Congresso de Ciências Veterinárias [Proceedings of the Veterinary Sciences Congress, 2002], SPCV, Oeiras, 10-12 Out. COMUNICAÇÕES LIVRES Fisiologia pp. 533 - 536 157. I. Regulação da miogénese nos mamíferos [I.Regulation of myogenesis in mammals] - Dias Correia, 533 J.H.R.; Dias Correia, A.A. 158. Mecanismos da apoptose e involução mamária [The mechanism of apoptosis and mammary 535 involution] - Dias Correia, J.H.R.; Dias Correia, A.A. Congresso de Ciências Veterinárias [Proceedings of the Veterinary Sciences Congress, 2002], SPCV, Oeiras, 10-12 Out. Fisiologia I. Regulação da miogénese nos mamíferos José H.R. Dias Correia e António A. Dias Correia. CIISA, Núcleo de Bioquímica, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa, Rua Prof. Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa. O desenvolvimento dos músculos do esqueleto nos mamíferos é um bom sistema para se estudar o papel dos factores da transcrição no controle específico de cada tipo de célula. As células musculares esqueléticas são fibras alongadas multinucleadas, podendo a miogénese nos mamíferos ser dividida em três etapas: a determinação mioblástica; a migração e diferenciação em tecido muscular; sendo os mioblastos provenientes dos somitos embriónicos. Os somitos são blocos de células mesodérmicas localizadas no embrião ao lado do tubo neural. Os mioblastos não estão portanto ainda diferenciados e migram dos somitos, diferenciando-se depois. A diferenciação é um processo em que estão implicadas mudanças na expressão dos genes e que levam a que uma célula precursora origine ou se transforme numa célula especializada distinta. O gene mio D (myogenic determination gene D) está implicado no desenvolvimento muscular onde desempenha um papel chave, estando identificados ainda três outros genes: a miogenina, o myf5, e o mrf4, que também funcionam no desenvolvimento muscular. Estas quatro proteínas miogénicas são todas membros da família dos factores de transcrição que se ligam ao DNA com motivos proteicos do tipo HLH (helix-loop-helix motiv). Estas proteínas de arquitectura HLH formam homo e heterodímeros (estes com maior afinidade) que se ligam ao DNA numa mesma sequência CANNTG (N= a subconjuntos específicos de nucleótidos) chamada caixa E (E box) e que se encontra em múltiplas cópias (calcula-se que de 256 em 256 nucleótidos) na maioria dos “enhancers” (favorecedores) específicos dos músculos. A expressão de qualquer uma das proteínas miogénicas pode induzir a diferenciação e desenvolvimento de células em músculos. A estrutura proteica e conformação dos factores da transcrição miogénicos pode condicionar fortemente a sua afinidade para os elementos de resposta no DNA, o que pode ser decisivo na quantidade e na qualidade da expressão dos genes produtores de proteínas musculares. Nos adultos persistem ainda alguns mioblastos em contacto com as células musculares maduras, e essas células satélites quiescentes e em reserva digamos assim, podem ser activadas para proliferação e a sua descendência fundir-se e formar novas células musculares. A regulação da miogénese passa pois por ter sede a diversos níveis que admitimos consoantes as espécies animais e raças: a) nas características da interacção dos factores de transcrição com os elementos do DNA que lhe respondem; b) nas características e no número de somitos que originam mioblastos; c) nas características e número de células quiescentes e a fase da idade dos animais em que elas ainda são diferenciáveis; d) na possibilidade de condicionar toda esta diferenciação através da utilização de factores da transcrição adequados e de células substrato que lhe respondam. - 533 - Congresso de Ciências Veterinárias [Proceedings of the Veterinary Sciences Congress, 2002], SPCV, Oeiras, 10-12 Out. I. Regulation of myogenesis in mammals José H.R. Dias Correia and António A. Dias Correia CIISA, Nucleus of Biochemistry, Faculty of Veterinary Medicine, Technical University of Lisbon, Rua Prof. Cid dos Santos, 1300-477 Lisbon The development of skeletal muscle in mammals is a good system to research the functions of transcription factors and their control over each kind of muscular cell. Skeletal muscle cells are long multinucleated fibers. Myogenesis in mammals can be divided in three steps: myoblastic determination; migration and differentiation into muscle tissue; myoblasts having origin in embryonic somites. The somites are blocks of mesodermic cells that are located in the embryo near the neural tube. Consequently, myoblasts are not differentiated yet and they migrate from the somites, differentiating at a latter stage. Differentiation is a process in which are implicated changes in the expression of genes. These changes affect cells and lead to a precursor cell transforming itself into a specialized different cell. Gene mio D (myogenic determination gene D) has been implicated in muscular development, and its function has been crucial. Three other genes have also been implicated in muscle development, namely: miogenin, myf5 and mrf4. These four miogenic proteins are all members of the protein family of transcription factors that bind to DNA, and they exibit protein arquitecture HLH (helix-loop-helix motif). These protein with HLH structure produce homo- and heterodimers (this latter kind with a higher binding affinity) that bind to DNA in its specific sequence CANNTG, named the E box. This sequence is found in numerous copies every 256 nucleotides, occurring in the majority of specific muscle enhancers. The expression of any of these myogenic proteins can induce the differentiation and the development of cells to form muscle tissue. The structure and conformation of transcription factors for the muscle tissue can influence enormously its affinity for DNA, and this, in its turn, can affect the quantity and quality of muscular proteins. In adults a few myoblasts persist associated with mature muscular fibers. These few myoblasts, also named satellite cells, can, under special circunstances, proliferate and fuse with preexisting muscle fibers. We assume that the regulation of myogenesis proceeds at a number of levels, namely: a) at the level of the characteristic interactions between transcription factors and responsible DNA; b) at the level of the characteristics and number of somites that originate myoblasts; c) at the level of the characteristics and number of quiescent satellite cells and the age of the animals in which they occur; d) at the level of the possibility of controlling transcription factors. - 534 - Congresso de Ciências Veterinárias [Proceedings of the Veterinary Sciences Congress, 2002], SPCV, Oeiras, 10-12 Out. Fisiologia Mecanismos da apoptose e involução mamária José H.R. Dias Correia e António A. Dias Correia. CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa, Rua Prof. Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa Na glândula mamária após o desmame ou seca a maioria das células epiteliais alveolares morrem por apoptose, sendo removidas por fagocitose. O leite acumulado transitoriamente na mama origina um engorgitamento, sendo depois reabsorvido, as estruturas alveolares colapsam e as células epiteliais sofrem apoptose. As vias de sinalização durante a involução mamária apoptótica parecem envolver a activação de caspases intraepiteliais. As caspases são uma família aspartato específica de cisteína proteases, cuja activação se pensa que represente um factor principal e irreversível para que ocorra a apoptose das células. A indução da apoptose implica a activação de sinais específicos de morte celular, inclusive das proteases caspases. A morte celular fisiológica (apoptose) e em alguns casos a morte celular acidental (necrose) implicam um processo em duas etapas. Na primeira, numerosos estímulos fisiológicos, e alguns patológicos, desencadeiam um aumento da permeabilidade mitocondrial que leva à libertação de factores apoptogénicos e a uma dissipação do gradiente electroquímico do folheto interno das mitocôndrias. Na segunda etapa este disfuncionamento mitocondrial desencadeia uma catástrofe bioenergética que leva à rotura da integridade da plasma membrana (necrose) e/ou à activação de caspases apoptogénicas pelas proteínas mitocondriais que saiem para o citosol (apoptose). Várias vias de transdução de sinais levam à activação de caspases, algumas dessas vias envolvendo receptores como o Fas/APO1. Durante a involução da glândula mamária são induzidos maiores níveis de RNA mensageiro para as caspases 1, 3 e 9, sendo esta activação das caspases desencadeada ao nível do seu RNA mensageiro e ao nível das próprias enzimas. Nas células vivas as caspases existem como zimogénios inactivos, que são activados por cisão proteolítica por duas vias. As caspases activadas induzem a fragmentação do DNA mediada por um factor heterdimérico que depois de cindido se oligomeriza adquirindo então actividade DNAse. A apoptose ou morte celular programada é morfologicamente caracterizada pela “vesiculação” da membrana, condensação da cromatina, e produção de corpos apoptóticos constituídos por fragmentos celulares envoltos em membranas. Em muitos casos é um processo que necessita de energia requerendo a expressão de genes e uma fragmentação do DNA genómico sem ser ao acaso. - 535 - Congresso de Ciências Veterinárias [Proceedings of the Veterinary Sciences Congress, 2002], SPCV, Oeiras, 10-12 Out. The mechanism of apoptosis and mammary involution José H. R. Dias Correia and António A. Dias Correia. CIISA, Faculty of Veterinary Medicine, Technical University of Lisbon, Rua Prof. Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa At weaning most of the alveolar epithelial cells from the mammary gland die by apoptosis and are removed by phagocytosis. Milk transiently accumulates in the gland, resulting in a strong engorgement; later on milk is resorbed, alveolar structures collapse, and epithelial cells undergo apoptosis. Signaling pathways during involution seem to involve the activation of caspases and these intraepithelial triggers cause the mamary epithelial cell apoptosis. Caspases are a familly of aspartate specific cysteine-proteases, and their activation has been thought to be a major effector of apoptosis. The induction of apoptosis involves the activation of specific death signaling pathways, including the activation of proteases named caspases. Both physiologic cell death (apoptosis) and, in some cases, accidental cell death (necrosis) involves a two-step process: in the first step an increase in mitochondrial membrane permeability takes place, and this causes the release of apoptogenic factors. These dissipate the electrochemical gradient of the mitochondrial inner membrane. In the second step a bioenergetic catastrophe occurs, culminanting in the disruption of the integrity of the plasma membrane (necrosis) and/or the activation of specific apoptogenic proteases (caspases) by mitochondrial proteins that move from inside the mitochondria to the cytosol (apoptosis). Several signal transduction pathways resulting in caspase activation have been described involving death receptors such as the Fas/APO-1. After weaning, elevated caspase-3 and caspase-9 messenger RNA expression takes place, and induction of caspase activity has been observed. High levels of messenger RNA translation for several caspases are induced during mammary involution. In living cells caspases exist as inactive zymogens that are activated by proteolytic cleavage by means of two distinct mechanisms. Activated caspases dismantle the DNA through a heterodimeric factor that oligomerases after splitting, and subsequently influences DNA activity. Cell morphologic manifestations of apopotosis include condensation of cell contents, nuclear membrane breakdown, and the formation of apoptotic bodies that are small membranebound vesicles that suffer phagocytosis by neighboring cells. In many cases apoptosis is an energy depent process, calling for gene expression and non-random fragmentation of genomic DNA. - 536 -