O Processo de Planejamento Estratégico e a Estrutura Organizacional: impactos, confluências e similaridades Autoria: Dyogo Felype Neis, Maurício Fernandes Pereira RESUMO Este artigo tem por objetivo analisar a relação entre o processo de planejamento estratégico e a estrutura organizacional na realidade de uma organização complexa: o Ministério Público de Santa Catarina. A pesquisa se configura a partir da estratégia de pesquisa de estudo de caso único e os dados foram coletados por meio dos seguintes instrumentos: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista semi-estruturada e observação sistemática. A conclusão destaca as confluências, os impactos e as similaridades existentes entre as fases de formulação e de implementação do processo estratégico com os diversos elementos constituintes da estrutura organizacional. 1 1. INTRODUÇÃO Toda organização possui uma estratégia. Ela pode estar formalmente definida ou não, pode ser incompleta e inconsistente, mas ela faz parte do ambiente organizacional (HAMBRICK; FREDRICKSON, 2001; PEREIRA, 2010). Existem ao menos duas formas de compreender o processo estratégico. Na primeira, a implementação da estratégia é compreendida como a pós-formulação, isto é, o momento de mobilizar os recursos da organização para colocar as estratégias planejadas em prática. Geralmente esta primeira forma de execução configura-se em metodologias de processos deliberados, no qual o processo de planejamento estratégico se inclui. Já na segunda, entende-se a implementação da estratégia como um processo emergente que ocorre à medida que novos elementos surgem e são incorporados no processo estratégico da organização (WHITTINGTON, 2002; VOLBERDA, 2004). A primeira forma é entendida como processo de formulação da estratégia e a segunda como formação (BEPPLER; PEREIRA, 2013). Não se pode ignorar a importância de ambas as formas, no entanto, nesta pesquisa optou-se por aprofundar os estudos embasados na compreensão da implementação da estratégia resultante de um referencial metodológico de planejamento estratégico. Dentre vários estudos que abordam o tema, ressalta-se a Management Tools and trends 2013, pesquisa realizada periodicamente há mais de vinte anos pela consultoria Bain & Company que em 2013 mais uma vez concluiu que o processo de planejamento estratégico é uma das ferramentas gerenciais mais utilizadas pelas empresas, além de ter o maior índice de satisfação dentre as demais ferramentas (RIGBY; BILODEAU, 2013). Como qualquer ferramenta organizacional, o processo de planejamento estratégico não é perfeito. Ele vem recebendo uma série de críticas ao longo do tempo, dentre elas destaca-se a dificuldade na implementação das estratégias justamente pela separação entre a formulação e a execução da estratégia, prerrogativa que Mintzberg (1994) aponta com precisão. Após a realização de pesquisas em base de dados de estudos científicos, identificouse que, comparado ao processo de formulação, há poucos estudos objetivando a implementação das estratégias geradas a partir do processo de planejamento estratégico, sobretudo no contexto brasileiro. Kich e Pereira (2011) contribuem com esta prerrogativa quando afirmam que existe uma atenção maior, tanto pelos autores da área quanto pelos executivos, na fase de formulação do processo de planejamento estratégico, negligenciando sua implementação. Ainda, Jick (2001) concebe que desde o início da evolução dos estudos sobre estratégia os pesquisadores focalizam o seu esforço em compreender a formulação, mas esquecem que sem a execução plena das ações planejadas todo este esforço não gera qualquer resultado prático. Assim, percebe-se que ainda existe um desequilíbrio entre a excessiva atenção no processo de formulação de estratégias e uma relativa precariedade no processo de implementação, tanto na literatura como na prática das organizações, questão esta que compõe o foco da presente pesquisa. As poucas pesquisas que focalizam a implementação das estratégias acentuam-se nos últimos anos, o que demonstra que o interesse por parte dos pesquisadores em compreender este processo é relativamente recente. Neste sentido, os estudos liderados por Beer e Eisenstat (2000), Hrebiniak (2006), Brenes, Mena e Molina (2008), Galan e Sanchez-Bueno (2009), Spee e Jarzabkowski (2009), Amitabh e Gupta (2010) e Kich e Pereira (2011) merecem destaque. Em comum, estes pesquisadores identificaram que a implementação das estratégias tanto impacta como é impactada por diversos fatores organizacionais, como é o caso da estrutura que configura a organização. Deste modo, entende-se que as estratégias formuladas a partir do processo de planejamento estratégico precisam estar alinhadas com a estrutura organizacional para ser efetivamente implementadas. Enquanto alguns autores afirmam que a estrutura segue a 2 estratégia (CHANDLER, 1962; HOMBURG; KROHMER; WORKMAN, 2004; HREBINIAK, 2006), outros demonstram que a estrutura organizacional é quem define a estratégia (HALL, 2004; CERTO; PETER, 2005). Existem, ainda, pesquisas que concluem que a estrutura e a estratégia se influenciam de forma recíproca no ambiente organizacional (BRENES; MENA; MOLINA, 2008; GALAN; SANCHEZ-BUENO, 2009; AMITABH; GUPTA, 2010; KICH; PEREIRA, 2011). A literatura indica que Chandler (1962) foi um dos pioneiros em estudar a relação entre estratégia e estrutura. Sua prerrogativa que a estrutura segue a estratégia continua em discussão mesmo após mais de cinco décadas, entretanto, os estudos mais recentes se concentram na causalidade entre estratégia e estrutura e na forma como ocorrem estas influências (GALAN; SANCHEZ-BUENO, 2009). Esta relação é ainda mais acentuada quando as estratégias são geradas a partir do processo de planejamento estratégico, uma vez que a própria ferramenta tende a restringir a flexibilidade dos processos internos, que é justamente uma das críticas à ferramenta organizacional em questão (POISTER, 2010). Neste sentido, vale ressaltar a célebre afirmação de Peter Drucker (1977, p. 555): “a melhor das estruturas não será capaz de assegurar qualquer resultado ou desempenho, mas a estrutura errada garante o mau desempenho”. Tendo em vista que a estrutura organizacional corresponde à soma total das formas em que o trabalho é dividido em diversas tarefas e como estas são coordenadas (MINTZBERG, 2008), a estrutura organizacional, assim como a estratégia, deve estar adequada ao ambiente na qual ela está inserida (VOLBERDA, 1998). Com o ambiente cada vez mais turbulento, é possível identificar o surgimento de novas práticas de configurações nas organizações, como a composição de times, o achatamento dos níveis na hierarquia, a utilização de multifuncionalidades dos funcionários e o uso de tecnologias flexíveis. Entende-se que estas práticas sejam uma reação ao ambiente, isto é, a flexibilidade surgiu a partir da necessidade das organizações se adaptarem a ambientes dinâmicos e altamente competitivos (SUAREZ; CUSUMANO; FINE, 1995). Assim, quanto mais dinâmico é o ambiente, mais orgânica deve ser a estrutura organizacional, portanto, esta pode estar em um continuum entre mecânica e orgânica, que corresponde ao potencial de flexibilidade estrutural que a organização possui (VOLBERDA, 1998; MINTZBERG, 2008). Diante do exposto, o questionamento a ser respondido pelo esforço de pesquisa é: Como ocorre a relação entre o processo de planejamento estratégico e a estrutura organizacional em uma organização complexa como o Ministério Público de Santa Catarina MPSC? 2. REFERENCIAL TEÓRICO A discussão sobre a relação entre estratégia e estrutura está longe de chegar a um consenso. A partir da obra Strategy and Structure de Alfred Chandler, primeira versão publicada em 1962 e ainda bastante discutida na literatura da área, o autor profere que a estratégia organizacional determina sua estrutura (GALAN; SANCHEZ-BUENO, 2009). Chandler (1962) concebe que as companhias são administradas por meio da inércia, somente alteram sua orientação ou estratégia quando são obrigadas por pressões competitivas. Afirma, também, que o sucesso destas mudanças estratégicas depende diretamente das alterações decisivas na estrutura organizacional. É neste contexto que o autor profere sua notável afirmação: a estrutura segue a estratégia. Na época, esta tese comprovou-se após as alterações estruturais advindas da competitividade do setor automobilístico, capitaneadas principalmente pela linha de montagem da Ford e GM. A relação de causa e efeito entre estratégia e estrutura é visível em organizações que adotam a estratégia de integração vertical, pois a partir do 3 momento que a companhia assume a responsabilidade em novas etapas do processo produtivo, por exemplo, cria-se a exigência de adequação da sua estrutura organizacional. Impulsionados por estas conclusões, percebe-se que o interesse pelo tema vem aumentando ao longo dos anos. A relação entre estratégia e estrutura se mantém atuais, mesmo após mais de cinco décadas de discussões, no entanto, compreende-se que os estudos atuais se concentram em identificar qual constructo realmente influencia e qual é influenciado e investigar como ocorrem estas influências (GALAN; SANCHEZ-BUENO, 2009). Neste contexto, Homburg, Krohmer e Workman (2004) concordam com Chandler. Conforme também exposto por Hrebiniak (2006), os autores descrevem que a partir de um modelo sequencial as organizações decidem a estratégia e, posteriormente, analisam a forma como irão adequar às definições organizacionais, dentre elas está a estrutura organizacional. Em contrapartida, embasado na análise da relação entre estrutura, estratégia e desempenho, Amitabh e Gupta (2010) afirmam que a estrutura é considerada um dos fatores fundamentais para a implementação de uma estratégia de sucesso, principalmente porque o desempenho é diretamente influenciado pela maneira como as atividades de uma organização são estruturadas. Nesta mesma linha de raciocínio, a conclusão da pesquisa de Brenes, Mena e Molina (2008) identifica que a implementação de uma estratégia bem sucedida está diretamente relacionada ao alinhamento entre estratégia, estrutura e cultura organizacional. Quanto aos elementos da estrutura que impactam no sucesso da execução da estratégia, os pesquisadores destacam o potencial de descentralização, principalmente relacionado à delegação da tomada de decisões a níveis hierárquicos inferiores, além da relação eficaz entre os processos internos e os sistemas de trabalho. Além disso, a estrutura foi identificada por Hussey (1996), por Hrebiniak (2006) e por Pereira (2010) como um fator organizacional essencial para a implementação das estratégias. Os autores concordam que a estrutura deve estar alinhada com a estratégia, além de proporcionar a coordenação, o compartilhamento das informações e definir de forma clara a responsabilidade de cada membro. o que faz com que um processo de Planejamento Estratégico funcione é a cultura da organização [...]; uma estrutura organizacional coerente com as características da organização e do modelo do planejamento escolhido; as habilidades, os talentos e o nível de conhecimento das pessoas que estão à frente do processo; uma liderança forte e capaz o suficiente para estimular e influenciar no momento necessário; e procedimentos e mecanismos eficientes e eficazes sempre com vista nos resultados futuros (PEREIRA, 2010, p. 64). Hall (2004) expõe que a partir do momento que a estrutura determina a distribuição de poder, a divisão dos níveis hierárquicos, as relações dos processos internos e, principalmente, a divisão do trabalho, é ela quem conduz a estratégia, justamente porque é a estrutura que estabelece quem vai participar da formulação e implementação estratégica. Enfatiza-se que em casos onde não haja a formalização da estratégia, esta relação é mais acentuada, uma vez que as estratégias tendem a ser geradas por processos emergentes. Não parece haver dúvidas que há uma relação bastante próxima entre estrutura e estratégia. No entanto, percebe-se não haver consenso sobre o tema. Alguns pesquisadores concebem que a estratégia transforma e determina a estrutura, enquanto outros proferem que a estrutura concebe as diretrizes básicas da estratégia. Mas afinal, como as estratégias geradas a partir do processo de planejamento influenciam ou são influenciadas pela estrutura organizacional? Para responder esta questão, é necessário compreender o entendimento dos agentes que discutem este tema na literatura. Há mais de trinta anos, Ackoff (1982) afirmou que o processo de planejamento estratégico impacta a estrutura organizacional a ponto de gerar a necessidade de 4 reorganização do sistema. Complementa, ainda, que aceitar as limitações da estrutura na implementação do processo pode privar a organização a colher as principais vantagens deste processo, dentre elas, a melhora das interações formais e informais, do processo de tomada de decisão e da descentralização, principalmente devido ao aumento da autonomia e do comprometimento a partir do momento que a organização possui um caminho claro a ser percorrido. Neste sentido, Hrebiniak (2006) também afirma que o processo de planejamento estratégico impacta de forma direta a estrutura, haja vista que ele determina a interdependência entre as diversas partes que compõe a organização, além de distinguir as funções e indivíduos que devem atuar em um mesmo objetivo. Deste modo, a estratégia define os métodos de coordenação e integração necessários para a realização das atividades, que por sua vez, é característica básica da estrutura organizacional. De acordo com os entrevistados da pesquisa do autor a estrutura muitas vezes é estabelecida ou alterada pelos motivos errados. Os esforços de planejamento ou replanejamento são mal orientados e, não raras vezes, são frustrantes ou estão fadados ao insucesso. A integração ou coordenação de diversas unidades estruturais é deficiente ou incompleta. A conexão com a estratégia durante as alterações na estrutura não é muito clara ou, muitas vezes, é simplesmente inexistente (HREBINIAK, 2006, p. 115). O que demonstra a relevância da coordenação e integração das diversas unidades, justamente onde o processo de planejamento estratégico é capaz de contribuir. Neste contexto, os estudos de Spee e Jarzabkowski (2009) comprovaram que a implementação do processo de planejamento estratégico consegue relacionar as diversas unidades da organização. A interligação impulsionada pelo processo de planejamento estratégico é de suma importância para facilitar as interações sociais de uma companhia, que por sua vez tem o poder de facilitar a prática e a execução das estratégias. Sabe-se que para a execução bem sucedida da estratégia é necessário que ela seja reconhecida e legitimada pelos diversos membros e grupos de interesses que compõe a organização, sendo que por meio destas interações é possível até mesmo perpassar as fronteiras dos departamentos ou unidades, através da distribuição do poder hierárquico e da divisão das tarefas e unidades. Em contrapartida, Hall (2004) defende que a estrutura organizacional é quem define a estratégia. O autor contraria a concepção da perspectiva clássica proposta por Whittington (2002) a partir do entendimento que, na maioria dos casos, os indivíduos que participam do processo de planejamento estratégico compõem a alta cúpula administrativa da organização. Assim, os indivíduos que estão no poder a partir da configuração da estrutura são quem formulam as estratégias. Neste caso, é importante enfatizar as possíveis formas de compor a equipe de formulação estratégica de acordo com a metodologia de Pereira (2010), a saber: top-down, botton-up e misto. Entende-se que principalmente na primeira forma de compor a equipe, a concepção de Hall (2004) faz todo o sentido. Partindo do princípio que a estrutura determina os níveis hierárquicos, o nível de tomada de decisão e onde e quais as atividades estratégicas são exercidas, a estrutura impacta diretamente nas estratégias organizacionais. Certo e Peter (2005) concebem que qualquer alteração na estrutura de uma organização gera impactos na estratégia. Deste modo, torna-se necessário reconhecer o provável impacto da estrutura na execução da estratégia. Concordando com a concepção de Hall (2004), os autores afirmam também que a definição dos responsáveis por ações estratégicas e até mesmo a definição da equipe de acompanhamento é pautada na estrutura. Entretanto, Certo e Peter (2005) discordam de uma das questões levantadas por Hall (2004) quando defendem a criação de uma Unidade Estratégica de Negócio no momento da implementação do processo de planejamento estratégico, o que configura mais uma influência 5 da estratégia na estrutura. Por um lado, esta unidade pode contribuir para o processo de implementação estratégica, principalmente coordenando e integrando as diversas unidades relacionadas a cada ação estratégica. Por outro, a partir do momento que esta nova unidade insere mais um nível hierárquico, pode limitar a agilidade do fluxo de tomada de decisões e atrasar o processo de implementação estratégica, sobretudo devido à centralização do processo de tomada de decisão. Sobre esta questão, vale ressaltar que Pereira (2010) sugere a composição da Equipe de Acompanhamento e Controle. O autor defende que esta equipe deve ser constituída por funcionários que tenham participado ativamente da fase de formulação estratégica e que tenham representantes de todos os níveis organizacionais. Logo, a responsabilidade é dividida por todos, aumentando a motivação, a participação e a autonomia de todos os componentes desta equipe. A prerrogativa de Pereira (2010) é similar aos resultados da pesquisa de Beer e Eisenstat (2000), que identificaram seis fatores que interferem diretamente no insucesso da implementação das estratégias advindas do processo de planejamento estratégico. Dentre estes fatores, encontra-se o estilo gerencial top-down, a falta de desenvolvimento das habilidades dos níveis hierárquicos inferiores e a inadequada coordenação entre as funções, unidades e divisões da organização. No que diz respeito à relação entre o processo de planejamento estratégico, vale destacar, ainda, a pesquisa de Kich e Pereira (2011). Os autores concluíram que a estrutura influenciou o processo de planejamento estratégico, uma vez que grande parte das decisões é tomada pelos indivíduos que compõe a alta administração, assim como foi influenciada, tendo em vista a criação de um departamento que é responsável exclusivamente para as questões estratégicas da organização. Ademais, o processo aumentou a integração entre os setores, principalmente devido à busca dos mesmos objetivos. Portanto, percebe-se uma relação concomitante entre estratégia e estrutura. Diante do exposto, conclui-se que existe uma relação constante e recíproca entre estratégia e estrutura organizacional. Em determinados casos, a estrutura modela a estratégia, em outros a estratégia determina a estrutura da organização. No entanto, são poucos os estudos que analisam profundamente em quais elementos existe esta relação de causa-efeito ou de influência. Esta pesquisa visa justamente abordar esta lacuna, aprofundando os estudos sobre a formulação e, principalmente, a implementação das estratégias geradas pelo processo de planejamento estratégico e a sua relação com os elementos que compõe a estrutura organizacional. Para compreender como ocorre essa relação, torna-se fundamental a utilização de procedimentos metodológicos, sendo este o conteúdo do próximo capítulo. 3. PROCESSO METODOLÓGICO Para a realização desta pesquisa optou-se por seguir a estratégia de pesquisa de estudo de caso devido ao próprio caráter do objetivo. O esforço de pesquisa seguiu as prerrogativas de Yin (2009), o qual afirma que para desenvolver um estudo de caso consistente é necessário seguir cinco etapas: delineamento da pesquisa; desenho da pesquisa; preparação e coleta dos dados; análise dos casos e entre os casos; e elaboração dos relatórios. Ainda que não esteja por tópicos, as principais atividades desenvolvidas em cada etapa estão detalhadas no decorrer deste capítulo. Com base no referencial teórico foram desenvolvidas as categorias de análise que embasaram a coleta e análise dos dados. Estas categorias são divididas em dois constructos: processo de planejamento estratégico e estrutura. As categorias de análise do primeiro constructo estão embasadas no referencial metodológico de Pereira (2010) e dizem respeito à fase de formulação e à fase de implementação do processo de planejamento estratégico. Já o segundo constructo fundamenta-se no referencial metodológico de Volberda (1998) e refere6 se a três subdimensões e seus respectivos indicadores, a citar: forma organizacional básica; sistema de planejamento e controle; e processos de regulação. A definição por estes referenciais ampara-se no entendimento da consistência com a realidade de ambos e na sua capacidade de investigação. Para corresponder à validade externa, confiabilidade e validade do constructo (YIN, 2009; GERRING; MCDERMOTT, 2010), elaborou-se as proposições norteadoras do estudo de caso com base em Brenes, Mena e Molina (2008), Galaz Sanchez-Bueno (2009), Amitabh e Gupta (2010) e Kich e Pereira (2011), a saber: (1) a formulação do processo de planejamento estratégico influencia e é influenciada pelos elementos que constituem a estrutura organizacional; (2) a implementação do processo de planejamento estratégico influencia e é influenciada pelos elementos que constituem a estrutura organizacional. Após a definição das proposições da pesquisa, definiu-se o caso a ser analisado, que seguiu uma premissa básica: estar em fase de implementação do processo de planejamento estratégico. Tendo em vista os objetivos da pesquisa, este foi o ponto de partida para a definição do caso, pois o outro constructo de pesquisa é um fator que compõe o ambiente de qualquer organização, ainda que possa não estar formalmente definido. Ademais, a opção pelo MPSC ganha ainda mais consistência considerando a complexidade da estrutura organizacional da Instituição. Logo, desenvolveu-se o protocolo de pesquisa que orientou os pesquisadores na coleta de dados a partir do prévio esclarecimento das premissas gerais que deveriam ser seguidas no trabalho de campo, como de fato ocorreu. Além dos instrumentos de coleta de dados, este protocolo determina as regras e procedimentos seguidos antes, durante e depois da coleta (YIN, 2009). A pesquisa teve como principal fonte a entrevista semi-estruturada, além da utilização da pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e observação sistemática. Entre os documentos e registros do MPSC analisados, destaca-se: Guia do Ministério Público de Santa Catarina; Organograma; Lei Orgânica Nacional do Ministério Público nº 8.625; Planejamento Estratégico MP 2000; Planejamento Estratégico do Ministério Público de Santa Catarina 2004-2009; Planejamento Estratégico MPSC 2012-2022; Relatórios de acompanhamento da formulação do Planejamento Estratégico MPSC 2012-2022; Plano Geral de Atuação 2013; Relatório de Gestão Institucional 2012; Pesquisa – Percepção da população catarinense sobre o Ministério Público de Santa Catarina; Site do MPSC; Site do Ministério Público Federal. Posterior à pesquisa bibliográfica e documental, realizou-se as entrevistas com os sujeitos de pesquisa, que foram definidos de forma intencional levando em consideração o objetivo da pesquisa. A ótica da coalizão dominante formal foi entendida a partir das entrevistas com o Procurador-Geral de Justiça, com o Subprocurador-Geral de Justiça Para Assuntos Administrativos, com o Secretário-Geral do Ministério Público, com o Coordenador-Geral dos Centros de Apoio Operacional e com a Coorregedora-Geral do Ministério Público. As premissas vinculadas aos servidores teve como base as entrevistas com o Coordenador-Geral Administrativo, com a Coordenadora de Planejamento e com o Gerente de Informações e Projetos. Ouviu-se, também, um Promotor de Justiça e um Procurador de Justiça que atualmente exercem o papel de execução do MPSC. A pesquisa também contou com a utilização da observação sistemática na coleta de dados primários, utilizada basicamente na participação, como ouvinte, em reuniões da Comissão de Planejamento Estratégico. Apesar de não participar das discussões, constatou determinados comportamentos ou condições do ambiente que contribuíram para o estudo. A coleta de dados em base de dados diferentes e com indivíduos de distintos níveis hierárquicos foi importante para o alcance dos critérios de validade do constructo (YIN, 2009; GERRING; MCDERMOTT, 2010), principalmente em decorrência da triangulação dos dados (AMIS; SILK, 2008; YIN, 2009). 7 Após a transcrição das entrevistas e análise dos dados, buscou-se identificar os trechos ou imagens que estivesse relacionado com as categorias de análise em toda a base de dados do estudo de caso (BARDIN, 1977). Portanto, iniciou-se o processo de análise de conteúdo utilizando como apoio o software Atlas.ti, que foi utilizado como uma forma complementar para aperfeiçoar a análise dos dados. Este processo possibilitou o desenvolvimento de oitenta e oito categorias de análise e mais de quatrocentos e quarenta citações, que juntas auxiliam no entendimento da relação entre o processo de planejamento estratégico e a estrutura organizacional. Vale destacar que para analisar a relação entre os dois constructos foi necessário compreender com profundidade o processo estratégico desenvolvido no MPSC e a estrutura organizacional da Instituição. Após este entendimento foi possível identificar como a fase de formulação e a fase de implementação do processo influenciou ou foi influenciada pelos indicadores que constituem a estrutura organizacional, conteúdo que será apresentado no próximo capítulo. 4. ANÁLISE DOS DADOS Não parece haver dúvidas que a estrutura de alguma forma interfere na estratégia e vice-versa (BRENES; MENA; MOLINA, 2008; GALAN; SANCHEZ-BUENO, 2009; AMITABH; GUPTA, 2010; KICH; PEREIRA, 2011), mas afinal, quais elementos da estrutura organizacional são influenciados e quais influenciam o processo estratégico? Nesta pesquisa busca-se responder este questionamento a partir do entendimento que o processo de planejamento estratégico é dividido em dois momentos: a fase de formular as estratégias e a fase de implementá-las (PEREIRA, 2010). E a estrutura organizacional é constituída por uma série de indicadores amplamente discutidos na literatura (MINTZBERG; QUINN, 2001; GHOSHAL; GRATTON, 2002; HALL, 2004; MINTZBERG, 2008) e que compõem as três subdimensões concebidas por Volberda (1998), a saber: a) forma organizacional básica: agrupamento, níveis hierárquicos e funcionalização; b) sistema de planejamento e controle: regulação de objetivos e definição de prioridades, programação interna de planejamento e controle de progresso e avaliação; c) processos de regulação: da tarefa (amplitude, profundidade e intercambialidade), do comportamento (padronização, formalização e treinamento e educação), de ajustes mútuos (dispositivos de contatos e descentralização horizontal) e da tomada de decisão (delegação e participação). O MPSC formulou seu processo de planejamento estratégico em 2012 e está no esforço de implementá-lo. Um consultor externo conduziu a fase de formulação e a maioria das atividades realizadas nesta etapa segue o que é exposto na literatura, como a definição dos valores (SCOTT; JAFFE; TOBE, 1993; PEREIRA, 2010), a missão, a visão (COLLIS; PORRAS, 1996), a análise do ambiente interno, dos stakeholders e do ambiente externo (ALMEIDA, 2003; PEREIRA, 2010), o desenvolvimento da Matriz FOFA (PEREIRA, 2010), o desenvolvimento das questões estratégicas, estratégias e ações estratégicas e a sensibilização que perpassa todo este processo (DYE; SIBONY, 2007; PEREIRA, 2010). Já a implementação do processo de planejamento estratégico está sendo realizada pela própria equipe administrativa do MPSC. Em síntese, o acompanhamento e controle destas estratégias ocorrem com auxílio do Balanced ScoreCard, que segue a mesma lógica das estratégias formuladas, ou seja, cada objetivo estratégico é desdobrado em programas, projetos e ações. Em grande parte dos casos, cada programa ou projeto possui um indicador e as ações relacionadas a estes programas ou projetos possuem cronogramas de execução. Estes dados são avaliados periodicamente pela Comissão de Planejamento Estratégico. Sensibilizar 8 os servidores e principalmente os membros é um dos principais desafios do Planejamento Estratégico MPSC 2012-2022. A falta de compromisso dos membros com o processo estratégico, sobretudo em decorrência da independência funcional, foi um dos achados de pesquisa que merece destaque. Esta prerrogativa legal concebe aos Promotores e Procuradores de Justiça autonomia para atuar nas suas atividades de execução judiciais. Entretanto, vale destacar que mesmo com este desafio, a Instituição vem trabalhando na implementação do processo e conseguindo resultados positivos. Para analisar a estrutura organizacional do MPSC utilizou-se o referencial metodológico de Volberda (1998). Todos os indicadores que compõem as subdimensões concebidas pelo autor foram empregados para analisá-la. A independência funcional também influencia os elementos da estrutura organizacional e a torna ainda mais complexa. Justamente diante deste cenário, a avaliação da estrutura organizacional da Instituição ocorreu distinguindo a atividade fim e a atividade meio. A atividade fim se refere à própria execução e está a cargo dos Promotores e Procuradores de Justiça, enquanto a atividade meio diz respeito às tarefas que não estão necessariamente relacionadas às questões jurídicas. A estrutura organizacional da atividade fim do MPSC possui predominantemente alto potencial de flexibilidade, sendo que o agrupamento por mercado alvo, a regulação de objetivos e definição de prioridades rudimentar, a alta amplitude da tarefa, a complexa profundidade da tarefa, a alta intercambialidade, a baixa formalização do comportamento, o treinamento e educação artífice, a forma natural dos dispositivos de contatos, a alta descentralização horizontal e a alta participação na tomada de decisão indicam o organicismo da estrutura organizacional correspondente à atividade fim. Por outro lado, a estrutura organizacional relacionada à atividade meio possui características basicamente mecânica. O agrupamento funcional, a quantidade de níveis hierárquicos, a alta funcionalização, o detalhamento da programação interna de planejamento, a deliberação do controle de progresso e avaliação, a estreita amplitude e profundidade da tarefa, a alta padronização do comportamento, a baixa descentralização horizontal e a baixa delegação na tomada de decisão são indícios do baixo potencial de flexibilidade estrutural da Instituição no que se refere à atividade meio (VOLBERDA, 1998; HALL, 2004; MINTZBERG, 2008). Amparado neste entendimento, avaliou-se a relação entre as fases de formulação e implementação do processo de planejamento estratégico com os elementos que compõem a estrutura organizacional. Assim, a análise se apresenta em três seções: formulação e implementação versus forma organizacional básica; formulação e implementação versus sistema de planejamento e controle; e formulação e implementação versus processos de regulação. 4.1 Formulação e implementação versus forma organizacional básica Se por um lado o caso do MPSC demonstra não haver muita proximidade entre a formulação do planejamento estratégico e o agrupamento da forma organizacional básica, por outro é possível identificar que os níveis hierárquicos interferem diretamente nesta fase. Inicialmente, o processo é impactado pelos níveis hierárquicos principalmente em decorrência do processo ser desenvolvido com base em uma estrutura já existente (HALL, 2004). Além disto, como o próprio nível hierárquico define a maior coalizão dominante formal, que é justamente quem decide desenvolver o processo de planejamento estratégico ou não, esta relação torna-se ainda mais evidente (PEREIRA, 2010). Ainda, considerando que a formulação do processo pode envolver todos os funcionários da organização ou distinguir aqueles que participam com base nos níveis hierárquicos, dependendo logicamente da forma de compor a equipe, e isto passa consequentemente pela definição da coalizão dominante 9 formal, constata-se que a tendência é que os níveis hierárquicos da estrutura organizacional influenciem diretamente a fase de formulação (HALL, 2004; KICH; PEREIRA, 2011). A fase de formulação também é impactada pela funcionalização da forma organizacional básica, sendo que alguns achados de pesquisa merecem destaque. A principal apuração desta relação parte do princípio que a formulação do processo de planejamento estratégico pode ser impactada na medida em que os participantes do processo se preocupem mais com a sua função específica ou sua própria área do que com a organização de forma global, o que Ranson, Hinings e Greenwood (1980) reconhecem como departamentalização. A possibilidade desta influência ocorre também devido à formulação ser realizada a partir de uma estrutura organizacional que estabelece as diretrizes organizacionais. Principalmente em organizações caracterizadas pela alta funcionalização da forma organizacional básica, como é o caso do MPSC, o processo de planejamento estratégico tende a contribuir de forma mais aparente, haja vista que o processo possibilita que as diretrizes estratégicas sejam formuladas com a participação de todas as áreas e funções e, consequentemente, amplia a ótica organizacional em detrimento à departamental. Assim, até aqui a relação entre os elementos que compõem a forma organizacional básica e a fase de formulação do processo de planejamento estratégico é basicamente de causa e efeito. Mas esta lógica se inverte quando se aborda a fase de implementação, sobretudo porque a formulação objetiva compreender o ambiente interno e externo da organização e definir as diretrizes estratégicas, mas estas definições geralmente só serão colocadas em prática no decorrer da fase de implementação (HREBINIAK, 2006; PEREIRA, 2010). Neste contexto, a implementação impacta todos os elementos da forma organizacional básica. Inicialmente, a implementação impacta o agrupamento a partir do momento que as áreas começam a trabalhar de forma conjunta e em parceria na busca de um objetivo organizacional mais amplo que os objetivos da sua própria área, ou seja, o processo de planejamento estratégico une os setores (KICH; PEREIRA, 2011). Este fenômeno tende a alterar o agrupamento da Instituição, pois a divisão pode extrapolar a forma funcional e impulsionar o agrupamento focalizado em um produto ou até mesmo mercado alvo, o que configura maior potencial de flexibilidade. Ademais, as alterações da estrutura organizacional decorrentes do processo tendem a impactar indiretamente no agrupamento, uma vez que este elemento está diretamente relacionado com os níveis hierárquicos e com a funcionalização da organização. Já no que diz respeito à relação entre a fase de implementação e os níveis hierárquicos, constata-se a existência de uma relação recíproca. Por um lado a implementação do processo de planejamento estratégico impulsiona ajustes na estrutura organizacional, que podem ser caracterizadas pela formação de novos cargos, departamentos, órgãos, setores e até mesmo a exclusão ou alteração de estruturas internas. Por outro, os níveis hierárquicos também impactam a fase de implementação a partir do momento que estas mudanças sejam inviáveis e acabam por limitar a execução de uma determinada ação estratégica. Além disto, conforme identificado no estudo de caso de Kich e Pereira (2011), o empenho pela implementação do processo começa pela maior coalizão dominante formal da organização e são justamente os níveis hierárquicos que formalizam a figura do chefe da Instituição. A fase de implementação interfere no funcionamento da forma organizacional básica na medida em que o processo de planejamento estratégico indica as alterações na estrutura organizacional, sendo que o funcionamento é dependente, mesmo que indiretamente, dos níveis hierárquicos, uma vez que quanto maior a quantidade de níveis hierárquicos e departamentos laterais, maior tende a ser o nível de funcionalização da estrutura (VOLBERDA, 1998). Ainda, a partir do momento que as áreas se unem na busca de um objetivo, em decorrência do processo, a funcionalização tende a ter maior potencial de flexibilidade, o que denota que a implementação influencia na funcionalização. 10 Portanto, a fase de formulação do processo de planejamento estratégico é impactada pelos elementos da forma organizacional básica, enquanto a implementação basicamente impacta o agrupamento, os níveis hierárquicos e a funcionalização da organização. 4.2 Formulação e implementação versus sistema de planejamento e controle Os indicadores desta subdimensão são tão próximos às fases de formulação e implementação do processo de planejamento estratégico que em alguns momentos ambos os constructos praticamente se unem em um único entendimento, pois determinados indicadores visam justamente avaliar como os objetivos organizacionais são definidos e acompanhados, o que corresponde respectivamente às fases de formulação e implementação do processo. A regulação de objetivos e definição de prioridades possui forte aproximação com a fase de formulação do processo de planejamento estratégico, pois se sabe que a definição dos objetivos no MPSC ocorre justamente por meio deste processo. Inclusive, o Code Cooccurrence Table, relatório gerado pelo Atlas.ti a partir dos dados da pesquisa, demonstra que na maioria das vezes que os sujeitos de pesquisa abordaram a categoria de análise “Formulação”, relataram também a categoria de análise “Regulação de Objetivos e definição de prioridades”, o que denota a similaridade entre estes dois elementos. Além disto, a programação interna de planejamento no caso da Instituição é decorrente do Planejamento Estratégico MPSC 2012-2022, principalmente devido este processo desdobrar os objetivos estratégicos em iniciativas estratégicas, que por sua vez são detalhadas em programas e projetos, que podem ser ainda especificados em ações estratégicas. Este elemento do sistema de planejamento e controle se relaciona tanto com a fase de formulação quando com a fase de implementação. No que diz respeito à formulação, a relação ocorre por meio da definição de como acontecerá todo este desdobramento. Já em relação à implementação, a programação interna de planejamento se configura a partir da execução propriamente dita dos objetivos, iniciativas e ações estratégicas. Assim como a regulação de objetivos e definição de prioridades se associa com a fase de formulação, o controle de progresso e avaliação se relaciona com a implementação do processo, como também indica o relatório Code Cooccurrence Table. Em organizações que utilizam o processo de planejamento estratégico, como é o caso do MPSC, é comum que o controle e a avaliação decorram do acompanhamento da execução das ações formuladas neste processo. Portanto, percebe-se que não há uma relação de causa e efeito, mas, sim, certa similaridade. Inclusive, a tendência é que esta aproximação remeta a conclusão que a relação entre a estrutura organizacional e a estratégia, no seu sentido mais amplo, realmente seja recíproca, tanto é que o próprio referencial metodológico de Volberda (1998) engloba a fase de formulação e implementação das estratégias organizacionais. Neste sentido, nos casos em que a estratégia decorra de um processo deliberado de análise, o sistema de planejamento e controle tende a ser considerado elaborado. Em contrapartida, em organizações que utilizam o processo estratégico emergente para formar suas estratégias a tendência é que esta subdimensão seja analisada a partir do caráter rudimentar. 4.3 Formulação e implementação versus processos de regulação Diferentemente da relação entre a fase de formulação e a forma organizacional básica, esta fase do processo de planejamento estratégico interfere diretamente nos processos de regulação que compõe a estrutura organizacional. Especialmente no que diz respeito à regulação de ajustes mútuos e tomada de decisão esta fase mais impacta do que é impactada. 11 Constata-se que a regulação de ajustes mútuos é influenciada pela formulação do processo de planejamento estratégico a partir do momento que este processo possibilita que todos os funcionários participem da formulação das diretrizes estratégicas, independente da área de atuação, função ou nível hierárquico. Esta discussão tende a aumentar a comunicação informal entre os funcionários e descentralizar as atividades dos departamentos, o que aumenta o potencial de flexibilidade dos dispositivos de contato e da descentralização horizontal. Também em decorrência da participação de todos os funcionários, a delegação e a participação no processo de tomada de decisão aumentam no decorrer da fase de formulação. Oportuno destacar, ainda, que como a própria estrutura organizacional define a coalizão dominante formal, ela acaba interferindo neste processo, haja vista que é ela que delineia as características básicas do processo de planejamento estratégico, dentre elas a forma de compor a equipe de formulação. Já no que diz respeito à implementação do processo, percebe-se que neste momento a tendência é que os processos de regulação sejam ainda mais impactados. Por exemplo, a implementação impacta na regulação de tarefas na medida em que a estrutura formal da organização tende a ser alterada pelo processo de planejamento estratégico, seja através da criação de novos cargos ou até mesmo pela alteração do funcionamento de determinados departamentos. Assim como a funcionalização da forma organizacional básica é afetada, a amplitude e a profundidade das tarefas são indiretamente alteradas a partir dos ajustes no organograma. Em contrapartida, em relação aos treinamentos e educação, a implementação tanto impacta como é impactada. A tendência é que o processo de planejamento estratégico interfira nesta questão quando os treinamentos começam a ser realizados com base nos objetivos formulados, como pôde ser observado na realidade do MPSC. Contudo, a implementação passa a ser impactada a partir do momento que o conhecimento adquirido pelos funcionários através destes cursos passa a contribuir justamente para o alcance dos objetivos estratégicos e até mesmo no aperfeiçoamento do próprio processo de planejamento estratégico, inclusive no que se refere às devidas mudanças na cultura organizacional (BEPPLER; PEREIRA, 2013). A implementação também impacta na regulação de tomada de decisão, especialmente a partir do momento que a participação e a delegação dos funcionários aumentam em decorrência da execução das ações estratégicas previamente formuladas. Na realidade do MPSC, a delegação torna-se mais difícil devido a legalidade do poder que o cargo de Procurador-Geral de Justiça possui. Entretanto, constata-se que as alterações na estrutura decorridas do processo de planejamento estratégico tendem a alterar a delegação e a participação no processo de tomada de decisão, como foi o caso da criação da CoordenadoriaGeral dos Centros de Apoio Operacional e da Subprocuradoria-Geral de Justiça para Assuntos Administrativos. Esta decisão aumentou a participação no processo de tomada de decisão, apesar de legalmente não poder substituir o Procurador-Geral de Justiça nas decisões que se referem exclusivamente ao cargo do Chefe da Instituição. Ademais, a abertura à participação e delegação no processo de tomada de decisão depende do perfil do líder, portanto, considerando que é a estrutura organizacional que determina a maior coalizão dominante formal, logicamente que toda esta regulação é impactada por este constructo. A Figura 1 sintetiza as relações supracitadas. As relações destacadas em vermelho expressam que a relação é de impacto unilateral, em azul que há uma relação recíproca e em verde que existe forte correlação entre as duas unidades. 12 Figura 1 – Fases do processo de planejamento estratégico versus elementos da estrutura organizacional Fonte: Elaborado pelos autores (2014). Portanto, percebe-se que as fases de formulação e implementação do processo de planejamento estratégico possuem diversos modos de relação com os elementos constituintes da estrutura organizacional. As linhas destacadas pela cor azul demonstram as similaridades relacionais, as verdes indicam as confluências e as vermelhas evidenciam os impactos unilaterais e recíprocos. 5 CONCLUSÃO Esta pesquisa visou avaliar a relação entre o processo de planejamento estratégico e a estrutura organizacional. Após o entendimento do processo estratégico e da estrutura organizacional do MPSC, identificou-se como as fases de formulação e implementação do processo de planejamento estratégico influenciam e são influenciadas pelos elementos que constituem a estrutura organizacional na realidade do MPSC. Para alcançar este objetivo, optou-se pela estratégia de pesquisa de estudo de caso, que foi delineada a partir do referencial metodológico de Yin (2009). A partir da identificação das relações entre os elementos da estrutura organizacional e as fases do processo de planejamento estratégico, conclui-se que as duas proposições se confirmaram. A Proposição 1 concebia que a formulação do processo de planejamento estratégico influencia e é influenciada pelos elementos que constituem a estrutura organizacional, enquanto a Proposição 2 considerava que a implementação do processo de planejamento estratégico influencia e é influenciada pelos elementos que constituem a estrutura organizacional. Alguns elementos da estrutura organizacional impactam as fases do processo, outros são impactados. Alguns interferem mais, outros menos. Alguns possuem relações recíprocas, enquanto outros são tão próximos que, inclusive, podem ser entendidos como similares. Entretanto, em um contexto mais amplo, constatou-se que as fases do processo de 13 planejamento estratégico influenciam e são influenciados pelos elementos da estrutura organizacional, o que corrobora com as conclusões das pesquisas de Brenes, Mena e Molina (2008), Galan e Sanchez-Bueno (2009), Amitabh e Gupta (2010) e Kich e Pereira (2011). Portanto, o presente estudo aprofundou a ótica de análise da relação entre a estrutura organizacional e a estratégia, mais especificamente a partir do processo de planejamento estratégico. Como a principal limitação desta pesquisa diz respeito à impossibilidade de generalização do caso para as demais organizações por se tratar de um estudo de caso em profundidade, recomenda-se o desenvolvimento de outras pesquisas em organizações que também estão em fase de implementação do processo, buscando observar similaridades ou discrepâncias da relação entre os dois constructos. Além disto, recomenda-se analisar outros fatores organizacionais capazes de influenciar a implementação do processo de planejamento estratégico. Sabe-se que a pesquisa de Kich e Pereira (2011) identificou que a implementação do processo é influenciada por quatro fatores organizacionais, a saber: estrutura, cultura, comunicação e liderança. Em decorrência desta pesquisa, Beppler e Pereira (2013) se aprofundaram na temática cultura e estratégia, enquanto a presente pesquisa avaliou em profundidade o fator estrutura organizacional. Deste modo, sugere-se explorar os detalhes da relação entre o processo de planejamento estratégico com a comunicação e a liderança, além de demais fatores organizacionais que possam dificultar ou facilitar a implementação do planejamento estratégico, como a inovação. REFERÊNCIAS ACKOFF, R. L. Planejamento Empresarial. Rio de Janeiro: LTC – Livros técnicos e Científicos Editora S.A., 1982. ALMEIDA, M. I. R. Manual de planejamento estratégico. São Paulo: Atlas, 2003. AMIS, J. M.; SILK, M. L. The Philosophy and Politics of Quality in Qualitative Organizational Research. Organizational Research Methods, v.11, n.3, p.456-480, 2008. AMITABH, M.; GUPTA, R. K. Research in strategy-structureperformance construct: Review of trends, paradigms and methodologies. Journal of Management and Organization, v. 16, n. 5, p. 757-776, 2010. Disponível em: <http://au.vlex.com/vid/structure-constructparadigms-methodologies-254386710>. Acesso em 15 jun. 2013. BARDIN, L. Análise de conteúdo. 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