A questão da fome e desnutrição infantil: um estudo no sul de
Santa Catarina. Curso de Nutrição – Campus Tubarão,
Ciências da Saúde.
Ana Cristina Vieira (PUIP); Maria Helena Marin (PUIP); Camila Esmeraldino Daniel
(colaboradora - estudante do curso de nutrição)
UNISUL - Campus Tubarão
Metodologia
Introdução
Por volta da metade do século XX, o professor e cientista Josué de Castro (2006) fez um levantamento histórico e
geográfico sobre o problema da fome e desnutrição no Brasil e no mundo. No caso do Brasil o pesquisador demonstrou
que a alimentação do brasileiro revelou-se com “qualidades nutritivas bem precárias”, sendo que de uma maneira geral,
as diferentes regiões do país apresentaram padrões dietéticos parcialmente incompletos e desequilibrados. Algumas
regiões com um alto índice de fome crônica, e em outras, consideradas mais desenvolvidas, como a região sudeste e sul,
com problemas de subnutrição.
Na época CASTRO (2006) verificou que a área sudeste e sul eram caracterizados por uma razoável variedade de
elementos e componentes alimentares, e com um maior consumo de frutas e verduras no regime alimentar da população.
A região considerada rica e com uma grande produção agrícola e industrial, era a mais bem alimentada do país, porém
verificou-se uma série de carências alimentares, parciais, discretas e ocultas. Uma delas era a carência de proteínas entre
as crianças pobres dos grandes centros urbanos, considerando assim a área Sul como zona de subnutrição crônica.
O também cientista e professor Jean Ziegler (2002) reafirma os estudos de Josué de Castro e chega a conclusões
semelhantes, e afirma que a as causas dos problemas relacionados à falta de uma alimentação equilibrada é decorrente
de fatores sócio culturais e não de fatores relacionados a características geográficas das regiões.
Os problemas de fome e subnutrição atingem a população já nos seus primeiros anos de vida o que vai repercutir na vida
adulta da população. A criança fica com sua constituição física fica e intelectual prejudicada, o que posteriormente
influenciara sua força de trabalho (ZIEGLER,2002)
Outras tantas doenças são geradas devido à falta dos alimentos básicos ou de uma dieta equilibrada, como o escorbuto,
rara hoje em dia, mas causada pela falta de vitamina C. Atualmente das mais comuns são as doenças relacionadas a
desnutrição protéico energética e de micronutrientes, que podem causar várias enfermidades, e vulnerabilidade a
doenças infecciosas, o mal funcionamento do organismo, o comprometimento das funções reprodutivas e a redução da
capacidade intelectual (MONTEIRO,1988; VALENTE, 1986).
Segundo OLINTO, VICTORA, BARROS e TOMASI (1993) existem diferenças nas prevalências de desnutrição infantil
entre os paises, assim como diferenças entre regiões e populações rurais e urbanas, entre famílias vivendo em uma
mesma comunidade e entre crianças de uma mesma família. Na sua pesquisa realizada em Pelotas/RS, os autores
procuraram investigar os determinantes da desnutrição infantil em populações de baixa renda, levando em consideração
os efeitos de variáveis sócio econômicas, ambientais, reprodutivas, de morbidade, de cuidados maternos, de peso ao
nascer e de amamentação sobre dois indicadores nutricionais: altura/idade e peso/altura. Esta pesquisa, acima citada,
contribui para o entendimento dos fatores que determinam os déficits nutricionais entre crianças expostas às mesmas
condições em uma determinada comunidade, e identifica aquelas crianças, dentro de um grupo, que vivem em condições
de pobreza, que apresentam um maior risco de desnutrição.
Tendo em vista os trabalhos apresentados acima e tantos outros, publicados em nosso país, acredita-se que a questão da
fome, desnutrição e subnutrição, é um dos maiores problemas de saúde pública existente, pois gera muitas enfermidades
e problemas sociais. Apesar da região sul do Brasil apresentar poucos problemas de desnutrição e subnutrição ainda
existem crianças abaixo do peso e altura, e com déficits de aprendizagem (CASTRO, 2006, OLINTO et all, 1993).
Esta pesquisa buscou fazer uma avaliação do estado nutricional de crianças de 0 a 5 anos, seguindo o padrão
antropométrico de referência, através dos indicadores peso/altura e altura/idade, recomendados pela Organização
Mundial da Saúde - OMS (WHO, 1986), no bairro Morrotes em Tubarão, o qual é atendido pela Pastoral da Criança.
Pretende-se desta forma contribuir para que se possa detectar os problemas relacionados à alimentação, e se for
necessário, levar a comunidade as informações e intervenções que auxiliem na busca de um equilíbrio alimentar infantil.
Justificativa
Seguindo os pressupostos adotados pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2006), o Brasil
através da portaria interministerial nº1010 de 08 de maio de 2006, do Ministro do Estado da Saúde e
o Ministro do Estado Da Educação, institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável
nas escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas em âmbito
nacional.
A alimentação saudável é reconhecida como um direito humano, para tanto, é necessário que o
padrão alimentar seja adequado as necessidades biológicas, sociais e culturais. A partir do momento
que se identifica problemas relacionados à alimentação é possível introduzir ações de educação
alimentar e nutricional, levando em consideração os hábitos alimentares decorrentes das
manifestações culturais regionais e nacionais(ONU,1990)
Objetivos
2.1Objetivo geral
- Avaliar o perfil sócio nutricional de crianças de 0 a 5 anos atendidas pela Pastoral da Criança no
bairro Morrotes em Tubarão/SC, através de medidas antropométricas e consumo alimentar.
2.2 Objetivos específicos
- registrar a idade e sexo das crianças;
- medir periodicamente a altura e o peso das crianças;
- levantar dados sobre o perfil sócio econômico da família;
- levantar dados relacionados ao ambiente que a criança habita;
- investigar o peso das crianças ao nascerem;
- investigar quais foram e são os cuidados maternos em relação à alimentação e amamentação
infantil;
- verificar a presença de morbidade na vida da criança;
- verificar quem passa a maior parte do tempo cuidando da criança.
Amostra:
30 crianças, com idade de 0 a 5 anos, ambos os sexos, atendidas pela Pastoral da Criança no Bairro Morrotes/ cidade
de Tubarão.
Será aplicado um questionário semi-estruturado com as mães ou com os cuidadores das crianças. O questionário será
submetido ao CEPUNISUL, assim como todo o projeto, sendo que o Termo de consentimento livre e esclarecido será
entregue às mães que quiserem participar da pesquisa. As perguntas do questionário deverão envolver as questões
citadas nos objetivos específicos (BARROS, 1991)
Será feita a Declaração de participação de outra instituição envolvida e todos os princípios éticos serão respeitados.
As crianças serão pesadas e medidas periodicamente com equipamentos aferidos pelo Inmetro. Os dados serão
analisados seguindo padrões da OMS.
Será utilizado o programa EpiInfo, que auxilia nas tarefas relacionadas aos bancos de dados de vigilância
epidemiológica e outras tarefas, incluindo bancos de dados gerais e análises estatísticas.
Informações sobre o tema fome e desnutrição serão coletados da literatura e da internet, incluindo os dados do IBGE,
sobre doenças e características sócio-culturais da região estudada.
Resultados
Neste primeiro ano de pesquisa foi possível constatar, em parte, o que Josué de Castro (2006) observou na década de
40 no Brasil. Santa Catarina é uma das áreas mais desenvolvidas do país e praticamente não existem grandes
problemas de desnutrição ou subnutrição. Existe variedade alimentar e a maioria das crianças, neste caso em especial,
as acompanhadas pela Pastoral da Criança na cidade de Tubarão gozam de boa saúde e estão dentro dos padrões
aceitáveis de peso relacionado à sua idade.
Devido à dificuldade inicial de estar presente em todas as pesagens, optou-se por acompanhar estes dados no Sistema
de Informação da Pastoral da Criança, vinculado a CNBB e ao UNICEF. É importante destacar nesta pesquisa o
trabalho desta Pastoral, como um todo e em especial a que atua em uma igreja num bairro de Tubarão.
Os serviços de atendimento às gestantes e as crianças são realizadas através de um grupo treinado de voluntárias da
comunidade. Algumas delas além de fazerem parte da Pastoral atuam como agentes comunitárias, estando sempre
presentes na vida das famílias acompanhadas por elas. Entre outros serviços prestados, este grupo formado em sua
maioria por senhoras, pesa as crianças mensalmente, cerca de 60 no ano de 2007, em um único núcleo de
atendimento, e fornece as mães a multi-mistura, um complemento alimentar feito de cinco tipos de alimentos,
transformados em pó, para ser acrescentado a alimentação tradicional.
A Pastoral dispõe de alguns materiais para formação das Líderes e também para o acompanhamento das gestantes e
crianças. O Caderno da Líder é o registro histórico do trabalho da Pastoral, o qual possui 27 indicadores relacionados
às pessoas acompanhadas, e uma de suas ferramentas é um questionário direcionado as mães e crianças, onde é
possível acompanhar e orientar posteriormente sobre o aleitamento materno, alimentação das mães e crianças,
vacinação, higiene e saúde bucal, prevenção à diarréia, sinais de risco para saúde e tantos outros cuidados gerais com
estes dois grupos.(PASTORAL DA CRIANÇA, 2008)
Um dos indicadores relacionados à nutrição infantil adotado pela Pastoral é o peso/idade. Assim, observam se as
crianças estão tendo uma evolução desde o momento do seu nascimento até os seis anos de idade, faixa etária de
acompanhamento. A escolha por esta faixa dá-se pelo fato de que a partir dos seis anos a criança passa a ser
acompanhada pela escola.
A Pastoral está vinculada ao Fundo da Nações Unidas para a Infância - UNICEF e segue os pressupostos adotados
pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 2006), no Brasil através da portaria interministerial nº1010 de 08 de maio
de 2006, do Ministro do Estado da Saúde e o Ministro do Estado da Educação, que institui as diretrizes para a
Promoção da Alimentação Saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e
privadas em âmbito nacional. A alimentação saudável é reconhecida como um direito humano, para tanto, é necessário
que o padrão alimentar seja adequado às necessidades biológicas, sociais e culturais. A partir do momento que se
identifica problemas relacionados à alimentação é possível introduzir ações de educação alimentar e nutricional,
levando em consideração os hábitos alimentares decorrentes das manifestações culturais regionais e nacionais
(ONU,1990).
Esta pesquisa inicialmente estava focada em verificar a alimentação infantil e sua relação com a desnutrição.
Conforme os resultados apareciam um novo foco de interesse surgiu, pois as crianças acompanhadas em sua
esmagadora maioria, apresentam um peso dentro dos parâmetros aceitos pela Organização Mundial da Saúde, além
de serem vacinadas e terem um desenvolvimento infantil adequados a sua idade. Este novo foco se concentra em
acompanhar o trabalho da Pastoral da Criança e a utilização da multi-mistura.
Conclusões
Embora o projeto inicial tenha sido no sentido de identificar crianças desnutridas e fatores relacionados à desnutrição,
não foram observadas inicialmente crianças desnutridas, o que está de acordo com os dados do DATASUS (2006) e
com autores como Kitoko et al(2000), Neumann et al (1999), Corso et al (2004), entre outros.
Das 60 crianças atendidas em 2007, 30 foram pesadas todos os meses. Destas apenas uma criança estava abaixo do
peso ideal e uma acima.
Com exceção de uma das crianças, todas nasceram dentro do peso ideal e as mães foram acompanhadas durante
toda a gestação.
Diante destes fatos buscou-se identificar os fatores que contribuíram para este resultado e observou-se que a Pastoral
da Criança contribui sobremaneira nos cuidados de saúde e nutrição das gestantes e crianças até 6 anos.
As ações empreendidas por esta instituição neste sentido são de: acompanhar as gestantes fornecendo as informações
sobre direitos e deveres, cuidados importantes na gravidez (aleitamento, alimentação, vacinação, higiene, pré-natal),
apoio psicológico, preparo para o parto e pós-parto,desenvolvimento do bebê no útero, sinais de risco, etc. E para as
crianças de 0 a 6 anos cuidados como: direitos, como a criança aprende e se desenvolve, aleitamento materno,
avaliação nutricional, higiene e saúde bucal,imunização, sinais de riscos para saúde, etc.
Além dos cuidados citados anteriormente, a Pastoral convida periodicamente profissionais da área de saúde para
proferir palestras de interesse das mães e crianças e complementar as informações fornecidas pelas líderes.
Quanto ao perfil sócio econômico, as pesquisadoras definiram que era preciso acompanhar por mais tempo as famílias
para poder criar um laço de confiança para assim poder visitá-las em casa e a partir do seu consentimento e segurança
com as pesquisadoras poder coletar os dados de forma tranqüila para todos os envolvidos.
Bibliografia
BARROS, F. C. & VICTORA, C. G., 1991. Epidemiologia da Saúde Infantil: Um Manual para Diagnósticos Comunitários.
São Paulo: Hucitec.
BEGHIN, I.; CAP, M. & DUJARDIN, B., 1989. Guia para Evaluar el Estado de Nutrición. Washington: OPAS/OMS.
(Publicación Científica No. 515)
CASTRO, Josué, 2006. Geografia da Fome. 6ªed, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.IBGE/Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada/Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. Pesquisa nacional sobre saúde e nutrição: manual do
entrevistador - questionário de saúde e nutrição. Brasília; 1988. (PNSN 3.02).
MONTEIRO, C. A., 1988. Saúde e Nutrição das Crianças de São Paulo. São Paulo: Hucitec/ Edusp.
OLINTO, Maria Teresa A.; VICTORA, Cesar G.; BARROS, C. Barros;TOMASI, Elaine, 1993. Determinantes da
desnutrição infantil em uma população de baixa renda: um modelo de análise hierarquizado. Caderno de Saúde
Pública, vol.9. Rio de Janeiro.
ONU (Organização das Nações Unidas), 1990. Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, a Proteção e o
Desenvolvimento da criança. Encontro mundial de Cúpula pela Criança. New York: ONU.VALENTE, F. L., 1986. Fome e
Desnutrição: Determinantes Sociais. São Paulo: Cortez.
WHO (World Health Organization Working Group) 1986. Use and interpretation of anthropometric indicators of
nutritional
status.
Bulletin
of
the
World
Health
Organization,
64:
929-941.
WHO,
www.who.int/dietphysicalactivity/publications/releases/pr84/en/
ZIEGLER, Jean, 2002. A Fome no Mundo Explicada a Meu Filho.Petrópolis: Vozes.
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