AVALIAÇÃO DO FATOR DE VIRULÊNCIA PROTEINASE EM ISOLADOS DE CANDIDÚRIA Leiziani Gnatkowski Martins (PAIC/F.A), Aline de Cristo Soares Alves, Flávia Kelly Tobaldini, João Frederico Musial, Dr. Marcos Ereno Auler (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Farmácia/Guarapuava, PR. Ciências da saúde - Farmácia Palavras-chave: Candida spp, virulência, proteinase. Resumo As Infecções do trato urinário correspondem à infecção mais comum no ambiente hospitalar e a maioria são causadas por Candida spp. Entre os diversos fatores de virulência de C. albicans, a produção de proteinase exerce um importante papel na patogênese da candidíase. A liberação de enzimas como a proteinase pelas células leveduriformes no meio, facilita o poder invasor do microrganismo e interfere no metabolismo celular do hospedeiro podendo conduzir à morte celular. O objetivo do nosso trabalho foi determinar a taxonomia e avaliar a produção de proteinases de 44 cepas de Candida spp e 2 cepas de Trichosporon obtidos de amostras de urina do laboratório de análises clínicas do Hospital Santa Tereza de Guarapuava/PR. A espécie mais isolada foi Candida albicans seguida de Candida glabrata e Candida tropicalis. Em relação à produção de proteinase todas as espécies apresentaram atividade fortemente positiva, cuja maior atividade observada foi da espécie C. albicans com valores de Pz entre 0,28 a 0,47, seguida da C. tropicalis (0,37 a 0,40), C. glabrata (0,35 a 0,5) e por último as 2 amostras de Trichosporon (0,5). Esses valores de proteinase obtidos comprovam o alto fator de virulência que contribui para a patogenicidade dessas espécies. Introdução Leveduras do gênero Candida têm grande importância pela alta freqüência com que colonizam e infectam o hospedeiro humano. Estes microorganismos comensais tornam-se patogênicos caso ocorram alterações nos mecanismos de defesa do hospedeiro ou o comprometimento de barreiras anatômicas secundariamente a queimadura ou procedimentos médicos invasivos1. Infecções por Candida respondem por 80% de todas as infecções fúngicas documentadas no ambiente hospitalar, incluindo infecções de corrente sanguínea, do trato urinário e do sítio cirúrgico. Em especial, as infecções Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. urinárias têm apresentado aumento, nos últimos 20 anos, o que desponta como um importante problema de saúde pública. Estudos apontam que a prevalência de infecções do trato urinário passou de 0.9/1000 para 2.0/1000 pacientes2. Candidúria é rara em pacientes saudáveis, mas relativamente freqüente em pacientes hospitalizados. Infecções do trato urinário representam a infecção mais comum dentre as nosocomiais, tratando-se de 10 -15% das infecções ocorridas na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e são causadas por Candida spp3. A maioria das infecções é adquirida por via endógena, sendo seu maior reservatório o trato gastrointestinal que se apresenta colonizado por Candida spp em até 80% da população normal4. A infecção por Candida spp normalmente está associada a fatores predisponentes como: idade avançada, sexo feminino, diabetes mellitus, anomalias de vias urinárias, complicações renais, câncer, uso prévio de antibióticos, imunossupressores, corticóides, sondagem vesical, cirurgia nos últimos dois meses, nefrostomia, pacientes em unidade de tratamento intensivo – UTI5. Em relação aos aspectos epidemiológicos, a identificação de leveduras em nível de espécie é etapa fundamental para a monitorização das taxas de infecção bem como para identificação precoce dos possíveis surtos de infecções por Candida1. Entre os diversos fatores de virulência de C. albicans, a produção de proteinase tem sido amplamente estudada, exercendo importante papel na patogênese da candidíase, sendo atribuída a vários genes sua expressão que são os chamados SAPs6. A liberação de enzimas como a proteinase pelas células leveduriformes no meio, facilita o poder invasor do microrganismo e interfere no metabolismo celular do hospedeiro podendo conduzir à morte celular7. O presente trabalho teve por objetivo determinar a prevalência das espécies de Candida e a atividade enzimática da proteinase como um dos fatores de virulência de amostras coletadas do Hospital Santa Tereza de Guarapuava/PR. Materiais e métodos Durante junho de 2009 a junho de 2010 amostras de urina obtidas do laboratório de análises clínicas do Hospital Santa Tereza de Guarapuava/PR, foram coletadas e semeadas em meio de ágar sabouraud dextrose e incubados a 37°C. As leveduras isoladas foram estudadas quanto às suas características macroscópicas, microscópicas, reprodutivas e fisiológicas, de acordo com os métodos preconizados por KURTZMAN & FELL 8. As cepas isoladas foram identificadas através do tubo germinativo, microcultivo em ágar fubá e auxanograma. O meio base para evidenciação da produção de proteinase foi preparado de acordo com RÜCHEL et al.9, meio A (Yeast carbon base 4,68g, albumina bovina fração V 0,8g, provit 1ml, e água destilada 40ml) e meio B (ágar 7,2g e água destilada 360ml). O meio A foi esterilizado por filtração em membrana Millipore de 0,22µm e o meio B esterilizado em autoclave a Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. 120°C por 15 minutos. Aguardado o resfriamento do meio B estéril a 50°C, adicionou-se o meio A e após homogeneização foi feita a distribuição em placas de pétri estéreis em volume de 33 ml/placa. As amostras a serem analisadas foram cultivadas por 24 horas em ágar sabourand dextrose e em seguida repicadas com alça de platina em pontos eqüidistantes no meio de ágar-proteinase e no centro o controle positivo ATCC 90028. As placas contendo quatro inóculos de diferentes cultivos permaneceram incubadas a 37º C, durante 8 dias. A presença da enzima foi observada pela formação de um halo opaco ao redor da colônia e a atividade enzimática medida segundo PRICE et al 10 pelo Pz, obtido dividindo-se o diâmetro da colônia (dc) pelo diâmetro da colônia mais a zona de precipitação (dcp) ou seja, Pz=dc/dcp. Sendo que Pz=1,0 significa que a amostra não apresenta atividade, Pz>0,64 e <1 atividade considerada positiva e Pz≤0,63 atividade fortemente positiva, ou seja, quanto menor o Pz maior a atividade enzimática. Resultados e Discussão Durante o período de coleta das amostras foram isolados 44 leveduras do gênero Candida, além de 2 levedura do gênero Trichosporon. As espécies isoladas foram: Candida albicans 47,8% (22/46), Candida glabrata 39,1% (18/46), Candida tropicalis 8,7% (4/46), Trichosporon asahii 2,2% (1/46) e Trichosporon cutaneum 2,2% (1/46). De acordo com os resultados obtidos houve uma grande quantidade de Candida glabrata isolada, fato que difere da literatura. Guler et al.11 encontrou apenas 11,76% de C. glabrata em 51 isolados, e SILVA et al.12, obteve em 100 amostras de Candida spp 11% de C. glabrata. O elevado percentual dessa espécie pode estar relacionado com o clima frio da região. Em relação à pesquisa de atividade enzimática foi observado que todos os isolados, apresentaram atividade fortemente positiva para proteinase (tabela 1). A espécie C. albicans apresentou a maior atividade proteolítica com valores de Pz entre 0,28 a 0,47, seguida da C. tropicalis (0,37 a 0,40), C. glabrata (0,35 a 0,5) e por último as 2 amostras de Trichosporon (0,5). Tabela 1: Atividade proteolítica das leveduras isoladas Espécies (n) N P FP Candida albicans (22) + Candida tropicalis (4) + Candida glabrata (18) + Trichosporon asahii (1) + Trichosporon cutaneum (1) + N: negativa P: positiva e FP: fortemente positiva. Nossos dados mostraram-se acima dos obtidos por Matsumoto et al. 13, onde 78,8% dos 80 isolados de Candida spp obtidos de sangue e de cateteres apresentaram atividade enzimática forte. A atividade enzimática fortemente positiva apresentada neste estudo mostra um importante fator de virulência que contribui para a patogenicidade dessas leveduras. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Conclusões Candida albicans foi à levedura mais freqüentemente isolada, porém, a espécie Candida glabrata apresentou grande prevalência em relação à literatura e que pode estar relacionado com o clima da região. No que corresponde a proteinase, todas as leveduras isoladas dos pacientes do Hospital Santa Tereza têm a habilidade de produzir a enzima, e o elevado nível de atividade proteolítica apresentado comprova um importante fator de virulência que contribui na patogenicidade dessas leveduras avaliadas. Referências 1. Colombo, A.L; Guimarães, T. Candiduria: a clinical and therapeutic approach. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2007, 40, 332. 2. Kobayashi, C.C.; Fernandes, O.F.; Miranda, K.C.; Sousa, E.D.; Silva, M.R. Candiduria in hospital patients: a study prospective. Mycopathologia. 2004,158, 49-52. 3. Amer, F.A.; Mohtady, H.A.; el-Behedy, I.M.; Khalil, S.; el-Hendy, Y.A.; elGindy, E.A.; Salem, H.E. Bacteria of nosocomial urinary tract infections at a university hospital in Egypt: identification and associated risk factors. Infect Control Hosp Epidemiol. 2004, 25, 895. 4. Colombo, A.L., Guimarães, T. Epidemiologia das infecções hematogênicas por Candida spp. Soc Bras Med Trop. 2003, 36, 599. 5. 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