APROPRIAÇÃO DE TÉCNICAS DE MELHOR CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: UM ESTUDO DE CASO DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO VALE DO JEQUITINHONHA Mateus Augusto Lima Quaresma1, Marivaldo Aparecido de Carvalho2, Fábio Luiz de Oliveira3, Diego Mathias Natal da Silva1, Leonard Campos Avellar Machado4 1. Doutorando em Produção Vegetal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES) ([email protected]) 2. Professor do Departamento de Saúde, Sociedade & Ambiente na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (FCBS-UFVJM) 3. Professor do Departamento de Produção Vegetal no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES) 4. Graduando em Agronomia pelo Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES) Alegre - Brasil Recebido em: 30/09/2014 – Aprovado em: 15/11/2014 – Publicado em: 01/12/2014 RESUMO O presente artigo discute os resultados de experimentações participativas de convivência agrícola em regiões de restrições hídricas, realizado via projeto “Promoção da Sustentabilidade, através do Manejo da Agrobiodiversidade, como base para a Agricultura Familiar no Vale do Jequitinhonha”. Nesse projeto estavam integradas ações de formação, investigação e experimentação, tendo como objetivo geral, apoiar a transição da agricultura convencional para a agroecológica. O referido experimento tinha por prioridade atuar em demandas agrícolas de cada localidade, utilizando de métodos participativos e técnicas de manejo com bases ecológicas dos sistemas, principalmente relacionadas à otimização no uso da água e qualificar os processos de formação agroecológicas junto às escolas Família Agrícola do Vale do Jequitinhonha. A metodologia foi baseada no pressuposto do diálogo participativo e da gestão conjunta entre os diferentes sujeitos do processo. Com esse projeto foi promovido o encontro de estudantes, pais e professores que atuam nas Escolas Família. Ao final constatou-se que a metodologia da experimentação participativa contribui de forma significativa no processo de formação agroecológica e de convivência com o semiárido no vale do Jequitinhonha. PALAVRAS-CHAVE: formação agrotécnica, semiárido, transição agroecológica. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2721 2014 APPROPRIATION OF TECHNIQUES TO LIVING BETTER IN SEMIARID REGION: A CASE STUDY OF FARMERS IN THE JEQUITINHONHA VALLEY ABSTRACT This paper discussed the results of participatory trials of living in agricultural regions of water restrictions, conducted via project "Advancing Sustainability through Agrobiodiversity Management, as the basis for the Family Farm in the Jequitinhonha Valley ". This project were integrated training activities, research and experimentation, with the overall objective, supporting the transition from conventional agriculture to agroecology. The above experiment was to act in priority agricultural demands of each locality, using participatory methods and management techniques ecological bases of systems, mostly related to the optimization of water use and qualify processes agroecological training in the schools of the Valley Family Farm Jequitinhonha. The methodology was based on the assumption of participatory dialogue and joint management between the different subjects of the process. This project was sponsored the meeting of students, parents and teachers who work in the Family Schools. At the end of the experiments it was found that the activities have contributed significantly in training processes. KEYWORDS: training agrotechnical, agroecological transition, Semiarid. INTRODUÇÃO O Semiárido Mineiro, compreende parte das regiões Norte de Minas e Vale do Rio Jequitinhonha, caracteriza-se por sua situação de transição ecogeográfica: do Sudeste para o Nordeste Brasileiro, do clima subúmido para o semiárido, do Cerrado para a Caatinga. Na área de 198.701 km2, que corresponde a 34% do Estado de Minas Gerais, o qual possui uma diversidade de formações vegetais típicas, onde cerca de 33% corresponde ao bioma Caatinga (66.150 km2) que entra em contato ecossistêmico com o Cerrado e a Mata Atlântica (CARVALHO et al., 2007). A região do Vale do Jequitinhonha foi Oficialmente delimitada em 6 de junho de 1966, pelo Decreto nº 9.841, para efeito de atuação da CODEVALE, reúne 80 municípios agrupados em três sub-regiões: Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha (NASCIMENTO, 2009). A diversidade do Vale do Jequitinhonha revela-se tanto nos seus elementos naturais, como o clima e os solos, como nos elementos que envolvem diretamente a atuação do homem. No que se refere ao meio natural, coexistem na região os climas Tropical Chuvoso, Seco, Tropical de Altitude e Semiárido. Os solos também são disformes, apresentando terrenos à base de quartzitos, áreas de calcário e siltitos, rochas metamórficas, além de granitos e gnaisse (CODEVALE, 1986). Segundo LEAL et al., (2003) o médio vale do Jequitinhonha, geograficamente, representa um prolongamento para o sul do semiárido nordestino, pois é fortemente castigado por condições climáticas adversas, tendendo para a semiaridez, com precipitações anuais abaixo de 1.000 mm. Atingindo média de 700 mm de chuva nos municípios de Itinga e Itaobim, concentradas no verão, o que dificulta a atividade agrícola (INMET, 2013). Há uma heterogeneidade na formas de agricultura familiar no Jequitinhonha, sobretudo nota-se dois sistemas produtivos mais efetivos e que são tradicionais da agricultura familiar do Semiárido brasileiro: o sistema de subsistência - ou de ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2722 2014 sobrevivência ligado normalmente a mini propriedades que não produzem renda suficiente para a reprodução da família e necessitam de complementação através de recursos governamentais, trabalho fora da propriedade e/ou aposentadoria. E o sistema parcialmente mercantil, que combina na maioria dos casos, policultura e culturas voltadas ao consumo na propriedade e um produto mercantil, e criação animal (LAMARCHE, 1998). A agricultura familiar do semiárido, de modo geral, sofre de forma mais acentuada a restrição ocasionada pela qualidade dos recursos naturais disponíveis – a água, principalmente, e o acesso e a qualidade dos recursos naturais, influenciam decisivamente os sistemas produtivos adotados e condicionam a relação desses produtores com o mercado (MARENGO, 2005; TONNEAU & SABOURIN, 2007). Fato claro, pois os produtores familiares localizados em regiões de terras de boa qualidade e melhor acesso à água, por sua vez, também puderam desenvolver sistemas de agricultura mercantil em base à fruticultura, horticultura, piscicultura e à melhoria de qualidade da pecuária leiteira e da ovinocaprinocultura. Desenvolveramse, também, processos de agregação de valor aos produtos agrícolas, tal como, polpa de frutas, produtos orgânicos, queijo, mel, doces, farinha de mandioca, cachaça, rapadurinha entre outros (CARVALHO et al., 2007). Essa polimorfia nos sistemas produtivos demonstra o processo de construção e consolidação da agricultura familiar em convivência com o semiárido. O que evidencia o processo de acumulo de conhecimentos elaborados e reelaborados pelas comunidades de agricultores familiares e tradicionais como indígenas e quilombolas em comunhão com seu meio ambiente, ou melhor dizendo, ambiente. Essa relação com a terra e o modo de organizar o trabalho, caracteriza a diversidade cultural da região do vale do Jequitinhonha. Peculiaridades edafoclimáticas do médio Vale do Jequitinhonha: A região do médio vale do rio Jequitinhonha ao nordeste do estado de Minas Gerais possui clima típico de subúmido a semiárido, e apresenta vegetação predominante de cerrado e caatinga. Nesta perspectiva regional, a necessidade em adoção de práticas e manejos que elevem a eficiência e a resiliência da agricultura local é evidenciada. Diversos diagnósticos convergem ao apontar as restrições hídricas e as secas periódicas como agentes proeminentes para o baixo desempenho da agropecuária na bacia do Rio Jequitinhonha (MARENGO, 2005). Que ainda responde por cerca de 30% do PIB regional, que por sua vez, corresponde ao menor PIB do estado de Minas Gerais (MDA, 2013). Esses fatores, somados à carência de investimentos públicos e privados, confirmam a tese de que a região é promotora de altos índices de êxodo rural (GONÇALVES, 1997; LEITE, 2010). Ressaltando que 47,99% dos habitantes dessa região são considerados como população rural “população que pratica atividade agrícola” (MDA, 2013). Estratégias que possibilitem o uso e permanência agrícola dos solos em regiões de clima semiárido: Dentre as diversas alternativas para elevar a sustentabilidade agrícola dessas regiões, as plantas para cobertura do solo podem representar diversas potencialidades ao sistema, com destaque para as leguminosas. Já que essas têm característica de grande capacidade de incorporação de nitrogênio no solo, devido à ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2723 2014 atividade simbiótica com microorganismos fixadores de N2 atmosférico. Esse sendo depositado no solo ao longo do ciclo das plantas, via material senescente (SILVA et al., 2009a). De maneira a promover maior aproximação da sustentabilidade agrícola na região da caatinga, possibilitando o prolongamento do tempo de cultivo, através da maior retenção de umidade e disponibilidade de nutrientes no solo (TEODORO et al., 2011). As ações de pesquisas sobre o comportamento dessas espécies de cobertura do solo, nas condições da Caatinga são bastante incipientes, o que de certa forma dificulta a adoção da prática pela maioria dos agricultores familiares da região (TEODORO et al., 2010). Portanto, a evolução desses sistemas necessitam de importantes investimentos, capital de giro e acesso à tecnologia. No entanto, essa evolução ainda encontra-se, na sua maioria, na dependência de políticas públicas de apoio, pois dispõem de recursos financeiros escassos. As atuais demandas na geração de tecnologias apropriada aos agricultores da região, também fazem parte do aparato de investimentos necessários para o desenvolvimento da agricultora familiar da região. Frente a essas expectativas de mudanças do paradigma regional e nacional, a construção participativa e adoção de estratégias, que possibilitem a proteção e melhoria contínua do solo em região de clima semiárido, poderá ser uma das alternativas para o sucesso e perpetuação das atividades agrícolas em regiões que compartilhem destas características. MATERIAL E METODOS Especificamente, buscou-se experimentar alternativas para contribuir com maior eficiência dos sistemas agrícolas regionais, implantado e avaliando técnicas baseadas em princípios agroecológicos através de metodologias participativas junto ás Escolas Família Agrícola (EFA), de maneira construtiva com os agentes sociais envolvidos no processo. As ferramentas participativas, utilizadas nesta pesquisa para a escolha das demandas foram: Observação participante e Chuva de ideias. Essas técnicas são classificadas como ferramentas de diagnósticos e foram aplicadas de acordo GEILFUS, (2002). O objetivo central da Observação Participante foi compreender a realidade dos agentes envolvidos no “dia a dia” da escola. Compartilhar das atividades da comunidade é importante para entender as ações e alternativas do grupo. Participar de tarefas cotidianas (refeições, mutirões, reuniões, descansos) pode elucidar, muitas vezes, mais do que alguns questionários (GEILFUS, 2002). A observação participante foi realizada nas Escolas Família Agrícola, de Virgem da Lapa-MG e Itaobim-MG, durante o período de oito meses. Foram visitas mensais onde se teve contato com os estudantes, gestores e educadores, e sua rotina diária de acordo com seus ambientes. Já chuva de ideias foi utilizada para obter informações relacionadas, a escolha de temas centrais para discussões e aprofundamento durante toda execução do projeto, e a possibilidade de melhoria e otimização de um sistema produtivo, trabalhando em reuniões com o grupo de educadores e estudantes, buscando a percepção das pessoas (GEILFUS, 2002). Assim, frente às demandas que foram levantadas com as ferramentas participativas. Os aspectos técnicos que compreende as experimentações com a montagem de ensaios a campo, teve uma questão principal, o manejo das unidades ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2724 2014 produtivas, tomando como eixos orientadores: 1. Peculiaridades edafoclimáticas do médio Vale do Jequitinhonha; 2. Estratégias que possibilitem o uso e permanência agrícola dos solos em regiões de semiárido. Nas distintas etapas de execução do projeto, foram realizados encontros, “troca de saberes” e atividades sócio educativas, visando compartilhar técnicas, experiências, o empirismo regional, e a realidade agrícola atual, entre os diferentes nichos de participantes das linhas de ação. Concomitante, porém após um período de levantamento e escolha das demandas junto aos professores, pais e estudantes das escolas, houve a implantação, monitoramento e avaliações experimentais, tendo em vista a construção e apropriação de técnicas de manejo, condizentes com a realidade local. Uma experimentação foi conduzida na área da Escola Família Agrícola Bontempo - EFAB, em Itaobim – MG, latitude Sul 16°3 6'12.90" e longitude Oeste 41°33'1.78", com 287 m de altitude. Na região de oc orrência do bioma de Caatinga, com clima caracterizado de semiárido, com pluviometria média anual próxima a 700 mm (SILVA et al., 2009b; INMET, 2013). O outro experimento foi realizado na Escola Família Agrícola de Virgem da Lapa - EFAVL, em Virgem da Lapa – MG, latitude Sul 16°52'4.64" e longitude Oeste 42°19'35.93", com 337 m de altitude. Na região de o corrência dos biomas de Cerrado e Caatinga, com clima caracterizado de subúmido a semiárido, com pluviometria média anual de 740 mm (SILVA et al., 2009b; INMET, 2013). Foi definida uma área de 864 m2 do pomar de bananeiras em cada escola, para montar o experimento de adubação verde. A experiência foi conduzida de forma que a informação gerada pudesse também ser usada pela comunidade científica, além do caráter didático-pedagógico que a experiência contem para a proposta do projeto, para a formação em Agroecologia. Dessa forma, foram sistematizadas as ações relativas à “Construção e apropriação de técnicas e ferramentas agroecológicas, condizentes com a realidade agrícola local”, do projeto em questão. Resultados relacionados especificamente às atividades de experimentação participativa, realizadas nas Escolas Família Agrícola (EFA) de Itaobim e Virgem da Lapa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foi desenvolvido o projeto intitulado “Promoção da Sustentabilidade, através do Manejo da Agrobiodiversidade, como base para a Agricultura Familiar no Vale do Jequitinhonha”, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq. As ações propostas nele compreendem a continuidade no processo de geração e apropriação coletiva de conhecimento com base ecológica, para agricultura familiar do Vale do Jequitinhonha, já iniciada por outras ações na região. Assim, tal projeto, previa resgatar, experimentar e validar técnicas de produção e processos agroecológicos, visando à utilização de técnicas de manejo condizentes com a realidade local, em aspectos sociais, ambientais e econômicos, muitas vezes diferente da agricultura largamente usada em todo país, e principalmente em regiões de baixo acesso a informações. Nesse processo, foram discutidos temas como, a importância da agricultura, concepções de agricultura, práticas de manejo agroecológico dos sistemas ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2725 2014 produtivos, possibilidades e resultados dos sistemas agrícolas em regiões com baixa disponibilidade hídrica (Figura 1). FIGURA 1. Vegetação típica de regiões de caatinga, no município de Virgem da Lapa, região do Vale do Jequitinhonha/MG. Fonte: Acervo de Quaresma, M. A. L. Registro a partir da pesquisa de campo/ 2011 por Quaresma, M. A. L. Após oito meses, realizando espaços de percepções e formações, foram levantadas diversas práticas agrícolas de interesse, a serem realizadas nas escolas. Porém devido a restrições na alçada de abrangência do projeto, tal como, limitações orçamentárias, número de indivíduos participantes da equipe, distância e tempo para execução, algumas práticas tiveram de ser priorizadas. As escolas chegaram a uma definição quanto à área e foco de interesse, correspondendo às práticas de manejo que eleve a eficiência da permanência da água nos sistemas agrícolas, que foi apontado como principal gargalo produtivo da região, tão como seus efeitos na produtividade. Dessa maneira, se tornou consensual a ideia do uso de culturas vegetais para cobertura e proteção dos solos. Portanto, o objetivo principal dessa etapa do projeto foi implantar prática conservacionista de solo, nas áreas de interesse, a fim de tentar atingir os almejos dos estudantes e professores. Dessa forma, em ambos os casos, foi implantado o cultivo de plantas para cobertura do solo, especificamente leguminosas herbáceas perenes de hábito volúvel, para usá-las de exemplificação, quanto às possibilidades de uso da cobertura do solo em consórcio com culturas agrícolas de interesse econômico, em ambos os casos a cultura da bananeira. O qual foi ministrado diversos “espaços”, enfatizando a importância e possibilidades de uso da técnica, e nunca relacionando exclusivamente às plantas que foram utilizadas nesse experimento. Durante todo o tempo de condução das experiências, os estudantes da UFVJM realizaram visitas mensais às escolas envolvidas para promoção do processo de formação, através das avaliações, discussão e coleta de dados dos experimentos. Ao final de cada dia de visita se fazia a “roda de discussão” das informações e observações geradas no campo experimental, de modo a se praticar ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2726 2014 à relação dialógica entre o saber cientifico sendo gerado e o saber empírico das observações diárias dos atores envolvidos (CANÇADO et al., 2013), nesse caso, os estudantes e educadores de cada EFA. Posteriormente às visitas, quando necessário, a equipe prosseguia com mensurações laboratoriais, no campus da UFVJM, em Diamantina – MG, de modo a incrementar as informações científicas geradas. Ao longo desse período experimental, foram feitos diversos debates em vista às observações de campo, pela equipe técnica, estudantes e educadores envolvidos, trazendo observações laboratoriais a fim de embasar os diversos efeitos e interações notadas com as experiências (Figura 2). FIGURA 2. Consórcio de bananeiras e leguminosas herbáceas perene, no município de Itaobim, região do Vale do Jequitinhonha/MG. Fonte: Acervo de Quaresma, M. A. L. Registro a partir da pesquisa de campo/ 2011 por Quaresma, M. A. L. Tais resultados corroboraram as positivas perspectivas, do uso de leguminosas como cobertura de solo nos pomares de bananeiras. A melhoria no ambiente de cultivo refletiu diretamente na produção da bananeira, demonstrando possíveis ganhos proporcionados ao produtor de banana, o que ressaltava aos olhos dos jovens agricultores envolvidos, naquele instante, estudantes das EFA’s. Porém, também alguns cuidados foram observados, como o manejo do sistema de consórcio, pois podem ocorrer efeitos supressivos, como o sombreamento e o abafamento das mudas de bananeiras. Onde, ressalta-se a importância da continuidade das práticas de manejo no bananal, como o coroamento das touceiras, limpeza, enleiramento de folhas velhas e raleamento de plantas por touceira. Para que assim, junto aos benefícios promovidos pela cobertura do solo, possam ocasionar ganhos produtivos a essa cultura de interesse. Outra informação bem sedimentada com as experiências, foi que o somatório de benefícios para os atributos do solo, também obteve reflexos positivos no desenvolvimento e crescimento vegetativos das bananeiras. Mesmo para as plantas “mães” que já se encontravam em estágio mais avançado de desenvolvimento, quando ocorreram as instalações das experiências. PERIN et al. (2009) e BARBOSA ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2727 2014 et al. (2013) observaram que, o sucesso do consórcio entre fruteiras e plantas de cobertura de solo, depende de diversas características comportamentais de cada espécie, tanto referente às suas necessidades hídricas e nutricionais, quanto ao seu hábito de crescimento. Assim, esse trabalho proporcionou a sistematização das informações do comportamento de leguminosas herbáceas perenes na região do semiárido mineiro, como a avaliação das influências do consórcio das mesmas com a cultura da banana. Além disso, possibilitou que agricultores, educadores e estudantes envolvidos, refletissem a partir do conhecimento construído nos espaços experimentais de cada comunidade envolvida. E notar que os trabalhos conduzidos de forma participativa, foram importantes para que as pessoas envolvidas se apropriassem do conhecimento gerado, as quais, ao final do processo relataram estar implantando e testando praticas conservacionistas em suas propriedades. Ao término da condução das experiências, foi realizado um dia de debate, de troca da vivência, onde cada EFA participante trouxe para a discussão a sua visualização dos pontos positivos e negativos observados no desenvolver do projeto, compartilhando os diversos temas e técnicas estudadas. Culminando com a construção e sistematização das informações do projeto em um documento que sedimenta o conhecimento gerado a partir do diálogo entre o saber científico e o empírico que as experimentações participativas promoveram. Esse documento completo forma o livro “CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO e interface com o processo educativo das escolas Famílias Agrícolas no Vale do Jequitinhonha (MG)”, que está disponível para ser distribuído como forma de socialização das experiências realizadas em experimentação participativa com as Escolas Família Agrícolas (EFA’s) do Vale do Jequitinhonha, através da parceria entre Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e a Associação Mineira das Escolas Família Agrícola (AMEFA). CONCLUSÕES No contexto da apropriação da técnica, do manejo de plantas de cobertura para pomares na região do semiárido no Jequitinhonha, os experimentos atingiram os seus objetivos. Pois além de terem apresentado resultados científicos satisfatórios às expectativas agronômicas, através da manutenção dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Também atenderam a demanda social apresentada pelas EFA’s por uma técnica de convivência com a realidade dos agricultores regionais, principalmente relacionadas as restrições hídricas. Gerando reflexões, demonstrações e alternativas para melhorar a agricultura, o que significa possibilidade real de melhoria nas condições produtivas e por consequência socioeconômicas dos agricultores da região. Outra contribuição do trabalho foi em caráter mais abrangente, como referencial para adoção da técnica do manejo de plantas de cobertura para pomares, que apesar de depender de muitos fatores a serem levantados em cada região, aponta-se uma possibilidade viável de aumentar a eficiência no cultivo de frutíferas nessas áreas com restrições hídricas. Além de reforçar a importância das experimentações locais, com metodologia participativa de apropriação do conhecimento gerado, tanto quanto, a formação de banco de dados para redução da carência de informação tecnológica para agricultura na região semiárida. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.10, n.19; p. 2728 2014 AGRADECIMENTOS À Escola Família Agrícola de Virgem da Lapa e a Escola Família Agrícola de Itaobim pelo apoio oferecido na realização deste trabalho; CNPq; MDA/SAF; MDS/SESAN pelo auxílio financeiro. A FAPES, pelo auxílio financeiro à pesquisa, através da taxa de bancada e pela bolsa de Doutorado. REFERÊNCIAS BARBOSA, F. E. L.; LACERDA, C. F.; FEITOSA, H. O.; SOARES, I.; FILHO, F. L. A.; AMORIM, A. V. Crescimento, nutrição e produção da bananeira associados a plantas de cobertura e lâminas de irrigação. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. v.17, n. 12, 2013. CANÇADO, A. C.; SAUSEN, J. O.; VILLELA, L. E. 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