Maurício Rocha Alves de Carvalho São Paulo, 30 de novembro de 2012. O mês de novembro foi tranquilo nos mercados de capitais do ocidente. A bolsa americana manteve-se estável e as bolsas europeias subiram. O índice S&P 500 já acumula um rendimento de 13% no ano e o DAX da Alemanha, 24% em dólares. Por aqui, o Ibovespa teve ligeira alta, algo inferior a 1% nominal, mas perdeu quase 3% em dólares. No acumulado do ano, a bolsa brasileira registra queda de 10% em dólares. O destaque do mês foi a bolsa da China, que caiu e agora também acumula uma perda de cerca de 10% em dólares no ano. O ano está chegando ao fim e não aconteceu a temida ruptura por conta dos problemas da Europa. Isso se deve, principalmente, ao alto grau de intervencionismo dos governos, via bancos centrais, que continuam inundando os mercados de dinheiro. Essa estratégia é correta no curto/médio prazo, mas a contrapartida será um endividamento muito grande dos países e possíveis “calotes” de dívida soberana no futuro. Mas no curto prazo as coisas estão se acomodando. O Eurogrupo trabalha para sustentar os países do bloco. A Grécia conseguiu fechar os acordos de austeridade para viabilizar seus planos de resgate, e a possibilidade de sua saída do Euro está descartada. Já a Espanha obteve uma linha de € 37 bilhões para resgatar seus bancos. Os Estados Unidos reduziram seu nível de incerteza política e econômica após a reeleição de Obama, que, por sua vez, já começou a negociar com o Congresso para acertar a situação fiscal. O pragmatismo americano já os tirou de várias crises e as indicações por lá são boas. Esse ano, vão crescer mais de 2%, que não é muito mas provavelmente será o dobro do Brasil. Já na China ainda existe muita insegurança sobre os rumos que os novos dirigentes irão imprimir ao país. Espera-se que os programas de estímulo ao crescimento voltados para o consumo interno se desenvolvam e que o país continue a crescer em torno de 7,5% aa. No Brasil, o governo Dilma se mostra cada vez mais intervencionista. Inconformado com o baixo crescimento, nossos dirigentes mexem com os setores produtivos. Os bancos estão na mira para segurar os juros, as companhias elétricas precisam baixar a conta de energia, a Petrobras não pode subir a gasolina e o BNDES vem atrás, financiando o que é eleito como prioridade. Belo Monte acabou de conseguir R$ 22,5 bilhões, o maior empréstimo da história do banco, equivalente a duas vezes o valor de mercado da Eletrobrás na bolsa, holding de energia do governo. Essa política é anacrônica e pouco eficiente, pode espantar o capital e inviabilizar nosso crescimento de forma sustentável. Temos de ter em conta que nosso país não tem poupança interna e precisa dos investidores de fora para crescer. Hoje a Ambev é a empresa mais valiosa do Brasil, passou a Petrobras, que vem se desvalorizando há alguns anos. E qualquer uma das duas vale por mais de 25 Eletrobrás. Será que cerveja é tão importante assim? Ou será que o investidor está dando mostras de não concordar com nossa política econômica? A presidente da Agência de Rating S&P para o Cone Sul, Regina Nunes, declarou recentemente que o Brasil tem boas perspectivas, mas precisa resolver seus problemas de infraestrutura, uma conta de mais de US$ 700 bilhões a ser paga nos próximos 5 anos. Isso só se viabilizará com investimentos externos da ordem de US$ 100 bilhões ao ano. Até a Bolívia, fora dos mercados de capitais há 90 anos, conseguiu captar recursos recentemente. Infelizmente, pelo marasmo apresentado na nossa bolsa ao longo desse ano, os investidores estão desistindo do Brasil. A fila anda e o México hoje está tomando o lugar do Brasil nos objetivos dos investidores. É, entre outras coisas, o maior exportador de TVs de tela plana do mundo e pode ultrapassar a China em exportações para os EUA. As montadoras da América Latina escolheram o México para produzir seus automóveis com valor agregado, enquanto nós ficamos com os “populares”, que têm baixa tecnologia. Isso gerou um deficit comercial de mais de US$ 1,5 bilhões em 2011. Mesmo com todos os incentivos dados pelo nosso governo. A política cambial está mudando. A equipe econômica trabalha com “faixas” e, nas últimas semanas, parece que o nível mudou de R$ 2,02 a R$ 2,05, para R$ 2,06 a R$ 2,10. Pode ser uma forma de o governo ajudar a indústria local sem precisar mexer nas variáveis mais difíceis. Se o câmbio subiu 12% nesse ano, é possível que o governo fique tentado a empurrar mais uns 10% até o final de 2013. Se a inflação deixar, acredito que o dólar possa chegar a R$ 2,30 daqui a um ano. Quanto aos juros, devem permanecer em 7,25%. O ano de 2013 pode ver uma retomada dos investimentos do governo, que responderia de onde virão os 4% de crescimento prometidos e, ainda por cima, prepararia o clima para a eleição de 2014. Maurício Rocha Alves de Carvalho email: [email protected]