Magnetização Espontânea em Modelos de Ising Uni-Dimensionais com Interação de Longo Alcance por Leonardo Cavalcanti de Mélo Orientador: Leandro Martins Cioletti Brasília 2014 Leonardo Cavalcanti de Mélo Magnetização Espontânea em Modelos de Ising Uni-Dimensionais com Interação de Longo Alcance Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Matemática da Universidade de Brasília como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Matemática. Orientador: Leandro Martins Cioletti Brasília 2014 Melo, Leonardo C. Magnetização Espontânea em Modelos de Ising Uni-Dimensionais com Interação de Longo Alcance 89 páginas Dissertação (Mestrado em Matemática). Universidade de Brasília. Programa de PósGraduação em Matemática. 1. Modelo de Ising 2. Mecânica Estatística I. Universidade de Brasília. Departamento de Matemática. Comissão Julgadora: Leandro Martins Cioletti UnB Chang Chung Yu Dorea UnB Artur Oscar Lopes UFRGS Agradecimentos Gostaria de agradecer a todos os colegas, alunos da matemática da UnB, que alimentam um ambiente de discussão aberto e cooperativo na instituição. O incentivo dos colegas foi muito importante para manter meu ânimo durante o curso. Agradeço a meus professores de álgebra, Elaine e Leandro. Minha aprovação naquele curso se deve à ajuda deles. Agradeço também aos “irmãos” de orientação Roberto, Jamer e Josimar por todas as discussões matemáticas, mas também pelo miolo de pote. Agradeço aos demais colegas de turma, com quem tive muitas oportunidades de conversar e aprender sobre matemática e outras coisas, especialmente às incentivadoras Lury e Chris. Também ao meu camarada Valter, por vir à capital do cerrado e dar-me a oportunidade de conhecê-lo. Ainda terei a chance de aprender um pouco de geometria com ele. Agradeço ao professores que me guiaram neste curso e nos cursos prévios: Claus Akira, Gilberto Fernandes Vieira, Daniele Baratela, Pedro Roitman, Noraí Rocco, Ricardo Ruviaro, Cátia Gonçalves e Leandro Cioletti. Agradeço aos envolvidos na administração da pós-graduação em matemática da UnB, especialmente à Bruna, que sempre esteve presente para resolver todas as burocracias da forma mais simples possível. Também à Profa. Liliane, coordenadora da pós-graduação durante boa parte do meu curso, pela sua dedicação. Durante sua administração ela sempre procurou as melhores alternativas para permitir a mim e aos demais colegas o máximo de tranquilidade com questões práticas para que pudéssemos nos dedicar quase integralmente aos estudos. Devemos bastante a ela. Agradeço a meus superiores no Ministério do Planejamento por admitirem a licença que me permitiu investir em minha formação. Foram responsáveis diretos por isso Márcio Oliveira e Luiz Guilherme Henriques. Também aos colegas de trabalho por cobrarem a minha conclusão. Leila Frossard foi a fiscal mais ativa e não me deixou atrasar mais um minuto. Agradeço aos meus familiares, especialmente a Cássia, pela compreensão e apoio neste projeto. Envolvi-me neste curso a despeito da desaprovação de boa parte dos conhecidos. O valor que cultivamos pelos estudos herdado de Bartolomeu e Beatriz me impulsiona a sempre procurar novidades. Simplesmente não tenho outra opção. Como está pichado no túnel da 215 norte: “Opte por aquilo que faz seu coração vibrar” - Osho. Agradeço ao meu orientador, Prof. Leandro Cioletti, pela sua paciên- cia e solicitude. Desde que o conheci, vejo o Prof. Leandro trabalhar incansavelmente, sempre animado com o próximo desafio. Obrigado por admitir orientar-me, mesmo ciente das minhas restrições práticas. Obrigado também pelas inúmeras contribuições para melhorar este texto. Não fosse seu suporte e incentivo, provavelmente eu não conseguiria concluir este trabalho. Resumo Nesta dissertação de mestrado expomos alguns resultados clássicos relativos ao modelo de Ising em uma dimensão. O tópico final é a existência de transição de fase nos sistemas com interações de longo alcance (alcance infinito) cujo Hamiltoniano é formalmente dado por H=− X i,j:i<j 1 σi σj |i − j|α com 1 < α < 2. A exposição desse tema é baseada na referência [5]. Com objetivo de manter o texto auto-contido, foram incluídos vários capítulos introdutórios. Nesses capítulos iniciais são construídas algumas ferramentas que permitirão a abordagem do tema principal no último capítulo. Todas essas construções são baseadas na literatura disponível e não há inovações significativas. Dentre os tópicos preliminares apresentados estão a definição rigorosa do Modelo de Ising a volumes finitos, bem como do modelo de Curie-Weiss e do modelo Hierárquico. Para o modelo de Curie-Weiss a magnetização e a temperatura crítica são calculados explicitamente. Também são apresentadas as demonstrações para: algumas desigualdades de correlação; a existência do limite termodinâmico da magnetização de modelos ferromagnéticos; e uma relação entre a magnetização quadrática e a magnetização espontânea. Palavras-chave: Modelo de Ising unidimensional, Modelo de Curie-Weiss, Modelo Hierárquico, Sistemas ferromagnéticos, Desigualdades de correlação, Magnetização quadrática, Transição de fase. Abstract In this master thesis we present some classical results relative to the one-dimensional Ising model. The main subject is the existence of phase transition in systems with long range interactions (infinite range) and Hamiltonian formally given by H=− X i,j:i<j 1 σi σj , |i − j|α where 1 < α < 2. The exposition of the main theme is completely based on the reference [5]. Aiming to keep this text self-contained, we included some introductory chapters. In these background chapters we build some tools needed to handle the main theme on the last chapter. All of these constructions are based on the available literature and no important innovation is added. Among these preliminary topics are rigorous definitions of the Ising, CurieWeiss and Hierarchical models. The exact value of the magnetization and the critical temperature are explicitly computed for the Curie-Weiss model. We also provided the proofs for: some correlation inequalities; existence of the thermodynamic limit for magnetization in ferromagnetic models; and the relation between mean-squared magnetization and spontaneous magnetization. Keywords: One-dimensional Ising Model, Curie-Weiss model, Hierarchical model, Ferromagnetic systems, Correlation Inequalities, Mean-squared magnetization, Phase Transition. Apresentação O texto está dividido em 4 capítulos. O Capítulo 1, de introdução, traz um breve histórico referente ao modelo de Ising, define o modelo em uma caixa finita Λ ∈ Z e cita alguns dos principais resultados referentes a esse modelo. O Capítulo 2 trata de alguns resultados básicos importantes, exibindo demonstrações das três desigualdades de correlação de uso recorrente neste texto, as Desigualdades de FKG, GKS-2 e GHS. As duas primeiras citadas desigualdades, são utilizadas nas últimas seções desse capítulo para demonstrar a existência do limite termodinâmico da magnetização. Também é demonstrada uma relação entre a magnetização quadrática e a magnetização específica, que será importante para o desenvolvimento seguinte. O Capítulo 3 trata dos modelos de Ising com interação translacionalmente invariante. Há um tratamento extensivo do modelo de Curie-Weiss para o qual são calculadas analiticamente as seguintes funções termodinâmicas: pressão, energia livre e magnetização. Também é obtido rigorosamente a temperatura crítica e demonstrado que a magnetização nesse modelo nunca é inferior à magnetização de um outro modelo de Ising arbiP trário com M0 = i Jij constante, desde que a constante M0 seja a mesma em ambos os modelos. Esse último resultado garante a existência de uma região de temperaturas onde magnetização no modelo de Ising é nula para todos os sistemas somáveis (M0 < ∞), em outras palavras, garante que a temperatura crítica é finita. Por último, são apresentados outros modelos com interação do tipo lei de potência, Jij = J(|i − j|) = |i − j|α . São citados os resultados já conhecidos em 1969 sobre os modelos com esse tipo de interação, bem como consequências desses resultados a um espectro maior de modelos. O Capítulo 4 traz a demonstração primeiramente apresentada em [5] da positividade da magnetização quadrática abaixo de uma temperatura crítica positiva em modelos com interação de longo alcance da forma Ji,j = |i − j|α , desde que 1 < α < 2. Aspectos do Modelo Hierárquico utilizados na demonstração serão vistos em detalhe. Nesse capítulo são usados os resultados do Capítulo 2 para demonstrar que a positividade da magnetização quadrática a campo externo nulo implica na positividade da magnetização espontânea. Juntando com as conclusões do Capítulo 3 a respeito do Modelo de Curie-Weiss, vamos concluir que qualquer modelo com 1 < α < 2 tem temperatura crítica positiva e finita. Sumário 1 Contextualização 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 Definição do Modelo a Volume Finito 1.4 Resultados Clássicos . . . . . . . . . . . . . . 1 1 1 3 7 . . . . . 11 11 12 28 29 34 . . . . . . . . 39 39 40 41 47 53 58 65 67 4 Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 O Modelo Hierárquico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Comparando os Modelos Hierárquico e de Ising . . . . . . . . 4.4 Magnetização Quadrática e Magnetização Espontânea . . . . 4.5 Magnetização Quadrática Não-nula em Baixas Temperaturas 69 69 70 76 77 80 Referências Bibliográficas 87 2 Propriedades Gerais 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . 2.2 Desigualdades de Correlação . 2.3 Condições Exteriores . . . . . . 2.4 Magnetização a Volume Finito 2.5 Algumas Propriedades de SN /N . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Modelo de Curie-Weiss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.3 A Pressão do Modelo de Curie-Weiss . . . . . . . . . . . . . 3.4 Curie-Weiss e a Derivada da Pressão . . . . . . . . . . . . . 3.5 Magnetização Espontânea no Modelo de Curie-Weiss . . . 3.6 Comparação de um Modelo de Ising com Curie-Weiss . . . 3.7 Acoplamento Jij = |i − j|−α : Casos α ≤ 1 e α > 2 . . . . . . . . 3.8 Comparando Modelos com Interações do Tipo J(|i − j|) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capítulo 1 Contextualização 1.1 Introdução Este capítulo trata dos aspectos históricos e das definições a serem usadas por toda a dissertação. A seção 1.2 traz uma breve apresentação do meio histórico e dos problemas físicos que deram origem ao modelo de Ising. A seção seguinte, 1.3, traz a definição formal do modelo em uma caixa finita e define outras estruturas importantes para a apresentação posterior, como a magnetização específica. A última seção do capítulo, 1.4, elenca alguns resultados importantes relativos ao modelo de Ising, tanto em uma dimensão (tema deste texto), como em dimensões maiores. 1.2 Histórico A partir do século XX a compreensão dos materiais magnéticos tem sido de grande importância para o desenvolvimento tecnológico da humanidade. Ímãs são parte essencial de discos rígidos, caixas de som, motores elétricos, etc. Boa parte do desenvolvimento técnico referente ao magnetismo e suas aplicações deu-se a partir do fim do século XIX. No início do século passado, na década de 1920, um grande problema para a comunidade física era compreender, a partir de primeiros princípios, a existência de materiais que, após submetidos a um campo magnético externo, apresentavam uma magnetização permanente mesmo após a extinção do campo externo. Em seus estudos sobre a propriedades magnéticas dos materiais, Pierre Curie observou em 1895 que uma classe de materiais perdia a magnetização quando aquecidos acima de uma certa temperatura crítica. Atu- Capítulo 1. Contextualização 2 almente essa temperatura limite é conhecida como temperatura de Curie ou ponto de Curie. Um metal com essa propriedade utilizado desde a antiguidade é a magnetita (óxido de ferro). Como o ferro e a magnetita são os materiais mais abundantes com a dita propriedade magnética, tais materiais foram denominados materiais ferromagnéticos. Na tentativa de explicar os fenômenos físicos característicos dos materiais ferromagnéticos, em especial a existência de duas regiões de temperatura com propriedades magnéticas distintas, foram criados modelos microscópicos com uma interação entre seus constituintes capaz de reproduzir aqueles fenômenos macroscópicos conhecidos. Nesse sentido, os constituintes elementares mais naturais para compor os materiais ferromagnéticos eram os dipolos magnéticos. Assim, os modelos procuravam simular a interação de um grande número de dipolos magnéticos presos a uma estrutura cristalina similar à dos metais. Por esse motivo, os modelos microscópicos para descrever as propriedades magnéticas dos metais normalmente se dão sobre uma rede (grafo) periódica, que simula a estrutura cristalina, em cujos sítios são postos os dipolos magnéticos. O modelo de Ising surgiu nesse ambiente histórico com o intuito de descrever as citadas propriedades dos materiais ferromagnéticos a partir de uma estrutura matemática simples. Ao invés de admitir dipolos magnéticos orientados em qualquer direção do espaço, cada sítio da rede é preenchido apenas com um valor inteiro, como por exemplo apenas admitindo os valores -1 e +1. Isso é equivalente a estipular uma direção preferencial. Os dipolos ficam restritos a estar paralelos ou antiparalelos (apontando na mesma direção, mas com sentidos opostos) entre si. Essas simplificações buscavam isolar as estruturas fundamentais realmente responsáveis pelos efeitos ferromagnéticos, sendo a mudança do comportamento macroscópico a partir de uma temperatura crítica a característica mais peculiar que esses modelos teriam de prever. Apesar de classicamente os dipolos magnéticos poderem estar orientados em qualquer direção, no âmbito da teoria quântica o modelo de Ising se mostrou ainda mais adequado a descrever os sistemas para os quais foi inicialmente elaborado, já que a interação entre os dipolos magnéticos (daqui em diante, spins) é realmente restrita a um conjunto finito de valores. Para o caso da interação entre dois elétrons, a energia de interação é de fato proporcional a +1 ou -1, dependendo de os spins estarem alinhados paralela ou antiparalelamente. Embora feito sob medida para explicar as propriedades magnéticas de Capítulo 1. Contextualização 3 certos materiais, o modelo de Ising se mostrou suficientemente versátil para modelar diversos outros problemas em que interações entre constituintes fundamentais resulta em uma mudança do comportamento macroscópico do sistema. Já recorreu-se a essa construção para modelar sistemas tão diversos como polímeros [3] e processos eleitorais [11]. 1.3 Definição do Modelo a Volume Finito Na tentativa de descrever os fenômenos magnéticos citados na seção anterior foi criado um modelo que atribui uma probabilidade a cada estado possível do sistema. Contudo, teria de haver alguma forma de ponderar nesse modelo a influência dos dois fatores concorrentes, a aleatoriedade (ou desordem) e a minimização da energia do sistema como um todo. Para dar conta do primeiro fator, a desordem, o modelo de Ising finito com N spins permite a realização de estados que são sequências de N variáveis assumindo os valores −1 ou +1. Para considerar o efeito da minimização da energia, foi necessário estipular uma distribuição de probabilidade compatível com esse efeito. Isto é, estipulou-se uma distribuição de probabilidade privilegiando os estados com menor energia. Para finalizar a descrição do modelo, definiu-se uma função de energia compatível com o comportamento microscópico esperado dos spins, ou melhor, uma função que atribui menor energia a spins alinhados na mesma direção. O modelo de Ising unidimensional no volume Λ = Z ∩ [−N, N ] pode ser definido como sendo o processo estocástico {Xt }t∈T definido no espaço de probabilidade (ΩΛ , FΛ , PΛ ), onde o conjunto de índices T = Λ, o espaço amostral ΩΛ = {−1, 1}Λ , FΛ é a σ-álgebra das partes de ΩΛ e a medida de probabilidade PΛ é dada adiante em (1.1). Para cada t ∈ Λ a variável aleatória Xt : ΩΛ → {−1, 1} é definida no ponto (σ−N , . . . , σN ) ≡ σ ∈ ΩΛ por Xt (σ) = σt . No contexto de Mecânica Estatística as variáveis aleatórias Xt ’s são chamadas de spins. Neste texto vamos adotar a notação consagrada da área e denotar a variável aleatória Xt por σt . Uma observação sobre essa notação é que frequentemente os elementos de ΩΛ são chamados de σ ≡ (σ−N , . . . , σN ) e assim a variável aleatória σt calculada neste ponto é dada por σt (σ) = σt . Claramente o lado direito desta igualdade não é a variável aleatória σt , e sim seu valor no ponto σ. É claro que para ω ∈ ΩΛ com ω = (ω−N , . . . , ωN ) temos σt (ω) = ωt e neste caso não há nenhuma chance de confusão. Observamos porém que ficará claro Capítulo 1. Contextualização 4 pelo contexto se σt denota uma variável aleatória ou o valor da t-ésima coordenada do vetor σ = (σ−N , . . . , σN ). O conjunto ΩΛ também é chamado de espaço de estados e um elemento σ ≡ (σ−N , . . . , σN ) desse conjunto é interpretado como um estado do sistema de partículas na rede Λ = [−N, N ] ∩ Z. A probabilidade do sistema ser encontrado no estado σ é dado por: PΛ (σ) = exp[−βHΛ (σ)] , ZΛ onde ZΛ = X exp[−βHΛ (ω)]. (1.1) ω∈ΩΛ A função HΛ é conhecida como hamiltoniano do sistema. HΛ (σ) é a energia do sistema no estado σ e no modelo de Ising defini-se como: HΛ (σ) ≡ HΛ (σ−N , . . . , σN ) = − X −N ≤i<j≤N Jij σi σj − N X hi σi (1.2) i=−N onde {Jij } e {hi } são constantes reais fixadas. O modelo de Ising D-dimensional a volume finito é definido de maneira análoga, a diferença é que o conjunto de índices T do processo {Xt }t∈T é agora da forma T = Λ = ZD ∩ [−N, N ]D . A medida de probabilidade PΛ definida em (1.1) segue a tradição da termodinâmica. Para pesar as influências concorrentes da aleatoriedade e da minimização de energia a probabilidade de um certo estado σ ser observado diminui exponencialmente com sua energia HΛ (σ), o que dá origem a expressão Como podemos perceber, o parâmetro β entra em (1.1) como fator multiplicativo da energia, definindo precisamente como uma unidade de energia extra diminui a probabilidade de um determinado estado. Em outras palavras, β define a escala da energia. β é uma constante dependente apenas de um parâmetro físico, a temperatura do sistema. Visto que β = kB1T , comumente β é denominado simplesmente inverso da temperatura, apesar de, a rigor, ser proporcional ao inverso da temperatura. A constante de proporcionalidade kB é conhecida por constante de Boltzmann. Essa é a constante fundamental que traduz a relação entre energia e temperatura. Ela define quanto a variação de uma unidade de temperatura influi na minimização de energia, convertendo a unidade de medida de temperatura em unidades de energia. Em (1.1), a dependência de PΛ com respeito as constantes β > 0, {hi }, {Jij } foram omitidas para não carregar a notação. Quando for necessário explicitar tal dependência, escreveremos, por exemplo, PΛ,β,h quando hi = h ∈ R para todo i ∈ Λ. Capítulo 1. Contextualização 5 Observe que ZΛ funciona como uma constante de normalização e é deP finida para garantir σ∈ΩΛ P(σ) = 1. Assim, a presença de ZΛ no denominador em (1.1) garante que PΛ é uma medida de probabilidade. ZΛ define como a probabilidade é particionada entre os estados σ ∈ ΩΛ . Pensando nas constantes β, {hi }, etc como parâmetros, podemos olhar para ZΛ como uma função desses parâmetros. Com essa interpretação, ZΛ é costumeiramente referida como função de partição e, como mencionado acima, é dada pela expressão X ZΛ = exp[−βHΛ (ω)]. (1.3) ω∈ΩΛ Veremos mais a diante que várias informações importantes do modelo de Ising podem ser extraídas de ZΛ estudando, por exemplo, suas derivadas com respeito a β e h. Para garantir ainda que a interação privilegie os estados σ ∈ ΩΛ com dipolos alinhados, a energia total de um estado é construída através da soma entre interações de pares de spins, sendo a interação entre um par de spins dada por Hi,j = −Jij σi σj , (1.4) onde Jij é uma constante não negativa. O sinal de menos que a precede acarreta menor energia se ambos os spins σi e σj tiverem o mesmo sinal. Na energia do estado σ também consta um termo referente à interação do spin no sítio i ∈ [−N, N ] ∩ Z com o campo magnético externo hi nesse mesmo sítio. Somando tudo retomamos a energia do estado σ no modelo de Ising finito: HΛ (σ) = X X 1 { − Jij σi σj − hi σi }, 2 i∈Λ j∈Λ com Jkk = 0 ∀k ∈ Λ. (1.5) A multiplicação por 12 em (1.5) dá conta dessa duplicidade, assim, o somatório também pode ser equivalentemente escrito restringindo-se i < j e omitindo o fator 12 , forma que utilizamos anteriormente. Os sistemas com energia descrita como na equação acima, com um menos precedendo uma constante de interação não-negativa, são chamados sistemas ferromagnéticos, pois privilegiam os estados com spins alinhados paralelamente. Em diversas situações vamos tomar hi ≡ h, ∀i ∈ Λ e nesses casos, quando conveniente, explicitaremos a dependência de HΛ com respeito a {hi } escrevendo HΛ,h . A constante h é chamada de campo externo ou campo magnético externo. As constantes Jij são denominadas constantes de acoplamento e vamos assumir que são simétricas no seguinte sentido: Jij = Jji . Capítulo 1. Contextualização 6 A seção anterior nos mostrou que, ao menos em sua origem histórica, o tópico de maior interesse na análise dos sistemas aqui descritos era o comportamento da magnetização com a variação dos parâmetros externos h e β. Para chegarmos ao que será chamado magnetização, vamos precisar falar do valor esperado de uma variável aleatória com respeito à medida de probabilidade PΛ . Dada uma função f : ΩΛ −→ R que atribui a cada estado σ um valor real f (σ), denotaremos por hf iΛ,β,h o valor esperado de f com relação à medida PΛ,β,h , isto é: hf iΛ,β,h = X X f (σ)PΛ,β,h = σ∈ΩΛ f (σ) σ∈ΩΛ exp[−βHΛ (σ)] ZΛ (1.6) A magnetização é o valor esperado da soma de todos os spins do sistema. Assim o magnetização no modelo de Ising ao inverso da temperatura β > 0 sujeito a um campo externo h, notação MΛ,β,h , é dada por MΛ,β,h = hSΛ iΛ,β,h = * X + (1.7) σi i∈Λ Λ,β,h E a magnetização específica, ou magnetização por spin, é definida como sendo MΛ,β,h dividido pelo número de spins do sistema, ou seja: mΛ,β,h = MΛ,β,h MΛ,β,h = . |Λ| 2N + 1 (1.8) Tanto MΛ,β,h como mΛ,β,h são definidas em termos de funções contínuas em β e em h, logo MΛ,β,h e mΛ,β,h também são contínua em β e h. Seja (−σ) o estado obtido a partir de σ multiplicando todas suas coordenadas por (−1), isto é, −σ ≡ (−σ−N , . . . , −σN ). Segue da Equação (1.5), com hi constante igual a h, que HΛ,β,−h (σ) = HΛ,β,h (−σ). Notando que a aplicação σ 7→ (−σ) define uma bijeção de ΩΛ em si mesmo, podemos verificar que PΛ,β,−h (σ) = PΛ,β,h (−σ). Dessa observação, de (1.6) e de (1.7) chegamos à seguinte relação: MΛ,β,−h = XX σi PΛ,β,−h (σ) = σ∈ΩΛ i∈Λ =− XX σi PΛ,β,h (−σ) σ∈ΩΛ i∈Λ XX X X (−σi ) PΛ,β,h (−σ) = − σi PΛ,β,h (σ) σ∈ΩΛ i∈Λ (1.9) −σ∈ΩΛ i∈Λ = −MΛ,β,h . Como era de se esperar, a inversão do campo externo simplesmente Capítulo 1. Contextualização 7 inverte a magnetização: MΛ,β,−h = −MΛ,β,h . Em outras palavras, a magnetização é uma função ímpar do campo externo h. Vimos que, além de ímpar, é contínua, logo MΛ,β,0 = 0. Assim, quando cessa o campo externo a magnetização também vai a zero suavemente. Dessa forma, o modelo de Ising a volume finito não explica a magnetização espontânea de amostras ferromagnéticas, já que numa amostra física a baixas temperaturas é observada magnetização não-nula mesmo quando o campo externo é removido do sistema, isto é, os spins se alinham, mesmo após a extinção do campo externo. Nos capítulos seguintes, veremos que, em alguns casos, é possível quebrar a continuidade da magnetização em h = 0 fazendo N −→ ∞. Isso restaura, ao menos para o caso de sistemas infinitos (Λ −→ Z), a possibilidade de termos lim+ lim mΛ,β,h > 0. h→0 Λ↑Z Isso motiva introdução do modelo de Ising a volume infinito, na tentativa de explicar com esse modelo matemático o fenômeno da magnetização espontânea de um ferromagneto. 1.4 Resultados Clássicos O modelo de Ising é, sem dúvida, um dos modelos mais importantes em Mecânica Estatística. Muitas variações do sistema definido neste capítulo já foram estudadas em detalhe. Na seção anterior, definimos esse modelo em subconjuntos finitos Λ ⊂ Z. No entanto, é possível dar uma definição do modelo de Ising diretamente em Z. O modelo assim construído se comporta como limite (em certo sentido), quando Λ → Z, dos modelos a volume finito que definimos na seção anterior. Neste trabalho, contudo, não apresentaremos tal construção. O leitor interessado pode encontrar uma discussão detalhada sobre esta definição em [2, 6, 12]. Como apresentamos no final da seção anterior, o tema de maior interesse neste texto é a existência de magnetização positiva quando h → 0+ . Perceba que nesta seção adotaremos um campo externo constante, isto é, hi = h para todo i ∈ Λ. Também vimos que, devido à magnetização ser uma função ímpar do campo externo h, esses sistemas com magnetização espontânea necessariamente apresentam uma descontinuidade da magnetização na origem h = 0. Os modelos de Ising definidos em Z que citamos anteriormente têm Capítulo 1. Contextualização 8 propriedades que podem ser extraídas da sequência de modelos finitos em {ΛN }N , com ΛN → Z, que o aproxima. Diz-se que o modelo a volume infinito apresenta transição de fase se lim lim mΛ,β,h > 0. h→0+ Λ↑Z Esse limite é chamado magnetização a volume infinito ou simplesmente magnetização. Para o modelo de Ising Ferromagnético (longo ou curto alcance) isso é equivalente à existência de mais de uma medida de Gibbs no sentido DLR ou à existência de mais de um Limite Termodinâmico. Para maiores detalhes sobre essas equivalências veja [2, 6]. Do mesmo modo que esses sistemas a volume infinito podem ser definidos por sequências de caixas em Z, podem também ser definidos sistemas em outros espaços nos quais seriam dispostos os spins. A escolha mais natural é algum conjunto ZD , D ∈ N. Sendo Z3 o conjunto mais próximo à disposição de spins eletrônicos no ambiente físico tridimensional, esse caso desperta particular interesse. Estudar a variação das características do sistema de acordo com a dimensão D é um tópico essencial para entender como as interações entre os entes individuais podem gerar ordem em grande escala. Outra questão a ser abordada ao se definir o sistema é a interação Jij entre os pares de spins (i, j). É comum se adotar interações translacionalmente invariantes, isto é, dependentes apenas da distância entre os spins, Jij = J(|i − j|). Essas interações podem ser tanto de alcance finito como de alcance infinito. Diz-se uma interação ser de alcance finito A se |i − j| > A ⇒ Jij = 0. Se não houver um limitante A, a interação é dita de alcance infinito. Quando as interações são restritas aos sítios mais próximos entre si, dizemos ser uma interação de primeiros vizinhos. Nesse caso, as constantes de acoplamento são Jij = J se |i − j| = 1 e Jij = 0 se |i − j| = 6 1. Um modelo definido com esse tipo de interação de curto alcance para a rede em Z foi estudado na tese de Doutorado de Ernst Ising [15]. Ising mostrou que no limite quando N → ∞ não existe magnetização espontânea em nenhuma temperatura. Posteriormente, mediante o uso de uma abordagem por matriz de transferência, também deduziu-se a não existência de transição de fase para qualquer modelo em D = 1 com interações translacionalmente invariantes e de curto alcance, para detalhes veja [1] e referências contidas. Capítulo 1. Contextualização 9 Já para dimensões maiores (D ≥ 2), uma técnica hoje conhecida como Argumento de Peierls foi pela primeira vez aplicada em [19], mostrando a existência em D = 2 de transição de fase abaixo de um certa temperatura, mesmo para a interação de primeiros vizinhos. Veremos nos capítulos seguintes que o aumento das interações entre os spins não diminui a magnetização. Assim, a existência de transição de fase em um modelo definido em D = 2 e com interação de primeiros vizinhos também garante a existência de transição de fase para qualquer modelo em D = 2, desde que a interação seja não-negativa e pelo menos as interações de primeiros vizinhos sejam não-nulas. A existência de transição de fase em D ≥ 3 também é garantida pelo Argumento de Peierls, já que um sistema em D = 3 pode ser visto como uma infinidade de planos paralelos com sistemas em D = 2. Os planos paralelos independentes equivalem a fixar em zero as constantes de acoplamento entre quaisquer dois spins de planos diferentes. Mas, como os planos não interagentes têm magnetização positiva por si só, não diminuímos essa magnetização ao aumentar as constantes de acoplamento ligando spins de planos diferentes. O mesmo argumento vale para D > 3, pois um sistema em D + 1 pode ser visto como uma série de sistemas em D acoplados entre si. O foco desta dissertação são os modelos de Ising definidos em D = 1, mas com interações de longo alcance. Veremos na seção 3.7 que a compreensão de tais modelos com constantes de acoplamento da forma Jij = 1/|i − j|α implica na compreensão de uma vasta gama de modelos de Ising com interações translacionalmente invariantes e de longo alcance. Assim, veremos aqui praticamente todos os casos unidimensionais com interações de dois corpos ferromagnéticas, invariantes por translação cujo o decaimento segue uma lei de potência com expoente α 6= 2. Os caso em que α ≤ 1 são de pouco interesse, pois a soma das energias de interação de um spin com os demais diverge. Nessa situação todos os spins se alinham e temos simplesmente lim lim mΛ,β,h = +1 h→0+ Λ→Z para qualquer valor do inverso da temperatura β > 0. Já o caso α > 2 é de pouco interesse pelo motivo inverso. Nesse caso, lim lim mΛ,β,h = 0 h→0+ Λ→Z Capítulo 1. Contextualização 10 para qualquer β > 0. Não há, assim, transição de fase se α > 2. Abordaremos esses sistemas com mais detalhes na Seção 3.7. Os outros modelos de Ising unidimensionais com interação translacionalmente invariante do tipo lei de potência, Jij = 1/|i − j|α , podem ser divididos em outras duas classes. A primeira classe é formada pelos sistemas com 1 < α < 2. Esse é o tema do Capítulo 4 desta dissertação, no qual é apresentada a demonstração da existência de transição de fase a partir de um certo β, seguindo passo-a-passo a argumentação de Dyson em [5]. A segunda classe é formada pelo modelo com α = 2. Neste caso temos Jij = |i − j|−2 e o modelo de Ising com tais constantes de acoplamento tem magnetização espontânea para temperaturas suficientemente baixas. A prova da existência de magnetização espontânea foi dada por Frölich e Spencer, cerca de dez anos depois da prova de Dyson para os casos 1 < α < 2. A exposição completa do argumento no caso limite requer técnicas distintas às que são abordadas nesta dissertação e o leitor interessado pode ver a referência [10], para maiores detalhes. Juntando todos esses casos, temos uma classificação completa para o modelo de Ising unidimensional quanto à ausência ou não de transição de fase quando as constantes de acoplamento são da forma Jij = 1/|i − j|α . Capítulo 2 Propriedades Gerais 2.1 Introdução Este capítulo trata de algumas propriedades gerais de modelos de Ising com constantes de acoplamento Jij ferromagnéticas, mas sem qualquer outra restrição. Em oposição, os capítulos seguintes tratarão de modelos cujas constantes Jij têm certas propriedades adicionais, como a invariância translacional. No início deste capítulo, na Seção 2.2, veremos três desigualdades de correlação e algumas consequências imediatas que serão utilizadas em várias passagens subsequentes. Em seguida, na Seção 2.3, definiremos os modelos com condições exteriores(ou condições de contorno). Nas Seções 2.4 e 2.5 utilizaremos as desigualdades da Seção 2.2 para demonstrar respectivamente a existência do limite da magnetização e uma condição suficiente para sua positividade. Neste capítulo, apesar de tratarmos de sistemas com um número finito |Λ| de sítios, quando calcularmos valores esperados e outras somas ponderadas com respeito a medida de probabilidade PΛ , utilizaremos os símbolos de integrais em ΩΛ para representar o somatório ponderado sobre o espaço das configurações ΩΛ . Para ser mais preciso, se κ : FΛ → R denota a medida da contagem em ΩΛ , então temos para qualquer função f : ΩΛ → R que hf iΛ ≡ X σ∈ΩΛ Z f (σ)PΛ (σ) = f (σ)PΛ (σ) dκ(σ). (2.1) ΩΛ A segunda igualdade segue imediatamente de ΩΛ ser finito, a aplicação σ 7→ f (σ)PΛ (σ) ser uma função simples e da definição da integral de Lebes- Capítulo 2. Propriedades Gerais 12 gue de uma função simples. Poderíamos ter optado por adotar simplesmente os somatórios, mas preferimos adequar a notação deste capítulo a outros textos onde são tomados modelos com infinitos estados (com sítios tomados em Z, ou spins tomando valores em R, por exemplo). 2.2 Desigualdades de Correlação Nesta seção demonstraremos duas desigualdades de correlação necessárias nos passos seguintes. Também apresentaremos uma consequência imediata de cada uma delas. Essas consequências correspondem à monotonicidade da magnetização específica tanto com o aumento do campo externo hi em qualquer spin i ∈ Λ, bem como com o aumento do acoplamento entre dois spins Jij . Veremos que para muitos sistemas, o aumento de hi ou Jij não diminui a magnetização. A primeira dessas desigualdades é denominada Desigualdade de FKG em homenagem a Fortuin, Kasteleyn e Ginibre, veja [9]. Prosseguimos com algumas definições prévias e o enunciado da desigualdade. Definição 2.2.1 (Ordem Parcial em ΩΛ ). Dadas duas configurações ω, σ ∈ ΩΛ , diz-se que ω σ quando: ∀i ∈ Λ temos que ωi ≤ σi . Definição 2.2.2 (Função Não-Decrescente). Uma função f : ΩΛ → R é dita não-decrescente se: ∀ω, σ ∈ Ω tal que ω σ temos que f (ω) ≤ f (σ). Observação 2.2.1. Funções não-decrescentes, no sentido introduzido acima, serão também as vezes chamadas de funções crescentes. Exemplos: • A função f (σ) = SΛ (σ) é crescente, já que a inversão de qualquer spin de −1 para +1 aumenta o valor de f (σ). • Também é crescente a função g(σ) = σα , que dá o spin no sítio α. Perceba que a alteração de qualquer spin em sítio diferente de α não altera o valor de g e a inversão do spin em α de −1 para +1 aumenta g de −1 para +1. Capítulo 2. Propriedades Gerais 13 • A função h(σ) = σa σb não é crescente. Observe que se o estado σ possui σa = σb = −1, temos h(σ) = +1. Porém se σ ea = +1 e, para todo sítio i 6= a, tivermos σ ei = σi , decorre que σ σ e, mas +1 = h(σ) > h(e σ ) = −1. • Pelo mesmo motivo do item anterior, não é crescente a função SΛ2 (σ). Utilizaremos as definições apresentadas até aqui para enunciar a citada desigualdade no teorema a seguir. Teorema 2.2.2. (Desigualdade de FKG) Sejam f, g : ΩΛ → R duas funções crescentes, no sentido da Definição 2.2.2. Sejam PΛ a medida de Gibbs do modelo de Ising dada por (1.1) com Hamiltoniano (1.2) e h·iΛ a esperança com respeito a medida PΛ . Se para todo i, j ∈ Λ temos que Jij ≥ 0 e hi ∈ R. Então hf giΛ − hf iΛ hgiΛ ≥ 0. (2.2) Demonstração. A demonstração será por indução no comprimento da caixa, |Λ|. A primeira tarefa será reorganizar o lado esquerdo da desigualdade (2.2). Usando a definição do valor esperado e (2.1) temos Z hf giΛ − hf iΛ hgiΛ = Z f (σ)g(σ)PΛ (σ)dκ(σ) − ΩΛ Z f (σ)PΛ (σ)dκ(σ) · ΩΛ g(e σ )PΛ (e σ )dκ(e σ ). ΩΛ Como as integrais acima são simplesmente somas finitas e temos que R P (σ)dκ(σ) = 1, podemos reescrever o lado direito da expressão acima ΩΛ Λ como a seguinte integral dupla Z ΩΛ Z h i f (σ)g(σ) − f (σ)g(e σ ) PΛ (σ)PΛ (e σ ) dκ(σ)dκ(e σ ). ΩΛ Já que σ e σ e variam sobre o mesmo espaço ΩΛ , podemos trocar σ por σ e e vice-versa sem alterar a integral. Sendo assim, a integral anterior equivale à seguinte. Z ΩΛ Z h i f (e σ )g(e σ ) − f (e σ )g(σ) PΛ (σ)PΛ (e σ ) dκ(σ)dκ(e σ ). ΩΛ Somando as duas últimas expressões e multiplicando por 1/2, retomamos o que tínhamos inicialmente, pois ambas as expressões têm o mesmo valor. Portanto a integral dupla acima pode ser reescrita como 1 2 Z ΩΛ Z ΩΛ h i f (σ)g(σ) − f (σ)g(e σ ) + f (e σ )g(e σ ) − f (e σ )g(σ) PΛ (σ)PΛ (e σ ) dκ(σ)dκ(e σ ). Capítulo 2. Propriedades Gerais 14 Fatorando a expressão em parêntesis no integrando, ficamos com 1 2 Z ΩΛ Z h i (f (σ) − f (e σ ))(g(σ) − g(e σ ))PΛ (σ)PΛ (e σ ) dκ(σ)dκ(e σ ). ΩΛ Podemos agora analisar a expressão acima nos restringindo ao caso |Λ| = 1, isto é, f e g funções do spin de apenas um (e do mesmo) sítio. Sem perda de generalidade, suponhamos que esse sítio cujo spin dependem as funções f e g seja o de coordenada 0. Dados dois estados σ e σ e tais que σ0 ≤ σ e0 , temos que f (σ) − f (e σ ) ≤ 0 e g(σ) − g(e σ ) ≤ 0, pois f e g são funções crescentes e dependem apenas do spin de coordenada 0. Logo, nesse caso, o integrando que aparece acima é não-negativo. Similarmente, se σ0 ≥ σ e0 , temos f (σ) − f (e σ ) ≥ 0 e f (σ) − g(e σ ) ≥ 0. Novamente o integrando acima é não-negativo e em ambos os casos concluímos que a integral acima é sempre não-negativa. Dessa observação, segue que a Desigualdade de FKG (2.2) é verdadeira para o caso |Λ| = 1, independente da medida de probabilidade PΛ . Em particular, a desigualdade é verdadeira para medidas de Gibbs de modelos de Ising ferromagnético. Vamos supor agora que o teorema é verdadeiro para um subconjunto arbitrário Λ ⊂ Z de cardinalidade |Λ| ≤ n. Considere agora Λ ⊂ Z tal que |Λ| = n + 1. Pela equação (2.1) e definição de PΛ temos que Z hf giΛ = f (σ)g(σ) ΩΛ exp(−βHΛ (σ)) dκ(σ). ZΛ (2.3) Para utilizar a hipótese de indução, a ideia é fixar um dos spins, em algum sítio α ∈ Λ. Feita uma escolha de α ∈ Λ defina Λ0 = Λ \ {α}. Note que podemos reescrever o hamiltoniano HΛ isolando as interações com o spin Capítulo 2. Propriedades Gerais 15 escolhido, da seguinte forma: ( ) X X1 HΛ (σ) = − Jij σi σj + hi σi 2 i∈Λ j∈Λ ) ( X X X1 Jij σi σj + hi σi − Jiα σα σi − hα σα =− 2 i∈Λ0 i∈Λ0 j∈Λ0 ( ) X X1 =− Jij σi σj + (hi + Jiα σα )σi − hα σα 2 0 0 i∈Λ j∈Λ ) ( X X1 =− Jij σi σj + h0i (σα )σi − hα σα , 2 i∈Λ0 j∈Λ0 onde h0i (σα ) ≡ hi + Jiα σα . É perceptível na equação acima que, se fixarmos σα , podemos definir um novo modelo de Ising no volume Λ0 (que tem cardinalidade |Λ0 | = n) cujo Hamiltoniano é dado pelo lado direito da expressão acima com h0i (σα ) = hi + Jiα σα . A expressão acima na verdade nos fornece uma maneira de definir dois modelos de Ising em Λ0 , um com σα = +1 e outro com σα = −1. Fixado o valor de σα a medida de Gibbs desse novo sistema é definida pelo Hamiltoniano abaixo, ( ) X X1 (2.4) Jij σi σj + (hi + Jiα σα )σi − hα σα . HΛ0 ,σα = − 2 0 0 i∈Λ j∈Λ Pela hipótese de indução para qualquer uma das duas escolha de σα temos hf giΛ0 − hf iΛ0 hgiΛ0 ≥ 0. Agora voltamos nossa atenção para (2.3), no intuito decompor esta integral em duas partes, uma dependendo apenas do spin α, a outra em Λ0 , onde será possível aplicar a hipótese de indução. Primeiro observamos que Z hf giΛ = f (σ)g(σ) ΩΛ "Z Z = {−1,+1} exp(−βHΛ (σ)) dκ(σ) ZΛ # 0 0 ,σ (σ , σα )) exp(−βH Λ α f (σ 0 , σα )g(σ 0 , σα ) dκ(σ 0 ) dκ(σα ), Z Λ ΩΛ0 onde na segunda igualdade abusamos da notação já que a rigor κ é a medida de contagem em ΩΛ e acima usamos κ para denotar tanto a medida Capítulo 2. Propriedades Gerais 16 da contagem em ΩΛ0 quanto a medidada de contagem em Ω{α} = {−1, 1}. Observando que ZΛ0 ,σα 6= 0, podemos multiplicar a dividir o integrando por esse valor para reescrever o lado direito da igualdade acima como "Z Z {−1,+1} # 0 0 exp(−βH (σ , σ )) ZΛ0 ,σα Λ ,σα α f (σ 0 , σα )g(σ 0 , σα ) dκ(σ 0 ) · dκ(σα ). ZΛ0 ,σα ZΛ ΩΛ0 Note que a expressão em colchetes é por definição hf giΛ0 ,σα e portanto a integral acima pode ser reescrita como Z hf giΛ0 ,σα · {−1,+1} ZΛ0 ,σα dκ(σα ). ZΛ Aplicando a hipótese de indução obtemos a seguinte desigualdade Z hf giΛ0 ,σα {−1,+1} ZΛ0 ,σα · dκ(σα ) ≤ ZΛ Z hf iΛ0 ,σα hgiΛ0 ,σα · {−1,+1} ZΛ0 ,σα dκ(σα ). ZΛ Se γ(σα ) = hf iΛ0 ,σα e η(σα ) = hgiΛ0 ,σα fossem funções não-decrescente, então poderíamos usar a desigualdade provada para o caso |Λ| = 1 (que era independente da medida de probabilidade) para concluir que Z hf giΛ ≤ ZΛ0 ,σα dκ(σα ) ZΛ Z ZΛ0 ,σα ZΛ0 ,σα · ρ(dσα ) · hgiΛ0 ,σα · dκ(σα ) ZΛ ZΛ {−1,+1} hf iΛ0 ,σα hgiΛ0 ,σα · {−1,+1} Z ≤ hf iΛ0 ,σα {−1,+1} = hf iΛ hgiΛ , onde usamos que Z {−1,+1} ZΛ0 ,σα ZΛ0 ,+1 + ZΛ0 ,−1 dκ(σα ) = 1, ou equivalentemente = 1. ZΛ ZΛ Resta-nos, pois, provar que a função γ(σα ) é crescente, pois argumento análogo também prova que η(σα ) é crescente. Isso equivale a mostrar que γ(+1) ≥ γ(−1), pois γ é função de apenas 1 spin. Denote por PΛ0 ,σα a medida de Gibbs em ΩΛ0 correspondente ao hamiltoniano HΛ0 ,σα . Próximo passo é mostrar as duas desigualdades abaixo, concluindo por fim que γ é crescente e com isso, a demonstração da desi- Capítulo 2. Propriedades Gerais 17 gualdade de FKG. γ(+1) = hf iΛ0 ,+1 Z = f (σ 0 , +1)PΛ0 ,+1 (σ 0 ) dκ(σ 0 ) ΩΛ0 (∗) Z f (σ 0 , −1)PΛ0 ,+1 (σ 0 ) dκ(σ 0 ) ≥ ΩΛ0 Z (∗∗) f (σ 0 , −1)PΛ0 ,−1 (σ 0 ) dκ(σ 0 ) ≥ ΩΛ0 = hf iΛ0 ,−1 = γ(−1). A primeira das desigualdades, marcada com (∗), é trivialmente verdadeira, pois f é uma função não decrescente, logo f (σ 0 , +1) ≥ f (σ 0 , −1). Para obter a segunda desigualdade, marcada com (∗∗), será preciso uma análise um pouco mais elaborada. Para cada σ 0 ∈ ΩΛ0 fixado, a aplicação σα 7→ PΛ0 ,σα (σ 0 ) tem como domínio o conjunto {−1, +1}. De maneira natural podemos estender o domínio desta aplicação para o intervalo fechado [−1, +1]. Bastando para isto estender o Hamiltoniano da seguinte forma ( HΛ0 ,t = − X i∈Λ0 X1 Jij σi σj + (hi + Jiα t)σi 2 0 j∈Λ ) − hα t (2.5) e considerar a medida de Gibbs dada como em (1.1) de forma que a probabilidade de uma configuração σ 0 seja dada agora por PΛ,t (σ 0 ) = exp[−βHΛ0 ,t (σ 0 )] , ZΛ,t onde ZΛ,t = X exp[−βHΛ,t (ω)]. (2.6) ω∈ΩΛ0 Esta observação nos motiva a considerar a seguinte função Z F (t) = f (σ 0 , −1)PΛ0 ,t (σ 0 ) dκ(σ 0 ). ΩΛ0 Evidentemente, F (−1) = γ(−1) e F (+1) = γ(+1). Vamos mostrar que a derivada de F é positiva e disso seguirá a desigualdade (∗∗). Lembrando que a integral que define F é na verdade uma soma finita Capítulo 2. Propriedades Gerais 18 temos que d d F (t) = dt dt Z [f (σ 0 , −1)PΛ0 ,t (σ 0 )] dκ(σ 0 ) ΩΛ0 (2.7) d 0 0 = f (σ , −1) PΛ0 ,t (σ ) dκ(σ 0 ). dt ΩΛ0 Z Resta calcular PΛ0 ,t (σ 0 ) temos: d P 0 (σ 0 ) dt Λ ,t para cada σ 0 ∈ ΩΛ0 fixado. Usando definição de d exp(−βHΛ0 ,t (σ 0 )) d PΛ0 ,t (σ 0 ) = dt dt ZΛ0 ,t = ZΛ0 ,t d dt exp(−βHΛ0 ,t (σ 0 )) − exp(−βHΛ0 ,t (σ 0 )) dtd ZΛ0 ,t (ZΛ0 ,t )2 exp(−βHΛ0 ,t (σ 0 )) dtd HΛ0 ,t (σ 0 ) − exp(−βHΛ0 ,t (σ 0 ))h dtd HΛ0 ,t iΛ0 ,t = −β ZΛ0 ,t " # exp(−βHΛ0 ,t (σ 0 )) d d = −β HΛ0 ,t (σ 0 ) − HΛ0 ,t ZΛ0 ,t dt dt Λ0 ,t " d = −βPΛ0 ,t (σ 0 ) HΛ0 ,t (σ 0 ) − dt d HΛ0 ,t dt # . Λ0 ,t Usando esta igualdade em (2.7) ficamos com d d F (t) = dt dt Z f (σ 0 , −1)PΛ0 ,t (σ 0 ) dκ(σ 0 ) ΩΛ0 " ! # Z d d = −β f (σ 0 , −1) HΛ0 ,t (σ 0 ) − HΛ0 ,t PΛ0 ,t (σ 0 ) dκ(σ 0 ) dt dt ΩΛ0 Λ0 ,t " =β (2.8) # d d − HΛ0 ,t f (· , −1) − − HΛ0 ,t hf (· , −1)iΛ0 ,t . dt dt Λ0 ,t Λ0 ,t Observe que a expressão entre colchetes na última linha é exatamente um dos lados da Desigualdade de FKG aplicada às funções − dtd HΛ0 ,t e f (· , −1). Como f é crescente a função σ 0 7→ f (σ 0 , −1) também é crescente. Por (2.5) temos que X Jiα d − HΛ0 ,t (σ 0 ) = σi + hα . dt 2 i∈Λ0 Capítulo 2. Propriedades Gerais 19 Daí é fácil ver que a função − dtd HΛ0 ,t é crescente. Finalmente podemos voltar a (2.8) e usar a hipótese de indução para deduzir que dtd F (t) ≥ 0. Isso conclui a demonstração da desigualdade de FKG. A desigualdade acima demonstrada pode ser usada para esclarecer a relação entre o campo externo e a magnetização. É de se esperar que a magnetização e também a magnetização específica não decresça com qualquer aumento no campo externo. Assim, para um aumento no campo, esperamos numa situação extrema, que magnetização ou a magnetização específica fique constante e, nos outros casos, que elas aumentem. Para mostrar que esse fato é verdadeiro vamos usar a Desigualdade de FKG (2.2). Como os cálculos são absolutamente semelhantes vamos verificar esse fato para o caso da magnetização específica. A ideia é calcular as derivadas parciais da magnetização específica com respeito a cada coordenada do campo externo {hi }i∈Λ e mostrar que elas são não-negativas. Para facilitar a notação, no segue vamos escrever simplesmente mΛ,β para denotar mΛ,β,{hi }i∈Λ . Assim, fixado i ∈ [−N, N ] ∩ Z temos que ∂ ∂ mΛ,β = ∂hi ∂hi Z ΩΛ P j∈Λ σj |Λ| −1 Z PΛ (σ)dκ(σ) = |Λ| X ΩΛ j∈Λ σj ∂ PΛ (σ)dκ(σ). ∂hi (2.9) Antes de prosseguir, vamos calcular ∂PΛ (σ)/∂hi . ZΛ ∂ exp(−βHΛ (σ)) − exp(−βHΛ (σ)) ∂ ZΛ ∂PΛ (σ) ∂ exp(−βHΛ (σ)) ∂hi ∂hi = = 2 ∂hi ∂hi ZΛ (ZΛ ) ∂HΛ (σ) + β exp(−βHΛ (σ)) hσi iΛ ∂hi = ZΛ β exp(−βHΛ (σ)) ∂HΛ (σ) = + hσi iΛ ZΛ ∂hi β exp(−βHΛ (σ)) = βPΛ (σ) [σi − hσi iΛ ] . Capítulo 2. Propriedades Gerais 20 Substituindo esta expressão em (2.9) ficamos com ∂ mΛ,β = |Λ|−1 ∂hi Z −1 X σj ΩΛ j∈Λ Z = |Λ| β X ∂ PΛ (σ)dκ(σ) ∂hi σj PΛ (σ) [σi − hσi iΛ ] dκ(σ) ΩΛ j∈Λ −1 = |Λ| β XZ j∈Λ −1 = |Λ| β X Z j∈Λ = |Λ|−1 β σj [σi − hσi iΛ ] PΛ (σ) dκ(σ) X (2.10) ΩΛ Z σj σi PΛ (σ) dκ(σ) − ΩΛ σj hσi iΛ PΛ (σ) dκ(σ) ΩΛ [hσj σi iΛ − hσj iΛ hσi iΛ ] j∈Λ Aplicando na última igualdade acima, em cada parcela do somatório, a Desigualdade de FKG com f (σ) = σi e g(σ) = σj temos finalmente que ∂mΛ,β /∂hi ≥ 0. Enunciamos logo abaixo esse fato como um corolário para posterior referência. Corolário 2.2.3. No modelo de Ising ferromagnético a volume finito Λ, temos 1 X ∂ mΛ,β,{hi }i∈Λ = β hσj σi iΛ,β,{hi }i∈Λ − hσj iΛ,β,{hi }i∈Λ hσi iΛ,β,{hi }i∈Λ ≥ 0. ∂hi |Λ| j∈Λ Em particular, a magnetização específica não decresce com o aumento do campo externo em qualquer dos sítios de Λ. Outra desigualdade de fundamental importância neste texto é a Desigualdade GKS-2. Essa desigualdade foi provada primeiramente por Griffiths para a correlação de pares de spins em [13]. Sua forma mais geral foi obtida por Kelly e Sherman em [16]. Devido às contribuições desses autores, a desigualdade é assim denominada. A exposição adiante toma como base a apresentação de [4] a respeito do tema. Antes de enunciar a desigualdade com precisão, precisamos introduzir algumas notações. Definição 2.2.3. Dado um subconjunto finito e não vazio A ⊆ Λ, a função σA : ΩΛ → {−1, +1} é definida por σA (σ) = Y i∈A σi . (2.11) Capítulo 2. Propriedades Gerais 21 Agora estamos prontos para enunciar precisamente a Desigualdade GKS-2. Teorema 2.2.4 (Desigualdade de GKS-2). Seja Λ ⊂ Z finito e considere o modelo de Ising no volume Λ com Hamiltoniano ( ) X X1 HΛ (ω) = − Jij ωi ωj + hi ωi 2 i∈Λ j∈Λ Se Ji,j ≥ 0 e hi ≥ 0 para todo i, j ∈ Λ, então para quaisquer A e B subconjuntos não vazios de Λ temos (2.12) hσA σB iΛ − hσA iΛ hσB iΛ ≥ 0. Demonstração. Para esta demonstração, precisaremos criar um novo sistema definido em ΩΛ × ΩΛ correspondendo a duas cópias independentes do sistema original em ΩΛ . Para que esses sistemas sejam independentes independentes, a energia de um estado (ω, ω e ) ∈ ΩΛ × ΩΛ será definida como a soma das energias dos estados, isto é, H2 (ω, ω e ) = HΛ (ω) + HΛ (e ω ). Analogamente, denotaremos por ωA , ω eA as duas funções ωA , ω eA : Ω2Λ = ΩΛ × ΩΛ → {−1, +1} tais que ωA (ω, ω e ) = σA (ω) e ω eA (ω, ω e ) = σA (e ω ). Também denotaremos por h·i2 a esperança com relação à distribuição de probabilidades definida pelo hamiltoniano H2 . Podemos então reescrever o lado esquerdo de (2.12) em termos de esperanças em Ω2Λ . hσA σB iΛ − hσA iΛ hσB iΛ = hωA ωB i2 − hωA i2 he ωB i2 = hωA ωB − ωA ω e B i2 . (2.13) A primeira igualdade vem do fato que, pela definição de ωA , hωA i2 = hσA iΛ . A segunda igualdade decorre da independência de ωA e ωB , assim hωA ω eB i2 = hωA i2 he ωB i2 . Definindo para cada i ∈ Λ as funções Xi , Yi : ΩΛ × ΩΛ → {−1, 0, 1} por Xi (ω, ω e) = ωi − ω e √ i 2 e Yi (ω, ω e) = ωi + ω e √ i, 2 retomando a definição de σA em (2.11), e usando a identidade (2.13) é possível reescrever a expressão acima em termos dessas funções, como Capítulo 2. Propriedades Gerais 22 segue hσA σB iΛ − hσA iΛ hσB iΛ = hωA [ωB − ω eB ]i2 * " #+ Y Xi + Yi Y Xi + Yi Y Xi − Yi √ √ √ = − 2 2 2 i∈A i∈B i∈B 2 Quando expandimos os produtórios entre colchetes, todo termo com coeficiente negativo da expansão do produtório à direita terá um equivalente positivo no produtório à esquerda. Esses termos com coeficientes negativos serão todos cancelados, restando apenas termos positivos de produtórios de Xi e Yj , i e j variando sobre alguns subconjuntos de B. A expansão do outro produtório, aquele fora do colchete, também trará termos em Xi e Yj com coeficientes positivos (iguais a 1). Assim, ao expandir toda a expressão acima, teremos uma soma de termos da forma * Y i∈C + Xi Y j∈D Yj , 2 onde C e D são subconjuntos de Λ. Assim, basta provar que um termo com o formato acima é necessariamente não negativo para concluir a demonstração da desigualdade (2.12). Para facilitar a notação de maneira análoga XA = Y i∈A Xi e YB = Y Yi . i∈B Ficamos por demonstrar que hXA YB i2 ≥ 0. Para tal, invocamos sua definição X exp[−βH2 (ω, ω e )] XA (ω, ω e )YB (ω, ω e) hXA YB i2 = Z2 ω,e ω ∈ΩΛ Não precisamos nos preocupar com a função de partição Z2 , já que ela é positiva. Se os demais termos forem positivos, toda a expressão é positiva. Lembrando da definição da energia H2 , podemos escrevê-la em termos de somas em Xi e Yi , como abaixo: Capítulo 2. Propriedades Gerais 23 ( ) X X1 X1 H2 (ω, ω e ) = HΛ (ω) + HΛ (e ω) = − Jij ωi ωj + hi ωi + Jij ω ei ω ej + hi ω ei 2 2 i∈Λ j∈Λ j∈Λ ) ( X X1 Jij [ωi ωj + ω ei ω ej ] + hi [ωi + ω ei ] =− 2 i∈Λ j∈Λ ( ) X X √ =− Jij [Xi (ω, ω e )Xj (ω, ω e ) + Yi (ω, ω e )Yj (ω, ω e )] + hi 2Yi (ω, ω e) i∈Λ j∈Λ Reescrevendo a identidade acima como uma igualdade de funções definidas em ΩΛ × ΩΛ obtemos uma expressão mais simples que é dada por H2 = − ( X X i∈Λ √ ) Jij [Xi Xj + Yi Yj ] + hi 2Yi . j∈Λ O somatório acima pode ser substituído na expressão para hXA YB i2 onde aparece exp[−βH2 (ω, ω e )], cancelando ambos os sinais de menos. Expandindo essa exponencial em série de Taylor, hXA YB i2 se decompõe em um somatório de termos da forma XA YB (H2 )n . Como o somatório inicial é tomado em ω, ω e ∈ ΩΛ , podemos alterar a ordem desse somatório, deixando em evidência os termos dependentes apenas de ωi , ω ei . O que resta é o produto de vários somatórios com a forma X Xim (ω, ω e )Yin (e ω ), ωi ,e ωi ∈{−1,+1} sendo m e n dois números inteiros não-negativos. Assim, basta provar que para quaisquer inteiros m, n ≥ 0 temos X Xim (ω, ω e )Yin (ω, ω e) ωi ,e ωi ∈{−1,+1} X = ωi ,e ωi ∈{−1,+1} ωi − ω e √ i 2 m ωi + ω e √ i 2 n ≥ 0. Se m e n forem pares, cada termo do somatório é não-negativo, logo a desigualdade é verdadeira nesse caso. Já se m for ímpar, os termos com ωi = ωei são nulos, restando apenas +2 √ 2 m 0 √ 2 n + −2 √ 2 m 0 √ 2 n = 2 √ 2 m 0 √ 2 n − 2 √ 2 m 0 √ 2 n = 0. Aqui temos um somatório nulo mesmo que n = 0, logo a desigualdade Capítulo 2. Propriedades Gerais 24 é verdadeira também para m ímpar. O caso n ímpar é totalmente análogo ao m ímpar. Sendo assim, a desigualdade original é verdadeira para todos os valores de m e n, estando provada a desigualdade de GKS-2. Em analogia ao apresentado após a demonstração da desigualdade de FKG, aqui apresentaremos uma consequência da desigualdade GKS-2 que terá uso no último capítulo. O corolário é assim enunciado: Corolário 2.2.5. Num modelo de Ising ferromagnético a volume finito com campo externo hi ≥ 0 para todo sítio i ∈ Λ, a magnetização é uma função não decrescente das constantes de acoplamento Jij . Para demonstrar o corolário, calcularemos explicitamente ∂J∂ij mΛ , mostrando que como função de Jij esta derivada é não-negativa. Se o leitor acompanhou a demonstração do Corolário 2.2.3, esta demostração é totalmente análoga, com a única diferença de se utilizar no último passo a desigualdade de GKS-2 em lugar da de FKG. Demonstração. A derivada de mΛ com respeito a Jij é dada por ∂ ∂ mΛ = ∂Jij ∂Jij Z ΩΛ P k∈Λ |Λ| σk −1 PΛ (σ) dκ(σ) = |Λ| XZ k∈Λ σk ΩΛ ∂ PΛ (σ) dκ(σ). ∂Jij Desta forma podemos reduzimos o problema a mostrar que, para cada R k ∈ Λ, a integral ΩΛ σk ∂J∂ij PΛ (σ) dκ(σ). é não-negativa. Como fizemos anteriormente, para cada σ ∈ ΩΛ fixado, vamos calcular primeiro a derivada de PΛ (σ) com respeito a Jij . ∂ exp(−βHΛ (σ)) ∂PΛ (σ) = = ∂Jij ∂Jij ZΛ −βZΛ exp(−βHΛ (σ)) = ZΛ ∂ ∂ exp(−βHΛ (σ)) − exp(−βHΛ (σ)) ZΛ ∂Jij ∂Jij (ZΛ )2 ∂ ∂ HΛ (σ) − exp(−βHΛ (σ)) ZΛ ∂Jij ∂Jij (ZΛ )2 = βZΛ exp(−βHΛ (σ))σi σj − β exp(−βHΛ (σ))hσi σj iΛ (ZΛ )2 = β exp(−βHΛ (σ)) σi σj − hσi σj iΛ ZΛ = βPΛ (σ) [σi σj − hσi σj iΛ ] . Capítulo 2. Propriedades Gerais 25 Substituindo esta expressão na integral anterior ficamos com Z β σk [σi σj − hσi σj iΛ ] PΛ (σ)dκ(σ) = β hσi σj σk iΛ − hσi σj iΛ hσk iΛ . ΩΛ Podemos usar a desigualdade de GKS-2 com A = {i, j} e B = {k} para concluir que a integral acima é não-negativa. E como observado anteriormente isto implica que ∂mΛ /∂Jij ≥ 0 e assim, está terminada a demonstração da desigualdade desejada. A próxima desigualdade de correlação que vamos estabelecer e a Desigualdade GHS, provada pela primeira vez em 1970 por Griffiths, Hurst e Sherman em [14]. A prova apresentada aqui porém é baseada nos trabalhos [7] de Ellis e Monroe e [17] de Lebowitz. A técnica utilizada nestes trabalhos para provar a desigualdade é muito parecida com aquela que usamos para provar GKS-2, com a principal diferença sendo que ao invés de duplicarmos variáveis, desta vez vamos quadruplicá-las. Fixado Λ ⊂ Z finito, vamos introduzir um sistema de spins quadruplicado com espaço de configuração Ω4Λ ≡ ΩΛ × ΩΛ × ΩΛ × ΩΛ . Vamos representar um ponto deste espaço por um quadrupla ordenada (ω, σ, δ, η), onde cada uma das “coordenadas” ω, σ, δ, η ∈ ΩΛ . Definimos o Hamiltoni(4) ano HΛ : Ω4Λ → R por (4) HΛ (ω, σ, δ, η) = HΛ (ω) + HΛ (σ) + HΛ (δ) + HΛ (η), (2.14) onde HΛ é o Hamiltoniano do modelo de Ising dado por ) ( X X1 Jij σi σj + hi σi . HΛ (σ) = − 2 i∈Λ j∈Λ Analogamente a notação introduzida na prova de GKS-2 vamos denotar por h·i4 a esperança com relação à distribuição de probabilidades definida (4) pelo Hamiltoniano HΛ . Lema 2.2.6. Para cada i ∈ Λ defina as seguintes funções Ai (ω, σ, δ, η) = ωi + σi + δi + ηi 2 ωi − σi + δi − ηi Ci (ω, σ, δ, η) = 2 Bi (ω, σ, δ, η) = ωi + σi − δi − ηi 2 −ωi + σi + δi − ηi Di (ω, σ, δ, η) = 2 (2.15) Se no Hamiltoniano (2.14) cada hi ≥ 0, então para quaisquer subconjuntos Capítulo 2. Propriedades Gerais 26 não-vazios ∆, Γ, Θ, Υ ⊂ Λ temos que hA∆ BΓ CΘ DΥ i4 ≥ 0, onde a v.a. A∆ = Q Ai , . . . , DΥ = i∈∆ Q i∈Υ Di . Demonstração. Para cada i ∈ Λ fixado, podemos representar (2.15) matricialmente como segue 1 1 1 1 Ai (ω, σ, δ, η) ωi Bi (ω, σ, δ, η) 1 1 1 −1 −1 σi = C (ω, σ, δ, η) 2 1 −1 1 −1 δ i i −1 1 1 −1 Di (ω, σ, δ, η) ηi É imediato verificar que as linhas da matriz acima são mutuamente ortogonais e portanto a matriz acima induz uma aplicação linear ortogonal em R4 , como tais aplicações preservam produto interno podemos verificar que para quaisquer i, j ∈ Λ que ωi ωj + σi σj + δi δj + ηi ηj = 1 Ai Aj + Bi Bj + Ci Cj + Di Dj , 2 onde na igualdade acima deve ser entendido que as funções Ai , . . . , Di estão calculadas no ponto (ω, σ, δ, η). Portanto como igualdade de funções podemos escrever (4) HΛ ) ( i 1X X h =− Jij Ai Aj + Bi Bj + Ci Cj + Di Dj + hi Ai . 2 i∈Λ j∈Λ A partir deste ponto seguimos as mesmas ideias empregadas na prova de GKS-2: expandimos a exponencial que aparece em hA∆ BΓ CΘ DΥ i4 e usamos o teorema de Fubini. Feito isto é fácil ver que a não negatividade deste valor esperado segue se mostrarmos que a seguinte desigualdade é valida para quaisquer número inteiros positivos k, l, m, n. Z Ω4Λ Aki (x)Bil (x)Cim (x)Din (x) dκ(x) ≥ 0, onde κ denota a medida de contagem em Ω4Λ . Para provar que esta desigualdade é verdadeira observamos primeiro que por simetria a integral acima é zero a menos que k, l, m, n tenham a mesma paridade. Quando a paridade é par o integrando é obviamente não negativo e a desigualdade Capítulo 2. Propriedades Gerais 27 certamente é válida. Quando a paridade é ímpar usamos uma propriedade especial dos spins de Ising que é ωi2 = σi2 = δi2 = ηi2 = 1, da seguinte maneira: fatoramos Bil−1 Cim−1 Din−1 · Ai Bi Ci Di Aki Bil Cim Din = Ak−1 i e em seguida, notamos que para qualquer ponto (ω, σ, δ, η) vale a seguinte igualdade 1 (Ai · Bi · Ci · Di )(ω, σ, δ, η) = (ωi σi − δi ηi )2 . 4 Desta forma temos que mesmo no caso de paridade ímpar a função no integrando Aki Bil Cim Din é pontualmente não-negativa e o lema esta provado. Teorema 2.2.7 (Desigualdade GHS). Considere o modelo de Ising no volume Λ com Hamiltoniano dado por ( ) X X1 HΛ (σ) = − Jij σi σj + hi σi . 2 i∈Λ j∈Λ Seja h·iΛ o valor esperado com respeito a medida de Gibbs a volume Λ determinada por HΛ . Se Jij , hi ≥ 0 para todo i, j ∈ Λ, então para quaisquer sítios i, j, k ∈ Λ temos a seguinte desigualdade hσi σj σk iΛ − hσi iΛ hσj σk iΛ − hσj iΛ hσi σk iΛ − hσk iΛ hσi σj iΛ + 2hσi iΛ hσj iΛ hσk iΛ ≤ 0. (4) Demonstração. Defina as seguinte funções em ΩΛ Ri (ω, σ, δ, η) = ωi + σi √ 2 δi + η i Ti (ω, σ, δ, η) = √ 2 Si (ω, σ, δ, η) = ωi − σi √ 2 δi − ηi Ui (ω, σ, δ, η) = √ 2 (2.16) Como observado por Lebowitz [17] hσi σj σk iΛ − hσi iΛ hσj σk iΛ − hσj iΛ hσi σk iΛ − hσk iΛ hσi σj iΛ + 2hσi iΛ hσj iΛ hσk iΛ = E(4) √ D − 2 Rk Ui Uj − Rk Si Sj , Λ (4) onde h·iΛ é o valor esperado com respeito a medida de Gibbs determinada pelo Hamiltoniano quadruplicado (2.14). Para concluir a prova basta ob- Capítulo 2. Propriedades Gerais 28 servar que a última esperança da igualdade acima pode ser escrita em função das variáveis aleatórias Ai , Bi , Ci , Di , definidas em (2.15), como segue √ − 2 Ak + Bk √ 2 (4) Cj + Dj Ci − Di Cj − Dj √ √ √ − 2 2 2 Λ = (4) −h(Ak + Bk )(Ci Dj + Cj Di )iΛ . Ci + Di √ 2 Já que este último valor esperado é não negativo, pelo Lema 2.2.6, a desigualdade GHS está demonstrada. A principal aplicação da desigualdade GHS é mostrar que a magnetização específica a volume finito é uma função côncava, quando vista como função apenas do parâmetro h (campo externo). Este cálculo é feito com detalhes ao longo da prova do Teorema 3.4.3. Além desta aplicação no modelos de Ising e Curie-Weiss é importante mencionar que a desigualdade GHS pode ser também aplicada para determinar propriedades de concavidade de certas equações diferenciais a derivadas parciais e certos processos de difusão. Condições necessárias e suficientes para a validade desta desigualdade são apresentadas no importante trabalho [8] de Ellis e Newman de 1978, bem como algumas aplicações desta desigualdade em EDP’s e processos de difusão. 2.3 Condições Exteriores Na Seção 1.3 apresentamos o modelo a volume finito e a magnetização nesse modelo. O modelo ali definido é denominado com mais precisão por modelo de Ising a volume finito com condições de fronteira(ou exteriores) livres. O volume Λ era considerado ali como um subconjunto de Z. Poderíamos, então, fixar os spins exteriores a Λ e definir a interação entre esses spins fixados e os spins de Λ. Esse outro modelo, com condições exteriores definidas, é uma espécie de generalização do anterior. Como no modelo inicialmente exposto não havia interação dos spins de Λ com entes exteriores, diz-se que ele tem "condições exteriores livres". Assim, redefiniremos o modelo de forma a acrescentar as citadas condições exteriores. Precisaremos acrescentar no hamiltoniano os termos de interação com os spins exteriores. Os sítios exteriores a Λ são os elementos de Λc ≡ Z \ Λ. Capítulo 2. Propriedades Gerais 29 Logo, o estado fixado dos spins exteriores será um elemento do conjunto c ΩΛc = {−1, +1}Λ . Esse estado exterior será denominado σ e. Podemos agora escrever (formalmente pois, não lidamos ainda com as questões de convergência) o novo hamiltoniano de um modelo de Ising finito com condições exteriores σ e como segue HΛσe (σ) = X X X 1 Jij σ ej σi } { − Jij σi σj − hi σi − 2 i∈Λ j∈Λ j∈Z\Λ Oσ e superescrito em HΛσe será usado para nos lembrar que é um hamiltoniano de um modelo com condição exterior σ e. É natural que os coeficientes Jij tenham sido estendidos para i, j ∈ Z com Jii = 0, ∀i ∈ Λ. Podemos perceber que a interação com os spins externos a Λ age de forma muito similar a um campo externo, pois um sistema com condições externas livres e campo externo e hi = hi + X Jij σ ej j∈Z\Λ tem exatamente o mesmo hamiltoniano. Logo, tanto faz definir um sistema com condição exterior σ e e campo externo hi ou um sistema com condição exterior livre e campo externo e hi . Quanto aos estados exteriores, aqueles de maior interesse têm todos seus spins σi alinhados, ou seja, todos os spins valendo +1 ou −1. Esses estados exteriores serão denotados estado +, quando para todo i ∈ Λc , σi = +1 e estado − no caso simétrico. Na seção seguinte nos restringiremos a mostrar a existência dos limites da magnetização quando Λ → Z para essas duas condições exteriores especiais + e −. Como as duas condições são totalmente simétricas, trabalharemos apenas com +. 2.4 Magnetização a Volume Finito Usando o corolário da desigualdade de FKG (Corolário 2.2.3) podemos demonstrar a convergência da magnetização quando Λ → Z para os casos com interação dependente apenas da distância entre os spins, Jij = J(|i − j|), campo externo constante hi = h e condições exteriores + ou −. Como a demonstração para o caso − é totalmente análoga, exporemos aqui apenas o caso +. Capítulo 2. Propriedades Gerais 30 O artifício a ser utilizado é comum a várias outras questões sobre modelos de Ising. Trata-se de fazer o campo externo em alguns sítios escolhidos tender a +∞. Intuitivamente, isso obriga os spins naqueles sítios a se “alinharem” com o campo externo, sendo positivos quase certamente. O sistema alterado, então, se comporta como um sistema com spins positivos fixos nos sítios onde o campo foi aumentado. Assim, é possível utilizar o Corolário 2.2.3 para mostrar a não-diminuição do valor esperado de uma função crescente qualquer quando fixamos um dos spins da rede no sentido +1, já que fixar um spin i seria equivalente a fazer hi → ∞. Vamos agora tornar essa ideia intuitiva algo mais precisa. Deste ponto em diante, vamos assumir que Jij satisfaz sup i∈Z X |Jij | < ∞. j∈Z Essa hipótese é conveniente para que possamos argumentar que todas as somas envolvendo Jij que aparecem no restante desta seção sejam absolutamente convergentes. Observando como a alteração do campo externo hα influencia na energia de um estado σ podemos compreender melhor o que acontece quando hα → ∞. A energia do estado σ com condições de contorno + é dada por HΛ+ (σ) = X X X 1 Jij σi } − Jij σi σj − hi σi − { 2 i∈Λ j∈Λ j∈Z\Λ Elegemos-se, então, um sítio α fixado. Quando fazemos hα → ∞, o termo hα σα do somatório acima faz a energia do estado σ tender a −∞ se σα = +1. Por outro lado, se σ é tal que σα = −1 então a energia do estado σ quando hα → +∞ tende a +∞. Já que a probabilidade do estado σ é dada por + P+ Λ (σ) + e−HΛ (σ) e−HΛ (σ) = = P + −HΛ (ω) ZΛ+ ω∈Ω e Λ Evidentemente, se σα = −1, o numerador da probabilidade do estado σ tende a zero e como limhα →+∞ ZΛ+ = +∞ temos que P+ Λ (σ) → 0. Por outro lado, se σα = +1, no numerador aparece um fator multiplicativo exp(hα ) que fará exp (−HΛ+ (σ)) → +∞. Contudo, o somatório no denominador tem todos os termos com ωα = −1 tendendo a zero e todos os termos com ωα = +1 com o mesmo fator multiplicativo exp(hα ) que pode ser cancelado com o equivalente do numerador. Capítulo 2. Propriedades Gerais 31 Desse modo, se denotamos por Λ0 = Λ \ {α} a caixa sem o sítio α, σ 0 a restrição de σ à caixa Λ0 , HΛ+0 e PΛ+0 respectivamente a energia e a probabilidade para um sistema definido em Λ0 com condições exteriores + e spin α fixo em +1, chegamos à seguinte conclusão P+ Λ (σ) = e + −HΛ (σ) ZΛ+ + 0 exp [−H+Λ0 (σ )] = P+0 (σ 0 ), se σα = +1 Λ Z −−−−−→ Λ0 hα →+∞ se σα = −1 0, Pode-se concluir com a expressão acima que quando hα → ∞ o sistema definido em Λ com hamiltoniano HΛ+ é totalmente análogo a um sistema definido em Λ0 e com Hamiltoniano HΛ+0 onde σα = +1 é fixado. De fato, pelo Teorema da Convergência Dominada para toda função integrável f : ΩΛ → R com respeito a PΛ temos que lim hf i+ Λ hα →+∞ Z = lim hα →+∞ Z = f (σ)PΛ (σ) dκ(σ) ΩΛ 1{σα =+1} f (σ)PΛ0 (σ 0 ) dκ(σ) ΩΛ = hf (·, +1)i+ Λ0 . Em particular se f : ΩΛ → R não depende da variável σα então podemos escrever (com um pequeno abuso de notação) + lim hf i+ Λ = hf iΛ0 . hα →+∞ Com esse resultado, continuamos com a análise relativa ao limite da magnetização com Λ → Z A sequência cuja convergência gostaríamos e analisar é a sequência das magnetizações específicas de sistemas finitos com condições exteriores + e caixas de tamanhos crescentes. O natural seria utilizar a sequência de caixas da forma Z ∩ [−N, +N ], contudo, para facilitar a exposição, como a magnetização específica não se altera ao transladarmos por um número finito de sítios o sistema como um todo, utilizaremos a sequência de caixas ΛN = Z ∩ [1, +N ]. Para não carregar a notação vamos denotar a magnetização específica do o sistema definido em ΛN e com condições exteriores positiva, isto é, + (com β, h e Jij ≡ J(|i − j|) fixos) por 1 mN = hSN i+ ΛN = N * 1 X σi N i∈Λ N ++ . ΛN Capítulo 2. Propriedades Gerais 32 O objetivo desta seção é mostrar a convergência da sequência de números reais mN . Para tanto precisaremos do Lema de Fekete, que garante a convergência da média de sequências subaditivas, como posto abaixo. Definição 2.4.1 (Sequência subaditiva). Uma sequência de números reais aN , N ∈ N∗ é dita subaditiva se, para todo M, N ∈ N∗ , aM +N ≤ aM + aN . Lema 2.4.1 (Lema de Fekete). Dada uma sequência subaditiva {aN }N , a sequência {aN /N }N converge e aN aN = inf . N →∞ N N Uma vez provada a subaditividade da sequência {hSN iΛN }N , seria possível aplicar o Lema de Fekete, chegando a conclusão da convergência da magnetização no limite infinito m = limN →∞ mN . Para provar a citada subaditividade, tomemos o modelo definido na caixa ΛM +N com condições exteriores +. Dividiremos esse sistema em duas caixas menores, a primeira, a ser identificada por ∆M , conterá os spins de índices 1 até M . A outra, contendo os N demais spins, de M + 1 até M + N , será ∆N . Equivalentemente, a soma hSM +N iΛM +N será dividida em duas partes, já que lim ++ * X hSM +N i+ ΛM +N = σi i∈ΛM +N ++ * X = σi i∈∆M ΛM +N ++ * + ΛM +N X i∈∆N . σi (2.17) ΛM +N Em seguida, se alteramos o sistema de modo a introduzir campo infinito nos sítios de ∆N , ou seja, manter constantes todos os demais parâmetros, mas alterar {hi } fazendo hi → +∞ para os sítios i ∈ ∆N , temos um sistema resultante com spins em ∆N fixos em +1. A restrição a ∆M do sistema resultante tem spins com interação J(i − j) dentro de ∆M , e que também interagem com spins fixos em +1 fora de ∆M . Portanto, o sistema resultante é exatamente igual ao sistema definido em ΛM = ∆M e com condições exteriores +. Como apenas aumentou-se o campo externo hi em alguns sítios, o Corolário 2.2.3 da Desigualdade de FKG nos garante que não há P diminuição da função crescente h i∈∆M σi i+ ΛM +N . Em outras palavras, ++ * X i∈∆M ≤ σi ΛM +N ++ * X i∈ΛM = hSM i+ ΛM . σi (2.18) ΛM Vamos analisar agora a segunda parcela no termo à extrema direita de (2.17). A diferença da análise deste termo para a do caso anterior é que Capítulo 2. Propriedades Gerais 33 ∆N = Z ∩ [M + 1, M + N ], que a rigor é diferente ΛN = Z ∩ [1, N ]. Isso não gera problema para comparação, pois estamos supondo que nossa interação Jij ≡ J(|i − j|), isto é depende apenas da distância entre entre pares de spins e o campo externo h é constante. Sendo assim, é possível transladar todo o sistema de ∆N = Z ∩ [M + 1, M + N ] para ΛN = Z ∩ [1, N ] sem alterar a soma dos spins na caixa sob análise. E, repetindo o argumento do caso anterior obtemos a seguinte desigualdade ++ * X i∈∆N ++ * ≤ σi ΛM +N X i∈ΛN = hSN i+ ΛN . σi (2.19) ΛN Juntando a última expressão com as duas desigualdades anteriores, podemos concluir que + + hSM +N i+ ΛM +N ≤ hSM iΛM + hSN iΛN . (2.20) Assim a sequência de números reais {hSN i+ ΛN }N é, pois, subaditiva. Pelo + Lema de Fekete, com aN = hSN iΛN temos que existe o limite da magnetização específica 1 1 hSN i+ hSN i+ ΛN = inf ∗ ΛN . N →∞ N N ∈N N m = lim mN = lim N →∞ Esse resultado será enunciado mais a frente como um lema para posterior referência. Utilizando o mesmo raciocínio, é possível também provar a existência do limite da magnetização específica para o caso de condições de contorno livre, notação mfN,h , onde mfN,h = hSN /N ifΛN ,h com o superescrito f denotando a condição de contorno livre ou “free”. Vamos provar a existência do limite neste caso com campo externo h > 0. Para isto será usado o corolário da Desigualdade GKS-2 (Corolário 2.2.5). Com ele vamos mostrar que a sequência {hSN iΛN ,0 }N é superaditiva, isto é, hSM +N ifΛM +N ,h ≥ hSM ifΛM ,h + hSN ifΛN ,h Para tal, novamente separaremos a caixa ΛM +N em suas duas partes ∆M e ∆N . Em seguida, constrói-se um novo sistema com Jij = 0 sempre que i ∈ ∆M e j ∈ ∆N . Desta forma anulamos a interação dos spins entre dos sítios ∆M e ∆N e portanto o que obtemos são dois sistemas independentes. Assim, após se “desligadas” estas interações, as duas partes restantes Capítulo 2. Propriedades Gerais 34 são totalmente equivalentes (a menos de uma translação) a dois sistemas independentes definidos em ΛM e ΛN . Como houve apenas a redução de algumas interações Jij , o corolário da desigualdade de GKS-2 nos garante que não há aumento na magnetização em nenhum dos subconjuntos ∆M e ∆N . Conclui-se, como desejado, que hSM +N ifΛM +N ,h ≥ hSM ifΛM ,h + hSN ifΛN ,h . Usando agora o Lema de Fekete para sequências superaditivas podemos garantir a convergência da sequência {hSN ifΛN ,h /N }N . Lema 2.4.2. Para um modelo de Ising finito definido em uma caixa simétrica ΛN = Z ∩ [−N, +N ], com constantes de acoplamento invariantes por translação Jij = J(|i − j|), campo magnético constante hi = h e condições exteriores livres, positiva(+) e negativa(-), fixado qualquer valor do inverso da temperatura β a sequência das magnetizações específicas mN = hSN /N iΛN converge para m = limN →∞ mN . 2.5 Algumas Propriedades de SN /N Seguindo o raciocínio da seção anterior, tomamos uma sequência de modelos de Ising a volume finito com condições exteriores livres definidos em ΛN = Z ∩ [0, N ]. Principal diferença dos modelos considerados nesta e na seção anterior, é que aqui vamos assumir que hi = h > 0, ou seja, campo externo constante e positivo. Já mostramos na seção anterior a existência da magnetização m no limite N → ∞. Nesta seção vamos estudar o comportamento de PΛN ,h no limite termodinâmico (N → ∞). Com os resultados até aqui apresentados, é possível verificar que mβ,0 = lim mΛN ,β,0 = lim 0 = 0, N →∞ N →∞ pois vimos na Seção 1.3 que se h = 0 então mΛN ,β,0 = 0, Como a desigualdade de FKG nos assegura que o aumento no campo magnético não diminui a magnetização, temos que se h ≥ 0 então mΛN ,β,h ≥ 0 para todo N e portanto o limite também é não-negativo, isto é, mβ,h ≥ 0. Lembrando que mβ,h = limN →∞ hSN /N iΛN ,h , podemos afirmar que o valor esperado da sequência de variáveis aleatórias SN /N converge um valor não negativo. Grosseiramente falando, a principal meta desta seção é mostrar que além de ter média convergindo para um valor não-negativo, no “Limite Capítulo 2. Propriedades Gerais 35 Termodinâmico” a variável aleatória SN /N nunca se alinha contra o campo externo h. De maneira mais precisa, vamos mostrar que se h > 0 então lim PΛN ,β,h N →∞ SN < −a N =0 para qualquer valor positivo a ∈ (0, 1]. Para facilitar a notação da prova do fato mencionado acima, vamos omitir a dependência da medida de Gibbs com respeito ao parâmetro β e escrever simplesmente, para todo evento A, PΛN ,β,h (A) ≡ PΛN ,h (A). Para demonstrar o resultado enunciado acima vamos começar obtendo cotas superiores para PΛN ,h SN ≤ −a = PΛN ,h (SN ≤ −aN ). N Dado um estado σ pertencente ao evento EN,a = {σ ∈ ΩN |SN ≤ −aN }, existe um estado simétrico −σ, elemento do evento −EN,a = {σ ∈ ΩN |SN ≥ +aN }. Podemos calcular a diferença entre as energias dos estados σ e −σ como mostrado abaixo: X 1 σi − Jij σi σj − h 2 i∈Λ i,j∈Λ X 1 X + Jij (−σi )(−σj ) + h (−σi ) 2 i,j∈Λ i∈Λ HΛ (σ) − HΛ (−σ) = − X = −2h X σi i∈Λ = −2hSN (σ). Observe que ao passar de σ para −σ todos os spins são invertidos, a energia de interação entre qualquer par (i, j), representada pelo termo − 21 Jij σi σj , fica inalterada, pois σi σj = (−σi )(−σj ). Por outro lado, a energia de interação com o campo externo h, que é hSN (σ) para o estado σ, passa a ser −hSN (σ) para o estado −σ. Portanto para todo σ ∈ EN,a , temos que HΛ (σ) − HΛ (−σ) ≥ +2haN. Capítulo 2. Propriedades Gerais 36 Assim, o estado σ, por ter a maioria dos spins alinhados contra o campo externo, tem energia pelo menos 2haN > 0 maior que o estado −σ. Como os estados com menor energia são mais prováveis, a comparação das probabilidades desses dois estados simétricos nos dá exp [−βHΛN ,h (σ)] PΛN ,h (σ) = = exp(2βhSN (σ)) ≤ exp(−2βhaN ). PΛN ,h (−σ) exp [−βHΛN ,h (−σ)] Mas a desigualdade acima vale para todo estado σ ∈ EN,a , logo vale também quando comparamos os eventos EN,a e −EN,a . Já que a probabilidade de qualquer evento está limitada por 1, temos que PΛN ,β,h (−EN,a ) ≤ 1, logo podemos concluir que PΛN ,h (EN,a ) ≤ exp(−2βhaN ) · PΛN ,h (−EN,a ) ≤ exp(−2βhaN ). Tomando o lim sup em ambos os lado da desigualdade acima, ficamos com lim sup PΛN ,h N →∞ SN ≤ −a N ≤ lim exp(−2βhaN ) = 0. N →∞ Já que a medida de qualquer conjunto é não negativa e o limite superior é zero, podemos afirmar que o seguinte limite existe lim PΛN ,h N →∞ SN ≤ −a N (2.21) = 0. Esse resultado nos será útil no último capítulo, pois lá mostraremos que, para um certo sistema que atende às hipóteses tanto desta seção como da anterior (2.4), * + 2 SN = m(2) > 0. lim inf N →∞ N ΛN ,h Uma vez obtida a desigualdade acima, é possível aplicar o resultado provado nesta seção para mostrar que * lim inf N →∞ SN N 2 + (2) =m ΛN ,h =⇒ m(β, h) = lim N →∞ SN N ≥ m(2) . ΛN ,h Para mostrar a implicação acima, vamos usar a definição do valor esperado h(SN /N )2 iΛN ,h e uma decomposição apropriada do espaço ΩΛ em três subconjuntos, que serão definidos de acordo com o valor de SN /N como Capítulo 2. Propriedades Gerais 37 segue * SN N 2 + 2 SN (σ) = PΛN ,β,h (σ)dκ(σ) N ΩΛN 2 2 Z Z SN (σ) SN (σ) PΛN ,β,h (σ)dκ(σ) + PΛN ,β,h (σ)dκ(σ) = SN SN N N <−a ≤a N N 2 Z SN (σ) + PΛN ,β,h (σ)dκ(σ). N SN /N >+a Z ΛN ,h Observe que o limite inferior da integral sobre {SN /N < −a} é zero. De fato, basta observar que |SN /N | ≤ 1 e usar a igualdade (2.21) Z lim inf N →∞ SN N <−a SN (σ) N 2 Z PΛN ,β,h (σ)dκ(σ) ≤ lim inf N →∞ SN N PΛN ,β,h (σ)dκ(σ) <−a = lim inf PΛN ,β,h N →∞ SN < −a N = 0. Para a integral sobre {|SN /N | ≤ a} usamos que a medida PΛN ,h é limitada por 1 e que o integrando é limitado por a2 , assim, Z SN N ≤a SN (σ) N 2 PΛN ,β,h (σ)dκ(σ) ≤ a2 Como estamos assumindo m(2) = lim inf N →∞ * SN N 2 + , ΛN ,h temos que o limite inferior sobre toda a expressão de h(SN /N )2 iΛN ,h é cotado superiormente por (2) m * = lim inf N →∞ SN N 2 + ΛN ,h 2 SN (σ) = lim inf PΛN ,β,h (σ)dσ SN N →∞ N N ≤a 2 Z SN (σ) + lim inf PΛN ,β,h (σ)dσ SN N →∞ N >+a N Z Z 2 ≤ a + lim inf N →∞ SN N >+a SN (σ) PΛN ,β,h (σ)dσ, N Capítulo 2. Propriedades Gerais 38 onde na última desigualdade usamos 0 ≤ SN /N ≤ 1, nos permitindo con2 cluir, neste caso, que SN /N 2 ≤ SN /N . Da desigualdade acima segue imediatamente Z lim inf N →∞ SN N >+a SN (σ) PΛN ,β,h (σ)dσ ≥ m(2) − a2 . N Aplicando exatamente o mesmo raciocínio a lim inf N →∞ hSN /N iΛN ,h e a desigualdade acima, concluímos que lim N →∞ SN N = lim inf ΛN ,h N →∞ SN N = lim inf N →∞ N →∞ ΛN ,h Z + lim inf Z SN N ≤a SN (σ) PΛN ,β,h (σ)dσ N Z ≥ −a + lim inf N →∞ ΩΛ SN (σ) PΛN ,β,h (σ)dσ N SN N >+a SN (σ) PΛN ,β,h (σ)dσ N ≥ −a + m(2) − a2 . Contudo, como o resultado é válido para todo a ∈ (0, 1], segue m(β, h) = lim N →∞ SN N ≥ m(2) . ΛN ,h Com uma pequena adaptação do argumento dado acima, temos na verdade provado o seguinte lema. Lema 2.5.1. Dado um modelo de Ising finito definido em uma caixa simétrica ΛN = Z ∩ [−N, +N ], com constantes de acoplamento Jij ∈ R (não necessariamente ferromagnéticas), campo magnético hi tal que lim inf n→∞ hi ≥ h > 0 e condições exteriores livres, fixo qualquer valor do inverso da temperatura β, se existir o limite das magnetizações finitas m(β, {hi }i∈Z ) = lim N →∞ SN |ΛN | ΛN ,{hi }i∈ΛN e lim inf N →∞ h(SN /|ΛN |)2 iΛN ,{hi }i∈ΛN ≥ m(2) (β, {hi }i∈Z ) > 0, então m(β, {hi }i∈Z ) ≥ m(2) (β, {hi }i∈Z ) > 0. Capítulo 3 Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 3.1 Introdução Nos capítulos anteriores definimos o modelo de Ising com interações ferromagnéticas Jij . Em alguns dos resultados expostos a única propriedade importante das interações Jij era sua positividade. O tema deste capítulo são os sistema com constantes de acoplamento Jij dependente apenas da distância entre os sítio i e j, ou seja, Jij ≡ J(|i − j|). Na Seção 3.2 apresentamos o modelo de Curie-Weiss (CW), modelo no qual cada spin interage apenas com a magnetização total. Por estar entre os mais simples modelos de Ising que apresentam transição de fase, é possível realizar uma série de cálculos explicitos envolvendo esse modelo. A Seção 3.3 traz os cálculos detalhados de uma função denomida pressão nesse modelo. Em seguida, na Seção 3.4 é apresentada a relação entre a derivada da pressão e a magnetização. Continuando o raciocínio, a Seção 3.5 utiliza os resultados anteriores para calcular explicitamente a magnetização no modelo de CW, mostrando que há uma região de altas temperaturas em que a magnetização é nula. Finalizando a análise do modelo de CW, a Seção 3.6 compara um Modelo de Ising arbitrário (somável) com um modelo de CW, mostrando que este último apresenta magnetização que não supera a do primeiro. Essa linha de raciocínio demonstra que qualquer Modelo de Ising somável apresenta uma temperatura crítica finita acima da qual a magnetização é nula. Em 3.7, tratamos dos modelos com interação do tipo lei de potência, isto é, Jij = |i − j|−α . Nessa seção citamos vários resultados já conhecidos Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 40 em 1969 sobre esses modelos. Veremos que no limite quando N → ∞, para o caso não somável α ≤ 1, quase todos os spins estarão alinhados com probabilidade 1 e haverá magnetização não nula para todo β. Já para o caso α > 2, a situação é inversa para todo β > 0 a magnetização limite será zero. Os casos mais interessantes, que apresentam transição de fase, serão tratados no próximo capítulo. A última seção do capítulo, 3.8 mostra como ao se classificar os modelos do tipo lei de potência ganhamos também maior entendimento sobre outros modelos com interações translacionalmente invariantes. 3.2 Modelo de Curie-Weiss O modelo de Curie-Weiss a volume finito é um modelo de Ising como apresentado na Seção 1.3 em que as constantes de acoplamento J(|i − j|) são dadas por Jij = J /|Λ|, sendo J uma constante real positiva. Há uma importante diferença na sequência de modelos que tomamos ao calcular funções no Limite Termodinâmico. No modelo de Ising dado um par de spins (i, j) as constantes de acoplamento Jij são fixas, independentes do tamanho da caixa |Λ|. Já no modelo de Curie-Weiss essas constantes de acoplamento variam com o volume |Λ|, sendo constante apenas o parâmetro J , correspondente à soma das interações de um spin com os demais. Neste texto, vamos nos concentrar exclusivamente no caso ferromagnético, isto é, J ≥ 0. O caso J = 0 é trivial, pois a medida de Gibbs é na verdade a medida produto de medidas de Bernoulli. A energia de cada CW estado σ nesse modelo será denotada por HΛ,h (σ) e dada por: CW HΛ,h (σ) = − X X J σi σj − hσi . 2|Λ| i∈Λ i,j∈Λ (3.1) Se h = 0, por exemplo, então temos que X J X J CW HΛ,0 (σ) = − σi σj = − σi 2|Λ| 2 i,j∈Λ i∈Λ " # X σj X J SΛ =− σi . |Λ| 2 |Λ| j∈Λ i∈Λ No modelo de Curie-Weiss é simples entender a relação entre o valor esperado de um spin qualquer hσi iΛ e a magnetização específica mΛ,h = hSΛ /|Λ|i. Para isso basta observar que devido à simetria do modelo, dados dois sítios i e j quaisquer, temos hσi iΛ,h = hσj iΛ,h . Logo, segue da linearidade Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 41 do valor esperado, que mΛ,h = SΛ |Λ| P = Λ,h σi |Λ| i = Λ,h 1 X 1 hσi iΛ,h = |Λ|hσi iΛ,h = hσi iΛ,h , |Λ| i |Λ| (3.2) ou seja, o valor esperado de um spin qualquer é exatamente a magnetização específica. 3.3 A Pressão do Modelo de Curie-Weiss Nesta seção vamos definir e calcular a pressão do modelo de Curie-Weiss. A função de partição ZΛ desse modelo pode ser calculada utilizando o hamiltoniano (3.1). Para cada natural N , temos Λ = [−N, N ] ∩ Z e ZΛ = X σ∈ΩΛ X X βJ σi exp σi σj + βh 2|Λ| i∈Λ i,j∈Λ = X exp σ∈ΩΛ βJ |Λ| 2 X σi |Λ| i∈Λ ! !2 + βh X σi . i∈Λ Claramente o termo quadrático na expressão acima é o termo que cria dificuldade na obtenção de uma fórmula mais explícita para ZΛ e consequentemente para a pressão, cuja definição será apresentada mais a frente. Para superar essa dificuldade, a ideia é reescrever o termo quadrático como uma integral Gaussiana. O primeiro passo para isso é considerar a seguinte identidade: a2 e 1 =√ 2π Z e √ −t2 + 2at 2 dt, R que é válida para todo a ∈ R. Usando essa identidade na expressão da função de partição com r a= βJ |Λ| X σi 2 |Λ| i∈Λ Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 42 temos que ZΛ = X σ∈ΩΛ = X σ∈ΩΛ 1 =√ 2π βJ |Λ| exp 2 X σi |Λ| i∈Λ !2 ! exp βh X σi . i∈Λ r !2 ! X X βJ |Λ| σ i exp βh σi exp 2 |Λ| i∈Λ i∈Λ XZ σ∈ΩΛ s −t2 +t 2 exp R βJ X σi |Λ| i∈Λ (3.3) ! ! dt · exp βh X σi i∈Λ s !# 2 Z Y" 1 X βJ −t =√ σi + βhσi exp dt. exp t |Λ| 2 2π σ∈ΩΛ R i∈Λ Para simplificar o termo que aparece mais à direita da igualdade acima vamos precisar da seguinte observação: se G : R2 → R é uma função Borel mensurável não-negativa, então XZ Y σ∈ΩΛ X G(t, σi ) dt = R i∈Λ ... σ−N ∈{−1,1} Z Y X σN ∈{−1,1} G(t, σi ) dt R i∈Λ Z = X R ... σ−N ∈{−1,1} X G(t, σ−N ) . . . G(t, σN ) dt σN ∈{−1,1} Z = X R Z = R G(t, σN ) ... σ−N ∈{−1,1} Y X G(t, σN ) dt σN ∈{−1,1} X G(t, σi ) dt. i∈Λ σi ∈{−1,1} Em vista dessa observação e de (3.3) obtemos s ! 2 Z Y X βJ −t 1 exp t σi + βhσi exp dt. ZΛ = √ |Λ| 2 2π R i∈Λ σ ∈{−1,1} i A expressão dentro do produtório acima pode ser escrita como s X σi ∈{−1,1} exp t βJ σi + βhσi |Λ| ! s = 2 cosh t ! βJ + βh . |Λ| Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 43 Substituindo essa expressão na última igualdade obtida para a função de partição ficamos com 1 ZΛ = √ 2π Z Y" s βJ + βh |Λ| 2 cosh t R i∈Λ !# exp −t2 2 dt (3.4) 2|Λ| =√ 2π s Z " cosh t R βJ + βh |Λ| !#|Λ| exp −t2 dt. 2 Com essa expressão alternativa da função de partição, é interessante neste ponto definir a pressão. Definição 3.3.1. Considere a sequência de volumes ΛN = [−N, N ] ∩ Z. A pressão do modelo de Curie-Weiss é definida por 1 log ZΛN (β, h). N →∞ |ΛN | p(β, h) = lim Observação 3.3.1. A prova de que p(β, h) está bem definida para todo β > 0 e h ∈ R (existência do limite acima) será dada na sequência, usando a representação integral que obtivemos em (3.4) para a função de partição ZΛ . Além de mostrar a existência de tal limite, vamos também obter uma fórmula explicita para a pressão, veja Teorema 3.3.3 Para provar a existência do limite acima vamos precisar do seguinte lema auxiliar. Lema 3.3.2. Seja (Ω, F, µ) um espaço de medida. Suponha que para todo 1 ≤ p ≤ ∞ temos f ∈ Lp (Ω, F, µ). Então kf kp → kf k∞ , quando p → ∞. Demonstração. Seja Kδ = {ω ∈ Ω : (kf k∞ − δ) ≤ |f (ω)|}. Então temos que 1Kδ (kf k∞ − δ)p ≤ 1Kδ |f |p . Integrando ambos os lados dessa desigualdade com respeito a µ temos que p Z µ(Kδ )(kf k∞ − δ) ≤ 1Kδ |f |p dµ ≤ kf kpp . Ω Tomando a raíz p-ésima nessa desigualdade e em seguida o lim inf quando p → ∞ ficamos com 1 (kf k∞ − δ) = lim inf µ(Kδ ) p (kf k∞ − δ) ≤ lim inf kf kp . p→∞ p→∞ Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 44 Já que δ > 0 é arbitrário segue que (3.5) kf k∞ ≤ lim inf kf kp . p→∞ Como |f (ω)| ≤ kf k∞ µ-quase certamente temos que para todo 1 ≤ q < p que kf kpp Z p−q |f (ω)| = q |f (ω)| dµ(ω) ≤ kf kp−q ∞ Z Ω q |f (ω)|q dµ(ω) = kf kp−q ∞ kf kq . Ω Tomando a raíz p-ésima em ambos lados da desigualdade acima e em seguida o lim sup quando p → ∞ ficamos com p−q q p−q q p p p p lim sup kf kp ≤ lim sup kf k∞ kf kq = lim sup kf k∞ lim sup kf kq = kf k∞ . p→∞ p→∞ p→∞ p→∞ A desigualdade acima juntamente com (3.5) nos fornece lim sup kf kp ≤ kf k∞ ≤ lim inf kf kp p→∞ p→∞ e, portanto, kf k∞ = lim kf kp . p→∞ Teorema 3.3.3. Sejam N ∈ N e ΛN = [−N, N ] ∩ Z. Se J , β > 0 e h ∈ R então a pressão do modelo de Curie-Weiss é dada por (x − βh)2 log ZΛN = log(2) + sup log(cosh(x)) − p(β, h) ≡ lim . N →∞ |ΛN | 2βJ x∈R Demonstração. Para facilitar a notação vamos omitir o subíndice N no volume ΛN , escrevendo apenas Λ e também escreveremos ZΛ ao invés de log ZΛN (β, h). Pelas propriedades básicas do logaritmo e por (3.4) temos 1 que (1/|Λ|) log ZΛ = log ZΛ|Λ| e também igual a log = log ! 2 1 (2π) 2|Λ| 2 (2π) 1 2|Λ| Z " s cosh t R βJ + βh |Λ| !#|Λ| exp 1 |Λ| −t2 dt 2 1 |Λ| s !#|Λ| 2 Z " βJ −t cosh t + log + βh exp dt |Λ| 2 R É fácil ver que a primeira parcela no lado direito da igualdade acima con- Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 45 verge para log(2) quando |Λ| → ∞. Precisamos mostrar que a segunda parcela também converge. Fazendo na integral acima a seguinte mudança de variáveis s s s βJ |Λ| |Λ| + βh =⇒ t = (u − βh) e dt = du. u=t |Λ| βJ βJ o segundo logaritmo acima pode ser reescrito como log |Λ| βJ 1 Z 2|Λ| |Λ| [cosh(u)] exp R −(u − βh)2 |Λ| 2βJ 1 ! |Λ| du . Usando propriedades básicas do logaritmo e fazendo apenas uma simplificação algébrica no integrando, a expressão se torna log |Λ| βJ " ! 1 2|Λ| Z cosh(u) · exp + log R 2 −(u − βh) 2βJ |Λ| 1 # |Λ| . du Já que para todo p ≥ 1 a função F dada F (u) ≡ cosh(u) · exp −(u − βh)2 2βJ pertence a Lp (R, B(R), dx) podemos aplicar o Lema (3.3.2) para garantir que o argumento do segundo logaritmo acima converge para kF k∞ > 0, quando |Λ| → ∞. Já que 1 log ZΛ = log |Λ| ! 2 (2π) 1 2|Λ| + log |Λ| βJ ! 1 2|Λ| + log kF k|Λ| o lado direito é soma de três sequências convergentes e, portanto, converge. Além disso, o limite é dado por 1 log ZΛ = log(2) + log (kF k∞ ) |Λ|→∞ |Λ| −(u − βh)2 = log(2) + log sup cosh(u) · exp 2βJ x∈R p(β, h) ≡ lim (x − βh)2 . = log(2) + sup log(cosh(x)) − 2βJ x∈R Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 46 Estamos interessados na pressão do modelo de Curie-Weiss porque podemos mostrar que a magnetização específica desse modelo está relacionada com uma derivada parcial da pressão. De maneira mais precisa, vamos mostrar na seção seguinte que a função f (β, h) = −β −1 p(β, h), (chamada de Energia Livre) para todo h 6= 0 e β > 0, tem derivada parcial com relação a h, que a sequência mΛ,h → m(β, h) de fato converge para todo β > 0 e h ∈ R, e, além disso, − ∂f (β, h) = m(β, h) ≡ lim mΛ,h . Λ→Z ∂h (3.6) Como temos uma fórmula explícita para p e, consequentemente, para f , poderemos mostrar, usando a equação acima, que não há magnetização espontânea para β ∈ (0, J −1 ]. Em outras palavras, vamos mostrar que se β ∈ (0, J −1 ] então lim+ m(β, h) ≡ lim+ lim mΛ,h = lim+ − h→0 h→0 Λ→Z h→0 ∂f (β, h) = 0. ∂h Por outro lado, se β > J −1 então mostraremos que há magnetização espontânea, isto é, ∂f lim+ m(β, h) = lim+ − (β, h) > 0. h→0 h→0 ∂h Portanto, no modelo de Curie-Weiss sabemos exatamente qual é o inverso da temperatura crítica de transição de fase, βc = J −1 ! No capítulo anterior mostramos que mΛ,h = −mΛ,−h . Usando essa identidade em (3.6) temos que − ∂f ∂f (β, h) = (β, −h). ∂h ∂h Dessa forma, no modelo de Curie-Weiss se β > J −1 (onde o modelo tem magnetização espontânea) então lim+ − h→0 ∂f (β, h) = lim+ m(β, h) > 0 h→0 ∂h e lim− − h→0 ∂f (β, h) = − lim− m(β, −h) < 0. h→0 ∂h Logo a Energia Livre (ou pressão) tem derivada parcial com respeito a h descontínua nos pontos em que h = 0 e β > J −1 . Dito de outra forma, para uma temperatura fixa no regime onde ocorre magnetização espontênea (baixas temperaturas) a energia livre vista como função do campo externo h é descontínua na origem h = 0. Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 3.4 47 Curie-Weiss e a Derivada da Pressão Nesta seção vamos definir a pressão e a energia livre a volume finito do modelo de Curie-Weiss e estudar suas relações com a magnetização específica a volume Λ. A Pressão e a energia livre a volume Λ = [−N, N ] ∩ Z são definidas para β > 0 e h ∈ R pelas seguintes expressões pΛ (β, h) ≡ log ZΛN (β, h) |ΛN | 1 fΛ (β, h) = − pΛ (β, h). β e Teorema 3.4.1 (Convexidade de Pressão). Sejam N ∈ N e Λ = [−N, N ] ∩ Z. Fixado β > 0, temos que a função h 7→ pΛ (β, h) é uma função convexa de R em R. Demonstração. Para mostrar que, para qualquer β fixado, h 7→ pΛ (β, h) é uma função convexa é suficiente mostrar para todo 0 ≤ α ≤ 1 e h1 , h2 ∈ R vale a seguinte desigualdade ZΛ (β, αh1 + (1 − α)h2 ) ≤ ZΛ (β, h1 )α · ZΛ (β, h2 )1−α . (3.7) De fato, tomando o logaritmo em ambos os lados da dessa desigualdade e em seguida dividindo por |Λ| obtemos 1 log ZΛ (β, αh1 + (1 − α)h2 ) |Λ| α 1−α ≤ log ZΛ (β, h1 ) + log ZΛ (β, h2 ) |Λ| |Λ| pΛ (β, αh1 + (1 − α)h2 ) ≡ = αpΛ (β, h1 ) + (1 − α)pΛ (β, h2 ). Assim, tudo que temos que fazer é mostrar que a desigualdade (3.7) é válida sob as hipóteses do teorema. Pela definição da função de partição o lado esquerdo de (3.7) é dado por X σ∈ΩΛ X βJ X σi σj + β[αh1 + (1 − α)h2 ] σi exp 2|Λ| i,j∈Λ i∈Λ ! (3.8) que por sua vez é igual a X σ∈ΩΛ X βJ σi σj exp 2|Λ| i,j∈Λ ! ! · exp αβh1 X i∈Λ σi ! exp (1 − α)βh2 X i∈Λ σi . (3.9) Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 48 Usando as propriedades básicas da função exponencial temos que a expressão acima é igual a X σ∈ΩΛ X βJ exp σi σj 2|Λ| i,j∈Λ !#α " ! " · exp βh1 X σi !#1−α exp βh2 i∈Λ X (3.10) σi i∈Λ Considerando a medida µ definida no conjunto das partes de ΩΛ por Z X βJ µ(E) = σi σj 1E (σ) exp 2|Λ| ΩΛ i,j∈Λ ! dκ(σ), onde κ é a medida da contagem em ΩΛ , podemos reescrever a expressão (3.10), que é igual a ZΛ (β, αh1 + (1 − α)h2 ), como segue !#α " " Z ZΛ (β, αh1 + (1 − α)h2 ) = exp βh1 ΩΛ X σi !#1−α exp βh2 i∈Λ X σi dµ(σ). i∈Λ Aplicando a desigualdade de Hölder no lado direito da igualdade acima com p = 1/α e q = 1/(1 − α) obtemos !#α " " Z ZΛ (β, αh1 + (1 − α)h2 ) = exp βh1 ΩΛ Z ≤ !# exp βh1 ΩΛ σi !#1−α exp βh2 i∈Λ " X X σi i∈Λ !α X σi dµ(σ) i∈Λ Z " exp βh2 dµ(σ) ΩΛ !1−α !# X σi dµ(σ) i∈Λ ≤ ZΛ (β, h1 )α ZΛ (β, h2 )1−α . Provando (3.7) e, consequentemente, a convexidade de h 7→ pΛ (β, h). Corolário 3.4.2. Sejam N ∈ N e Λ = [−N, N ] ∩ Z. Fixado β > 0 temos que a função h 7→ fΛ (β, h) é uma função concava de R em R. Demonstração. Já que fΛ (β, h) = −β −1 pΛ (β, h) e β > 0 é uma constante o resultado segue diretamente da convexidade de h 7→ pΛ (β, h). Teorema 3.4.3 (Concavidade da Magnetização). Sejam N ∈ N e Λ = [−N, N ] ∩ Z. Fixados J e β > 0, temos que a função h 7→ mΛ (β, h) é uma função côncava em [0, +∞). Demonstração. Como para todo Λ e β > 0 fixados h 7→ mΛ (β, h) é uma função d2 de classe C ∞ é suficiente provar que dh 2 mΛ (β, h) ≤ 0. Do Corolário 2.2.3 Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 49 temos ∂ 1 X mΛ,β,{hi }i∈Λ = β hσj σi iΛ,β,{hi }i∈Λ − hσj iΛ,β,{hi }i∈Λ hσi iΛ,β,{hi }i∈Λ ∂hi |Λ| j∈Λ Considere a aplicação γ : R → R2N +1 dada por γ(h) = (h, . . . , h). Então temos para todo h ∈ R que a magnetização específica do modelo de Curie-Weiss com campo constante mΛ,β,h é dada por mΛ,β,{hi }i∈Λ , com hi = h, ∀i ∈ Λ. A regra cadeia nos dá d mΛ,β,h = ∇mΛ,β,{hi }i∈Λ · γ 0 (h) dh {hi }i∈Λ =γ(h) = X ∂ mΛ,β,{hi }i∈Λ ∂h i i∈Λ = 1 X β [hσj σi iΛ,β,h − hσj iΛ,β,h hσi iΛ,β,h ] . |Λ| i,j∈Λ Note que, nessa última igualdade, o valor esperado é calculado com campo externo constante igual a h. Um cálculo análogo ao feito na prova do Corolário 2.2.3 mostra que X d hσj σi iΛ,β,h = β [hσi σj σk iΛ,β,h − hσi σj iΛ,β,h hσk iΛ,β,h ]. dh k∈Λ Uma vez que sabemos calcular X d hσi iΛ,β,h = β [hσi σk iΛ,β,h − hσi iΛ,β,h hσk iΛ,β,h ] dh k∈Λ temos, pela regra do produto para derivadas, que d2 β X d d d mΛ,β,h = hσj σi iΛ,β,h − hσj iΛ,β,h hσi iΛ,β,h − hσj iΛ,β,h hσi iΛ,β,h dh2 |Λ| i,j∈Λ dh dh dh = β2 X h hσi σj σk iΛ,β,h − hσi iΛ,β,h hσj σk iΛ,β,h − hσj iΛ,β,h hσi σk iΛ,β,h |Λ| i,j,k∈Λ i − hσk iΛ,β,h hσi σj iΛ,β,h + 2hσi iΛ,β,h hσj iΛ,β,h hσk iΛ,β,h ≤ 0, onde, na última desigualdade, usamos o Teorema 2.2.7 (Desigualdade GHS) para cada termo entre os colchetes acima. Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 50 Antes de passarmos para o enunciado e prova do teorema mais importante desta seção, vamos lembrar o enunciado de um teorema clássico de Análise Convexa que será usado várias vezes adiante. Teorema 3.4.4. Para cada n ∈ N seja fn : R → R uma função convexa. Seja D ⊂ R um subconjunto denso. Suponha que fn (x) → f (x), quando n → ∞, para todo x ∈ D. Então as seguintes conclusões são válidas. i) O limite f (x) = limn→∞ fn (x) existe para todo x ∈ R e define uma função convexa em toda reta. ii) A sequência de funções {fn } converge uniformemente nas partes compactas da reta. Demonstração. Veja [20] página 90. Teorema 3.4.5. Sejam N ∈ N, β > 0, h ∈ R e mΛN (β, h) a magnetização específica do modelo de Curie-Weiss a volume ΛN com J ≥ 0. Fixado β > 0, existe uma sequência de números naturais {Ni (β)} ≡ {Ni } e m(β, h) ∈ R, tais que para todo h ∈ R temos m(β, h) = lim mΛNi (β, h). i→∞ A aplicação h 7→ m(β, h) é côncava em [0, +∞) e contínua no aberto (0, +∞). Além do mais, d ∀h ∈ (0, +∞). − f (β, h) = m(β, h), dh Demonstração. Assumindo a existência do limite limi→∞ mΛNi (β, h) temos que a função h 7→ m(β, h) é côncava pois, é limite pontual de funções côncavas. A continuidade no intervalo aberto (0, +∞) segue do fato que qualquer função real côncava definida em um aberto é uma função contínua. Portanto resta provar a existência do limite limi→∞ mΛNi (β, h) sob as hipóteses do corolário. Fixados β > 0 e Λ temos que d d − fΛ (β, h) = dh dh 1 log ZΛ,h β|Λ| 1 1 d ZΛ,h β|Λ| ZΛ,h dh * + 1 X = σi = mΛ (β, h). |Λ| i∈Λ = Λ,h Da igualdade acima e do Teorema Fundamental do Cálculo temos que Z fΛ (β, 0) − fΛ (β, h) = β h mΛ (β, x) dx. 0 Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 51 Segue do Teorema 3.3.3 (existência da pressão) que o limite do lado esquerdo da igualdade acima existe para todo β > 0 e h ∈ [0, +∞). Vamos denotar por f (β, h) tal limite. Lembrando que Λ ≡ [−N, N ] ∩ Z podemos escrever Z f (β, 0) − f (β, h) = lim [fΛ (β, 0) − fΛ (β, h)] = lim N →∞ N →∞ h mΛ (β, x) dx. (3.11) 0 É preciso um certo cuidado para lidar com o limite que aparece acima. Seja {q1 , . . . , qn , . . .} uma enumeração arbitrária de Q. Como |mΛ (β, q1 )| ≤ 1 segue do Teorema de Bolzano-Weierstrass que existe uma sequência de números naturais {Ni (q1 )}i∈N tal que a sequência mΛNi (q1 ) (β, q1 ) de números reais converge para algum número real m(β, q1 ) ∈ [−1, 1]. Para facilitar a notação vamos escrever apenas mNi (q1 ) (β, q1 ) para denotar mΛNi (q1 ) (β, q1 ). Logo podemos escrever lim mNi (q1 ) (β, q1 ) = m(β, q1 ). i→∞ Pelo mesmo argumento apresentado acima, para o racional q2 podemos encontrar uma sequência {Ni (q2 )}i∈N contida em {Ni (q1 )}i∈N e um número real m(β, q2 ) ∈ [−1, 1] tais que lim mNi (q2 ) (β, q2 ) = m(β, q2 ). i→∞ Procedendo uma indução formal, podemos argumentar que existem sequências de números naturais {Ni (qj )}i∈N satisfazendo {Ni (q1 )}i∈N ⊃ {Ni (q2 )}i∈N ⊃ . . . ⊃ {Ni (qj )}i∈N ⊃ . . . e números reais m(β, qj ), para todo j ∈ N, tais que lim mNi (q2 ) (β, q2 ) = m(β, q2 ). i→∞ Pelas propriedades elementares de limites de sequências e pela construção acima podemos afirmar que, para qualquer j ∈ N fixado, lim mNi (qi ) (β, qj ) = m(β, qj ). i→∞ Isso mostra que a sequência de funções h 7→ mΛNi (qi ) (β, h) Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 52 converge em Q. Como cada uma dessas funções é côncava e Q é denso em R, podemos garantir pelo Teorema 3.4.4 que a convergência ocorre para todo h ∈ R, isto é, para todo h ∈ R temos quando i → ∞. mΛNi (qi ) (β, h) → m(β, h), Como existe o limite em (3.11) segue que Z lim N →∞ h h Z mΛN (β, x) dx = lim i→∞ 0 0 mΛNi (qi ) (β, x) dx. Usando que |mΛNi (qi ) (β, x)| ≤ 1 para todo x ∈ R e o Teorema da Convergência Dominada de Lebesgue, chegamos a Z lim N →∞ h Z mΛN (β, x) dx = lim i→∞ 0 0 h Z mΛNi (qi ) (β, x) dx = h m(β, x) dx. 0 Usando a igualdade acima em (3.11) ficamos com Z f (β, 0) − f (β, h) = h m(β, x) dx. 0 Como temos garantia que x → m(β, x) é contínua no intervalo (0, +∞), conclui-se da igualdade acima e do T.F.C. a diferenciabilidade de f (β, h) em (0, +∞) e, além disso, − d f (β, h) = m(β, h), dh ∀h ∈ (0, +∞). No teorema acima mostramos, para todo β > 0 e h ∈ R, que a sequência {mΛN (β, h)} possui uma subsequência que converge para m(β, h) e também mostramos que m(β, h) é dada pelo negativo da derivada da energia livre. O método empregado na prova funciona para qualquer modelo para o qual podemos garantir tanto a concavidade de x 7→ mΛ (β, x) como a existência da energia livre. Sua principal desvantagem é nos fornecer uma definição para m(β, h) dependente de uma subsequência a qual não temos a priori como determinar. Apesar de não sabermos qual é a subsequência, isso não causará nenhum inconveniente no restante deste texto. Mas, de qualquer forma, é importante mencionar que no caso ferromagnético, isto é, J ≥ 0, é possível mostrar que a sequência {mΛN (β, h)} de fato converge para m(β, h), assim como no modelo de Ising. Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 53 Teorema 3.4.6. Sejam N ∈ N, β > 0, h ∈ R e mΛN (β, h) a magnetização específica do modelo de Curie-Weiss a volume ΛN com J ≥ 0. Então m(β, h) = lim mΛN (β, h), N →∞ onde m(β, h) é a função obtida no teorema anterior. Demonstração. Veja [6] Teorema IV.4.1, página 100. 3.5 Magnetização Espontânea no Modelo de Curie-Weiss Vamos recapitular alguns resultados obtidos nas seções anteriores que serão usados para mostrar que a magnetização específica m(β, h) do modelo de Curie-Weiss com constante de acoplamento J ≥ 0 satisfaz: i) se β é tal que βJ ≤ 1 então lim+ m(β, h) = 0. h→0 ii) se β é tal que βJ > 1 então lim+ m(β, h) > 0. h→0 Assim, o inverso da temperatura crítica no modelo de Curie-Weiss é dado por βc = J −1 . Pelo Teorema 3.4.5 temos, para todo β > 0 fixado, que − d f (β, h) = m(β, h), dh ∀h ∈ (0, +∞). Lembrando que −f (β, h) = β −1 p(β, h), então podemos obter limh→0+ m(β, h) calculando a derivada da pressão. Mas, como temos uma fórmula explicita para a pressão p(β, h), nosso trabalho se reduz a calcular sua derivada e, em seguida, avaliar o limite. A expressão obtida para pressão do modelo de Curie-Weiss no Teorema 3.3.3 é a seguinte (x − βh)2 p(β, h) = log(2) + sup log(cosh(x)) − 2βJ x∈R . A presença do supremo na expressão acima deixa claro que para calcular a derivada de p(β, h) com respeito a h é necessário uma análise bastante cuidadosa. Vamos considerar a função auxiliar F : R × R → R dada por F (x, h) = log(cosh(x)) − (x − βh)2 . 2βJ Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 54 Observamos que para qualquer h ∈ R fixado, temos lim F (x, h) = −∞. x→±∞ Logo, a função x 7→ F (x, h) possui pelo menos um ponto de máximo global em R. Vamos escolher um desses pontos de máximo global e denotá-lo por x∗ (h). Como a aplicação x 7→ F (x, h) é diferenciável, a derivada dessa função calculada no ponto de máximo x∗ (h) é necessariamente nula e, portanto, (x∗ (h) − βh) ∂ F (x∗ (h), h) = tanh(x∗ (h)) − . (3.12) 0= ∂x βJ Tomando h = 0 na igualdade acima, ficamos com tanh(x∗ (0)) = x∗ (0) . βJ (3.13) A partir deste ponto precisamos dividir nossa análise em três casos. Caso-I (βJ < 1) Neste caso a única solução x∗ (0) para (3.13) é x∗ (0) = 0. De fato, a função tanh(x) − x/(βJ ) se anula em x = 0 e tem derivada negativa em R \ {0}. Considere a função G : R × R → R dada por G(x, h) = tanh(x) − x − βh . βJ Note que se G(x, h) = 0 então x é um ponto crítico de x 7→ F (x, h). Já que G é de classe C ∞ e ∂G 1 1 (0, 0) = sech2 (0) − =1− 6= 0 ∂x βJ βJ segue do Teorema da Função Implícita que existe um retângulo bidimensional R = (−ε, ε) × (−ε, ε) tal que para cada h ∈ (−ε, ε) existe um único x∗ (h) ∈ (−ε, ε) tal que G(x∗ (h), h) = 0. A aplicação h 7→ x∗ (h) também é de classe C ∞ . Observe que para todo |h| < ε então o ponto de máximo (x∗ (h), h) de F satisfaz G(x∗ (h), h) = 0. Mas, pela unicidade fornecida pelo teorema da função implícita temos que x∗ (h) = x∗ (h). Segue de uma observação feita acima que h 7→ x∗ (h) define uma função de classe C ∞ . Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 55 Se |h| < ε (determinado acima) temos que (x − βh)2 p(β, h) = log(2) + sup log(cosh(x)) − 2βJ x∈R = log(2) + log(cosh(x∗ (h))) − (x∗ (h) − βh)2 2βJ = log(2) + F (x∗ (h), h). Como todas as funções que aparecem acima são diferenciáveis com respeito a h, colocando γ(h) = (x∗ (h), h) temos pela regra da cadeia que d d p(β, h) = F (γ(h)) dh dh = ∇F (γ(h)) · γ 0 (h) ∂F ∗ d ∂F ∗ = (x (h), h) x∗ (h) + (x (h), h) ∂x dh ∂h ∂F ∗ = (x (h), h), ∂h onde na última igualdade foi usado (3.12). Usando a expressão de F chegamos à seguinte igualdade ∂F ∗ x∗ (h) − βh d p(β, h) = (x (h), h) = . dh ∂h J Do Teorema 3.4.5 e da definição de f (β, h) temos a seguinte igualdade m(β, h) = β −1 (d/dh)p(β, h). Usando a igualdade anterior concluímos que m(β, h) = x∗ (h) − βh . βJ Mas como x∗ (0) = 0 e x∗ (h) é contínua próximo de zero segue lim m(β, h) = 0. h→0+ Caso-II (βJ = 1) Neste caso a única solução x∗ (0) para (3.13) é novamente x∗ (0) = 0. A prova desse fato é identica à do caso anterior. Agora consideramos a função G : R × R → R dada por G(x, h) = tanh(x) − x + βh. Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 56 Diferente do caso anterior, aqui não é possível aplicar imediatamente o Teorema da Função Implícita para o ponto (0, 0). A ideia será usar o teorema em outro ponto. Para isso observamos que existe para todo h > 0 uma única solução positiva x∗ (h) da equação G(x, h) = 0. De fato G(0, h) = βh > 0 e, para todo x > 0, temos (∂/∂x)G(x, h) < 0. Além disso limx→∞ G(x, h) = −∞. Como (∂/∂x)G(x∗ (h), h) 6= 0, da unicidade garantida pelo Teorema da Função Implícita segue que x∗ (h) = x∗ (h) para h > 0 e que x∗ (h) é diferenciável no intervalo (0, +∞). Nesse intervalo temos d ∗ β d G(x∗ (h), h) = 0 =⇒ x (h) = < 0. 2 ∗ dh dh sech (x (h)) − 1 Já que G(x∗ (h), h) = 0, temos pela definição de G que tanh(x∗ (h))−x∗ (h)+βh = 0. Usando que | tanh(x)| ≤ 1 segue igualdade acima |x∗ (h)| ≤ βh + 1. Como x∗ (h) é também uma função decrescente de h no intervalo (0, +∞) existe limh→0+ x∗ (h). Usando a continuidade de G temos que G(limh→0+ x∗ (h), 0) = 0 o que implica em tanh limh→0+ x∗ (h) = limh→0+ x∗ (h) e, portanto, limh→0+ x∗ (h) = 0. Como sabemos que x∗ (0) = 0, temos que x∗ é contínua a direita em h = 0. Note que a pressão, como no caso anterior, é dada por p(β, h) = log(2) + F (x∗ (h), h). A partir deste ponto o restante da análise pode ser feito de maneira análoga ao do caso anterior e ao final obtemos x∗ (h) − βh =⇒ lim+ m(β, h) = 0. m(β, h) = h→0 βJ Caso-III (βJ > 1). Para não fazer confusão com os casos anteriores, nossa escolha de um ponto de máximo global de F (x, h) = log(cosh(x)) − (x − βh)2 , 2βJ (com h > 0 fixado) será denotada por y ∗ (0). Como F é diferenciável sabemos que y ∗ (0) deve necessariamente satisfazer a equação (3.13) tanh(y ∗ (0)) = y ∗ (0) . βJ Como estamos supondo que βJ > 1, diferentemente do caso anterior, a equação acima não determina unicamente o ponto y ∗ (0) pois, esta equação possui a solução nula e também possui uma (única) solução positiva. De fato, se g denota a função dada por g(x) = x/(βJ ) − tanh(x) temos que g(0) = 0 e g 0 (0) = 1/(βJ ) − 1 < 0. Como g tem derivada contínua, podemos Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 57 garantir em algum intervalo (0, δ), com δ > 0, que g 0 é negativa e consequentemente g é decrescente, logo negativa. Como | tanh(x)| < 1, temos que limx→+∞ g(x) = +∞. Portanto existe algum ponto y0 ∈ (0, +∞) tal que y0 tanh(y0 ) = βJ . Já que g 00 (x) = 2 tanh(x) sech2 (x) > 0 para x > 0, a unicidade de y0 segue da convexidade de g. Para mostrar que y ∗ (0) 6= 0 é suficiente mostrar que existe alguma vizinhança pequena da origem, digamos (0, δ), tal que se y ∈ (0, δ), então F (0, h) < F (y, h). Daí segue que y ∗ (0), o ponto de máximo global de x 7→ F (x, h) é positivo. Para isto basta observar que F (0, h) = − 1 β 2 h2 β 2 h2 < F (y, h) = log(cosh(y)) − (y(y − βhx)) − , 2βJ 2βJ 2βJ se y ∈ (0, βh). Procedendo exatamente como no caso anterior obtemos do Teorema da Função Implícita a existência de uma função diferenciável y ∗ (h) tal que para h > 0 temos p(β, h) = log(2) + F (y ∗ (h), h) e m(β, h) = y ∗ (h) − βh . βJ Agora tomando o limite, quando h → 0 pela direita, ficamos com lim+ m(β, h) = h→0 y ∗ (0) > 0. βJ Equação Funcional da Magnetização. Em todos os três casos analisados acima, as funções x∗ (h) e y ∗ (h), foram determinadas como as maiores soluções da equação (x − βh) tanh(x) = . βJ Para unificar a análise vamos considerar x∗ (h), se βJ ≤ 1; ∗ z (h) = . y ∗ (h), se βJ > 1. Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 58 Da afirmação feita acima temos, para todo h ≥ 0, que a seguinte equação é satisfeita (z ∗ (h) − βh) tanh(z ∗ (h)) = . βJ Usando esta equação temos que (z ∗ (h) − βh) + βh tanh (βJ m(β, h) + βh) = tanh βJ βJ = tanh (z ∗ (h)) = (z ∗ (h) − βh) βJ = m(β, h). Para posterior referência vamos enunciar na forma de um teorema os resultados provados nesta seção. No enunciado do teorema abaixo vamos optamos por denotar a magnetização do modelo de Curie-Weiss por mCW (β, h), para diferenciá-la da magnetização dos modelos de Ising e do modelo Hierárquico, que será definido mais a frente. Teorema 3.5.1. Seja mCW (β, h) a magnetização específica do modelo de Curie-Weiss com constante de acoplamento J ≥ 0. Então o ponto crítico desse modelo é dado por βc = J −1 e i) se β ≤ βc , isto é, βJ ≤ 1 então lim mCW (β, h) = 0; h→0+ ii) se βc < β, isto é, βJ > 1 então lim mCW (β, h) > 0; h→0+ iii) para todo β > 0 e h ≥ 0 temos tanh βJ mCW (β, h) + βh = mCW (β, h). 3.6 Comparação de um Modelo de Ising com Curie-Weiss Sejam N ∈ N, Λ = [−N, N ] ∩ Z, β > 0, h ≥ 0. Denote por mΛ (β, h) a magnetização específica no modelo de Ising no volume Λ, com condições de Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 59 contorno livre e constantes de acoplamento Jij = J(|i − j|). Ao longo desta seção vamos assumir sempre que kJk ≡ ∞ X Jij = J(0) + 2 ∞ X J(r) < +∞. r=1 i=−∞ O objetivo desta seção é mostrar que a magnetização específica do modelo de Curie-Weiss, mCW (β, h) com J = kJk é tal que para todo Λ vale a seguinte desigualdade 1 |Λ| * X i∈Λ + ≤ mCW (β, h). σi Λ,β,h Lema 3.6.1. Seja h̃ ≥ 0 e considere o modelo de Ising com constantes de acoplamento Jij ≡ 0 e hamiltoniano no volume Λ dado por HΛ (σ) = −h̃ X σi . i∈Λ Se PΛ,β denota a medida de Gibbs a ao inverso da temperatura β no volume Λ deste modelo então, as variáveis aleatórias {Xi , i ∈ Λ} definidas no espaço de probabilidade (ΩΛ , FΛ , PΛ,β ) por Xi (σ) = σi são independentes. Demonstração. Observe que a v.a. Xi toma valores no conjunto {−1, 1} que é discreto. Portanto para provar que o coleção {Xi , i ∈ Λ} é independente basta mostrar que para todo conjunto {i1 , . . . , ik } ⊂ Λ e ci1 , . . . , cik ∈ {−1, 1} temos k Y PΛ,β (Xi1 = c1 , . . . , Xik = ck ) = PΛ,β (Xij = cj ). (3.14) j=1 Vamos calcular primeiro PΛ,β (Xij = cj ). Para isto vamos começar pelo cálculo da função de partição que será denota por ZΛ,β . ZΛ,β = X X exp(−βHΛ (σ)) = σ∈ΩΛ X Y X ... σ−N ∈{−1,1} = Y exp(β h̃σi ) σN ∈{−1,1} i∈Λ σ−N ∈{−1,1} = X ... X Y σN ∈{−1,1} i∈Λ exp(β h̃σi ) i∈Λ σi ∈{−1,1} = 2|Λ| [cosh(β h̃)]Λ . exp(β h̃σi ) Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 60 Pela definição da medida de Gibbs temos que PΛ,β (Xij = cj ) = X 1{Xij =cj } 1 exp(−βHΛ (σ)) ZΛ,β 1{Xij =cj } 1 Y exp(β h̃σi ) ZΛ,β i∈Λ σ∈ΩΛ = X σ∈ΩΛ X = ... X σ−N ∈{−1,1} σN ∈{−1,1} X X 1{Xij =cj } 1 Y exp(β h̃σi ) ZΛ,β i∈Λ (3.15) = ... σ−N ∈{−1,1} σij ∈{−1,1} 1 Y 1{Xij =cj } exp(β h̃σi ) ZΛ,β i∈Λ = 1 eβ h̃cj · 2|Λ|−1 [cosh(β h̃)]|Λ|−1 2|Λ| [cosh(β h̃)]|Λ| = eβ h̃cj . 2 cosh(β h̃) Procedendo de maneira análoga vemos que PΛ,β (Xij = c1 , . . . , Xik = ck ) = eβ(c1 +...ck ) . 2k [cosh(β h̃)]k Desta igualdade e da expressão obtida acima para PΛ,β (Xij = cj ) temos que (3.14) é valido e portanto o lema está demonstrado. Corolário 3.6.2. Sejam (ΩΛ , FΛ , PΛ,β ) e {Xi , i ∈ Λ} como no Lema (3.6.1). Denote por EΛ,β a esperança com respeito a medida de probabilidade PΛ,β . Para todo m ∈ R fixado e toda coleção de números inteiros não-negativos {pi , i ∈ Λ} temos que " EΛ,β # Y Y EΛ,β [(m − Xi )pi ] (m − Xi )pi = i∈Λ i∈Λ Demonstração. Considere a coleção de v.a.’s {Yi ≡ (m − Xi )pi , i ∈ Λ}. Aplicando o Lema 3.6.1 podemos verificar que esta coleção é independente no espaço de probabilidade (ΩΛ , FΛ , PΛ,β ) e a igualdade afirmada acima segue das propriedades básicas de esperança de v.a.’s independentes. Para o próximo fato que vamos provar precisamos lembrar que a medida de Gibbs PΛ,β depende também do parâmetro h̃ que aparece no Hamiltoniano HΛ . Vamos explorar abaixo esta dependência e e para indicá-la Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 61 vamos usar a notação EΛ,β,h̃ Lema 3.6.3. Seja kJk como definido no início desta seção e mCW (β, h) a magnetização específica do modelo de Curie-Weiss com constante de acoplamento J = kJk. Afirmamos que para todo i ∈ Λ mCW (β, h) = EΛ,β,h̃ [Xi ], onde h̃ = kJkmCW (β, h) + h. Demonstração. A prova deste fato segue da equação funcional obtida no item iii) do Teorema 3.5.1. Para ver isto vamos calcular o valor esperado acima com ajuda da fórmula obtida em (3.15) EΛ,β,h̃ [Xi ] = PΛ,β,h̃ (Xi = 1) − PΛ,β,h̃ (Xi = −1) = e−β h̃ eβ h̃ − 2 cosh(β h̃) 2 cosh(β h̃) = tanh(β h̃) = tanh(βkJkmCW (β, h) + βh) = mCW (β, h), onde na última igualdade usamos a equação funcional de mCW (β, h). Lema 3.6.4. Seja h̃ = kJkmCW (β, h) + h como no lema anterior. Para todo i ∈ Λ e p inteiro não-negativo temos que h i EΛ,β,h̃ (mCW (β, h) − Xi )p ≥ 0. Demonstração. Se p é par não há nada a fazer. Portanto vamos assumir que p é ímpar. Usando a definição do valor esperado temos que h i EΛ,β,h̃ (mCW (β, h) − Xi )p = (mCW (β, h) − 1)p PΛ,β,h̃ (Xi = 1) + (mCW (β, h) + 1)p PΛ,β,h̃ (Xi = −1) = (mCW (β, h) − 1)p eβ h̃ + (mCW (β, h) + 1)p e−β h̃ 2 cosh(β h̃) Aplicando o Lema 3.6.3 temos que o lado direito da igualdade acima é dado por (EΛ,β,h̃ [Xi ] − 1)p eβ h̃ + (EΛ,β,h̃ [Xi ] + 1)p e−β h̃ 2 cosh(β h̃) Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 62 Usando novamente a definição de valor esperado e que p é ímpar temos que p (EΛ,β,h̃ [Xi ] − 1) = = !p eβ h̃ − e−β h̃ −1 eβ h̃ + e−β h̃ −2e−β h̃ eβ h̃ + e−β h̃ !p = −2p e−pβ h̃ p p 2 [cosh(β h̃)] = −e−pβ h̃ [cosh(β h̃)]p De maneira análoga temos que (EΛ,β,h̃ [Xi ] + 1)p = eβ h̃ − e−β h̃ +1 eβ h̃ + e−β h̃ β h̃ = eβ h̃ 2e + e−β h̃ !p !p = 2p epβ h̃ p p 2 [cosh(β h̃)] = epβ h̃ . [cosh(β h̃)]p Usando estas duas identidades temos que (EΛ,β,h̃ [Xi ] − 1)p eβ h̃ + (EΛ,β,h̃ [Xi ] + 1)p eβ h̃ 2 cosh(β h̃) = −e−pβ h̃ eβ h̃ + epβ h̃ e−β h̃ . 2[cosh(β h̃)]p+1 Assim a prova do lema se reduz a mostrar que o numerador do lado direito da igualdade acima é não negativo. Já que h̃ = kJkmCW (β, h) + h ≥ 0 a não negatividade do termo acima é consequência imediata da desigualdade ekp e−k ≥ e−kp ek válida para todo p inteiro não negativo e k ∈ [0, +∞). Na sequência provamos o principal teorema desta seção. Ele mostra que a magnetização do modelo de Curie-Weiss ferromagnético com cons- Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 63 tante de acoplamento adequadamente escolhida, majora a magnetização do modelo de Ising ferromagnetico com constantes de acoplamento invariantes por translação. Teorema 3.6.5. Considere o modelo de Ising com Hamiltoniano a volume Λ = [−N, N ] ∩ Z dado por HΛ (σ) = X X 1 { − Jij σi σj − hσi }, com Jij = J(|i − j|), Jkk = 0 ∀k ∈ Λ. 2 i∈Λ j∈Λ P Sejam kJkΛ = i∈Λ Jij (está bem definido pois Jij = J(|i − j|)) e mΛ (β, h) a magnetização específica do modelo de Ising no volume Λ. Se mCW (β, h) denota a magnetização do modelo de Curie-Weiss com constante de acoplamento J = kJkΛ , então temos para todo β > 0 e h ≥ 0 que mΛ (β, h) ≤ mCW (β, h). Demonstração. Uma manipulação algébrica simples mostra que é válida a seguinte igualdade: 1 X Jij (mCW (β, h) − σi )(mCW (β, h) − σj ) 2 i,j∈Λ X 1X =− kJkΛ (mCW (β, h))2 + kJkΛ mCW (β, h)σi 2 i∈Λ i∈Λ X 1 − Jij σi σj . 2 i,j∈Λ − P Subtraindo h i∈Λ σi de ambos os lados da igualdade, aparece a expressão para HΛ (σ) no último fator do lado direito. Após uma rearrumação dos termos, chegamos à seguinte expressão: HΛ (σ) = − 1 X Jij (mCW (β, h) − σi )(mCW (β, h) − σj ) 2 i,j∈Λ X 1 − (kJkΛ mCW (β, h) + h) σi + |Λ| kJkΛ (mCW (β, h))2 . 2 i∈Λ Se agora escolhemos h̃ = (kJkΛ mCW (β, h) + h), é interessante definir HΛ (σ) = −(kJkΛ mCW (β, h) + h) X i∈Λ σi = h̃ X i∈Λ σi , Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 64 para termos a seguinte igualdade HΛ (σ) = − 1 X Jij (mCW (β, h) − σi )(mCW (β, h) − σj ) 2 i,j∈Λ 1 HΛ (σ) + |Λ| kJkΛ (mCW (β, h))2 . 2 Denote por h·iΛ,β,h a esperança em ΩΛ , com respeito a medida de Gibbs definida pelo Hamiltoniano HΛ ao inverso da temperatura β. E conservando a notação dos lemas anteriores denote por EΛ,β,h̃ a esperança com respeito a medida de Gibbs definida por HΛ ao inverso da temperatura β. Sejam Xi : ΩΛ → {−1, 1} as variáveis aleatórias dadas por Xi (σ) = σi . Já que para qualquer constante (independente de σ) temos que a medida de Gibbs definida pelos hamiltonianos H e H+const. são idênticas, podemos desprezar o último termo no Hamiltoniano acima, para verificar mais facilmente que hmCW (β, h) − Xi iΛ,β,h " 1 X Jij (mCW (β, h) − Xi )(mCW (β, h) − Xj ) 2 i,j∈Λ = EΛ,β,h (mCW (β, h) − Xi ) · exp !# . Expandindo a exponencial que aparece acima em série de Taylor e usando a independência das v.a.’s Xi estabelecida no Lema 3.6.1 e o Corolário 3.6.2 temos que a esperança acima uma soma com coeficientes positivos de produtos da forma " EΛ,β # Y Y EΛ,β (mCW (β, h) − Xi )pi . (mCW (β, h) − Xi )pi = i∈Λ i∈Λ Aplicando agora o Lema 3.6.4 obtemos a seguinte desigualdade hmCW (β, h) − Xi iΛ,β,h ≥ 0 Usando a linearidade da esperança segue imediatamente que 1 mΛ (β, h) ≡ |Λ| * X i∈Λ + σi Λ,β,h 1 ≡ |Λ| * X i∈Λ + ≤ mCW (β, h). Xi Λ,β,h Teorema 3.6.6. Sob as mesmas hipóteses do teorema anterior sejam mΛ (β, h) e mCW (β, h, kJΛ k) respectivamente as magnetizações específicas do Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 65 modelo de Ising e Curie-Weiss (J = kJΛ k) a volume Λ, então m(β, h) = lim mΛ (β, h) ≤ lim mCW (β, h, kJkΛ ) = mCW (β, h, kJk) Λ→Z onde kJk = P∞ r=1 Λ→Z J(r). Demonstração. A primeira igualdade na conclusão deste teorema segue do Lema 2.4.2 a primeira desigualdade vem do teorema anterior e a última igualdade segue da seguinte igualdade m CW z ∗ (h) − β (β, h, kJkΛ ) = βkJkΛ obtida na prova do Teorema 3.5.1 3.7 Acoplamento Jij = |i − j|−α Casos α ≤ 1 e α > 2 Considere um sistema de partículas em Λ ≡ [−N, N ] ∩ Z, cuja energia de interação entre elas é dada por HΛ . Um estado fundamental deste sistema na caixa finita Λ é um estado σ ∈ ΩΛ que assume o menor valor possível de energia. Em outras palavras, σ é um estado fundamental em ΩΛ se, e somente se, HΛ (σ) ≤ HΛ (ω) para todo ω em ΩΛ . Para o modelos de Ising ferromagnético em que o campo externo h é constante, esses estados correspondem a todos os spins “alinhados” na direção do campo, isto é, se h > 0, o estado fundamental é dado por σ0 = (1, 1, . . . , 1) ∈ ΩΛ , e caso h < 0 o estado fundamental é dado por σ̃0 = (−1, −1, . . . , −1) ∈ ΩΛ . No modelo de Ising ferromagnético é fácil ver que a inversão de qualquer dos spins do estado fundamental aumenta a energia tanto de interação com o campo externo, como de acoplamento com os demais spins. No caso simétrico h = 0, ambos os estados com todos os spins alinhados são estados fundamentais. Uma interação é dita uma interação somável quando a constante M0 = P i J(i) é finita. Como a energia de interação de um spin j qualquer com os demais se escreve X σj J(i)σi ≤ M0 i∈Λ A constante 2M0 limita a energia necessária para se inverter um spin do estado fundamental se h = 0. Mais ainda, como essa inversão tira um spin Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 66 da menor energia de interação possível para a maior possível, 2M0 limita a energia necessária para a inversão de qualquer spin. P Os sistemas com interação J(i) = i−α com α ≤ 1 têm M0 = i∈N∗ i−α = ∞, logo são não-somáveis. Em [5] Dyson sugere que, nessa situação, para qualquer β positivo fixado, a energia de interação entre os spins cresce suficientemente rápido para garantir limN →∞ m2ΛN = m2 = 1. Isso equivale a dizer que a fração de spins apontando contra a maioria vai a zero quando N → ∞. Quase todos os spins se alinham na mesma direção. Por não apresentarem grande riqueza para análise, esses casos são de pouco interesse. No outro extremo estão os modelos com α > 2. Ruelle mostrou em [21] P que se M1 = i J(i)·i < ∞ não há magnetização espontânea a temperaturas finitas. Particularmente, se J(i) = i−α com α > 2 não há transição de fase no sentido que o limite, quando h → 0+ , da magnetização específica é nulo. Griffiths mostrou em [13] que qualquer modelo com interações translacionalmente invariantes e somável com M0 fixado tem magnetização não superior a um modelo de Curie-Weiss com I = M0 . Demostramos esse fato neste texto quando provamos o Teorema 3.6.6. Outra prova do fato, mas para uma classe mais ampla de modelos pode ser encontrada em [18]. Como os modelos com α > 1 são somáveis, essa comparação com o modelo de Curie-Weiss implica em magnetização nula em altas temperaturas, isto é, magnetização nula sempre que β ≤ 1/M0 . Utilizando a estimativa costumeira de se aproximar um somatório por uma integral, temos M0 = X i∈Λ −α |i| Z ≤1+ 1 ∞ x−α dx = α . α−1 Assim, um sistema com expoente α > 1 apresenta inverso da temperatura crítica βc ≥ 1 − 1/α. Em resumo, os resultados citados nesta seção nos permitem separar os sistemas com interação J(i) = i−α em três classes. Se α ≤ 1 o sistema é não-somável e o módulo da magnetização é 1 em qualquer β. Se α > 2 a magnetização é nula a qualquer β. Nesta seção não abordamos a situação 1 < α ≤ 2. Como esses modelos são somáveis, a comparação com Currie-Weiss implica em limh→0+ m(β, h) = 0 ao menos para β ≤ 1 − 1/α. Os resultados de [5] expostos no último capítulo deste texto, nos mostram que, para 1 < α < 2, também há um limite inferior para β a partir do qual a magnetização espontânea é positiva, logo a temperatura crítica é positiva e finita. Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 67 Como já citamos, somente em 1983 foi provado em uma famoso trabalho de Frölich e Spencer [10] que para o modelo com α = 2 existe βc < ∞, ou seja, há magnetização positiva a temperaturas finitas para o modelo com α = 2. 3.8 Comparando Modelos com Interações do Tipo J(|i − j|) Nossa intenção nesta seção é mostrar consequências de se identificar quais modelos com interação do tipo Jij = |i − j|−α admitem transição de fase. Veremos que essa análise nos ajuda a tirar conclusões a respeito de uma classe mais ampla de modelos de Ising. Na situação mais simples em que h = 0 e a interação original Jij = |i−j|−α é apenas multiplicada por uma constante, temos Jeij = C|i−j|−α . Nesse caso a energia do sistema é também multiplicada por uma constante e e Λ (σ) = C · HΛ (σ). H O fator exponencial que aparece na medida pode ser reescrito como e Λ (σ)), e Λ (σ)) = exp(−βCHΛ (σ)) = exp(−βH exp(−β H e Λ (σ) pode fazendo apenas βe = Cβ. Dessa forma, o modelo com energia H ser reescrito como um modelo com energia HΛ (σ), mas ao inverso da temperatura βe = Cβ. Ambos os sistemas são equivalentes, a menos da multiplicação da temperatura pela constante C. Se o modelo com energia HΛ apresentar transição de fase ao inverso da temperatura β, o sistema com e Λ também terá uma transição de fase ao inverso da temperatura energia H β/C. Considere um modelo de Ising com interação translacionalmente invariante que denotaremos por I(|i − j|) > 0. Suponha adicionalmente que limi→∞ I(i) = 0. Podemos compará-lo com os modelos com interação e − j|) = C|i − j|−α para descobrir se há transição de fase em alguma J(|i temperatura finita. Se I(|i − j|) ≥ C|i − j|−α para algum C > 0 e α < 1, então, como a magnetização quadrática não decresce com o aumento das interações Jij , e o limite da magnetização quadrática do modelo com interações mais fracas já é 1, necessariamente o sistema com interação I(|i − j|) apresentará Capítulo 3. Modelos com Interações Translacionalmente Invariante 68 magnetização quadrática também igual a 1. Na última frase utilizamos a Desigualdade de GKS-2 ao afirmar que a magnetização quadrática não diminui com o aumento de Jij . No outro extremo, se I(|i − j|) ≤ C|i − j|−2− (para algum 0 < < 1), a magnetização espontânea nula para todas as temperaturas finitas no modelo com acoplamento |i − j|−2− e a desigualdade GKS-2 garantem o mesmo comportamento no modelo com interações I(|i − j|). Por fim, podemos supor como verdadeiro o resultado do último capítulo onde mostramos que há magnetização positiva para modelos com interação do tipo J(|i − j|) = C|i − j|−α com 1 < α < 2 e usar esses sistemas como referência. Assim, os modelos com interação I(|i−j|) ≥ C|i−j|−2+ apresentam magnetização positiva a partir de uma temperatura finita. Se ainda a interação I é somável, também há uma região de altas temperaturas com magnetização nula. Esses sistemas têm comportamento similar ao sistema de referência com acoplamento J(|i − j|) = |i − j|−2+ , é portanto para tais modelos existe um único βc tal que para todo β < βc o modelo não tem magnetização espontânea e por outro lado, se β > βc então existe magnetização espontânea. Fogem a essa análise os modelos somáveis que não podem ser limitados da maneira adequada às nossas interações de referência. Também foge à comparação o caso “limite” onde J(|i − j|) = |i − j|−2 . Esse último caso foi tratado em [10]. Tabulamos abaixo os comparativos expostos nesta seção. Interação I(i) I(i) ≥ Ci−1 C1 i−2+ ≤ I(i) ≤ C2 i−1− I(i) ≤ Ci−2− Inverso da Temperatura Crítica (βc ) Magnetização Espontânea 0 1 0 < βc < ∞ m(β, 0+ ) = 0, se β < β c m(β, 0+ ) > 0, se β > β c ∞ 0 Capítulo 4 Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 4.1 Introdução Em 1969 era bem conhecido, como vimos na seção 1.4, que os modelos de Ising com spins interagentes tomando valores em {−1, +1} não apresentam transição de fase se essa interação tem alcance finito. A grande novidade em modelos de Ising em uma dimensão apareceu no trabalho de Freeman Dyson [5]. Este paper traz a primeira prova de que interações de longo alcance podem originar transição de fase mesmo em sistemas do tipo Ising em uma dimensão. Além da imensa colaboração para a área com a prova da existência de transição de fase em tais modelos esse trabalho de Dyson também introduz o chamado modelo Hierárquico. Primeiramente apresentado no citado artigo para estimar a magnetização do modelo de Ising linear, o modelo Hierárquico rapidamente tornou-se um modelo de grande interesse, pelo fato de permitir uma análise bastante detalhada de suas propriedades. Várias generalizações do modelo Hierárquico de Dyson apareceram na literatura e esse modelo tem sido utilizado até os dias de hoje para atacar outros tipos de problemas. Vimos na seção 3.7 que os modelos com interação de longo alcance com constante de acoplamento do tipo lei de potência (J(i) = 1/iα ) não apresentam transição de fase se a potência α > 2. Também vimos que os modelos com α ≤ 1 são não-somáveis e apresentam magnetização 1 a qualquer temperatura. Assim, a questão mais natural é se há magnetização não-nula a temperaturas positivas no modelo de Ising quando 1 < α ≤ 2. Como diminuindo qualquer das interações Jij não podemos aumentar Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 70 a magnetização quadrática (ver seção 2.2), a estratégia será mostrar a existência de magnetização quadrática positiva em um sistema com interações mais fracas que o modelo de Ising original. A magnetização quadrática positiva nesse sistema com interações mais fracas implicará magnetização quadrática também positiva (maior ou igual) no sistema original para o mesmo β. Em consequência disso e do Lema 2.5.1, teremos também magnetização espontânea positiva no sistema com interações mais fortes, Na verdade este fato, magnetização quadrática positiva implica magnetização positiva, foi o resultado principal da Seção2.5. O modelo candidato, com interações mais fracas do que a lei de potência J(i) = 1/iα , será o modelo Hierárquico apresentado na seção seguinte. A seção 4.3 comparara o modelo Hierárquico com certas constantes de acoplamento e mostrara que ele realmente tem interações mais fracas que o modelo de Ising correspondente. Em seguida, na seção 4.5 será demonstrada a existência de magnetização quadrática positiva no modelo Hierárquico para um certos conjuntos de constantes de acoplamento correspondentes a um modelo de Ising com 1 < α < 2. Este capítulo segue passo-a-passo o trabalho de Dyson em [5]. 4.2 O Modelo Hierárquico Nesta seção vamos definir o modelo Hierárquico construído em [5] e apresentar algumas de suas propriedades elementares. O modelo Hierárquico é semelhante ao modelo de Ising com exceção das constantes de acoplamento que, como no modelo de Curie-Weiss, dependem do volume. Outra diferença é que o modelo Hierárquico é definido para caixas de tamanhos específicos, para ser mais preciso o modelo Hierárquico será definido apenas para caixas de tamanho 2N , onde N ∈ N. Antes de apresentar o Hamiltoniano do modelo Hierárquico precisamos introduzir algumas definições. Vamos denotar por Λ = {1, . . . 2N } uma caixa de volume 2N . Essa caixa pode ser dividida em caixas de tamanho 2i , 1 ≤ i ≤ N . Fixada uma escala 2p , com 1 ≤ p ≤ N podemos dividir a caixa Λ em 2N −p caixas consecutivas de tamanho 2p , como segue Λ = {1, . . . , 2p } ∪ {2p + 1, . . . , 2 · 2p } ∪ {2 · 2p + 1, . . . , 3 · 2p } ∪ . . . . . . ∪ {(r − 1) · 2p + 1, . . . , r · 2p } ∪ . . . ∪ {(2N −P − 1) · 2p + 1, . . . , 2N −p · 2p }. Dessa forma, na escala 2p , a r-ésima caixa de tamanho 2p é dada pelo se- Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 71 guinte conjunto de sítios Λ(p,r) = {(r − 1) · 2p + 1, . . . , r · 2p }. Para cada σ ∈ {−1, 1}Λ ≡ ΩΛ denotamos por Sp,r (σ) a soma dos spins em Λ(p,r) , isto é, r·2p X X Sp,r (σ) = σi = σi . i=(r−1)·2p +1 i∈Λ(p,r) Finalmente, para cada N ∈ N o Hamiltoniano do modelo Hierárquico no volume Λ ≡ {1, . . . , 2N } é definido como sendo a função HN : ΩN → R dada por 2N −p N X bp X 2 (S ), (4.1) HN (σ) = − 22p r=1 p,r p=1 onde b1 , . . . , bp são constantes não-negativas. Expandindo Sp,r que aparece na expressão acima ficamos com a seguinte expressão para o Hamiltoniano N −p 2X N X X bp σi σj . HN (σ) = − 2p 2 r=1 p=1 i,j∈Λ (p,r) Assim, para determinar a contribuição do par de spins σi , σj para a energia do sistema precisamos primeiro encontrar as escalas 2p ’s para as quais os sítios i e j pertençam a um mesmo bloco Λ(p,r) para algum r. Já que em cada uma dessas escalas 2p , esses spins contribuem com energia bp 2−2p , temos que a contribuição total desse par de spins é obtida somando essas energias sobre tais escalas. Na figura abaixo consideramos uma caixa de tamanho 25 e uma configuração σ fixada de 25 spins e destacamos as escalas e o blocos que devem ser considerados na determinação da energia do par de spins σ12 e σ14 . p=1 p=2 p=3 p=4 p=5 S1,1 S1,2 S1,3 S1,4 S1,5 S1,6 S1,7 S1,8 S1,9 S1,10 S1,11 S1,12 S1,13 S1,14 S1,15 S1,16 S2,3 S2,2 S2,5 S2,7 S2,1 S2,6 S2,4 S2,8 S3,4 S3,2 S3,1 S3,3 S4,1 S4,2 S5,1 Figura 4.1: Na primeira linha, temos um exemplo de uma configuração de 25 = 32 spins, onde as setas verticais representam os spins +1 e −1. As linhas seguintes representam as caixas nas escalas 2 até 25 . Estão destacados em cinza o par de spins escolhido σ12 e σ14 , e os blocos pelos quais eles interagem. Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 72 No exemplo da figura acima a energia do par σ12 e σ14 é dada por b3 b4 b5 + + 22·3 22·4 22·5 σ12 σ14 . A energia total no modelo Hierárquico é então dependente de somas como essa e, para calcular a energia total de um estado, somamos sobre todas as caixas de um certo tamanho e sobre todos os tamanhos de caixas permitidos. O modelo Hierárquico é também um Modelo de Ising, como mencionado anteriormente, mas com constantes de acoplamento que são dependentes do volume e não são translacionalmente invariantes. Para diferenciar ambos os modelos neste capítulo, vamos nos referir ao modelo de Ising com constantes de acoplamento J(|i − j|) = 1/|i − j|α como modelo linear. Como foi dito acima, para calcular explicitamente a energia de interação entre dois spins específicos precisamos somar todos os termos nos quais aparece σi σj , ou seja, precisamos somar por todas as caixas em que os spins i e j estão juntos. Digamos que eles estão nas mesmas caixas Λ(p,r) para p ≥ p(i, j), mas em caixas diferentes se p < p(i, j). Então a contribuição desse par à energia total do sistema é dada por −RN (p(i, j))σi σj = − N X q=p(i,j) bq σi σj . 22q Essa igualdade motiva definir uma função RN : {1, . . . , N } → R como N X bq RN (p) = . 22q q=p RN (p(i, j)) é a constante de acoplamento entre dois spins no modelo Hierárquico, equivalente ao que seria J(i − j) no modelo linear. Contudo, no modelo Hierárquico, o equivalente à “distância” entre dois spins é o parâmetro 2p(i,j) , que é o comprimento da menor caixa a que ambos pertencem. Outra quantidade importante é a magnetização quadrática por spin para caixas de tamanho 2p , definida por fN (0) ≡ 1 e fN (p) ≡ 1 hS 2 i 22p p,r Seja ΛN +1 = {1, . . . , 2N +1 }. Essa caixa de tamanho 2N +1 pode ser decom- Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 73 posta em duas caixas de tamanho 2N e, usando a notação acima, podemos indicar essa decomposição da seguinte forma: ΛN +1 = Λ(N,1) ∪ Λ(N,2) . Pela definição do modelo Hierárquico temos que HN +1 é dado por uma soma de três parcelas, uma primeira sendo composta apenas pela energia de interação entre os spins da caixa Λ(N,1) , a segunda parcela envolve apenas interações de spins que estão na caixa Λ(N,2) e uma terceira envolvendo spins que estão na primeira e na segunda caixa citadas acima. Essa observação é expressa pela seguinte igualdade X HN +1 (σ) = − RN +1 (p(i, j))σi σj − i,j∈Λ(N,1) − X X RN +1 (p(i, j))σi σj i,j∈Λ(N,2) RN +1 (p(i, j))σi σj . i∈Λ(N,1) j∈Λ(N,2) Se i, j ∈ Λ(N,1) ou se i, j ∈ Λ(N,2) segue da expressão obtida acima para a função RN que RN +1 (p(i, j)) = bp(i,j) bN bN +1 bN +1 + . . . + + = R (p(i, j)) + . N 22p(i,j) 22N 22N +2 22N +2 (4.2) Para i ∈ Λ(N,1) e j ∈ Λ(N,2) temos que p(i, j) = N + 1 e assim RN +1 (p(i, j)) = b2N +1 /22N +2 . Vamos olhar para as constantes b1 , . . . , bN +1 como parâmetros de HN +1 . Suponha que Λ(p,r) ⊂ Λ(N,1) . Para deixar mais claro o argumento nas pró 2 b1 ,...,bN +1 ximas linhas vamos usar a notação Sp,r para indicar o valor espeN +1 2 rado de Sp,r com respeito a medida de Gibbs definida por HN +1 no volume ΛN +1 com parâmetros b1 , . . . , bN +1 . Pela definição do Hamiltoniano HN +1 e pela decomposição apresentada acima vemos que se bN +1 = 0 então HN +1 é composto por duas somas, onde os spins de uma não aparecem na outra e vice-versa. Assim é fácil ver que as v.a.’s σi com i ∈ Λ(N,1) são independen,...,bN ,0 tes das v.a.’s σj com j ∈ Λ(N,2) , com respeito a medida de Gibbs h·ibN1+1 e daí segue que 2 b1 ,...,bN 2 b1 ,...,bN ,0 . Sp,r N = Sp,r N +1 Para provar essa igualdade, precisamos estabelecer alguns fatos. Se deN +1 notamos por ΩN +1 = {−1, 1}2 então ΩN +1 = ΩN × ΩN . Vamos denotar por (σ, ω) um elemento arbitrário de ΩN × ΩN . Se bN +1 = 0 em HN +1 temos que a Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 74 função de partição da medida de Gibbs determinada por HN +1 é dada por ,...,bN ,0 ZNb1+1 Z exp(HN +1 (σ, ω))dκ(σ, ω) = ΩN ×ΩN Z X exp = ΩN ×ΩN RN +1 (p(i, j))σi σj + i,j∈Λ(N,1) = exp ΩN Z ΩN exp ΩN exp RN +1 (p(i, j))σi σj dκ(σ) i,j∈Λ(N,1) Z = X X RN +1 (p(i, j))σi σj dκ(σ) i,j∈Λ(N,1) X RN +1 (p(i, j))ωi ωj dκ(σ, ω) i,j∈Λ(N,1) Z X Z RN (p(i, j))σi σj dκ(σ) exp ΩN i,j∈Λ(N,1) X RN (p(i, j))σi σj dκ(σ) i,j∈Λ(N,1) = ZNb1 ,...,bN · ZNb1 ,...,bN , onde na penúltima igualdade usamos a equação (4.2) juntamente com bN +1 = 0. Analogamente temos que 2 b1 ,...,bN ,0 Sp,r N +1 = = = = Z 1 ,...,bN ,0 ZNb1+1 2 Sp,r (σ, ω) exp (HN +1 (σ, ω)) dκ(σ, ω). ΩN ×ΩN Z 1 ZNb1 ,...,bN · ZNb1 ,...,bN ZNb1 ,...,bN ZNb1 ,...,bN 1 ZNb1 ,...,bN 2 Sp,r (σ) exp (HN +1 (σ, ω)) dκ(σ, ω). ΩN ×ΩN Z ZNb1 ,...,bN · Z 2 Sp,r (σ) exp (HN (σ)) dκ(σ) ΩN 2 Sp,r (σ) exp (HN (σ)) dκ(σ) ΩN 2 b1 ,...,bN = Sp,r . N O próximo passo é mostrar que se bN +1 ≥ 0 então temos 2 b1 ,...,bN ,0 2 b1 ,...,bN ,bN +1 . Sp,r N +1 ≤ Sp,r N +1 Para ver que isso é verdadeiro, basta lembrar que 2 Sp,r = X i,j∈Λ(p,r) σi σj Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 75 e que podemos aplicar GKS-2 para garantir ∂ ∂bN +1 2 b1 ,...,bN ,bN +1 Sp,r N +1 ≥ 0. Voltando a omitir os parâmetros bi ’s da notação, o que acabamos de 2 2 provar é que hSp,r iN ≤ hSp,r iN +1 . Dividindo ambos os lados dessa desigual2p dade por 2 , temos finalmente que fN (p) ≤ fN +1 (p). Como a sequência fN (p) está contida no intervalo [−1, +1], podemos afirmar, para cada p ∈ N fixado, que existe o limite f (p) = lim fN (p). N →∞ 2 iN é independente Por simetria do Hamiltoniano (4.1), a quantidade hSp,r da caixa específica r e depende apenas da escala 2p . Podemos usar essa simetria para desenvolver a expressão de fN (p + 1). Como uma caixa na escala 2p+1 contém duas caixas na escala 2p , podemos escrever Sp+1,r = Sp,2r−1 + Sp,2r . (4.3) Usando essa relação na expressão de fN (p+1) podemos obtemos a seguinte igualdade 2 fN (p + 1) =2−2p−2 hSp+1,r i 2 2 =2−2p−2 [hSp,2r−1 i + hSp,2r i + 2hSp,2r−1 Sp,2r i] 2 =2−2p−2 [2hSp,1 i + 2hSp,2r−1 Sp,2r i]. Novamente por simetria, podemos substituir as caixas (p, 2r − 1) e (p, 2r) 2 por (p, 1) e (p, 2), respectivamente. Assumindo que hSp,1 Sp,2 i ≤ hSp,1 i poderíamos então concluir que fN (p + 1) ≤ fN (p). Apesar da função ser de fato não-crescente em p e, consequentemente, existir o limite limp→∞ f (p), a demonstração desse resultado é desnecessária para nossa análise e a omitiremos. Na Seção 4.5 serão feitas estimativas diretamente para a quantidade 2 fN (N ) = 2−2N hSN,1 i, que equivale exatamente à magnetização quadrática por spin. Por isso, estaremos interessados em mostrar que (2) mH = lim inf 1 N →∞ 22N é positivo. 2 hSN,1 i = lim inf fN (N ) N →∞ Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 76 A monotonicidade de f (p) fornece um resultado adicional: (2) mH = lim inf fN (N ) ≤ lim f (p). N →∞ p→∞ (2) Logo, a positividade de mH acarreta em limp→∞ f (p) também não-nulo. 4.3 Comparando os Modelos Hierárquico e de Ising O objetivo desta seção é encontrar um modelo Hierárquico, determinado pelas constantes bp , com interações mais fracas que um dado modelo de Ising com interações Jij ≡ J(|i − j|) ≥ 0. Para a comparação se tornar mais simples a ideia é definir um modelo de Ising na rede {1, . . . , 2N }, usando as constantes de acoplamento Jij . Em seguida, escolhemos constantes bp ’s e definimos um modelo Hierárquico na rede {1, . . . , 2N }, de forma que este modelo Hierárquico tenha interação mais fraca que a interação do modelo de Ising. Construído tal modelo Hierárquico, podemos concluir da Desigualdade GKS-2 que a magnetização deste modelo é menor ou igual a magnetização do modelo de Ising na rede {1, . . . , 2N } com constantes de acoplamento dadas por Jij . Estabelecida a desigualdade mencionada acima precisamos a rigor ainda cuidar de uma questão técnica. Se ΓN = {1, . . . , 2N } e mΓ (β, h) denota a magnetização específica do modelo de Ising mencionado acima, com constantes de acoplamento Jij precisamos mostrar que mΓ (β, h) → m(β, h), onde m(β, h) é a magnetização específica do modelo de Ising que foi definida anteriormente como limN →∞ mΛN (β, h), onde ΛN = [−N, N ] ∩ Z. Para provar a afirmação feita acima, sobre a igualdade dos limites termodinâmicos basta lembrar que provamos na Seção 2.4, que se as constantes de acoplamento dependem apenas da distância entre os sítios, isto é, Jij = J(|i − j|) e são não-negativas, então existe o limite limN →∞ m∆N (β, h), onde ∆N = {1, . . . , N }. Este limite é igual a m(β, h). Obviamente {mΓ (β, h)} é uma subsequência de {m∆N (β, h)} e portanto também converge para m(β, h). Também argumentamos na Seção 2.4 que limN →∞ mΛN (β, h) = m(β, h) e portanto a afirmação está provada. Em [5] Dyson escolhe as seguintes constantes bp para compará-las, em Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 77 seguida, com J: h i bp = min 2p+q−2 J(2q − 1) . (4.4) 1≤q≤p No modelo Hierárquico com essas constantes, a contribuição à energia total dada por dois spins σj e σk , com j, k ∈ {1, . . . , 2N } é exatamente RN (p(j, k)). Pela definição de p(j, k) temos que a distância entre j e k na rede pode ser estimada por |j − k| ≤ 2p(j,k) − 1, assim segue direto da definição de bp que RN (p(j, k)) = N X 1−2q 2 N X bq = q=p(j,k) h i 21−2q min 2q+r−2 J(2r − 1) 1≤r≤q q=p(j,k) N X ≤ 2p(j,k)−q−1 J(2p − 1) (4.5) q=p(j,k) ≤ J(|j − k|) A Desigualdade (4.5) juntamente com o Corolário 2.2.5 nos mostra que, dado um modelo de Ising com constantes de acoplamento J(|j − k|), se há magnetização não-nula para β > β0 no modelo Hierárquico correspondente (com os bp ’s construído acima), também haverá magnetização positiva no modelo linear para todo β > β0 . Observamos que o modelo Hierárquico com bp = 2(2−α)p tem interações mais fracas que o modelo linear com J(i) = 1/iα . De fato, para todos os sítios j e k da rede tais que |j − k| ≤ 2p − 1, onde p ≡ p(j, k) temos RN (p) = N X 21−2q bq = q=p 4.4 N X q=p 21−2q 2(2−α)q ≤ N X q=p 2 1 1 ≤ 2αp |j − k|α (4.6) Magnetização Quadrática e Magnetização Espontânea Já havíamos mencionado que o objetivo deste capítulo é demonstrar a existência de magnetização quadrática não-nula para uma classe de modelos Hierárquicos. Para permitir um aproveitamento ótimo das simetrias desses modelos, eles foram definidos sem a presença de campo externo, ou seja, hi = 0. Será necessário, então, conectar a presença de magnetização quadrática não-nula em um modelo Hierárquico com constantes bp = 2(2−α)p com a magnetização espontânea num modelo linear com cons- Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 78 tantes de acoplamento J(i) = i−α . Já sabemos da seção anterior que as constantes de acoplamento do modelo linear com expoente α superam as do modelo Hierárquico com constante de acoplamento correspondentes, dadas por bp = 2(2−α)p . Adiante nesta seção a Desigualdade GKS-2 nos garantirá que o aumento nas constantes de acoplamento Jij não reduz a magnetização quadrática, assim teremos (2) (2) (4.7) mL,ΛN ,0 ≥ mH,ΛN ,0 . (2) Onde mL,ΛN ,0 representa a magnetização quadrática no modelo linear (índice L), na caixa ΛN e com campo externo h = 0. Também veremos que o aumento no campo externo não diminui a magnetização quadrática, ou seja, (2) (2) (4.8) mL,ΛN ,h ≥ mL,ΛN ,0 . Concatenando as duas últimas inequações e tomando seus limites inferiores, chegamos a (2) (2) (2) lim inf mL,ΛN ,h ≥ lim inf mH,ΛN ,0 = mH > 0. N →∞ N →∞ Podemos, então, utilizar os Lemas 2.4.2 e 2.5.1 para concluir (2) (2) (2) lim inf mL,ΛN ,h ≥ mH > 0 ⇒ lim mL,ΛN ,h = mL,h ≥ mH > 0. N →∞ N →∞ A desigualdade acima mostra que a magnetização no modelo linear para (2) todo campo externo h > 0 é uniformemente limitada pela constante mH , logo o limite de m(β, h) quando h → 0+ também é limitado por essa constante. Assim, a magnetização espontânea no modelo linear é maior ou igual à magnetização quadrática no modelo Hierárquico (com campo externo h = 0). Na seção seguinte serão apresentadas condições suficientes para termos (2) (2) lim inf mH,ΛN ,0 = mH > 0 N →∞ e, consequentemente, magnetização espontânea positiva no modelo linear correspondente. Sigamos com a demonstração das desigualdades (4.7) e (4.8). Os métodos utilizados serão os mesmos da demonstração do 2.2.5. Vamos começar (2) provando (4.8). A ideia é calcular ∂mΛN /∂h e mostrar que essa derivada é Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 79 sempre não-negativa para quando h ≥ 0. ∂ (2) ∂ mΛ = ∂h ∂h P Z i∈Λ σi 2 PΛ (σ) dκ(σ) |Λ| Z X ∂ −2 = |Λ| σi σj PΛ (σ) dκ(σ). ∂h ΩΛ i,j∈Λ ΩΛ Trazendo o resultado de ∂PΛ (σ)/∂h calculada no ponto σ da Seção 2.2, chegamos à expressão ∂ (2) m = β|Λ|−2 ∂h Λ " Z X σi σj ΩΛ i,j∈Λ X = β|Λ|−2 # X k∈Λ σk − h X σk iΛ PΛ (σ) dκ(σ) k∈Λ [hσi σj σk iΛ − hσi σj iΛ hσk iΛ ] ≥ 0. i,j,k∈Λ A última desigualdade acima segue da aplicação da Desigualdade GKS-2 a cada parcela do somatório. Fica assim demonstrada a desigualdade (4.8). Repetindo o mesmo procedimento, podemos confirmar a desigualdade (2) (4.7). Neste caso, derivaremos ∂mΛN /∂Jij . ∂ (2) mΛ = |Λ|−2 ∂Jij Z −2 X σk σl ΩΛ k,l∈Λ Z = β|Λ| X ∂ PΛ (σ)πΛ (dσ). Jij σk σl [σi σj − hσi σj iΛ ] PΛ (σ)πΛ (dσ) ΩΛ k,l∈Λ = β|Λ|−2 X [hσi σj σk σl iΛ − hσi σj iΛ hσk σl iΛ ] ≥ 0. k,l∈Λ A conclusão desta seção é que demonstrar a positividade da magnetização quadrática em um sistema Hierárquico (sem campo externo) implica na existência de magnetização espontânea positiva em qualquer outro sistema com acoplamento mais forte. Em particular, a existência de magnetização quadrática positiva em um sistema Hierárquico com contantes bp = 2(2−α)p implica na magnetização espontânea positiva num modelo linear com constantes de acoplamento J(i) = i−α , estando ambos os sistemas no mesmo inverso da temperatura β. Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 4.5 80 Magnetização Quadrática Não-nula em Baixas Temperaturas Nesta seção, nossa intenção é seguir a prova da magnetização quadrática não-nula no modelo Hierárquico dado um certo conjunto de constantes bp da forma bp = 2(2−α)p com 1 < α < 2. Por magnetização quadrática, nos referimos a: (2) mΛ = hs2Λ iΛ = * S |Λ| 2 + * P i∈Λ σi |Λ| = Λ 2 + Λ P 2 ( i∈Λ σi iΛ = , |Λ|2 onde os valor esperado acima é tomado com respeito a medida de Gibbs definida pelo Hamiltoniano HN do modelo Hierárquico no volume Λ = {1, . . . , 2N }. Começamos com o seguinte lema que será usado durante a prova do teorema principal. Lema 4.5.1. Seja {x1 , x2 , ..., xn } um conjunto de números inteiros, tais que ∀i ∈ {1, 2, ..., n} temos 0 ≤ xi ≤ a. Seja f : R → R uma função real positiva e b um número real, então: XX i j e−1 b (xi − xj )2 f (x )f (x ) ≥ exp − i j b2 a+b !2 X f (xi ) i Demonstração. Seja q número inteiro dado por q = da/be + 1, onde da/be é o menor inteiro maior que a/b. Vamos dividir o intervalo [0, a] em q subintervalos da forma Ip = [p/q, (p + 1)/q], com p = 1, . . . , q. A principal ideia para obter a estimativa que estamos interessados é descartar parcelas da forma exp[−(xi − xj )2 /b], onde os pontos xi e xj estão relativamente distantes com respeito a escala dada pelo comprimento do intervalo Ik . Assim, vamos manter apenas as parcelas cujos pares {xi , xj } estejam contidos no mesmo intervalo Ik . Denote por Fk a seguinte soma Fk = X xi ∈Ik f (xi ). Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 81 Pela definição de Ik se xi , xj ∈ Ik temos que |xi − xj | ≤ a/q e portanto XX i j " 2 # X X 1 a (xi − xj )2 f (xi )f (xj ) ≥ exp − 2 f (xi )f (xj ) exp − b2 b q k xi ,xj ∈Ik " 2 # X 1 a = exp − 2 Fk2 . b q k Usando que a/b < q, obtemos a seguinte cota inferior para o lado direito da desigualdade acima " exp a 1 − · b q 2 # X Fk2 > exp(−1) X k Fk2 . (4.9) k Visto que a média quadrática é maior que a média aritmética, podemos deduzir que v u q q uX Fk2 X Fk t ≥ q q k=1 k=1 =⇒ v u q X u X tq · Fk2 ≥ Fk k=1 ⇐⇒ k q X 1 Fk2 ≥ q k=1 !2 X Fk . k Aplicando a última desigualdade acima em (4.9) obtemos XX i j X (xi − xj )2 −1 exp − f (x )f (x ) ≥ e Fk2 i j b2 k !2 1 ≥ e·q X 1 ≥ e·q X Fk k !2 f (xi ) i Já que q ≤ a/b + 1 = (a + b)/b concluímos finalmente que XX i j (xi − xj )2 b · e−1 f (x )f (x ) ≥ exp − i j b2 a+b !2 X f (xi ) xi ∈Ik o que prova o Lema. Com esse lema em mãos podemos voltar ao tema principal, o teorema mais importante desta seção, cujo o enunciado é o seguinte. Teorema 4.5.2. Sejam {bp }p∈N as constantes usadas para definir o Hamiltoniano do modelo Hierárquico na Seção 4.2. Se convergir a seguinte Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 82 quantidade: ∞ X 1 L= log(1 + p), b p=1 p (4.10) então haverá magnetização quadrática positiva ao inverso da temperatura β desde que β > 8L. Demonstração. Inicialmente, escrevemos a função de partição do modelo Hierárquico como segue X ZN = ZN (s), s onde ZN (s) é a soma de todas as parcelas da função de partição tal que σ1 + . . . + σ2N = s. Podemos pensar nas ZN (s) como funções de partição correspondente aos estados com magnetização total s. Para cada N ∈ N seja ζN : R → R a função dada por ζN (u) = X exp(us2 )ZN (s). s As funções ζN definidas dessa maneira gozam da seguinte propriedade P ζN (0) = s ZN (s) = ZN . Definimos também a seguinte função LN (u) = log(ζN (u)). Afirmamos que LN é uma função convexa com respeito à variável u. De fato, basta calcular LN (λu1 + (1 − λ)u2 ) e mostrar, usando a Desigualdade de Hölder que LN (λu1 + (1 − λ)u2 ) ≤ λLN (u1 ) + (1 − λ)L(u2 ). Um cálculo direto mostra que a derivada de LN é dada por X L0N (u) = [log(ζN (u))]0 = s2 exp(us2 )ZN (s) ζN (u)0 s = X ζN (u) exp(us2 )ZN (s) s e que essa igualdade cria uma conexão entre LN e a esperança da magnetização quadrática, uma vez que L0N (0) = hS22N iN = 22N fN (N ) . Levando em conta a estrutura hierárquica das somas (4.3) podemos decompor o espaço de configurações ΩΛ2N através dos valores das magnetizações totais em Λ(2N −1 ,1) e Λ(2N −1 ,2) , que denotaremos por x e y respectivamente. Assim, para cada configuração σ ∈ ΩΛ2N cujas as magnetizações totais em Λ(2N −1 ,1) e Λ(2N −1 ,2) são dadas respectivamente por x e y temos que Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 83 a energia de interação entre essas duas caixas é dada por Hout (x, y) = 2−2N bN (SN,1 )2 = 2−2N bN (SN −1,1 + SN −1,2 )2 = 2−2N bN (x + y)2 Já que todos os valores possíveis de magnetizações totais em Λ(2N −1 ,1) ou Λ(2N −1 ,2) pertencem ao conjunto A = {−2N −1 , −2N −1 + 2, ..., 2N −1 − 2, 2N −1 }, podemos escrever a função de partição do sistema inteiro como segue ZN = XX ZN −1 (x)ZN −1 (y)e−βHout (x,y) . x∈A y∈A Usando a igualdade acima, obtemos a seguinte representação de ζN ζN (u) = X exp(us2 )ZN (s) = s XX exp(u(x + y)2 )ZN −1 (x)ZN −1 (y)eβHout (x,y) x∈A y∈A = XX = XX = XX exp(u(x + y)2 )ZN −1 (x)ZN −1 (y) exp(β2−2N bN (x + y)2 ) x∈A y∈A exp (u + β2−2N bN ) · (x + y)2 ZN −1 (x)ZN −1 (y) x∈A y∈A exp (u + v) · (x + y)2 ZN −1 (x)ZN −1 (y), x∈A y∈A onde v é definido como v = β2−2N bN . Será necessário estimar ζN para alguns valores de u. Vamos considerar primeiro u = −v: #2 " ζN (−v) = XX exp(0)ZN −1 (x)ZN −1 (y) = x∈A y∈A X ZN −1 (x) = [ζN −1 (0)]2 (4.11) y∈A Para u = 0, o Lema 4.5.1 pode ser usado com os seguintes parâmetros: xi = x + 2N −1 , xj = 2N −1 − y a = 2N , b = v −1/2 = 2N (βbN )−1/2 f (xi ) = exp(2vx2 )ZN −1 (x) para provar a validade da seguinte desigualdade #2 " ζN (0) ≥ e−1 [1 + (βbN )−1/2 ]−1 · X exp(2vs2 )ZN −1 (s) (4.12) s −1 = e [1 + (βbN ) 1/2 −1 ] · [ζN −1 (2v)]2 (4.13) Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 84 Para calcular LN tome os logaritmos de (4.12) e (4.11) e os subtraia, chegando a: LN (0) − LN (−v) ≥ 2[LN −1 (2v) − LN −1 (0)] − 1 − log[1 + (βbN )1/2 ] (4.14) A convexidade de LN (u) em u implica em: LN (0) − LN (−v) ≤ vL0N (0) (4.15) LN −1 (2v) − LN −1 (0) ≥ 2vL0N −1 (0) (4.16) Mas (4.16), (4.15) e (4.14) juntos nos dão uma desigualdade em L0N e L0N −1 : vL0N (0) ≥ LN (0) − LN (−v) ≥ 2[LN −1 (2v) − LN −1 (0)] − 1 − log[1 + (βbN )1/2 ] ≥ 4vL0N −1 (0) − 1 − log[1 + (βbN )1/2 ] Lembrando que fN (N ) = 2−2N L0N (0), segue da desigualdade acima que o 1 n 1/2 1 + log 1 + (βbN ) fN (N ) ≥ fN −1 (N − 1) − bN β Iterando a desigualdade acima e lembrando que f0 (0) = 1 obtemos a seguinte estimativa fN (N ) ≥ 1 − N X n o (bp β)−1 1 + log 1 + (βbp )1/2 (4.17) p=1 Para tornar nossa análise mais simples, vamos decompor o somatório acima em duas partes, a depender no valor de bp β. Antes de apresentar a decomposição observamos que a função (bp β)−1 {1 + log[1 + (βbp )1/2 ]} é decrescente em bp β, para qualquer valor de bp β natural. Usando esse fato, vamos limitar os termos que satisfazem bp β ≥ 9p2 por ∞ X p=1 (9p2 )−1 {1 + log(1 + 3p)} < 9 . 16 Como a função log(1+3p) é crescente em p, os demais termos, com bN β < 9p2 , Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 85 são limitados por: ∞ X (bp β)−1 {1 + log(1 + 3p)}. p=1 Observando que para p ≥ 1 temos 1 + log[1 + 3p] < 7 log(1 + p), 2 podemos concluir que a desigualdade abaixo é verdadeira ∞ X (bp β)−1 {1 + log(1 + 3p)} < β −1 ∞ X (bp )−1 · p=1 p=1 7 7 log(1 + p) = Lβ −1 . 2 2 Juntando as duas estimativas obtidas acima, para (4.17) ficamos com 9 7 −1 7 fN (N ) ≥ 1 − + Lβ = [1 − 8Lβ −1 ]. 16 2 16 Então, fN (N ) > 0 se β > 8L. Como a última desigualdade vale para todo (2) N e mH = lim inf N →∞ fN (N ), está provado o Teorema 4.5.2. Agora voltamos a lembrar que um sistema Hierárquico com constantes bp = 2(2−α)p tem acoplamento mais forte que um sistema linear com J(|i − j|) = 1/|i − j|α . Assim, calculando a constante L para esse sistema Hierárquico, temos: L= ∞ X (bp ) −1 log(1 + p) = p=1 ∞ X 2(−2+α)p log(1 + p). p=1 A quantidade acima evidentemente converge para α < 2, logo a magnetização quadrática é positiva nesses sistemas Hierárquicos. Por fim, essa estimativa para L e os resultados da Seção 4.4 nos permitem concluir a demonstração do teorema abaixo. Teorema 4.5.3. No modelo de Ising com constantes de acoplamento ferromagnéticas Jij = 1/|i−j|α , com 1 < α < 2, existe magnetização espontânea positiva se ∞ X β>8 2(−2+α)p log(1 + p). p=1 O resultado da Seção 3.6 a respeito da dominância da magnetização Capítulo 4. Transição de Fase com Interações de Longo Alcance 86 de Currie-Weiss sobre sistemas somáveis nos permite concluir que esses modelos com 1 < α < 2 também têm uma temperatura crítica finita, acima da qual a magnetização é nula. Referências Bibliográficas [1] G. Braga and M.R. Hilário, O teorema de perron-frobenius e ausência de transição de fase em modelos unidimensionais da mecânica estatística, Anais da Primeira Jornada de Iniciação Científica do IMPA (2005). [2] L. Cioletti and A.O. Lopes, Interactions, specifications, dlr probabilities and the ruelle operator in the one-dimensional lattice, Preprint (2014), 1–41. [3] L.M. Cioletti, C.C.Y. Dorea, and S. Vasconcelos da Silva, Diffusiveballistic transition in random polymers with drift and repulsive longrange interactions, Journal of Statistical Physics 156 (2014), no. 4, 760–765 (English). [4] Simone Vasconcelos da Silva, Transição de fase difusiva-balística em polímeros aleatórios, Ph.D. thesis, Universidade de Brasília, 2014. 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