Coronelismo, Enxada e
Voto
Vitor Nunes Leal
(1914-1985)
 Coronelismo, Enxada e Voto (1948), de Vitor Nunes
Leal, assim como Geografia da Fome (1946), de
Josué de Castro, são obras geradas em um mesmo
contexto histórico, o da redemocratização do país
seguinte à deposição de Getúlio Vargas.
>> quais os rumos políticos do país? Como
suplantar o autoritarismo?
 De um lado,sustentam a pauta de debates
estabelecidos durante o Estado Novo, que
enfatizava a necessidade de integração nacional.
Por outro, voltam-se para o interior do país com um
propósito transformador.
 Participam, assim, do clima instalado no país pelo
pós-guerra, com sua ênfase no desenvolvimento
industrial e na transformação da estrutura agrária,
entendidas como mecanismos essenciais de
superação do atraso nacional.
Visões do Brasil nos anos 40 e 50:
A MARCHA PARA O OESTE
- O Estado Novo pretendeu
construir uma nova sociedade e
fortalecer um sentimento de
nacionalidade para o Brasil.
- Uma dimensão-chave desse
projeto era a geopolítica, que
tinha no território seu foco
principal: vencer os "vazios"
territoriais, noção que atualizava o
conceito de "sertão", entendido
como espaço abandonado desde
as denúncias de Euclides da
Cunha.
Ao lado, planta da cidade de Goiânia,
1935-1937)
Dentro dessa diretriz política inseriu-se a campanha,
lançada pelo Presidente Getúlio Vargas em 1940, da
“Marcha para o Oeste”
 Presidente
Getulio
Vargas em
Campo
Grande
(MT), 1941.
Para Cassiano Ricardo, um dos
formuladores da idéia, Faltava realizar
“a posse efetiva das zonas já
conquistadas pelos bandeirantes
históricos” .
 Antes de VNL, havia o retrato literário e
irônico da dependência entre pobresdiabos sem terra nem educação para
com donos da terra sem pena nem lei:
 “O fato mais importante de sua vida é
sem dúvida votar no governo. Tira nesse
dia da arca a roupa preta do casamento,
sarjão furadinho de traça e todo vincado
de dobras; entala os pés num alentado
sapatão de bezerro; ata ao pescoço um
colarinho de bico e, sem gravata, ringindo
e mancando, vai pegar o diploma de
eleitor às mãos do chefe Coisada, que
lho retém para maior garantia da
fidelidade partidária. Vota. Não sabe em
quem, mas vota. Esfrega a pena no livro
eleitoral, arabescando o aranhol de
gatafunhos a que chama "sua graça".
(Monteiro Lobato, Urupês, 1918)
 Vitor Nunes Leal, com “Coronelismo, Enxada e
Voto” propõe uma visão integrada da política
nacional, buscando no contraste entre a
universalização do sufrágio e a estrutura
arcaica do meio rural um dos principais fatores
de corrupção do nosso sistema político.
 Quer compreender o poder discricionário dos
poderes locais sobre o processo político
nacional.
 CEV foi considerada a primeira análise sistêmica da
política brasileira. A obra propôs-se a explicar o modo
de funcionamento de todo o sistema político brasileiro.
 Estuda o sistema de trocas entre os partidos, os
proprietários rurais e o poder público nos pequenos
municípios do país.
 Sua tese desmente a idéia de que a extrema
capacidade eleitoral dos coronéis e sua influência
direta sobre a política nacional procedessem da
pujança do latifúndio.
O que é coronelismo?
 Um fenômeno político
 Manifestação do poder privado, “resultado da
sobreposição do regime representativo a uma
estrutura sócio-econômica inadequada” (desigual,
decadente e atrasada, típica do meio rural mas não
restrita a ele).
 É uma forma peculiar de manifestação do poder
privado, ou seja, uma adaptação pela qual os resíduos
patriarcais conseguem sobreviver no sistema
representativo.
 É uma troca de favores entre um poder público
progressivamente fortalecido e chefes locais (senhores
de terras) decadentes.
 É um estado de compromisso que envolve favores entre o
Estado (governos) e os chefes locais (“coronéis”), dos quais
dependem trabalhadores sem propriedade, e para quem o
voto é uma das moedas de troca.
 Relação política baseada na RECIPROCIDADE (relações
pessoais e de natureza patrimonialista): “de um lado, os
chefes municipais e os ‘coronéis’, que conduzem magotes de
eleitores como quem toca tropa de burros; de outro lado, a
situação política dominante no Estado, que dispõe do erário,
dos empregos, dos favores e da força policial, que possui,
em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça”.
 O coronel se torna uma espécie de mediador (intermediário)
entre o governo e seus dependentes. Estado empresta
poder e prestígio ao coronel e o coronel retribui com votos,
aumentando a dependência política do eleitorado.
 Sistema político que permeia toda a vida nacional.
Qual o paradoxo?
 O poder público alimenta
o poder privado:

O coronel oferece sustentação
política ao governo (voto a cabresto)
e recebe em troca a satisfação de
seus interesses (cargos, títulos, e
mais prestígio ao coronel) ou de
interesses pontuais da comunidade
(estradas, escolas, cestas básicas,
merenda escolar, etc.)

CORONEL

GOVERNO
VOTO A CABRESTO
 Por que o Estado, que afinal
institucionalizou o regime
representativo baseado no
sufrágio, impulsiona esse tipo
de privatização do poder
público?
 Porque nenhum governo
pode, ainda hoje, prescindir
do eleitorado rural. Menos
ainda nos anos 40, quando
Vitor Nunes Leal escreveu o
livro.
 Segundo dados do
IBGE, a população do
Brasil, recenseada em 1º
de setembro de 1940,
estava distribuída
segundo a situação dos
domicílios em : urbana –
9.189.995 (22,29%);
suburbana – 3.692.454
(8,95%); rural –
28.353.866 (68,76%).
 Portanto, naquela
época, a maioria do
eleitorado residia e
votava no interior do
país, com uma
predominância do
elemento rural sobre o
urbano.
 Fenômeno derivado da estrutura agrária.
 Conseqüência do latifúndio.
 Questões:
>> O fenômeno do coronelismo foi
superado?
>> Quais os contornos adquiridos pela
reciprocidade entre poderosos na
atualidade?
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Coronelismo, Enxada e Voto - Acadêmico de Direito da FGV