AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE SURFACTANTES SOBRE CANDIDA ALBICANS 1 Elizabeth Russo Castilho, 1Francisca Lippi Paschoalin, 1Juliana Lyon e 2 Leonardo Marmo 1 Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova, Curso de Farmácia , Faculdade de Ciências da Saúde, São José dos Campos – SP/Brasil, CEP - 12244-000 2 [email protected], [email protected], [email protected],[email protected] Resumo - Leveduras do gênero Candida são patógenos oportunistas responsáveis por infecções em indivíduos imunocomprometidos. Um grande número de substâncias tem sido testado com o objetivo de inibir o crescimento ou de eliminar estas leveduras. Surfactantes são agentes ativos para superfícies e pertencem à categoria das moléculas anfifílicas. Estas substâncias apresentam uma significativa ação inibidora da aderência de materiais biológicos ou não biológicos em diferentes tipos de substrato. Pesquisar a atividade antifúngica de surfactantes iônicos e não-iônicos sobre Candida albicans consiste em interessante contribuição, tendo-se em vista que essa abordagem permitirá obter informações sobre o possível uso de surfactantes como agentes antifúngicos, assim como obter informações preciosas a respeito do mecanismo de interação dos surfactantes com as proteínas relacionadas à virulência desta levedura. Palavras-chave: Adesão, Candida ssp., surfactantes, fatores de virulência, atividade antifúngica. Área do Conhecimento: Microbiologia Introdução Leveduras do gênero Candida são patógenos oportunistas responsáveis por infecções em indivíduos imunocomprometidos, ou que apresentem condições predisponentes à colonização. As manifestações abrangem desde formas brandas como monilíase, paronínquia, estomatite protética, até formas graves e disseminadas, causando ameaça à vida (MAVOR et al, 2005). A candidose oral tem emergido como um problema crescente em pacientes imunocomprometidos, uma vez que a cavidade oral representa uma importante porta de entrada para infecções fúngicas sistêmicas. C. albicans é a espécie mais comumente envolvida, entretanto outras espécies como C. glabrata, C. tropicalis, C. krusei, C. parapsilosis e C. dubliniensis têm sido freqüentemente identificadas como agentes causadores de candidose (RUHNKE, 2006). O caráter eucariota, comum entre os organismos do Reino Fungi e a célula do hospedeiro e suas similaridades bioquímicas e fisiológicas, limitam em muito o arsenal terapêutico antifúngico disponível. As principais famílias de antifúngicos compreendem os poliênicos, os azólicos, tiocarbamatos, alilaminas, derivados morfolínicos e uma miscelânia de outros agentes que incluem a 5-flucitosina e a griseofulvina, entre outros. Todavia, a maior importância recai sobre os poliênicos, a flucitosina e os azólicos (ALVES et al. 1997). A anfotericina B é um agente antifúngico amplamente utilizado no tratamento de infecções fúngicas sistêmicas (CANTÓN et al, 2003). Ainda hoje, este agente é considerado o padrão ouro no tratamento da maioria das infecções invasivas por leveduras, algumas vezes em combinação com a 5-flucitosina (ESPINEL-INGROFF, 1998). Esta droga é um antibiótico poliênico produzido pelo Streptomyces nodosus, formado por átomos de carbono com dupla ligação, sendo de grande suporte em terapia. Anfotericina B interage, sobretudo, com o ergosterol, que constitui o principal esterol da membrana plasmática fúngica, alterando a XII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, VIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e II Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 1 permeabilidade seletiva desta membrana, por originar poros permeáveis à saída de água e de pequenas moléculas essenciais à sobrevivência do microrganismo, resultando em morte celular (DOMER e LEHRER, 1993). Candida spp resistentes a essa droga são incomuns, mas têm sido descritas. O rápido desenvolvimento de resistência pelos organismos tem sido um problema com 5-flucitosina e essa droga é geralmente ineficiente para terapia prolongada quando usada isoladamente. A elevada incidência de resistência natural e adquirida justifica a terapêutica combinada 5-flucitosina com outros antifúngicos como a anfotericina B. A resistência secundária é uma das principais causas de falhas terapêuticas e se manifesta em percentuais muito elevados (ALVES et al., 1997). Os derivados azólicos são compostos sintéticos que vêm emergindo como uma alternativa promissora ao uso da anfotericina B, uma vez que apresentam uma menor toxicidade além de exibirem amplo espectro de ação e melhores propriedades farmacocinéticas (LYMAN e WALSH, 1992). Muitas revisões têm enfocado a resistência de Candida spp. aos azólicos e a maioria tem colocado o fluconazol em primeiro lugar por ser esta a droga mais extensamente usada (MAHMOUD et al.,1999). Candida spp. resistentes aos azólicos in vitro têm sido mais encontradas em pacientes com AIDS devido à falência de tratamento clínico nesta população de pacientes. Outro agente antifúngico importante é a terbinafina. Este agente antifúngico sintético pertence ao grupo das alilaminas e apresenta uma potente atividade in vitro contra um grande número de fungos filamentosos e dimórficos. Ao contrário dos azólicos, que são primariamente fungistáticos, a terbinafina tem seu mecanismo de ação explicado pela capacidade de inibir a esqualeno epoxidase, levando a um efeito fungicida, causado pela acumulação de esqualeno na célula fúngica. Este antifúngico é uma alilamina altamente eficaz contra dermatófitos e outros fungos filamentosos. Sua habilidade na inibição de leveduras ainda é controversa (JESSUP et al., 2000) e assim, a aplicabilidade dessa droga contra amostras de Candida spp., obtidas da cavidade oral deve ser investigada. Um grande número de substâncias tem sido avaliado quanto a sua capacidade de antifúgica contra leveduras do gênero Candida. As principais substâncias testadas são agentes antifúngicos como fluconazol (Lyon e Resende 2007, Lyon e Resende 2006), itraconazol (Blanco et al, 2006) e poliênicos (Dorocka-Bobkowska et al, 2003; Egusa et al, 2000, Ellepola et al, 1998). Derivados de extratos de plantas com atividade biológica também têm sido testados (Johann et al, 2007; Vasconcelos et al, 2006; Koo et al 2000), bem como enxaguatórios bucais (Jones et al, 1997), agentes anti-cancerígenos (Ueta et al, 2001), drogas anti-virais inibidoras de proteases (Bektic et al, 2001, Falkensammer et al, 2007) e lubrificantes vaginais (Hollmer et al, 2006). Objetivo O objetivo deste projeto de pesquisa é estudar a atividade antifúngica dos surfactantes SDS (Sodium Dodecyl Sulphate, aniônico), CTAC (Cetyltrimethylammonium chloride, catiônico), HPS (N-hexadecyl-N-N -dimethyl-3-ammonio-1propane-sulfonate, zwiteriônico) e Triton X-100 (octylphenoxypolyethoxyethanol, não iônico) sobre Candida ssp. Materiais e Metodologia 1. Amostras: Foi utilizadas as amostras de referência C. albicans ATCC 18804, C. glabrata ATCC 2001, C. tropicalis ATCC 750, C. parapsilosis ATCC 22019 e C. krusei ATCC 20298. As amostras foram armazenadas em agar sabouraud dextrose a 4◦ C e mantidas por repiques trimestrais. 2. Surfactantes Inicialmente, pretendeu-se utilizar os surfactantes que se seguem: SDS (aniônico), CTAC (catiônico), Triton X-100 (não iônico) e HPS (zwiteriônico). 3. Determinação do efeito dos Surfactantes sobre a viabilidade de leveduras do gênero Candida O método utilizado foi aquele preconizado por McCarron (2007) para contagem de organismos XII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, VIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação e II Encontro Latino Americano de Iniciação Científica Júnior - Universidade do Vale do Paraíba 2 viáveis. Alíquotas de 100 µl de uma suspensão de caldo Sabouraud e surfactante nas diversas concentrações a serem testadas foram depositadas em poços de placas de microtitulação. A seguir, foram adicionados 100 µl de uma suspensão de leveduras a 106 celulas/ ml. Foi incluído um controle, consistindo de uma suspensão de leveduras a 106 celulas/ ml e caldo Sabouraud livre de surfactante. Os experimentos foram realizados em triplicata. As placas foram incubadas por 24 h a 37 °C. Resultados e Discussão Entre os surfactantes testados, o surfactante aniônico CTAC e o zwiteriônico HPS foram aqueles que inibiram completamente o crescimento de todas as espécies de Candida com as menores concentrações inibitórias mínimas (CIM). Com relação ao CTAC, a CIM foi de 0,78 µg/ ml para todas as espécies testadas. Já no caso do HPS, a CIM foi de 3,12 µg/ ml para C. albicans, C. glabrata e C. krusei e de 1,56 para C. parapsilosis e C. tropicalis. Os surfactantes TritonX-100 e SDS inibiram completamente o crescimento de Candida spp. em concentrações elevadas, variando entre as espécies, como demonstrado na tabela 1. Para o Triton-X-100, a CIM foi de 97,5 µg/ ml para C. parapsilosis e de 195 µg/ ml para as demais espécies testadas. O SDS, por sua vez, apresentou CIM variando entre 48,2 µg/ ml e 390 µg/ ml para as espécies testadas (Tabela 1). Surfactante Espécie CTAC C. albicans C. tropicalis C. parapsilosis C. krusei C. glabrata 0,78 0,78 0,78 0,78 0,78 Triton- SDS HPS X-100 195 195 195 195 195 195 48,2 97,5 390 390 3,12 1,56 1,56 3,12 3,12 Tabela 1- Concentração inibitória mínima em µg/ ml dos surfactantes CTAC, SDS, Triton-X-100 e HPS para inibição completa do crescimento de espécies de Candida caso da candidose. Estes agentes podem ser empregados como agentes preventivos, incorporados por exemplo à resina de próteses ou a adesivos para dentaduras. Referências - Alves, S.H., Lopes, J. O., Costa, J. M., Klock, C. Development of secondary resistance to fluconazole in Cryptococcus neoformans isolated from a patient with AIDS. Revista do Instituto de Medicina Tropical de Sao Paulo. 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