Estudos técnicos comprovam que a remoção da Perimetral é fundamental para melhorar o trânsito na região. “Juntamente com a Secretaria de Obras e a Rio Urbe, estamos estudando a retirada da Perimetral há mais de dois anos. Essa solução viária sobre viadutos é uma solução fadada ao fracasso. O Rio de Janeiro, lá atrás, foi uma cidade pensada mais para os carros do que para pessoas”, argumenta Alberto Gomes Silva, presidente da Cedurp, que complementa: “O Porto Maravilha vai trazer um adensamento da região. Nos “Não existe qualquer estudo técnico realmente consistente sobre a mobilidade urbana na região” – Sebastião Soares próximos 10, 15 anos vamos ter 100 mil pessoas morando naquela área. Boa parte dessas pessoas poderão trabalhar no centro sem ter a necessidade de perder horas e horas de engarrafamento no trajeto trabalho-casa.” Para a Cedurp, a decisão de substituir viadutos deste porte não é ideia exótica ou sem fundamentação. A Pesquisa Vida e Morte das Autovias Urbanas, do Institute for Transportation & Development Policy (ITDP), apurou que dezessete cidades dos Estados Unidos, Europa e países asiáticos já substituíram seus divulgação Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro. grandes viadutos. “A proposta de remover a Perimetral trará um novo conceito de locomoção, centrado nas pessoas e na sustentabilidade ambiental, privilegiando o transporte público, a integração entre os meios de transporte, as ciclovias e as áreas de circulação, garantindo mais fluidez ao trânsito e o desenvolvimento da região”, informa o site. Mais uma vez o engenheiro Marcio Fortes discorda. Ele acredita que, pelo contrário, o caos no trânsito da região pode aumentar. “A fluidez do tráfego não pode ser medida apenas pela largura e disponibilidade de vias. Se elas são expressas ou não é a grande diferença. Criaram-se ruas com a mesma capacidade de tráfego sem levar em conta a fluidez desse trânsito. Certamente não conseguirão substituir a fluidez da Perimetral”, analisa o conselheiro do Clube de Engenharia. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 forçar um pouco a barra. O Porto Maravilha é a otimização do espaço à beira d’água, do cais, do píer, do bairro do antigo Porto. Uma coisa bem diferente é mexer com o sistema de mobilidade dessa importância e dimensão”, diz Marcio Fortes, engenheiro civil especialista em planejamento urbano e conselheiro do Clube de Engenharia, que foi contra a derrubada do elevado. A prefeitura, por meio do site da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (Cdurp), afirma que “a perspectiva de remover o Elevado da Perimetral, chave do novo sistema viário do Porto Maravilha, acaba com a imagem de passagem da Região Portuária. O viaduto contribuiu para a degradação da área, dos patrimônios público e privado, e para o esvaziamento da região, que tem a menor densidade populacional do município. A retomada do interesse pelo entorno, com a substituição do elevado, abre caminho para o resgate do patrimônio histórico e arqueológico da área e da qualidade de vida dos moradores.” Marcio Fortes, no entanto, acredita que essas questões vão muito além. “A Perimetral era feia, essa é a primeira grande questão. E isso é subjetivo. O projeto urbanístico, de engenharia, foi decidido com uma visão apenas parcial, da melhoria da estética. Houve também uma avaliação distorcida dos terrenos a serem utilizados. Não é porque se tirou o elevado que a área vai ficar mais ou menos valorizada. Os armazéns do cais do porto já estavam sendo utilizados há alguns anos para eventos, mesmo com a Perimetral por lá. A meu ver, essa decisão foi desnecessária para a valorização da área”, comenta o engenheiro. 19 20 Cidades TRÂNSITO PIORA Paulo Cezar Ribeiro, Professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, também questiona outro ponto importante: “Se a via em substituição à Perimetral só vai estar pronta para uso em 2016, por que derrubar o elevado agora? Isso só provoca mais congestionamento em outras vias, como no Túnel Rebouças, no Túnel Santa Bárbara, na Ponte Rio-Niterói e na Linha Amarela. O trânsito na cidade aumentou em mais de 20%”, afirma. Há uma corrente de engenheiros que acredita que a zona portuária poderia ter sido revitalizada com a manutenção da Perimetral. O conselheiro do Clube de Engenharia Sebastião Soares reforça esse time. Ele acha que, para tal, bastaria melhorar as faixas de rolamento da Avenida Rodrigues Alves, recuperar e manter – por meio de limpeza, pintura e segurança – os pilares, vigas e calçadas na parte de baixo do elevado. “A revitalização do cais propriamente dita poderia ser feita ampliando o terminal de passageiros mediante, por exemplo, o aproveitamento dos armazéns mais próximos à Praça Mauá. Os demais, inclusive os mais próximos à Rodoviária, poderiam ser recuperados e aproveitados para outras atividades, como lazer e atrações turísticas, salas para manifestações culturais, restaurantes, pontos Se a via em substituição à Perimetral só vai estar pronta em 2016, por que derrubar o elevado agora?” – Paulo Cezar Ribeiro, professor da Coppe/ UFRJ de encontro etc. Tudo como já foi feito em outros lugares, como em Belém, aqui mesmo no Brasil, bem como em Lisboa e Barcelona e em Nova Iorque”, destaca o engenheiro. PROJETO MISTERIOSO Especialistas em mobilidade urbana, como o professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ e o conselheiro do Clube de Engenharia, relatam que os estudos e projetos que envolvem a retirada da Perimetral e a revitalização da área do entorno não foram divulgados para a comunidade técnica. “É tudo meio nebuloso, meio secreto. Por quê?”, questiona Paulo Cezar. O professor da Coppe complementa: “Queremos opinar, ajudar, mas nada foi discutido com a gente. Chamei a Cedurp para discutir o projeto na universidade [UFRJ], onde não temos interesses políticos ou financeiros, mas eles nos ignoraram. Disseram apenas que estava tudo resolvido. No site tem um trabalho esquemático, mas queremos conhecer os detalhes.” Sebastião Soares também reclama da falta de transparência dos estudos que a prefeitura diz ter realizado. “Não existe qualquer estudo técnico realmente consistente sobre a mobilidade urbana na região. O que conhecemos, e vêm sendo divulgadas, são abordagens superficiais, numericamente conflitantes e tecni- PREFEITURA APOSTA NO VLT O projeto da prefeitura prevê uma cara nova para a região do Porto. Ruas no entorno da rodoviária, como a Via Binário, foram abertas para fazer a ligação entre os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, além de se interligarem com a Avenida Francisco Bicalho. O projeto prevê ainda que 17 quilômetros de ciclovias e novas ruas sejam abertos para passagem exclusiva de pedestres. A ideia é incentivar a construção de residências próximas ao local de trabalho, abrindo nova perspectiva de deslocamento, como uso de bicicletas e travessias a pé. O grande elemento inovador fica por conta da criação de um novo sistema viário, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Com 30 quilômetros de vias, o VLT irá circular pelo centro da cidade, passando pelo Aeroporto Santos Dumont, Praça XV, Carioca, Central, ruas do Saara, Rodoviária, Santo Cristo, Praça Mauá, entre outros pontos. Está prevista a construção de 46 estações. O VLT será integrado com os principais modais de transporte (ônibus, teleférico do Morro da Providência, trens, metrô, barcas e aeroporto), com previsão de diminuição do número de carros e ônibus no Centro. “O VLT permite a racionalização do transporte público que chega ao centro da cidade, melhora a qualidade e aumenta a capacidade do transporte público. Sem dizer que diminui a quantidade de ônibus circulando por ali. É uma outra lógica de mobilidade urbana”, afirma o presidente da Cedurp. Para substituir a Perimetral, a via Binário do Porto já começa a cumprir esse papel. Além dela, haverá a Via Expressa, que ligará o Mergulhão da Praça XV à Avenida Brasil e à Ponte Rio-Niterói. Uma parte dela contará com um túnel que vai da Rodrigues Alves, na altura do Armazém 6, até a Praça Mauá. De acordo com a Cedurp, a via terá um número maior de Segundo o presidente da Cedurp, dos dois anos em que se estudou a retirada da Perimetral, pelo menos um ano foi dedicado a viabilizar a retirada desse gigante de concreto e suas vigas de aço nobre. E, de acordo com Alberto Gomes Silva, todas as possibilidades de reutilização foram consideradas. Porém, quando se pensa em alternativas de reuso desse material, diz que é importante levar em conta a logística e a armazenagem, de um lado, e o transporte, de outro. “Recebemos diversos pedidos de outros municípios querendo as vigas como doação. Nós concedemos, mas o custo para a retirada desse material da Rodrigues Alves seria deles. No entanto, quando eles perceberam o tamanho do custo de logística e transporte, desistiram. Não é algo simples, nem barato”, diz o presidente. Ele afirma ainda que uma das soluções apontada pelo CREA-RJ, que seria utilizá-las no elevado do Joá, em São Conrado, também foi analisada, porém descartada. “O custo para retirar e transportar esse material seria muito maior em relação à solução que já estava apontada para o Joá.” Sendo assim, o primeiro lote das vigas que foram ao chão com a implosão de novembro foi leiloado. A Metral Empresas de Transportes Ltda arrematou o lote de 384 vigas – 9180 toneladas - por R$ 520 a tonelada, rendendo um total de R$ 4,7 milhões aos cofres da prefeitura. Segundo a Cdurp, o valor final superou em 62,5% o mínimo previsto no edital, de R$ 320 por tonelada. Esses valores, no entanto, foram bastante polêmicos, uma vez que cada viga de 40 metros de comprimento e suas 20 toneladas poderia custar R$ 250 mil, já prontas para uso. Se essas primeiras 384 vigas que foram retiradas fossem vendidas a esse valor, renderiam aos cofres públicos R$ 96 milhões. A Cedurp assegura que três peritos judiciais distintos fizeram uma avaliação das vigas para que se chegasse ao valor estipulado no edital. Já o caso das seis vigas que desapareceram continua sem solução. Segundo as testemunhas, guindastes foram usados para içar as vigas do terreno e colocá-las em caminhões que seguiram em direção à Avenida Brasil. A polícia civil está à frente das investigações. A previsão é de que o novo Porto do Rio esteja pronto em 2016, mas na medida em que as obras vão sendo concluídas, a intenção é que as vias e o novo sistema sejam entregues à população. O primeiro trecho do VLT está previsto para entrar em circulação no final de 2015 e a segunda etapa em 2016. (Raphaela Gentil). faixas de rolamento do que hoje tem a Perimetral: subirá das oito atuais para 12 faixas. Hoje, passam pela Perimetral 4 mil veículos por hora. A nova Via Expressa terá capacidade para 6 mil. Já a Via Binário terá a função de fazer a conexão em todo o entorno do Porto, ligando os bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo com o Centro. A via ligará a Rua Primeiro de Março à Rodoviária (no sentido Avenida Brasil/Ponte), com saídas para a distribuição interna do trânsito. No sentido Centro, a via conecta o Gasômetro à Praça Mauá. Marcio Fortes, especialista em planejamento urbano, prevê que os carros, ônibus e caminhões que utilizavam a Perimetral serão prejudicados com as mudanças. “Agora é o tráfego que vai atrapalhar a utilização do espaço reurbanizado. Os veículos existem e vão continuar existindo, até por causa da política de governo em facilitar a compra de veículos com a redução de IPI. O VLT não substituirá o carro, pois ele não vai ser utilizado pelo tráfego de passagem, mas sim apenas para a necessidade da mobilidade pelo Centro. Vai ser muito útil, mas não vai solucionar o problema que temos. Ele não chega à Niterói ou à Baixada, por exemplo”, questiona Marcio Fortes. Paulo Cezar Ribeiro, professor da Coppe/UFRJ, acredita que, sem a Perimetral, a poluição sonora e visual vai aumentar na região. “A poluição atmosférica talvez seja a mesma, mas a sonora vai ser maior, pois não haverá barreiras para impedir o som, como acontecia com a Perimetral. O túnel é uma solução interessante, mas na parte plana vai ficar complicado. Com certeza o nível de poluição sonora vai aumentar consideravelmente”, prevê o engenheiro. camente insustentáveis. Há um déficit de participação das populações afetadas pelo empreendimento, de suas organizações comunitárias e, especialmente, de entidades técnicas independentes”, declara. REAPROVEITAMENTO DO MATERIAL 21 Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 Cidades 22 Institucional “Caso” Engenhão: exercício ilegal e falta de planejamento Relatório final do CREA-RJ confirma indícios de erros no projeto da cobertura metálica e recomenda processo ético contra responsáveis técnicos. Depois de reparos, previsão é a liberação do estádio em 2015. Estádio Olímpico João Havelange | foto: Wilson Dias / Agência Brasil U m dos principais palcos dos Jogos Olímpicos de 2016, o Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão) foi interditado em março de 2013 pela Prefeitura do Rio de Janeiro devido a problemas em sua estrutura metálica. Após quase um ano, a Comissão do CREA-RJ instituída pelo presidente Agostinho Guerreiro para apurar as responsabilidades de profissionais do Sistema no episódio concluiu o seu relatório, feito com base em depoimentos de engenheiros envolvidos no projeto, e integrantes da Comissão Especial de Avaliação do Engenhão da Prefeitura e do Consórcio Construtor. A Comissão do Conselho recomendou a abertura de processo ético contra os responsáveis técnicos dos consórcios construtores e da empresa responsável pela cobertura metálica, além da análise da Assessoria Jurídica sobre a situação do engenheiro português que atuou na verificação do projeto, por falta de habilitação para trabalhar no Brasil. O documento, aprovado pelo Plenário do Conselho e pela Câmara Especializada de Engenharia Civil, foi encaminhado à Comissão de Ética do CREA-RJ. Institucional 23 não poderia ocorrer. O anel teria que ser fechado sem essa flexibilidade toda”, salientou. De acordo com o relatório do Conselho, a construção da cobertura metálica, iniciada em 2004, começou a ser feita pelo consórcio formado pelas empresas Racional, Delta e Recoma. Dois anos depois, por conta de divergências com a Prefeitura do Rio de Janeiro da época, as partes envolvidas deixaram a obra, sendo substituídas pelo Consórcio Engenhão, formado pelas construtoras OAS e Odebrecht. A proximidade com os Jogos Pan-Americanos apressou os trabalhos, motivo pelo qual a verificação de qualidade dos projetos não foi executada pelo novo consórcio. Com o tempo, ficou constatada a falta de condições de segurança devido a indícios de erros de projeto, a deformações excessivas dos arcos de suporte da cobertura no Arco Leste e a barras com falta de resistência ou instáveis. Ainda segundo o relatório, a empresa alemã SBP realizou, a pedido do Consórcio Engenhão, um novo ensaio em túnel de vento e estudos em modelos de análise estrutural, concluindo que a cobertura estava suportando um peso excessivo em relação à sua capacidade, afetando a estabilidade entre os arcos. Ciente da gravidade do problema, o prefeito Eduardo Paes decidiu interditar o estádio em março de 2013 e criar uma Comissão Especial para avaliar os laudos existentes. A mesma comissão deu o seguinte parecer à época: “As estruturas dos arcos e tirantes e as treliças da cobertura do Estádio Engenhão apresentam não-conformidades de projeto com reflexos já visíveis sobre o estado da estrutura, pelo que os níveis de confiabilidade estrutural prescritos pela norma NBR-8800/08 não são atendidos”. INTERDIÇÃO PELA PREFEITURA A cobertura teve um erro conceitual, de acordo com o engenheiro civil Nelson Szilard, integrante da Comissão Especial de Avaliação do Engenhão da Prefeitura, que foi ouvido pela Comissão do CREA-RJ: “O projeto não é bom. Faltam 40 cm de espessura em um arco e ambos os arcos se fecharam para dentro, o que No relatório do CREA-RJ, além de todos os dados levantados pela Comissão de conselheiros instituída pela atual gestão, um fato chama a atenção: o perigo, desde 2007, a que foram submetidos os usuários do estádio por conta da deformação do Arco Leste. Membro da Comissão Especial de Avaliação do Engenhão formada pela Prefeitura, o engenheiro civil Sebastião Andrade alertou para o fato: “Ao avaliar as medições quando da inauguração, a cobertura já estava 70 cm fora do local esperado. Apesar da estabilização mais adiante, este deslocamento aconteceu no Pan. As pessoas que foram ao estádio corriam risco com a estrutura”. O laudo dos alemães, base para a decisão de interditar o Engenhão, tem mais de 600 páginas. Em entrevista à Revista do CREA-RJ, Andrade acrescentou que todos os riscos possíveis na estrutura foram calculados pelo estudo e que a velocidade dos ventos não predominou na interdição: “Eles fizeram diversas simulações computacionais do comportamento da cobertura e com diferentes modelos de aná- Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 RISCO NO PAN 24 Institucional Flávia Mendes / Tempo Real “O consórcio deve, agora, preparar um laudo técnico com as alterações que pretende realizar e as medidas de segurança para a parte metálica” – José Schipper O engenheiro José Schipper foi indicado para coordenar a Comissão. lise estrutural e estudos de sensibilidade a fenômenos de instabilidade dos arcos, pendurais, tirantes, tesouras e joists [peça da estrutura]. Uma análise mais abrangente concluiu que a ação do vento não foi a principal causa que atuou na cobertura. Os carregamentos de peso-próprio foram as maiores interferências”. As instabilidades dos elementos comprimidos da estrutura passaram a ser potenciais problemas causadores de danos, que poderiam levar à queda da cobertura. “Entre os arcos Leste e Oeste estão 223 metros de vão e cargas de compressão da ordem de 1.400 toneladas, que passam a funcionar com deslocamentos laterais da ordem de 1.200 milímetros (medidos). Eles sofrem tensões adicionais que reduzem drasticamente as margens de confiabilidade estrutural e passam a apresentar probabilidades de ruína inaceitáveis. As diversas barras com flambagem e/ou deformações excessivas e também os travamentos ineficientes contribuem para o risco de queda da cobertura”, disse Sebastião. LAUDO E EXERCÍCIO ILEGAL Apesar do pouco tempo de uso – o Engenhão tem menos de sete anos —, a estrutura metálica do estádio já está danificada, de acordo com o coordenador da Comissão do CREA-RJ, engenheiro civil José Schipper. “Os arcos estão inclinados e não tinham condições de suportarem o peso da cobertura. Chamamos as construtoras para um posicionamento e uma das soluções estudadas para contornar o problema seria a construção de dois pilares de cada lado, estaiando a estrutura. O consórcio deve agora preparar um laudo técnico, com as alterações que pretende realizar e novas medidas de segurança para a parte metálica. Infelizmente tudo foi feito às pressas”, argumentou. O relatório final da Comissão de Conselheiros do CREA-RJ verificou que uma série de irregularidades foi cometida por alguns engenheiros ao longo do processo de construção da estrutura metálica do Engenhão. Coordenador adjunto da Comissão do CREA-RJ, o engenheiro civil Manoel Lapa e Silva falou sobre a eventual responsabilização dos profissionais do Sistema: “Notamos vários erros nas fases de projeto e de execução do estádio, o que contribuiu para a sua interdição. A comissão ouviu os projetistas, o consórcio e a Prefeitura. Colhemos os depoimentos e encaminhamos para a comissão feita pelo plenário e o presidente do Conselho, além de enviarmos o relatório para a Câmara de Engenharia Civil – já que grande parte dos profissionais eram engenheiros civis – e para a Comissão de Ética. A partir da análise desses dados, sairá o resultado das responsabilidades”. PUNIÇÃO A situação mais delicada é a do engenheiro civil português, verificador do projeto da estrutura metálica. O profissional teria atuado de forma irregular, de acordo com o coordenador da Comissão: “Tentamos entrar em contato com ele, mas não conseguimos agendar. O profissional estava ciente do risco em assumir a obra. Constatamos que não há nenhuma Anotação de Responsabilida- Institucional 25 Flávia Mendes / Tempo Real “Por conta da deformação do Arco Leste, os usuários do Engenhão foram submetidos a riscos desde 2007” – Sebastião Andrade; O engenheiro Sebastião Andrade integrou a Comissão Especial de Avaliação do Engenhão constituída pela Prefeitura. de Técnica (ART) dele. O Plenário do CREA-RJ decidiu que se encaminhasse o caso à Câmara de Engenharia Civil e que lá se analisassem as medidas legais contra o engenheiro por exercício ilegal da profissão”, disse Schipper. Além da punição ao engenheiro português, a recomendação do relatório é a de abertura de processo ético contra os responsáveis técnicos da empresa que projetou a cobertura metálica e os responsáveis técnicos dos dois consórcios construtores. O estudo do Conselho considerou que a solução para a estrutura metálica adotada pelo projetista era inadequada, que faltou avaliação de projeto do segundo consórcio e que este assumiu eventuais erros na obra. O relatório também apontou indícios de falha de execução na montagem. MUDANÇA DRÁSTICA Quanto aos Jogos Olímpicos de 2016, Schipper informou que o consórcio garantiu que modificará a estrutura e entregará o estádio em condições de atender à população: “É certo que a cobertura sofrerá mudanças drásticas. Segundo o consórcio, o estádio será entregue em 2015 com as alterações realizadas e apto para as Olimpíadas. A comissão do CREA-RJ vai continuar acompanhando os esforços da Prefeitura do Rio e do consórcio para solucionar este problema”. O presidente Agostinho Guerreiro acrescentou que o papel do Conselho tem que ser exercido criteriosamente, e foi por isso que a Comissão precisou de todo esse tempo e trabalho. (William de Assis) O pouco tempo para a entrega do Engenhão para os Jogos Pan-Americanos de 2007 – seis meses antes a cobertura metálica ainda não estava pronta e o período restante era considerado insuficiente para o fim da obra – infelizmente não é o único caso em que o ditado “a pressa é inimiga da perfeição” ganha contornos literais em obras deste porte no Brasil. Mais recentemente, em novembro de 2013, um mês antes do prazo final da FIFA para a entrega visando a Copa do Mundo de 2014, o Estádio Itaquerão, em São Paulo, foi palco de um trágico acidente, que matou dois operários. A causa foi a queda do maior guindaste em operação no país, com 114 metros. Coincidência ou não, o guindaste, que tombou sobre uma área do prédio leste e sobre a fachada em LED, era responsável por içar o último módulo da estrutura da cobertura metálica do estádio. As duas situações chamam a atenção pelo fato de as obras chegarem à etapa final poucos meses antes do início dos eventos esportivos. Como apurado pelo CREA-RJ, no Engenhão não houve um estudo de projeto da cobertura por parte do segundo consórcio após o primeiro romper o contrato com a Prefeitura. Já em Itaquera, o caso segue em apuração. O novo prazo de entrega do Itaquerão – caso não ocorram mais contratempos – está marcado para abril. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 ENGENHÃO E ITAQUERÃO: O MESMO ROTEIRO DE PLANEJAMENTO FALHO E PRESSA 26 Capa Chuvas: um drama sem fim? Temporais continuam fazendo vítimas fatais e deixando milhares de desabrigados no Rio de Janeiro. Soluções propostas pelo CREA-RJ em 2011 poderiam ter salvado pessoas e evitado o caos. V ocê provavelmente já deve ter tido algum problema causado pelas chuvas de verão e o grande volume d’água que castiga o Estado do Rio, geralmente entre dezembro e abril. Todo ano a cena se repete e a pergunta também: o que foi feito de um ano para o outro para evitar alagamentos, deslizamentos de terra e novas tragédias? Com a realização dos megaeventos esportivos – a Copa do Mundo deste ano e as Olimpíadas de 2016 – e o agravamento das intempéries climáticas, como chuvas fora da estação, cresce o temor de novas calamidades. Em janeiro de 2011, na região serrana do Rio de Janeiro, ocorreu uma das piores tragédias climáticas da história do país. Quase mil pessoas morreram e o número de famílias desabrigadas passou dos 5 mil. O governo do Estado prometeu, logo após o dilúvio, entregar 6 mil casas populares, mas até agora elas ainda estão em processo de construção. É o mesmo número de pessoas que ti- Capa desapropriamos ou que encontramos desocupadas tiveram que receber obras de infraestrutura para que se tornassem seguras. Mas estamos garantindo, de forma definitiva, que as pessoas vítimas da tragédia saiam das áreas de risco e para ir morar em áreas em que, se por acaso houver chuva de grande intensidade, elas estarão protegidas.” De acordo com o subsecretário, está em andamento a construção de “Se houver chuva forte, novas tragédias podem ocorrer porque as obras vão demorar, são caras. As mais baratas e emergenciais não foram feitas” – Agostinho Guerreiro. 4.414 unidades habitacionais espalhadas em sete municípios da região serrana: Areal, Bom Jardim, Friburgo, Petrópolis, São Jose do Vale do Rio Preto, Sumidouro e Teresópolis. Dessas, Fortuna garantiu que quase mil unidades seriam entregues até o final de dezembro e as outras em 2014. TRABALHO EM CONJUNTO Outros órgãos do governo estão atuando para agilizar e facilitar o tra- balho de reconstrução das cidades atingidas. O Departamento de Recursos Minerais do Estado do Rio de Janeiro (DRM-RJ), por exemplo, mapeou as áreas de risco iminente, com a intenção de formular mapas e relatórios que informem aos municípios a localização e a situação das áreas de risco em seus territórios. “Mais de 400 áreas sujeitas a deslizamentos foram catalogadas na região serrana. Mas não conseguiremos fazer todas as obras de uma só vez. São ações enormes, que demandam grandes projetos que, só para elaboração, demoraram de 6 a 7 meses para ficar prontos. É preciso pensar em soluções com muito critério”, comenta Fortuna. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea), por sua vez, informa que está trabalhando na região serrana fazendo a limpeza, o desassoreamento e a contenção de margens dos rios e córregos, a fim de reduzir os efeitos das enchentes no entorno dos rios afetados, proteger a infraestrutura urbana e evitar a proliferação de doenças de veiculação hídrica. De acordo com dados do site do Inea, em Nova Friburgo o projeto de recuperação abrange parte da bacia hidrográfica do Rio Bengalas – formado pela confluência dos Rios Santo Antônio e Cônego – que corta praticamente toda a cidade – e o Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 veram as suas moradias afetadas pelas chuvas de dezembro de 2013, de acordo com cálculos dos municípios atingidos. O temporal do fim do ano passado também deixou um saldo de cinco mortes. O subsecretário extraordinário da região serrana, José Beraldo Fortuna, diz que, desde 2011, o trabalho na região não parou um dia sequer. “O governo agiu imediatamente. Acabada a fase dos primeiros socorros, já entramos com obras de contenção e não paramos até hoje”, afirma. Segundo ele, o governo do Estado tem atuado na região serrana em três frentes distintas: recuperação das encostas, onde já foram investidos mais de R$ 200 milhões em obras já prontas e mais R$ 200 milhões em outras em andamento; recuperação de pontes – as Secretarias de Obras e de Agricultura, em parceria, já reconstruíram mais de 60 pontes e outras 23 estão em fase de construção; e a construção de moradias que, de acordo com Fortuna, é a ação mais importante do Governo. Ele credita a demora em iniciar as obras a dois fatores: burocracia e dificuldades para encontrar terrenos seguros. “O maior problema para iniciar as obras para a construção de casas foi a busca por terrenos. Não existem boas áreas para se fazer construções nessa região”, comenta Fortuna, que complementa: “Todas as áreas que 27 28 Capa Córrego d’Antas. Será necessário dragar uma grande extensão desses rios para rebaixamento do fundo do leito e adequação da calha de escoamento. Será feito também um trabalho de proteção das margens e o Córrego d’Antas receberá, além disso, a limpeza das margens e dragagem para aprofundar a calha fluvial. Em Petrópolis, os rios Cuiabá e Carvão, que deságuam no Rio Santo Antônio, foram os mais afetados pelas fortes chuvas de 2011 e, portanto, são o alvo principal das obras de recuperação ambiental no município. A intervenção começou pela contenção de suas margens. Também será feita dragagem e adequação das calhas destes rios. Já no município de Teresópolis, segundo o Inea, será contínuo o trabalho que está sendo executado nos rios Príncipe e Imbuí. Também serão construídas barragens para o amortecimento de cheias na região do Campo Grande, cortada pelo Rio Príncipe. TAPANDO A “CHUVA” COM A PENEIRA Pelo que se vê, o Governo do Estado está cheio de projetos, mas, de acordo com o consultor de Meio Ambiente do CREA-RJ, Adacto Ottoni, essas soluções não serão suficientes para proteger as cidades da região serrana das chuvas. “Vejo com muita preocupação o que o Inea está fazendo, que é alargar e canalizar rio, mas sem atacar a origem do problema, a degradação da bacia hidrográfica”, critica Ottoni. Segundo ele, reflorestar a bacia seria a melhor opção, pois as plantas são capazes de segurar mais de 60% das águas pluviais. “Não temos como controlar a chuva, mas a degradação da bacia sim. Temos que priorizar o que a natureza faz através de sua vegetação, que é reter e amortecer a água”, O “piscinão” da Praça da Bandeira é um dos cinco reservatórios que a prefeitura do Rio está afirma o consultor do CREA-RJ, prevendo que as “intervenções que estão sendo feitas não vão resolver o problema, mas sim transferi-lo adiante”. Reflorestar totalmente as áreas devastadas, no entanto, não seria possível, pois muitas delas já estão habitadas. De acordo com o novo Código Florestal, uma área de 30 metros (Áreas de Proteção Permanen- tes - APP) – em beira de rios, topo de morros e encostas – não pode ser desmatada para evitar erosão, deslizamentos e destruição de rios e nascentes. No caso da Região Serrana, que ainda tenta se recuperar dos estragos, de quem seria a responsabilidade? “A responsabilidade constitucional pelo uso do solo é dos municípios, que não fiscalizaram e deixaram Capa 29 Flávia Mendes / Tempo Real construindo para tentar reduzir os alagamentos em alguns bairros da Zona Norte. desmatar. Não adianta por a culpa na pessoa que foi lá e construiu em uma área dessas. Foi o único lugar que ele achou para morar e ninguém foi tirá-lo de lá. Depois da catástrofe, o poder público quer tirar o corpo fora e tapar o sol com a peneira”, argumenta o presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro. Ele também afirma que “é preciso, em primeiro lugar, cumprir a lei que trata do assunto e, para correções, promover o reflorestamento e garantir que elas permaneçam florestadas”. Para ele, a falta de planejamento de muitos anos preparou a tragédia anunciada. “A causa dessas tragédias é uma responsabilidade combinada do Estado e dos Municípios. Há mais de 40 anos, vimos alertando sobre a necessidade de fiscalização, de replantio de áreas, mas ninguém nos deu ouvidos”. O CREA-RJ apresentou aos governos municipais das cidades castigadas com as chuvas e ao governo do Estado um relatório com algumas medidas a curto, médio e longo prazo que poderiam solucionar o problema. “Não fizeram quase nada do que apresentamos, que eram soluções para refazer a cobertura vegetal, que não é uma coisa tão cara nessas regiões de alto de morro e margens de rio, barragens. Mais uma vez, deram preferência às grandes obras. Não somos contra, mas sabemos que demoram a ser feitas, então se perdeu muito tempo’, conta o presidente do CREA-RJ. Segundo Agostinho Guerreiro, houve um conjunto de situações, indicadores fortes de que a região não está preparada para grandes chuvas. “Se houver uma chuva forte, mesmo que não atinja aquela pluviosidade ocorrida há dois anos, nova tragédia pode ocorrer porque as obras vão demorar, são caras. As mais baratas e emergenciais não foram feitas”, conclui. Adacto Ottoni, engenheiro civil sanitarista e assessor de meio ambiente do CREA-RJ, que participa ativamente de reuniões sobre as ações a serem feitas na Região Serrana, faz coro com o presidente do Conselho. Segundo ele, o governo do Estado está indo na contramão da solução. “Optaram por obras grandes que não têm sustentabilidade ambiental e não vão resolver o problema. Pelo contrário, só vão agravar as enchentes na parte de baixo”. Ottoni sugere algumas medidas: “São intervenções de engenharia para imitar a natureza, como construir pequenas barragens no topo do rio, para evitar que a água desça rápido e não o faça transbordar; é tratar da erosão do solo, ter uma rede de Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 SOLUÇÕES DESPREZADAS 30 Capa Flávia Mendes / Tempo Real saneamento de lixo e esgoto, é um controle sustentável fundamental que não está sendo feito.” PROBLEMAS CHEGAM AO MP O Ministério Público também está envolvido com os problemas das cidades serranas do Estado. Foi criado o Grupo de Trabalho (GT) Desastres Naturais e Moradia com o objetivo de, por meio de inquérito civil público, verificar como vem funcionando a estrutura do sistema de defesa civil de cada cidade. Procuradores da República têm conversado com prefeitos buscando verificar se os municípios detêm os instrumentos que a lei 12.608/12 de Política Nacional de Proteção à Defesa Civil prevê para prevenção de desastres naturais, como, por exemplo, se há um mapeamento de áreas de risco, um plano de contingência, se o município realmente cumpriu com as atribuições previstas em cada obra, se vem tomando providências para minimizar alguns fatores em áreas de risco, se tem uma equipe de Defesa Civil estruturada, entre outras questões. “Verificamos que vários municípios precisam de adequações, seja no plano de contingência ou até mesmo junto às equipes de Defesa Civil. Alguns não possuem estrutura eficiente de trabalho”, afirma a procuradora da República Luciana Portal Gadelha, coordenadora do GT Desastres Naturais e Moradia do Rio de Janeiro. De acordo com a procuradora, a questão da construção de novas casas também está sendo tratada pelo Ministério Público. “Fizemos algumas reuniões com a Secretaria de Obras e a Subsecretaria Extraordinária da Região Serrana para verificar a situação das moradias, pois de fato poucas foram entregues de 2011 para cá. Eles argumentam com a dificuldade Procuradora da República Luciana Portal Gadelha, coordenadora do GT de Desastres Naturais e Moradia do Rio de Janeiro. “Vários municípios precisam de adequações, seja no plano de contingência ou até mesmo junto às equipes de Defesa Civil” – Luciana Portal, Procuradora da República. em localizar terrenos, a burocracia por parte do Estado, problemas na elaboração do projeto básico”, comenta Luciana Gadelha, informando que reuniões com a Caixa Econômica Federal e o Tribunal de Contas também foram realizadas para verificar a fonte do problema e a burocracia argumentada pelo Estado. “Estamos verificando quais são os problemas, se o Tribunal de Contas está burocratizando demais ou se é falta de vontade política”, pondera a procuradora. Caso nada seja feito e soluções não sejam apresentadas, o Ministério Público pode punir o Governo do Estado. “Vamos ajuizar as medidas ju- diciais cabíveis, seja ação civil pública ou de improbidade administrativa, mas vamos verificar que medidas judiciais vamos adotar em relação a essa questão”, conclui a procuradora. PISCINÃO É SOLUÇÃO NO RIO? A cidade do Rio de Janeiro também sofre com as chuvas de verão. Tanto que a prefeitura está construindo cinco reservatórios subterrâneos, os chamados “piscinões”, que irão atender parte da Zona Norte da cidade. Localizados no Alto Grajaú, em Vila Isabel (piscinão duplo com dois reservatórios), Tijuca e Praça da Bandeira, eles funcionam do seguinte modo: quando o nível dos rios sobe, a água segue para o reservatório, evitando alagamentos. Os reservatórios guardam temporariamente essa água da chuva, que é bombeada de volta aos rios, conforme o nível do leito vai baixando. As obras incluem a canalização de um trecho de 361 metros do Rio Trapicheiros, o desvio de parte do Rio Maracanã e a construção de um túnel extravasor no Rio Joana, que passará a ter um deságue indepen- Capa 31 Flávia Mendes / Tempo Real Engenheiro civil e professor do IME, Francisco D’Almeida Diogo é especialista em drenagem urbana dente na Baía de Guanabara. Hoje o Joana desemboca no Canal do Mangue. O reservatório da Praça da Bandeira, em construção, é o menor de todos. Vai funcionar como um grande ralo, recebendo a drenagem do entorno. O buraco tem 35 metros de diâmetro e 23 de profundidade. Já os dois reservatórios que ficarão no terreno de um supermercado, na Avenida Engenheiro Otacílio Negrão de Lima, em Vila Isabel, terão capacidade para absorver 143 milhões de “O maior problema para iniciar as obras para a construção de casas foi a busca por terrenos” – José Fortuna litros de água ou 55 piscinas olímpicas. O objetivo é evitar o transbordamento do Rio Joana, em caso de chuva forte. Na Tijuca, o piscinão de 70 milhões de litros, localizado na Avenida Heitor Beltrão, receberá o excesso de água do Rio Trapicheiros. E outro reservatório ficará no Grajaú, na divisa das ruas Marianópolis e Borda do Mato, com capacidade para 50 milhões de litros. Ele receberá a água que desce do Maciço da Tijuca através do Rio Jacó. O engenheiro civil e professor do Instituto Militar de Engenharia (IME), Francisco D’Almeida Diogo, acredita que os reservatórios irão resolver no curto prazo a situação de alagamentos dessa parte da Zona Norte, enfatizando que a Praça da Bandeira é o ponto crucial da cidade. Ele, porém, aponta alguns problemas. “Acredito que vá solucionar o problema, mas lembro que o custo de manutenção é muito alto, seja da limpeza ou da bomba. É uma obra que, em relação ao uso pela sociedade, é restrita ao tempo. E o mais importante é lembrar que, se não for realizada a manutenção correta, os reservatórios não funcionarão depois em épocas de cheias e ainda trarão problemas de ratos e mau cheiro no entorno”, alerta o especialista em drenagem urbana. (Raphaela Gentil) Em 1971 surgiu um projeto desenvolvido por técnicos, entre eles engenheiros do Clube de Engenharia, para a construção do túnel extravasor. Esse túnel subterrâneo contemplaria as Zonas Norte e Sul, abrangendo áreas do Horto, Jardim Botânico, Lagoa e Gávea. “A ideia do túnel extravasor é baseada na retirada de água em uma velocidade compatível com o volume e a velocidade com que ela chega na região. O traçado iria da região baixa da cidade – Praça da Bandeira – em direção ao costão da Niemeyer, desaguando no mar. Ele funcionaria como um grande transportador dessa água, em grande velocidade, sem fazer com que ela se acumule, como é o caso dos piscinões”, explica Agostinho Guerreiro. Segundo o presidente do CREA-RJ, partes dessa obra do túnel extravasor já foram realizadas, mas abandonadas. Para o engenheiro civil Francisco D’Almeida Diogo, o motivo do abandono do projeto pode ter sido a iminência de uma poluição do mar. “Não sabemos de forma clara porque o projeto não foi à frente. A justificativa mais forte é que ele jogaria toda a água suja das chuvas diretamente no mar. Só que, do ponto de vista sistêmico, teríamos que pensar de outra forma, em fazer uma gestão integrada com tratamento de lixo e esgoto, e limpeza dos bueiros das ruas”, acredita o especialista em drenagem, que conclui: “Com os reservatórios, o problema não será resolvido, uma vez que essa água da chuva vai parar de qualquer modo na Baia de Guanabara e a poluição vai continuar”. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 TÚNEL EXTRAVASOR: UM PROJETO ABANDONADO 32 Capa CREA-RJ apresenta relatório técnico sobre a situação de rios do Estado considerados pontos críticos de enchentes D epois de realizar uma inspeção – feita pelo presidente Agostinho Guerreiro, que já foi secretário Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos e ex-presidente da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla), e o assessor de meio ambiente do Conselho, engenheiro sanitarista, Adacto Ottoni - em pontos críticos que sofreram enchentes decorrentes das fortes chuvas ocorridas em dezembro de 2013, o CREA-RJ produziu um relatório em que faz um diagnóstico preliminar sobre as principais causas dessas enchentes, além de uma avaliação do que vem sendo feito pelas autoridades do Estado e dos municípios afetados. “O CREA quer colaborar para o aprimoramento das políticas públicas no controle de enchentes e saneamento ambiental, beneficiando a população e o meio ambiente em toda a bacia hidrográfica drenante a esses rios que transbordaram. Assim, o objetivo do relatório é criar um mecanismo para que as autoridades possam tomar medidas rápidas, relativamente baratas, que são soluções de curto prazo para evitar novas tragédias”, disse Agostinho Guerreiro, durante a entrevista à imprensa quando foi apresentado o relatório. OBRAS SUSTENTÁVEIS Um dos pontos destacados foi que devem ser feitas obras que ataquem a causa do problema, como intervenções para reter a água na bacia, fazendo saneamento de esgoto, reflorestando as margens, construindo barragens de cheias e bacias de detenção, aumentando a permeabilidade do solo. Quando houver canalização, que seja feita com sustentabilidade ambiental, com pelo menos o reflorestamento das encostas, sempre que possível. Deve-se também investir no saneamento de esgoto e na coleta permanente de lixo nos bairros e locais ribeirinhos. Todas essas intervenções – que atacam as causas das enchentes – são mais baratas do que as grandes canalizações e dragagens de rios que costumam ser feitas pelo Poder Público. Além disso, as propostas do CREA-RJ corrigem com eficiência a degradação das bacias hidrográficas drenantes. “Temos que implementar obras de engenharia com sustentabilidade ambiental. A canalização de um rio não resolve enchentes. Pelo contrário, está agravando os problemas, pois concentra a vazão d’ água nas partes baixas e aumenta a magnitude da inundação. Temos que fazer obras que ataquem a causa do problema, retendo água nos morros e encostas, com reflorestamento, fazendo saneamento de esgoto, reflorestando as margens, construindo barragens de cheias e bacias de detenção, aumentando a permeabilidade do solo”, explica o engenheiro sanitarista Adacto Ottoni. Agostinho, ex-Secretário Estadual de Saneamento e Recursos Hídricos e ex-presidente da Serla: “Assoreamento dos rios é uma das causas das enchentes” 33 Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 Capa 34 Capa Na inspeção, foi possível observar problemas como o lixo acumulado nas margens dos rios. O relatório foi encaminhado à Prefeitura do Rio, ao Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (GAEMA) do Ministério Público do Estado, ao Secretário de Meio Ambiente do Estado e ao Presidente do Instituto Estadual de Ambiente (INEA/RJ), bem como aos prefeitos de Queimados, Nova Iguaçu e Japeri, na Baixada Fluminense. “O planejamento das cidades, de um modo geral, tem sido relegado a um segundo plano. A urbanização precisa levar em conta a questão ambiental, porque as enchentes acontecem mesmo e, em grande parte, devido ao desrespeito das autoridades às leis ambientais, ao código ambiental”, comenta Guerreiro, que complementa: “O poder do Crea é fiscalizar o exercício profissional, e a lei não nos permite embargar ou intervir em obras, mas nem por isso vamos deixar passar despercebido as tragédias que têm acontecido no Estado, se podemos ajudar”. “O planejamento das cidades, de um modo geral, tem sido relegado a um segundo plano. A urbanização precisa levar em conta a questão ambiental” - Agostinho Guerreiro” A INSPEÇÃO A exemplo do que foi feito depois da catástrofe da região serrana, em 2011, o CREA-RJ realizou, no dia 19 de dezembro de 2013, uma inspeção em pontos críticos de enchentes no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. Agostinho Guerreiro e Adacto Ottoni, entre outros, verificaram “in loco” a situação de rios que transbordaram, deixando 13 localidades da cidade debaixo d’água: Parque Columbia, Irajá, Acari, Jardim América, Guadalupe, Anchieta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Pavuna, Manguinhos, Fazenda Botafogo, Cordovil e Complexo do Alemão. No Rio Irajá, na Penha, Zona Norte da cidade, foi possível observar que a altura da ponte que passa sobre o rio é muito baixa, criando um túnel/barreira que dificulta a passagem da água. Somado a isso, há a enorme quantidade de lixo que vem pela corrente de água e se aloja no local, dificultando ainda mais o escoamento da água, provocando inundações. Já no Rio Meriti, que corta a rodovia Washington Luiz, na altura da Pavuna, outro subúrbio do Rio, foi possível verificar que a canalização do rio foi feita de forma errada e que os pilares de sustentação da ponte são mal dimensionados, dificultando a passagem da água. Neste local, havia uma ecobarreira, construída pelo Governo do Estado, que estava totalmente destruída. As margens do rio viraram um enorme depósito de lixo. No Rio Acari, na Fazenda Botafogo, foram constatadas enormes ilhas formadas por lixo, plantas e terra que o assoream em diversos trechos, diminuindo radicalmente a área de vazão e prejudicando o escoamento. Ele está canalizado, porém a obra não resolveu o problema das enchentes na região. A contenção do Rio Queimados, recém-construída, foi realizada em apenas uma área. A obra de canalização, que alargou um pequeno trecho do rio para aumentar a capacidade de escoamento, teve um resultado desastroso. Isso porque, na periferia da cidade, onde o rio volta à sua estreita largura natural, a água da chuva desceu em alta velocidade pelo espaço canalizado, arrastando lixo e esgoto, formando uma barragem, que provocou o transbordamento e a inundação na região. O município, localizado na Baixada Fluminense, ficou em estado de emergência. (Raphaela Gentil) Infraestrutura 35 A Tecnologia 4G no campo e fora dele Previsão do governo é de cobertura de alta qualidade na Copa do Mundo, mas ex-presidente da Telebrás diz que Brasil precisa de quatro vezes mais infraestrutura de antenas e torres veis, será um divisor de águas no serviço de telefonia: baseado no protocolo IP (Internet Protocol), ele fornecerá velocidades de acesso de até centenas de Megabits (Mbps) ao usuário final, apropriado tanto para voz como para imagens, vídeos e dados, segundo o engenheiro de telecomunicações e diretor técnico do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, Márcio Patusco. Apesar de mais avançado do que o 3G, o serviço de quarta geração já chega ao Brasil envolvido em polêmicas e com um custo caro de uso para os brasileiros. LICITAÇÃO DE RADIOFREQÜÊNCIAS Uma das medidas para garantir o funcionamento e distribuição do 4G no Brasil ainda não saiu do papel, embora esteja perto disto: trata-se da resolução que destina a faixa de 700 MHz para o 4G, entre os canais 52 a 69 da TV aberta, com licitação prevista para Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 P erto de sediar a maior competição de futebol do planeta, o Brasil ainda tem metas a cumprir na área de infra-estrutura. A Copa do Mundo de 2014, que será realizada entre junho e julho, surgiu como chance para promover o desenvolvimento de setores como o de telecomunicações. A tecnologia 4G, a mais avançada para acesso à internet móvel, foi prometida pelo governo brasileiro e pelas operadoras para atender ao público estrangeiro no torneio e também à maioria da população dos grandes centros urbanos. Em meio a aspectos sociais, políticos e legislativos, a promessa, contudo, pode não ser cumprida totalmente: o quadro a poucos meses da Copa levanta sérias preocupações quanto ao número de pessoas beneficiadas, qualidade e real legado social para o país após o evento. O 4G, responsável pela mais ampla cobertura de rede em dispositivos mó- 36 Infraestrutura Flávia Mendes - Tempo Real Márcio Patusco abril. Além da licitação, outro passo importante a ser dado é a troca do sinal analógico pelo digital. De acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o 4G funciona atualmente na radiofreqüência de 2,5 Gigahertz (GHz), faixa utilizada em 27 países da Europa, Ásia e Oriente Médio. Na resolução 625/2013 da agência, feita em novembro passado, consta todo o regulamento sobre Condições de Uso de Radiofreqüências na faixa de 698 MHz a 806 MHz. Mesmo com a atual freqüência de 2,5 GHz, a utilização da faixa de 700 MHz é vista como a mais eficiente para a promover as políticas públicas e a cobertura no Brasil, segundo a Anatel. Dadas as dimensões geográficas do país, ela torna-se viável para cobrir grandes distâncias com menos antenas, além de ter maior eficiência no transporte de dados de voz. A implantação do 4G – faixa de 2,5 GHz – no Brasil começou a ser feita pelas teles na Copa das Confederações de 2013. Desde então a instalação passou a atender a critérios de habitantes por cidade, sendo assegurada pelo menos 50% da cobertura, de acordo com o seguinte cronograma da agência: até 12/2013 – todas as sedes e subsedes da Copa do Mundo; 05/2014 – todas as capitais e municípios com mais de 500 mil habitantes; 12/2015 – todos os municípios com mais de 200 mil habitantes; 12/2016 – todos os municípios com mais de 100 mil habitantes e 12/2017 – todos os municípios entre 30 e 100 mil habitantes. A Anatel ressalta que o desenvolvimento do 4G não extinguirá o 3G, pois são serviços complementares. Ainda de acordo com a agência, a partir de dezembro de 2015, todos os municípios com mais de 200 mil habitantes deve ter o serviço. No caso do 3G, existe atualmente um edital com obrigações de instalação até dezembro de 2016. O Brasil também oferece os serviços de segunda geração (2G). “O setor poderia estar em melhores condições caso a Telebrás não tivesse sido vendida por completo” – Marcos Dantas; INDICADORES DE QUALIDADE Criada para testar os aspectos operacionais e logísticos das cidades da Copa do Mundo, a Copa das Confederações serve de comparação para o que precisa ser melhorado até o Mundial. Em 2013 os problemas com o 4G em alguns jogos desta competição ficaram evidentes: houve falhas na Arena Pernambuco, na Arena Castelão e no Estádio Mane Garrincha. Segundo Patusco, a falta de antenas pode ser uma das causas do problema. “Com o grande afluxo de pessoas para um ponto e a disposição de falar e en- viar fotos para redes sociais, cria-se uma exigência de um número de antenas elevado para uma tecnologia com restrições a esse tipo intenso de tráfego. Normalmente a falta de acesso em um ponto é devido a falhas de cobertura (zonas de sombra) ou insuficiência do número de antenas para dar vazão ao tráfego”, afirmou. Patusco explica como é feita a comprovação de qualidade do serviço: “Os dois mais importantes indicadores de qualidade da banda larga e móvel no país são a velocidade média de acesso (medida dentro de um mês) e a velocidade instantânea. Ambas podem ser medidas no site da Entidade Aferidora da Qualidade (EAQ - http://www. brasilbandalarga.com.br/), que gerencia, fiscaliza a qualidade e é a responsável pelo cumprimento dos indicadores da Anatel. Devem dar resultados melhores do que 70% e 30%, respectivamente, em relação ao valor de velocidade contratada ao provedor de acesso”. GOVERNO E SETOR PRIVADO Um dos pontos de discussão da tecnologia 4G no Brasil é a política de telecomunicações existente. O setor, que sofreu privatizações ao longo dos últimos 15 anos, poderia estar em melhores condições caso a Telebrás não tivesse sido vendida por completo, fato que se refletiria diretamente na qualidade do 4G, como afirma Marcos Dantas, mestre em Ciência da Informação e professor titular da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ. “Não podemos ser maniqueístas. Não temos um dos piores serviços do mundo, mas não temos aquilo que os defensores da privatização prometeram. Uma análise racional indica que o que existe hoje é Infraestrutura um serviço de qualidade razoável, com privilégios de preços para as camadas sociais mais favorecidas e um serviço sofrível, monopolista e caro para os mais pobres”, comentou Dantas, que também é Doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ. Para o professor, o problema todo é do modelo adotado para a privatização da Telebrás. “Sempre defendi que o modelo foi errado. Fatiaram a Telebrás e privatizaram seus braços, a Telesp e a Embratel. Poderia ter sido vendido um bloco só com o mercado competitivo e sem perda do controle nacional. Os problemas hoje seriam menores e não existiriam entraves políticos como os que afetam a Petrobras e a Eletrobrás, por exemplo. Poderiam tirar as amarras que não permitiam os investimentos da Telebrás e realinhar os preços. O que as teles fizeram? Compraram os pedaços da estatal, com dinheiro do próprio Sistema e de empréstimos volumosos do BNDES”, criticou. A consequência mais sentida pelo mercado brasileiro foi justamente na área de engenharia. Segundo Dantas, “a privatização da Telebrás destruiu o parque industrial-tecnológico – logo, os empregos de engenharia – que havia se desenvolvido à sua volta, por força de seu poder monopsônico de mer- cado e da sua política de Pesquisa e Desenvolvimento efetivada através do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento. Hoje estaria mais barato implantar o 4G, inclusive com pressão menor na balança comercial, se não tivesse sido completamente destroçado o parque industrial-tecnológico que o Brasil possuía nas telecomunicações há 15 anos”. VISÃO CRÍTICA DA TELECOMUNICAÇÃO O otimismo do governo e das operadoras de celulares no Brasil não é compartilhado pelo engenheiro Rogério Santanna, ex-presidente da Telebrás. Um dos idealizadores do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), ele é crítico ao falar sobre as tecnologias 3G e 4G. Para ele, o funcionamento e a qualidade dos serviços não está de acordo com o previsto. Ao comentar sobre a entrega do sinal na Copa do Mundo, Santanna prevê problemas de várias ordens: “Precisamos de quatro vezes mais infraestrutura de antenas e torres para atingir o previsto até a Copa. O investimento deveria ser feito na rede de fibra óptica, o que poderia ser ajudado pelo governo com o backbone já existente (estrutura de fibras ópticas que funciona como uma ‘estrada de muitas vias’, levando o sinal para todo o território), além de freqüências mais altas. As 37 leis municipais também são um problema. Hoje temos a chamada Lei Geral das Antenas, que tenta minimizar este prejuízo de tempo, mas não creio que teremos a demanda atendida até junho”. As cidades do Sudeste surgem como preocupação para o especialista. Segundo ele, a burocracia atrapalhou os planos de instalação nesses locais: “É preocupante a situação no Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo. O fluxo de turistas será enorme e a cobertura da Copa também, especialmente na final, no Maracanã. Se não tivemos qualidade até agora, dificilmente isto acontecerá na competição. Não investiram em Engenharia e o que foi feito está travado burocraticamente. A logística e a operação não foram boas; tudo faz parte de um grande problema de vontade política”, pontuou. Contrariando a Anatel, Rogério Santanna é duro ao falar sobre as redes móveis existentes hoje no país. Para ele, os serviços prejudicarão a si mesmos: “Viveremos o pior de dois mundos: o que existe em 3G vai sair quando o 4G entrar e enquanto este for implantado aquele será prejudicado. Não há a mínima infra-estrutura para ambos caminharem juntos. Soma-se a isto o PNBL, que ainda não foi executado. Ou seja: teremos caos na comunicação”, salientou. (William de Assis) Ao analisar o contexto que envolve o 4G no país e sua demanda, Rogério traça um cenário de monopólio e pouco legado social. “Os estrangeiros serão os poucos a usufruírem desta tecnologia. Aqui os aparelhos são caros e o mercado está autoconcentrado. O monopólio da Oi abrange quase o Brasil inteiro. In- dependente do modelo de concessão, o problema está no funcionamento: a qualidade é ruim e a Anatel está presa aos interesses das operadoras. O brasileiro vai sofrer e demorar muito para utilizar o 4G com qualidade”. Santanna também faz um alerta: “Os EUA, por meio da sua Agência Nacional de Segu- rança (NSA), espionaram os brasileiros com dados das operadoras, como dito pelo Edward Snowden. Precisamos de uma política de rádio, softwares, antivírus, aplicações e gerenciamento de satélites própria. Não temos uma política efetiva na área de telecomunicações”, finalizou. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 QUALIDADE QUESTIONÁVEL E ALERTA 38 Institucional Corrida dos Engenheiros CREA-RJ e Seaerj organizam a “São Silvestre da área tecnológica” do Rio de Janeiro Fotos: Claudio Torós 25ª Corrida dos Engenheiros mobilizou profissionais e suas famílias, em evento realizado na Quinta da Boa Vista. S ol ameno, clima agradável e um dos cenários mais belos da cidade maravilhosa: estes foram os ingredientes da 25ª Corrida dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro, realizada no dia 8 de dezembro, na Quinta da Boa Vista, e promovida pela Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (Seaerj) e pelo CREA-RJ, com apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RJ), Federação de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge-RJ) e o Clube de Engenharia. Conhecido como a “São Silvestre da área tecnológica”, o evento contou com 200 inscritos na edição de 2013, em um percurso de cinco quilômetros. Além do exercício de saúde, a oportunidade reuniu os profissionais do Conselho e seus familiares, bem como os integrantes das demais representações ligadas ao sistema. Para o presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro, a trajetória da competição reafirma a carinhosa comparação feita com a corrida mais famosa do país, realizada em São “Esta corrida é uma grande alegria. Estamos resgatando uma tradição” – Joelson, Zuchen, presidente da Seaerj Paulo. “Novamente temos a alegria de participar de uma corrida tão tradicional como esta e podemos, sim, compará-la com a São Silvestre. Esta 39 Arciley Pinheiro entrega prêmio a vencedoras ocasião une os profissionais, as entidades, traz alegria e preparo físico e nos ajuda a cuidar melhor de nossa saúde. Vamos organizar cada vez mais este evento e manter a tradição”. Joelson Zuchen, presidente da Seaerj, salientou a participação dos envolvidos na organização do en- O presidente da Seaerj, Joelson Zuchen, ao lado do presidente Agostinho contro. “Esta corrida é uma grande alegria. Estamos resgatando uma tradição graças ao CREA-RJ, ao CAU, à Fisenge-RJ e ao Clube de Engenharia, que proporcionaram a realização deste evento”. DESCONTRAÇÃO O conselheiro federal pelo Rio de Janeiro, Arciley Pinheiro, destacou a importância da corrida no Estado. “É um evento muito importante, o único que conheço aqui no Rio de Janeiro na categoria dos engenheiros. É um momento de descontração e que os profissionais e seus familiares podem participar.”(William de Assis) NOVATA E EXPERIENTE SOBEM AO PÓDIO Agostinho com o primeiro colocado entre os homens, Bruno Costa Cláudia Silva, primeira colocada entre as mulheres Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 A 25ª Corrida dos Engenheiros e Arquitetos teve uma grata surpresa na modalidade feminina e o esforço premiado pela regularidade do vencedor masculino. Cláudia Silva, primeira colocada entre as mulheres, correu sua primeira edição e elogiou o local da disputa. “Foi a primeira vez que participei e achei o percurso muito bacana, com duas voltas e meia. O cenário contribuiu, é muito bonito”. Bruno Costa, vencedor entre os homens, contou como fez para chegar em primeiro. “Corro todos os dias com a minha equipe, faço um treinamento específico para provas de curta e longa distância e, graças a Deus, fui premiado com esta vitória”. 40 Institucional 41 Projeto Conselheiro 2014: Sustentabilidade e Ética Profissional Renata Idalgo Conselheiros terão acesso a tablet para facilitar votação nas plenárias são informados como será seu papel e trabalho aqui no CREA-RJ, além de conhecer a estrutura do Conselho”. PALESTRAS Durante todo o dia foram realizadas palestras com os seguintes temas: “Lei de Autovistoria e elaboração de Laudo Técnico de Vistoria Predial (LTVP)”, com o atual 1º vice-presidente do CREA-RJ, Manoel Lapa; “A atuação do conselheiro no CREA-RJ”, com o gerente da GACO, Roberto Silva de Carvalho; “Mútua e seus benefícios”, com o diretor geral da Mútua, Paulo Granja, “Legislação do Sistema Confea/ Crea”, com a assessora jurídica do CREA-RJ,advogada Ana Sanches; “Procedimentos para condução de processos éticos disciplinares”, com a assessora de Comissão de Ética Profissional, advogada Gláucia Yunes; “Fiscalização/Relatório de Fiscalização online/Georrefecimento”, com o gerente de Fiscalização, Ricardo Rovo e o supervisor da GFIS, Evandro Figueiredo; “Área Web do Conselheiro: Acesso e Funcionalidades”, com Edno Cardoso, coordenador da CTCI, e o analista de sistemas Jones Torres. POSSE Tomaram posse os seguintes conselheiros: Gilberto Adib Couri, engenheiro civil-UFF; Glauber Marcio Sumar Pinheiro, engenheiro florestal - APEFERJ; Itamar Marques da Silva, engenheiro industrial-telecomunicações e técnico em eletrotécnica-CE; José Schipper, engenheiro civil-IEL; Leonardo Heitor Richa Nogueira, engenheiro de segurança do trabalho e engenheiro civil-Sobes-Rio; Marcos Aurélio Barcelos, engenheiro eletricista e de segurança do trabalho e técnico em eletrotécnica-Senge-RJ; Osvaldo Henrique de Souza Neves, engenheiro de Segurança do Trabalho e engenheiro agrônomo-Sobes-Rio; Pedro Pascoal Sava, engenheiro civil-Unisuam; Regina de Jesus Ramos Andrade-engenheira civil-Seaerj. Regina de Jesus Ramos, vice-presidente da Seaerj, que foi empossada para segundo mandato como conselheira, reforçou a participação feminina no plenário do CREA-RJ. “Estamos intensificando o trabalho com as mulheres na plenária. As mulheres são mais organizadas e se dedicam mais. Num universo predominantemente masculino, é importante a presença de mais conselheiras no CREA-RJ, único que já ganhou dois prêmios nacionais do Programa de Igualdade de Gênero e Raça”. (Renata Idalgo) Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 “Sustentabilidade e Ética Profissional” foi o tema do XIII Seminário do Projeto Conselheiro 2014, que reuniu no dia 16 de janeiro, no Hotel Guanabara, novos e atuais conselheiros, que participaram de várias palestras sobre assuntos referentes à atuação e o papel do conselheiro do CREA-RJ. No encontro, nove dos 21 novos conselheiros foram empossados para o mandato 2014/2016. O presidente Agostinho Guerreiro, presente ao encontro, anunciou uma novidade: a aquisição de tablets para os conselheiros que vão substituir as máquinas de votação e também facilitar o trabalho por intermédio do portal web do Conselho. “Os conselheiros são representantes de entidades e instituições de ensino e têm uma vivência cotidiana que permite que nós façamos das nossas reuniões plenárias um elemento vivo dentro do nosso Conselho; nos últimos anos têm desenvolvido, junto com a diretoria, câmaras especializadas e comissões, além de servidores, profissionais e empresas que compõem o nosso Sistema, um papel extremamente importante, trazendo ideias e muita criatividade. Não é a toa que o Crea do Rio de Janeiro é uma referência nacional, pois temos tratado de corrigir o que precisa ser corrigido, de erros recentes, de erros do passado, trazendo novas propostas e reaproveitando com uma nova visão as propostas já existentes”, disse Guerreiro. O conselheiro federal Arciley Alves Pinheiro, também presente ao encontro, destacou a importância do Projeto Conselheiro. “A reunião marca o início de um entrosamento e troca de ideias entre os novos e antigos conselheiros. Por intermédio das palestras, os novos conselheiros 42 notas Eleição da nova diretoria referenda conquistas da atual gestão: democracia, seriedade e transparência A Plenária de 22 de janeiro elegeu a nova diretoria do CREA-RJ para 2014. Foram apresentadas duas chapas, sendo que a apoiada pela atual gestão elegeu todos os seus membros, com uma exceção. A escolha se deu por votação nominal, com os conselheiros optando pelos nomes correspondentes a cada cargo. A nova diretoria ficou assim composta, 1° vice-presidente: engenheiro civil Manoel Lapa e Silva; 2ª vice-presidente: engenheira civil e de segurança do trabalho Marlise de Matosinhos Vasconcellos; 1ª diretora-administrativa: engenheira civil Regina de Jesus Ramos Andrade; 2º diretor-administrativo: engenheiro Mecânico Oduvaldo Siqueira Arnaud; 3º diretor-administrativo: engenheiro Florestal Glauber Marcio Sumar Pinheiro; 1º diretor-financeiro: engenheiro Mecânico Jair José da Silva; 2º diretor-financeiro: engenheiro civil Jorge Nisenbaum; 3º diretor-financeiro: engenheiro metalúrgico e de segurança do trabalho Rockfeller Maciel Peçanha. “A eleição da esmagadora maioria dos representantes da Chapa 1 foi um claro referendo positivo à nossa gestão, um reconhecimento do nosso trabalho, aos numerosos prêmios que o Crea tem recebido nos últimos quatro anos, como o GesPública, o PQRio e o de Equidade de Gênero e Raça”, comemorou Agostinho Guerreiro. Da esq. p/ dir: 3º Diretor-Financeiro: Rockfeller Maciel Peçanha; 2º Diretor-Financeiro: Jorge Nisenbaum; 2º Diretor-Administrativo: Oduvaldo Siqueira Arnaud; 1ª Diretora-Administrativa: Regina de Jesus Ramos; Presidente Agostinho Guerreiro; 2ª Vice-Presidente: Marlise de Matosinhos; 1º Vice-Presidente: Manoel Lapa e Silva; 3º Diretor-Administrativo: Glauber Pinheiro; 1º DiretorFinanceiro: Jair José da Silva. DECISÃO Um momento importante da votação foi a escolha do cargo de 2º Vice-Presidente, com empate entre os candidatos das duas chapas. De acordo com o regimento do Conselho, cabe ao presidente proferir voto de qualidade, escolhendo um dos candidatos. Agostinho decidiu pela engenheira Marlise Matosinhos. “Dessa forma, conseguimos manter, como no ano passado, duas mulheres na Diretoria. Para nós, é fundamental a questão da equidade de gênero, com mulheres na Diretoria e tam- bém com mais conselheiras, aumentando a representatividade feminina no plenário”, disse. “Tudo indica que teremos um trabalho muito bom em 2014 e que continuaremos avançando, dialogando democraticamente e com transparência, como sempre, com o nosso CREA-RJ sendo cada vez mais premiado. No caso da formação das Comissões, a composição refletiu a pluralidade que permeia o Plenário do CREA-RJ, o que é democrático e perfeitamente natural”, concluiu o presidente do CREA-RJ. Scanners portáteis dão agilidade à Fiscalização. CREA-RJ se moderniza, mesmo com passivo trabalhista de gestões anteriores Um novo equipamento tecnológico promete agilizar o trabalho da Fiscalização do CREA-RJ. Trata-se de um scanner portátil que possibilita o escaneamento de documentos de forma rápida, evitando o acúmulo de papéis e agilizando o trabalho do fiscal, que não precisa mais ficar esperando a cópia de um documento de alguma empresa e nem o envio por e-mail. No mesmo instante, o aparelho cria uma imagem digital que é enviada à sede do Conselho. No total, são 65 scanners à disposição dos fiscais do CREA-RJ em todo o Estado. AGILIDADE “A fiscalização, em qualquer Crea, é o coração da instituição, o que faz pulsar o Sistema Confea/Creas. Precisamos modernizar cada vez mais os métodos e equipamentos. Com os novos scanners, vamos substituir montanhas de papel por imagens digitais; isso contribui para a sustentabilidade e permite mais rapidez no processo de fiscalização”, disse Agostinho. “É um avanço; o CREA-RJ está prestando um gigantesco serviço à sociedade do Estado Rio de Janeiro com uma ação mais ágil, segura e capaz de cumprir seu papel de fiscalização do exercício profissional”. Revista do CREA-RJ • Fev / Mar 2014 43 Arquivo: CREA-RJ | Foto: Zeca Linhares Parabéns a todos que, ao nosso lado, construíram essa trajetória. 1934 2014