LABORATÓRIO DE PESQUISA EM TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO LATEC EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E INTERNET Cristina Haguenauer* Hoje em dia, de uma forma geral, quando se fala de Educação a Distância, pensase logo em Computadores e Internet. No entanto, a Educação a Distância possui várias outras modalidades que já existem há muito tempo. Um dos modelos que alcançou grande desenvolvimento no Brasil, sendo exportado para diversos países, é a Educação a Distância via televisão. Ns Educação a Distância apoiada pela Internet, três aspectos são importantes: a capacidade tecnológica da Internet, a banda larga, o aumento da capacidade de transmissão de dados pela Internet (incluindo som e vídeo); o acesso e a parcela de população que tem acesso de qualidade à Internet e as metodologias mais adequadas ao ensino-aprendizagem neste novo meio, com suas particularidades, potencialidades e limitações. Basicamente, o que a Internet traz de novo para o panorama da Educação é a capacidade de comunicação e de interação: dos alunos entre si; do aluno com o professor e do aluno com a equipe de suporte. É preciso explorar e investigar todos os ângulos deste novo contexto que se apresenta. Uma outra característica importante é a interdisciplinaridade. Geralmente, quando se trata do ensino a distância apoiado pela Internet, não existe apenas um professor, mas uma equipe composta por vários profissionais: especialistas de conteúdo, especialistas em ensino a distância, profissionais de informática e de redes, web designers, redatores, desenhistas instrucionais, etc. A principal vantagem da Educação a Distância apoiada pela Internet é a flexibilização de tempo e espaço. O aluno pode ter acesso ao material didático e se comunicar com o professor a qualquer hora, de qualquer lugar. Por exemplo, aquele aluno que gosta de estudar à noite pode, às 11 horas da noite, enviar uma mensagem para o seu professor, que obviamente não estará conectado naquele momento. Mas, no dia seguinte, o professor vai ler a mensagem, responder e interagir com o aluno, independente da hora em que os dois estiveram conectados à internet. Existe também a flexibilidade do espaço, ou seja, o aluno pode estar na sua casa, se comunicando com a turma ou com o professor. Pode-se ter uma turma composta por alunos de todos os cantos do Brasil, ou até mesmo no exterior. Portanto, existe flexibilidade de espaço e de tempo. Esta característica faz com que as pessoas ganhem tempo, por exemplo, não tendo que deslocar para a escola à noite, depois do trabalho, para participar de uma aula. O tempo economizado no deslocamento poderá ser dedicado ao estudo, à família ou a assuntos pessoais, o que resulta em melhor qualidade de vida. A tendência, no entanto, é a de se ter uma modalidade de ensino contendo uma combinação de ensino presencial e a distância, de forma a maximizar a eficiência do conjunto. Os encontros presenciais passam a ser compostos por oficinas, laboratórios, 1 LABORATÓRIO DE PESQUISA EM TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO LATEC vivências, que têm maior eficiência quando o aluno já estudou o assunto nas aulas não presenciais. Pode-se combinar estas duas modalidades (presencial e a distância) com uma eficiência muito grande. Isto não impede que um curso inteiro seja feito a distância. Vai depender das necessidades e das características do público alvo. Cada caso deve ser analisado separadamente, mas a tendência maior é combinar as duas soluções. A Educação baseada na transmissão de informações, onde o professor fala e os alunos escutam, ou copiam o conteúdo do quadro, está com seus dias contados, seja na educação presencial ou a distância. Ainda existem muitos desafios: a primeira barreira é o custo; a segunda barreira é a questão cultural, ou seja, tanto alunos, quanto professores precisam ser apresentados a esta nova modalidade de ensino-aprendizagem. Neste contexto, a modalidade semipresencial, representa uma vantagem, pois o aluno não precisa, num primeiro momento, perder o referencial do professor presencial. Em relação aos professores, o caminho é o investimento em cursos, em formação continuada, capacitação. Além da questão do custo da tecnologia e das barreiras culturais, estamos enfrentando dois outros desafios: o primeiro é a desinformação, a utilização do ensino a distância por pessoas despreparadas, o que causa a disseminação de práticas e conceitos equivocados. Por exemplo, têm surgido críticas de que a EAD vai causar desemprego para os professores e que o aluno vai ficar sozinho, abandonado. Estas são críticas que, na educação de qualidade, desenvolvida por profissionais preparados, não se confirmam. Outro risco que se corre é a redução da educação a uma simples transferência de teorias e fórmulas. Educação é muito mais do que isso. O professor, em suas aulas, também trabalha com que chamamos de temas transversais, ou currículo oculto. O professor fala de ética, responsabilidade social, trabalho em equipe, postura cidadã e profissional, ao mesmo tempo em que trabalha um determinado conteúdo Estes elementos todos têm que ser preservados no ensino a distância, ou seja, precisam ser reintegrados no material didático e nas estratégias de ensino. A competência técnica de um aluno formado no processo a distância ou no processo presencial não depende exclusivamente do fato de o ensino ter sito a distância ou presencial. O desenvolvimento da metodologia e da técnica nos permite garantir que o aluno poderá ser igualmente bem formado nas duas modalidades. Por outro lado, o que se pode observar de experiências de outros países, como a Espanha, como é o caso da Universidade Aberta da Catalunha, é a tendência de que os alunos que procuram a universidade a distância, estão cursando sua segunda universidade. Esta tendência se observa porque existe uma importância muito grande no papel da socialização que ocorre na Escola, na Universidade, que não se pode obter com o ensino a distância. Existe um espaço na universidade que vai além da sala de aula, que envolve os eventos culturais, os trabalhos em grupo, os encontros com os colegas, o convívio social. Por isto, a tendência em alguns países, é de que principalmente o aluno já formado, que já está no mercado de trabalho, que necessita de formação continuada vá buscar o ensino totalmente a distância, pois ele já passou por esta fase de socialização. 2 LABORATÓRIO DE PESQUISA EM TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO LATEC Os projetos desenvolvidos no LATEC/UFRJ, têm sido voltados prioritariamente para o profissional já formado, a chamada formação continuada ou capacitação profissional, por dois motivos: o primeiro é que se na sociedade em geral o acesso ao computador ainda é limitado, nas empresas este acesso é mais amplo. Geralmente, o profissional pode ter acesso ao estudo no seu local de trabalho ou, se for mais cômodo, de casa. O segundo motivo é o de que a formação continuada é mais adequada para o ensino a distância, porque, com a flexibilização de tempo e espaço, torna-se viável atender à necessidade de formação continuada exigida pelo mercado de trabalho. * Profa. Cristina Haguenauer é Engenheira Civil pela UERJ, Mestre em Ciências pela PUC-RJ, Doutora pela COPPE/UFRJ. Professora da Escola de Comunicação, da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRJ. Pesquisadora na área de Tecnologias da Informação e da Comunicação aplicadas à Educação e à Gestão do Conhecimento. Coordenadora do LATEC – Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação a partir de 2000. ** Adaptado da entrevista concedida à Rádio CBN - 860 AM, Programa Show da Notícia em 07 de setembro de 2003. *** É permitida a utilização parcial ou integral deste texto, desde que citada a fonte. 3