UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA CAROLINE ADJANE FIORE OS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO-CIENTÍFICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NOS CAMPOS CONCEITUAIS ADITIVO E MULTIPLICATIVO NO ANO FINAL DO ENSINO FUNDAMENTAL I SÃO PAULO 2013 CAROLINE ADJANE FIORE MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA OS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO-CIENTÍFICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NOS CAMPOS CONCEITUAIS ADITIVO E MULTIPLICATIVO NO ANO FINAL DO ENSINO FUNDAMENTAL I Dissertação apresentada à banca examinadora da Universidade Bandeirante Anhanguera, como exigência para a obtenção do título de mestre em Educação Matemática sob a orientação da Professora Doutora Maria Elisa Esteves Lopes Galvão. SÃO PAULO 2013 Fiore, Caroline Adjane F548p Os pensamentos narrativos e lógico científico na resolução de problemas nos campos conceituais aditivo e multiplicativo no ano final do ensino fundamental I. / Caroline Adjane Fiore. -- São Paulo: Universidade Bandeirante Anhanguera, 2013. xv, 256 f.: il.; 31 cm. Dissertação (MESTRADO) Bandeirante Anhanguera, 2013. – Universidade Orientadora: Profª. Drª. Maria Elisa Esteves Lopes Galvão Referências bibliográficas: f. 239-243. 1. Estruturas aditivas e multiplicativas. 2. Resolução de problemas 3. Pensamento Narrativo e Lógico - Científico. Galvão, Maria Elisa Esteves Lopes. II. Universidade Bandeirante de São Paulo. IV. Título. CAROLINE ADJANE FIORE OS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO-CIENTÍFICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NOS CAMPOS CONCEITUAIS ADITIVO E MULTIPLICATIVO NO ANO FINAL DO ENSINO FUNDAMENTAL I Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação Matemática, na Universidade Bandeirante Anhanguera - UNIBAN, à seguinte banca examinadora: Presidente e Orientador (a) Nome: Titulação: Instituição: Assinatura: 2º Examinador (a) Nome: Titulação: Instituição: Assinatura: 3º Examinador (a) Nome: Titulação: Instituição: Assinatura: Biblioteca Bibliotecário (a) : _____________________________________________________ Assinatura: ___________________________________ Data: ___ / _____ / ______ São Paulo, 12 de Agosto de 2013 Autorizo, para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura: __________________________________________________________ Data: ______ / ______ /_______ Não basta acumular dados. É preciso articular, deduzir uma coisa de outra. O conhecimento é um entrelaçamento de significados." Nilson José Machado, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha orientadora Maria Elisa Esteves Lopes Galvão, pelo acompanhamento e dedicação. A minha eterna professora e amiga Maria Carolina Cassino da Cunha Carneiro, pelo incentivo nesta caminhada acadêmica. A minha mãe e meu pai, pessoas essenciais em minha vida. Aos meus amigos que tiveram sempre ao meu lado. A minha Titia Regina Maura Fiore, a minha prima Ana Helena Zetulian e ao meu Titio Luiz Carlos Fiore por acreditarem em mim e me apoiarem. E por fim a uma pessoa muito especial Caio Pompeu Gomes Martins, o qual tenho em meu coração com muito carinho. AGRADECIMENTOS A Deus e a Nossa Senhora pela força espiritual. Em especial a minha orientadora, pela paciência, dedicação e por sua colaboração incondicional em minha formação. Agradeço a todos os professores do Observatório da Educação e pela oportunidade de ser bolsista da CAPES. Aos professores do grupo de Mestrado em Educação Matemática da Universidade Bandeirante Anhanguera, em especial a professora Tânia Maria Mendonça Campos, Janet Bolite, Vera Helena Giusti de Souza, Verônica Yumi Kataoka, Rosana Nogueira de Lima e Luiz Gonzaga Xavier de Barros, Ruy Cesar Pietropaolo pelo carinho, incentivo e sugestões na construção desta pesquisa. Aos meus amigos do mestrado e eternos companheiros Edmar Madeira, Márcia Teodoro, Patrícia Felipe e Izaias Neri que por muitas vezes compartilhamos segredos, alegrias e tristezas. É com grande honra que agradeço a participação da professora Maria Elisabete Brisola B. Prado e do professor Nilson José Machado, por colaborarem com a finalização deste trabalho. Agradeço toda equipe da escola a qual realizei a pesquisa, que me acolheram com muito carinho. As minhas amigas Esley da S. e S. de Sá, Izilda P. Andrade e a Kátia R. R. Gil pela força e por não me deixarem jamais desistir dessa caminhada, em especial a Caroline Fantine pela ajuda na correção deste trabalho e por sua dedicação como amiga. Aos meus novos colegas da escola “Asdrúbal do Nascimento Queiroz” pela compreensão e colaboração para a finalização deste trabalho, Rogério Polovodoff, Edmar Antonio de Oliveira, e a toda a equipe escolar. Enfim, a todos que fazem parte da minha vida e que, de alguma maneira, colaboraram para que este meu sonho realizasse. RESUMO FIORE, A.C. Os pensamentos narrativo e lógico-científico na resolução de problemas nos campos conceituais aditivo e multiplicativo no ano final do ensino fundamental I. 2013. 256f. Dissertação de Mestrado – Pós Graduação Stricto Senso Educação Matemática, Universidade Bandeirante Anhanguera, São Paulo, 2013. Esta pesquisa tem por finalidade observar e analisar as estratégias, na resolução de problemas nos campos aditivo e multiplicativo, de alunos do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual da grande São Paulo. A pesquisa está baseada nas experiências e discussões vivenciadas no projeto de pesquisa Observatório da Educação (Educação Continuada e Resultados de Pesquisa em Educação Matemática: Uma Investigação sobre as Transformações das Práticas de Professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental) do programa de pósgraduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante Anhanguera – UNIBAN e nas experiências vividas em sala de aula como professora de matemática. A proposta das atividades se apoia, no que se refere à escolha e classificação dos problemas, na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, e, na análise dos modos de pensamento (narrativo e lógico - científico), no trabalho de Bruner. Trabalhamos com trinta alunos divididos em três grupos, que participaram de quatro etapas de atividades de resolução de problemas do campo aditivo e multiplicativo, individualmente ou em duplas. Os problemas propostos, segundo a classificação de Vergnaud, são considerados como problemas aritméticos complexos para o campo aditivo e, para o campo multiplicativo, foram escolhidos problemas relacionados à proporção múltipla, organização retangular e raciocínio combinatório. No decorrer das atividades os alunos foram motivados a manifestar-se sobre as decisões tomadas durante as resoluções dos problemas. Para a análise da pesquisa, utilizamos o registro filmado, de forma a observar as atuações individuais e interações dos alunos. Analisamos os procedimentos utilizados pelos alunos destacando as propriedades e particularidades dos teoremas e conceitos em ação, estabelecidas por Vergnaud. O ponto essencial nesta pesquisa foi a valorização das justificativas e interações dos alunos, para a compreensão do desenvolvimento dos “conceitos estratégicos” utilizados na resolução de problemas, buscando a origem do pensamento e do raciocínio lógico. Em nossa análise observamos, nos diálogos dos alunos, algumas das características das narrativas propostas por Bruner, na intenção de observar, verificar e investigar os procedimentos adotados por meio de suas verbalizações. Acreditamos que o incentivo ao diálogo, como processo de aprendizagem em resolução de problemas, pode ser um recurso auxiliar importante para o trabalho do professor e para a melhor compreensão dos alunos no que se refere à resolução de problemas. Palavras-chave: Campos conceituais. Estruturas aditivas e multiplicativas. Resolução de problemas. Pensamento narrativo. Pensamento lógico - científico. ABSTRACT FIORE, A. C. Narrative thoughts and logical-scientific problem solving in additive and multiplicative conceptual fields in the final year of elementary school. 2013, 256f. Master’s Dissertation – Post degree Sensu Strict Mathematics Education, University Bandeirante Anhanguera. This research aims to observe and analyze the strategies in solving problems in the fields additive and multiplicative, developed by students of the 5th year of elementary school in a state school near São Paulo city. The research is based on lived experiences and discussions in the research Observatory of Education (Further Education and Outcomes Research in Mathematics Education: An Inquiry into the Transformation of Practice Teachers in the first years of elementary school) of Mathematics Education postgraduate program at the University Bandeirante Anhanguera - UNIBAN and the author experiences in the classroom as a teacher of mathematics. The proposal of activities, with regard to the choice and classification problems, refers to the Conceptual Fields Theory of Vergnaud, and with repect to to the analysis of modes of thought (narrative and logical - scientific) to the work of Bruner. We work with thirty students divided into three groups, who participated in four stages of problem solving activities of the additive and multiplicative field, individually or in pairs. The proposed problems, according to the classification of Vergnaud, are considered as complex arithmetic problems for the additive field, and for the multiplicative field, we choose problems related to multiple proportion, rectangular organization and logical thinking. During the activities students were motivated to show up the decisions taken during problem resolutions. For the analysis of the research, we use the record shot, in order to observe the actions and interactions of individual students. We reviewed the procedures used by the students highlighting the properties and peculiarities of the theorems and concepts in action, established by Vergnaud. The key point in this research was the appreciation of the motivations and interactions of the students for understanding the development of "strategic concepts" used, seeking the origin of thought and logical reasoning in problem solving. In our analysis we observe in the dialogues of pupils, some of the features of the narratives proposed by Bruner, intending to observe, verify and investigate the procedures adopted by their utterances. We believe that fostering dialogue as a learning process in problem solving, can be an important additional resource for the teacher's work and for a better understanding of students with regard to problem solving. Keywords: Conceptual fields, Additive and multiplicative structures. Problem solving. Narrative thinking. Logical thinking – scientific SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 17 CAPÍTULO I ........................................................................................................................ 22 1. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................................ 22 1.1 ALGUMAS PESQUISAS RELACIONADAS À TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. ......................................................................................... 22 CAPÍTULO II ....................................................................................................................... 42 2. INTRODUÇÃO À TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS ......................................... 42 2.1 Conhecimento .............................................................................................................. 43 2.2 Conceito ....................................................................................................................... 45 2.3 Esquemas..................................................................................................................... 47 2.4 Invariantes Operacionais .............................................................................................. 50 2.5 Teorema em ação e conceito em ação ......................................................................... 51 2.6 Situações ...................................................................................................................... 52 2.7 Campos Conceituais Aditivos e Multiplicativos ............................................................. 54 2.8 O Campo Conceitual Aditivo ......................................................................................... 55 2.9 O Campo Conceitual Multiplicativo ............................................................................... 60 CAPÍTULO III ...................................................................................................................... 66 3. UMA INTRODUÇÃO AOS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO – CIENTÍFICO NA PERSPECTIVA DE JEROME BRUNER........................................................................ 66 3.1 O Pensamento Narrativo .............................................................................................. 69 3.2 O Pensamento Lógico-Científico .................................................................................. 74 3.3 O Diálogo...................................................................................................................... 77 CAPÍTULO IV ...................................................................................................................... 80 4. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE MATEMÁTICA: UMA REFERÊNCIA PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS. ................................................. 80 4.1 Considerações ao Currículo do Estado de São Paulo: Matemática e suas tecnologias. 84 CAPÍTULO V ....................................................................................................................... 87 5. METODOLOGIA........................................................................................................... 87 5.1 Metodologia Adotada .................................................................................................... 87 5.2 Desenvolvimento da Pesquisa ...................................................................................... 88 5.3 Público Alvo .................................................................................................................. 91 5.4 Descrição da aplicação ................................................................................................. 92 CAPÍTULO VI ...................................................................................................................... 94 6. ANÁLISE ...................................................................................................................... 94 6.1 Atividade Individual: 1ª ETAPA ..................................................................................... 95 6.1.1 Análise do Grupo 1 (Individual): Problema do campo aditivo .......................... 95 6.1.2 Observações sobre o comportamento do aluno A1 ........................................ 97 6.1.3 Observações sobre o comportamento do aluno A2 ...................................... 100 6.1.4 Observações sobre o comportamento do aluno A3 ...................................... 105 6.1.5 Síntese Geral dos alunos do Grupo 1 – Campo Aditivo ................................ 105 6.1.6 Análise do Grupo 1 (Individual): Problema do campo multiplicativo .............. 106 6.1.7 Observações sobre o comportamento do aluno A4 ...................................... 110 6.1.8 Observações sobre o comportamento do aluno A5 ...................................... 113 6.1.9 Observações sobre o comportamento do aluno A6 ...................................... 118 6.1.10 Síntese Geral dos alunos do Grupo 1 – Campo Multiplicativo ...................... 118 6.2 Atividade Dupla: 2ª ETAPA ......................................................................................... 120 6.2.1 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo aditivo .............................. 120 6.2.2 Observações sobre o comportamento dos alunos B1 e B2........................... 124 6.2.3 Observações sobre o comportamento dos alunos B3 e B4........................... 126 6.2.4 Observações sobre o comportamento dos alunos B5 e B6........................... 132 6.2.5 Síntese Geral dos alunos do Grupo 2 – Campo Aditivo ................................ 133 6.2.6 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo multiplicativo .................... 135 6.2.7 Observações sobre o comportamento dos alunos B7 e B8........................... 140 6.2.8 Observações sobre o comportamento dos alunos B9 e B10......................... 143 6.2.9 Observações sobre o comportamento dos alunos B11 e B12....................... 145 6.2.10 Síntese Geral dos alunos do Grupo 2 – Campo Multiplicativo ...................... 146 6.3 Atividade Interação: 3ª ETAPA ................................................................................... 147 6.3.1 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo aditivo ......................... 147 6.3.2 Observações sobre o comportamento dos alunos C1 e C2 .......................... 151 6.3.3 Observações sobre o comportamento dos alunos C3 e C4 .......................... 154 6.3.4 Observações sobre o comportamento dos alunos C5 e C6 .......................... 157 6.3.5 Síntese Geral dos alunos do Grupo 3 – Campo Aditivo ................................ 157 6.3.6 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo multiplicativo ............... 158 6.3.7 Observações sobre o comportamento do aluno C7 e C8 .............................. 162 6.3.8 Observações sobre o comportamento do aluno C9 e C10 ............................ 165 6.3.9 Observações sobre o comportamento do aluno C11 e C12 .......................... 170 6.3.10 Síntese Geral dos alunos do Grupo 3 – Campo Multiplicativo ...................... 170 6.4 Atividade Individual, dupla e interação: 4ª ETAPA ...................................................... 171 6.4.1 Análise da 4ª Etapa para o problema do campo aditivo ................................ 171 6.4.2 Análise do grupo 1 (individual): Problema do campo aditivo ......................... 172 6.4.3 Observações sobre o comportamento do aluno D1 ...................................... 173 6.4.4 Observações sobre o comportamento do aluno D2 ...................................... 175 6.4.5 Observações sobre o comportamento do aluno D3 ...................................... 176 6.4.6 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo aditivo ............................... 177 6.4.7 Observações sobre o comportamento dos alunos D4 e D5 .......................... 178 6.4.8 Observações sobre o comportamento dos alunos D6 e D7 .......................... 180 6.4.9 Observações sobre comportamento dos alunos D8 e D9 ............................. 184 6.4.10 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo aditivo ......................... 185 6.4.11 Observações sobre o comportamento dos alunos D10 e D11 ...................... 187 6.4.12 Observações sobre o comportamento dos alunos D13 e D14 ...................... 190 6.4.13 Observações sobre os comportamentos dos alunos D14 e D15 ................... 193 6.4.14 Síntese Geral da primeira Etapa 4 – Campo Aditivo ..................................... 194 6.4.15 Análise da 4ª Etapa para o problema do Campo multiplicativo ..................... 195 6.4.16 Análise do grupo 1(individual): Problema do campo multiplicativo ................ 195 6.4.17 Observações sobre o comportamento do aluno E1 ...................................... 198 6.4.18 Observações sobre o comportamento do aluno E2 ...................................... 200 6.4.19 Observações sobre o comportamento do aluno E3 ...................................... 202 6.4.20 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo multiplicativo ..................... 203 6.4.21 Observações sobre o comportamento dos alunos E4 e E5........................... 205 6.4.22 Observações sobre o comportamento dos alunos E6 e E7........................... 211 6.4.23 Observações sobre o comportamento dos alunos E8 e E9........................... 215 6.4.24 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo multiplicativo ............... 216 6.4.25 Observações sobre o comportamento dos alunos E10 e E11....................... 220 6.4.26 Observações sobre o comportamento dos alunos E12 e E13....................... 223 6.4.27 Observações sobre o comportamento dos alunos E14 e E15....................... 227 6.4.28 Síntese Geral da segunda Etapa 4 – Campo Multiplicativo........................... 228 6.5 Síntese Final das Análises .......................................................................................... 229 CAPÍTULO VII ................................................................................................................... 233 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 233 Referências ...................................................................................................................... 239 Anexo I – Problemas utilizados .......................................................................................... 244 Anexo II – Roteiro das Entrevistas ..................................................................................... 252 Anexo III – Termos ............................................................................................................ 254 Lista de Figuras Figura 1- Relação dos elementos constituídos no conceito ..................................... 45 Figura 2 – Esquema dos modos do Pensamento ..................................................... 69 Figura 3- Esquema da organização da narrativa ...................................................... 70 Figura 4 - Esquema da aplicação do experimento seguindo a classificação de Vergnuad (2009) para os problemas aditivos e multiplicativos. .......................... 89 Figura 5 - Resolução do problema pelo aluno A1..................................................... 96 Figura 6 - Resolução do problema pelo aluno A2..................................................... 98 Figura 7 - Resolução do problema pelo aluno A3................................................... 101 Figura 8 - Resolução do problema pelo aluno A4................................................... 107 Figura 9 - Resolução do problema pelo aluno A5................................................... 111 Figura 10 - Resolução do problema pelo aluno A6 ................................................. 113 Figura 11- Resolução do problema pela dupla B1 e B2 ......................................... 120 Figura 12 - Resolução do problema pela dupla B3 e B4 ........................................ 124 Figura 13 - Resolução do problema pela dupla B5 e B6 ........................................ 126 Figura 14 - Resolução do problema pela dupla B7 e B8 ........................................ 136 Figura 15 - Resolução do problema pela dupla B9 e B10 ...................................... 141 Figura 16 - Resolução do problema pela dupla B11 e B12 .................................... 144 Figura 17 - Resolução do problema pelos alunos C1 e C2 .................................... 148 Figura 18 - Resolução do problema pelos alunos C3 e C4 .................................... 152 Figura 19 - Resolução do problema pelos alunos C5 e C6 .................................... 155 Figura 20 - Resolução do problema pelos alunos C7 e C8 .................................... 159 Figura 21 - Resolução do problema pelos alunos C9 e C10 .................................. 163 Figura 22-Resolução do problema pelos alunos C11 e C12. ................................. 166 Figura 23 - Resolução do problema pelo aluno D1 ................................................ 172 Figura 24 - Resolução do problema pelo aluno D2 ................................................ 174 Figura 25 - Resolução do problema pelo aluno D3 ................................................ 176 Figura 26 - Resolução do problema pela dupla D4 e D5. ...................................... 177 Figura 27 - Resolução do problema pela dupla D6 e D7 ....................................... 179 Figura 28 - Resolução do problema pela dupla D8 e D9 ........................................ 181 Figura 29 - Resolução do problema pela dupla D10 e D11 .................................... 185 Figura 30 - Resolução do problema pelos alunos D12 e D13 ................................ 188 Figura 31 - Resolução do problema pelos alunos D14 e D15 ............................... 191 Figura 32 - Resolução do problema pelo aluno E1 ................................................. 195 Figura 33 - Resolução do problema pelo aluno E2 ................................................. 198 Figura 34 - Resolução do problema pelo aluno E3. ............................................... 200 Figura 35 - Resolução do problema pelo aluno E4 e E5 ....................................... 203 Figura 36 - Resolução do problema pelo aluno E6 e E7 ........................................ 206 Figura 37 - Resolução do problema pelo aluno E8 e E9 ........................................ 212 Figura 38 - Resolução do problema pelos alunos E10 e E11 ................................ 217 Figura 39 - Resolução do problema pelos alunos E12 e E13. ............................... 221 Figura 40 - Resolução do problema pelos alunos E14 e E15 ................................. 224 Lista de Quadros Quadro 1- Porcentagem de respostas corretas nos problemas por série e estado .. 24 Quadro 2 - Classificação dos problemas da soldagem inicial segundo as categorias do Campo Multiplicativo ...................................................................................... 33 Quadro 3 – Classificação dos problemas da soldagem final segundo as categorias do Campo Multiplicativo ...................................................................................... 34 Quadro 4 - Desenho do universo de estudo ............................................................. 38 Quadro 5 – Arcabouço das sequências de situações do estudo piloto em relação às variáveis representação e percepção. ................................................................ 39 Quadro 6 – Esquema dos conceitos do Campo Conceitual ..................................... 54 Quadro 7 – Códigos utilizados nos diversos diagramas ........................................... 56 Quadro 8 – Esquema correspondente ...................................................................... 57 Quadro 9 – Esquema correspondente ...................................................................... 57 Quadro 10 – Esquema correspondente .................................................................... 58 Quadro 11 – Esquema correspondente .................................................................... 58 Quadro 12– Esquema correspondente ..................................................................... 59 Quadro 13 – Esquema correspondente .................................................................... 60 Quadro 14 – Esquema Correspondente ................................................................... 62 Quadro 15 – Esquema correspondente .................................................................... 63 Quadro 16 – Esquema de correspondente ............................................................... 65 Quadro 18 - Organização da escolha dos alunos para análise. ............................... 91 Quadro 19 – Organização da escolha dos alunos para análise ............................... 92 Quadro 20 - Problema do Campo Aditivo aplicado para o Grupo 1.......................... 95 Quadro 21 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para o Grupo 1 .............. 107 Quadro 22 - Problema do Campo Aditivo aplicado para o Grupo 2........................ 120 Quadro 23 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para o Grupo 2. ............. 135 Quadro 24 - Problema da Estrutura Aditiva aplicado para o Grupo 3 ..................... 147 Quadro 25 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para o Grupo 3. ............. 158 Quadro 26 - Problema do Campo Aditivo aplicado para a 4ª Etapa. ...................... 172 Quadro 27 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para a 4ª Etapa ............ 195 17 INTRODUÇÃO A primeira das nossas motivações tem origem nas observações, mediante a minha experiência escolar, de que há uma valorização do pensamento lógico – científico no dia a dia na sala de aula de matemática; a segunda, pela participação no programa Observatório da Educação (Educação Continuada e Resultados de Pesquisa em Educação Matemática: Uma Investigação sobre as Transformações das Práticas de Professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental) do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da UNIBAN, financiado pela CAPES. Surgiu, assim, a ideia da realização de um projeto piloto realizado por FIORE e GALVÃO (2012) com dois alunos, seguido de uma análise preliminar de questões que pretendíamos mais tarde utilizar nesta pesquisa, como aprofundamento para investigar os meios utilizados pela criança, os caminhos que ela toma para resolver situações que lhe são propostas, bem como a interação dos modos de pensamento (narrativo e lógico - científico) que ocorrem e que contribuem para que a simplicidade das relações que estruturam a resolução dos problemas seja descoberta. Outro fator é o acompanhamento que tenho feito desde 2008 dos relatórios pedagógicos dos resultados e discussões relacionados com as avaliações externas do desempenho educacional da rede estadual SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo na disciplina de matemática, em particular, no que se refere à resolução de problemas nos vários níveis de ensino, observando como estes são abordados e quais são as dificuldades apresentadas pelos alunos, evidenciadas pelos resultados nas avaliações. Encontramos, nas respostas aos problemas simples, indícios de que conceitos básicos para o início dos estudos no ciclo II ainda não estão suficientemente amadurecidos, o que traz uma preocupação muito grande. Outra questão que gostaríamos de destacar é a importância do professor entender e compreender os erros dos alunos; nossa preocupação é com a maneira que se dá o processo de investigação e construção dos conceitos na aula de matemática, durante o ano letivo. 18 Daí a origem desse trabalho, que é fruto da participação no projeto Observatório da Educação (Educação Continuada e Resultados de Pesquisa em Educação Matemática: Uma Investigação sobre as Transformações das Práticas de Professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental) do Programa de Pósgraduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante Anhanguera – UNIBAN e das observações que tenho feito ao longo da minha carreira como professora de matemática, ao trabalhar com resoluções de problemas, com os alunos do Ensino Fundamental II. Temos como objetivo desta pesquisa: observar e analisar as estratégias explicitadas, em diálogos, na resolução de problemas nos campos aditivo e multiplicativo. A partir da adoção de uma prática diferenciada no trabalho com resolução de problemas, na nossa intervenção com os alunos, nos questionamos: A identificação de algumas características do pensamento narrativo, nas manifestações dos alunos durante a resolução de problemas no campo aditivo e multiplicativo pode auxiliar o professor em sua prática educacional e no processo ensino aprendizagem do educando? A identificação dos componentes dos esquemas mobilizados no encaminhamento da resolução dos mesmos problemas favorece a compreensão do professor enquanto mediador do processo ensino aprendizagem? Vale salientar que a resolução de problemas ultrapassa o conjunto de regras e algoritmos, ela percorre caminhos do pensamento, dando condições para que o indivíduo se expresse, seja na forma narrativa ou na apresentação lógica dos fatos. Mediante essas nossas preocupações e questionamentos, por meio dos estudos que realizamos, encontramos várias pesquisas relacionadas ao tema resolução de problemas que nos permitem conhecer as dificuldades apresentadas pelos autores. Vergnaud (1998) destaca em seu artigo “A comprehensive theory of representation for mathematics education” que, ao abordar o tema resolução de 19 problemas, os olhares são direcionados apenas à resolução apresentada pelo aluno, reduzindo o pensamento ao processo algorítmico ou à produção de regras Santana et. al. (2009) em seu artigo “Uma análise do domínio das estruturas aditivas com alunos da 5ª série do ensino fundamental” aponta a falta de compreensão do enunciado, que consequentemente leva à extração de informações incorretas dos problemas; outra dificuldade apresentada está nas estratégias de solução, além dos erros nos cálculos numéricos. A autora adverte que os professores devem realizar diagnósticos durante o início do ano, para detectar as dificuldades que persistem no domínio do Campo Aditivo. Já CUNHA (1997) aponta as dificuldades que levam os alunos a não dominarem as estruturas multiplicativas em seu trabalho “As operações de multiplicação e divisão junto aos alunos de 5ª a 7ª séries”, observando que alunos trazem consigo concepções interiorizadas de que “a multiplicação sempre aumenta” e a “divisão sempre diminui”; uma das ocorrências se deve ao fato de se trabalhar com a multiplicação apenas no domínio dos números naturais, bem como a apresentação da multiplicação por “adições repetidas”. A autora acredita que, para reverter esse quadro, uma das propostas seria a introdução de medidas de áreas ou por meio do raciocínio combinatório, desde as séries iniciais, para que os alunos compreendessem o conceito da multiplicação. Posteriormente FREITAS et. al. (2007) discutem as possibilidades formativas e investigativas da narrativa em educação matemática, destacando a narrativa como um modo de refletir e estudar/investigar a experiência entre alunos e professores. Ainda neste mesmo contexto encontramos várias pesquisas relacionadas ao tema que demonstram uma grande ênfase em diagnosticar e analisar as dificuldades na resolução de problemas envolvendo as estruturas aditivas e multiplicativas, como, MENDONÇA et. al. (2007), NUNES (2011), JUSTO (2004), SILVA (2010), SANTANA (2009, 2010) MAGINA et. al. (2010), GUIMÃRES (2009), MAGINA e CAMPOS (2004), CANÕAS (1997), entre outros. 20 Nossa pesquisa está direcionada neste sentido, porém não deixando de lado o processo da resolução apresentada. Para dar sustentação teórica à análise que nos propomos a fazer, nos apoiamos na Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud (1996) e nos Modos do Pensamento Narrativo e Lógico - Científico de Bruner (2001). No capítulo inicial apresentaremos um breve resumo de pesquisas desenvolvidas no Brasil, referentes ao Campo Conceitual aditivo e multiplicativo e aos Modos de Pensamento no contexto da matemática. Além disso, apresentamos as diferenças e similaridades entre os trabalhos selecionados e a nossa pesquisa. No segundo capítulo do trabalho apresentamos a Teoria de Vergnaud do Campo Conceitual Aditivo e Multiplicativo. Primeiramente faremos uma síntese do quadro teórico de Vergnaud, na qual apresentaremos alguns conceitos que permitem ao professor analisar e compreender como os alunos aprendem os conceitos matemáticos. Em seguida, traremos um resumo das classificações das estruturas aditivas e multiplicativas, explicando, por meio de esquemas, suas linhas de raciocínio. No terceiro capítulo trataremos da importância do pensamento narrativo, procurando identificar, no trabalho de Bruner, os aspectos que podem vir a ser importantes dentro do contexto matemático da nossa pesquisa, selecionando variadas formas de expressão e interpretações que possam vir a surgir nos diálogos dos estudantes no momento da resolução de problemas, bem como o pensamento lógico - científico com sua ideia de racionalidade e lógica. Para complementar nossas discussões fazemos algumas considerações sobre o diálogo. Abordaremos no quarto capítulo a importância dada pelos PCN’s de Matemática à resolução de problemas e teceremos algumas considerações relacionadas ao Currículo de Matemática do Estado de São Paulo. Descreveremos, no quinto capítulo, todas as etapas de nossa pesquisa, desde a sua construção, aplicação e considerações que julgamos importantes para o entendimento da nossa análise. 21 No capítulo da análise dos dados, trazemos uma discussão de todos os problemas que foram aplicados e as transcrições dos diálogos das crianças, registrando as conexões entre a teoria do Campo Conceitual e os Modos de Pensamentos. Ao final de cada transcrição apresentamos considerações sobre o comportamento de cada aluno no momento da realização da atividade e, ao final de cada etapa, algumas considerações em relação aos participantes como um todo. No último capítulo, apresentamos as considerações finais levando em conta as análises feitas e os estudos realizados por nós, destacando os dados que foram relevantes durante a realização da pesquisa e apontamentos que julgamos importantes para a melhoria do processo ensino aprendizagem no que se refere à resolução de problemas. Apresentamos alguns subsídios destacando a importância do pensamento narrativo e o lógico - científico e as manifestações de suas interações tanto para os professores quanto para os alunos, no trabalho com os problemas, favorecendo o processo de aprendizagem e as relações das estruturas de resolução de problemas nos campos aditivo e multiplicativo. 22 CAPÍTULO I 1. REVISÃO DE LITERATURA Neste capítulo, trataremos da síntese de alguns estudos da área da Educação Matemática, relacionadas à Teoria dos Campos Conceituais e à Teoria dos Modos do Pensamento de Bruner, que nos auxiliarão a planejar e compreender as atividades relacionadas ao processo de aprendizagem nas aulas de Matemática, relacionadas ao nosso trabalho. 1.1 ALGUMAS PESQUISAS RELACIONADAS À TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. Partimos da pesquisa feita por Mendonça et. al. (2007) sobre “As estruturas aditivas nas séries iniciais do ensino fundamental: um estudo diagnóstico em contextos diferentes”, apresentado no Comitê Latino Americano de Investigacion em Matemática Educativa, no Distrito Federal, México. As autoras têm como objetivo diagnosticar o domínio das estruturas aditivas em dois estados brasileiros, São Paulo e Bahia, com o propósito de subsidiar a formação de professores. Os participantes desta pesquisa foram mil oitocentos e três estudantes de escolas públicas dos dois estados, de primeira a quarta série. A metodologia adotada foi um estudo do tipo levantamento ou “survey” segundo Fiorentini & Lorenzato (2006). O primeiro estudo foi realizado em São Paulo entre os anos de 1997 e 1998, com setecentos e oitenta e dois estudantes entre primeira e quarta série do Ensino Fundamental. O teste foi do tipo papel e lápis, composto por doze problemas de adição e subtração, adotando a classificação da Teoria dos Campos Conceituais (Composição, Transformação e Comparação), envolvendo valores numéricos pequenos. Os dados foram coletados pelos professores que estavam participando de um curso de formação continuada, com a supervisão da equipe de pesquisadores de São Paulo. Após a análise da primeira aplicação, os pesquisadores dos dois estados reaplicaram o teste no estado da Bahia para observar se os resultados seriam diferentes, dado o contexto sócio-econômico e cultural. Assim, o segundo estudo foi 23 realizado com mil e vinte um estudantes de primeira e quarta série do Ensino Fundamental, no ano de 2005. O instrumento utilizado foi o mesmo e novamente foram aplicados por professores que estavam participando de um curso de formação de professores. As autoras concluem que ambos os estados, em relação à primeira série, partem de um mesmo patamar de desenvolvimento em relação às situaçõesproblema propostas e vão se distanciando ao longo das séries; contudo observou-se que o estado da Bahia apresentou dificuldades em problemas de maior complexidade. Visualizamos no quadro 1, a porcentagem das respostas corretas por série dos estados, e o tipo de problemas e enunciados. As autoras destacam, especialmente, alguns problemas. O problema P1 – composição, que foi um problema de fácil resolução; sobre os dois problemas seguintes P2 e o P3 – transformação positiva/negativa as autoras observaram dificuldades em relação às palavras chaves dos enunciados e o sentido da operação a ser realizado. O problema P4 – transformação aditiva com transformação desconhecida foi o de maior dificuldade em ambos os estados e o segundo problema mais complexo foi o P9 – comparação. Um ponto importante destacado pelas autoras e verificado pela ocorrência de certas dificuldades é relacionado à leitura e à linguagem; à leitura, pela falta de compreensão do texto na solução de situações - problema matemático, e à linguagem, no que se refere às palavras chaves do tipo “a mais” e “a menos”. Dessa maneira, as autoras ressaltam que ao final da quarta série os estudantes ainda apresentam dificuldades em resolver problemas de estruturas aditivas mais complexas, independentemente dos estados de origem. Perceberam ainda que os contextos sócio-econômico e cultural dos estados de São Paulo e da Bahia também foram fatores que refletiram nos resultados. A pesquisa de Mendonça, et. al. (2007) vem de encontro ao que pretendemos abordar em nosso estudo: a compreensão das situações-problema que envolvam as estruturas aditivas; nossa pesquisa pretende ressaltar outras classificações mais complexas do que as abordadas pelas autoras, pois, além das estruturas aditivas estaremos trabalhando com as estruturas multiplicativas, adotando em ambas a Teoria dos Campos Conceituais. 24 Quadro 1- Porcentagem de respostas corretas nos problemas por série e estado Fonte: Mendonça, et. all. (2007) Outra leitura que consideramos importante foi a do artigo “Matemática escrita versus matemática oral”, Nunes, et. al. (2011), do livro “Na Vida Dez, na Escola Zero”. As autoras destacam as resoluções apresentadas oralmente pelos 25 alunos e a análise heurística feita dos esquemas de cada criança ao solucionar os problemas. Com esse trabalho, Nunes, et.al., (2011,p.67-68.) apontaram como objetivos: a) investigar mais sistematicamente o efeito da situação sobre a escolha de procedimentos e sobre a eficiência na resolução de problemas aritméticos; b) obter uma descrição mais detalhada dos procedimentos informais, contrastando com os procedimentos formais. Participaram desse estudo dezesseis alunos da terceira série de duas escolas públicas da cidade do Recife na faixa etária de oito a treze anos. Os alunos participantes tiveram instruções sobre os algoritmos escolares para resolver adições, subtrações, multiplicação e divisões dois meses antes do início do estudo. As situações problema propostas Nunes, et.al.,(2011,p.69) foram do tipo: a) situação simulada de venda, na qual a criança desempenhava o papel de dona de uma loja e o examinador era o freguês; b) sob a forma de problemas verbais, como pequenas histórias; c) como exercícios de computação, como continhas a serem resolvidas. Os tipos de problemas verbais seguiram a teoria de Vergnaud (1982) para as estruturas ativas e para as estruturas multiplicativas foram elaborados segundo Brown e Burton (1978) que tratam em seu livro sobre os “Modelos de diagnostico de erros processuais em habilidades básicas de matemática”. Os participantes resolveram dez problemas classificados como problemas verbais e problemas de venda simulada; para esta situação havia objetos disponíveis para as crianças como, por exemplo, um anel ou um bombom com o preço. Os problemas eram do tipo: 1. Marcos foi ao cinema. Ele gastou 60 cruzeiros com o ônibus e 240 com a entrada do cinema. Quanto ele gastou ao todo? (Problemas Verbais). 26 2. Um anel custa 115 cruzeiros. Um bombom custa 15. Eu quero um de cada. Quanto tenho que lhe pagar?(Problemas de venda simulada). Os problemas foram apresentados oralmente e após a resolução os participantes foram entrevistados individualmente seguindo o método clínico piagetiano, de acordo com os autores. O desenvolvimento seguiu as seguintes etapas: 1) Se o procedimento feito pela criança não estivesse claro para o examinador – a criança deveria justificar sua resposta; 2) Nos casos de soluções que utilizavam papel e lápis e nenhuma delas estivesse correta, a criança era encorajada a solucionar de “cabeça”; 3) Se houvessem respostas incorretas quando se pedia para criança resolver oralmente, era pedido para criança resolver por escrito. Os registros do comportamento de cada estudante foram realizados por meio de gravações, conjuntamente com os detalhes registrados pelo observador e o material escrito pelo estudante. Os procedimentos para cada uma das três situações proporcionadas aos estudantes foram classificados como: oral ou escrito ou certo ou errado. Em seus resultados os autores expuseram que não houve diferença do desempenho dos participantes nas situações de vendinhas simuladas e nos problemas verbais, e o fato de a criança ter objetos que pudessem ser manipulados não poderia explicar melhor o desempenho nas situações de venda simulada, pois estas estavam trabalhando com o preço e não com os objetos. Observou também que, nos problemas verbais, em que os objetos não estavam presentes, o desempenho dos participantes foi equivalente às situações de vendas. Outra observação importante foi a da escolha do procedimento oral para a resolução das situações de venda e dos problemas verbais; o procedimento da escrita foi mais utilizado para os exercícios de cálculo. Os participantes apresentaram maior facilidade no procedimento oral em comparação com o escrito, mas os autores apontam que o fato de os participantes demonstrarem um melhor desempenho na resolução de operações aritméticas pode não indicar uma preferência definida, seja 27 pelo procedimento oral ou pelo escrito; isso ocorre também para as crianças com maior dificuldade. Os procedimentos orais destacados neste artigo pelos autores foram denominados como heurísticos e estão relacionados: à decomposição, em que as quantidades envolvidas no problema são decompostas em quantidades menores; ao agrupamento repetido, em que a solução é obtida através de passos, trabalhando-se com quantidades iguais ou maiores que aquelas mencionadas no problema. De acordo com os autores, esse tipo de análise heurística permitiu enfatizar a flexibilidade das soluções e as características dos esquemas utilizados pelos alunos nas manifestações dos participantes ao resolverem os problemas propostos. Os autores deixam algumas questões para refletirmos: Por que as crianças recorrem ao cálculo escrito, mesmo quando parecem compreender que trabalham de modo mais eficiente com o cálculo oral? Quando constatamos que a escola rejeita esse saber popular da criança, manifesto na matemática oral, precisamos perguntar-nos: a quem interessa esta rejeição? Ao aluno? Ao professor? À sociedade? Nossa pesquisa propõe problemas que são do cotidiano escolar, seguindo a classificação de Vergnaud, porém enfatizaremos o procedimento oral da resolução dos problemas no sentindo do aluno explicar e explicitar as estratégias utilizadas por ele; analisaremos as justificativas identificando os aspectos da passagem do pensamento narrativo e suas particularidades, para o pensamento lógico segundo Bruner (2002), e usaremos a teoria dos campos conceituais na identificação dos teoremas e conceitos em ações, dos esquemas e dos invariantes operacionais. A escolha do trabalho de Justo, (2004) “Mais...ou...Menos...: A construção da operação de subtração no Campo Conceitual das Estruturas Aditivas” se deu 28 pela discussão que a autora apresenta sobre a operação de subtração e o interesse na explicação do pensamento da criança ao resolver o problema para descobrir o esquema por ela utilizado. A autora, com esta pesquisa, teve como objetivo “descrever os esquemas que expressam avanços no desenvolvimento das crianças na construção da subtração, especificamente nas situações de transformação, de composição parte-todo e de “quanto falta” (JUSTO, 2004, p.5). O referencial teórico utilizado foi o dos Campos Conceituais de Vergnaud (1994). Para o experimento, foram utilizados problemas matemáticos envolvendo as estruturas aditivas do tipo: transformação com início desconhecido, transformação desconhecida, composição: parte-todo e quanto falta? O material de trabalho foi papel e lápis, para que as crianças descrevessem seu pensamento, e material manipulativo, sendo este utilizado a critério das crianças, para ajudar na solução dos problemas. As atividades foram complementadas por entrevistas individuais que serviram para que os alunos “explicassem o seu pensamento ao resolvê-las” (Justo, 2004,p.66), para averiguação dos esquemas utilizados. Os encontros foram gravados e transcritos, para análise e interpretação posterior. Participaram desta pesquisa vinte dois alunos, sendo nove da segunda série e treze da terceira série. As atividades foram iguais para as séries, somente com os valores numéricos de menor grandeza, para o controle do nível de dificuldade. Na análise, Justo (2004) segue uma classificação para estudar seu experimento: a) b) c) A primeira categoria de solução na construção da subtração corresponde ao uso da operação de adição e de esquemas auxiliares para resolver o problema matemático; A segunda categoria de solução é evidenciada pelas crianças que usam a operação de subtração e esquemas auxiliares à solução. A terceira categoria corresponde apenas ao uso do algoritmo da subtração como procedimento para resolver o problema apresentado. (JUSTO, 2004, p. 69). Observou ainda, em sua análise, que as crianças apresentavam diversos esquemas para resolver um mesmo problema, assim como uma mesma criança apresentava várias formas de resolver o problema. Além disso, a pesquisadora observou que as crianças possuem um domínio maior para os problemas que envolvem adição e, para os de subtração, percebeu um ganho significativo em relação aos estudos feito pela autora. A autora verificou a ocorrência do 29 procedimento de cálculo mental e esquemas como algoritmos formais nas resoluções das crianças. Nas entrevistas, Justo constatou que as “crianças encontravam as estratégias para resolver os problemas antes de adotarem procedimentos formais da Matemática” (JUSTO, 2004, p.112). A linguagem das operações aritméticas e a matemática formal apresentaram-se como um grande desafio para as crianças, mas Justo entende que a utilização da linguagem formal da matemática e a construção dos significados ocorrem mutuamente. Nas suas considerações finais, a autora coloca que sua pesquisa colabora com uma fração do muito que ainda deve ser desvendado sobre a aprendizagem das crianças no Campo Conceitual Aditivo. Em seu trabalho, Justo preocupou-se com os procedimentos e esquemas apresentados pelos alunos, em nosso trabalho destacaremos nas resoluções apresentadas dos alunos os conceitos e teoremas envolvidos seguindo a Teoria dos Campos Conceituais e a análise, conforme a Teoria dos Modos de Pensamento, dos elementos do pensamento narrativo e lógico-científico encontrados em suas manifestações na resolução dos problemas. Outro ponto essencial é o desenvolvimento do processo ensino aprendizagem quando o estudante trabalha individualmente, em grupo e quanto à interação aluno – aluno e aluno-professor. O trabalho de Cunha (1997) “As operações de multiplicação e divisão junto a alunos da 5ª e 7ª séries” foi escolhido pela proximidade do assunto com o nosso tema, em razão da investigação que a autora faz sobre as estruturas multiplicativas. A autora tem como objetivo “investigar concepções sobre as operações de multiplicação e divisão em alunos de quinta e sétima séries” (CUNHA, 1997, p.3). A autora parte da hipótese que os alunos têm as concepções “multiplicação sempre aumenta” e “divisão sempre diminui” (CUNHA, 1997, p.3). A fundamentação teórica utilizada é a dos Campos Conceituais de Vergnaud (1998), e também constam partes da teoria do construtivismo de Piaget (1987). Para a realização do experimento foi feito um estudo baseado na transposição didática de Chevallard (1991). 30 O experimento foi realizado com trinta e dois alunos entre onze e quatorze anos de idade. Desses, dezesseis eram da quinta série e dezesseis da sétima série de uma escola da rede particular de ensino. A seleção dos alunos foi aleatória e durante o teste diagnóstico e o pós - teste eles trabalharam em duplas. O teste diagnóstico foi realizado com papel e lápis e composto de duas questões, uma envolvendo multiplicação e a outra, divisão, na intenção de verificar algumas dificuldades em relação às operações e analisar o desempenho dos sujeitos da pesquisa. No momento da aplicação das atividades os alunos foram observados e seus diálogos gravados. A partir do teste diagnóstico a autora elaborou atividades usando lápis e borracha para a resolução dos problemas, cartolina e caneta piloto para uma das atividades e calculadora simples para outra, com a intenção de superar as dificuldades apresentadas. Nesta fase participaram apenas doze alunos dos trinta e dois iniciais, seguindo as mesmas duplas do teste diagnóstico. Ao final das atividades foi realizado um debate, ou seja, uma discussão, que foi filmada para o registro. Após a aplicação das atividades foi realizado um teste final, usando papel e lápis com os doze alunos participantes. Na análise, a autora percebe que não havia explorado todas as situações que pudessem confirmar sua hipótese, sendo assim, resolveu realizar uma entrevista individual, utilizando papel, lápis e calculadora, quando achavam necessário; os depoimentos foram gravados, na intenção de averiguar se as dificuldades apresentadas anteriormente foram superadas. Os participantes dessa amostra foram os doze alunos da fase anterior e para parâmetro de comparação a autora escolheu outros doze alunos de outra escola para realizar a mesma entrevista. Os dados dos testes aplicados tiveram um tratamento quantitativo e qualitativo. Após a análise dos dados a autora observou que “a dificuldade dos alunos das duas séries foi trabalhar com operação de multiplicação cujo multiplicador era um número decimal menor que 1” (CUNHA, 1997,p.84). A quinta série apresentou dificuldades em estabelecer relações entre o dividendo, divisor, quociente e resto. Segundo as palavras da autora: “...diversas abordagens da multiplicação e da divisão, desde as series iniciais, como por exemplo, medida de área, ou por meio do raciocínio combinatório, não somente enfatizando “adições repetidas” e “subtrações sucessivas”, talvez os alunos não criem as concepções de que 31 “multiplicação sempre aumenta” e “divisão sempre diminui” (CUNHA, 1997,p.132). A autora finaliza que seu estudo não foi conclusivo, dada a variedade de esquemas apresentados pelos alunos: contagem, modelagem ou complementaridade, e que “o segredo da aprendizagem pode estar muito mais na relação entre como se ensina e como se aprende” (CUNHA,1997, p. 118). Suas considerações apontam que, para o desenvolvimento de competências por parte dos alunos no campo conceitual multiplicativo, em sua pesquisa, as atividades propostas por ela deveriam ter abrangido uma diversidade maior de situações problemas, assim como um tempo sua execução, para possibilitar aos alunos melhores condições para uma reflexão minuciosa a respeito das operações de multiplicação e divisão. Nosso trabalho segue a mesma fundamentação teórica da autora, sendo que o nosso foco está nas etapas finais do ensino fundamental. Nós trabalharemos somente com alunos do quinto ano do ensino fundamental (antiga quarta série), tendo por objetivo investigar como se dá a construção e quais são os esquemas prováveis para a resolução dos problemas, tanto para as estruturas aditivas quanto para as multiplicativas; analisaremos ainda a ocorrência das características da passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico-científico. Não estamos preocupados nos acertos e/ou erros dos alunos e sim em suas justificativas durante e após as soluções dos problemas propostos. Já a escolha do trabalho de Silva (2010) “Um estudo das estruturas multiplicativas nos Guias de Planejamento e Orientações Didáticas do Programa Ler e Escrever”, foi motivada pelo fato de que a autora estuda os esquemas utilizados pelos alunos na resolução de problemas que envolvem as estruturas multiplicativas. Essa pesquisa nos auxilia no que se refere à análise dos esquemas apresentados pelos alunos. Entretanto, nossa pesquisa diferencia-se, no sentindo de que estaremos analisando os esquemas dos alunos por meio dos diálogos e manifestações durante a solução dos problemas, envolvendo problemas do campo aditivo e multiplicativo. Acreditamos que a análise, quando feita somente por meio de registros (papel e lápis), acaba perdendo muito dos esquemas em ação que estão associados ao pensamento ou ao raciocínio da criança. 32 O objetivo do trabalho foi investigar o impacto do ensino das estruturas multiplicativas, por meio de situações problemas proposto no Guia do Programa Ler e Escrever na terceira série do Ensino Fundamental (SILVA, 2010, p.90). Como embasamento teórico de sua pesquisa, a autora utilizou a teoria dos Campos Conceituais de Gérard Vergnaud (1991). A pesquisadora sugeriu problemas relacionados às estruturas multiplicativas com o objetivo de analisar os esquemas desenvolvidos pelos alunos nas suas soluções. Os participantes desta pesquisa foram trinta crianças da terceira série, com faixa etária entre oito e nove anos de uma escola da rede pública do município de Guarulhos, do estado de São Paulo. O trabalho foi composto por quatro fases. Na primeira a autora realiza o papel de observadora, para verificar os conhecimentos disponíveis pelas crianças no que se refere às estruturas multiplicativas. Na segunda fase, realiza uma sondagem inicial, individualmente com os alunos, a partir das orientações propostas no Programa Ler e Escrever da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, com a intenção de observar os conhecimentos que os alunos tinham sobre as estruturas multiplicativas, de acordo com o referencial teórico proposto pela autora. Ela apresenta as classificações que foram utilizadas no quadro 2 abaixo: 33 Quadro 2 - Classificação dos problemas da soldagem inicial segundo as categorias do Campo Multiplicativo Fonte: SILVA, 2010. A partir da sondagem inicial, os dados coletados foram usados para a construção de um inventário, assim chamado pela a autora, de diferentes esquemas em ação, que permitissem potencializar as situações que foram propostas, apontando os diferentes níveis de dificuldades como recurso de intervenção para a construção do raciocínio multiplicativo. Na terceira fase utilizou como auxílio um software livre chamado “ClicMat” e o “auto screen Record”; neste momento os alunos realizaram as atividades coletivamente. Para esta fase as atividades exploradas foram aquelas em que o grupo demonstrou dificuldades, as que envolviam a ideia de combinação e configuração retangular, de acordo com a classificação no Guia e proporcionalidade dupla ou múltipla segundo Vergnaud. Após a intervenção, na quarta fase, houve novamente uma sondagem final, assim chamada pela autora, na intenção de 34 comparar e observar se houve um avanço de acordo com os resultados da primeira fase, isso ocorreu após um mês à intervenção. Os problemas utilizados foram os do quadro a seguir: Quadro 3 – Classificação dos problemas da soldagem final segundo as categorias do Campo Multiplicativo Fonte: SILVA, 2010. Como metodologia para o desenvolvimento das várias etapas foi utilizado o Design Experiment. As atividades desenvolvidas foram registradas por meio de (gravações) e registros em folhas (papel e lápis). O método utilizado foi a análise qualitativa dos dados obtidos, sendo o pesquisador responsável pelas interpretações dos dados recolhidos. Mediante os registros dos alunos a autora, em sua análise, relata que os alunos apresentam dificuldades principalmente com ideias que envolvem configuração retangular e combinatória. Os resultados apontados pela autora na comparação da sondagem inicial com a intervenção e a sondagem final indicaram um avanço significativo no desempenho das crianças ao resolverem os problemas. Porém, nem toda a amostra conseguiu optar por uma operação necessária para as resoluções do problema e nem mobilizar os esquemas 35 necessários das estruturas multiplicativas para a solução. Os problemas que apresentaram resultados de sucesso pelas respostas dos alunos foram os que envolviam o conceito de Combinatória, os de menor sucesso envolviam o conceito de Proporcionalidade. Em nossa pesquisa analisaremos alguns problemas semelhantes aos da autora, com a ideia de proporcionalidade múltipla. A escolha da pesquisa de Sales (2008) “Explorando função através de representações dinâmicas: narrativas de estudantes do ensino médio” se deu pelo fato de que a autora estuda as narrativas dos alunos sustentada na teoria de Bruner. O objetivo geral do seu trabalho foi de “investigar as narrativas produzidas pelos estudantes diante de uma abordagem matemática sobre funções utilizando ambiente de geometria dinâmica” (SALES, 2008, p.8). Partindo deste objetivo, surgem três questões, que estão na investigação sobre a narrativa. 1) Qual o papel das narrativas na construção do conhecimento de função entre estudantes do Ensino Médio? 2) Em quais atividades as narrativas emergem com mais frequência? 3) Podemos identificar estórias que representam raízes narrativas em relação ao estudo de função?(SALES, 2008, p.41). Sua fundamentação teórica baseou-se na centralidade do pensamento narrativo em cognição humana de Bruner (1997), na intenção de entender o papel da narrativa na aprendizagem matemática e identificar como a estória evocada poderia contribuir na construção do conhecimento e significados matemáticos. Em busca da resposta, a autora utilizou quatro das características estabelecidas por Bruner, e as identifica como: “ter uma sequência inerente, pode ser real ou imaginária, criar conexões entre o excepcional e o ordinário e possuir uma qualidade dramática” (SALES,2008,p.129). A metodologia utilizada foi Design Experiments, por Steffe e Thompson (2000). Os participantes da pesquisa foram oito estudantes do primeiro ano do Ensino Médio, divididos em dois grupos que interagiram com dois micromundos criados no Cabri-Géomètre para o estudo de diferentes representações gráficas em termos narrativos. 36 Os alunos trabalharam em duplas nas sessões de ensino, com o objetivo de observar e descrever os comportamentos e as representações gráficas. O primeiro grupo trabalhou com doze funções classificadas em cinco tipos (funções afins, funções quadráticas, funções descontínuas, funções que possuem assíntotas e funções trigonométricas) e o segundo grupo com dez funções, classificadas em quatro tipos (funções afins, funções quadráticas, funções que possuem assíntotas e funções descontínuas). A autora observou que “os estudantes atribuíam sentidos para os fenômenos observados por meio de estórias que relacionavam, metaforicamente, comportamentos matemáticos com comportamentos humanos” (SALES, 2008, p.8) no momento da realização das atividades. A autora destaca em sua análise que: ...o envolvimento dos estudantes com as representações gráficas das funções apresentadas, dinamicamente, instiga os aprendizes a conectar objetos matemáticos não familiares, com suas propriedades e relações paradigmáticas, com ideias e conhecimentos anteriores através de narrativas, criando uma rede de conexões entre conhecimentos e experiências anteriores com novos conhecimentos, através de boas histórias (SALES, 2008, p.129). Essas relações paradigmáticas estabelecem os modos do pensamento apresentado por Bruner, que segundo Sales (2008) transcendem os conhecimentos matemáticos do particular para níveis de abstração cada vez mais elevados, contrastado ao modo lógico - científico de pensamento. Sales, em resposta a sua primeira questão, percebe que as narrativas têm um papel importante na aprendizagem, e são elas que possibilitarão uma percepção detalhada dos objetos matemáticos trabalhados, conectando propriedades e relações paradigmáticas. Já para sua segunda questão a autora constata que as atividades que necessitavam de observação para descrever comportamentos desconhecidos e excepcionais desafiavam os alunos a recorrer a conhecimentos anteriores e a criar histórias que poderiam explicar o comportamento observado. Desta forma, isso está de acordo com Bruner (1997), que enfatiza que a narrativa auxilia a organização, construção e a criação de conexões entre as nossas experiências por meio das narrativas que apresentamos. Em resposta à sua terceira questão, a autora percebe que, aos poucos, os comportamentos e movimentos observados nas atividades, vão ganhando características, significados e 37 propriedades no ponto de vista dos estudantes; a pesquisadora afirma que “mesmo de maneira informal, os aspectos de uma propriedade, relação ou definição matemática, destacam-se nas raízes narrativas relacionadas com o estudo de função” (SALES, 2008, p.139). Ao final de suas considerações a autora afirma que esse modo de pensamento narrativo pode e deve ser discutido em outras abordagens matemáticas. Nossa pesquisa difere da de Sales, em relação à abordagem matemática de suas atividades e ao nível de escolaridade dos estudantes. Temos como foco trabalhar os aspectos do pensamento narrativo e lógico – científico nas resoluções de problemas envolvendo o campo aditivo e multiplicativo com alunos do último ano do ensino fundamental. O nosso objetivo é verificar, por meio de justificavas e soluções apresentadas oralmente, se o incentivo à manifestação ao longo do processo de resolução de problemas permite que o aluno consiga interpretar e estruturar as situações apresentadas e podemos observar mais claramente como se dá a passagem do pensamento narrativo para o lógico – científico. A escolha do trabalho de Santana se deu pela proximidade dos tipos de problemas que trabalharemos em nossa pesquisa, no Campo Aditivo; outro ponto de interesse é referente à análise das resoluções apresentadas pelos alunos para as situações-problema propostas, destacando os teoremas em ação e os conceitos em ação nas resoluções dos alunos. De acordo com Santana (2010), o trabalho “Estruturas aditivas: o suporte didático influência a aprendizagem do estudante?” foi desenvolvido com o objetivo de “avaliar as contribuições que uma sequência de ensino baseada na classificação proposta pela teoria dos Campos Conceituais traz para o domínio do Campo Aditivo por estudantes da terceira série do Ensino Fundamental” (SANTANA, 2010, p.8). Como fundamentação a autora utilizou a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud. Sua metodologia baseou-se em um delineamento quase-experimental com grupo de controle e experimentais. A aplicação ocorreu com um pré e um pós-teste, os quais permitiram uma análise tanto qualitativa quanto quantitativa. Participaram 38 dessa pesquisa, no ano de 2008, noventa e oito estudantes da região Sul da Bahia de uma escola pública municipal. A autora criou dois grupos, GE (grupo experimental) no qual a intervenção foi aplicada e o grupo GC (grupo controle), que não participou da intervenção. O grupo GC foi dividido em dois grupos CV e CN e o grupo GE em MD e DV. Para a subdivisão do grupo GE a autora realizou um sorteio para determinar as turmas, ficando da seguinte maneira: o GE1(MD) com 35 e o GE2 (DV) com 34 estudantes. Os grupos GE participaram de oito encontros ministrados como aula pela professora e um dos grupos teve a pesquisadora como observadora. Todos os grupos participaram do diagnóstico inicial, da intervenção, diagnóstico final e apenas o grupo GE nomeado estudo principal, participou da entrevista, esta que teve como objetivo proporcionar o entendimento e a compreensão de algumas resoluções feitas pelos estudantes. O grupo GE1 (MD) trabalhou com situações-problema aditivas (adição e subtração) utilizando material didático (material dourado, ábaco e quadro de valor e lugar). O grupo GE2 (DV), com os diagramas de Vergnaud e o material representacional, que teve como foco o cálculo relacional e o cálculo numérico. As atividades foram propostas em sala de aula e como tarefa para casa. A avaliação da sequência e a intervenção apoiaram-se na Teoria dos Campos Conceituais. No quadro 4 abaixo, segue o universo de estudo da autora, onde as siglas significam: MD (grupo material didático), DV (Diagrama de Vergnaud), CV (Grupo controle Visto) e CN (Controle não visto). Quadro 4 - Desenho do universo de estudo Fonte: Santana (2010) 39 O objetivo do diagnóstico para a autora foi identificar o domínio do Campo Aditivo dos estudantes. Já para a intervenção de ensino era o de aplicar uma sequência que estivesse fundamentada no Campo Aditivo amparada no material representacional e em materiais didáticos. O diagnóstico final teve como objetivo avaliar se a intervenção proporcionou a amplitude dos estudantes no Campo Aditivo em relação ao diagnóstico inicial e a influência em relação à amplitude deste conhecimento. As situações-problema utilizadas foram da pesquisa de Campos et al.(2007), com algumas alterações em relação à mudança da quantidade de situações e em relação aos nomes próprios, valores numéricos e figuras. As sequências foram estruturadas de acordo com o quadro 5 a seguir: Quadro 5 – Arcabouço das sequências de situações do estudo piloto em relação às variáveis representação e percepção. Fonte: Santana (2010) Segundo a autora, as situações-problema propostas tiveram como foco o cálculo relacional, a interpretação com a utilização do diagrama correspondente às 40 situações e o cálculo numérico, com o auxílio dos algoritmos da adição e da subtração e a elaboração final de respostas e perguntas feitas nas situações. Mediante os resultados da análise feita por Santana (2010), temos que o instrumento diagnóstico foi favorável para garantir um tratamento estatístico quantitativo para os resultados do método quase experimental, evitando a interferência da subjetividade na análise e nas interpretações. Já a análise qualitativa do instrumento diagnóstico serviu para verificar a influência das atividades de casa e das entrevistas para entender o processo de aprendizagem e as dificuldades apresentadas pelos estudantes no decorrer da intervenção de ensino. O foco foi o grupo experimental e sua análise seguiu três fases: A primeira, a análise das resoluções apresentadas pelos estudantes nos instrumentos diagnósticos (pré e pós-teste) em busca dos erros cometidos pelos estudantes nas resoluções; Para a segunda fase foram observadas as atividades realizadas em casa pelos alunos durante o processo de intervenção de ensino; o foco desta análise foi o conjunto de resoluções dos problemas; os participantes dessa fase foram os alunos dos grupos MD e DV; Na terceira, a análise foi feita considerando as estratégias de resolução mais utilizadas, buscando identificar os conceitos em ação e teoremas em ação. A síntese da análise comparativa do desempenho dos grupos: geral e por categoria, feito por Santana (2010), mostra que o grupo experimental apresentou um crescimento significativo do pré para o pós-teste, porém o grupo de controle permaneceu no nível do pré-teste. De acordo com a autora o desempenho dos grupos, no geral, permitiu concluir que a intervenção de ensino baseada na classificação da Teoria dos Campos Conceituais, voltada para as situaçõesproblema do campo aditivo, melhorou o desempenho dos estudantes, superando a intervenção de ensino está que foi fundamentada em metodologias “convencionais” e que não possuiu apoio da Teoria dos Campos Conceituais. 41 Outro fator importante destacado pela autora é de que o uso de diferentes suportes didáticos pareceu interferir no desenvolvimento dos alunos, notando uma expansão do Campo Conceitual Aditivo para as categorias TR (transformações de uma relação) e CT (comparação de várias transformações), em relação às outras categorias principais como (composição, comparação e transformação). O desempenho dos grupos com os diferentes suportes didáticos apresentou uma pequena superação em relação ao material representacional utilizado. Já na análise dos grupos por extensão dos problemas, a autora percebeu que não houve, estatisticamente, uma diferença em relação aos resultados na 1ª e nem na 4ª extensão, porém na 2ª e 3ª extensão existiu uma inversão, enquanto um grupo cresceu, o outro decresceu. Os grupos experimentais apresentaram um crescimento significativo na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª extensão, e quando comparados entre si, não exibiram diferenças significativas entre seus crescimentos; já em relação às médias finais alcançadas por esses grupos, as situações de 4ª extensão apresentaram menor crescimento. Mediante esse resultado a autora observou a necessidade de se planejar as atividades relacionadas ao Campo Aditivo com atenção especial para as dificuldades inerentes a cada extensão, dando maior atenção para as mais complexas e levando em conta a série e a faixa etária, fatores importantes ressaltados por Santana (2010). Nosso trabalho difere do de Santana, uma vez que a nossa análise será feita baseada por meio dos aspectos diálogos com os alunos, não existindo preocupação quanto aos erros e acertos, mas sim nas justificativas e explicações que os alunos produzirão para as resoluções das situações problemas, que nos levarão a avaliação de suas ações. Além disso, trataremos também dos elementos relacionados ao Campo Multiplicativo. 42 CAPÍTULO II 2. INTRODUÇÃO À TEORIA DOS CAMPOS CONCEITUAIS Apresentaremos, neste capítulo, algumas ideias referentes à Teoria dos Campos Conceituais, de Gérard Vergnaud, trazendo, ao final, a construção de um quadro que resuma as ideias da teoria a ser utilizada e seus principais conceitos. A teoria dos Campos Conceituais criada em 1997 por Gerald Vergnaud tem como objetivo a compreensão da construção do conhecimento pelo estudante. Nessa teoria, Vergnaud (2003, p.36) “traz influências de algumas ideias cujos focos estão na interação sujeito – objeto de Piaget, no que se refere às situações pelas quais o sujeito passa em sua vida diária, que, por sua vez está relacionada à zona de desenvolvimento proximal”, conhecida como (ZDP)1, criada por Vygotsky, ou seja, à interação social que o sujeito estabelece com seu meio e com as pessoas. A proposta de Vergnaud (1990, 1996, 1998, 2009), ao repensar as condições da aprendizagem, visa organizar a aquisição do conhecimento de forma a tornar a compreensão dos conceitos mais acessível. Segundo o autor trata-se de: ...uma teoria cognitivista que visa fornecer um quadro coerente e alguns princípios de base para o estudo do desenvolvimento e da aprendizagem das competências complexas, nomeadamente das que relevam das ciências e das técnicas. (VERGNAUD, 1990, p.155). O objetivo principal da teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, (1990) é compreender como o sujeito constrói seu próprio conhecimento, quando deparado com situações de aprendizagem escolares. Assim, o Campo Conceitual sugere um conjunto de parâmetros orientadores para o estudo das condições de compreensão do significado do conhecimento pelo aluno. Propicia, também, a análise de classes de situações adequadas ao repertório dos sujeitos, aos esquemas estruturais das suas atividades e à descoberta das relações mobilizadas por eles ao longo do seu trabalho. Essas considerações privilegiam o papel da linguagem e das representações simbólicas, permitindo que os conceitos, que são instrumentos do 1 Criada por Lev Vygotsky (1896-1934) a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), abrange a distância entre as práticas que uma criança já domina e as atividades nas quais ela ainda depende de ajuda. Para Vygotsky, é no caminho entre esses dois pontos que ela pode se desenvolver mentalmente por meio da interação e da troca de experiências. 43 pensamento, sejam transformados em conceitos objeto do pensamento. A linguagem é considerada um instrumento que permite utilizar conceitos e símbolos para compartilhar e informar ideias abstratas e valores desenvolvidos por meio do pensamento. Observamos que a Teoria dos Campos Conceituais “não é uma teoria especifica do campo matemático” (VERGNAUD, 1990, p.155); apesar de ter sido iniciada com o objetivo de explicar os processos conceituais das estruturas aditivas e multiplicativas, das relações número-espaço ou da álgebra, tal teoria pode ser agregada a outros campos das ciências. O autor propõe estudar um Campo Conceitual ao invés dos conceitos, pois considera que, em uma dada situação, podemos observar vários conceitos envolvidos, e, a partir dos conceitos, somos conduzidos às várias outras situações. As situações podem propiciar a percepção das conexões existentes entre esses conceitos, assim como o desenvolvimento e a assimilação desses conceitos, observadas, por exemplo, durante a resolução dos problemas. 2.1 Conhecimento O autor entende por conhecimento o saber fazer com os saberes expressos, ou seja, o conjunto dos saberes ligados às nossas competências, que são traduzidas em termos dos conhecimentos que obtemos com nossas experiências pessoais, adquiridas ao longo de nossa vida. Tais saberes podem ser observados na tomada de decisões ou no ato da realização de uma situação. O saber fazer traduz os nossos repertórios, os conhecimentos que estão ligados às nossas competências e que, por muitas vezes, não conseguimos explicar e nem expressálos por meio da linguagem natural. Já os saberes expressos são as formas com as quais o estudante apresenta seus conhecimentos por meio dos símbolos ou algoritmos. Uma das principais finalidades na Teoria dos Campos Conceituais é permitir a compreensão das “filiações e as rupturas entre o conhecimento dos estudantes” (VERGNAUD, 1996, p.155). Esses conhecimentos podem ser apresentados pelos estudantes da seguinte maneira: 44 ...explícito, no sentido que eles podem expressá-lo de forma simbólica (língua natural, esquema e diagrama, sentenças formais, etc.)... implícito, no sentido que eles podem usá-lo na ação, escolhendo as operações adequadas, sem serem capazes de expressar as razões para esta adequação. Santana (2010, p.30, apud VERGNAUD,1988a,p.141). Entende-se que essas são as formas de conhecimento que controlam as interações do sujeito com o objeto, segundo Brousseau (1996): a forma explícita, que é o saber apresentado de maneira declarativa; a forma implícita, pelas representações, os esquemas, o modo de fazer, que se apresenta de maneira processual. O conhecimento consiste ao mesmo tempo de significados e de significantes: ele não é formado somente de símbolos, mas também de conceitos e de noções que refletem ao mesmo tempo o mundo material e a atividade do sujeito nesse mundo material (VERGNAUD, 2009 p.19). De acordo com o autor, a análise da interação da criança com o conhecimento ocorre por meio de suas ações nas tarefas escolares como, por exemplo, por meio de situações diversas, como desenvolvimento operatório e discussões com o grupo de alunos e com o professor. ...os conhecimentos que essa criança adquire devem ser construídos por ela em relação direta com as operações que ela, criança, é capaz de fazer sobre a realidade, com as relações que é capaz de discernir, de compor e de transformar, com os conceitos que ela progressivamente constrói. (VERGNAUD, 2009 p.15). Vale salientar a importância de o professor compreender e analisar como seus alunos aprendem e desenvolvem os conceitos matemáticos, para que ele possa efetivamente ter condições de criar situações diversas para o trabalho em sala de aula, com objetivo de auxiliar seus alunos em seu processo de desenvolvimento cognitivo. ...somente um conhecimento claro das noções a ensinar pode permitir ao professor compreender as dificuldades encontradas pela criança e as etapas pelas quais ela passa... (VERGNAUD, 2009 p.15). Vergnaud estrutura um sistema de organização do processo do conhecimento, no qual podemos destacar, para posterior análise nesse trabalho, os 45 conceitos, as situações-problema, os esquemas, os invariantes operacionais (explícitos e implícitos), ligados aos conceitos em ação e os teoremas em ação. 2.2 Conceito Para Vergnaud (1996) o conceito é constituído por uma relação de três elementos que são representados por C = (S, I, s) sendo: S = conjunto de situações que dão sentido ao conceito; I = conjunto dos invariantes que são a conexão entre os teoremas e os conceitos, estes encontrados nas operacionalidades dos esquemas (os significados), que são representados pelas proposições, as funções proposicionais e os argumentos; s = conjunto das formas linguísticas e não linguísticas que permitem representar simbolicamente o conceito (o significante) – símbolos ou signos. Para “estudar o desenvolvimento e o funcionamento de um conceito, no decurso da aprendizagem ou quando de sua utilização” (VERGNAUD, 1996, p.166), se faz necessário considerar a relação dos elementos constituídos no conceito. s Significante I Significado s Conjunto de situações Figura 1- Relação dos elementos constituídos no conceito Fonte: Acervo pessoal 46 O autor afirma que, para o sujeito, “o sentido de um conceito está fortemente associado à atividade de resolução de problemas” (VERGNAUD, 1996, p.57). Portanto, a compreensão do sentido inicial dos conceitos e dos teoremas matemáticos pode ser desenvolvida pelo aluno dentro do contexto de situações problemas. “Um conceito não pode ser reduzido à sua definição, principalmente se nos interessarmos por sua aprendizagem e seu ensino. É através das situações e dos problemas a resolver que um conceito adquire sentido para criança” (VERGNAUD, 1996, p. 156). Segundo Vergnaud (1996), o papel do conhecimento só pode ser avaliado de maneira correta quando atribuímos um lugar central para as ações do sujeito. O conhecimento só pode ser racional quando operatório. Destacam-se duas classes de situações: Na primeira, o sujeito dispõe, no seu repertório, da resposta imediata da situação; Na segunda, o sujeito não dispõe das competências necessárias, levando a um tempo maior de reflexão, podendo ser levado ao sucesso ou ao fracasso. Vergnaud (1996) considera os Campos Conceituais como sendo um conjunto de problemas ou situações, no qual podem estar presentes vários conceitos, procedimentos e representações interligados uns aos outros. Esses conceitos são estabelecidos em situações-problema, e a sua utilização no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos pode propiciar a percepção das conexões existentes entre esses conceitos. Essas conexões podem ser observadas durante a resolução dos problemas, assim como o desenvolvimento e a assimilação desses conceitos. Dessa maneira, temos como principal sujeito desse processo o professor, que tem como tarefa apresentar situações desafiadoras, na intenção de despertar em seu aluno as potencialidades para o surgimento e aquisição do conceito e sua estrutura. 47 Vergnaud (2009, p.17), em sua análise dos campos conceituais, destaca que um dos grandes problemas encontrados na didática “é o de colocar em evidência a ordem pela qual as noções podem ser adquiridas pela criança”; porém, destaca que essa análise da ordem das noções não é o suficiente, essa conquista se faz por meio de tarefas escolares diversas, estudo de situações novas, manipulações operatórias, lições do professor, análise e discussões coletivas, exercícios. Vejamos algumas questões importantes que devemos levar em conta para uma análise das tarefas escolares (VERGNAUD, 2009, p.17): Que relações e noções devem ser compreendidas pela criança para que ela tenha sucesso na tarefa? Qual é o critério de sucesso estabelecido? Pode-se, de acordo com o caso, pedir-lhe para procurar um resultado, ou explicar como esse resultado foi encontrado, ou provar (fazer demonstração) que ele é correto ou, ainda, encontrar todos os meios de chegar ao resultado. Em que condições a tarefa é executada? Em um trabalho individual, em cooperação com um pequeno grupo, com toda a classe, com ou sem a ajuda do professor? O autor entende que essa análise delineia os caminhos de uma pesquisa, pois é por meio dela que se pode observar os saberes do indivíduo, bem como mudar as estratégias de ensino ou até mesmo complementar as tarefas para oferecer alternativas para o desenvolvimento cognitivo do sujeito. 2.3 Esquemas A noção de esquema apresentada pelo autor está associada à forma de “organização invariante do comportamento para uma determinada classe de situações.” (VERGNAUD, 1998, p.167, tradução nossa). A compreensão e o funcionamento do conhecimento podem ser observados por meio da organização dos conceitos colocados em prática pelos alunos. 48 “O conceito de esquema é o conceito mais importante para a psicologia cognitiva [...]” (VERGNAUD, 1998, p.173); assim, torna-se importante conhecer os diferentes componentes de um esquema; o pesquisador apresenta como ingredientes: 1. metas e antecipações, podem ser entendidas por escolhas e tomadas de decisões, que o estudante define para a resolução de uma situação; 2. regras de ação, busca de informações e controle dos resultados da ação, do tipo “se...então” que constituem a parte dos esquemas; 3. invariantes operacionais, são os conceitos implícitos e explícitos, por meio dos quais se pode obter as informações necessárias para as aferições quanto às metas que deverão ser alcançadas e às regras de ações adequadas; 4. possibilidades de inferência, questões ligadas ao raciocínio desenvolvido pelo sujeito por meio de cálculos, informações e invariantes operacionais de que ele dispõe. Organizamos nossos pensamentos frente a situações-problema por meio dos esquemas, usando os chamados invariantes operacionais, que podem ser explícitos, traduzidos por símbolos ou ações efetivadas na resolução dos problemas, baseados em conceitos em ação ou implícitos, identificados nas ações do processo de resolução desencadeadas pelos alunos ao realizarem operações de forma mais ou menos sistemática, baseadas em descobertas intuitivas ou conhecimentos anteriores, os chamados teoremas em ação. Vergnaud (1996) ainda explica que é por meio dos esquemas organizadores que as competências matemáticas são sustentadas, destacando dois tipos de esquemas: os esquemas da enumeração, que podem ser observados em situações de contar objetos, coordenação dos movimentos como olhos, gestos do dedo ou da mão e por meio da linguagem (um, dois, três...); 49 os esquemas de resolução, que são representados, por exemplo, por equações algébricas do tipo (ax+b = c), parâmetros (a, b, c-b), ou seja, a escrita algébrica efetuada pelos alunos. “O funcionamento cognitivo do aluno comporta operações que se automatizam progressivamente” (VERGNAUD, 1996, p.158); por meio das resoluções do sujeito podemos observar visivelmente algumas manifestações, como por exemplo, a passagem de um número positivo do segundo membro para o primeiro membro, nas decisões conscientes que levam em conta valores particulares das variáveis da situação. Porém “os esquemas nem sempre são algoritmos” (VERGNAUD, 1998, p.171); explica o autor que os esquemas são encontrados nos modos pelos quais as pessoas organizam seus pensamentos frente a situações, usando os chamados invariantes operacionais (referentes ao entendimento, à organização e à atuação). Os esquemas, para ele, podem ser atividades perspectivas-gestuais, verbais ou sociais, motoras ou organizativas da conduta do sujeito. Os esquemas perceptivo-gestuais, chamados assim por Vergnaud (1998), muitas vezes são apresentados na matemática por meio das contagem de um dado conjunto de objetos, ou desenhos por meio de um gráfico ou diagramas. Também temos os esquemas verbais e esquemas sociais que são: a narrativa de uma história, um discurso, uma formulação de sentenças, a fala, e a cooperação. Segundo o autor: “ao desenvolver seus esquemas, os alunos se tornam capazes de enfrentar situações cada vez mais complexas (em geral, tarefas e problemas). Novos esquemas não podem ser desenvolvidos sem novos invariantes operacionais (conceito e teorema – em – ação)...” (VERGNAUD 1998, p.180, tradução nossa). Portanto, os esquemas tomam um papel importante na aprendizagem do aluno, pois se constituem em um dos meios para a observação do desenvolvimento do sujeito em busca da resolução para uma dada situação e na organização dos 50 invariantes, permitindo, assim, uma melhor compreensão dos conceitos e teoremas aplicados por eles. Do ponto de vista educacional, assim referido por Vergnaud (1998), é importante o momento que uma dupla ou mais alunos estão trabalhando juntos em uma dada situação, pois permite a percepção do desenvolvimento dos esquemas verbais e sociais e também dos esquemas matemáticos por eles mobilizados. 2.4 Invariantes Operacionais Segundo Vergnaud (1998) os invariantes operacionais são constituídos de teoremas em ação e conceitos em ação, que, por sua vez estão presentes nos esquemas. Os invariantes operacionais podem ser implícitos quando fazem parte dos esquemas em ação do aluno, por meio das operações escolhidas no momento da resolução e, muitas vezes, não são percebidos por ele em suas ações, podendo ser reconhecidos em termos de objetos e propriedades do problema; podem ser explícitos quando expressos de forma simbólica, (linguagem natural, esquemas e diagramas, sentenças formais). Fundamentalmente, existem três tipos fundamentais de invariantes (VERGNAUD, 1996, p.163): Invariantes do tipo <<proposições>>, podendo ser verdadeiras ou falsas, sendo os teoremas em ação deste tipo; Invariantes do tipo <<função proposicional>>, não são verdadeiros ou falsos, mas constituem tijolos indispensáveis à construção das proposições; Invariantes do tipo <<argumentos>>: quem diz função proposicional e proposição, diz argumentos. Em matemática, os argumentos podem ser objetos do tipo (a caixa à esquerda), personagem (Ana e mais velha que Juana,), números (6+5 = 11), relações (menor que, maior 51 que; é uma relação assimétrica), e mesmo proposições (5 é divisor de 20, 4 é múltiplo de 2). Para o autor “estas distinções são indispensáveis à dialética [...]”(VERGNAUD, 1996, p.165), pois em matemática isso explica que as proposições podem ser transformadas em argumentos. Outro fator discutido pelo pesquisador “é que um conceito em ação não é propriamente um conceito, nem um teorema em ação é um teorema”. (VERGNAUD, 1996, p.165), pois, na ciência, tanto um teorema como um conceito podem ser explícitos como também podem ser discutidos quanto à sua veracidade. Nessa perspectiva, Vergnaud (1998) traz dois conceitos importantes que são a base para o entendimento desta teoria: os teoremas em ação e os conceitos em ação que discutiremos a seguir. 2.5 Teorema em ação e conceito em ação Segundo Vergnaud (1996) um conceito em ação não é um conceito propriamente dito, bem como um teorema em ação não é um teorema. Um conceito em ação é um conceito (objeto ou predicado) implicitamente tido por pertinente, e teorema em ação é uma proposição tida por verdadeira (Vergnaud, 1996, p.178). Os conceitos em ação e os teoremas em ação na ciência são explícitos, podendo ser discutidas a sua pertinência e verdade. Eles “constituem apenas a parte visível do iceberg da conceituação”. (VERGNAUD, 1996, p.165). Essa parte escondida que o autor destaca é constituída pelos invariantes operatórios que estão integrados nos esquemas, auxiliando os conhecimentos explícitos como (proposições, funções proposicionais, objetos-argumentos). É na diversidade das situações que se pode observar a operacionalidade do conceito em ação, segundo Vergnaud (1996); diante disso se torna necessária a análise do pesquisador nas ações e esquemas, na intenção de compreender o cognitivismo deste ou daquele conceito. 52 Conceitos em ação: são invariantes operacionais, componentes essenciais dos esquemas; por meio desses invariantes podemos selecionar objetos, predicado, categorias (relevantes), enfim, a seleção das informações disponíveis em uma determinada situação apresentada pelo sujeito. Teoremas em ação: são proposições, que podem ser caracterizadas como verdadeiras ou falsas mediante seu domínio; nas atividades do sujeito são tomadas como instrumento operatório, ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelos alunos, quando esses optam por uma ou mais operações para resolver determinada situação e que fazem parte também dos esquemas. Os objetos: na matemática são relações, propriedades, proposições, funções proposicionais, do tipo argumento. Quando o autor se refere ao objeto, este está aplicado ao conhecimento que, por sua vez, sempre será um objeto na situação, na qual não há uma ordem linear para as cognições dos sujeitos, mas há uma grande influência na forma com que o conhecimento é construído por parte do estudante. Vergnaud observa uma relação lógica entre: conceitos em ação e teoremas em ação. Este explica que “não há proposições sem funções proposicionais e nem funções proposicionais sem proposições” (VERGNAUD, 1998, p.164). Entendemos que os conceitos em ação e os teoremas em ação são instrumentos que possibilitam a análise do professor, tanto para observar as estratégias de seus alunos e os procedimentos dos mesmos, quanto para propor situações que levem o aluno a expandir e aprimorar seus conhecimentos. 2.6 Situações O autor apresenta o conceito de “situação” no mesmo sentido dado pelos psicólogos, ou seja, relacionada aos processos cognitivos e às respostas que os sujeitos apresentam quando confrontados com alguma situação. Este termo para o autor está propriamente ligado à ideia de “tarefa”; para Vergnaud (1996) o termo 53 tarefa está associado à uma ferramenta auxiliadora das situações e dificuldades conceituais, com as quais os alunos são confrontados. ...as situações complexas são uma combinação de relações elementares, e não é possível contornar a análise das tarefas cognitivas que estas relações permitem gerar... (VERGNAUD, 1996, p.178). Sendo assim, as situações podem ser combinadas de duas maneiras: a primeira, direcionada para o sujeito que já possui em seu repertório certos conhecimentos, e a segunda, para o sujeito que não possui todas as competências necessárias, o que o coloca em um momento de reflexão sobre suas ações, como foi dito na discussão dos conceitos. O autor ainda traz outras duas ideias para o sentido de situação, são elas: Variedade: baseada em várias situações dentro de um campo conceitual, tornando-se um conjunto de categorias de situações possíveis. História: são os conhecimentos pré-estabelecidos, construídos por meio de suas experiências, ou pelas primeiras situações confrontadas, dando sentido ao conceito que se pretende ensinar. (VERGNAUD,1996, p.171). A combinação dessas duas ideias torna-se necessária para uma investigação na observação e análise das resoluções dos estudantes, pelo fato de que a ideia de variedade nos orienta para a análise das possíveis soluções, enquanto que, com a de história, buscamos conhecimentos e procedimentos operacionais com os quais os alunos se deparam. 54 Quadro 6 – Esquema dos conceitos do Campo Conceitual Fonte: Acervo pessoal 2.7 Campos Conceituais Aditivos e Multiplicativos Para Vergnaud (1996) um Campo Conceitual Aditivo é formado por um conjunto de situações nas quais estão envolvidas as operações de adição, subtração ou a combinação de ambas. As operações de multiplicação e divisão, ou a combinação delas, são estudadas no chamado Campo Conceitual Multiplicativo. É importante apresentarmos a ideia que o autor traz sobre medida para a Teoria dos Campos Conceituais. Para ele “uma medida é um número associado a um objeto” (Vergnaud, 2009, p.156). As operações práticas de mensuração são importantes, pois elas permitem colocar em evidência, pela manipulação, esse fato fundamental de que uma medida é um número associado a um objeto. 55 Os estudos a respeito das operações de adição ou multiplicação permitem estabelecer classificações que analisem a tarefa cognitiva e procedimentos que possam ser realizados para cada uma delas. A seguir, analisaremos a classificações estabelecidas por Vergnaud. 2.8 O Campo Conceitual Aditivo Na Teoria dos Campos Conceituais Aditivos (T.C.C.A), a classificação estabelecida por Vergnaud (2009) está relacionada a uma diversidade de operações ou relações do tipo: adição; subtração; transformação temporal ; relação de comparação quantificada. Vergnaud (2009) considera ainda: a composição binária de medidas; a operação unária, de inversão, de número natural, números relativos, de abscissa, de deslocamento orientado e quantificado. Outro aspecto importante apresentado por Vergnaud (2009) são as relações ternárias que, para o autor podem representar uma diversidade de situações do tipo aditivo. Ou seja, são situações em que ligam três elementos entre si. Em nosso trabalho utilizaremos os três primeiros aspectos das relações que aparecem no campo aditivo. Para a nossa apresentação é importante conhecer os símbolos que Vergnaud (2009) utiliza para representar cada uma das categorias pelo diagrama que lhe corresponde. 56 Quadro 7 – Códigos utilizados nos diversos diagramas Fonte: VERGNAUD, 2009, p.201 As seis grandes categorias de relações aditivas, segundo Vergnaud, (2009, p.202 – 206) são: Primeira Categoria Medida de duas quantidades para resultar em uma terceira, na qual temos uma medida A que se compõe com uma medida B, resultando em uma medida C. Para esta categoria, Vergnaud propõe o diagrama: 57 A C B Quadro 8 – Esquema correspondente Fonte: VERGNAUD, 2009, p.202 Segunda Categoria Uma transformação opera sobre uma quantidade para resultar em outra. Temos um estado inicial (Ei) que por meio de uma transformação positiva ou negativa (T), resultará em um estado final (Ef). T Ei Positiva ou Negativa Ef Quadro 9 – Esquema correspondente Fonte: VERGNAUD, 2009, p.203 Terceira Categoria Estabelece uma relação entre duas quantidades, onde se tem um referido (R) e uma relação positiva ou negativa (Q) em relação ao referente (Re). 58 Quadro 10 – Esquema correspondente Fonte: VERGNAUD, 2009, p.203 Quarta Categoria Temos duas transformações, e cada uma pode ser positiva, negativa ou positiva e negativa; as transformações se compõem para resultar em outra transformação (Tt). Para este esquema temos (T) que pode vir a ser uma transformação positiva ou negativa, (Tt) que é a transformação total entre os estados, o (Ei) o estado inicial, (Einter) o estado intermediário e (Ef) estado final. T Ei Positiva ou Negativa Einter Tt Quadro 11 – Esquema correspondente T Ef 59 Fonte: VERGNAUD, 2009, p.204 Quinta Categoria Tem-se uma relação dada e se busca uma nova, que é gerada a partir de uma transformação da relação dada. Sendo (T) uma transformação positiva ou negativa, que opera a (TA) estado relativo (uma relação) para resultar em um (TB) estado relativo. Positiva ou Negativa TA TB Quadro 12– Esquema correspondente Fonte: VERGNAUD, 2009, p.204 Sexta Categoria É composta por dois estados relativos (relações), podendo ser positiva-negativa ou negativa-negativa que se compõem para resultar em um estado relativo. Sendo (Ra) e (Rb) um estado relativo que se compõem para resultar em um estado relativo (R). 60 ] Quadro 13 – Esquema correspondente Fonte: VERGNAUD, 2009, p.205 2.9 O Campo Conceitual Multiplicativo Na Teoria do Campo Conceitual Multiplicativo (T.C.C.M.), de acordo com Vergnaud (2009), temos duas grandes relações multiplicativas, as operações de multiplicação e divisão, e um conjunto de situações poderá comportar uma ou mais multiplicações, divisões ou a combinação das duas operações. O autor ressalta que a introdução do conceito de multiplicação, nas séries iniciais, pela escrita tradicional (a x b = c), chamada por ele de relação ternária, não é uma boa representação. Para ele, a mais importante relação que temos é a relação quaternária, que envolve a correspondência de duas medidas como, por exemplo, (pacotes e preço; ou novelos e gramas); isso estabelece os espaços das medidas e as relações entre as quantidades. Concentraremos nossos estudos das estruturas categorias a seguir, estabelecidas por Vergnaud (2009): 1. Isomorfismo de medidas; 2. Caso de um único espaço de medidas; 3. Produtos de Medidas. multiplicativas nas 61 Isomorfismo de medidas Apresenta a ideia de proporcionalidade, na qual estão envolvidos conjuntos de mesma cardinalidade, relacionados (1) por uma multiplicação, (2) por uma divisão e (3) por regra de três. Os problemas mais simples apresentam quatro quantidades, sendo que uma das variáveis é igual a 1. Segundo o autor, cada categoria descrita abaixo se subdivide em várias subcategorias, o que evidencia dificuldades diferentes de acordo com as propriedades numéricas utilizáveis, como, por exemplo, números inteiros pequenos e grandes ou valor unitário decimal. Vergnaud ressalta que esses tipos de subdivisões são mais difíceis para as crianças das séries iniciais, principalmente as três últimas subclasses, que envolvem propriedades numéricas tais como: números decimais, valor unitário inferior a 1 e números de unidades inferior a 1. Os esquemas correspondentes à correspondência dos conjuntos (1) por uma multiplicação, (2) por uma divisão e (3) por regra de três podem ser representados como segue. 62 1 b Multiplicação Divisão: busca do valor unitário Divisão: busca da quantidade de unidades a x x b 1 x c x 1 a Quadro 14 – Esquema Correspondente Fonte: Vergnaud, 2009, p.261 Produto de Medidas Trata de uma relação ternária entre três quantidades. Aqui surgem os conceitos de combinatória, áreas, volume e outros conceitos físicos. Destacam-se, em nosso experimento, problemas relacionados à ideia de combinação e organização retangular, de acordo com autor: Combinação: formação de subconjuntos, ou seja, relação ternária entre três quantidades, em que uma é o produto das duas outras ao mesmo tempo. 63 Organização retangular: quando este se divide em quadrados (linhas e colunas), mostra-se que a medida da superfície é o produto da medida da grande dimensão (comprimento) pela medida da pequena dimensão (largura), tanto no plano das dimensões como no plano numérico. Organização Retangular Produto Cartesiano Quadro 15 – Esquema correspondente Fonte: Vergnaud, 2009, p.254 – 255. Proporção Múltipla Está relacionada à ideia do isomorfismo de medidas, bem como aos produtos de medidas. Os tipos de problemas desta categoria apresentam dois domínios de grandezas (ou mais), que podem ser discretas ou contínuas, independentes entre si, sem nenhuma relação funcional entre elas. Outro ponto a destacar são as expressões linguísticas do tipo “o dobro”, “três vezes a mais”, “duas vezes a menos” as quais aparecem nos enunciados dos problemas; o 64 autor chama atenção para o fato de que essas expressões não são usadas nos problemas classificados como isomorfismos de medidas, a não ser quando se explicita o papel dos operadores escalares que são verbalmente indicados pela palavra “vezes”. Vergnaud (2009) distingue três classes de problemas para as proporções múltiplas, sendo que duas são do tipo de divisão: a r Multiplicação b x a x X q X q Divisão: busca de uma medida b r 65 a r X x Divisão: busca de um escalar b s Quadro 16 – Esquema de correspondente Fonte: Vergnaud, 2009, p.263 O autor refere-se também à forma verbal das perguntas explicitadas nos problemas, como, por exemplo, perguntas do tipo “quanto de tecido” que se remete a busca de uma medida e “quantas vezes mais” em busca de um escalar. 66 CAPÍTULO III 3. UMA INTRODUÇÃO AOS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO – CIENTÍFICO NA PERSPECTIVA DE JEROME BRUNER. O pensamento lógico – científico, por muitas vezes, é traduzido por sentenças matemáticas como “fiz uma conta de mais”, “dividi tal número por outro”, ou por meio da escrita “23+45”, “12:6”. Compreendemos que somente por meio do pensamento lógico-científico não conseguimos identificar quais foram as estratégias utilizadas pelo aluno. Dessa maneira observamos, pela nossa experiência como docente no ensino da Matemática, que não há um olhar para o desenvolvimento das narrativas na sala de aula e, para que ocorra a construção dessa narrativa, ela pode ser iniciada por meio do diálogo na relação professor – aluno e aluno-aluno e no coletivo. Acreditamos que seja relevante, para a aprendizagem da matemática, o incentivo às manifestações dos alunos e ao desenvolvimento do pensamento narrativo juntamente com o pensamento lógico-científico, pois é a partir das manifestações e narrativas que podemos explorar os significados das estratégias utilizadas, bem como buscar a compreensão das representações simbólicas e as interações entre alunos e alunos e professores no trabalho em sala de aula. Utilizaremos em nosso trabalho alguns aspectos da teoria de Bruner no que se refere aos modos dos pensamentos narrativo e lógico-científico, com ênfase naqueles que serão utilizados na análise dos protocolos da pesquisa. Um dos motivos de escolhermos a teoria de Bruner é a valorização das verbalizações e da narrativa no contexto social do ser humano. Acreditamos que a verbalização ou a narração são fatores importantes para análise e compreensão do raciocínio matemático na aprendizagem dos alunos. No nosso trabalho, analisaremos as manifestações dos alunos no diálogo com seus colegas ou com o pesquisador durante a resolução dos problemas propostos. Pode ser uma alternativa para que o professor reestruture sua metodologia, e propicie ao aprendiz a oportunidade para o desenvolvimento dos vários aspectos do pensamento narrativo, ou seja, que, por meio da fala, ele possa explicar seu raciocínio matemático e estratégias empregadas na resolução dos problemas. Neste momento o professor estará dando a voz ao aluno e analisando, por meio de elementos do diálogo ou da narração, os possíveis 67 esquemas utilizados por ele na resolução apresentada para o problema. O processo da análise das manifestações ou verbalizações poderá favorecer o professor na busca da superação das dificuldades apresentadas pelo aprendiz no que se refere à aprendizagem matemática. Jerome S. Bruner é doutor em psicologia, mas se destacou na área da Educação, graças à sua participação no movimento da reforma curricular, ocorrida nos EUA, na década de 60. Embora sua teoria apresente semelhanças com a de Jean Piaget, Bruner apresenta um caráter contextual dos fatos psicológicos no processo de desenvolvimento do ser humano, enquanto Piaget apresenta a maturação e a interação do sujeito com o meio em que vive. Bruner considera, além do pensamento lógico-científico, o pensamento narrativo; o pensamento lógicocientífico é caracterizado pela sua verificação empírica e argumentações teóricas e o pensamento narrativo pela sua verossimilhança, baseado na construção da realidade, não se importando com a verificação empírica ou com os requisitos lógicos. Entendemos, como Bruner, que o pensamento lógico – científico e o pensamento narrativo são complementares, porém, um não se reduz ao outro, e diferem pelos procedimentos de verificação. Os dois pensamentos se ajustam à necessidade do indivíduo, apresentando passagens distintas ao fornecer conhecimentos para a organização da realidade; ambos, para o autor, utilizam-se das pressuposições, nem que seja com a intenção de brevidade ou para convencer as pessoas por meio de argumentações diversas, pelo uso de uma linguagem de consistência e de não contradição, no pensamento lógico-científico ou por sua verossimilhança, no narrativo. Tanto o pensamento narrativo quanto o pensamento lógico – científico podem ser apresentados por meio da linguagem. Já dizia o linguista Hjelmslev que “a linguagem é inseparável do homem, segue-o em todos os seus atos” (Hjelmslev apud Chaui, 2007, p.2012). A linguagem traz a ideia de um fio condutor na organização dos nossos pensamentos e a maneira pela qual o ser humano se comunica com tudo aquilo que faz parte do mundo, seja nas relações com outras pessoas, na vida social e política, ou na arte. Portanto, a linguagem além de ter como papel a comunicação e suas várias formas de representação, auxilia o 68 pensamento, para que o individuo possa verbalizar ou descrever o que está fazendo, na intenção de esquematizar e controlar atos que não domina completamente. Bruner observa que a linguagem tem um papel essencial na narrativa, sendo que, para ele, a narrativa é um modo de pensamento, pois apresenta características básicas de se organizar em diversos níveis, “permitindo ir dos sons da fala, passando pelos níveis intermediários, e chegar até as intenções de atos de fala e discurso” (Bruner, 2002, p.23). Para Vergnaud (1996), no campo da matemática a linguagem tem diversas funções, desde as informações que podem ser expressas por argumentos, conjecturas, propriedades, proposições e teoremas, até as operações do pensamento, que, segundo ele, são as informações, inferências, aceitações ou recusas e a organização das etapas, do tipo, “tenho isso, faço isso, para obter isso...” Entendemos que a linguagem apresenta-se como a base do pensamento narrativo, o qual dará suporte para que o aluno consiga realizar conexões com conceitos formais, ou seja, o pensamento narrativo coordena nosso conhecimento, em direção a um processo de aprendizagem que, por sua vez, cria conexões também com o pensamento lógico-científico, este representado por meio da linguagem simbólica e escrita. Em nossa análise destacaremos as formas de exteriorização do pensamento nas falas e nos registros dos sujeitos, observando tanto a linguagem oral quanto os registros, ou seja, a linguagem simbólica, traduzidas pelas situações propostas aos grupos. Com base nos modos dos pensamentos narrativo e lógico – científico (ou paradigmático) estabelecidos por Bruner (2002) apresentamos o esquema a seguir. 69 Pensamento Lógico Científico Pensamento Narrativo Pensamento Narrativo Linguagem Figura 2 – Esquema dos modos do Pensamento Fonte: Acervo pessoal Para entendermos esses modos de pensamento, detalharemos primeiramente, o narrativo que “é o menos compreendido dos dois” (BRUNER, 2002, p.16) e, em seguida o lógico – científico. 3.1 O Pensamento Narrativo Bruner traduz a narrativa como sendo: ... um modo de pensamento, caracterizando-se como uma estrutura, tendo como função organizar nossos conhecimentos e como uma direção, no processo de educação (Bruner, 2001, p.117). O pensamento narrativo para Bruner (1991) ajuda a produzir uma versão da realidade, e sua aceitação depende mais da convenção, da necessidade e dos sentidos que atribuímos a ela, do que de sua verificação empírica ou de seus requisitos lógicos. Ou seja, o significado da narrativa corresponde “ao modo como a narrativa opera como instrumento do pensamento ao construir a realidade” (p.6) (BRUNER apud Freitas, et.al 2007, p.63). 70 A narrativa é justificada pelos fatos, tais fatos podem ser inesperados ou algo que o ouvinte tenha motivo (grifo nosso) para duvidar; a tarefa do motivo da narrativa é resolver o inesperado, eliminar a dúvida do ouvinte, corrigir ou explicar o “desequilíbrio”, que é o motivo pelo qual a história foi contada. Esquema na figura 3. Figura 3- Esquema da organização da narrativa Fonte: Acervo pessoal Bruner (2002) destaca três características do discurso narrativo (o desencadeamento da pressuposição, a designação de uma disposição e a perspectiva múltipla) que utilizaremos para a nossa análise: - o desencadeamento da pressuposição: é a concepção de significados implícitos (que são invariáveis) ou não explícitos, podendo ser verdadeiros ou falsos. Essas pressuposições denominadas “expressões herdadas”, podem levar o leitor a anulação de sua interpretação. Podemos encontrar esse tipo de pressuposição tanto nos registros apresentados por alunos como também pelo seu discurso ao apresentar a resolução de problemas. É interessante ressaltarmos que, para Bruner (2001), tanto o pensamento narrativo como o lógico - científico extraem proveito da pressuposição, ainda que com o propósito de brevidade. Outro ponto a ser destacado é que Vergnaud (1990) também traz essa caracterização dos significados (explícitos e implícitos) em sua teoria dos Campos Conceituais, como sendo os Teoremas em Ação e os Conceitos em Ação. 71 - Designação de uma disposição: considera a descrição da realidade por meio de um filtro da consciência dos protagonistas da história, ou seja, a interpretação que cada sujeito apresenta da sua leitura. Vergnaud (1996) destaca a importância da história e da variedade no processo do conhecimento e das respostas do sujeito frente às situações que são apresentadas a eles. A ideia de variedade vem de encontro com as várias situações dentro do campo conceitual, tornando-se um conjunto de categorias de situações e a importância da história, conhecimentos pré-estabelecidos, construídos por meio das experiências do sujeito. Essas duas ideias facilitam a investigação do pesquisador: a variedade, no sentido de analisar as possíveis soluções num dado campo conceitual e a história, na procura de conhecimentos operacionais e a verificação de regularidades, seja na forma de abordar ou de tratar uma mesma situação. - perspectiva múltipla: considera o mundo como não tendo um único significado, mas por meio de um conjunto, ou seja, cada sujeito de acordo com suas experiências pode apresentar vários significados para explicar uma ação ou um estado. Na teoria de Vergnaud encontramos essa perspectiva múltipla empregada nas situações, onde o autor destaca que para uma determinada situação podemos obter vários significados, bem como para um significado poderão existir várias situações. Neste contexto, percebemos o quanto podemos explorar as sequências de manifestações ou narrativas no desenvolvimento cognitivo dos nossos alunos em sala de aula, no processo ensino aprendizagem. O autor reafirma nossa ideia de que a narrativa em sala de aula é considerada como uma ferramenta, pois ela pode, “transformar os eventos que estamos explorando e nossa forma de olhar para eles” (BRUNER, 2001, p.122) na intenção de entendermos o que pode ser duvidoso e deslocado e que, portanto, precisa ser esclarecido para os alunos. Logo, ensinar por meio da narrativa é reconsiderar todo o processo envolvido, construir juntamente com os alunos ao invés de simplesmente expor conceitos, acontecimentos acabados ou demonstrações, que são encontrados em livros didáticos ou em manuais. 72 A estrutura está, por assim dizer, na cabeça. Ser capaz de “ir além das informações” dadas para se “descobrir as coisas” é uma das poucas eternas alegrias da vida. Um dos grandes triufos de se aprender (e de se ensinar) é organizar as coisas em sua cabeça de uma forma que permita que você saiba mais do que “deveria”. (BRUNER, 2001, p.125). De acordo com o autor, é por meio do que já se conhece que devemos começar a “normalmente aprender, transformamos nossos esforços de compreensão científica na forma de narrativa ou, digamos, de “heurísticas narrativas” (Bruner, 2001, p.122), por meio de regras, que levam a descobertas, ou a resolução de problemas. Dentro deste contexto, “a mente de uma criança não passa para níveis superiores de abstração como a maré alta”. (Bruner, 2001, p.118). Portanto, cabe ao professor promover métodos que aprofundem a organização dos níveis em que as crianças se encontram em trajetória escolar. O autor destaca também “nove maneiras pelas quais as interpretações narrativas dão forma às realidades que criam” (Bruner, 2001, p.129). Apresentaremos aqui apenas seis delas, aquelas que julgamos importantes para a nossa análise. Particularidade genérica: As narrativas podem ser tratadas ou realizadas pelos detalhes apresentados, nos quais se evidenciam as características que podem conduzir à prática da narrativa e que nos levarão à sua interpretação. Em um texto ou narrativa podemos destacar duas características: o seu enredo ou sua forma de contar e a forma de extrair sentido do texto, como sendo um tipo de “representação” do mundo. Destacaremos, em nossa análise, a particularidade genérica contida nas manifestações de nossos alunos ao contar sobre as tomadas de decisões para as resoluções dos problemas realizadas por eles individualmente e em dupla, e também como as circunstâncias culturais podem afetar tanto no sentido positivo como negativo as suas resoluções de problemas, quando por eles verbalizado. Ações têm motivos: É por meio dos “estados intencionais” como crenças, desejos, teorias, valores e outros que as narrativas são produzidas para expressar o entendimento que se tem de algo. Esses estados não dão a orientação da ação ou a direção dos 73 eventos de uma narrativa. A narrativa busca motivos e não causas, entretanto esses motivos não deixam de ser os estados intencionais que se encontram por trás das ações e que implica escolhas. Em nossa análise buscaremos, nas verbalizações ou manifestações dos alunos, observar os motivos das ações, seja por experiências extras escolares, ou pelas teorias e conceitos matemáticos pré - existentes apresentados de maneira implícita ou explícita. Percebe-se que o desencadeamento da pressuposição proposto por Bruner (2001), está relacionado à teoria dos Campos Conceituais tratada por Vergnaud (1996) quando este se refere aos teoremas em ação e os conceitos em ação. Composição hermenêutica: A composição para a narrativa sugere que nenhuma história tenha apenas uma interpretação exclusiva, ela pode apresentar vários significados, a princípio. “Todo narrador possui um ponto de vista, e nós temos um direito inalienável de questioná-lo” (Bruner, 2001, p.133). Portanto, o objetivo da análise é considerar os detalhes que compõem a história, uma leitura que propicie uma explicação convincente e não contraditória do seu significado; isto cria o famoso “circulo hermenêutico”. Em nossa pesquisa observaremos as interpretações feitas pelos alunos e as estratégias que irão utilizar para a resolução a partir da leitura dos problemas, na intenção de examinar as diversas interpretações e como eles lidam com os significados da história do problema. Ambiguidade de referência: Trata a narrativa de modo a seu tema estar sempre aberto a algum questionamento. As manifestações narrativas tornam-se apenas uma forma pela qual o sentido se expressa, podendo ser simplificadas ou detalhadas. Analisaremos a ambiguidade de referência mediante as palavras contidas no texto do problema, o sentido ou significado que elas têm para os alunos, e se isso, de alguma maneira dificulta ou favorece a interpretação deles na leitura dos problemas propostos e na busca da sua solução, como, por exemplo, identificar 74 palavras que podem possuir uma ambiguidade na interpretação do aluno dentro do contexto do problema: combinação, ganhou, mais, menos, entre outros. A centralidade do problema: O formato do problema narrativo não é definitivo, nem histórica nem culturalmente. Ele expressa um tempo e uma circunstância; as “mesmas” histórias mudam e suas interpretações também, mas sempre com um resíduo do que prevalecia antes. Usaremos essa característica para verificar se os alunos, ao lerem e interpretarem o problema, ou após discuti-lo com o pesquisador ou com o colega, conseguem extrair dele o que é central em busca de sua resolução. Negociabilidade inerente: Bruner explica que o “desenvolvimento do entendimento social das crianças torna claro que a negociação narrativa começa cedo e é onipresente” (2001, p.137). Portanto, podemos considerar várias interpretações narrativas de modo a atribuir a flexibilidade necessária à coerência. Observaremos a negociabilidade nas discussões sobre as resoluções dos problemas entre pesquisador e aluno, e aluno e aluno, de forma a analisar as discussões pertinentes para cada problema, por meio da narrativa. Mediante a exposição dos aspectos do pensamento narrativo, analisaremos os diálogos e as interações dos alunos e aluno - professor, observando as interpretações realizadas e os conceitos matemáticos existentes, embasados nas características da narrativa que sugerem uma orientação para a representação dos significados do texto e maneiras pelas quais a narrativa dá forma à realidade, ou seja, os elementos essenciais para a interpretação na elaboração de conceitos. 3.2 O Pensamento Lógico-Científico Antes de falarmos do pensamento lógico - científico, é importante entendermos o significado da lógica. De acordo com Chaui (2012), a expressão “lógica” indica, num sentido amplo, algo evidente, expondo conclusões de um 75 raciocínio implícito, que ocorre pelo discurso de interlocutores. As palavras lógico e lógica usadas pelas pessoas apresentam quatro significados de acordo com (Chauí,2012, p.121): 1º- inferência: se conhecemos x então, podemos concluir que y é uma consequência imediata. 2º - exigência de coerência: visto que x é assim, é preciso que y seja assim; 3º - a exigência de que não exista contradição frente ao que se sabe de x é a conclusão y a que chegamos; 4º - exigência de que, para compreender a conclusão y, devemos entender o suficiente sobre x para conhecer por que se chegou a y. Esses são os significados que autora chama de noções implicitamente pressupostas, que utilizamos para afirmar que algo é lógico ou ilógico. Chaui (2012) explica o significado das palavras lógica e ilógica, na filosofia grega como sendo uma tradição de pensamento que se originou da palavra lógos (significando “linguagem-discurso e pensamento-conhecimento”). Bruner (2001) apresenta em sua teoria Modos do Pensamento essa originalidade da filosofia grega quando ele associa o pensamento científico ao discurso. Cabe ressaltar que o discurso para a dialética platônica apresenta-se como sendo um diálogo: [...] compartilhado por dois interlocutores, ou uma conversa em que cada um possui opiniões contrárias e chegar à unidade de uma ideia que é a mesma para ambos e para todos os que buscam a verdade. (Chauí, 2012, p.122). Assim, esse discurso é apresentado como a prática do pensamento e da linguagem, ou seja, “um modo de pensar que opera com os conteúdos do pensamento e do discurso” (Chauí, 2012, p.124), sendo um instrumento a oferecer meios para a realização do conhecimento em forma de discurso. 76 Outro elemento importante a destacar, segundo a autora, é o objeto da lógica que é a preposição, que apresenta, por meio dos elementos da linguagem, os juízos estabelecidos pelo pensamento. Esse juízo constitui o raciocínio que evidencia a lógica por meio da conexão de preposições; essas conexões são chamadas de silogismos. O silogismo é constituído pela operação do raciocínio do pensamento, por meio de juízos e preposições encadeadas, que estão vinculadas ao pensamento científico. Neste contexto expomos as considerações de Bruner para o pensamento lógico – científico. O pensamento lógico – científico, também chamado por Bruner de paradigmático, é por ele relacionado, por exemplo, à forma de pensar dos físicos e matemáticos, que está ligada mais diretamente ao uso da lógica. No entanto, não queremos deixar a impressão de que esta forma de pensamento está ligada somente ao trabalho dos cientistas, esse modo de pensamento pode ser desenvolvido por qualquer pessoa. Para o autor o pensamento lógico - científico: [...] emprega a categorização ou a conceituação e as operações pelas quais as categorias são estabelecidas instanciadas, idealizadas e relacionadas umas as outras para formar um sistema. (Bruner, 2002, p.13): Dessa forma o pensamento lógico – científico associa-se ao discurso teórico e ao logos (a palavra escrita ou falada), ou seja, são utilizados argumentos para estabelecer “o ideal de um sistema formal e matemático de descrição e explicação”, (BRUNER, 2002, p.13). O modo lógico - científico faz o uso de procedimentos para assegurar e para testar a veracidade empírica, para tratar de causas genéricas (BRUNER, 2002). Entendemos que este modo é construído por hipóteses fundamentadas cientificamente e por dados observáveis aos quais suas afirmações básicas se referem, ou seja, a linguagem é ajustada por coerências e nãocontradição. 77 Bruner (2002) apresenta algumas características para diferir o pensamento lógico - científico do pensamento narrativo, como por exemplo, o termo “então” que é utilizado diferentemente na proposição lógica, “se x, então y”, levando a busca de condições universais. Afirma que as hipóteses científicas ou matemáticas são formadas por pequenas histórias ou metáforas e que, aos poucos, vão alcançando sua maturidade científica por um processo de conversão em verificação formal ou empírica. Segundo Bruner (2002) “as crianças que são inicialmente fracas no modo lógico-científico evoluem de modo a se tornar bastantes boas nele quando podem ser induzidas a usá-lo”. Portanto, para o autor “a aplicação imaginativa do modo lógico - científico leva à boa teoria, à análise profunda, à prova lógica, ao argumento legítimo e à descoberta empírica guiada por hipóteses racionais” (p.14). Nesse sentindo, entendemos que, para a nossa análise, é importante compreender a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógicocientífico. Ambos estão ligados ao discurso e é por meio deles que podemos observar os conceitos e teoremas que supostamente podem estar envolvidos nas soluções e explicações da resolução de problemas matemáticos realizadas pelos alunos. Essa análise dará a possibilidade de identificarmos as formas de linguagem oral e simbólica. Entendemos que, de acordo com o estudo da Teoria de Bruner, o conhecimento matemático é apresentado pelo pensamento narrativo, enquanto a descrição mais elaborada deste conhecimento se dá de maneira lógica e classificatória por meio do pensamento lógico - científico. Portanto, procuraremos, em nosso trabalho, observar como o pensamento matemático evolui do modo narrativo para o lógico – científico, observando alguns elementos da narrativa e como essa observação pode auxiliar o aluno e o professor no desenvolvimento da aprendizagem. 3.3 O Diálogo Neste trecho destacamos algumas considerações ao que se refere ao diálogo, pois acreditamos que este também é, em parte, uma construção narrativa. 78 Vejamos o significado da palavra diálogo que vem do grego diálogos [διά = através e λογόι = palavra, conhecimento], pelo latim dialogus). 1. Entendimento através da palavra, conversação, colóquio, comunicação. 2. Discussão ou troca de idéias, conceitos, opiniões, objetivando a solução de problemas e a harmonia. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1logo- acesso em: 12 maio, 2013). Entende-se que o diálogo é constituído entre dois indivíduos ou mais por meio de uma conversação, sendo expresso por meios linguísticos, segundo Cotrim et. al.(2010). Mediante essa expressão linguística podemos notar diversas relações de trocas de conhecimento que os indivíduos venham a possuir, seja por meio de experiências já vivenciadas por ele ou através de conhecimentos formais. Destacamos a seguir um trecho que, para Contrim et. al (2010) é fundamental em uma conversação: É seguir oscilando entre uma visão e outra, entre um pensamento e outro, escutando objeções, duvidando novamente, voltando a questionar, procurando ver algo que talvez não esteja sendo observado, mas que tenha importância para compreensão das coisas. CONTRIM,2010,p.51. Para Contrim (2010) o diálogo de Socrátes, foi defendido de maneira explicita como métodos para atingir um conhecimento mais profundo, essencial e verdadeiro sobre as coisas, acreditando radicalmente no poder da conversação. Acreditamos que o diálogo pode ser um dos meios para se trabalhar em sala de aula, quando tratamos de resolução de problemas matemáticos, levando a compreensão de conceitos e a construção desses em sala de aula. Assim, o professor, que tem como papel mediar esse processo de ensino aprendizagem de seus alunos, pode vir a conduzir seus alunos a compreender os problemas por meio de um diálogo, com as perguntas que o conduzam de forma a evidenciar as contradições e os problemas que aparecem a cada resposta, motivando o aluno a utilizar e desenvolver habilidades de raciocínio, criar momentos de refutação ou contestação entre aspectos que são importantes para o entendimento da construção dos conceitos matemáticos. Acreditamos que o diálogo pode favorecer a autonomia 79 dos alunos, para estabelecer comparações, deduções e relações, o que poderá vir a ajudar a aprendizagem que se pretende, e levar à formação de novos vínculos de amizade e confiança entre professor e aluno. 80 CAPÍTULO IV 4. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE MATEMÁTICA: UMA REFERÊNCIA PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS. Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (1997) estão embasados em pesquisas, práticas e debates que ocorreram nos anos anteriores à sua publicação, visando propor um instrumento que propicie uma ação coletiva na busca de soluções para o ensino dessa área, com a intenção de tornar os conhecimentos matemáticos acessíveis a todos os alunos. O papel da matemática no ensino fundamental na formação intelectual do aluno, é considerado importante na estruturação do pensamento, na agilização do raciocínio na aplicação a problemas, ambos empregados em situações problemas da vida cotidiana, atividades voltadas para o mundo do trabalho e a construção do conhecimento em outras áreas. Conforme as orientações destacadas nos PCN’s (1997) as variáveis envolvidas nesse processo do conhecimento são o professor, aluno e o conhecimento matemático e suas relações. O papel do professor é identificar as características dessa ciência, os métodos, ramificações e aplicações presentes; conhecer a vida dos alunos no que se refere aos conhecimentos científicos pré-existentes, as condições sociológicas, psicológicas e culturais e ter a clareza de suas próprias concepções sobre a Matemática, tendo em vista que as práticas em sala de aula estão ligadas às concepções das escolhas pedagógicas, à definição de objetivos e conteúdos de ensino e às formas de avaliação. A relação entre o aluno e o saber matemático deve apontar capacidades de natureza prática para lidar com a matemática; reconhecer a capacidade de este lidar com um dado problema, buscando estabelecer relações entre o já conhecido e o novo; estabelecer relações ao novo conhecimento e o conhecimento prévio e relacionar ideias matemáticas entre si, e demais conhecimentos e situações do cotidiano. 81 Nas relações entre o professor e o saber matemático, cabe ao professor realizar o papel de mediador, apresentar um sólido conhecimento de conceitos e procedimentos e uma concepção de matemática como uma ciência dinâmica e aberta; realizar a transposição didática, ou seja, a transformação do saber científico em saber escolar; estabelecer a integração do conhecimento aprendido, transferindo para outros contextos. Nas relações professor-aluno e aluno-aluno, o papel principal do aluno é como protagonista, sendo as principais ações realizadas por ele. Já o professor atua como organizador, facilitador, mediador, incentivador, estimulador da cooperação, avaliador do processo, promotor de interações entre os alunos, conhecedor de seus alunos e das mudanças da adolescência, criando um ambiente de trabalho estimulante. É fundamental para o professor conhecer diversas maneiras de trabalhar em sala de aula para possibilitar que o aluno construa sua prática, observando que não existe um caminho para que esse processo de ensino ocorra. Assim os PCN’s de matemática (1997) apontam os caminhos para fazer a matemática em sala de aula por meio da resolução de problemas, história da matemática, tecnologias da informação e recursos aos jogos. Trataremos, neste capítulo dos PCN’s apenas da resolução de problemas como recurso no processo ensino aprendizagem, que é o foco do nosso trabalho. Segundo os PCN’s (1997), tradicionalmente, a utilização dos problemas em sala de aula não vem desempenhando seu papel de ensino; estes são utilizados, em geral, como forma de aplicação ou para aplicação de conhecimentos já existentes. Hoje observamos que, em muitos livros didáticos, os conceitos a serem ensinados partem da discussão de um problema e ao longo das explicações os alunos vão realizando a construção desses conceitos e, como propostas de atividade, os textos propõem uma lista de problemas em que o aluno tende a aplicar os conceitos apresentados. Portanto, “...o que o professor explora na atividade matemática não é 82 mais a atividade, ela mesma, mas seus resultados, definições, técnicas e demonstrações” (PCN’s de Matemática, 1997, p.43). Assim, de acordo com os PCN’s o saber matemático: [...] não se apresenta ao aluno como um sistema de conceitos, que lhe permite resolver um conjunto de problemas, mas como um interminável discurso simbólico, abstrato e incompreensível (PCN’s, 1997, p.43). Quando pensamos em resolução de problemas como uma proposta de ensino, observamos alguns princípios apresentados nos PCN’s de matemática (1997, p.43): O ponto de partida da atividade matemática não é a definição, mas o problema. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, ideias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos precisem desenvolver algum tipo de estratégias para resolvê-las; O problema certamente não é um exercício em que o aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo operatório. Só há problema se o aluno for levado a interpretar o enunciado da questão que lhe é posta e a estrutura a situação que lhe é apresentada; Aproximações sucessivas ao conceito são construídas para resolver um certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza o que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, retificações, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode observar na história da Matemática; O aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo de problemas. Um conceito matemático se constrói articulando com outros conceitos, por meio de uma série de retificações e generalizações; A resolução de problemas não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas. Segundo os PCN’s dentre esses princípios percebe-se que um problema matemático necessita de um conjunto de ações e operações organizadas entre si, para se obter a solução. Por isso, os problemas que são propostos aos alunos precisam apresentar um real desafio e não ter somente a intenção de aplicações de regras matemáticas. 83 Para se resolver um problema pressupõe, diante dos PCN’s (1997, p.44) que o aluno: Elabore um ou vários procedimentos de resolução (como, por exemplo, realizar simulações, fazer tentativas, formular hipóteses); Compare seus resultados com os de outros alunos; Valide seus procedimentos. O papel pedagógico dos problemas em sala de aula passa a ser concebido como uma sucessão de adaptações que o aluno realiza sob a influência de situações que ele vivência na escola e na vida cotidiana, como se, em cada momento, entrasse uma nova cena, não só de conhecimentos anteriores, como também a capacidade de coordenar e adaptar informações em face de uma nova situação. "Para tal, o ensino de matemática prestará sua contribuição à medida que forem exploradas metodologias que priorizem a criação de estratégias, a comprovação, a justificativa, a argumentação, o espírito crítico e favoreçam a criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e a autonomia advinda do desenvolvimento da confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar desafios. "(PCN's, 1997, p.31). Percebemos que as orientações dos Parâmetros Curriculares de Matemática, em relação à proposta de trabalho utilizando a resolução de problemas, estão de acordo com a Teoria dos Campos Conceituais que justamente discute a importância do entrelaçamento dos conceitos e a sua relação e os Modos do Pensamento Narrativo e Lógico - Científico que estão presentes no desenvolvimento narrativo do aluno pela sua maneira de interpretar as situações presentes e a de expressar verbalmente a linguagem matemática. Entretanto, o professor deve observar que não existem regras ou técnicas para serem seguidas ou aplicadas pelo aluno; mediante os PCN’s (1997), o importante é estimular os alunos a questionar suas próprias respostas aos problemas, ao ponto de que eles evidenciem um ensino e aprendizagem não pela reprodução de conceitos e sim pela via da ação refletida que constrói o conhecimento. 84 4.1 Considerações ao Currículo do Estado de São Paulo: Matemática e suas tecnologias. O novo Currículo de Matemática “prioriza a competência de leitura e escrita” (SEE, 2010, p.7), tornando assim a escola como espaço de cultura em que se permite a articulação das competências e os conteúdos disciplinares. As competências e habilidades que serão desenvolvidas ao longo da vida escolar do aluno lhe propiciarão condições para que ele adquira autonomia, competência para realizar a leitura crítica do mundo, questionamentos, inferências, compartilhamento de ideias, ou seja, as condições para atuar na sociedade que dependerá dele. Coordenado pelo professor Nilson José Machado SEE (2010), o Currículo de Matemática do Estado de São Paulo traz a visão de uma educação à altura dos desafios contemporâneos, tendo a preocupação com: “as características cognitivas e afetivas que são cada vez mais valorizadas, como a capacidade de resolver problemas, trabalhar em grupo, continuar aprendendo e agir de modo cooperativo, pertinentes em situações complexas”. (SEE, 2010,p.8). Tais preocupações devem estar relacionadas ao currículo e as competências de referencias que são estabelecidas por uma tríade assim colocada pela (SEE, 2010, p.13): a) O adolescente e as características de suas ações e pensamentos; b) O professor, suas características pessoais e profissionais e a qualidade de suas mediações; c) Os conteúdos das disciplinas e as metodologias para seu ensino e aprendizagem. Visando essa tríade, a escola tem que estar atenta às competências que devem ser trabalhadas e referenciadas no currículo. Dentre tantas competências que devem ser trabalhadas destacamos a competência da leitura e da escrita, que julgamos de suma importância, pois esta viabiliza a interação do discurso, diálogo entre os diversos eixos da vida social e proporciona “o desenvolvimento cognitivo do indivíduo” (SEE, 2010, p.15). 85 Dessa maneira acreditamos que o trabalho proposto com resolução de problemas em sala de aula por meio do diálogo, leva o professor a entender os esquemas dos pensamentos traduzidos pelos alunos e promover o desenvolvimento de narrativas, e propicia ao aluno a oportunidade de verbalização e esclarecimento dos conceitos matemático, como já dito no currículo de matemática: da SEE (2010) “...na construção dos significados, uma ideia norteadora é a de que as narrativas são muito importantes, são verdadeiramente decisivas na arquitetura de cada aula...tento em vista a construção do significado...” (p.45). Nas orientações curriculares do ciclo I (2008) são apresentadas três vias fundamentais no processo de ensino: aluno, professor e conhecimento matemático, sendo o professor o mediador entre o conhecimento e o aluno. Neste sentido é importante levarmos em consideração os obstáculos envolvidos neste processo de maneira a entendermos como ocorre a aprendizagem do aluno. Para que esse processo aconteça é importante que se estabeleçam relações entre o conteúdo a ser ensinado e a vivência do aluno, de forma a contextualizar e descontextualizar, garantindo que o mesmo possa observar as regularidades, a realização de conexões a outros assuntos e situações. Assim, tendo o professor como mediador, o aluno passa a ser o agente da sua própria construção do conhecimento. Segundo a orientação da (SEE - Ciclo I,2008,p.24): ...o aluno será agente da construção do seu conhecimento quando, numa situação de resolução de problemas, ele é estimulado a estabelecer conexões entre os conhecimentos já construídos e os que precisa aprender. ...é importante observar que acontece aprendizagem na interação entre alunos. A cooperação entre pares, na busca de soluções, o esforço em explicitar o ensinamento e compreender o do outro, favorecem a reestruturação e ampliação do próprio pensamento. De acordo com as orientações para o ciclo I (SEE,2008,p.24), relativas ao ensino da matemática, destacamos as situações-problema, que trazem a importância do trabalho do professor no que refere-se a 86 Interpretação dos enunciados orais e escritos, desenvolvendo procedimentos para planejar, executar e verificar soluções (formular hipóteses, fazer tentativas ou simulações), para comunicar resultados e compará-los com outros, validando ou não os procedimentos e as soluções encontradas. Comunicar-se matematicamente apresentado resultados precisos, argumentar sobre suas hipóteses, fazendo uso da linguagem oral e de representações matemáticas e estabelecendo relações entre elas. Sentir-se seguro para construir conhecimentos matemáticos, incentivando sempre os alunos na busca de soluções. Interagir com seus pares de forma cooperativa na busca de soluções para situações-problemas, respeitando seus modos de pensar e aprendendo com eles. Reiteramos que neste currículo proposto pela SEE, temos dois aspectos que julgamos necessários e importantes nesse desenvolvimento cognitivo do aluno no que tange a integração da língua corrente e a linguagem matemática: O debate e o diálogo, as perguntas que desmontas as frases feitas, a pesquisa, entre outras, seriam formas de auxiliar o aluno a construir um ponto de vista articulado sobre o texto. [...] o aluno deixaria de ser mero espectador ou reprodutor de saberes discutíveis para se apropriar do discurso, verificando a coerência de sua posição em face do grupo com quem partilha interesses. (SEE, 2010, p.17) ...o domínio das linguagens representa um primordial elemento para a conquista da autonomia, a chave para o acesso a informações, permitindo a comunicação de ideias, a expressão de sentimentos e o diálogo, necessário à negociação dos significados e à aprendizagem continuada. (SEE, 2010, p.17) A utilização do diálogo, da interpretação textual e da linguagem como estratégias em sala de aula poderá conduzir o aluno à verbalização, e ser um facilitador para que este desenvolva a capacidade de expor suas ideias, argumentos e decisões, levando-o ao desenvolvimento da formação crítica, do raciocínio lógico, da capacidade de sintetizar e tomar decisões por meio dos conhecimentos que já lhe são disponíveis e, assim, promover a apropriação de novos conceitos. 87 CAPÍTULO V 5. METODOLOGIA Para responder às nossas questões de pesquisa: A identificação de algumas características do pensamento narrativo, nas manifestações dos alunos durante a resolução de problemas no campo aditivo e multiplicativo pode auxiliar o professor em sua prática educacional e no processo ensino aprendizagem do educando? A identificação dos componentes dos esquemas mobilizados no encaminhamento da resolução dos mesmos problemas, favorece a compreensão do professor enquanto mediador do processo ensino aprendizagem? escolhemos uma turma de 30 estudantes, do ensino fundamental, do 5º ano (4ª série) de uma Escola Estadual da Grande São Paulo. Esta unidade escolar pertence à Diretoria de Ensino de Itapecerica da Serra e atende alunos do Ensino Fundamental 1º ao 5º ano e Educação Especial. A localização da escola é central, e os professores efetivos são a maioria no corpo docente. 5.1 Metodologia Adotada Nossa pesquisa é do tipo qualitativa, assim classificada, segundo Gil (2010), pelo seu delineamento. A pesquisa qualitativa é considerada como uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que não pode ser traduzida em números e não necessita de um tratamento estatístico. Segundo o autor, a peça chave da pesquisa qualitativa é o pesquisador, pois é este que vai analisar o estudo diante dos dados coletados, considerando todos os pontos de vista relevantes, levando em conta o processo e os significados que são pontos essenciais na abordagem. A coleta de dados incluiu uma entrevista semiestruturada, para a qual construímos um roteiro básico, com algumas perguntas norteadoras, que foram complementadas por outras questões, mediante a necessidade do desenvolvimento 88 da entrevista com os alunos. Com esse instrumento “podem emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas”. (MANZINI,1990,1991,p.154). A entrevista semiestruturada dá ao entrevistado a possibilidade para expor suas ideias, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador. A escolha da entrevista semiestruturada se deu pela possibilidade de, no momento da entrevista com o sujeito, podermos esclarecer alguns aspectos das respostas, orientações e aprofundamentos das discussões, investigação, ou ainda definir novas estratégias. Nossa preocupação na entrevista está em retratar o ponto de vista e a interação entre pesquisador-aluno e aluno-aluno de forma analisar aspectos narrativos no diálogo dos alunos ao resolver os problemas e suas respostas aos questionamentos postos pelo pesquisador. 5.2 Desenvolvimento da Pesquisa Os problemas foram escolhidos de acordo com as classificações de Vergnaud para as estruturas aditivas, envolvendo a combinação das seis categorias relacionadas aos problemas aritméticos por ele chamados “complexos”, por apresentar varias relações e várias questões possíveis e para as estruturas multiplicativas, problemas do tipo isomorfismo de medidas, produtos de medidas e proporção multiplicativa, ligadas aos conceitos de proporcionalidade, organização retangular e combinatória. Utilizaremos para a nossa análise o registro filmado das atividades, de forma a gravar os diálogos e observar as atuações individuais, em dupla e interações nas duplas e os protocolos das resoluções dos problemas apresentados pelos alunos. Quanto às transcrições da verbalização dos alunos apresentada na pesquisa, tentamos descrever os diálogos na sua forma original, evitando recortes das verbalizações. As pronuncias das palavras foram mantidas. Destacamos que a filmadora estava apenas focalizando as expressões e as linguagens dos entrevistados, e do entrevistador, apenas a fala. 89 Figura 4 - Esquema da aplicação do experimento seguindo a classificação de Vergnuad (2009) para os problemas aditivos e multiplicativos. Fonte: Acervo pessoal No capítulo da análise, temos a apresentação dos registros feitos pelos entrevistados em uma folha de atividade e no quadro das transcrições os alunos foram indicados com siglas como (A1, C3, E4 e outros) e o pesquisador com (P). Nosso experimento se desenvolverá com as atividades distribuídas segundo o resumo da (figura 4) a seguir: No primeiro grupo (Figura 4), os três alunos trabalharam individualmente com apenas dois problemas, um aditivo que está relacionado aos problemas aritméticos complexos que envolvem a (1ª categoria e 2ª categoria) e o outro multiplicativo (combinatório) e, após a resolução, formulamos algumas questões do tipo “Relate a história do problema...?, O que temos que resolver...?, Explique sua resolução.”, observando o desencadeamento das explicações e as tomadas de decisões para as resoluções propostas dos alunos. 90 No segundo grupo, (Figura 4) tínhamos três duplas de alunos que resolveram dois problemas; o primeiro envolvendo a (4ª categoria) e o segundo multiplicativo (organização retangular); após o término da resolução o pesquisador fez algumas perguntas: “Você tem alguma outra ideia para resolver...?, Explique para o seu colega como você pensou., Você concorda com a ideia do seu colega?” de modo a esclarecer as manifestações sobre as decisões tomadas pelos alunos durante as resoluções buscando o desenvolvimento da identificação dos “conceitos estratégicos” que são a origem do pensamento e do raciocínio lógico e que poderão permitir a verificação da passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico - científico. Para o terceiro grupo, (Figura 4) no primeiro momento entregamos para cada aluno um problema do tipo (problemas aritméticos complexos seguindo a 2ª categoria e a 1ª categoria) e (proporcionalidade), que foi resolvido individualmente pelos alunos; ao término da resolução os alunos formaram duplas e cada aluno relatou o seu problema e a sua resolução para o colega. O pesquisador realizou algumas perguntas como: “Você conhece alguma operação (ões) correspondente à sua representação? Qual(is) foi (foram) a(s) operação (ões) que vocês utilizaram?” e analisou a explicação dos alunos e os registros da interação entre eles. Na 4º etapa, (Figura 4), escolhemos dois problemas: um problema aritmético complexo do campo aditivo, envolvendo comparação com composição e transformação e um problema do campo multiplicativo classificado como proporção múltipla. Os três grupos participaram da 4ª etapa. O desenvolvimento das atividades seguiram os mesmos procedimentos das etapas anteriores de acordo com os grupos. Nesta etapa, o pesquisador pode observar todos os alunos na resolução de um mesmo problema, levando em conta as resoluções individuais do grupo 1, em dupla do grupo 2 e individual com interação do grupo 3, na intenção de observar o desenvolvimento das discussões e soluções individualmente, dupla e com interação. 91 5.3 Público Alvo Participaram dessa nossa pesquisa 30 alunos do ensino fundamental I do 5º ano (antiga 4ª série). No momento da transcrição da nossa intervenção, dada a extensão do conjunto de dados, optamos por escolher apenas três alunos em cada etapa, levando em conta as discussões que mais se destacaram. Teríamos um conjunto muito extenso de dados para análise caso realizássemos a transcrição dos diálogos de todos os participantes. Nos quadros abaixo seguem a organização das escolhas dos alunos. 1ª Etapa: Individual Quantidade de alunos Quantidade de alunos participantes escolhidos G1: Adição 10 3 G1: Multiplicação 10 3 Grupos/Problemas 2ª Etapa: Dupla G2: Adição 10 3 G2: Multiplicação 10 3 3ª Etapa: Individual com Interação G3: Adição 10 3 G3: Multiplicação 10 3 Quadro 17 - Organização da escolha dos alunos para análise. Fonte: Acervo pessoal 92 4ª Etapa Grupos/Problemas Quantidade de alunos Quantidade de alunos participantes escolhidos Individual G1: Adição 10 3 G1: Multiplicação 10 3 Dupla G2: Adição 10 3 G2: Multiplicação 10 3 Individual com Interação G3: Adição 10 3 G3: Multiplicação 10 3 Quadro 18 – Organização da escolha dos alunos para análise Fonte: Acervo pessoal 5.4 Descrição da aplicação A escolha da escola se deu em razão de ser considerada, pela comunidade, uma boa escola, tanto no aspecto administrativo como na condução educacional. A recepção da pesquisadora pelos gestores da unidade escolar, foi marcada de extrema colaboração e interesse, proporcionando ao pesquisador a ajuda necessária para a aplicação do experimento. Levamos em conta, para a escolha da sala que participou da pesquisa, a disponibilidade do pesquisador, que era o período da manhã e, em relação à escolha da sala, deixamos a critério da coordenadora. Contamos com a colaboração da professora titular da sala, que também não poupou esforços para facilitar o trabalho com os alunos. O pesquisador teve um momento com a professora titular da sala, com o acompanhamento da coordenadora da escola, em uma reunião para que pudéssemos explicar qual era o objetivo e estabelecer os horários para conduzir a aplicação do experimento, de forma que não atrapalhasse a rotina das aulas diárias. Quanto à recepção dos alunos, foi extraordinária, eles demonstraram total interesse e ficaram muito a vontade com a presença do pesquisador. Para aplicação do experimento, a escola disponibilizou a sala de informática. Como utilizamos a gravação em vídeo para registrar o experimento, alguns vídeos 93 saíram com ruídos dos barulhos externos e da entrada na sala de alguns professores que utilizavam o computador para imprimir atividades para os alunos de outras salas. Isso ocorreu poucas vezes; alguns vídeos também ficaram meio escurecidos pela falta de iluminação adequada da sala para esse tipo de gravação. Já em relação à aplicação, tentou - se a todo instante manter a postura de pesquisador, porém na análise notamos em alguns pontos dos diálogos, o pesquisador assumindo o papel de professor em sala de aula, aquele que tem a preocupação de que seu aluno entenda o que está sendo proposto, tomando todo cuidado para explicação em relação às dúvidas e buscando meios alternativos, por meio da linguagem, para que se estabelecessem os significados que eram necessários para o entendimento da resolução dos problemas. Acreditamos que isso não chegou a prejudicar a nossa análise. O tempo de duração das aplicações, para cada aluno, foi em torno de vinte minutos a quarenta minutos, dependendo muito da postura do aluno no momento da resolução. Já o tempo de duração desse experimento foi de cinco meses, sendo que achamos de extrema importância ter algumas pausas para reavaliação da postura do pesquisador, das perguntas que eram direcionadas e das previsões quanto às dificuldades dos alunos. Quanto à quantidade de alunos participantes: conseguimos que todos participassem, registramos a falta de cinco dos trinta alunos na última fase, em razão da finalização do experimento ter ocorrido no final do ano, nas últimas semanas de aula. No que se refere à escolha dos alunos para realizarmos a transcrição: utilizamos três alunos do grupo 1, três duplas do grupo 2 e três duplas para o grupo 3 e para 4º etapa, utilizamos o critério de mesma quantidade de alunos para cada etapa. Para a escolha desses alunos, assistimos aos vídeos por diversas vezes, realizando a escolha dos alunos levando em conta as discussões estabelecidas, os conceitos matemáticos que se destacavam, sejam eles por explicação ou por falta de conhecimento, a postura dos alunos, as estratégias realizadas por eles e as dificuldades que apresentavam no momento da resolução. 94 CAPÍTULO VI 6. ANÁLISE Vamos iniciar a análise lembrando alguns aspectos considerados importantes por (Vergnaud, 2009, p.17), no desenvolvimento das tarefas escolares, ou seja, o que levamos em consideração enquanto pesquisadores. Primeiramente, procuramos identificar, no decorrer dos diálogos com o aluno, quais as relações e noções que deveriam ser compreendidas por ele para que alcançasse o sucesso em sua atividade. Segundo, procuramos entender os conceitos e significados explicitados pelos alunos nas verbalizações, tanto na forma escrita, quanto explicativa, não levando em consideração os erros ou acertos e sim a compreensão de tais ações, na intenção de entendermos os meios utilizados por ele para chegar ao resultado correto ou incorreto. Levamos, finalmente, em conta, as condições em que as atividades foram executadas, individualmente, em dupla e com interação entre dois alunos, com a participação do pesquisador dirigindo as discussões e os questionamentos. Analisaremos as soluções dos alunos em quatro etapas, na intenção de observar e comparar o desenvolvimento dos diálogos com as estratégias utilizadas para a resolução dos problemas utilizando instrumentos (papel e lápis). A primeira análise foi do primeiro grupo, no aspecto individual, a segunda análise do segundo grupo (em duplas), a terceira, uma análise do trabalho individual e posteriormente, da interação dos alunos quanto à explicação da resolução do problema e por fim, uma análise dos três grupos na resolução de dois problemas que foi comum a todos. Nossa análise está dividida em três colunas, a primeira apresenta a transcrição dos diálogos dos alunos e as intervenções do pesquisador, na segunda coluna temos a análise feita de acordo com Bruner (2001) em que apontamos as características do discurso narrativo e destacamos as maneiras pelas quais a interpretação narrativa dá forma às realidades que criam, observando a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico-Científico. Na terceira coluna 95 temos a análise feita, segundo Vergnaud, (1996, 1998, 2009) em que observamos os esquemas, invariantes operacionais e os conceitos e teoremas em ação. 6.1 Atividade Individual: 1ª ETAPA 6.1.1 Análise do Grupo 1 (Individual): Problema do campo aditivo Nesta primeira etapa propusemos para os alunos trabalharem individualmente o problema descrito no quadro abaixo. De acordo com os estudos realizados da Teoria de Vergnaud, temos que este problema segue a estrutura dos problemas aritméticos complexos envolvendo a 1ª categoria (2009, p.269-276). Objetivo do problema: Este problema teve como objetivo verificar os conceitos dos alunos em relação à estrutura parte-todo. O problema envolve quatro partes sendo que uma destas é desconhecida. Quadro 19 - Problema do Campo Aditivo aplicado para o Grupo 1 Fonte: Adaptação do problema de (Magina,et.al, 2008,p.39) 96 Aluno A1 Figura 5 - Resolução do problema pelo aluno A1 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno A1 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Conseguimos identificar, por meio do diálogo, que o aluno observou a correspondência de cada valor e identificou a Centralidade do Problema, ao relatar que o problema quer saber a quantidade da quarta caixa. Conceito em Ação informações do problema que foram levantadas por meio da leitura e interpretação do aluno. Observamos que o aluno destaca a (subtração, a divisão e a adição) para resolver o problema. Ele mostra, neste diálogo, que está organizando seus esquemas em busca da resolução; podemos destacar a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico - científico. Além disso, temos a Particularidade Genérica: ao analisarmos o diálogo do aluno percebemos que este, ao responder a pergunta do pesquisador, apresenta em sua Nesta verbalização temos os invariantes operacionais do tipo <<argumentos>>: o aluno, em sua verbalização, destaca as operações e procedimentos que ele está mobilizando para aplicar, na resolução do problema. P: Você irá ler o problema em voz alta e explicar o que entendeu. Após a leitura, o pesquisador pergunta: O que aconteceu? A1: Ele tinha uma coleção de carrinhos de 112 e ele separou em cada caixa, que são quatro caixas. Uma 45, 26 e 18, só que é para a gente saber, quanto tem na quarta caixa. P: Como a gente pode resolver esse problema? A1: Então se faz 45 – 26 depois o que der desse – 18, ou se não?! Dividi em quatro caixas, 112?! Deixa eu ver?! Somar 45 e 26 e 18 e menos, depois o que sobrar a gente faz com o outro para ver quanto que ele colocou na outra caixa. 97 fala características importantes para organizar seus esquemas em busca da resolução. P: Então pode fazer. O aluno começa a registrar o cálculo. A1: Se deu oitenta e nove e tem 112 então...dá 23. Nesta parte, segundo o autor, identificamos os componentes de um esquema, a regra de ação, busca de informação e controle dos resultados da ação, do tipo “se...então” que fazem parte dos esquemas. P: Conta então como você fez? Explica para mim? A1: Eu somei esse aqui e deu 89, e eu contei 3 e deu 10 mais 10 que da 20 e mais 3 que deu 112. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este em que o aluno explica a estratégia adotada para o cálculo realizado para se chegar a solução. 6.1.2 Observações sobre o comportamento do aluno A1 Mediante a atividade proposta, o aluno realizou a leitura em voz alta e, conforme o pesquisador questionava o aluno, este responde imediatamente. É interessante destacar que, solicitado a expor a sua solução, o aluno fica por alguns instantes em silêncio e imediatamente coloca a mão na testa e dirige o olhar para a atividade, realizando novamente uma leitura silenciosa. Em seguida, pega o lápis e acompanha, pela segunda vez, a leitura. Após um tempo o aluno começa a explicar o problema sugerindo algumas resoluções, mas o seu comportamento demonstra que ainda possui algumas dúvidas referentes à operação que deve ser feita. No momento da resolução, o aluno pronuncia em voz alta os cálculos, utiliza os dedos para contagem. Após a resposta final, o pesquisador pede para que ele explique; o aluno vai acompanhando seu registro para explicar sua solução para o pesquisador. 98 Aluno A2 Figura 6 - Resolução do problema pelo aluno A2 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno A2 P: Lê em voz alta e me conta antes de você resolver, o que você entendeu? A2: Ele tinha 112 e o problema quer que eu descubra os números que já estão aqui e faça o que ele colocou na última caixinha e que não está aqui. Análise de acordo com Bruner Encontramos, no diálogo do aluno, as suas interpretações e observações em relação à correspondência de cada valor, identificando a centralidade do problema, ao contar que, para resolver, deve procurar o valor da quarta caixa. P: Como iremos fazer? Qual é a sua ideia para resolver o problema? Você pode desenhar ou registrar? A2: Eu pego o quatro e (o aluno fica olhando para atividade e pensando). P: Você que fazer primeiro para depois explicar? A2: Aqui tem que pegar o 112 e dividir por 4. Análise de acordo com Vergnaud O aluno apresenta os esquemas de numeração, quando inicia a exposição de sua tomada de decisão, mas não a completa, pois, aparentemente, ainda tem dúvidas sobre qual operação deve realizar para solucionar o problema. Ao apresentar uma determinada operação para a solução do Logo, após o questionamento do pesquisador, o aluno 99 problema, podemos destacar uma característica do discurso narrativo a designação de uma disposição: por meio da leitura, o aluno extrai a sua interpretação. O fato de o aluno apresentar a divisão como solução para o problema pode ter ocorrido por termos, no problema, o dado “quatro caixas” que, por situações já vivenciadas por ele em sala de aula, sugere a realização da divisão. P: Mas quanto que ele tem já? A2: Ele tem no total 98. P: 98? A2: “Não”, ‘de todos os carrinhos que tá aqui’. P: Quanto que era a coleção dele inicialmente? A2: No começo era 112. P: E o que ele fez com a coleção? A2: Ele colocou em quatro caixas. Na primeira ele colocou 42. P: “Quanto ele colocou na primeira”? A2: Na primeira 45, na segunda 26 e na terceira 18. Ah, entendi. (O aluno começa a registrar). P: Quanto que é? A2: 112 dividido por 4. Conforme o pesquisador vai conduzido os questionamentos, o aluno vai acompanhando o raciocínio, mas quando ele é questionado, usa novamente o teorema falso destacado acima, apresentando outra característica da narrativa em seu diálogo, o desencadeamento da pressuposição. apresenta, em sua explicação, o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, que é identificado por questões que estão ligadas ao seu raciocínio e às operações que ele dispõe. Quando ele apresenta a operação de (divisão) como uma possibilidade de resolução para o problema, destacamos o Teorema em Ação (falso): o aluno realiza uma escolha que não condiz com a resolução, ou seja, são relações matemáticas implícitas escolhidas por ele que fazem parte dos seus esquemas. O aluno destaca a soma dos números de carrinhos das três caixas quando o pesquisador pergunta para ele quanto João já tem. O aluno não consegue perceber ainda que não há a necessidade de dividir o total da coleção 112 por 4. Mas ele reconhece que são 98 os carrinhos que foram colocados nas caixas. Apresenta-se o terceiro tipo de invariante <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno novamente destaca o argumento do tipo número, quando este sugere a operação de divisão (112:4), para solução do problema. P: De onde você tirou esses 98? A2: Do total que deu de todos os carrinhos da 1ª, 2ª e 3ª caixa. P: Você fez o cálculo mentalmente? A2: É! P: Como você faz o cálculo mentalmente? A2: Primeiro eu faço só os primeiros números, depois o 20, depois eu peguei o 40, e o 60, ai depois eu peguei o 5..., não eu peguei o 6, 67, 68 e ai eu coloquei embaixo do 5 e mais 10 e mais 8. Segundo Bruner, podemos destacar neste diálogo uma das características da narrativa a Particularidade Genérica, em que o aluno apresenta detalhadamente seus cálculos e a sua maneira de organizá-los mentalmente por meio do diálogo; é importante destacarmos esse trecho, pois ele nos leva à interpretação que a aluno explicitou. Observamos, também, a maneira pela qual o aluno realiza os cálculos mentalmente e a sua explicação de como os estruturou. Percebemos aqui a passagem do Ao explicar como ele faz para calcular mentalmente, encontramos em sua fala os Esquema de numeração, que são realizados por meio da linguagem (20,40,6...), e possibilidades de inferência ao explicar o desenvolvimento para o cálculo que realizou mentalmente. 100 pensamento narrativo para o pensamento lógico – científico, uma vez que conseguimos notar o raciocínio lógico do aluno. A2: Deu 14. P: Responde-me uma coisa, qual foram as operações que você utilizou para responder o problema? A2: Mais. P: Conta de mais. Conte-me agora então como você pensou para resolver o problema? A2: Ah! Eu sempre pego os primeiros números eu fiz peguei o 40 o 20 e o, 10 e deu 80, ai peguei os outros números e deu 98, ai eu contei até 111. P: “Quanto?” A2: 112 e ai deu, 14. Ai, eu fiz a conta de mais. P: E quanto deu a resposta? A2: 14. P: O que o problema tá perguntando? A2: Quanto ele guardou na quarta caixa? P: Quanto foi então? A2: 14. Novamente o aluno apresenta a particularidade Genérica, quando traduz, por meio do diálogo, a forma como pensou para realizar os cálculos. Destacamos esse trecho, pois o aluno apresenta suas estratégias para realizar o cálculo: ele pega todas as dezenas e soma e depois as unidades, realizando agrupamentos. O aluno explica o cálculo que realizou para solucionar o problema, verbalizando os valores que utilizou para os agrupamentos, destacando em seu diálogo os Esquemas de numeração. Questionado pelo pesquisador, o aluno busca no texto o que está sendo perguntado, assim extraindo o que é central, o que é chamado por Bruner em uma análise de narrativa de Centralidade do Problema. 6.1.3 Observações sobre o comportamento do aluno A2 Na leitura, o aluno apresenta uma pequena dificuldade. No início do questionamento, fica em silêncio, olhando para a atividade, logo em seguida começa a explicação, indicando com o lápis os dados do problema, num gesto de acompanhamento do texto. Inicialmente o aluno apresenta como solução a operação de divisão, mas o pesquisador vai questionando novamente até que ele estruture todos os valores principais e resolva calculando mentalmente, apresentando apenas o resultado final da conta. O pesquisador pede para que ele explique como realizou o cálculo, então percebemos que o aluno tem uma grande facilidade para o cálculo mental; em sua explicação, ele destaca a decomposição dos números por dezenas; em alguns momentos, usa os dedos para auxiliar nos cálculos. 101 Aluno A3 Figura 7 - Resolução do problema pelo aluno A3 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno A3 P: Você vai ler o probleminha em voz alta e ai você irá me contar o que entendeu. Agora, conta para mim o que você entendeu do problema. A3: Quase nada. P: Não? A3: Não, não. P: Vamos pensar juntos! O problema fala do que? A3: Que o Luan tinha 112 carrinhos e ele guardou em 4 caixas, na primeira 45 e na segunda 26 e na terceira 18 e na última tem que descobrir. Análise de acordo com Bruner Nesta fala do aluno, percebemos que, no primeiro momento, ele não identificou as correspondências dos valores, não conseguindo, assim, identificar a Centralidade do Problema. No momento que o pesquisador propõe uma maneira de ajudar o aluno a compreender o problema, percebemos em seu diálogo um dos aspectos da narrativa a chamada, por Bruner, Negociabilidade Inerente (2001), de maneira a conduzir o aluno a esquematizar as estratégias para a solução do problema. Observamos, na resposta do aluno que, com o questionamento do pesquisador, ele consegue extrair do problema o que é central, a Centralidade Análise de acordo com Vergnaud 102 do Problema. P: E como a gente pode descobrir? Eu sei quanto tem nas três caixas e sei o valor da coleção toda? A3: Isso. P: E como que eu posso proceder? A3: Você tem que ajuntar esse, com esse e com esse. P: Fala para mim o que é esse com esse, com esse? A3: 45, 26 e com mais 18. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, ligado ao raciocínio do aluno, desenvolvido por meio de cálculos e informações. Destacamos aqui a palavra “ajuntar”. Mediante aos questionamentos do pesquisador o aluno consegue organizar por etapas seus esquemas de resoluções. P: Isso, então faz! A3: Pode fazer aqui? P: Pode. A3: (O aluno utiliza os dedos para contagem). Na última caixa ele colocou 89 carrinhos. P: É isso mesmo? Você somou o que aqui? A3: 45, 26 e 18. Observamos, por meio dos gestos dos dedos, os Esquemas de numeração, para o auxilio dos cálculos realizados pelo aluno e o número pronunciado do resultado final da operação. P: O que são esses valores? São os valores do que? A3: Do que ele guardou nas três caixas. P: Quando você somou esses valores das três caixas, qual foi o resultado que você achou? A3: 89. P: E esses 89, representa o que? A3: O que ele guardou na quarta caixa. P: Esses valores não são os das três caixas? A3: Uhu! P: Você somou, não somou? A3: Uhu! P: Então o valor que você achou e referente ao que? A3: O resto dos carrinhos que ele colocou na quarta caixa. P: “Na quarta caixa?” Se você soma todos esses quatro valores aqui, a primeira, a segunda, a terceira e a quarta caixa, não tem que dar 112? A3: Uhu! P: E vai dar 112 se você for somar tudo? A3: Pode fazer a conta aqui? P: Pode. Faz aqui do lado. A3: Não deu. O pesquisador vai direcionando os questionamentos na intenção de verificar a compreensão que o aluno tem quanto à operação que realizou e o seu resultado. Observamos no decorrer do diálogo, que, para o aluno, o resultado 89 da adição realizado da composição das três caixas era o valor da quarta caixa. Esse diálogo apresenta um dos elementos da narrativa: composição hermenêutica. P: Então, vamos pensar agora novamente! Esses valores, são os Novamente o aluno persiste na interpretação de que 89 é o valor O pesquisador questiona o aluno quanto à sua interpretação anterior, o que o leva a realizar a conta para verificar se realmente o que ele havia afirmado em sua interpretação condiz com o valor da coleção toda, ao compor todos os valores. Percebemos a negociabilidade inerente na interação pesquisador-aluno como forma de conduzi-lo a entender determinados conceitos 103 valores das três caixas, não é isso? A3: Uhu. P: Quando eu somo esses valores das três caixas, eu encontro 89. E esses 89 representam o que? A3: O que ele guardou na quarta caixa. O resto dos carrinhos. P: “Mas, como pode ser o valor da quarta caixa!” Você não somou das três caixas? Então esse valor representa o que? A soma do que? A soma dos carrinhos que tem nas três caixas. A3: É nas três caixas. P: Não é da quarta caixa! Então eu sei quantos carrinhos tem nas três caixas, o total de carrinhos que tem nas três caixas, que é 89. A coleção dele não é 112? A3: Uhu! (balança a cabeça que sim). P: Se eu sei o total da coleção e eu sei o total de carrinhos que tem nas três caixas, como eu posso resolver o problema, para achar o valor da quarta caixa? A3: Eu acho que agora eu entendi. P: É! Então quais valores eu tenho que usar? A3: 45,26 e 18. P: Então, ai você já fez, deu quanto? A3: Deu 89. P: E ai o que eu faço agora? A3: Ai eu vou pegar esse daqui e diminuir com esse. P: Quais são os valores? A3: 45,26,18 e 89. P: “Não!” Esse não é o valor das três caixas? A3: Uhu. P: Quanto que é a coleção toda do Luan? A3: 112. P: Se eu sei o valor das três caixas e eu tenho o total da coleção dele, quais são os valores que eu tenho que usar para fazer a subtração? A3: 89, 45,26,18 e 89 não é? P: Como você vai somar de novo, se esses valores são o das três caixas? A3: Não faço à mínima ideia. P: Vamos desenhar para ver? Faz a primeira caixa. Quantos valores tem na primeira caixa? A3: 45. P: Então coloca dentro do quadradinho. P: Agora desenha a segunda caixa. A3: 26. P: A terceira. A3: 18. da quarta caixa. O pesquisador questiona novamente em busca de um entendimento para a interpretação que o aluno dá para o resultado encontrado. Neste diálogo encontramos a composição hermenêutica, que possibilita, por meio do pensamento narrativo do aluno, que o professor ou o pesquisador realize observações quanto aos significados que são atribuídos para as perguntas que são formuladas e apresente novas direções para que o aluno compreenda o que está sendo estudado. Verificamos que, por um longo tempo de questionamento, o pesquisador usa a negociabilidade inerente na intenção de que o aluno compreenda o problema e consiga identificar os valores que devem ser usados para solucioná-lo. Percebemos que o aluno não consegue interpretar o problema por meio dos questionamentos e as retomadas de condutas realizadas por ele. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o primeiro componente de um esquema: as metas e antecipações em que o aluno define o procedimento para a resolução do problema; a soma das duas caixas que resultou em 89 corresponde para o aluno o valor dá quarta caixa. O pesquisador procura outra maneira de negociar com o aluno, propondo uma forma de esquematizar a situação do problema por meio de um desenho. O pesquisador vai orientando o aluno nesta organização dos dados do problema, e ele vai desencadeando a estruturação. Neste trecho o pesquisador sugere ao aluno que esquematize o problema, o que é chamado pelo autor de invariantes operacionais explícitos: por meio de um diagrama, ou desenho o aluno procura compreender a estrutura do problema. 104 P: E a quarta caixa. A3: 89. P: Desenha a quarta caixa, ai. Então, a primeira, com a segunda e a terceira caixa, todos esses carrinhos aqui dão. A3: 89. P: Toda essa coleção tem que dá. A3: 112. P: Eu preciso descobri qual é o valor dessa quarta caixa, a última. Se eu sei o valor das três caixas, e eu sei a coleção toda, qual a operação que eu tenho que fazer e quais são os valores que eu tenho que utilizar? A3: Tem que usar esses, e. P: Então esses aqui, você somando deu quanto? A3: 89. P: Tá. A3: É esse daqui eu acho que não é o resultado. P: Dá quarta caixa, né? “Não é o resultado da quarta caixa”. A3: Eu acho que tem que subtrair todos esses das três caixas. P: Mas porque, tem que subtrair? A3: Tava na minha cabeça, e eu esqueci. P: Vamos pensar assim, são 112 carrinhos da coleção toda, desses 112, ele usou 89 carrinhos para distribuir nessas três caixas, não foi? A3: Uhu! P: Falta quanto ainda de carrinhos para guardar na quarta caixa? A3: Um! Tem que pegar esse valor 89 e subtrair pelos 112? P: Isso. Então quantos carrinhos têm na quarta caixa? A3: 23. P: E agora para eu conferi para ver se tá certo, o que eu faço? A3: Você vai juntar tudo isso para ver se deu 112. P: Então vamos fazer? O pesquisador busca, com o questionamento, verificar se o aluno apresenta os invariantes operacionais de maneira explicita, para verificar a compreensão que o aluno está tendo com a discussão. O aluno mostra para o pesquisador os valores que deve usar, utilizando o desenho. É importante destacarmos que, no decorrer do diálogo, o próprio aluno percebe que o valor 89 que ele apresentava como valor da quarta caixa, não conferia. A partir daí, o aluno exibe a solução correta, porém, não seguro do que está falando em seu diálogo. Encontramos características do desencadeamento da pressuposição, indicada pelas palavras “acho” e “esqueci”. Essas pressuposições podem levar o aluno à anulação de sua interpretação, sendo ela verdadeira ou falsa. Aqui temos o quarto componente de um esquema as possibilidades de inferências: o aluno apresenta os cálculos, as informações e os invariantes operacionais que ele dispõe. Em seu diálogo, percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas e que não condizem com a resolução do problema. Por meio do diálogo, o aluno apresenta uma tomada de decisão; nessa narrativa observamos a particularidade genérica. Por mais que o aluno tenha feito um questionamento, observamos que o aluno apresenta a solução correta. O pesquisador induz o aluno a realizar uma prova real, para conferir o resultado. Quando questionado, rapidamente o aluno explica como conduzir essa operação de verificação. Em sua fala observamos um invariante do tipo <<argumentos>>: ele exemplifica, com suas palavras, como deve proceder ao cálculo, apresentando um conceito em 105 ação. A3: Uhu. (o aluno utiliza os dedos para a contagem). Tá certo. Esquema de numeração: aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. 6.1.4 Observações sobre o comportamento do aluno A3 O aluno realiza a leitura em voz alta e durante todos os questionamentos se percebia, em suas expressões faciais que estava buscando maneiras de obter a resposta correta do problema. Nas explicações, o aluno sempre apontava os valores que estavam no problema. O aluno utilizava os dedos para efetuar as operações. Após uma longa discussão e direcionamento do pesquisador, o aluno conseguiu compreender a solução por meio de um esquema representativo do problema; ao final ele realiza a soma de todas as caixas, proposta esta sugerida pelo pesquisador para verificar a correção do valor encontrado. 6.1.5 Síntese Geral dos alunos do Grupo 1 – Campo Aditivo Observa-se no diálogo do aluno A1, em sua explicação inicial, a interpretação que teve após a leitura, destacando os valores que deveriam ser usados. O aluno apresenta o que é central no problema (a pergunta que deve ser respondida), isso é uma característica que encontramos nas narrativas caracterizada por Bruner (2001) como a centralidade do problema; a centralidade pode ser ligada com os conceitos em ação de Vergnaud (1998), nos quais o aluno busca as informações que devem ser levantadas por meio da sua interpretação. Esse tipo de característica destacou-se também no aluno A2; já com o aluno A3, após a leitura ele não soube explicar o que deveria ser encontrado no problema, o pesquisador precisou conduzi-lo por meio dos questionamentos para que encontrasse a questão central. Outro ponto é a particularidade genérica que aparece no momento em que o aluno está explicando a solução do problema. Neste caso, o aluno A1 imediatamente apresenta a solução e o aluno A2 apresenta a operação de divisão como uma possibilidade de solução para o problema. Identificamos como um teorema em ação (falso), mas o que levou o aluno a sugerir tal operação? Percebemos que o enunciado não apresenta um indicativo imediato de resolução e 106 esse problema apresenta um grau de dificuldade alto, porque envolve mais de uma operação e o valor 4, que se refere ao número de caixas, é que pode confundir os alunos, que poderão tentar utilizá-lo nos cálculos, como no caso do aluno A2, que sugeriu o “valor total da coleção dividido por 4”. O aluno A3 não conseguiu resolver o problema imediatamente, o pesquisador teve que conduzi-lo de outra maneira, propondo uma esquematização dos dados do problema por meio de um desenho, apresentando um tipo de invariante operacional explícito, para que, por meio do desenho, o aluno organizasse seus pensamentos frente à resolução do problema. Segundo Vergnaud, (1998) identificamos nas estratégias dos alunos A1, A2 e A3 e em suas explicações os esquemas de enumeração, quando estes começam a realizar os cálculos e utilizam os dedos, a coordenação dos movimentos como olhos e gestos com os dedos como auxilio para a resolução; verificamos também os componentes de um esquema das regras de ação, busca de informações e controle dos resultados em ação em que o diálogo do aluno apresentou “se...então”, e as possibilidades de inferência que são as questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e que são desenvolvidas por cálculos, informações levantas por eles. Os tipos de invariantes operacionais do tipo de argumentação, que seriam as relações dos cálculos numéricos, (89 subtrair de 112; 112:4; somar as três caixas) também são identificados. Chamamos a atenção para a observação de como os alunos vão desencadeando, passo a passo, a resolução do problema e os modos do pensamento, que são utilizados (narrativo e lógico - científico) favorecendo a passagem do cálculo numérico para o cálculo escrito e o próprio entendimento das suas próprias interpretações. 6.1.6 Análise do Grupo 1 (Individual): Problema do campo multiplicativo O problema proposto para os alunos etapa que envolve as estruturas multiplicativas apresenta-se no quadro 21. Esse problema é uma adaptação de (VERGNAUD, 2009, p.254) que segue o Raciocínio Combinatório, e é classificado como um problema que trata de PRODUTOS DE MEDIDA, segundo Vergnaud (2009), no qual aparecem relações terciárias. 107 Objetivo do problema: Este problema teve como objetivo verificar os conceitos estabelecidos do “raciocínio combinatório” que os alunos possuem. Quadro 20 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para o Grupo 1 Fonte: Vergnaud, 2009, p.254 Aluno A4 Figura 8 - Resolução do problema pelo aluno A4 Fonte: Acervo pessoal 108 Transcrição da fala do Aluno A4 P: Você vai ler o probleminha em voz alta e ai você vai explicar para mim. A4: (A aluno faz a leitura em silêncio). P: O que você entendeu? A4: Eu entendi que eu tenho que fazer dessas 5 saias e 4 blusas que ela tem que fazer conjunto que combine. Análise de acordo com Bruner Analisando a explicação do aluno podemos perceber que ele sabe o que deve ser feito. Por meio das características apresentadas em seu diálogo como “conjunto”, “combine” e a identificação das correspondências de cada valor, percebe-se que o aluno encontrou o que é central no texto, o que chamamos de a centralidade do problema. P: E como podemos resolver? A4: É para escrever? P: Não, pode desenhar também, depois a gente vê que operação pode representar isso. A4: A saia ela tem azul, verde preta e rosa e vermelha, e blusa ela tem branca, vermelha, amarela e rosa. P: Se você quiser pode escrever também. A4: Ela pode pegar a blusa branca e fazer com a rosa, com a roxa com a azul com a preta e a verde. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente dos esquemas, as metas e antecipações: em que o aluno define, ao realizar a leitura do problema, o procedimento para a resolução. Quando o aluno pergunta se pode escrever, o pesquisador dá a opção para o aluno representar o problema por meio de um desenho, na intenção de observar os invariantes operacionais explícitos. Encontramos aqui a Particularidade Genérica: percebemos, por meio da narrativa, quais as estratégias que o aluno está utilizando para resolver o problema. P: E como a gente pode representar isso? E no final ele quer saber o que? O total, de quantas maneiras ela pode combinar todas as camisas com essas saias. A4: Isso, a gente pode escrever e fazer quanto que dá, e depois ver. P: Então, ta. A4: (o aluno começa a realizar os cálculos e de repente ele pede para fazer um quadro) Pode fazer um quadrinho? P: Pode. (O aluno vai realizando os cálculos e falando em voz alta, de maneira à estrutura o seu esquema de solução). A4: É que eu não sou muito boa para isso. Eu não sou muito boa para combinar. P: Não precisa combinar as cores. Você ta combinando as cores? A4: É. Análise de acordo com Vergnaud Neste momento, o aluno apresenta uma tabela cartesiana; esse tipo de procedimento, realizado por ele, é evidenciado pelo autor como invariantes operacionais explícitos, que podem ser expressos, neste caso, por um diagrama para compor a solução do problema pelo. Neste trecho, percebemos que o aluno, ao interpretar a palavra “combinação” do texto, se remete a um significado do cotidiano, sendo que a palavra no texto se refere à ideia de “raciocínio combinatório”. Em sua fala, expõe o entendimento que teve na sua leitura. Esse 109 P: Ela tem 5 saias e 4 blusas, ela quer combinar independente das cores ou não. A4: Então e que não sou muito boa de combinar. P: Que nem, por exemplo, você pode pegar essa blusa verde, e ela pode usar de quantas maneiras com as saias? A4: Com 5. P: E a branca. A4: Com 5, hum. É que tem que combinar, né, tudo a roxa e a vermelha. desencadeamento no diálogo, se remete ao aspecto da narrativa chamado de Composição Hermenêutica. Mesmo com afirmação do pesquisador em sua fala, as respostas mostram que a aluno ainda não compreendeu o significado da palavra “combinação” no texto. A pesquisadora faz o questionamento, então o aluno, aparentemente, demonstra que compreendeu a função da palavra “combinação” no texto, chamamos isso de Ambiguidade de referência. Podemos destacar no diálogo a Designação de uma disposição – característica do Discurso Narrativo, que explica que, na interpretação da leitura, o sujeito pode apresentar determinado significado pelos conhecimentos pré-estabelecidos ou por alguma experiência que o sujeito já tenha passado, podendo prejudicá-lo ou não na resolução do problema. Também destacamos nessa narrativa o desencadeamento da pressuposição: o aluno toma como verdade que a palavra “combinação” sugere neste contexto a ideia de combinar cores, objetos entre outros, e não se remete à ideia do conceito de “raciocínio combinatório”. P: Explica para mim aqui, o que você fez? A4: Aqui é as blusas. P: Essa blusa qual que é? A4: É a branca. P: Você combinou com o que? A4: Rosa, azul, verde, preta e a vermelha. P: Quantas têm aqui? 1, 2, 3, 4 , 5. Ai aqui o que é? A4: É a blusa vermelha. P: Blusa vermelha... Ai você vai combinar com rosa. A4: e vermelho. P: Porque só com rosa e vermelho? A4: Porque é as cores que combina mais. P: Então, mais aqui o probleminha não está falando de combinar as cores, pode ser qualquer cor. A4: Uhum. P: A branca você colocou, com todas as cores, a verde você também pode colocar com todas as cores entendeu? Neste trecho do diálogo, temos os invariantes operacionais do tipo <<argumentos>> referentes aos objetos do enunciado como, por exemplo, (a combinação da blusa com as cores, a quantidade de blusas e sais que estão disponíveis). Dentre os argumentos apresentados pelo aluno percebemos que este ainda não ressignificou a palavra “combinação” Nesta outra parte observamos que o aluno não compreendeu ainda o significado da palavra “combinação” no texto. Ele torna a dizer que a combinação que está sugerindo é por cores. Novamente temos aqui, a ambiguidade de referência, o pesquisador o questiona de novo, fazendo com que ele acompanhe o raciocínio, até que o mesmo 110 compreenda o significado palavra “combinação”. A4: Ela pode combinar com 21. P: Com 21? A4: Ai, como é o nome. Ela pode combinar com 21 maneiras. P: De 21 maneiras? A4: É! P: Vamos ver então... Se tá certo o rosa. A4: 1,2,3,4,5 P: E aqui? A4: Com 5 P: E aqui? A4: Com 5 P: E esse? A4: 5 P: Então, temos 5 com mais 5? A4: 10. P: Com mais 5? A4: 40. P: “40”? A4: Pera ai? Eu errei. 5, 10, 15,20. P: Como que eu posso representar esses 20 em uma operação? A4: Há, uma continha. P: É. A4: Tem que dá 20? P: Como eu posso pensar? Eu tenho 4 camisetas e 5 saias. A4: Eu posso fazer 4 vezes 5. P: Então, faz aí. A4: 20. P: Entendeu agora? A4: (Balança a cabeça que sim). P: Toda vez que eu tenho um problema de combinação eu pego as duas quantidades que eu tenho e multiplico uma pela outra e ai eu fico sabendo. Tá certo? A4: Umm! da Encontramos nessa Transcrição do diálogo do aluno a Passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, proporcionando uma reflexão, auxiliando a elaboração dos seus esquemas para a resolução, dando um novo sentido à situação. Por meio do diálogo observamos a estruturação do cálculo feito pelo aluno, o que remete à passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico. Neste trecho do diálogo temos o Esquema de numeração, que é observável na verbalização do aluno, referente à pronúncia dos números e operações, quando este responde as perguntas do pesquisador, que tem a intenção de fazer com que o aluno interprete a estrutura do problema para solucioná-lo. Destacamos a contagem do aluno realizando-a de 5 em 5. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, que é identificado por questões que estão ligadas ao seu raciocínio e às operações que ele dispõe. 6.1.7 Observações sobre o comportamento do aluno A4 O aluno realizou a leitura em silêncio, bem devagar; quando questionado participou ativamente da discussão, perguntando e explicitando suas interpretações, como por exemplo, em relação à palavra “combinar”. Partiu do próprio aluno a iniciativa de fazer a tabela para a distribuição das blusas e saias, que, de acordo com Vergnaud (2009), é chamada de tabela cartesiana. O aluno, no momento da resolução, se manifestava em voz alta; esse tipo de comportamento indicou a maneira utilizada para a organização dos esquemas em busca da solução. 111 Aluno A5 Figura 9 - Resolução do problema pelo aluno A5 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno A5 P: Você vai ler o probleminha para mim em voz alta, tá? Agora, conta para mim o que você entendeu do probleminha; a história. A5: Tem que pegar uma camisa uma saia, e depois vê quantos diferentes conjuntos dão. P: Isso. É como a gente pode resolver esse problema? A5: Não, sei! Se ela tem 5 saia e 4 camisetas, ela pode pega uma camiseta usar com as saias, depois pegar outra e usar com as saias que vai dar diferente. P: Então, faz ai, se você quiser desenhar para representar e ficar mais fácil pode? A pergunta do probleminha é qual? Ele quer saber o que? A5: De quantas maneiras diferentes ela pode se vestir? Eu Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Nesta fala do aluno, percebemos que ele conseguiu identificar os objetos que deveriam ser trabalhados, assim identificando a Centralidade do Problema. Ao explicar o que entendeu do probleminha, o aluno apresenta os invariantes do tipo <<argumentos>> representados pelos objetos “camisa” e “saia”; no trecho seguinte, começa a relacionar esses argumentos disponíveis no enunciado em forma numérica, estruturando sua tomada de decisão. Logo após o aluno declara não saber como resolver, começa descrever seus pensamentos em relação às tomadas de decisões, sugerindo uma solução para o problema; chamamos isso de Particularidade Genérica, em que o aluno observa os detalhes extraídos do texto, apresentandoos pela forma de contar. O aluno Centralidade apresenta a do Problema, Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto 112 acho que são 20. P: Que operação que a gente pode representar? A5: Não sei. P: Conta para mim como você fez para chegar no 20? A5: Uma camiseta com cada saia vai dar 5 combinações, mais 5 da 10, e só fazendo isso. P: Tá, então vamos tentar representar. A5: Como eu faço? (aluno, pensando em sua representação). P: Com qual operação eu posso representar? A5: Divisão? P: E ai como eu chego no 20 com a divisão? A5: Não sei. P: Vamos tentar desenhar? A5: Uhu! P: Vamos tentar representar a camisa por um X e a saia por uma bolinha. Então você tem uma camisa que você falou e ela vai usar quantas saias com essa camisa? Ai você coloca a quantidade de bolinhas A5: 4 x 5? P: Isso pode colocar ai. Certinho. quando o professor o questiona e logo em seguida, ele apresenta a resposta final do problema, porém não destacando como fez para se chegar ao valor 20. Caracterizamos esse trecho do diálogo do aluno de Composição hermenêutica, pois conseguimos identificar aqui a estratégia utilizada por ele para chegar à resposta final. É evidente também que, por meio da linguagem, o seu raciocínio lógico se torna efetivo, demonstrando a Passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, quando descreve passo a passo o seu pensamento e a sua estratégia de resolução. Mediante a resposta do aluno o pesquisador resolve indagá-lo, quanto à representação dos 20 por uma divisão. Temos neste ponto a composição hermenêutica, em que na interação do pesquisador com o aluno, tenta explicitar a interpretação e as estratégias que o levaram a escolher a operação de divisão. componente de um esquema, a possibilidade de inferência, ligado ao raciocínio desenvolvido pelo aluno por meio de cálculos e informações que ele utiliza e de sua interpretação referente à situação. Novamente temos aqui o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: o aluno busca, em sua estrutura mental, detalhes dos procedimentos do cálculo realizado por ele. Perguntado sobre qual operação poderia representar a sua estratégia acima, o aluno não sabe dizer, então escolhe a operação de divisão, apresentando um Teorema em ação (falso), destacando um invariante implícito. Neste trecho não sabemos explicar ou até mesmo sugerir o motivo da escolha do aluno pela operação. Neste momento, o pesquisador sugere ao aluno para tentar representar a situação do problema por meio de um diagrama, e vai dirigindo; o autor chama isso de Invariantes operacionais explícitos, por serem expressos por diagramas para compor a solução do problema pelo aluno. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, que seria a operação de multiplicação (4x5). 113 6.1.8 Observações sobre o comportamento do aluno A5 O aluno, após a realização da leitura, conseguiu entender a ideia central do problema e mentalmente o resolveu; porém, apresentou dificuldade em escrever a sentença matemática que correspondente ao valor encontrado por ele e não soube explicar a sua escolha. O pesquisador então sugere que ele realize um desenho; o aluno segue a sugestão, e, ao término do desenho, descobre a operação que representaria o resultado achado por ele mentalmente. Aluno A6 Figura 10 - Resolução do problema pelo aluno A6 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno A6 P: Você vai fazer a leitura em voz alta e depois você irá me explicar como a gente pode resolver esse problema. A6: Tá! P: E ai o que você entendeu do problema? A6: Não entendi quase nada. P: O que você entendeu? A6: Que tem que descobrir para ela usar uma roupa diferente. Análise de acordo com Bruner Percebemos que o aluno apresenta dúvidas quando o pesquisador o questiona, mas ao ser questionado novamente ele demonstra que conseguiu identificar as correspondências de cada valor, conseguindo Análise de acordo com Vergnaud 114 identificar a problema. centralidade do P: E como que a gente pode resolver isso? A6: 5 x 4 ? P: Então faz no papel. Agora explica para mim porque você resolveu fazer 5x4? A6: Eu não sei como explicar. P: Porque você escolheu o 5? A6: (O aluno fica pensando). P: Quem tá representando o 5? A6: A saia. P: A saia. E o 4? A6: As blusas. P: As blusas. E o que você pensou para fazer a combinação? Sem pensar nos números. A6: Nada. P: Para poder dar 20? A6: Umm. Não faço a mínima ideia. P: Porque você escolheu a multiplicação? A6: Porque eu acho que é assim. P: É! Por que você acha? A6: Não sei como explicar. P: Tem uma forma de você representar por desenho? Essa operação que você fez? A6: Tem! Mas eu não sou muito fã de desenhar assim, e eu também não lembro muito bem como é, eu prefiro fazer de continha que é melhor para mim. P: Vamos pensar assim! Em vez de você desenhar a blusa a gente representa por um X e as saias por uma O (bolinha). Tá bom? A6: Uhu! P: Vamos pensar em você no seu dia a dia. Você tem lá... lógico que você não vai usar saia. Vamos supor que você tem quatro bermudas, aliás, você tem 5 bermudas e ai você tem 4 camisas, então você quer usar essas quatro camisas. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>> segundo o qual, por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de multiplicação (5 x 4), apresentando sua estratégia de resolução. Neste instante o pesquisador pede para que o aluno explique a operação escolhida para a resolução, para identificar as estratégias, interpretações e como este atribuiu o significado aos conceitos apresentados no enunciado. Quando isso ocorre no diálogo, é chamado de composição hermenêutica. O aluno não consegue explicar o porquê da escolha da operação, porém, quando o pesquisador pergunta sobre os valores, ele sabe dizer o que representam no enunciado do problema. O pesquisador questiona o aluno para explicar o motivo da escolha da multiplicação; quando este responde, encontramos uma das características do discurso narrativo, o desencadeamento da pressuposição “eu acho”; tais pressuposições podem levar a anulação de sua interpretação, por não conseguir identificar as concepções dos significados atribuídos por ele. Neste momento, o pesquisador sugere ao aluno para tentar representar a situação do problema por meio de um diagrama que ele vai dirigindo; o autor chama isso de Invariantes operacionais explícitos, por ser expresso por diagramas para compor a solução do problema pelo aluno; os Invariantes operacionais do tipo <<argumentos>> são 115 A6: Já sei, já sei. P: Já? A6: Já, vai ajuntar esses 5 com mais esses 4. P: Mais? A6: É. P: Não, vamos fazer no desenho. Vamos supor que você tem uma camisa que é x, desenha 5 x. A primeira camisa de quantas maneiras você pode usar a sua bermuda? O x aqui é o que? A6: x é a bermuda. P: Tá você fez ao contrário. Então vamos pensar, vamos supor que a primeira bermuda seja a azul, certo? A6: Certo! P: E ai você tem quatro camisetas, como você pode usar isso? De quantas maneiras diferentes você pode usar essa bermuda azul, com essas camisetas? A6: Varias. P: Como, varias? A6: Eu posso usar essas 3. P: Porque essas 3? A6: Porque combina a cor. P: Não, não é para combinar cor, não tem combinação de cor. Você vai poder usar qualquer cor. Ai seria de quantas maneiras? A6: Com quatro, com a vermelha, a amarela, a verde e a azul. P: Vamos colocar uma bolinha em baixo da primeira? Coloca uma em baixo da outra, uma, duas, três e quatro. Não, dessa aqui, da primeira bermuda. Você vai colocar aqui em baixo, tá? A6: Tá. P: Agora você vai pegar outra bermuda, de quantas maneiras você pode usar com essas camisetas aqui? A outra bermuda. A6: Quatro. P: Então põe ai. E a terceira bermuda? A6: Quatro. P: E a quarta bermuda? A6: Quatro. P: Isso, ai agora tenta explicar para mim o porquê que você fez 5 x 4=20, pelo desenho aqui. O que tem de comum na operação? A6: Pode contar? P: Pode. A6: Eu conto o x também ou só as bermudas? P: Só as bermudas. A6: Deu certo 20. P: E agora você consegue explicar para mim porque que identificados na representação como objetos matemáticos (camisas e bermudas). Observamos que o aluno se remete ao significado da palavra “combinação”, no texto, como uma maneira de combinar as cores. Temos aqui, a Ambiguidade de referência, o pesquisador explica que a palavra combinação não se refere ao que ele está pensando. 116 você fez 5 x4 A6: Ainda não sei como explicar. P: Um. A6: Não sei. P: O 20 deu por quê? Você consegue explicar o 20? Essas bolinhas que você contou o que são? A6: São as camisetas. P: Tá são as camisetas. Não é isso? A6: Uhu. P: A possibilidade de camisetas que você pode usar com que? A6: Com as bermudas. P: Então quantas bermudas eu tenho? A6: 5. P: E quantas camisetas eu tenho? A6: 4. P: Então quando eu faço essa combinação, eu tenho quanto? A6: 20. P: Entendeu agora? A6: (O aluno balançou a cabeça em sinal de sim). P: Entendeu, mesmo? Então explica para mim? A6: Não muito, né? Mais P: Quando você tem um probleminha de combinação Então você quer combinar suas roupas, você não está combinando cor, não importa a cor, tá? A6: Uhu. P: Então você tem lá, por exemplo, vamos supor você tem 3 bermudas e duas camisetas, de quantas maneiras você pode usar essas 3 bermudas com essas duas camisetas? A6: Pera ai, explica de novo. P: Você tem 3 bermudas e 2 camisetas, de quantas maneiras você pode usar? As três bermudas e as duas camisetas? A6: De dois jeitos. P: De dois jeitos? A6: Não quatro. P: Você tem três camisetas, alias escreve ai, três bermudas e duas camisetas. A6: Aqui em baixo? P: É. De quantas maneiras você pode usar essas duas camisetas e essas três bermudas? A6: 5 maneiras. P: “Porque 5?” A6: Por que não duas maneiras. P: Quantas combinações você pode ter ai? A6: Não sei. P: Aqui você não fez 4 camisetas e 5 saias? Agora aqui, você tem três bermudas e duas camisetas. Como você faria? 117 A6: Não sei não. P: Aqui você somou? A6: Eu usei o quatro e o cinco. P: Porque você usou multiplicação? A6: Não sei. P: Quando você fez o esquema aqui, você não contou os 20. A6: Uhu. P: Faz aqui a mesma coisa. A6: Da bolinha? P: É, mais agora você tem três bermudas e duas camisetas. Põe assim as bermudas de (x) e as camisetas (o) bolinhas. Quantas camisas você pode usar com a primeira bermuda? A6: Uma camisa, e duas. P: Não você vai colocar uma em baixo da outra. A6: E as outras duas, e a outra também. P: Agora de quantas maneiras você pode usar? A6: 6. P: E que operação eu posso representar isso? A6: Mais. P: Mais? Como você pode representar com mais? A6: (o aluno fica pensando em silêncio). P: A resposta é 6, não e isso que você falou? A6: É. P: Se eu tenho 3 bermudas e 2 camisetas, como eu posso representar essa operação? A6: Não sei. P: Você representou, aqui! A6: De vezes. P: Como pode ser? Esse 5 e o que? A6: Saias. P: Quatro é o que? A6: Camisas. P: Então, agora é aqui? A6: 3 bermudas e 2 camisetas P:Então como eu posso representar? A6: Não sei. P: Representar da mesma maneira que aqui. A6: 5 x 4? P: Não, você tem quantas bermudas? A6: é 3 x 2? P: Isso. A6: 6. P: Você entendeu agora? A6: Uh. P: Então toda vez que eu quero saber a combinação de alguma coisa, ou que eu tenha que combinar com algo, eu sempre pego a quantidade que eu tenho e multiplico pela outra quantidade. Em seu diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno, que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. 118 Entendeu? A6: Entendi. P: Ai quando eu faço esse desenho que e essa combinação eu consigo saber a quantidade final, entendeu mesmo? A6: Entendi. 6.1.9 Observações sobre o comportamento do aluno A6 O aluno, ao ler o problema, rapidamente sugeriu o cálculo correto, porém não soube, por um longo período da discussão, esclarecer o motivo da sua escolha e explicar o significado do resultado final de seu cálculo. O diagrama foi sugerido pelo pesquisador para verificar se o aluno conseguia observar características que pudessem levá-lo à explicação da escolha da sua operação. O pesquisador levou um tempo razoável para que o aluno pudesse compreender porque realizar a operação de multiplicação, no caso deste problema. Pelos diálogos, observamos que o aluno, por si só, não conseguiu explicar, por um bom tempo percebemos a repetição de seu raciocínio. Há a possibilidade de que o aluno tenha tido contato com outro aluno e este informado a operação e os valores (observo que este problema foi aplicado no mesmo dia para todos os alunos). Porém, a todo o momento, o aluno apresenta interesse em entender o que esta sendo perguntado a ele, e, ao final da conversa, demonstra cansaço em relação aos questionamentos. 6.1.10 Síntese Geral dos alunos do Grupo 1 – Campo Multiplicativo Neste problema de multiplicação os alunos A4 e A5, em seus diálogos, caracterizaram a centralidade do problema logo após a leitura, mostrando compreensão no que precisaria ser solucionado e a relação dos objetos matemáticos (saias e blusas) e valores numéricos (5 e 4) que deveriam usar para resolver o problema. Já o aluno A6, no primeiro momento não obteve sucesso em identificar as informações e a questão central, ele apresentou dúvidas quando foi questionado pelo pesquisador, porém foi o único que inicialmente exibiu a operação de multiplicação (4x5) e, como primeira solução, mas não soube explicar o porquê. Como notamos na observação do comportamento deste aluno, este poderia ter tido algum contato com outro aluno. Destacamos, na resolução do aluno A4, o esquema 119 que este utilizou, uma (tabela cartesiana) para esquematizar os conjuntos, apresentando os invariantes operacionais explícitos que são identificados quando encontramos na solução, esquemas como desenhos ou diagramas para ajudar na resolução. Os alunos A5 e A6 realizaram os esquemas que foram sugeridos pelo pesquisador que conduzem o diálogo, temos aí a negociabilidade inerente entre pesquisador e aluno. O aluno A5, logo após a construção do esquema, percebeu a relação da operação de multiplicação com o resultado (20), que havia encontrado inicialmente. Já o aluno A6, mesmo com os esquemas realizados e vários questionamentos seguidos de exemplos, demorou a perceber a relação da operação de multiplicação na compreensão do problema. Um fato que ocorreu e que não esperávamos, foi o significado que os alunos atribuíram para a palavra “combinação”: isto ocorreu com os alunos A4 e A6, que, em seus diálogos, apresentaram a ambiguidade de referencia, que não está ligada somente ao significado da palavra, mas em relação aos questionamentos e suas reações ao atribuir uma nova denotação a palavra “combinação”. A definição atribuída por eles à palavra combinação trazia a ideia de combinar (cores, roupas e objetos) enquanto, no enunciado do problema, a palavra tinha o efeito de estabelecer um par. Podemos nos referir a esse fato também como sendo uma característica do desencadeamento da pressuposição: os alunos tomam como verdadeiro o significado atribuído por eles e não se remetem à ideia do conceito de “raciocínio combinatório”. Mas, no decorrer do questionamento, os alunos conseguiram ressignificar a ideia da palavra “combinação”. Nos diálogos dos três alunos encontramos as tomadas de decisões que são as particularidades genéricas a composição hermenêutica: podemos observar as interpretações e estratégias utilizadas por eles no momento das resoluções e representações dessas, pela escrita matemática. No procedimento dos cálculos destacaram os esquemas de numeração que são apresentados por gestos, ou por meio da linguagem e os componentes de um esquema: a possibilidade de inferência, que são observáveis por meio dos cálculos e das informações originadas por eles. Todos esses elementos destacados são os que dão sentindo à nossa investigação, para compreendermos os meios utilizados pelos alunos, os caminhos que eles tomam para resolver situações que lhe são propostas, bem como a interação dos modos de pensamento (narrativo e lógico - científico). 120 6.2 Atividade Dupla: 2ª ETAPA 6.2.1 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo aditivo Nesta segunda etapa os alunos trabalharam em dupla na solução do problema descrito no quadro 22. O problema encontra-se na 4º CATEGORIA, sugerida por Vergnaud (2009, p.204). Este tipo de problema se remete a duas transformações que se compõem para resultar em outra transformação. Objetivo: Observar se o aluno percebe que, mesmo não tendo o valor inicial e nem o final, o problema pode ser resolvido apenas com as transformações dadas por meio de uma subtração. Quadro 21 - Problema do Campo Aditivo aplicado para o Grupo 2 Fonte: Adaptação do livro Repensando Adição e Subtração. (Magina,2008,p.52) Aluno B1 e Aluno B2 Figura 11- Resolução do problema pela dupla B1 e B2 Fonte: Acervo pessoal 121 Transcrição das falas dos Alunos B1 e B2 P: Bom, o que vocês vão fazer vão ler esse probleminha aqui em silêncio, ai depois vocês vão me contar, e depois, juntos, vão tentar achar uma solução para resolver isso aqui e achar uma resposta. B2: Acabei. P: Pronto? E ai conta para mim então? B1: Tinha uma certa quantidade de carrinhos da Hotweels, e ganhou 5 da sua tia. B2: E deu 3 para o colega. B1: E deixou 3 para. B2: Rodrigo. P: Para o primo. E ai o que ele quer saber? B1: Com quantos carrinhos a mais ficou a coleção de Rodrigo. P: E ai como a gente pode fazer para descobrir? Quantos vocês acham que ficou a mais a coleção? B2: 10? Em sua coleção tinha uma certa quantidade de carrinhos da hotweels ele ganhou 5 da sua tia e deu 3 carrinhos de sua coleção para seu primo. Com quantos carrinhos a mais ficou a coleção de Rodrigo? P: E ai. B1: Primeiro a gente tem que saber o valor que ele tinha e depois somar mais 5. Análise de acordo com Bruner Os alunos realizam a explicação do problema, apresentando as informações contidas no texto. Neste trecho do diálogo dos alunos encontramos a particularidade genérica, que nos remete às interpretações e características apresentadas por eles. O aluno B1 consegue, por meio da leitura, realizar a interpretação, identificar o que deve ser resolvido. Chamamos isso, na narrativa, a Centralidade do Problema. Após um tempo de discussão, o aluno B2 começa a compreender a questão central do problema o que chamamos também de Centralidade do problema, em que ele apresenta a questão norteadora. Ao expor sua estratégia para a resolução do problema, o aluno apresenta uma das características da narrativa, o desencadeamento da pressuposição: apresenta uma solução para o problema, seguida das suas estratégias. P: E que valor que ele tinha? B2: Uma certa. B1: Ai a gente tem que somar algum valor para ver, 5+3 é 8. B2: Ele deu quantos carrinhos para seu primo? B1: 3. B2: E ele tinha quantos na coleção? Não mostra. Análise de acordo com Vergnaud O aluno apresenta uma estratégia de cálculo, que identificamos como um Teorema em ação (falso) em que ele apresenta uma interpretação na qual deveria saber primeiro o que ele tinha e depois somar mais 5. Temos aqui o terceiro tipo de invariante, <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de adição (5+3=8). O aluno faz a pergunta na intenção de verificar qual seria o valor inicial, provavelmente, está acostumado a realizar problemas nos quais sempre se tem o valor inicial. Mais adiante, ele percebe Este ponto do diálogo também se remete pela importância da história e variedade destacada por Vergnaud em que o aluno apresenta conhecimentos construídos mediante as 122 P: O que o problema quer saber? B1: Quantos carrinhos a mais ficou a coleção de Rodrigo? P: Tá então ele quer saber a coleção ou quantos a mais ele ficou na coleção? B1: Com quantos ele ficou na coleção ai a gente tem que saber com quantos ele tem na coleção. P: Tem como saber o valor da coleção ai? B1: Hum... Não! P: Se vocês quiserem, pode desenhar também para ficar mais claro. B2: Pode desenhar? P: A estrutura do problema. B1: A gente pode fazer 5x3 para ver o resultado e a gente pode somar mais 3. P: E porque 5x3? B1: Porque assim o resultado pode ser um valor alto. P: Só por causa disso? B2: Vezes ou dividir né. B1: Mas também pode ser mais. P: Vocês sabem a quantia da coleção inicial? B1 e B2: Não. P: Então põe um ponto de interrogação ai... Então esse ponto ai é a nossa coleção que a gente não sabe quanto tem, certo? Só que a gente sabe que o Rodrigo tinha uma certa coleção, só não sabemos quanto? O que aconteceu? B1: Mais 5. P: E como eu posso representar esse mais 5? B2: 8. P: Como eu posso representar? Ele ganhou cinco carrinhos, e ai o que aconteceu depois? B1: Ele deu 3 para seu primo. P: E como eu posso representar? B1: menos 3 B2: menos os 3 P: E ai o que aconteceu? B1 e B2: Ficaram os 2. P: E qual é a pergunta? B1: Quantos carrinhos a mais ficou a coleção de Rodrigo? Ai a gente pode pegar 5 dividido por 2? que não há o valor inicial. Os trechos do diálogo caracterizamse pela designação de uma disposição. Nesta fala do aluno percebemos que ele identificou as questões centrais do problema, o que remete neste trecho da narrativa a análise da Centralidade do Problema. experiências vivenciadas. que já foram O aluno apresenta a interpretação do problema e como ele está estruturando para se chegar à solução, apresentando o desencadeamento das pressuposições. O pesquisador sugere o desenho. Os alunos vão sendo questionados pelo pesquisador e vão retomando todas as informações contidas no problema e como representá-las no desenho. Logo, temos a negociabilidade inerente, momento no diálogo em que o pesquisador e os alunos vão realizando discussões e esquematizando o problema para o entendimento dos alunos à resposta final. Em seu diálogo, percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno, que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. No diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas 123 P: Porque 5 dividido por 2? Esse 2 é o que? B1: É o valor depois que ele deu para o primo dele. escolhidas pelo aluno, que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. P: Então esse dois significa que o Rodrigo estava com quantos na mão? B1: Com 5 deu três para seu amigo... B2: Ficou com 2 P:Tá e ai o que ele vai fazer com esses 2? B1: Colocar na coleção. P: E qual é a pergunta? B1: Com quantos carrinhos a mais ele ficou na coleção. Ai a gente vai ter que descobri quanto a mais ele ficou na coleção? Caracterizamos este diálogo pela ambiguidade de referência, em que o professor realiza alguns questionamentos, na expectativa de observar a postura dos alunos em relação ao significado do valor 2. B2: O que é uma certa? P: Uma certa é uma quantia que você tem mas não sabe o quanto ao certo. Vamos supor você tem o seu estojo e dentro do estojo tem vários lápis, então sem contar quantos lápis você tem? Eu digo que tem uma certa quantidade. Já aqui, temos também a Ambiguidade de referência, mas no sentido da compreensão da palavra contida no problema. O aluno B2, não compreende o significado da palavra “certa” e o pesquisador explica com exemplos, para que o aluno possa compreender. B2: Umm. P: Vamos pensar. Ele tem uma certa quantidade, ganhou 5 da sua tia e deu 3 para seu primo e ficou com 2. Ai ele vai pegar esses dois e vai, fazer o que? B1: Esses dois ele vai, colocar na sua coleção. P: Tá. E qual é a pergunta do problema? B1: Quantos carrinhos ele vai ficar na sua coleção? Então... B2:Mais dois, que fácil... P: Entenderam agora? A gente não precisa saber a quantidade da coleção, Ele não quer saber a quantidade da coleção ele quer saber quantos carrinhos a mais, ele foi lá e colocou na coleção? E que nem do aluno B2... P:Ele tem o estojo ai eu dei 5 lápis, ele foi e deu três para você e ficou com 2, então ele pegou esses 2 e colocou no estojo dele, eu não preciso saber quantos lápis tem no estojo dele. B1: E ele ficou com mais 2 P: E como eu posso representar isso na operação direitinho, com os números e tudo? B2: Somar. B1: Que somar, colocar 5-3 que dá 2 ai pega o dois colocar aqui e escrever Rodrigo ficou com mais 2 na sua coleção. Temos aqui o terceiro tipo de invariante, <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “ a mais...”. Novamente temos a ambiguidade de referência, em relação à postura do aluno frente ao questionamento do pesquisador. Percebemos que o aluno, neste momento, compreende o significado do valor 2 e percebe qual é a interpretação para a solução do problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariante <<argumentos>>: por meio do diállogo o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de subtração (5-3 = 2). 124 6.2.2 Observações sobre o comportamento dos alunos B1 e B2 O aluno B1 aparenta ser centrado nas explicações e discussões feitas, enquanto o aluno B2 é inquieto e fala o que vem na sua cabeça, sem levar em conta o que está sendo discutido. O aluno B2 apresenta uma dificuldade em se concentrar, já o B1 apresenta não ter muita paciência com o aluno B2 durante as discussões, que acaba sendo cortado muitas vezes pelo aluno B1, supostamente por acreditar que o que ele iria falar estava errado. Um ponto interessante é que, a todo o questionamento feito pelo pesquisador, o aluno B2 demonstrava querer, rapidamente, responder, sem analisar a situação que lhe está sendo proposta. Na sugestão feita pelo pesquisador de desenhar para estruturar o problema, os alunos não tiveram problemas em representar as transformações positivas e negativas simbolicamente, porém não entendiam que a solução do problema já havia sido feita; isso ocorreu porque não souberam interpretar a pergunta, para a qual o pesquisador chamou a atenção, tentando que eles lessem e analisassem a situação. Aluno B3 e Aluno B4 Figura 12 - Resolução do problema pela dupla B3 e B4 Fonte: Acervo pessoal 125 Transcrição da fala dos Alunos B3 e B4 P: Vocês vão ler o problema em voz alta. E ai? Como a gente pode resolver. B3: A gente vai...É difícil? B4: Mais ou menos. P: Fale então aluno B4 o que você está pensando? B3: Se ele ganhou 5 carrinhos de sua tia e deu 3 para o primo dele ele ficou com 2... B3: Na coleção dele. P: Mais qual é a pergunta no problema? B3: Rodrigo tinha uma certa... B4: Quantos carrinhos ficou na coleção de Rodrigo? P: É assim que está a pergunta? B3 e B4: Não. P: Quantos... B3 e B4: ...Carrinhos a mais a coleção de Rodrigo ficou? P: Que nem você falou ele tinha 5... B3: E deu 3. P: E ficou com 2 certo, ai a pergunta quer saber quantos carrinhos a mais ficou a coleção. B3:Eu acho que tinha que ter o número da coleção para gente saber, né? P: Mais ele quer saber o número da coleção toda ou ele quer saber quanto que ficou a mais? B4: Ficou 2 a mais. B3: Tipo ele tinha 50 vai ficar com 52. P: Isso a ideia e essa. Então na verdade você não precisa saber a coleção, você só precisa saber quanto a mais ele ficou, foi como você deu o exemplo, então como Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud O aluno B3 esquematiza todo o procedimento e cálculo do problema. Chamamos isso de Composição hermenêutica. Observamos que, quando feita a leitura, o aluno consegue interpretar e extrair todas as informações necessárias para a resolução. Encontramos neste trecho os componentes de um esquema: as regras de ação, busca de informações e controle dos resultados, do tipo “se... então” em que o aluno buscou a informação dos dados no problema, estruturou-o e realizou o cálculo, o qual também é caracterizado como possibilidade de inferência. Percebemos que, com alguns questionamentos e correções de interpretações que os alunos tiveram no decorrer da leitura, eles apresentam o que é central do problema, que chamamos da Centralidade do Problema. O aluno vai explicando a estrutura do problema e questiona de não ter o valor inicial da coleção. Vergnaud destaca esse tipo de acontecimento, quando se refere ao sentindo que damos a situações, citando a história, destacando que o aluno apresenta conhecimentos préconstruídos ou até mesmo estabelecidos mediante as experiências que foram vividas. Talvez o fato de o aluno estranhar ou até mesmo buscar esse tipo de informação no problema pode ser reflexo de situações parecidas que o aluno vivenciou em que havia o valor inicial. Encontramos nessa Transcrição do diálogo do aluno a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, em que por meio da linguagem o seu raciocino lógico se torna efetivo. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. 126 a gente pode representar isso na operação? B3 e B4: 5-3=2 Temos aqui o terceiro tipo de invariante <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de subtração (5-3=2). P: Tá certo fácil né? B3 e B4: É. 6.2.3 Observações sobre o comportamento dos alunos B3 e B4 Os dois alunos são bem participativos durante as discussões, são muito observadores, quanto à leitura e às perguntas que são feitas. Para realização dos cálculos, utilizaram os dedos para contar, a todo instante sempre estavam trocando ideias sobre como resolver o problema; quando estavam em dúvidas ou não entendiam algo, questionavam em busca da resolução. Aluno B5 e Aluno B6 Figura 13 - Resolução do problema pela dupla B5 e B6 Fonte: Acervo pessoal 127 Transcrição da fala dos Alunos B5 e B6 P: Vocês vão colocar o nome de vocês aqui, fazer a leitura em voz baixa e vão me dizer o que vocês entenderam desse probleminha aqui. O que vocês entenderam? B6: Eu entendi que ele ganhou 5 carrinhos e deu 3 da coleção dele para o primo dele, então ficou ... P: E o aluno B5 o que achou? Não fica com vergonha não, pode falar! B5: Que a tia dele deu 5 carrinhos e ele deu para o primo dele 3 da coleção dele. P: E o que o probleminha quer saber? B6:Quantos a mais ele ficou de carrinhos P: E ai? Como a gente pode resolver? B6: E uma certa quantia, então a gente não sabe quanto é essa quantia. Tem que fazer uma conta de vezes eu acho que é de vezes. Eu acho que e isso ai? P: E você B6? B5: De vezes. B6: 5 x 3 e 15. Então ele tem 15 carrinhos. Vai fica com 15, faz continha de vezes que eu faço de menos. P: Agora explica pra mim porque vocês escolheram a multiplicação para resolver o problema? B6: Porque era de um jeito mais fácil, de fazer o quanto ele tinha porque e vezes e... P: Porque e vezes, quanto ele tinha? B6: Porque na divisão e mais fácil de achar o tanto de carrinho que ele tinha P: Na divisão? B6: ou na multiplicação. P: O que vocês entendem por multiplicação? B6: A professora explicou bastante, que na divisão dá para achar vários caminhos. P: Na divisão? B6: Não, na multiplicação dá para achar vários caminhos para fazer Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Encontramos, nos relatos dos alunos ao contar a história do problema, o sentido que dão para a interpretação da sua leitura, apresentando no diálogo a característica da designação de uma disposição. Por meio do diálogo do aluno B6 e pelo questionamento do professor percebemos que os alunos conseguiram identificar o que é central, que é tratado pela narrativa da Centralidade do Problema. Neste ponto podemos dizer, de acordo com Bruner, que temos uma Composição Hermenêutica, pois podemos observar, por meio do diálogo da aluna B6, a forma com que o aluno está pensando para resolver o problema, expondo suas estratégias e cálculos que está imaginando realizar. Podemos observar, por meio do diálogo do aluno B6, o motivo de suas ações. O aluno justifica a escolha da operação de multiplicação, porque a professora explicou que por meio da multiplicação dá para achar vários caminhos. Chamamos isso em uma narrativa de Ações têm motivos. Não estamos dizendo que a professora disse algo, mas algo vivenciado pela criança pode ter feito com que ela pensasse dessa forma, poderíamos dizer que seria um tipo de crença ou até mesmo um conceito estabelecido pela própria criança pela sua interpretação em relação à fala da professora. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. No seu diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. 128 a conta certa. P: Então, vamos pensar assim. Ai, vocês acham que ele ficou com quantos carrinhos? B5 e B6: Com 12 P: Com 12 a mais na coleção? B6: É P: Vamos pensar assim. Vamos desenhar. Lê pra mim o probleminha. B6: Rodrigo tinha uma certa quantidade de ... P: E você sabe essa quantidade? B6: Não P: Então vamos fazer um ponto de interrogação para essa quantidade, ou um quadradinho, vamos fazer um esquema, pode fazer um quadrado, agora vamos colocar um ponto de interrogação ai? A gente não sabe quanto e essa quantia. B6: Quantidade. P: Continua a leitura do problema. O que aconteceu? B6: Em sua coleção ganhou 5 carrinhos. P: Qual é a coleção que ta falando ai? B6: Do carrinho hotwells. P: E essa coleção inicial que eu não sei? Então ele ganhou quanto? B5 e B6: 5. P: Então como a gente pode representar o 5 aqui? Com esse 5, vai acontecer o que com esse 5 na coleção? B6: Mais porque a coleção dele tem uma quantidade certa mais 5. P: Tá e como a gente pode representa pode colocar + 5 que ele ganhou ai... B6: É P: Então vamos colocar aqui ó, então a gente sabe que a coleção mais isso daqui vai dar um tanto, né! Mais a gente não sabe esse tanto porque a gente não tem o valor da coleção inicial certo? B6: Certo. P: Ai o que aconteceu aqui, ele ganhou o carrinho da sua tia. B6: Deu ao seu primo 3 carrinhos. P: Então o que aconteceu, como a gente pode representar? B6: 3 – 5, não 5-3 P: Isso! Vamos por ai, e ai da quanto? B6: 2. P: E ai o que ele pergunta? O pesquisador realiza alguns questionamentos para tentar direcionar os dois alunos a compreender a estrutura do problema; temos, neste diálogo, a Negociabilidade inerente. Temos também aqui, a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, em que por meio da linguagem o seu raciocino lógico se torna efetivo. Mediante os questionamentos feitos pelo pesquisador, destacase a ambiguidade de referência, em que o pesquisador analisa a postura dos alunos quanto às indagações para observar a interpretação que estes estão tendo em relação a situação apresentada. Neste momento, o pesquisador sugere ao aluno que realize um esquema para compreender o problema; quando o aluno realiza esse tipo de tarefa temos os Invariantes operacionais explícitos, expressos por diagramas para compor a solução do problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de subtração (5-3). 129 B5 e B6: Com quantos carrinhos a mais ficou na coleção de Rodrigo? P: Então ele quer saber com quantos carrinhos ele ficou a mais não foi, com quantos carrinhos ele ficou a mais em sua coleção? B6: 2. P: Ai, o que ele pergunta? B5 e B6: Com quantos carrinhos a mais ele ficou na sua coleção? P: Ele que sabe quantos carrinhos a mais ele ficou? Tem a necessidade de saber quanto é a coleção inicial dele, ele tá perguntando isso a quantidade inicial? B6: Não. P: Ele quer saber o que o quanto ele tem... B6: Agora. P: Não, com quantos carrinhos a mais ele ficou, e com quanto ele ficou? B6: A mais? P: Pode falar aluna B5. Vamos pensar ! B5: Espera ai que to pensando. B6: Eu acho que é com 10. P: Porque com 10? B6: Porque se a gente multiplicar esse com esse vai dar 10. Não sei se é. P: ele não tem uma coleção inicial, eu preciso saber essa coleção inicial para resolver o problema? B6: Não. E você aluna B5 o que acha? B5: (Fica em silêncio). P: É não com certeza ou é duvidoso? B5 e B6: Duvidoso. P: Então o que ele tem é uma certa coleção e ele ganhou 5 da tia dele e deu 3 da onde ele tirou esses 3 para dar para Rodrigo ? B6: Da coleção. P: Mais você não sabe o valor da coleção, se a gente for pensar que nesse processo aqui ele ganhou 5 da tia e deu 3 para o primo dele com quanto ele ficou? B6: Ficou 20. Novamente o pesquisador inicia os questionamentos, caracterizando a ambiguidade de referência. Destacando aqui, a questão central do problema, chamamos a atenção para a interpretação dos alunos com relação ao valor 2: o cálculo já foi realizado pelos alunos, porém eles não compreenderam ainda a pergunta do problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariante <<argumentos>>: , por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. Outro ponto a destacar é com relação ao valor inicial, que este problema não possui, acarretando interpretações já pré-constituídas, por resolver problemas em que se tinha o valor inicial. Bruner destaca esse tipo de situação ocorrida como designação de uma disposição e que também é apontada por Vergnaud como a ideia de variedade. No diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. 130 P: 20? Ele ganhou 5 deu 3 para o primo. B6: Ficou 2. P: E o que e que vai acontecer com esse 2 aqui com relação a coleção? B6: Vai ficar menos, ele tá na coleção, ai como eu explico? Os 3 não ta mais na coleção eles foram subtraídos mais o 2 ficou na coleção. Podemos analisar esse trecho do diálogo como uma Particularidade Genérica, em que os alunos, em suas explicações, apresentam suas tomadas de decisões e descrevem como organizaram seus esquemas em busca da resolução; observamos também aqui a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico - científico. P: Então e a pergunta quer saber o que? B6: Quantos ele tem a mais ainda. P: Quantos carrinhos... B6: A mais Temos aqui o terceiro tipo de invariante <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. P: Ficou a coleção de Rodrigo. B6: Ele ficou com menos, então. P: Porque a menos? B6: 3 para seu primo, é...uma palavra boa para explicar, deu 3 para seu primo e ficou a menos. P: Essa coleção inicial que ele tava falando esse 5 tava incluído? B6: Se tava incluído!? Não P: Não, né! E ai aluna B5? É para vocês resolverem juntas. B6: O que você acha aluna B5? B5: Não sei. P: Esse 5 tava incluído na coleção inicial? B6: Incluído ele não tava não. P: Ele tinha um tanto na coleção e ai ele ganhou 5, ai o que aconteceu ele tirou, ele deu 3. Certo? B5 e B6: (Balança a cabeça) P: Ele tirou esses 3 de onde? B6: Dá coleção. B6: Ah entendi!!! Acho que ele tirou,... ó ele tirou, ele tem uma quantia e tinha... não sei quanto, mais 5 ele deu 3 tirou os 3 e ficou com 2 a mais do 5 que ele tinha ganhado, mas ele tinha uma quantia maior. P: Então o que vai acontecer com a coleção dele? B6: Vai ficar menor. P: Não, o que vai acontecer com essa coleção aqui, (desenho). Como você sabe se vai ficar menor, você mexeu nessa coleção aqui... B6: Não...deixa eu ver... P: Qual é a pergunta? B6: Quantos carrinhos a mais ficou na coleção de Rodrigo. A mais... Acho que pode fazer uma conta de menos, tipo assim ele Percebemos aqui os invariantes <<argumentos>>: por meio da narrativa, o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “menos” e “subtraídos”. Temos aqui o terceiro tipo de invariante <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a menos...”. Diante dos questionamentos feitos pelo pesquisador o aluno B6, vai interpretando as questões pouco a pouco; a narrativa é caracterizada pela ambiguidade de referência em que, por meio das indagações, o aluno vai apresentando suas interpretações e, ao final, ele estrutura todo o seu pensamento explicando o entendimento do problema. É interessante que o aluno B6 vai desencadeando toda a sua interpretação por meio da narrativa e, mediante suas colocações, o próprio aluno vai realizando as correções necessárias; observamos isso no último quadro da transcrição deste comentário. Neste trecho temos os conceitos em ação presentes na fala do aluno por meio de todas as informações postas por ele. Destacamos, além disso, os invariantes 131 explícitos que estão presentes por meio da linguagem natural e os esquemas produzidos pelo aluno para a resolução. tem o resultado, Ele ganhou 5-, não... ele tem uma quantidade exata, ele vai ficar a mais. Eu já entendi, ele não vai ficar com menos, ele vai ficar a mais. P: E quanto a mais ele vai ficar? B6:Com 2 a mais. P: Isso entendeu aluna B5, você tá quietinha! B5: Eu to tentando fazer a conta aqui. P: Entendeu agora? B6: Eu entendi. P: Então essa parte da multiplicação não tem a ver e nem essa outra parte aqui. B6: É. P: Porque ele tinha uma quantidade, geralmente eu sempre quero saber a quantidade que ele vai ficar depois no total, e aqui o problema ta perguntando ao contrario, você não precisa saber essa quantidade inicial da coleção, certo? Por quê? Você vai trabalhar com o que está acontecendo com essa coleção, então ele ganhou 5, então ele tinha um tanto naquela coleção, vamos supor um exemplo, se a gente sabe o quanto ele tinha na coleção, por exemplo 10 carrinhos, se ele ganhou 5 da tia dele, ficaria com 15, só que ai ele daria 3 e ficaria com quanto? B6: Dois a mais. P: Não ele iria ficar com 3 a menos, certo. Ai se você tinha aqui 15 e da 3, com quanto que você ia fica? B6: 15 tira 3? B5: 12 P: Só que não é isso que o problema quer saber, ele não quer saber o final da coleção, ele quer saber o quanto a mais de carrinho ele vai acrescentar nessa coleção, entenderam? B6: A ta, 3 a mais ou 2 P: Então, o que vai acontecer aqui. Se ele ganhou 5 e vai dar 3 para o primo dele então só restou quantos carrinhos para ele? B6: 2 P: O que ele vai fazer com esses carrinhos? B6: Ele vai acrescentar na coleção. P: Entendeu, essa é a resposta do problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. O pesquisador, por meio da conversa, vai trazendo situações próximas do problema e inicia a discussão com os alunos B5 e B6 com o objetivo de aprofundar a discussão e verificar o entendimento dos alunos, caracterizando no diálogo a negociabilidade inerente entre o pesquisador e os alunos e a ambiguidade de referência mediante a postura dos alunos em relação aos questionamentos e suas respostas. Conforme os questionamentos e explicações acima, o aluno B6 consegue interpretar a questão do problema, apresentando os invariantes do tipo <<argumentos>> quando este se refere “acrescentar”. Já o aluno B5 apresenta dúvidas. 132 B6: Há, entendi... P: Entendeu aluna B5? B5: Não. P: O vamos supor, você tem essa coleção de lápis, uma coleção qualquer de lápis, ai eu te dou 2 lápis, ai desses dois lápis você vai dar um para ela, certo! Vai ficar com quantos? B5: 1 P: 1, o que você vai fazer com esse um? Você vai ajuntar lá na sua coleção inicial, de lápis que você tem. Entendeu? B5: É. P: Você tem a caixinha de lápis de cor, acho que vem 12,né. B5 e B6: É P: Vamos supor que você não soubesse quanto tinha na caixinha, eu não preciso saber eu quero saber o quanto você vai acrescentar na coleção que você já tem. Entendeu? Ai você dá um para ele, você vai fica com um, quantos lápis você vai conseguir acrescentar na sua coleção? Um só, né. B5: Balança a cabeça. P: Se a caixinha tinha 12, ela vai ficar com...? B5: 13. P: Ele não quer saber o total da coleção, e sim o quanto você vai acrescentar na coleção. B5 e B6: Entendi, entendi. Aqui, o pesquisador busca um exemplo prático para verificar se o aluno compreende a questão central do problema; temos portanto neste diálogo a negociabilidade inerente e a ambiguidade de referência em que o pesquisador realiza a discussão com o aluno B5 e no decorrer da conversa vai observando as respostas e o comportamento mediante a sua interpretação. 6.2.4 Observações sobre o comportamento dos alunos B5 e B6 O aluno B5 aparenta ser bem mais tímido do que o aluno B6. O aluno B5 quase não participou das discussões, só ficou observando o que o pesquisador e o aluno B6 conversavam; no final, quando o pesquisador questionou se havia entendido, o aluno disse que não, então o professor por meio de um exemplo prático foi questionando e estruturando a interpretação do problema junto com o aluno até que ele mostrasse compreensão sobre o que estava sendo discutido. Já o aluno B6 participou intensamente das discussões; é importante destacar que ele, quando questionado, parava, analisava a questão e, após um tempo, respondia e quando não entendia perguntava novamente. 133 6.2.5 Síntese Geral dos alunos do Grupo 2 – Campo Aditivo Em nossa análise observamos que as três duplas apresentaram em seus diálogos a centralidade do problema, reconhecendo a questão norteadora do problema. Essa característica presente no diálogo é importante, quando bem interpretada pelo aluno, pois é ela que determinará toda a estrutura e entendimento das operações que devem ser aplicadas para resolver o problema; no entanto, verificamos que, mesmo as duplas apresentando essa característica no diálogo, nenhuma delas conseguiu previamente estruturar todo o problema sem apresentar qualquer dúvida inicialmente. Observamos que as duplas (B1 e B2) e (B5 e B6) destacaram a particularidade genérica, pois essas, quando questionadas a explicar o entendimento ou o cálculo proposto, em seus diálogos transpareceram suas interpretações feitas após a leitura do problema e as explicações dos cálculos que estavam sendo realizados, assim como a negociabilidade inerente entre o pesquisador e aluno e aluno-aluno, ou seja, a atividade em dupla propiciou esse momento de discussão entre alunos, o qual, em nosso ponto de vista, enriqueceu a atividade, pois eles tiveram momentos de dúvidas nos quais a discussão ajudou a esclarecer. A ajuda mútua aconteceu para a realização e verificação dos cálculos e as discussões foram enriquecedoras. Outro ponto a destacar foi a presença da ambiguidade de referência, no sentido de palavras que apresentaram certa dificuldade de entendimento como a palavra “certa”, bem como a mudança de postura dos significados, após os questionamentos realizados pelo pesquisador, por exemplo, o “valor 2”. Já as duplas (B3 e B4) e (B5 e B6) exibiram, em suas verbalizações, a composição hermenêutica, pois, depois da leitura apresentaram todas as informações necessárias para a solução do problema; a dupla (B3 e B4) além do levantamento das informações, antes de realizar o cálculo escrito, relatou verbalmente a forma como estavam pensando ao resolver o problema, expondo suas estratégias e procedimentos de cálculo que estavam imaginando. Esse tipo de situação também está ligado aos conceitos estabelecidos por Vergnaud (1998) pelas regras de ação, busca de informações e controle dos resultados, que fazem parte dos componentes de um esquema e que a dupla também exibe. A dupla (B1 e B2) no momento da explicação da resolução evidenciou o desencadeamento da pressuposição em que o aluno acredita que, para resolver o problema precisa primeiramente achar “o valor inicial da coleção” e, em seguida, apresenta a 134 estratégia do cálculo. Chamamos a atenção para esse ocorrido, pois o fato de não ter neste problema o valor inicial pode ter ocasionado um ponto de dificuldade para os alunos inicialmente, pelo fato de que, supostamente, esses alunos tivessem, em sua vida escolar, trabalhado apenas com problemas que apresentavam o valor inicial. A dupla (B5 e B6) destacou em seus diálogos um dos aspectos da narrativa que caracterizou a designação de uma disposição que também é destacada por Vergnaud (1998) como variedade, aquilo que dá ideia para o sentido da situação; a dupla apresentou um relato da história do problema dando sentido à sua interpretação após a leitura, o que a diferencia das interpretações das outras duplas. A dupla (B5 e B6) contou, com suas palavras, a historia do problema sem o acompanhamento da leitura novamente, o que, já com as outras duplas, não ocorreu. A dupla (B5 e B6) destaca o motivo pela escolha da multiplicação: na verdade, não era a operação correta para resolver este problema, mas ressaltamos sua fala, pois esta relata que a “professora disse que...”, portanto neste ponto podemos supor quais foram os motivos que levou a dupla a escolher tal operação, o que em uma narrativa é chamado de ações tem motivos. Nas três duplas encontramos os invariantes operacionais do tipo <<argumentos>>, o de representação das operações (5+3=8;5-3=2), e as relações como (a mais; a menos; subtraídos; acrescentar). Mais um ponto a destacar foram os Teoremas em ação (falsos) que as duplas (B1 e B2) e (B5 e B6) apresentaram em suas estratégias, por meio de operações que não condiziam com a solução. Já os Conceitos em ação foram localizados apenas na última dupla, que, em seu diálogo, demonstrou, por meio da fala, a seleção das informações que estavam disponíveis, realizando as correções em relação aos esquemas que estavam sendo proposto por eles, até chegar ao valor final do problema. Nesta etapa da atividade a dupla (B3 e B4) apresentou mais agilidade em relação às outras, em relação à interpretação e à estrutura lógica do problema. Nas outras duplas, houve mais discussões, porém, merecem destaque as características da narrativa e dos conceitos estabelecidos por Vergnaud; pudemos observar pontos essenciais para ajudar na observação do desenvolvimento dos alunos em suas resoluções. 135 6.2.6 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo multiplicativo O problema proposto para os alunos na segunda etapa, envolvendo as estruturas multiplicativas, é apresentado no quadro 23. Esse problema faz parte das relações terciárias ligadas ao eixo de PRODUTO DE MEDIDA, pertencente à classe de Configuração Retangular. A leitura do retângulo se dá pelas (linhas e colunas), então temos que a quantidade de ladrilhos será igual ao produto da quantidade de linhas (horizontal), pela quantidade de colunas (vertical). Objetivo: Observar se os alunos desenvolvem o problema por meio da estrutura multiplicativa. Quadro 22 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para o Grupo 2. Fonte: Adaptação do livro Ler e escrever: coletânea de atividades 2ª série, 2009,p.106). 136 Aluno B7 e Aluno B8 Figura 14 - Resolução do problema pela dupla B7 e B8 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos B7 e B8 P: Então, agora vocês vão ler o problema. O que vocês entenderam? B7: Ele é pedreiro e tem que fazer um trabalho de ladrilhamento de piso, e ele precisa de uma ajuda para saber qual a quantidade de peças a utilizar. Ele já colocou tanto na vertical quanto na horizontal. P: E ai conta para mim aluno B8 tem que saber o que? B8: Tem que fazer aqui a... B7: Se você não sabe fala que não sabe aluno B8. B8: Tijolos daqui e para cá... B7: Tijolos? Azulejos... P: E como podemos fazer essa conta? De quantos ladrilhos ele vai precisar? B7: Ele tem 1,2,3, 4,5,6,7,8,...20,21. B7: 21 B8: Que o? B7: 21, três, seis, nove,12,13,14,15...21 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Percebemos que o aluno consegue identificar o que dever ser descoberto, assim identificamos no diálogo a Centralidade do Problema, ou seja, a questão norteadora da situação. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. 137 P: Como pode representar? B7: Ele tem 21 a gente pode representar... 1, 2, 3, 4... 11 falta 21 para ele, então a gente pode somar, não pera ai... B8: Aqui tem quantos? P: Fala aluno B8. B8: Tem que pegar 1, 2, 3, 4... 11. Pegar onze e o que tá aqui B7: 21. B8: Não o que tá branco. B7: Então, 21. B8: 1,2,3,4...21. Pega o 21 e soma com o 11. P: Somar? Ai vocês vão descobrir o que, quando for somar? B7: O resultado que, não ... não! Não soma não. O resultado que vai dar aqui, é o resultado de tudo junto. B8: E o que ele tá pondo no bilhete. (desenho do pedreiro no problema) P: É o que? B7: Não é bilhete? P: O que o problema quer saber, ai? B7: Quanto ele vai utilizar? Ele já tem onze vai precisar de 21 faltou, para 11 chegar no 21...pera ai...11,12,13,14,15,...21 (contagem dos dedos) falta 10. P: Qual é a pergunta do problema? B7: Para saber qual é a quantidade de peças que vai utilizar... não, pera ai...Sr. Antonio é pedreiro e tem um serviço de ladrilhamento de piso pra fazer, ele precisa de uma ajuda pra saber qual as quantidades de peça que vai utilizar, ele já colocou as peças lado a lado tanto na horizontal quanto na vertical, como mostra o desenho abaixo, agora ajude a calcular quantos ladrilhos ele vai precisar. Então tem que somar. P: Qual é a pergunta do problema? B7: Ele precisa de uma ajuda pra saber quanto ele vai utilizar. P: Então mais ai o problema conta o que em B8? B8: Que ele... P: Sr. Antonio é pedreiro e tem um serviço de ladrilhamento de Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. O pesquisador questiona o aluno B8 quando este aponta a soma para achar o valor, neste trecho destacamos a ambiguidade de referência, pois, neste momento, o pesquisador realiza novos questionamentos para observar a mudança de postura em relação à operação que ele apontou, verificando, dessa forma, a sua interpretação no decorrer da discussão. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. Na narrativa percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. Neste ponto do diálogo do aluno B1 temos passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico: por meio da linguagem o seu raciocino lógico se torna efetivo. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e os gestos dos dedos para realizar a contagem. Novamente o pesquisador volta à pergunta inicial, para que os alunos apresentem a questão norteadora, a centralidade do problema, no sentido de observar o que realmente o problema deseja saber e verificar as relações matemáticas pertinentes a resolução. No decorrer da discussão o aluno B7 apresenta o valor correspondente à solução, porém não expõe qual operação pode representar este valor. 138 piso para fazer, ele precisa de uma ajuda pra saber a quantidades de peça que vai precisar, ele já colocou as peças lado a lado tanto na horizontal quanto na vertical, agora ajude a calcular de quantos ladrilhos ele vai precisar?(os alunos fazem a leitura junto com o pesquisador) B8: Se ele vai precisar se ele aqui e aqui... B7: Ele vai precisar de 21 P: Deixa o aluno B8 falar. B8: Ele vai precisar se ele fechar aqui ou aqui, ele vai precisar de 12 se ele fechar aqui ou aqui. P: Que nem você falou ele já fez aqui e aqui, ele vai precisar de quantos? B8: 21 pisos P: Tá põe ai então, 21 pisos. Agora como eu posso representar esse 21 em uma operação? B7: Uma conta de vezes, né? P: Como eu posso representar então, na multiplicação? B8: ele vai ter que... P: eu sei que o resultado tem que da 21. B7: Assim, a gente pode colocar...tem que dá 21. A gente pode...pera ai? A gente precisa pegar esse valor aqui,4,5,6,7,8...12 tem que colocar... B8: Não. B7: Já, sei já sei, já sei 12 x 21 B8: Não. P: Porque não aluno B8? B8: Tem que somar daqui para cá... B7: Calma, aluno B8... B8: O que tá faltando dos pisos, né? P: Então o que tá faltando dos pisos, vocês falaram 21. Então essa é a resposta do problema, certo! A resposta, já tá aqui e 21. Agora com que operação eu posso representar? B8: E só pegar o 21 x 11 P: Mais ai vai dar mais que 21, a operação tem que dar 21 que é a resposta. B8: Tem que dá 21? O aluno B8 também realiza a sua interpretação, quando é interrompido pelo aluno B7; aparentemente, apesar da dispersão dele na discussão, ele apresenta o valor após o aluno B8 ter falado. Encontramos, nessa Transcrição do diálogo do aluno, a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico: por meio da linguagem o seu raciocino lógico se torna efetivo. O aluno B7 propõe a multiplicação; essa narrativa refere-se à ação tem motivos, exatamente pela discussão ocorrida em relação aos valores 12 e 21 e que, provavelmente,fez com que o aluno pensasse nesse valor. Percebemos, porém, que o aluno ainda não conseguiu interpretar corretamente o problema. Neste ponto do diálogo da dupla, o pesquisador realiza alguns questionamentos para tentar direcionar os dois alunos a compreender a estrutura do problema. Encontramos aqui a Negociabilidade inerente. O aluno B8 apresenta a operação de multiplicação, porém, com os valores errados; o pesquisador o questiona, tentando encontrar o motivo da escolha e direcionando Percebemos um Teorema em Ação (verdadeiro), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. 139 P: Tem que dá 21 a resposta. Qual a operação que representa para dar 21? B8: Eu sei! P e B8: Então, fala! B8: Calma ai me deixa fazer a conta... B7: Pera ai deixa eu só coloca o 21. B8: Formei uma conta já. B7: Deixa eu ver! P: Deixa-me ver, mais o que é esse 11, 10 têm a ver com a figura aqui? B7: Você quis somar, oxé! B8: Sabia... B7: Você quis somar? B8: É P: 11+10 da 21 mais o que esse 11 e esse 10 tem a ver com 21? Tem que se valores que tem haver aqui. B7: Se de 21, então. Isso daqui, mais... A já sei... Não vai dá. P: Vamos prestar atenção aqui “ele já colocou as peças lado a lado tanto na horizontal quanto na vertical, como mostra o desenho abaixo”... Como eu posso achar esse 21 ai? Então vamos pensar no branco. B7: Aqui ó, aqui já é 21. P: Não, tá. Esquece o azul, vamos pensar nesta parte aqui do branco. B7: É tudo 21. B8: É tudo 21, ai eu vou fazer a conta e vai ter que dá 21? Quando a gente for fazer a conta? P: É! B8: De divi..de vezes B7: De dividir ou de vezes ele quis dizer. B8: Vezes e mais. ao entendimento correto do problema. Os dois alunos começam a verificar qual deverá ser o valor, porém, não conseguem observar a relação do desenho com os valores que deverão representar o 21. Já o aluno B7 apresenta outro tipo de operação, demonstrando que a proposta que ele tinha exposto acima não estava clara para ele. Destacamos aqui a característica das narrativas nos diálogos dos alunos as ações tem motivos: o aluno está utilizando os valores 11 e 10, pois estes quando somado da 21. Operacionalmente ele decompôs o valor 21. P: Quantos ladrilhos eu tenho na horizontal? Em aluno B8? B8: A sim... B8: 7 P: Então vamos por aqui, 7. B7: Ai a gente pode somar 7+7... P: Ai quantos ladrilhos eu tenho agora na vertical? B7: 3. P: Então vamos por o 3 aqui? B8: Aqui, vai dar... P: Que operação? B8: Vezes? Vai da vezes... P: Quanto é 7 x 3? B8: 21. Deu certinho. Por meio do questionamento do pesquisador os alunos vão, aos poucos, estruturando a resolução do problema. Temos nesse diálogo a Negociabilidade Inerente. O pesquisador vai conduzindo os alunos por vários questionamentos e explicações, com o objetivo de que eles estruturem e interpretem o problema corretamente e apresentem os valores necessários para se chegar na operação da multiplicação e representar o valor 21. Aqui temos a negociabilidade inerente, a qual é criada entre pesquisador e aluno e alunoaluno. No decorrer da conversa o aluno B8 apresenta outra operação “divisão” o aluno B7 intervém na fala dizendo “multiplicação”. Novamente o aluno apresenta outro tipo de operação à adição destacada em sua fala como “mais”. Identificamos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta um outro tipo de operação para resolver o problema. Identificamos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno B8 que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta vários tipos de operação para resolver o problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariante <<argumentos>> por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de multiplicação (7 x 140 3 = 21). P: Entenderam agora? Então toda vez que eu tenho figuras geométricas e eu quero saber a disposição de peças de uma figura ou saber as cadeiras de uma sala de aula, eu não vou contar de uma e uma cadeira... B7: Só conta uma parte. P: Eu conto a horizontal e a vertical e multiplico-as, daí eu consigo saber o valor todo. Deu para entender? B8: e B7: Uhu! 6.2.7 Observações sobre o comportamento dos alunos B7 e B8 Os dois alunos apresentaram uma boa leitura. O aluno B7 é um aluno muito agitado e disperso em alguns momentos, no decorrer da conversa apresentou varias operações sem dar sentindo a escolha delas. O aluno B8 se mostrou mais concentrado na discussão e seu rendimento em relação ao aluno B7 foi mais satisfatório. O aluno B7 se perdia muito em suas falas dizendo o que viesse em sua mente na discussão. Para essa atividade os alunos B7 e B8 usaram muito o desenho proposto no corpo do problema para realizar as contagens necessárias. 141 Aluno B9 e Aluno B10 Resolução do problema pela dupla B9 e B10 Fonte: Acervo pessoal Figura 15 - Transcrição da fala dos Alunos B9 e B10 Análise de acordo com Bruner P: Vocês vão ler em voz alta e explicar o que entenderam tá? B9: Ai, esse e mais difícil. B10: 1,2,3,4...11 (horizontal), 1,2,3... B9: Que nem a professora de matemática falou lembra do... B10: É ...é... B9: Deixa eu ler de novo. P: O que a professora falou? B9: Eu acho que é assim, ela tava passando fração. Tem alguma coisa a ver com fração, ou não? P: Não. B9: E que ela fala dos pintados, ai colocava 11 e ai contava o resto junto. P: A tá, não B10: Não pera ai, 11 mais o número que tem aqui em branco. P: Quanto tem em branco ai? Análise de acordo com Vergnaud Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e os gestos dos dedos para realizar a contagem. Neste trecho, destacamos o diálogo dos alunos explicando o entendimento de algo que já conheciam (fração), o que chamamos de Ações tem motivos. Os alunos destacam o estudo de fração como sendo uma provável estratégia para ser utilizada para a resolução do problema, pois lembraram algo que haviam vivenciado em sala de aula com a professora o que desencadeou com a ilustração do problema. Negociabilidade inerente. Destacam-se aqui as trocas de informações e a colaboração 142 B10: Deixa eu ver, 1,2,3,...21, dá 21, e esse. B9: 32 P: Tá. 32 e o total de azulejos. Mas aqui, que nem ele colocou, tá até sublinhado, ele já colocou as peças de lado a lado tanto na horizontal como na vertical como mostra o desenho abaixo, agora o ajude a calcular quantos ladrilhos ele vai precisar, ele já dispôs aqui, não já? B9 e B10: 32, por causas desses daqui...ou esse número. P: Ele já colocou aqui, quantos azulejos ele já colocou? B9: 11 P: E os que não estão pintados... B9: Precisa, 1,2,3,...21 P: Isso, 21. Agora como eu represento esse 21 em operação? 21 é a resposta... B9: 11 + o que que vai dar 21... B10: Já sei, 11,..9,10,11,12,... B9: Não B10: ai é 11,12,... B9: 11+10 da 21...o P: Tá, esse 11 com mais 10 o que tem a ver com a figura aqui? B10: Aqui é onze (mostrou a linha horizontal), aqui dá 21... B9: Espera, espera ai...não não dá certo. P: Vamos ler de novo, ele já colocou as peças de lado a lado tanto na horizontal quanto na vertical. B10: A já entendi acho que a gente vai ter que contar aqui e aqui. (mostrou a linha horizontal e vertical) B9: 9. P: Mais vai contar assim? Ele separa horizontal e vertical. B9: Aqui e horizontal e vertical P: Tá, mas para chegar no 21? B10: 1,2,3,4,5....20,21 P: Não! B9:1,2,3,4,...9,10,11 e 12,13,14,...20 P: Quantos têm na horizontal? Na parte branca aqui porque a azul ele já colocou. B9 e B10: 7 entre a dupla, que ocorreram a todo instante juntamente com o pesquisador. O pesquisador cria, no diálogo, a negociabilidade inerente para conduzir os alunos à interpretação e estruturação do problema. Observamos no diálogo a Composição Hermenêutica: a dupla tenta estruturar o problema, buscando maneiras e respondendo a questionamentos que estão sendo direcionados pelo pesquisador para que se chegue à solução. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e os gestos dos dedos para realizar a contagem. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e os gestos dos dedos para realizar a contagem. Na fala do aluno B9 percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhida pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta um outro tipo de operação para resolver o problema (11+10) em busca do valor 21. Apresentamos aqui a Composição hermenêutica, em que a dupla, com o auxílio do pesquisador, vai observando e delineando as tomadas de decisões para a solução do problema. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e os gestos dos dedos para realizar a contagem. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo 143 B9: 7+7, 14 B10: +7=21 número, em que operação de (7+7+7=21). P: Então eu tenho 7 aqui, quantos que eu tenho aqui na vertical? B10: 4 P: na vertical? B9 e B10: 3 P: E o que esse número tem a ver com 21, que operação? B9: 7x3=21 P: Então vocês entenderam, quando eu tenho uma figura que traz essa ideia de figuras retangulares... Ou quero saber a posição de carteira dentro de uma sala ou de um palco eu não vou contar uma por uma e só eu contar a horizontal... B9 e B10: E a vertical. P: Ai eu sabendo essa duas eu multiplico e eu consigo achar o total que tem. Por exemplo, um estádio ou uma casa de show eu não vou contar uma por uma. B9: É, por exemplo, eu tenho 500 cadeiras eu vou contar lá, quanto tem na primeira fileira ai eu multiplico tudo e acho o resultado. P: Então, vamos supor você falou em 500 vamos imaginar que tenha 5 fileiras e em cada fileira tenha 100 cadeiras... B9 e B10: Então 5 x 100 = 500 seria a adição Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de multiplicação (7x3=21). Neste trecho do diálogo da dupla destacamos a Composição Hermenêutica: podemos observar o entendimento que os alunos tiveram do significado da estrutura de problemas deste tipo, quando dão o exemplo, acompanhando a explicação do pesquisador. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de multiplicação (5 x 10 = 500). P: Isso mesmo. 6.2.8 Observações sobre o comportamento dos alunos B9 e B10 Os alunos B9 e B10 foram participativos na atividade, sempre estavam interagindo na discussão, um com o outro e com o pesquisador. Estavam atentos a todos os questionamentos e explicações feitas pelo pesquisador. Os alunos utilizavam bastante o desenho proposto no problema para a contagem. No decorrer da conversa os alunos colocavam muitas propostas em jogo entre eles e discutiam a sua veracidade; sempre quando um dos dois discordava os alunos voltavam ao ponto inicial realizando a leitura quando sentiam necessidade e indagavam o pesquisador em busca da solução do problema. 144 Aluno B11 e Aluno B12 Figura 16 - Resolução do problema pela dupla B11 e B12 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos B11 e B12 P: Vamos fazer a leitura. B12: 21 P: Então explica para mim e o aluno B11, o que é, que o problema quer saber? B12: De quantos ladrilhos a mais ele precisa. P: Ah, e ai? B12: Ele precisa de 21. P: Explica para mim, porque 21? B12: Aqui tem 7... (a aluna olha os ladrilhos na horizontal e vai contando um a um) 20, 21. P: E ai aluna B11. B12: Você acha o que aluna B11? Ele vai precisar de 21 a mais e ele já fez 12, vertical e horizontal, e ai ele precisa ajuntar 21 a mais pra terminar a obra. P: E como você achou esse 21? B12: 7x3. Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Percebemos que o aluno B6 conseguiu identificar o que deve ser resolvido no problema com o questionamento do pesquisador e apresentou a questão central, caracterizada como a Centralidade do Problema. Neste trecho do diálogo do aluno destacamos a Composição Hermenêutica: observamos a explicação do aluno para resolver o problema e as justificativas que ele dá para a solução do problema. Encontramos nessa Transcrição do diálogo do aluno também a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico: por meio da linguagem, seu raciocino lógico se torna efetivo. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. Temos aqui o terceiro tipo de invariante: <<argumentos>>: 145 por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de multiplicação (7x3). P: E como a gente pode representar essa operação que você falou? Aluna B12 B12: Sete daqui e 3 daqui P: Agora me explica como você achou esse 7 ? B12: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... P: Tá, e o 3? B12: Os três é daqui. (a aluna aponta a linha vertical), porque esse aqui não vale (a aluna diz dos ladrilhos azuis), porque esse aqui já tá feito. P: Entendeu aluna B11? B11: Uhu. P: Tá quietinha. Então toda vez que a gente for resolver um probleminha fazer esse probleminha assim, esse e o tipo de problema que trabalha com medidas retangulares, então eu conto a minha linha que ta... B12: Que tá pintado, e a que não tá... P: Às vezes pode tá pintada ou às vezes não, ai para eu não ficar contando um por um, eu conto só a primeira linha que seria a horizontal, e depois a linha... B12: Vertical. P: E fazendo o produto dessas duas quantidades, que seria a multiplicação, ai eu consigo achar, o total de ladrilhos, ou de cadeiras, que eu tenho em um determinado espaço, eu não preciso sair contando uma por uma... B12: Na verdade, a gente tem 8, só que ai já tá pintada os quadrinhos, e aqui os brancos, fica mais fácil de fazer a multiplicação. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta. Ao finalizar a conversa o pesquisador retoma a explicação toda do raciocínio do problema, criando a negociabilidade inerente entre ele e a dupla; destacamos a participação do aluno B12 neste momento com suas interpretações. 6.2.9 Observações sobre o comportamento dos alunos B11 e B12 O aluno B12 foi muito participativo nesta atividade enquanto o aluno B11 não teve o mesmo envolvimento, por mostrar uma grande timidez. Para realização dos cálculos, os alunos sempre estavam falando em voz alta e utilizando os dedos. Destacamos no final dos diálogos a interpretação do aluno feita na conversa com o pesquisador. 146 6.2.10 Síntese Geral dos alunos do Grupo 2 – Campo Multiplicativo Mediante as análises realizadas destacamos a dupla (B9 e B10), por terem tido uma maior interação entre eles relacionada às discussões do problema; em seus diálogos não destacou a centralidade do problema; logo após a interpretação, a dupla partiu rapidamente para a resolução, já as outras duplas destacaram o que era central no problema e depois conduziram o caminho para a resolução. A ambiguidade de referência se destacou somente nos diálogos da dupla (B7 e B8) por terem apresentado uma operação que não condizia à solução e, depois do questionamento do pesquisador, a dupla muda de atitude quanto a sua interpretação inicial. Já a negociabilidade inerente está presente em todas as duplas, tanto entre o pesquisador e os alunos, quanto em relação à dupla. As duplas (B9 e B10) e (B11 e B12) destacaram em suas falas a composição hermenêutica quanto ao desenvolvimento da estrutura do problema e em relação ao desenvolvimento do raciocínio gerado pelo exemplo proposto do pesquisador no final da conversa da última dupla em que os alunos participaram complementando as ideias do pesquisador. A primeira e última dupla deixou transparecer fortemente em suas falas a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógicocientífico em que os alunos estruturam todos os seus esquemas e realizaram a verbalização em conceitos matemáticos. As ações têm motivos destacam-se na dupla (B7 e B8) mediante a escolha dos números para representar o valor 21. A dupla (B9 e B10) destaca o estudo de fração como uma provável solução para resolver o problema, mas ao final acaba não sendo efetivada, pela intervenção do pesquisador. A particularidade genérica está presente apenas na segunda dupla, no momento em que o pesquisador, juntamente com os alunos, vai delineando a estrutura do problema, motivado pela dificuldade que os alunos apresentam na interpretação do problema. Em relação aos invariantes operacionais do tipo <<argumentos>>, estão presentes nas três duplas pelas operações matemáticas e os esquemas de numeração que são a contagem dos desenhos e a utilização do mesmo como apoio. Nas duas primeiras duplas temos os teoremas em ação (falsos) pela diversidade de operações posta em jogo para representar a resposta “21” e apenas a primeira dupla retrata um teorema em ação (Verdadeiro) quando esta pergunta se é a operação de vezes para representar o valor 21. 147 6.3 Atividade Interação: 3ª ETAPA 6.3.1 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo aditivo Nesta terceira etapa apresentamos o problema descrito no quadro 24 para os alunos trabalharem em dupla. O problema apresenta duas etapas, correspondentes a duas rodadas de pedidos de pizza, que leva a uma operação de composição, e, ao final a composição das duas rodadas resulta em uma nova composição na qual os valores totais de cada rodada se compõem ao final. De acordo com os estudos de Vergnaud (2009, p.269), esse problema faz parte dos PROBLEMAS ARITMÉTICOS COMPLEXOS em que apresenta a 1º categoria. Objetivo: Observar se os alunos percebiam que entre a 1ª e a 2ª rodada de pizzas consumida pelos alunos ocorria uma nova composição. Quadro 23 - Problema da Estrutura Aditiva aplicado para o Grupo 3 Fonte: Adaptação do problema de (Magina,et.al, 2008,p.55) 148 Aluno C1 e Aluno C2 Aluno C1 Aluno C2 Figura 17 - Resolução do problema pelos alunos C1 e C2 Fonte: Acervo pessoal 149 Transcrição da fala dos Alunos Análise de acordo com Análise de acordo com C1 e C2 Bruner Vergnaud Transcrição do Aluno C1 com o pesquisador P: Você vai realizar a leitura e resolver o problema na folha, tá? E explicar como você vai resolver. C1: Tá! P: É você que não gosta de ler em voz alta? C1: É. (realiza a leitura em voz Encontramos aqui um dos alta). Eu tenho que fazer de componentes do esquema que trata das metas e mais. antecipações, após a leitura o aluno, apresenta a operação que deve ser feita para solucionar o problema. P: Pode fazer. C1: Pronto! P: Então me explica como você O aluno C2 explica o cálculo fez? que será realizado pela C1: Eu fiz de mais, porque tava interpretação que teve da Encontramos aqui o Conceito pedindo o todo, o que eles palavra “o todo”. em ação: o aluno selecionou comeram. Caracterizamos esse tipo de as informações disponíveis diálogo de Composição para resolver o problema, hermenêutica: ele busca destacando a palavra “todo”. significados para definir o tipo de cálculo que deve ser realizado. P: Então, tá. Transcrição do Aluno C2 com o pesquisador P: Você vai ler o problema em voz alta e ai você responde aqui e explica. C2: Tem que fazer uma soma. Particularidade Genérica: por Nesta parte identificamos o meio do diálogo o aluna primeiro componente dos apresenta sua tomada de esquemas, as metas e decisão para a solução do antecipações, em que o aluno problema. apresenta suas escolhas e tomadas de decisões para proceder à resolução. P: Uma soma? C2: Isso. P: Pode fazer aqui! C2: Pronto. P: Quanto que deu, o seu? C2: 21. Transcrição da Interação com o Aluno C1 e o Aluno C2 P: C1 senta com o C2, agora conta para ela como você fez. C1: Eu fiz soma, de mais. Encontramos na explicação do aluno C1, para seu colega, um dos componentes do esquema, metas e antecipações: o aluno apresenta a tomada de decisão dele quando a relata. P: E quanto que deu sua conta? C1: Deu 19. P: Conta para ele; conversem ai vocês dois. C1: 19. Negociabilidade inerente: os Mediante as colocações e C2: A minha deu 21, eu somei alunos apresentam sua solução explicações dos alunos um tudo. Calma, ai! um para o outro e tentam para com o outro, observamos P: Confere ai a conta de vocês. descobrir no que erraram e de os invariantes operacionais C2: (O aluno confere as contas quem foi o erro. explícitos que são expressos 150 dos dois e C1 também) pelos alunos pela linguagem natural. Nesta parte, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, o raciocínio do aluno que é desenvolvido por meio de cálculos e informações. C2: C1 acho que você não, pois um 3, ou eu coloquei +1. C1 e C2: (Ficam observando as contas para encontrar o que está de diferente.) C2: Eu coloquei dois 3, e você só colocou 1. C1: É isso mesmo. P: O que está faltando ai? C2: um 3. P: Qual o número que ele colocou errado? C2: Ele esqueceu de colocar mais um 3, por causa da... P: Mas se por mais um 3, da quanto? C1: 22 Ambiguidade de referência: O pesquisador abre um questionamento e vai conduzindo os alunos para que observem se realmente o que estão discutindo está correto; ao final o aluno percebe que ainda não descobriu o que está errado. P: Qual número que tá fora do contexto? C1: Não é o 3 não...rsrs. Deixa eu ver. P: Confere todos os dados do problema. C1 e C2: (Confere a conta e C1 conta nos dedos). C2: Deixa eu ver esses dados. (Confere todas as fatias que estavam descrita no problema, com sua conta). C1: Faltou um 4 seu. C2: Não isso aqui é da primeira rodada. Deu 21, tá certo. P: Então, o que tá faltando no dele? C2: (Pega a folha para conferir). Há! É que ele pôs esse um aqui. P: Na primeira rodada? Então, arruma C1. C2: Ele tirou o 3 e pôs o 1. C1: Ai vai dá menos, vai dá 18. C2: Não, pera ai deixa eu ver. Mas você esqueceu de por um 3! C1: Ai, 21 C2: (Confere a conta do aluno C1, utilizando os dedos para realizar a contagem). C1: Vai dar certo. C2: Então, tá. P: Agora, está certo? Coloca o resultado. Agora deixa eu fazer umas perguntinhas para vocês? Se vocês tivessem feito na primeira rodada, o Fernando comeu quatro fatias do que? C2: De pizza. P: De mussarela, não foi? E depois na segunda rodada ele comeu quantas fatias? C2: Deixa eu ver. P: Fernando. Comeu 3 de calabresa. Se eu fizesse Esquema de numeração, o aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. Negociabilidade inerente: os alunos continuam a discussão procurando onde está o erro, até encontrarem a solução correta do problema. Nesta parte, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, o raciocínio do aluno que é desenvolvido por meio de cálculos e informações. Esquema de numeração, o aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. Temos a ambiguidade de referência, o pesquisador lança outra forma de resolver o problema e verifica a interpretação dos alunos em relação à resposta deles; caso resolvessem pela maneira 151 compondo essas fatias de cada um, ia dar diferente o resultado no final? C2: Não. P: Por quê? C2: Porque ia fazer do mesmo jeito que é conta de mais P: Mais porque que não ia dar? No que o problema tava interessado em saber? sugerida pelo pesquisador, é perguntado se haveria mudança no valor. Os alunos falam que não e apresentam uma justificativa ao final. Após a discussão o aluno C2 apresenta o que era central no problema. Nesta parte do diálogo identificamos a Centralidade do problema. C1: Quantas fatias ao todo eles comeram? P: Não importava então qual tipo de pizza que era. Importava ou não? C1 e C2: Não 6.3.2 Observações sobre o comportamento dos alunos C1 e C2 Os dois alunos resolveram com facilidade o problema. Porém C1 não prestou atenção às quantias corretas da pizza e colocou dados errados em sua conta. Já C2, ao montar sua conta, conferiu todos os dados que nela estava pondo. Na hora da discussão C2 se destacou, pois partiu dele olhar a conta de C1 para conferir o que ele havia errado. Em relação à discussão os dois participaram bem, observando e respondendo às perguntas do pesquisador. 152 Aluno C3 e Aluno C4 Aluno C3 Aluno C4 Figura 18 - Resolução do problema pelos alunos C3 e C4 Fonte: Acervo pessoal 153 Transcrição da fala dos Alunos C3 e C4 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno C3 com o pesquisador P: Você vai ler esse problema em voz alta e depois explicar como que poderia resolver. C3: Ele quer saber ao todo, Particularidade Genérica: O Encontramos aqui o Conceito então é conta de mais. aluno conta a sua tomada de em ação: o aluno selecionou decisão para a resolução e, as informações disponíveis com sua explicação, apresenta para resolver o problema. o motivo pelo qual irá fazer a conta, destacando a palavra “todo”. Temos aqui o que é chamado, na narrativa, de ações tem motivos. P: Pode fazer aqui. E tem Ambiguidade de referência: o alguma diferença essa primeira pesquisador sugere outra rodada a quantidade e tipos de maneira de resolver o problema pizza que eles comeram? para o aluno, na intenção de C3: (Fica pensando) e balança a verifica sua postura em relação cabeça que sim. Têm. ao resultado final, se haveria P: Como que poderia... mudança ou não. C3: E só ajuntar tudo e vê Nesta parte, identificamos o quanto que comeu. primeiro componente dos esquemas, as metas e antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. P: E só ajuntar tudo e vê? Então, pode fazer. Quanto que deu a resposta? C3: 21 Transcrição do Aluno C4 com o pesquisador P: Você vai ler esse probleminha em voz alta, tá. C4: Uhu (o aluno realiza a leitura) P: Como a gente pode resolver Particularidade Genérica: o isso? aluno conta a sua tomada de C4: De mais decisão para a resolução. Nesta parte, identificamos o primeiro componente dos esquemas, as metas e antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. P: Pode fazer... isso. Transcrição da Interação com o Aluno C3 e o Aluno C4 P: O aluno C4 vai te contar como Observamos, no diálogo, o ele fez ta? E ai você vai contar e aluno C4 destacando a palavra depois vejam se vocês “todo” para justificar a sua conta concordam ou não. Conta aluno de adição para seu colega, o C3 para o aluno C4 como você que chamamos de Ações tem motivos, em que o aluno busca resolveu o problema? C4: De mais. motivos para que possa P: Conta como você fez. expressar o seu entendimento. C4: Eu li, aí tava aqui “todo” eu Encontramos aqui o Conceito em ação, em que o aluno peguei o número de fatias e fiz de mais. selecionou as informações disponíveis para resolver o problema, destacando a palavra “todo...”. P: E deu quanto? C4: 21 P: E você aluno C3 conta para 154 ele como você fez? C3: Eu fiz a mesma coisa. P: Como então! Conta... C3: Eu li, e quando eu vi o “todo” ai peguei tudo e fiz conta de mais. P: Então vocês acham que o jeito que vocês resolveram tá certo? C3 e C4: Sim P: Na hora da leitura interferiu essa questão de 1ª e 2ª rodada e das fatias de pizzas serem diferentes? C3 e C4: (Balança a cabeça em sinal de não) P: Vocês pensaram em somar todas as fatias que Bia comeu, que o Fernando comeu, que Maria comeu e somar tudo? C3 e C4: (Balança a cabeça em sinal de não). P: E se vocês tivessem feito assim, vocês acham que ia ter uma diferença? C3: (Levantou o ombro) C4: (Ficou parado em silêncio, com um olhar de que estava analisando a situação). P: No valor? C4: (Balança a cabeça em sinal de sim). P: Você acha que ia ter? Por quê? E você aluno C4 acha que ia ter diferença? C4: Ficou em silêncio. C3: (Balança cabeça em sinal de não). P: Porque que não? C3: Porque é mais fácil somar tudo. P: É isso mesmo, está certo o que vocês fizeram. Observamos, no diálogo do aluno C3, o destaque da palavra “todo” para justificar a sua conta de adição para seu colega, o que chamamos de Ações tem motivos: o aluno busca motivos para que ele possa expressar o seu entendimento. Encontramos aqui o Conceito em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema, destacando a palavra “todo...”. O aluno, após a questão do pesquisador sugerindo outra maneira de resolver o problema, transpareceu ter ficado em dúvida se a resposta mudaria ou não, mas logo em seguida o aluno C4 apresenta o seu ponto de vista. Neste ponto destacamos a ambiguidade de referência. 6.3.3 Observações sobre o comportamento dos alunos C3 e C4 O aluno C4 se destaca em suas explicações, em quanto o aluno C3 aparenta ser tímido, quase não participando das discussões promovidas entre o pesquisador e o aluno C4; suas interações foram bem breves com ambos. Para a realização dos cálculos, o aluno C4 utilizou os dedos para realizar a contagem e descrever as sentenças propostas por ele e, em alguns momentos dessa etapa, houve a participação do aluno C3 apenas nos cálculos. 155 Aluno C5 e Aluno C6 Aluno C5 Aluno C6 Figura 19 - Resolução do problema pelos alunos C5 e C6 Fonte: Acervo pessoal 156 Transcrição da fala dos Alunos C5 e C6 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno C5 com o pesquisador P: Você vai ler e me explicar como você pode resolver? E ai como pode ser feito? C5: Tem que somar tudo. Temos presente nesta fala um invariante explícito: o aluno, por meio da linguagem, apresenta a operação de adição para resolver o problema, por meio da palavra “soma”. P: Então, pode fazer. C5: (utiliza os dedos para Esquema de numeração, o contagem) Pronto! aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. P: Quanto deu? C5: 21 Transcrição do Aluno C6 com o pesquisador P: Você vai ler em voz alta e me explicar como poderia resolver. C6: (O aluno realiza a leitura). P: E ai como podemos resolver? C6: Ummm...pega 4... P: O que o problema quer saber? C6: Quantas fatias ao todo os O aluno demonstra saber o que amigos comeram na pizzaria? deve ser resolvido, neste trecho do diálogo destacamos a Centralidade do Problema. P: E ai como eu faço? C6: Pega o 4 x 3 e 4 x 2 Em seu diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. P: Então pode fazer. Pronto. Transcrição da Interação com o Aluno C5 e o Aluno C6 P: Explica como você fez aluno C6. C6: Eu fiz errado (o aluno Esquema de numeração: o começa a apagar o cálculo) e aluno utiliza os dedos para (começa a contar nos dedos) realizar os cálculos. pronto. P: Explica então para ele, aluno Neste diálogo do aluno C5 C5, o que você fez. destacamos a Composição C5: Assim, o problema pergunta Hermenêutica, por meio da Encontramos aqui os quanto que eles comeram ao qual podemos observar a Conceitos em ação: o aluno todo e ai quando fala ao todo e explicação que o aluno dá para selecionou as informações porque e conta de mais. o outro, como interpretou o disponíveis para resolver o problema, e o destaque que o problema. C6: O meu tá errado. aluno deu para a palavra “todo”, P: Então o que você tinha que que relacionamos com a Ambiguidade de referência. fazer? Nesta outra parte temos outra caracterização da ambiguidade de referência, o questionamento do pesquisador ao aluno faz com que ele 157 perceba que realizou o cálculo incorreto, assim apresentando uma nova operação. C6: Soma todas as fatias. P: Então, soma as fatias para saber a resposta. Quantas fatias então deram? C6: 21. 6.3.4 Observações sobre o comportamento dos alunos C5 e C6 Os alunos realizam a atividade com calma, utilizam os dedos para realizar a contagem. Na interação, no momento da explicação, o aluno C6 percebe alguns erros que cometeu no cálculo. Chamamos a atenção para a postura do aluno C5 ao explicar a sua resolução para o aluno C6, para que este entenda o que havia feito de errado. 6.3.5 Síntese Geral dos alunos do Grupo 3 – Campo Aditivo Observamos que apenas as duplas de interação (C1 e C2) e (C5 e C6) apresentaram como característica em seus diálogos a centralidade do problema destacando, a partir da leitura, o que era central no problema; porém a primeira dupla só destacou a questão central quando o pesquisador chamou a atenção deles, ao final da solução, para uma nova maneira de resolver o problema e se esta mudaria a resposta obtida. Mediante o questionamento, os alunos disseram que não, e logo após a indagação do pesquisador eles justificam sua resposta lendo a questão central do problema para o pesquisador. Quanto à composição hermenêutica, é observada quando o aluno C2, da primeira dupla, e o aluno C5, no momento da interação, em seus comentários em relação à palavra “todo” na intenção de explicar a operação escolhida por eles. Essa operação está ligada ao conceito em ação em que os alunos selecionam as informações necessárias para solucionar o problema proposto. Já a dupla (C3 e C4), também traz, em seus diálogos, esses conceito em ação, mediante a particularidade genérica em que o aluno utiliza a frase “ele quer saber ao todo...” para contar a sua tomada de decisão; também temos neste mesmo trecho ações tem motivos, pois conseguimos entender a escolha dos 158 alunos pela operação de adição. Em relação à ambiguidade de referência, a encontramos nas falas das três duplas, no momento no qual o pesquisador apresenta uma nova maneira de resolver o problema observando se haveria mudanças em suas respostas ou não. A intenção do pesquisador era verificar se, realmente, os alunos haviam compreendido o problema, ou seja, compondo todas as fatias ou separando a primeira rodada da segunda, resultaria em um único valor. A negociabilidade inerente apareceu apenas no diálogo da interação da primeira dupla, no momento em que os alunos começaram a discutir na intenção de descobrir qual tinha sido o erro do aluno C2 em seu cálculo. As duplas (C1 e C2) e (C5 e C6) apresentaram um mesmo tipo de esquema: os esquemas de numeração na realização dos cálculos, por meio da fala e da contagem utilizando os dedos. Outro ponto a destacar nas duas primeiras duplas, após a leitura, foi o primeiro componente de um esquema: metas e antecipações: os alunos apresentaram, nas suas falas, as escolhas e tomadas de decisões para a resolução da situação. Na dupla (C5 e C6) encontramos um teorema em ação (falso) apresentado pelo aluno C6 na sua resolução, para a qual ele escolhe a operação de multiplicação. 6.3.6 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo multiplicativo O problema proposto para os alunos da terceira etapa, envolvendo as estruturas multiplicativas apresenta-se no quadro 26. Está classificado como proporção múltipla segundo Vergnaud (1983, p.138). Objetivo: Observar o reconhecimento da palavra “triplo” como sendo um conceito da estrutura multiplicativa. Quadro 24 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para o Grupo 3. Fonte: Adaptação do livro (Itacarambi, et. al. 2009, p. 105). 159 Aluno C7 e Aluno C8 Aluno C7 Aluno C8 Figura 20 - Resolução do problema pelos alunos C7 e C8 Fonte: Acervo pessoal 160 Transcrição da fala dos Alunos C7 e C8 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno C7 com o pesquisador P: Você vai ler esse problema em voz alta e explicar como poderia ser feito a resolução, tá? C7: Tá! P: Como podemos resolver? C7: Tem... “triplicar” fazer a O aluno destaca a palavra Encontramos aqui os continha de mais, né? Eu vou ver. “triplicar”, porém fica em dúvida Conceitos em ação: o aluno C7: Triplicar... (o aluno conta no em relação a que operação deve selecionou as informações dedo) 14 ser feita. O aluno pode ter dado disponíveis para resolver o um significado à palavra problema. destacada relacionando-a com a operação de adição. Neste trecho destacamos o diálogo com a Ambiguidade de Referência. P: Pronto? C7: Uhu! Transcrição do Aluno C8 com o pesquisador P: Você vai ler em voz alta e depois explicar? C8: Eu posso ler só para mim, primeiro? P: Pode. C8: Eu acho que tem que fazer de Neste diálogo do aluno C5 Encontramos aqui os destacamos a Composição Conceitos em ação: o aluno vezes. P: Vezes? Por quê? Hermenêutica, por meio da qual selecionou as informações C8: Porque ela quer “triplicar”. podemos observar a explicação disponíveis para resolver o Ai... (o aluno começa a resolver) que o aluno dá para o outro, problema. como interpretou o problema e o destaque que o aluno deu para a palavra “todo”, que relacionamos com a Ambiguidade de referência. Transcrição da Interação com o Aluno C7 e o Aluno C8 P: Agora o aluno C7 vai explica para você como ele fez e depois você vai explicar tá? C7: Uhu. C8: Ó! Tem quatro ovos para Encontramos novamente no Encontramos aqui os fazer um bolo e ela que “triplicar”, diálogo do aluno C8 a Conceitos em ação: o aluno Hermenêutica, selecionou então triplicar e a palavra chave, Composição as informações que é dividir, ai dividi... que é destacada pela explicação disponíveis para resolver o P: É dividir? da resolução do problema para o problema. C8: É aluno C7; o conceito expressado Nesta parte, segundo o autor, P: Que operação que você fez? pelo aluno referente à palavra identificamos o primeiro C8: Não, multiplicar. E que vai “triplicar”, é o que, na análise do componente dos esquemas, as dar, eu acho que vai dar esse diálogo, chamamos de Ações metas e antecipações, que o têm motivos. resultado. aluno adota ao realizar a leitura do problema, para proceder à resolução. C7: Umm! No meu caso eu coloquei 4+4 e coloquei 3 e 2 eu só esqueci de colocar mais, porque vai “triplicar” deu 14. P: Você concorda com a conta E em sua fala percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. 161 que ele fez? C8: (Balança a cabeça que não). C7: E nem eu com a sua porque às vezes não é isso para fazer um bolo de chocolate. Ai, não sei! P: Você falou aluno C8 que a palavra “triplicar” e o que? C8: Multiplicar. P: Isso. Mas você falou antes que é a palavra? C8: Era... P: A palavra chave, né? Você falou! C8: Isso. P: O que significa a palavra triplicar? C7: Triplicar mais as coisas, ter mais coisas. P: Ter mais coisas. Mais o que significa a palavra “tri -pli –car” . C8: Triplo é multiplicar, ter mais. Encontramos aqui os Conceitos em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema. O pesquisador, neste trecho da narrativa, abre a discussão para verificar o conceito que os alunos apresentam para a palavra “triplicar”, e qual será sua postura mediante ao questionamento, chamamos isso de Ambiguidade de referencia. P: Isso. Agora, aluno C8 porque você colocou... o 4 é a quantidade de ovos. C8: É. P: Tá claro, isso. C8: Uhu! P: E você aluno C7 fez o mesmo erro do outro problema. C7: E eu coloquei... P: Você disse que tinha somado 4 + 4 ai você já não tem 4 aí, você tem 44, porque você está montando unidade com dezena. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o primeiro componente dos esquemas, as metas e antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. C8: E que ele é novo na escola. P: É. Tá! C7: 44 (Larga o lápis e começa a contar no dedo). P: É um outro probleminha... C7: 32. P: Porque aluno C8 você colocou 2? De onde você tirou o 2? C8: Do “triplicar”. Triplicar por 2 P: A palavra triplicar, fala que é para triplicar por 2? C8: Não é que “triplicar”... a professora sempre falou isso que tipo “triplicar” e por 2, sempre tem que ser por 2, mas... P: O que é dobro? C7e C8: Dobro? É dois P: É triplicar? C7e C8: É três. C8: A não, eu fiz errado, então! P: Aluno C7 você chegou perto. É o aluno C8, o 32 que eu não entendi, porque você colocou 3 e 2? O 3 foi do que? Encontramos aqui os Conceitos em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema. O aluno apresenta o esquema de numeração utilizando os dedos para realizar a contagem. O pesquisador faz alguns questionamentos para observar o significado que o aluno deu para a palavra “triplicar”; neste trecho temos a Negociabilidade Inerente: os dois alunos vão respondendo ao questionamento e, ao final, observamos que eles perceberam que o significado que deram para a palavra “triplicar” não estava correto. Referimos a esta outra parte do diálogo também de Ambiguidade de referência. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo proposições “triplicar", ”dobro”. 162 C7: Porque às vezes coloca o 2 para somar, às vezes não precisa, ai coloquei para ver se ia dar certo. P: Pode deixar do jeito que tava e ai vocês façam do lado o certo. P: Entendeu a palavrinha triplicar? Dobro, 2. C8: Eu confundi o 2 com o 3. P: Triplicar, 3. Quadriplicar é 4. C8: Eu confundi com o que a professora falava, era multiplicar. E em sua fala percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações e conceitos matemáticos implícitos escolhidos pelo aluno que fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta outro tipo de operação para resolver o problema. Aqui encontramos o motivo do erro do aluno, que se confundiu com a fala da professora. (Esclarecemos que não estamos dizendo que a professora estava errada ou não). Está claro que o aluno, no momento da resolução, não atentou para a relação dobro: 2 e triplo: 3. Na análise desse diálogo podemos apontar que Ações têm motivos. C7: É! P: Ai, 4 x 3? C7: 3 x +2? P: Não, você tem quantos ovos? C7: 4 P: Você quer triplicar essa receita. C7: A! P: (Os alunos realizaram os cálculos novamente). Temos o invariante do tipo <<argumento>> apresentado pelo aluno em números e em proposições (triplicar). 6.3.7 Observações sobre o comportamento do aluno C7 e C8 O aluno C7 apresenta algumas dificuldades como montagem das contas e interpretações. Já o aluno C8 tem mais facilidade para resolver problemas e é muito participativo, interagiu muito com o colega na intenção de ajudá-lo. Em alguns momentos, o aluno C7 aparentava não gostar muito das colocações de seu colega. Na realização dos cálculos ambos utilizaram os dedos para realizar a contagem e a escrita na descrição das sentenças. 163 Aluno C9 e Aluno C10 Aluno C9 Aluno C10 Figura 21 - Resolução do problema pelos alunos C9 e C10 Fonte: Acervo pessoal 164 Transcrição da fala dos Alunos Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com C9 e C10 Vergnaud Transcrição do Aluno C9 com o pesquisador P: Você vai ler e explicar para mim. C9: (Realiza a leitura). P: E, ai? (o aluno fica em silêncio, por um tempo) Você gosta de cozinhar? C9: Não, eu gosto de lavar louça Particularidade Genérica: por Temos aqui o terceiro tipo de às vezes... éee... 4 x 3? meio do diálogo o aluno conta invariantes <<argumentos>>: suas tomadas de decisões. por meio do diálogo o aluno O pesquisador abre o apresenta o argumento do tipo questionamento para que o aluno número, que seria a operação explique o porquê da escolha de de multiplicação (4x3). P: Pode fazer! Agora explica para tal operação. Nesta discussão mim porque você escolheu de observamos na narrativa a Composição Hermenêutica. vezes? C9: Porque ela tá precisando de Outro ponto a destacar nessa Nesta parte identificamos o triplicar, ai peguei o 4, porque ela Transcrição da narrativa do aluno quarto componente de um tem 4 ovos, ai ela precisa para é a passagem do Pensamento esquema, a possibilidade de triplicar, eu peguei o 3, por que Narrativo para o Pensamento inferência, questões que estão triplicar é o 3. Ai eu peguei esse Lógico – Científico, pois, meio ligadas ao raciocínio do aluno número e somei. da linguagem o seu raciocino que é desenvolvido por meio de lógico se torna efetivo. cálculos e informações. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo proposições “triplicar”. P: Você somou? C9: Não, é... P: Como é o nome dessa operação? C9: Deixa ver... (o aluno fecha os olhos) subtrair? Dividir? É..., não sei... P: Qual é o sinal, aqui? C9: É vezes P: Então a operação é do que? C9: Ummm... P: Multi... C9: Multiplicação. P: Tá, bom. Transcrição do Aluno C10 com o pesquisador P: Fazer a leitura e explicar, tá? C10: Eu acho que e 4 x 3? Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo número, a operação de multiplicação (4x3). P: Por quê? C10: Por que aqui tá “triplicar” e A passagem do Pensamento Encontramos aqui os aqui 4 ovos, então ela vai precisar Narrativo para o Pensamento Conceitos em ação: o aluno Lógico – Científico, por meio da selecionou triplicar então tem que ser 4 x 3. as informações linguagem o seu raciocino lógico disponíveis para resolver o se torna efetivo. problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo proposições “triplicar”. Transcrição da Interação com o Aluno C9 e o Aluno C10 P: Tá. Agora, o aluno C10 vai contar como ele resolveu. Aliais, 165 agora ao contrario o aluno C9. C10: Eu fiz 4 x 3 porque ela tem que triplicar, e ai eu fiz 3 x. C9: Eu fiz porque ela tinha 4 ovos e tinha que triplicar, ai eu peguei do triplicar 3 e coisei e deu 12. C10: Eu também acabei de falar para ele. P: Ai vocês concordam? C10: Uhu C9: Dessa vez, sim. P: Então, tá bom, acertaram. A palavrinha... C9: Triplicar. P: Que já da à dica de... C9: 3. P: de 3. Neste trecho temos a Composição Hermenêutica, pois o aluno interpreta e apresenta as estratégias relacionadas aos seus significados. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>>>: por meio da narrativa, o aluno apresenta o argumento do tipo número, a operação de multiplicação (4x3) e a proposições “triplicar”. Encontramos aqui os Conceitos em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema. Do mesmo modo o aluno C9 destaca o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo do aluno apresenta o argumento do tipo proposições “triplicar” e mostra entender o significado desta. 6.3.8 Observações sobre o comportamento do aluno C9 e C10 O aluno C9, em sua explicação, chama a atenção da palavra “triplicar” relacionando ao valor 3; é interessante que o aluno apresenta a operação de multiplicação e, quando o pesquisador pergunta qual é a operação ele fala “divisão; menos...” não lembrando aparentemente do nome da operação de multiplicação. Logo após a leitura, o aluno C10 apresenta a operação de multiplicação, destacando também a palavra “triplicar”. No momento da interação novamente os alunos apoiam-se na palavra “triplicar” para realizar as explicações um para o outro. 166 Aluno C11 e Aluno C12 Aluno C11 Aluno C12 Figura 22-Resolução do problema pelos alunos C11 e C12. Fonte: Acervo pessoal 167 Transcrição da fala dos Alunos C11 e C12 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno C11 com o pesquisador P: Você vai ler em voz alta e explicar para mim. C11: “Triplicar"... á! Triplicar não é Encontramos aqui os Conceitos em ação: o aluno 3? (o aluno descreve o cálculo) Tá certo? selecionou as informações disponíveis para resolver o problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo do aluno apresenta o argumento do tipo proposições “triplicar”. P: Uhu! Transcrição do Aluno C12 com o pesquisador P: Você vai ler e explicar para mim. C12: Continha de dividir? P: Por quê? C12: Por que quádruplo. P: O que? Particularidade Genérica: por C12: Por que vai ter que “triplicar” meio do diálogo o aluno conta Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: a receita do bolo? suas tomadas de decisões. O pesquisador abre o por meio do diálogo o aluno questionamento para que o aluno apresenta o argumento do tipo explique o porquê da escolha de proposições “triplicar”. P: E como você faz o cálculo? tal operação. Nesta discussão C12: 4:4 observamos, no diálogo, a Observamos um Teorema em P: Por que 4 dividido por 4? Composição Hermenêutica e Ação (falso), ou seja, são as C12: Por que é o único número. também a Ambiguidade de relações matemáticas implícitas referência, em que o professor escolhidas pelo aluno que abre o questionamento para que fazem parte dos seus os alunos percebam alguns esquemas; vemos aqui que o detalhes que faltaram na aluno apresenta outro tipo de interpretação do problema. operação para resolver o Outras duas observações: o problema. P: O que ela quer fazer: aluno encontra o que é central, C12: Um bolo de chocolate. que chamamos de Centralidade P: E o que ela quer fazer com do Problema; o segundo ponto é a forma do aluno lidar com os esse bolo de chocolate? C12: Ela vai fazer para neta dela. significados, dado como P: Tá. Mas ela quer fazer o que Composição hermenêutica. com a receita do bolo? C12: Ela quer “triplicar” a receita. Encontramos aqui os P: O que é triplicar? Conceitos em ação: o aluno C12: É, para a receita ficar maior? selecionou as informações O bolo ficar maior? disponíveis para resolver o problema. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o primeiro componente dos esquemas, as metas e antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. P: É,né. E ai como é que faz? C12: 4 dividido por 4? Em sua fala percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, são as relações matemáticas implícitas escolhidas pelo aluno que 168 fazem parte dos seus esquemas; vemos aqui que o aluno apresenta um outro tipo de operação para resolver o problema. P: Faça então. Transcrição da Interação com o Aluno C9 e o Aluno C10 P: C11 explica para o aluno C12 Por meio do diálogo, o aluno como você fez? conta suas tomadas de decisões C11: Eu fiz o 4 x 3, porque ela o que o autor chama de Encontramos aqui os Particularidade Genérica; Conceitos em ação: o aluno tinha 4 ovos... P: Presta atenção, aluna C11. também temos a Composição selecionou as informações C11: Ai esqueci... Era só “triplicar” hermenêutica em que disponíveis para resolver o ai eu fiz 4 x 3 que deu 12. conseguimos observar, pela problema. narrativa, os significados que Nesta parte segundo o autor, devem ser levados em conta identificamos o primeiro para a resolução deste problema. componente dos esquemas, as metas e antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. C12: Eu só coloquei 4 dividido por 4. P: Explica para ele porque você fez 4 dividido por 4. C12: Por que era o único número. P: E ai vocês concordam com a resolução? Aluno C12 você concorda com a resolução do aluno C11? C11: (Balança a cabeça que sim). P: Á! C11: (Balança a cabeça novamente que sim). P: Aluno C11 você entendeu o que ela fez? C11: (Balança a cabeça que não). P: E como você concorda? C11: (Fez o movimento com as mãos de que não sei). P: E você aluno C11 o que acha da resolução dele? Conversa entre vocês e vê o que vocês acham da resolução, qual que está correta? C12: A do C11? P: Porque você acha que é a dele? C12: (Levantou os ombros demonstrando não saber por que). P: Hum! C12: Não, sei! P: Ué, se você acha que tá certo, por quê? Você acha que a do aluno C12 tá certa? C11: (Balança a cabeça que não). P: Por quê? C11: Por que... onde 4 dividido por 4 não dá 16, dá 1. Teorema em ação (falso): o aluno, ao explicar para o outro, apresenta a operação de divisão e o motivo da sua escolha, sendo que está não condizia com a resolução. Temos a Negociabilidade inerente entre os alunos e o pesquisador, que tem a intenção de orientá-los na discussão do problema e fazer com que eles discutissem sobre os cálculos realizados e suas interpretações. Encontramos, nessa Transcrição do diálogo do aluno, a Passagem do Pensamento Nesta parte, identificamos o primeiro componente dos esquemas, as metas e 169 Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico: por meio da linguagem o seu raciocínio lógico se torna efetivo. P: Tá! C11: Começa por ai! P: E que mais? C11: I. era triplica, é vezes P: E ai você concorda com ele? C12: (Balança a cabeça que sim) P: Tá lembrando das aulas? C12: (Balança a cabeça que sim) P: O que o probleminha pergunta ai? De quantos ovos... C12: Precisará para fazer a receita do bolo. P: Precisará para tri... C12: Triplicar. P: O que é a palavra tri-pli-car lembra? C12: E de vezes C11: 3 P: E lembra o valor? C11: 3 P: 3, né? E ai você vai triplicar, lembra que você falou que tem que aumentar o bolo? C12: (Balança a cabeça que sim). P: Se você nesse caso ai, quando você vai dividir o que vai acontecer com o bolo? C12: Vai ficar maior? P: Quando você divide o bolo, vai ficar maior? C11: (Fala bem baixinho para o aluno C12) vai ficar menor... C12: Menor. P: Então, e ai justamente que nem ele apontou, 4... não tá certo o seu cálculo por que tem que triplicar que nem ele fez, ele pegou os 4 ovos e tinha que triplicar a receita, então ele irá usar o triplo ... a Dona Nastácia vai usar o triplo de ovos que ela tem, já inicialmente, que é a quantia de 12 para o bolo ficar maior, tá? C12: Sim. P: Agora quando você faz a divisão 4 dividido por 4, lembra que você fez a tabuada aqui 4x 1 = 4. C12: 4 P: Então eu tenho que ver aqui, qual é o número que multiplicado por 4 vai dar 4, não é? C12: Sim P: Aqui você colocou o resultado de 4 x 4, que é 16. Então uma vez 4 4 vão dar 4, que para 4 falta zero, ai ficaria certo o 1. Você tem 4 balas e vai dividir para 4 antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. Encontramos aqui os Conceitos em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema. Mediante as palavras contidas no problema o pesquisador abre um questionamento com os alunos para observar a postura deles quanto aos conceitos que já estão presentes e ver como estes reagem e, se com esses questionamentos, os alunos conseguem estabelecer alguns conceitos que são necessários para o entendimento no problema; para o autor, temos neste trecho do diálogo a ambiguidade de referência. Novamente o pesquisador tenta nortear a discussão entre os alunos com alguns questionamentos, com a intenção de que estes percebam as relações matemáticas que estão sendo apresentadas, a partir dos cálculos e os raciocínios realizado por eles, destacando neste trecho a negociabilidade inerente. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo proposições “triplicar". 170 amiguinhos, quantas balas cada um vai ficar? C12: Uma P: Com uma. Tem que pensar assim, tá? Deixa aqui do jeito que tá, e refaz a conta certa agora. C12: A dele? P: Você entendeu o que é para fazer no problema, né? C12: (Balança a cabeça que sim). P: É tenho quatro ovos e eu tenho que triplicar. C11: Lição eu sou bom, mas quando chega a prova de matemática eu me lasco! P: A é! E que você faz correndo, não é? C11: (Balança a cabeça que não). P: Não faz? C11: (Balança a cabeça que não). P: Você erra? C11: (Balança a cabeça que sim). P: Mas ai é que tem que prestar atenção, mais. Deu para entender agora? C11 e C12: (Balança a cabeça que sim). 6.3.9 Observações sobre o comportamento do aluno C11 e C12 O aluno C12 realiza a leitura e destaca a palavra “triplicar” como sendo o 3, e rapidamente, resolve o problema por meio da multiplicação. O aluno C11, após sua leitura fica pensando um pouco e sugere a operação de divisão explicando que o motivo da sua escolha e por causa da palavra “triplicar”. O pesquisador realiza alguns questionamentos, mas mesmo assim o aluno acha que deve ser resolvido pela divisão. No momento da interação, o aluno C12 explica para o seu colega destacando a palavra triplicar novamente; já quando o aluno C11 explica ao aluno C12, este fica em dúvida, mas acaba aceitando; o pesquisador realiza algumas intervenções e, mais adiante, o aluno C12 expõe seus pensamentos. Indagado sobre sua operação, o aluno C11 percebe o seu erro e refaz o cálculo. 6.3.10 Síntese Geral dos alunos do Grupo 3 – Campo Multiplicativo Na realização da atividade, individualmente, a palavra “triplicar” mostrou ser o ponto estratégico do problema para os alunos. Uma das características nos diálogos quanto aos aspectos da narrativa foi a composição hermenêutica, observada nas explicações dos alunos pela escolha da operação, em que todos se apoiaram na palavra “triplicar”, traduzida por eles pelo número 3, ou como sendo a 171 operação de multiplicação e a representação do número 3. É importante observarmos que nem todos destacaram a multiplicação como sendo a operação para solução. Para Vergnaud (1998) a palavra triplicar se remete ao invariante do tipo <<argumento>>, como sendo uma proposição em que está relacionada ao Conceito em ação, ou seja, o aluno seleciona informações que já estão estabelecidas em seus esquemas para proceder à solução do problema. A ambiguidade de referência aparece nas interações nas quais os alunos apresentam suas explicações para os colegas e ao pesquisador; destacamos o aluno C12 que, por mais que tenha referindo-se à palavra triplicar, não a utilizou para representar a operação de multiplicação e nem o número 3. Para este aluno, o pesquisador precisou intervir com alguns questionamentos para que ele pudesse compreender e ter uma mudança de postura em relação ao significado da palavra triplicar. Na interação da dupla (C7 e C8), conseguimos observar pelas suas explicações, em seus diálogos, os motivos que levaram a escolha das operações, o que, segundo Bruner, (2001) significa ações tem motivos. O aluno C8 apresenta a palavra “triplicar” como sendo a palavra chave, e destaca o primeiro componente metas e antecipações quando, após a leitura, realiza a operação de multiplicação. Já o aluno C7 apresenta um teorema em ação (falso) em sua explicação: a conta de adição (4+4), operação essa que não condiz com a resolução. O aluno C12 apresenta a operação de divisão (4:4). Temos presentes nas manifestações das duplas (C7 e C8) e (C11 e C12) os componentes de um esquema, a possibilidade de inferência que são relacionadas ao raciocínio e desenvolvimento por meio de cálculos. 6.4 Atividade Individual, dupla e interação: 4ª ETAPA Nesta quarta etapa apresentamos para todos os grupos (G1, G2 e G3) os problemas do quadro 26 para as estruturas aditivas e do quadro 32 para as estruturas multiplicativas. 6.4.1 Análise da 4ª Etapa para o problema do campo aditivo O problema proposto para os alunos na quarta etapa, envolvendo as estruturas aditivas, é apresentado no quadro 26. Segundo os estudos de Vergnaud, 172 entendemos a classificação deste problema como sendo um dos PROBLEMAS ARITMÉTICOS COMPLEXOS, envolvendo a (5º categoria) que apresentam varias relações aditivas. Objetivo: Verificar se os alunos observam a única informação explícita que deve ser transformada por meio das comparações para se chegar à solução e à análise dos valores obtidos. Quadro 25 - Problema do Campo Aditivo aplicado para a 4ª Etapa. Fonte: Adaptação do problema de (Magina, et.al.2008, p.56) 6.4.2 Análise do grupo 1 (individual): Problema do campo aditivo Aluno D1 Figura 23 - Resolução do problema pelo aluno D1 Fonte: Acervo pessoal 173 Transcrição da fala do Alunos D1 P: Você lê o problema em voz alta e depois você me explica como poderia fazer? D1: Eu tenho que fazer... a conta pode fazer aqui? P: Pode. D1: Ana tem 59 e Gabi e duas vezes...e a Gabi tem dois quilos a mais, ai eu peguei 59 e fiz mais dois, e deu 61 ai eu peguei mais 3 que ai e da Pepe. Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Neste diálogo se apresenta a Composição Hermenêutica: observamos as estratégias utilizadas e procedimentos pelo aluno D1. Encontramos o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>> na fala do aluno, que apresenta o argumento do tipo “a mais...”. Informação extraída a partir da sua leitura. Neste outro item, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e mostra como utilizou as informações. P: Tá. Isso mesmo. 6.4.3 Observações sobre o comportamento do aluno D1 O aluno D2 faz a leitura e fica pensando um pouquinho, e, em seguida, descreve os cálculos na folha de atividade; conforme ele vai achando os valores, verbaliza em voz alta os resultados de cada peso, não demonstrando nenhuma dificuldade quanto à interpretação do problema. Após o término, o pesquisador pede para que ele explique e, aos poucos, ele vai estruturando a solução do problema, demonstrando compreensão no que tinha que realizar. 174 Figura 24 - Resolução do problema pelo aluno D2 Fonte: Acervo pessoal Aluno D2 Transcrição da fala do Aluno D2 Análise de acordo com Bruner P: Faça a leitura desse problema. Como podemos resolver? D2: De menos. Encontramos no início deste diálogo a Negociabilidade Inerente entre o pesquisador e o aluno D2, em que o pesquisador vai desencadeando juntamente com o aluno o entendimento do problema. P: De menos? O que o problema quer saber? D2: Quem é a mais magra? P: Para eu saber quem é a mais magra, o que eu preciso saber? D2: O peso. P: Eu sei o peso de alguma? D2: Sei. P: De quem eu sei? D2: Da Pepe, da Gabi... P: Qual é o peso da Pepe? D2: Dois quilos a mais que Gabi...não só da Ana Temos também a Ambiguidade de referência: podemos observar as interpretações que o aluno vai apresentando por meio dos questionamentos feitos pelo pesquisador. Análise de acordo com Vergnaud E em seu diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz parte dos seus esquemas; observamos que o mesmo exibe outro tipo de operação para resolver o problema. 175 P: Então, vamos por aqui no papel? Ana pesa quanto? D2: 59. P: Tá, agora o peso da Gabi e dois quilos a mais que... D2: Ana. P: Se Ana pesa 59, quanto que Gabi pesa? D2: 61. P: E a Pepe? D2: Três quilos a mais que Gabi, né. É 62. P: Quanto? D2: 62. P: Quanto que pesa Gabi? Você não colocou aqui? D2: 61 P: Então, Pepe pesa três quilos a mais que quem? D2: Gabi. P: Quanto que ela pesa? D2: 63, 64. P: E qual delas é a mais magra? D2: Ana. Com a ajuda do pesquisador o aluno começa a resolver o problema e, aparentemente, não percebe o processo do cálculo. Segundo o autor, são os Invariantes Operacionais implícitos: o aluno realiza as operações necessárias e não percebe os termos objetos e propriedades do problema. 6.4.4 Observações sobre o comportamento do aluno D2 O aluno realiza a leitura, e após ele sugere a operação “de menos”, quando o pesquisador o questiona sobre a ideia central do problema ele destaca apenas uma questão. O pesquisador direciona o aluno para que este levante as informações necessárias e, juntamente com o pesquisador, o aluno vai resolvendo o problema. 176 Aluno D3 Figura 25 - Resolução do problema pelo aluno D3 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno D3 P: Você vai ler em voz alta é responder tá? D3: Tem que fazer a conta? P: Você já fez de cabeça? D3: (Balança a cabeça que sim). P: Como você fez então, fala? D3: Eu vou fazer, agora. P: Pronto? Então explica para mi como você fez? D3: Eu fiz, 3 mais 59...não, 59 mais 2 deu 61 que é esse resultado aqui, mais 3 que é 64. P: Tá, é quem é a mais magra? D3: Ana. Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Ao apresentar uma operação destacamos, no diálogo do aluno, a Composição Hermenêutica, observamos as estratégias utilizadas e procedimentos pelo aluno D3, e também a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, uma vez que conseguimos notar o raciocínio lógico do aluno. Logo após o questionamento do pesquisador, o aluno apresenta, em sua explicação, o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, que é identificado por questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e às operações de que ele dispõe. 6.4.5 Observações sobre o comportamento do aluno D3 Após a leitura o aluno precisou de um tempo para pensar, mas já foi realizando os cálculos mentalmente, não demonstrando dúvidas quanto à 177 interpretação do problema. Para responder a cada questão o aluno acompanhava as informações do texto. No momento da explicação, ele destacou os valores que utilizou e a operação. 6.4.6 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo aditivo Aluno D4 e Aluno D5 Figura 26 - Resolução do problema pela dupla D4 e D5. Fonte: Acervo nosso. Transcrição da fala dos Alunos D4 e D5 P: Vocês vão ler em voz alta explicar como vocês resolveriam problema, tá? D4 e P: (Os alunos começam resolver, contando nos dedos conversando entre si). Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud e o a e P: Pronto? Expliquem para mim como vocês fizeram. D5: Pepe é a mais que Gabi, ai eu peguei mais 2 com 3 que é 5. P: Mas esse e o peso delas? D5: É. P: Tem certeza? Observamos, por meio dos gestos dos dedos, os Esquemas de numeração, para o auxilio dos cálculos realizados pelo aluno. O pesquisador vai direcionando os questionamentos na intenção de verificar a compreensão que o aluno tem quanto às relações que realiza e o seu resultado. Apresenta-se o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno verbaliza o argumento do tipo “’ a mais...” Porém ele utiliza um 178 Observamos no decorrer do diálogo que, para o aluno, as relações apresentadas são os pesos. Esse diálogo apresenta a característica da composição hermenêutica. D5: (O aluno balança a cabeça dizendo que sim). P: Ò...Pepe tem 3 quilos a mais que Gabi. Três quilos não é o peso! D5: Não. P: O que tá falando é uma referencia: “a mais que Gabi”, Ana pesa 59. Ana pesa 59, certo? D5: Certo. P: Qual é o peso de Ana? D5: 59. P: Tá. Ai depois ele fala o peso da Gabi e 2 quilos a mais do que de Ana, se Ana pesa 59, o peso de Gabi e quanto? E o que vocês fizeram aqui. D4 e D5: mais 2. P: Mais dois quilos que dá? D5: 61. P: 61. Ai volta lá em cima, Pepe tem 3 quilos a mais que Gabi, quanto que Gabi tem? D5: 61. P: E se é 3 quilos a mais e quanto? 61... D5: 63. P: 3 mais 1 vão dá quanto? Sessenta é ... quatro né? D4 e D5: É. P: Então qual é o peso de Pepe? D4: 64. P: E ai quem é a mais magra? É a que tem menor peso, que é... D4 e D5: Ana P: Ana, não é isso? P e D4: É. Teorema em Ação (falso), ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz parte dos seus esquemas; observamos que o mesmo exibe outro tipo de operação para resolver o problema.. O aluno D5, não compreendeu alguns termos apresentados nas relações estabelecidas no problema. O pesquisador explica, na intenção de que o aluno possa compreender a função dessas relações; chamamos isso na narrativa de Ambiguidade de referência. O pesquisador realiza alguns questionamentos para direcionar os dois alunos a compreender a estrutura do problema, retomando todas as informações contidas no enunciado. Logo, temos a Negociabilidade inerente. Neste momento, o pesquisador direciona o aluno a esquematizar os cálculos para iniciar a resolução do problema; quando o aluno realiza esse tipo de tarefa o autor chama isso de invariantes Operacionais explícitos, percebendo as relações e informações contidas no problema. 6.4.7 Observações sobre o comportamento dos alunos D4 e D5 Os dois alunos são bem tímidos, apresentam um pouco de dificuldade para expor suas ideias e para compreender o problema. O pesquisador teve que interferir em quase todos os momentos. Primeiramente, o aluno D5 começou a realizar os cálculos utilizando os dedos, e o aluno D4 ficou apenas olhando; havia alguns momentos nos quais os alunos retomavam a leitura do texto. Na hora de explicar as relações como “2 a mais, 3 a mais...” foram interpretadas pelos alunos como sendo o peso das meninas, o pesquisador teve que conduzir os alunos na leitura para que 179 estes conseguissem compreender a estrutura o problema e chegar às soluções finais. Aluno D6 e Aluno D7 Figura 27 - Resolução do problema pela dupla D6 e D7 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos D6 e D7 P: Vocês vão fazer a leitura e explicar, tá? D6 e D7: Ta. D6: Vamos começar pela primeira o peso da Pe...Qual é o nome dela? D7: Pepe. P: Pepe. D6: Qual é o peso da Pepe? Pepe tem 3 quilos a mais que Gabi se Gabi tem 61. D7: Aqui ó! D6: Se Gabi tem 61,62,63,64. Análise de acordo com Bruner Esse diálogo da dupla apresenta a característica da narrativa: Composição Hermenêutica, em que podemos observar o entendimento que os alunos tiveram dos significados das relações, da estrutura do problema e as estratégias utilizadas por eles. Análise de acordo com Vergnaud Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo 180 realizado para se chegar à solução. D7: É. D6: Ela tem 64 porque ela tem 3 quilos a mais que Gabi. D7: É! D6: A segunda! D7: Qual é o peso da Gabi? D6: Olha aqui! D6 e D7: A Pepe tem 3 quilos a mais que Gabi, Ana pesa 59 quilos e o peso da Gabi e de 2 quilos a mais que Ana... D6: Então... D6 e D7: Se é 2 quilos a mais que da Ana é 61. D6: Essa aqui tá certa. D7: Qual é a mais magra? D6 e D7: qual é o peso da Ana? 59 quilos. D7: É porque aqui já tá falando. D6: Porque no...como e nome disso ai? Enunciado já fala o peso dela. D7: Ai qual é a mais magra? A Ana. D6: Porque a Pepe pesa 64. D7: É a Gabi 61. D6 e D7: É a Ana 59. D7: Então... D6: Calma ai...59,60,61 ...é 5 quilos a mais que o primeiro porque o da Ana é 59. Então, aqui a Ana é mais magra. Ao explicar um para o outro encontramos no diálogo a Negociabilidade inerente de ambos no momento da explicação. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. Destacamos a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, em que a dupla expressa seus raciocínios lógicos por meio da linguagem. Temos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: o aluno desenvolve seu raciocínio por meio das informações e de cálculos, que estão também ligados aos Conceitos em Ação. 6.4.8 Observações sobre o comportamento dos alunos D6 e D7 Os dois alunos tem uma grande facilidade para resolver o problema e interagem muito bem na discussão. A todo instante os dois estavam em discussão para decidir como deveriam proceder ao cálculo. Nas suas explicações, foram bem detalhistas, apresentando as relações “a mais” para justificar as respostas. 181 Aluno D8 e Aluno D9 Figura 28 - Resolução do problema pela dupla D8 e D9 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos D8 e D9 P: Vocês vão ler em voz alta juntos e resolver. Como a gente pode resolver? D9: Acho que são três contas. P: Quantas perguntas eu tenho? D9: Tem três P: Três? D9: Três. Do Pepe, da Gabi e da Ana. P: É a outra? D9: A é tem 4. P: Então como é que eu vou resolver. Como eu consigo resolver o problema? O que ele quer saber? D9: Ele que sabe quanto que é o peso da Pepe, da Gabi, da Ana e quem é a mais magra. P: E como eu resolvo? D8: (Começa a realizar a contagem nos dedos) três, 53, 59 dividido por 2. D9: Rubens de dividir ou de Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Após o questionamento do pesquisador, o aluno identifica as questões centrais do problema, o que remete, neste trecho, do diálogo à caracterização da Centralidade do Problema. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e realiza a contagem utilizando os dedos. Na fala do aluno percebemos 182 vezes? D8: Dividir P: Porque vocês vão usar a divisão? D8: Aqui é 59 é aqui é 3 e aqui é 2 D9: Aqui é o peso de Pepe ai, nos iremos dividir pelo peso da Ana. P: O que tá falando do peso da Pepe? D8: Que tem três quilogramas a mais... D9: Que Gabi. P: Se ela tem três quilogramas a mais que Gabi, quanto que a Gabi pesa? D8: A Gabi pesa dois quilogramas. Tem que soma Pepe... P: Dois quilogramas... D8: O que? P: Termina de ler a frase. Dois quilogramas... D8: A mais que Ana. P: E quanto que Ana pesa? D8 e D9: A Ana pesa 59 quilogramas. P: Ai como eu faço para descobri o da Pepe e o da Gabi? D8: O da Gabi é tipo uma conta...de menos, não de mais. D8: De mais. P: Por quê? D9: Tá tipo no texto... P: Como eu faço então? Eu quero a primeira pergunta, qual e o peso da Pepe? O peso da Pepe é comparado a quem? Pepe tem três quilogramas a mais que Gabi, eu sei o peso da Gabi? D8: Não. P: Ai a Gabi, o que tem falando, Gabi tem dois quilos a mais que Ana. Eu sei o peso da Ana? D8: Ana pesa 59 D9: 59 P: Então a Gabi pesa quanto? Se o peso da Gabi é... D8: Dois quilogramas P:Dois quilogramas a mais, quanto que a Gabi pesa? D8: Ela pesa então... P: Presta atenção na leitura. Se a Ana pesa 59 quilos e o peso da Gabi e dois quilos a mais que Ana, quanto que pesa a Gabi? D8: A entendi! P: O que você entendeu? D8: Tem que somar... D9: Tem que somar esse junto com esse. O pesquisador realiza alguns questionamentos para tentar direcionar os dois alunos na intenção de que eles compreendam a estrutura do problema, esse diálogo caracteriza-se pela Negociabilidade inerente. um Teorema em Ação (falso), ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz parte dos seus esquemas; observamos que o mesmo exibe outro tipo de operação para resolver o problema. Logo, após o questionamento do pesquisador no diálogo da dupla destaca-se a Composição Hermenêutica: podemos observar as interpretações e estratégias que os alunos estão adotando para resolver o problema. A Ambiguidade de referência apresenta-se no momento em que o pesquisador abre os questionamentos e observa como os alunos vão se comportando com cada questão lançada a eles. O pesquisador busca rever a interpretação que os alunos tiveram e vai esclarecendo com eles a estrutura do problema e o significado de algumas palavras. O pesquisador realiza alguns questionamentos, vai retomando todas as informações contidas no problema e direcionando os alunos a caminho da resolução. Logo, temos a negociabilidade inerente, momento este na narrativa em que o pesquisador e os alunos vão realizando discussões e esquematizando o problema para o entendimento dos alunos à resposta final. Novamente se apresenta a Composição Hermenêutica na narrativa dos alunos, só que agora o aluno vai compreendendo o que precisa Logo, após o questionamento do pesquisador, o aluno apresenta, em sua explicação, o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, que é identificado na ligação entre o raciocínio do 183 ser feito problema. D8: Tem que pegar o peso da Gabi... P: Dois quilos a mais que da Ana, se é dois quilos a mais que Ana e ela pesa 59, quanto que é o peso da Gabi? D9: 59 D8: 61? P: Isso. Ai se Gabi pesa 61 quanto pesa Pepe, Pepe tem três quilos a mais que Gabi. D8 e D9: 63 P: Quanto que é o peso da Gabi? Faz esse primeiro? Vamos escrever, ai? O que você escreveu ai? D9: O valor que deu. P: Vocês estão entendendo o problema, ou não? Tá, entendendo aluna D9?Tá, ou não? D8: Eu to mais ou menos. P: Você esta entendendo o que eu falei? D9: To. P: Verdade? D8: Eu to entendendo mais ou menos. P: Aqui ele está fazendo varias comparações, certo? D8 e D9: (Balança a cabeça que sim). P: Se a Ana pesa 59, o peso da Gabi e dois quilos a mais que Ana. Eu não sei o quanto Ana pesa? Quanto a Ana pesa? D8: 59. P: E a Gabi pesa dois quilos a mais que Ana, então quanto que ela pesa? D8: Ela pesa 61 quilos. P: 61. Então marquem ai. Quem pesa 61? D8: A Gabi. P: Então coloquem ai Gabi 61 para vocês não confundirem. Agora Pepe tem três quilos a mais que Gabi, quanto que Gabi pesa? D8 e D9: A Gabi pesa 61. P: Pesa três quilos a mais que ela, quanto é? D8: 64. P: Então, Pepe pesa quanto? D8: 64. P: Agora, vamos para as perguntas? Qual é o peso de Pepe? D9: 64. P: Qual é o peso da Gabi? D8: O peso da Gabi é 61. P: Qual é o peso da Ana? D8 e D9: 59 quilos P: Quem é a mais magra das três? D8: É a Ana. para solucionar o O pesquisador faz alguns questionamentos para observar os esquemas estabelecidos para a solução e as verificações do raciocínio da dupla, neste momento tem-se presente a Negociabilidade Inerente. aluno e as operações que ele dispõe. Com a ajuda do pesquisador, o aluno começa a resolver o problema e aparentemente não percebe o processo do cálculo, o autor chama isso de Invariantes Operacionais implícitos: o aluno realiza as operações necessárias e não percebe os termos, objetos e propriedades do problema. 184 P: Certo! Entenderam agora como é o probleminha. D8 e D9: Uhu. 6.4.9 Observações sobre comportamento dos alunos D8 e D9 Os alunos realizam a leitura, o aluno D8 toma a frente da discussão, e o aluno D9 parece não compreender muito que está sendo discutido; em algumas ocasiões ele acaba participando. No primeiro momento da leitura os alunos não compreenderam como deveriam realizar os cálculos, só sabiam o que tinham que descobrir. O pesquisador teve que guiá-los para compreenderem a estrutura do problema. 185 6.4.10 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo aditivo Aluno D10 e Aluno D11 Aluno D10 Aluno D11 Figura 29 - Resolução do problema pela dupla D10 e D11 Fonte: Acervo pessoal 186 Transcrição da fala dos Alunos D10 e D11 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do aluno D10 com o pesquisador P: Você irá ler o problema e me dizer como poderia ser resolvido. D10: (Faz a leitura novamente). O peso delas não está aqui? Quem é mais magra! P: São quantas perguntas, ai? D10: Quatro. O peso da Pepe...é 3 quilos. P: O que está escrito ai? D10: Pepe tem três kg a mais que Gabi. Ana pesa 59 kg e o peso da Gabi e 4 kg a mais que Ana. P: Então... D10: (a aluna fica em silêncio e refaz a leitura) Eu acho que já sei o peso da Ana. P: Então, põe ai, qual é? D10: Ana pesa 59 Kg e o peso da Gabi e 2 kg a mais que Ana. Então... P: Pode numerar as questões, colocar a resposta da 1, da 2, etc... Qual é a primeira pergunta? D10: Qual é o peso da Pepe? P: Também não precisa responder em ordem. Você descobriu o peso de quem, que você falou? D10: O peso da Pepe, o peso da Ana e o peso da Gabi. P: Tá! Mas de quem você descobriu? D10: Da Gabi. P: Quanto que é o da Gabi? D10: 59. P: Então, põe lá. E depois qual é o outro. D10: A aluna começou a realizar as contas e descrever os resultados. Neste trecho do diálogo do aluno destacamos a Composição Hermenêutica: podemos observar o entendimento que o aluno teve da estrutura do problema. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. O pesquisador faz alguns questionamentos para observar os esquemas estabelecidos para a solução e as verificações do raciocínio da dupla, neste momento tem-se presente a Negociabilidade Inerente. Por meio da escrita do aluno, observamos o componente de um esquema, a possibilidade de inferência: o desenvolvimento do seu raciocínio por meio das informações e de cálculos, que estão também ligados aos Conceitos em Ação. Transcrição do aluno D11 com o pesquisador P: Você vai ler em voz alta. E ai como podemos resolver? D11: De menos? P: Vê, aí vocês vão sentar e discutir para verificar a solução. Você pode numerar as questões para você responder. D11: Pronto. P: Explica para mim como você, fez? D11: Aqui, Pepe têm 3 quilos a Temos, no diálogo do aluno, a Identificamos o quarto mais que Gabi, Ana pesa 59 caracterização da Composição componente de um esquema, 187 quilogramas e o peso de Gabi e 2 a mais que Ana. Ai eu fiz 59+2, 61, ai aqui diz que Pepe e 3 quilos a mais que Gabi ai vai dá 64 e ai quem é a mais magra e Ana. Hermenêutica, em que podemos observar o entendimento que o aluno teve da estrutura do problema. a possibilidade de inferência, trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e que mostra como utilizou as informações. Destacamos também nesta fala o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo número, em que seria a operação de adição (59+2) e o argumento do tipo proposições “a mais...” P: Tá. Transcrição da Interação com o Aluno D10 e o Aluno D11 P: Vocês irão conversar como realizaram e verificar se está certo e se bate a resposta. D10: Começa o aluno D11? D11: Eu peguei o peso de Pepe, Segundo o autor podemos Identificamos o quarto da Ana é 59 e aqui ta que o peso analisar esse trecho do diálogo componente de um esquema, uma Particularidade a possibilidade de inferência, de Gabi é mais que de Ana mais 2 como quilos, ai mais 2 quilogramas, ai Genérica, que os alunos nas trata-se do raciocínio que o 59 mais 2, 61 e da Pepe e três suas explicações apresentam aluno apresenta por meio de vez mais que da Gabi é 64. suas tomadas de decisões e explicações ou D10: Eu peguei a conta de Pepe descrevem como organizaram desenvolvimento dos cálculos, de 3 Kg a mais que Gabi, ai para seus esquemas em busca da e que mostra como utilizou as achar o peso da Pepe era só acha resolução; observamos também informações, destacando o peso da Gabi, o da Ana já ta aqui a passagem do novamente os argumentos do pensamento narrativo para o tipo proposições. pronto e ai faz a conta. pensamento lógico – científico, uma vez que conseguimos notar o raciocínio lógico do aluno. P: E ai, vocês concordam com a resolução? D10: Sim! P: O dos dois estão iguais? D10 e D11: (Balança a cabeça que sim). P: Então, tá bom. Está certo. 6.4.11 Observações sobre o comportamento dos alunos D10 e D11 O aluno D10 fez a leitura e fica pensando por um bom tempo; o pesquisador questiona para observar se o aluno compreende, ele passa mais alguns instantes pensando, e começa a realizar os cálculos demonstrando o entendimento. Já o aluno D11 após a leitura, apresenta a operação de subtração para realizar o cálculo, mas na hora de explicar os resultados, apresenta outra operação, a de adição, apoiando-se nas relações de “a mais” para explicar os resultados. Na interação, os alunos apresentaram as suas respostas acompanhadas das explicações e observaram que haviam utilizado o mesmo raciocínio para chegar à resolução. 188 Aluno D12 e Aluno D13 Aluno D12 Aluno D13 Figura 30 - Resolução do problema pelos alunos D12 e D13 Fonte: Acervo pessoal 189 Transcrição da fala dos Alunos D12 e D13 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno D12 com o pesquisador P: Você vai ler o problema em voz alta e aí vai resolver. E ai como a gente pode resolver? D12: Eu vou somar aqui os Segundo o autor esse trecho resultados. Você tem que caracteriza-se como uma descobrir se a Gabi tem dois Particularidade Genérica, em quilos a mais que Ana então, tem que o aluno, na sua explicação, que descobrir o quanto que Ana apresenta suas tomadas de pesa e assim vai indo. decisões e descreve como está organizando seus esquemas em busca da resolução. P: Então, pode fazer. D12: Terminei. P: Pronto? D12: Uhu! P: Quais eram as perguntas? D12: A um é 64, a dois é 61, a Segundo o autor, identificamos o quarto componente de um três é 59 e a quatro é Ana que é a esquema, a possibilidade de mais magra. inferência: trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e que mostra como utilizou as informações. P: Tá bom então. Transcrição do Aluno D13 com o pesquisador P: Vai fazer a leitura, tá? E ai você explica depois. D13: Uhu! P: Pronto? Como que ficou então? D13: Eu fiz a conta de mais, Pepe Neste diálogo temos a Encontramos aqui o Conceito tinha 3 quilos a mais que Ana, ai Composição Hermenêutica, em em ação: o aluno selecionou as eu fiz mais, depois a Gabi tinha que podemos observar as informações disponíveis para dois quilos a mais que Ana. interpretações e as estratégias resolver o problema. Temos utilizadas pelo aluno. também aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta o argumento do tipo “a mais..". P: Tá Transcrição da Interação com o Aluno D14 e o Aluno D15 P: Conversam vocês dois e vejam se as respostas estão certas. D12 e D13: (Começam a observar No inicio da interação, temos a os resultados e verificar as Negociabilidade inerente entre respostas) os alunos que vão observando os D12: Eu acho que tá errado, cálculos e realizando as O terceiro tipo de invariantes, é calma ai. Pepe tem 3 quilos a discussões, e, juntos vão <<argumentos>>, mais... procurando onde está o erro e o apresentado por meio do D13: Gabi tem 59. porquê ele ocorreu. diálogo do aluno, destacando o D12: Então, calma ai rapidinho. “a mais...”. Temos o Esquema de numeração: o aluno utiliza Tem 64. Então tá certo. Por causa, que ó...a Gabi pesa dois os dedos para realização dos quilos a mais que Ana, Ana pesa cálculos e da contagem. 59, 61 (o aluno mostra os dedos para seu colega acompanhar a contagem),ai da Pepe é três quilos a mais , 61,62,63... 61,62,63... é eu errei D13: Não, Pepe tem três quilos a mais do que Ana, o 59, 60, 61 e 190 62. D12: Não é Gabi... D13: A tá, ta certo! D12: Não, a Gabi pesa dois quilos a mais do que Ana, quantos que Ana pesa? D13: Quantos que Ana pesa? D12: é...59. O! 59, 60,61 D13: Ai da Pepe. D12: Tem três quilos a mais que Gabi, então ela tem 64. Sessenta e um, 62,63,64. D13: Não, entendi, não. P: O! A Pepe tem 3 quilos a mais que a Gabi, eu sei quanto que Gabi pesa? D13: 59. D12: Não P: Quem que pesa 59? D12: A Ana. P: Ana pesa 59. Entendeu agora? D13: A tá. P: Se a Ana pesa 59... D13: A, entendi. P: Eu sei que o peso de Gabi e dois quilos a mais que Ana, se e dois quilos a mais que Ana... D13: Agora entendi. P: Então a Gabi pesa 59,60, 61. Temos a Negociabilidade inerente entre os alunos, quando estes vão apresentando as respostas aos questionamentos do pesquisador, que tem a intenção de observar o entendimento deles em relação ao problema. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este em que o aluno explica o cálculo realizado para se chegar à solução. D13: Ai depois... P: Ai depois do peso 61 que é o peso da Gabi, ai depois o da Pepe que tem três quilos a mais que Gabi, se a Gabi e 61 então é mais 3. Então arruma, o seu. 6.4.12 Observações sobre o comportamento dos alunos D13 e D14 O aluno D13, após a leitura, apresenta, em sua explicação, a operação de adição, com as relações “a mais”. O aluno D14 faz a leitura, fica pensando um pouco e começa a descrever os cálculos, e, em sua explicação, apresenta as relações “a mais” e a operação de adição para resolver o problema. Na interação, os alunos vão explicando um para o outro, e um deles percebe que há um valor que não confere; começam a verificar os cálculos para ver em que ponto está o erro para fazerem as correções. 191 Aluno D14 e Aluno D15 Aluno D14 Aluno D15 Figura 31 - Resolução do problema pelos alunos D14 e D15 Fonte: Acervo pessoal 192 Transcrição da fala dos Alunos D14 e D15 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno D14 com o pesquisador P: Você irá fazer a leitura em voz alta e depois vai resolver. D14: Ela só tá falando quantos Nesta fala do aluno, percebemos quilos a mais tem, ai vai ter que que ele conseguiu identificar o descobri o tanto das três. que deve ser resolvido no problema, segundo o autor, esse trecho do diálogo é considerado a Centralidade do Problema. P: Quantas perguntas a gente tem? D14: Tem 4...Pepe tem 64. P: Como você fez para chegar no 64? D14: Eu peguei “tem a mais que a Gabi”, e vi que ela tem a mais que Ana, vi o tanto da Ana e fiz mais 2 e depois mais 3. P: Pronto! Então me conta ai agora. D14: Pepe tem três a mais que Gabi, peguei o peso da Gabi e fiz mais três de cabeça, ai na dois a Gabi é dois a mais que Ana ai somei 59 mais 2, ai deu 61 e da Ana já tem aqui, e que é a mais magra ai coloquei aqui. Podemos caracterizar esse trecho do diálogo Particularidade Genérica, em que o aluno extrai características importantes para organizar seus esquemas em busca da resolução. Temos aqui o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. Neste trecho do diálogo da dupla destacamos a Composição Hermenêutica, a qual pode observar o entendimento que o aluno teve da estrutura do problema. Encontramos aqui um Conceito em ação: o aluno selecionou e utilizou as informações disponíveis para resolver o problema. Segundo o autor, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações, identificam-se como o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência. P: Tá. Transcrição do Aluno D15 com o pesquisador P: Você vai ler em voz alta e ai vai contar para mim o que você entendeu e como tá pensando em resolver. D15: Pode resolver aqui? P: Pode. Como você vai resolver? D15: Eu vou pegar o peso de Temos a Particularidade Nesta parte, segundo o autor todos eles e vê quem e a mais Genérica presente neste diálogo identificamos o primeiro magra...Deu 91 tudo. quando o aluno conta a sua componente dos esquemas, as metas e antecipações que o tomada de decisão. aluno mobiliza ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. P: Tá Transcrição da Interação com o Aluno D14 e o Aluno D15 P: Ele vai contar para você agora como que ele resolveu. D15: Eu peguei o peso de todo Neste trecho temos a No diálogo do aluno mundo e somei tudo e deu 91 ai Negociabilidade inerente entre percebemos um Teorema em os alunos. O aluno D14 vai Ação (falso), ou seja, uma dividi o peso para todo mundo. realizando observações e relação matemática implícita questionamentos ao colega, escolhida por ele e que faz tentando verificar o que está parte dos seus esquemas; errado no cálculo do seu colega. observamos que o mesmo D14: Mas você não respondeu exibe outro tipo de operação essas perguntas aqui. para resolver o problema. 193 D15: Não, eu sei. Mas eu dividi tudo pra ver e deu 91, entendeu? De vez fazer essas perguntas. D14: Essas perguntas aqui, você respondeu aqui? D15: É! De vez fazer que nem você fez. P: Aluno D14 explica para ele como e que você fez? D14: A eu peguei, aqui ó, qual é o peso de Pepe, Pepe tem 3 quilos a mais que Gabi, ai eu descobri o tanto que a Gabi tem,... P: Explica para ele como você descobriu. D14: Gabi tem dois a mais que Ana, ai eu somei 59 mais 2, ai deu 61, ai eu coloquei o resultado aqui. O de Ana eu coloquei aqui. E quem é a mais magra...i eu errei aqui. P: Então arruma ai. Você entendeu o que ele fez? D15: Uhu. P: Então faz no seu agora. Então a gente já tem o peso de quem... D15: Da Gabi. P: Da Ana, então e ela que vai servir de comparação, tá? D14: Agora tá certo. P: Ajuda ele a fazer, aluno D14. Vai falando e explicando. D15: Tá, certo. P: Quem é a mais magra? D15: É a Gabi. D14: Não! É a Ana. P: Se a Pepe tem 64, a Gabi tem 61 então é... D15: Ana. O aluno descreve, na narrativa, a sua interpretação e as estratégias utilizadas para resolver; trata-se da Composição Hermenêutica: conforme vai relatando, ele percebe que errou em um cálculo e o corrige. Encontramos aqui um Conceito em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema; destacamos o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>>>: por meio do diálogo o aluno apresenta uma relação importante para a resolução do problema “a mais...”. Temos a Negociabilidade inerente entre os alunos e o pesquisador, que tem a intenção de orientá-los na discussão os cálculos realizados e suas interpretações. 6.4.13 Observações sobre os comportamentos dos alunos D14 e D15 O aluno D14 realiza rapidamente os cálculos e, na hora da explicação, se refere às relações que estão estabelecidas no problema como a “mais...”, utilizando a operação de adição. O aluno D15 apresenta muita dificuldade na interpretação do problema e dos cálculos; em sua explicação, utiliza os valores das relações a “mais...” e soma todos os valores. Na interação, o aluno D15 começa a explicar como realizou o cálculo; o aluno D14 percebe que está errado e comenta ao colega, que não gosta muito do comentário. D14 observa o erro que ele havia cometido e inicia a explicação com a ajuda do pesquisador, para que ele compreenda a ideia do problema. 194 6.4.14 Síntese Geral da primeira Etapa 4 – Campo Aditivo Em nossa análise, apenas os grupos (G2 e G3) apresentaram, em suas narrativas, a questão norteadora do problema proposto, o que remete à Centralidade do Problema, que direciona os esquemas utilizados para solução. Em relação aos grupos (G1, G2 e G3) temos em seu diálogo a composição hermenêutica, associada às estratégias e aos procedimentos utilizados por eles para resolver o problema. Pudemos verificar, nos diálogos, o teorema em ação (falso), ou seja, a escolha de outras operações que não condiziam com a situação do problema; temos os invariantes do tipo <<argumentos>> “...2 a mais”, ou seja, as relações estabelecidas e as operações representadas do tipo (59 +2...); os conceitos em ação que aparecem relacionados aos componentes de um esquema, a possibilidade de inferência, apresentadas por questões que são voltadas para o raciocínio do aluno e que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações que o aluno extrai da leitura mediante a sua interpretação e os esquemas de numeração observáveis pelos gestos da utilização do dedo para cálculos e a contagem numérica verbal. Temos a negociabilidade inerente muito mais presente nas duplas, na interação entre eles, do que na intervenção individual, entre os alunos e pesquisador, sempre com o objetivo de analisar as discussões pertinentes da resolução, possibilitando também entender o porquê das escolhas adotadas pelos alunos. Neste problema, destacou-se a caracterização da ambiguidade de referência observada por meio das manifestações que podem estar relacionadas aos significados de conceitos estabelecidos, que não são compreendidos pelos alunos, e por meio dos questionamentos feito pelo pesquisador, na intenção de investigar a postura do aluno com relação aos significados atribuídos anteriormente. Somente o grupo G3 de interação foi que, em seus diálogos, apresentou a característica da particularidade genérica, que remete aos detalhes extraídos do texto, à sua forma de contar, organizando seus esquemas para a resolução. Nos três grupos destacamos a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico-científico: é possível, por meio da linguagem, verificar o raciocínio lógico e os conceitos matemáticos existentes apresentados pelos alunos. 195 6.4.15 Análise da 4ª Etapa para o problema do Campo multiplicativo Este problema é pertencente às relações quaternárias, classificados como Proporção Múltipla. Para Vergnaud (2009) este problema encaixa-se na classificação do ISOMORFISMO DE MEDIDAS. Objetivo: O objetivo deste problema é verificar quais os conceitos que os alunos tinham associados à palavra dúzia e como iriam fazer os cálculos com a meia dúzia. Quadro 26 - Problema do Campo Multiplicativo aplicado para a 4ª Etapa Fonte: Adaptação do livro Ler e escrever: Jornada da matemática, (2010,p.109) 6.4.16 Análise do grupo 1(individual): Problema do campo multiplicativo Aluno E1 Figura 32 - Resolução do problema pelo aluno E1 Fonte: Acervo pessoal 196 Transcrição da fala do Aluno E1 Análise de acordo com Bruner P: Você faz a leitura e explica como você vai resolver? E1: Ai eu esqueci... P: O que? E1: 3 e 3,60...É meia dúzia é 6...qual é o preço... P: Aqui você achou de três dúzias, não foi? Que da 10,80. E1: É. P: Agora, meia dúzia? Se uma dúzia é... E1: Meia dúzia é 12. P: Uma dúzia vale quanto em dinheiro? E1: 360. P: Então, a metade dessa dúzia vai ser quanto? E1: É que eu lembrei e esqueci. P: Você tem que achar a metade de... E1: Meia dúzia. P: Meia dúzia é seis. E1: É P: Mas ele quer saber em relação a dinheiro? E1: É. Ai tem que saber a metade de 3,60. P: Você pode fazer em partes, decompor. Por exemplo, vamos supor eu tenho dois reais, qual a metade de dois reais? E1: 1 P: Ai você pode decompor 3,00 reais e 0,60 centavos e ai depois você junta, metade com metade, para saber a metade de 3,60. Entendeu? E1: Acho que é dois... P: Pensa em 3 reais, qual é a metade? E1: É dois. P: A metade de 3 reais? E1: Acho que é 6, a esqueci... P: Vamos pensar no 60 centavos, qual é a metade de 60? E1: 60 é ... P: Como você faz para saber a metade de 4? E1: Eu já sei, eu faço na cabeça. P: Se você fosse fazer uma conta como você faria? E1: É 4.. Acho que 4 x 2, não 4...como é o nome do negocio? P: Operação? Análise de Vergnaud acordo com O terceiro tipo de invariantes <<argumentos>> está presente nesta verbalização do aluno E1: por meio do diálogo este apresenta o argumento do tipo “dúzia...”, informação importante da situação problema. Ao abrir o questionamento o pesquisador observa como o aluno vai se comportando com cada questão lançada a ele, na intenção de rever a interpretação e os significados que o aluno adotou e vai direcionando o mesmo a esquematizar a estrutura do problema e deixar claro o conceito de algumas palavras, esse trecho se remete a caracterização da Ambiguidade de referência. Encontramos novamente o <<argumento>> do tipo “dúzia...”. O pesquisador realiza alguns questionamentos para tentar direcionar o aluno a compreender a estrutura do problema: temos a Negociabilidade inerente. O pesquisador sugere que o aluno decomponha o valor em dinheiro, na intenção de que este consiga estabelecer o entendimento do conceito de metade. Ao longo da discussão, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e que mostra como utilizou as informações. Logo após o questionamento do pesquisador, o aluno expõe o terceiro componente de um esquema: invariantes operacionais, que permitem as aferições necessárias para se chegar às ações adequadas. 197 E1: É P: Qual é o nome das operações que a gente tem? Adição,... E1: Subtração, Multiplicação e Divisão. Acho que é... é que eu não lembro. P: Vamos tentar 6. Você tem seis reais e vai dividir para duas pessoas... E1: Para mim e para outra pessoa, né...háaa é 3, 6 é 3. P: Tá, mas qual operação que eu faço? E1: Menos P: Menos? E1: E porque tem que tira. P: Mas quando eu to pegando seis reais eu to dividindo eu e você, que operação eu to fazendo? E1: É dividir P: É, então o que eu faço com o 3,60? E1: 3,60 dividido por 6, não por 6 não. P: Eu não quero saber a metade dele, metade e quanto? E1: Metade é dois. P: Então! Quanto é 7 x 2? E1: 16, 7 x 2 é o 14. P: Ai quando abaixa um zero o que eu faço? Como eu to trabalhando com vírgula... Qual é a metade de 3,60... E1: 1,80. P: Agora eu vou fazer o que? Eu já tenho 3 dúzias, eu quero saber quanto é 3 dúzias e ... E1: Meia. P: Eu já achei quanto vale meia. E1: Eu tenho que pegar 11 e ... P: 11? E1: Não, 10,80 e ... P: Aqui não é 1! E1: É 0. Vai dá 12,60. P: Isso. Entendeu? E1: Uhu! P: Agora se você fosse compor os 3,60, podia ser assim: - três reais, para ter três reais eu preciso de um real e cinquenta, mais um real e cinquenta... E1: Há. P: Ai o sessenta centavos era trinta e trinta. Então, eu pegava 1,50 mais 0,30 que dava 1,80, ai não precisava fazer a conta de divisão, tá. E1: Tá. O aluno é questionado quanto à operação que deve ser feita para realizar o cálculo; este apresenta a operação de “menos”, então o pesquisador realiza uma mediação na intenção de guiar o aluno a esquematizar e estabelecer os conceitos e raciocínios necessários para a realização do cálculo correto. Neste momento temos a Negociabilidade inerente entre o pesquisador e aluno, que possibilita a interação de ambos na discussão que está sendo proposta. E em seus diálogos percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz parte dos seus esquemas; observamos que o mesmo exibe outro tipo de operação para resolver o problema. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e mostra como utilizou as informações. Nesta parte, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e mostra como utilizou as informações. 198 6.4.17 Observações sobre o comportamento do aluno E1 O aluno faz a leitura e, por alguns instantes, aparenta estar pensando, e logo começa a resolver realizando alguns questionamentos para o pesquisador sobre as relações de “dúzia e 12” “meia dúzia e 6”: o aluno consegue achar o valor de três dúzias, porém não sabe realizar o cálculo para meia dúzia. O pesquisador criou algumas situações que pudessem levar o aluno à compreensão do problema, auxiliando nas respostas do aluno. Para achar o valor de meia dúzia, o aluno optou por realizar a operação de divisão, mas, ao final, o professor apresentou como poderia realizá-la decompondo o valor em dinheiro. Aluno E2 Figura 33 - Resolução do problema pelo aluno E2 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala do Aluno E2 P: Você vai ler em voz alta? E ai como eu faço? E2: Pega isso aqui e dividi por 3. P: Porque por 3? Esse preço é o preço do que? Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Segundo o autor, podemos analisar esse trecho do diálogo como uma Particularidade Genérica, em que o aluno conta suas tomadas de decisões. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o primeiro componente dos esquemas, as metas e antecipações que o aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. Ambiguidade de referencia é apresentada neste trecho, logo 199 E2: Dos ovos, uma dúzia de ovos. P: De quantos ovos? E2: (Conta os ovos que estão dispostos no desenho). 12. P: Uma dúzia de ovos corresponde a quanto? E2: 11 não 12. P: E o problema, ta falando o que? E2: (O aluno faz a leitura novamente). P: Esse preço então corresponde a quantas dúzias? E2: A uma. P: A uma. Quantas que ele quer? E2: 3. P: Como eu faço para saber quanto vai sair 3? E2: Conta de mais. P: Tá, então faz aqui. E2: 10,80. P: Só que ele quer saber de três dúzias e meia. Se uma dúzia custa 3,60 então meia dúzia vai custar quanto? E2: 1,50. P: 1,50 mais 1,50 é 3,00 reais, não é? E2: 1,60. P: Não, ainda faltam 0,60 centavos, ai, com esses 1,50. Metade de 0,60 centavos e quanto? E2: 1,30. P: Não. E2: 0,30 P: 0, 30 . A metade de 3,00 reais não é 1,50? Então 1,50 com mais metade de 0,60 que é 0,30 da quanto? E2: 2,00 reais P: Você não tem 1,50 com mais 0,30 centavos? E2: 1,80 P: Então, as três dúzias mais a meia vão sair quanto? Quanto que é as três dúzias? E2: 10,80. P: Mais 1,80 saem quanto? Faz aqui do lado a outra conta? Zero mais zero é zero, quanto é 8 mais 8. E2: 16. P: Vai um aqui. Um com mais um... esse um é aqui não é aqui não... um com mais um. E2: 2. P: O um a baixa aqui, isso aqui não tem. E2: O 2 P: A baixa o 1 E2: Aqui. P: É. Não tem 3 aqui. Por que 3? E2: 12,60? após o pesquisador abrir os questionamentos na intenção de observar como o aluno vai se comportando frente às questões que são lançadas e como são estabelecidas as conexões necessárias para a realização do cálculo. O aluno é questionado quanto às informações que estão presentes no problema e que são de extrema importância para que este chegue à resolução correta; o pesquisador conduz o aluno na intenção de que E2 esquematize e estabeleça os conceitos e raciocínios necessários para a realização do cálculo. Neste momento temos a Negociabilidade inerente entre o pesquisador e aluno, que possibilita a interação de ambos na discussão que está sendo proposta. Esquema de numeração, o aluno utiliza a figura para realizar a contagem dos ovos. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e mostra como utilizou as informações. Também temos aqui temos a Ambiguidade de referência: o pesquisador abre os questionamentos e observa como o aluno vai se comportando frente às questões que são lançadas a eles. 200 P: 12,60. 6.4.18 Observações sobre o comportamento do aluno E2 Logo após a leitura, o aluno já toma um posicionamento sobre como o problema deve ser resolvido; utiliza os dedos para contagem e, quando é questionado, imediatamente lança a resposta sendo esta correta ou não. O pesquisador questiona o aluno, na intenção de ajudá-lo a estruturar a solução. O aluno apresenta a operação de adição para resolver, apresenta o valor das três dúzias e esquece o da meia; para ajudar, o pesquisador vai decompondo o valor em dinheiro e rapidamente o aluno consegue compreender. Aluno E3 Resolução do problema pelo aluno E3. Fonte: Acervo pessoal Figura 34 - Transcrição da fala do Aluno E3 P: Vai ler o probleminha. E3: Se 1 dúzia é 3,60 então tem que fazer vezes 3. Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Particularidade Genérica: o aluno conta sua tomada de decisão para solucionar o problema. Observamos também aqui a passagem do pensamento narrativo para o Nesta parte segundo o autor identificamos o segundo componente de um esquema, a regra de ação, busca de informação e controle dos resultados da ação, do tipo 201 pensamento lógico - científico. P: Então faz, aqui. Quanto que é 3 x 6? E3: Pera ai. P: Quanto é 3 x 3. E3: 3 x 3 é 6. P: 6? E3: 9. P: Mais 1 E3: 7 P: Tá. E qual é a pergunta do problema? E3: Quanto é 3 dúzias de ovos? P: É isso que tá? E3: É que aqui... P: Qual é o preço de três dúzias é... E3: É meia de ovos. P: Então, esse aqui você achou de quantas dúzias? E3: De 3. P: E a meia? E3: Fazer. P: Como eu faço para achar meia dúzia? P: Meia dúzia é 6, né? É o preço dessas 6, quanto que é? E3: Se uma dúzia é 3, 60, então meia dúzia que aqui no caso é 6, então tem que fazer...deixa eu ver... quanto que vai sair a metade... P: Uma caixa e 3,60, a metade dela e quanto? E3: Vamos ver... é agora tem que ver que conta. Há! Você precisa da metade, então... metade tem que dividir...metade P: Que número que é esse? E3: Um P: Porque 1? E3: Por que... P: Se você colocar um vai ser 3,60 E3: É, tem que dividir por 2, então. P: Isso. E3: Pronto. P: Um vezes dois, dois, para 3 falta 1, você abaixou o 6. E3: É o 6. P: Então é 16. E3: A é, esqueci...pronto, agora... P: Ai deu quanto à meia dúzia? E3: Deu 18. P: 18? E3: Aqui! P: Um real...é um real e oitenta “se... então” que fazem parte dos esquemas. Identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, trata-se do raciocínio que o aluno apresenta por meio de explicações ou desenvolvimento dos cálculos, e mostra como utilizou as informações. Na fala do aluno, observamos que este identificou as questões centrais do problema, o que remete, neste trecho do diálogo, à Centralidade do Problema. O terceiro tipo de invariantes, <<argumentos>>, está presente nesta verbalização do aluno E1: por meio do diálogo, este apresenta o argumento do tipo “meia...”, informação importante da situação problema. O pesquisador o questiona para direcionar o aluno a compreender a estrutura do problema e os conceitos empregados na situação, caracterizando esse momento de Negociabilidade inerente. Outro ponto é a Ambiguidade de referência: o pesquisador abre os questionamentos e observa como o aluno vai se comportando a cada questão lançada, com a intenção de rever a interpretação que o aluno está tendo e para que ele consiga mediar os esquemas, a estrutura do problema e a importância dos significados de algumas palavras “meia” e “dúzia” no contexto da situação. Nesta parte, identificamos o segundo componente de um esquema, a regra de ação, busca de informação e controle dos resultados da ação, do tipo “se... então” que fazem parte dos esquemas. Os Conceitos em ação são encontrados na seleção de informações que o aluno realizou e que são necessárias para resolver o problema. O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, é reconhecido quando o aluno apresenta todas as questões que estão ligadas ao raciocínio e que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações. 202 E3: A é! P: Zero e zero vem aqui. Ai você tem o preço de 3 dúzias e de meia dúzia, as 3 dúzias e meia da quanto no total? E3: Deixa eu ver, aqui deu 10... deu 12,60. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo realizado para se chegar à solução. P: Isso certinho E3: Umm. Ai coloca a resposta aqui? P: É 6.4.19 Observações sobre o comportamento do aluno E3 O aluno realiza a leitura e apresenta o cálculo de multiplicação de uma dúzia; o pesquisador realiza algumas correções da tabuada e pergunta novamente “qual é a pergunta do problema?” o aluno percebe que esta faltando à meia dúzia, fica pensando, e logo faz a relação entre meia dúzia e 6. O aluno percebe que precisa saber a metade de uma dúzia em dinheiro, só não sabe como fazer; ele continua pensando e opta em fazer a divisão, o cálculo é feito chegando ao valor 18, ele apresenta dificuldade em realizar a divisão com números decimais, mas ao final, chega à solução. 203 6.4.20 Análise do grupo 2 (dupla): Problema do campo multiplicativo Aluno E4 e Aluno E5 Figura 35 - Resolução do problema pelo aluno E4 e E5 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos E4 e E5 P: Vocês vão ler o problema e explicar como vocês resolveram. E4 e P: (começam a resolver o problema) P: O que o problema quer saber? E5: Uma dúzia e 3,60 quantas dúzias... quantos reais vai dar 3 dúzias. P: i... E5: Três dúzias e meia. P: O que podemos fazer? Descobri o que primeiro? E5: As quantidades. P: Quantidades! Precisa descobrir a quantidade? Uma dúzia e quanto? E4 e P: 3,60. P: E 3 dúzias vão ser quanto? Aqui você achou 36 e quantidade do que? E5: Dos ovos. P: De ovos. São 36 ovos, mais é o preço para três dúzias? É uma dúzia é o que vem naquela caixa? Nessa caixinha aqui. Então eu quero três caixas dessa, cada Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Este diálogo mostra que o aluno busca o que é central no problema, ou seja, a Centralidade do Problema. Após o recolhimento das informações o aluno apresenta os esquemas de resolução apontando a palavra “dúzia”. O pesquisador realiza alguns questionamentos com a intenção de direcionar os dois alunos a compreender a estrutura do problema; temos presente no diálogo a Negociabilidade inerente. 204 caixa dessa vale 3,60, quantas...porque 36 reais? Aqui tá 36 reais. Eu quero três caixas, cada caixa e 3,60 primeiro, porque depois eu vou querer meia caixa dessa daqui. Eu quero três caixas. Cada caixa e quanto? E5: 3,60. P: Que continha eu posso fazer para descobrir quanto que é três caixas? E5: De mais. P: Por que 36,60? É 3,60. Qual conta você faria? E5: De vezes E6: De mais. E5: Ou de vezes P: E ai, iria ficar como de vezes? E5: 3 vezes 3, 60. P: Então, faz. Aluno E4 ajuda o aluno E5. E5: (conta nos dedos) E5: 9,80. E4: 9,80. P: Quanto? 0 e 0, 6 + 6? E5: 12 P: com mais 6? E5: 18 P: vai um, com mais três E4 e E5: 6 P: Com mais 3. E4 e E5: 9 P: É com mais 1 aqui? E5: 10! E4: 10. P: Tá, isso é de 3... ? E4 e E5: Caixas. P: Agora eu sei que uma caixa dessa e 3,60, meia caixa vai ser quanto? E5: 3,60. P: Você vai pagar o mesmo tanto em meia caixa? E5: Não. A metade. P: Quanto que é a metade de 3,60? Eu quero saber de 3 dúzias e meia. Por que aqui eu descobri só de 3. Como eu sei a metade de 3,60? Por que 5? E5: Porque é a metade. P: Metade do que? Eu quero saber a metade de 3,60. Vamos pensar assim, qual é a metade de 60 centavos? E5: 30. P: 30 não é? Tá! Então marca ai. Agora vamos pensar a metade de 3 reais E5: 2. P: Não! Porque 2 mais 2 dá 4 reais. Qual é a metade de 3? E5: 1 P: 1 mais 1 é E5: 2 P: dois reais E5: 3 ? No diálogo da dupla com o pesquisador destacamos a Composição Hermenêutica: podemos observar o entendimento que os alunos vão tendo do significado da estrutura do problema em relação aos cálculos que devem ser empregados na situação. Identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: o raciocínio do aluno desenvolvido por meio de cálculos e informações apresentadas por ele. Esquema de numeração, o aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. Novamente encontramos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: o raciocínio do aluno e a forma de realizar os cálculos e o levantamento das informações. Temos no diálogo da conversa entre o pesquisador e o aluno a ambiguidade de referencia: o questionamento do pesquisador, que tem a intenção de observar como os alunos vão se comportando diante de cada questão lançada a eles. O pesquisador busca rever a interpretação que os alunos tiveram sobre o conceito “metade” e conduz E5 a esquematizar e estruturar o problema e o significado dos conceitos matemáticos nele empregados. Essa discussão caracteriza-se pela Negociabilidade inerente entre pesquisador e alunos com a intenção de direcioná-los a compreender a estrutura e o Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: o raciocínio do aluno que é desenvolvido por meio de cálculos e informações. 205 P: 3 mais 3 é ? E4 e E5: 6 P: Qual é a metade de um real? E5: 50. P: 50 centavos, não é? E a metade de dois reais? E5: Um real P: Então a metade de três vai ser quanto? Ò! Vamos pegar o 3 e decompor ele, tá. É três reais eu tenho uma nota de 2 e uma de 1, tá bom? A nota de dois a metade e quanto? Que vocês falaram. E5: 1 P: E a metade de 1 real? E5: 50. P: Então eu tenho um com mais 50. E5: 50. P: Então a metade de três reais e quanto? E5: 1,50. P: Só que eu não tinha 60 centavos! E5: Sim. P: Que a metade e quanto? E5: 30. P: Então 1,50 mais 0,30 e quanto? E4 : 180. P: Então eu já descobri três dúzias, a metade de 3,60 é um...? E5: 1,80. P: Então, eu só preciso acrescentar... E5: Uhu! P: Então eu preciso só acrescentar essa dúzia ai e eu acho o valor das três dúzias e meias. Então coloquem ai, 1,80...vírgula em baixo de vírgula. Quanto que dá? Quanto e zero mais zero? E5: Zero. P: É oito mais oito? E4 e E5: 16. P: Ai mais 1! Então quanto que é três dúzias e meias? E5: 10,60. P: Entenderam? E4 e E5: Sim. raciocínio do problema e os cálculos e conceitos nele presentes, relacionados à ideia de metade e valores numéricos representando dinheiro. O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência apresenta-se neste trecho, nas questões que estão ligadas ao raciocínio dos alunos quando esses desenvolvem o cálculo. 6.4.21 Observações sobre o comportamento dos alunos E4 e E5 Os alunos são bem tímidos e apresentam dificuldades em resolver esse problema. Mas, aos poucos, o pesquisador vai interagindo com alguns questionamentos e, aparentemente, eles vão compreendendo. O aluno E4 acha que tem que descobrir a quantidade de ovos, ele aparenta não ter entendido o problema; 206 o aluno E5 já chamou a atenção para uma dúzia e meia. O pesquisador vai direcionando os alunos para que eles consigam chegar a um entendimento. O aluno E5 apresenta a operação de mais, e o outro de vezes, logo em seguida eles realizam o cálculo de (3,60 x 3). O pesquisador pede para que o aluno E5 ajude o colega na conta; no decorrer dos cálculos os alunos usam os dedos e verbalizam as contagens. Aluno E6 e Aluno E7 Figura 36 - Resolução do problema pelo aluno E6 e E7 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos E6 e E7 P: Vocês vão ler o problema e explicar a resolução de vocês? E6: 3 dúzias e meia de ovos!Tá, aqui uma dúzia é... E7: 3,60 E6: Não! Uma dúzia e doze E7: É E6: 12 x 3 é 36 E7: 36 E6: Já tá, até a resposta, aqui! P: Não, não! E6 e E7: Não? P: Ó, na granja bom de bico uma dúzia de ovos e vendida por? E6 e E7: 3,60. Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Neste diálogo temos a Particularidade Genérica: aluno extrai características importantes para organizar seus esquemas em busca da resolução; observamos também aqui a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico – científico, organizando seus esquemas em busca da resolução. Temos os conceitos em Ação, informações que foram levantadas por meio da interpretação do aluno e o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>, presente, do tipo “dúzia...". 207 P: Qual é... E6 e E7: A é o preço! P: Isso o preço de 3 dúzias e meias. E6: Então, calma ai 3,60 x 3? P: É! Mas ele quer saber qual é o preço de 3 dúzias e meia. E7: 3 dúzias e meia são 6, então três x 6 então dá 12. E6: 3,60 x .... A gente pode fazer... E7: 26,27,28... E6: Calma ai! 5,10,15,20... E7: Aqui já dá 12! E6: Aqui é 36 E7: É. 36 sobe o 3. Seis vezes 3...24! 24,25,26,27... 27,60 E6: Não, é! P: Ó! Lê de novo o problema. E6 e E7: (Faz a leitura e começam a discutir). P: Faz aqui no papel, anota aqui. E6: Uma dúzia são doze. Uma dúzia são... E7: 12. E6: 3 dúzias... P: Então, quanto custa uma dúzia? E6 e E7: 3,60 P: Tá, então 3 dúzias vai custa quanto? E7: Já, sei! 20...não 36...10,11,12. P: Isso, vocês acharam de 3 dúzias, só que ele quer 3 dúzias e meia. E6 e E7: Meia. P: Então, pensa assim: - Uma dúzia custa 3,60, meia dúzia vai custa quanto? E6: 2 dúzias, 3 dúzias... umm E7: Já, sei! E6: Meia dúzia são 3? P: Não! E7: São seis. E6: Seis. P: Seis. Mas se 12 ovos custam 3,60, quanto vai custar seis ovos? E6: Seis dividido por 3,60 P: Não, ó! Uma dúzia, uma dúzia não são 3,60? Neste momento, o pesquisador conduz o aluno por meio de seus questionamentos, para que este compreenda os conceitos presentes no problema; desta maneira o pesquisador cria, na narrativa, a Negociabilidade Inerente. Segundo o autor, esta fala do aluno possibilitou identificarmos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações apresentadas por ele, como, por exemplo, “dúzia” e que também podem ser desenvolvidas por meio de cálculos (3,60x3) e outros tipos de informações extraídas da situação que permitam apontar características para a solução. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo realizado para se chegar a solução. A Ambiguidade de referência apresenta-se logo após os questionamentos do pesquisador, que tem como tarefa observar como os alunos se comportam diante de cada questão lançada a eles e qual seu entendimento. O pesquisador busca rever as interpretações que os alunos obtiveram e direcionar na esquematização da estrutura e na compreensão no significado de conceitos importantes estabelecidos no problema. Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que e desenvolvido por meio de cálculos e informações e os Esquemas de numeração, que são visíveis no momento da explicação dos cálculos realizados pelos alunos para se chegar à solução. Destacamos na fala do aluno o significado dado para a palavra “dúzia” como uma possibilidade de resolução para o problema; temos o Teorema em Ação (falso): o aluno apresenta uma interpretação da palavra que não condiz com o seu significado, ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz 208 E6 e E7: É P: Meia dúzia é quanto? Meia dúzia não é a metade de uma dúzia? E7: É seis, é seis. P: Tá, mas quanto que é em dinheiro? E7: Em dinheiro... P: Uma dúzia e 3,60, meia dúzia... E6: Uma dúzia... E7: Já, sei! 3,60 dividido por 6 P: Porque por 6? E7: 12? E6: Eu falei que não era, mas ela... P: Uma dúzia, meia dúzia. Meia dúzia não é a metade? E7: É! E6: Ai, ai...esse meia. P: A gente que saber o valor, o valor. Uma dúzia é 3,60, uma dúzia. E6: Uma dúzia é 3,60. P: Meia dúzia? E6: Seis dúzias são quanto, Aluna E7? P: 6 dúzia não. 6 dúzia já é muito. É meia dúzia. E7: Meia dúzia. E6: 3 P: Doze ovos, doze ovos que é uma dúzia, custa 3,60, não é isso? E6: É! P: Meia dúzia que são seis ovos vai custar quanto? E6: Nossa. Uma dúzia custa 3,60. E7: Meia dúzia. E6: Mas quanto que é meia dúzia? É seis? P: É seis. Mas nesse caso nem entra no problema...meia dúzia e metade, só que eu quero saber em dinheiro. Se meia dúzia é metade, em dinheiro vai custa quanto? Se uma dúzia e 3,60 a metade de uma dúzia é meia dúzia. E6 e E7: É! P: Então, vai ser a metade de um valor de uma dúzia, não é? E6: A metade de um valor de uma dúzia? Qual é a metade de 12 aluna E7? P: Não! E7: 6... P: Não, vocês tem que pensar no dinheiro. E6: Metade de 3,60? P: É! E6: Metade de 3, 60 aluna E7, quanto que é? A gente não aprendeu metade de dinheiro ainda? E7: Não ! E6: A gente não sabe a metade em dinheiro. A professora não parte dos seus esquemas; observamos que o mesmo exibe outro tipo de operação para resolver o problema. Neste momento, o pesquisador conduz o aluno por meio de seus questionamentos para que este compreenda os conceitos presentes no problema; desta maneira o pesquisador cria, na narrativa, a Negociabilidade Inerente. Neste trecho destacamos o diálogo dos alunos explicando porque eles não estão compreendendo, o que chamamos de Ações tem motivos. Os alunos destacam que não sabem calcular a 209 ensinou ainda. Só a metade de 10... P: Tá! Mas qual a metade de 3,60, como eu faço para achar a metade de 3,60? E7:Ó! Metade é 3 não dá. E6: É dois né? P: Vamos pensar assim, a metade de 3 reais? Vamos pensar em dinheiro. E7: A metade de 3 reais ... deixa ver. E6: Dois. P: Não. E7: Não E6: Metade de 2 é um. P: Então, a metade de 2 é um real. É a de 3? E7: De 3 e dois. E6: Não E7: É um! P: Um! Mais alguma coisa. E7: Um real, um e sessenta? P: Não! 1,60 mais 1,60 dá quanto? E7: 2 é.... E6: Dois e sessenta! Mais, 3, 4...2, 70 mais... não ai que difícil! 2,60 mais um real? 2,60 mais um real?,porque daí dá 3,60. P: Metade tem que ser metade, metade. E7: É se fosse 1,50 mais 1,50, por que... E6 e E7:: 1,50 mais 1,50 vai dá 3. Tá. P: Tá! Só que você tem mais 60 centavos ai, qual é a metade de 60 centavos? E7: 3. E6: Que 3! 30 centavos E7: 30 centavos. P: Então a metade de 3, 60 é 1,50 + os 0,30 centavos, que é quanto? E7: Que é... E6: 1,50 mais a metade de 60 que é 30. P: 1,50 mais 30... E7: Que é 1,90. Não! E6: 50,60,70,80,90... P: Tá! E6: 1,70 E7: 60 mais um real e cinquenta, dá 3 reais. E6: 3 reais. E7: Dá 3 reais. P: Tá só que esses 60 centavos ela já falou que é 30, só que 1,50 mais 30 centavos da quanto? E7: 1,50 mais 0,30 centavos...50, 60, 70...1,80. P: Tá 1,80 e agora, 1,80 mais 1,80 dá quanto? E7: 1,80 mais 1,80 dá... E6: 8,16... E7: 16, R$ 3,60. P: Então, qual é a metade 3,60? metade em dinheiro, justificando que não haviam aprendido. A Ambiguidade de referência apresenta-se logo após os questionamentos do pesquisador que tem como tarefa observar como os alunos se comportam com cada questão lançada a eles e seu entendimento. O pesquisador busca rever as interpretações que os alunos adotaram e direcionar na esquematização da estrutura e na compreensão do significado de conceitos importantes estabelecidos no problema, como por exemplo, “dúzia e metade". Nesta parte, segundo o autor, identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que e desenvolvido por meio de cálculos e informações. O pesquisador conduz o aluno fornecendo outros exemplos práticos para que esses compreendam os conceitos presentes no problema, criando a Negociabilidade Inerente. Observamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e são desenvolvidas por meio de cálculos e informações. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo realizado para se chegar à solução. Encontramos também o terceiro tipo de invariantes <<argumentos>>: por meio do diálogo, o aluno apresenta o argumento do tipo “dúzia.., metade...” que são informações fundamentais do problema. 210 E6 e E7: 1,80. P: Então ai vocês descobriram o valor de uma dúzia não foi? E6 e E7: Sim P: Cadê o valor de uma dúzia de ovos? Quanto que custa uma dúzia de ovos? E7: É... E6: 12! P: 12,60! E7: É. P: Quanto que é meia dúzia? E7: Meia dúzia é seis. P: Não! Em valor. E6: 1,80. P: Então, eu tenho que fazer 12,60, mais meia dúzia para saber quanto que é três dúzias e meia. E7: Háaa... E6: 12,60 mais... E7: 12, 60 mais... E6: 1,80 E7: 1,80. 0, 8, 9, 12, 13 , 14. 3, 4 E6: 4,40 não é. E7: Não! A sobe um E6: 14, 40? Tá, certo? E7: Não é por causa que aqui já tinha um, mais... Aqui já tinha um ai subiu. P: 8 mais 6 aqui é 1 E7: É P: 2 com mais um 3 com mais 1? E7: dá 4. É por causa que eu fiz junto, assim ó! Subiu um aqui ai... P: Mas pera ai! Quanto que é 3 vezes seis? E7: 3x6! 3x6! É 24, não! P: Quanto que é 3 x 5? E6: 15 P: É 3 x 6? E6: 3 x 6 ... E7: 15! 16, 17 é 18? P: 18. Vocês colocaram seis ai! E7: A onde? P: Aqui! E6: É 12,80, não é? P: Sim. Agora arruma do outro lado E7: A tá! E6: Viu! E7: Beleza! É doze é oitenta. Oito mais oito é 8, 9,10,11,12... E6: 16! E7: É 16 é verdade. 16 vai subir 1, ai 3, 4 é descer o 1, quatorze e sessenta. E6: 14,60. Não é? 14, 80? P: Pera ai! 8 e 8 dezesseis, vai um. Dois , três, quatro... E7: Desce um! P: Tá! Dezesseis vai um, dois, três, quatro. Tá! E7: Tá certo P: Pera ai, 3 x 6 dezoito vai um, três vezes três, três vezes zero e zero, 3 x 6 dezoito vai um... E7: É Identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que e desenvolvido por meio de cálculos e informações. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo e apresenta o seu raciocínio e realiza as contagens dos valores em voz alta. Encontramos novamente o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações e os esquemas de numeração, realizado por meio da linguagem, momento que os alunos explicam os cálculos realizados para se chegar à solução. 211 P: Ó, faz essa multiplicação direito. E7: Tá, tudo bem! P: 3 x0? E7: Pera ai! 3 x 0 é 0. P: 3 x 6? E7: É trinta é ... P: Que trinta! Acabou de fazer ai. 3 x 6? E6: 18 P: 18 vai um, 3 x 3? E7: É...12. P: 12 com mais um. E7: É...10. P: 10, 80, não 12. Aqui não é 12 é 10, 80. E7: 10 vírgula oitenta mais 1,80, oito é dezesseis sobe um, um mais um são 2, desce um. P: Isso, agora sim. Então a resposta ai é? E6 e E7: 12,60. Na Transcrição do diálogos dos alunos observamos a passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, uma vez que conseguimos notar o raciocínio lógico do aluno. O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, é encontrado nesta fala: é as questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que é desenvolvido por meio de cálculos e informações e o esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo realizado para se chegar à solução. 6.4.22 Observações sobre o comportamento dos alunos E6 e E7 Os alunos são bem comunicativos e participativos. O envolvimento dessa dupla foi muito interessante, pois, a todo instante, estavam discutindo um com o outro e realizando questionamentos para o pesquisador, na intenção de buscar estratégias para conduzir a solução do problema. Utilizavam os dedos para contar, sempre tiravam dúvida um com o outro ou até mesmo pediam ajuda para o pesquisador, no momento que estavam organizando seus pensamentos para resolver o problema. O que se destacou nessa narrativa foi o conceito "... dúzia e meia”: os alunos demonstraram dificuldade na compreensão da “meia” e na relação do valor (preço) e a quantidade (de ovos). 212 Aluno E8 e Aluno E9 Figura 37 - Resolução do problema pelo aluno E8 e E9 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos E8 e E9 P: Vocês vão ler esse problema e explicar como vocês resolveriam? E8: Uma dúzia é 12 e é vendida por 3,60. Pera ai, 1,2,3,4...(o aluno conta a quantia de ovos que esta na caixa). E9: Aqui tem 12. E8: Deixa eu fazer! E9: Calma... E8: Uma dúzia é 12, é uma caixinha com 12 ovos, é 3,60. Três dúzias e meia de ovos, três dúzias é meia...? Dúzias é meia...?É seis! E9: Uma dúzia é 12. E8 e E9: (Começam a discutir as ideias que estão tendo para resolução do problema). P: O que o problema ta perguntando? E8: Tá perguntando, se na caixinha aqui que vem 12 ovos... E9: Na granja... E8: Calma, ai! P: Um de cada vez para falar. E8: Em uma caixinha vêm 12 ovos e é 300,60. P: 300,60? E8 e E9: Três reais e sessenta. E8: Ele que sabe... E9: Qual o preço de três dúzias e Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Temos caracterizada, nesta fala a Particularidade Genérica, em que o aluno extrai características importantes como “dúzia” “quantidade de ovos” para organizar seus esquemas em busca da resolução; observamos também a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico - científico uma vez que conseguimos notar o raciocínio lógico do aluno. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem utilizando o desenho da caixa de ovos para ajudar em seus cálculos. Na conversa da dupla destacamos a Negociabilidade inerente entre alunos e pesquisador, que realiza alguns questionamentos na intenção de direcionar a dupla a compreender a estrutura do problema. Na conversa dos dois alunos, Temos presentes os Conceitos em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema como, por exemplo, “três dúzias e meia” conceitos importantes presente no problema. 213 meia de ovos. E8: A pergunta que saber 3 caixas e meia, três dúzias e meia de ovos é? P: Tá! Quanto que é o preço de uma caixa? E8: 300,60. P: 300,60? E9: 3 reais e 60 centavos. P: Então, quanto que é 3 caixas? E8: 3. E9: Coloca três, três e três e faz a conta. Três, com três é 6. Nove! P: Mas não é 60 centavos? E8: É! 3,60. P: Três caixas, cada caixa não é 3,60 centavos? E8: A é! Seis mais seis...? E9: 12! E8: 12, 13,14,...18. Aqui é 9. É 10,80 centavos. P: Ai, eu achei de 3 caixas, certo? De ovos. Quantas,...aliais 3 dúzias, não é? E8: Uhu! P: Cada caixa tem uma dúzia, só que ele quer de três dúzias e ...? E8 e E9: Meia. P: Então, assim uma dúzia é 3,60, meia dúzia... a metade vai ser quanto? E8: Há, a metade? Se uma dúzia e 300,60, três dúzias é 10,80. Não... P: Uma caixa dessa daqui não custa 3,60? E8: Uhu! P: É a metade dessa caixa vai custar quanto? E8: 3,60! A metade de 3... E9: Vai ser 6? E8: Vai ser 12? P: Como vai custar mais que uma dúzia a metade? Quanto que é a metade de uma dúzia? Não é seis ovos? E8: (Balança a cabeça que sim) P: Então! Doze ovos custa 3,60, meia dúzia vai custa quanto? E8: Meia dúzia é 6, háaa! Ela tá perguntando se vende 6 ovos, quanto é o preço. P: Fala o que você tá pensado. E8: Pode ser assim, 3,60 menos 6. P: Porque menos 6? E9: E mais 6. P: Porque mais 6? Você não quer saber a metade de quanto custa isso daqui? Se eu falo que essa caneta custa dois reais, se eu tiro a tampa quanto que vai custa a caneta sem a tampa? percebemos que eles identificaram as questões centrais do problema o que remete, neste trecho da narrativa, à Centralidade do Problema. Encontramos, nessa Transcrição do diálogo dos alunos, a Passagem do Pensamento Narrativo para o Pensamento Lógico – Científico, em que por meio da linguagem o seu raciocino lógico se torna efetivo. Aqui temos a Ambiguidade de referência: o pesquisador abre os questionamentos e observa como os alunos vão se comportando diante de cada questão lançada a eles. O pesquisador busca rever a interpretação que os alunos tiveram e vai esquematizando com os alunos a estrutura do problema e o significado de algumas palavras. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, quando o aluno fala os números em voz alta e os gestos dos dedos para realizar a contagem e segundo o autor identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que e desenvolvido por meio de cálculos e informações. Percebemos um Teorema em Ação (falso), na explicação dos alunos, ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz parte dos seus esquemas; observamos que o mesmo exibe outro tipo de operação para resolver o problema. 214 E8: Um real P: Então, é a metade de dois. E8: Háaa... P: Não é? Agora,... E8: 2,60 P: Porque 2,60: Dois e sessenta é a metade de 3,60? E8: Metade de 3 é ....metade de 3... P: Então, vamos decompor esse valor, qual é a metade de 3? E9: Metade de 3... P: Metade de três reais. E8: Metade de 3... P: Metade de 2, dois reais e quanto? É um não é? E8 e E9: É! P: Qual é a metade de um real? E8: Metade de um real...? P: Quanto que é a metade de um real? E8: Um real? P: É. E8: Metade um real, é...um real...você precisa... P: Você tem um real, quantas moedas você precisa para compor um real? E9: 50 centavos. E8: 50 centavos. E9: 50 centavos, a metade de um real é 50 centavos. P: 50 centavos. Cinquenta mais cinquenta vai dá um real. Qual é a metade de 3? E8: A metade de 3 reais é... E9: É dois? P: Dois mais dois é 4, então não é dois. E8 e E9: (Ficam pensando). P: Qual é a metade de 60 centavos? E8: Metade de 60 centavos é 30 P: 30 centavos. Então marca ai, 30 centavos, zero vírgula 30. Tá, agora metade de três reais, vamos decompor esses três, metade de dois é quanto? E8: Metade de dois...é um real? P: É um real, coloca ai. Um vírgula zero zero, coloca em baixo. Só que sobra mais um real ainda, não é? Qual é a metade de um real? E8: 50. P: Então você vai colocar zero vírgula cinquenta centavos. Agora soma. E9: Zero... E8: De mais. E9: Essa linha aqui você coloca o zero. E8: Um real e oitenta centavos. P: Qual é a metade de 3, sessenta centavos? E8: Um é oitenta. P: Agora você descobriu três O pesquisador sugere outros caminhos para que o aluno consiga compreender os conceitos empregados no problema. O pesquisador direciona os dois alunos na intenção de que eles estruturem o problema, temos neste diálogo a Negociabilidade inerente. Nesta parte identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que e desenvolvido por meio de cálculos e informações. O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, apresenta-se neste diálogo, com questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações; estão presentes os conceitos em ação: o aluno seleciona as informações disponíveis para resolver o problema. 215 dúzias e quanto que vale meia dúzia, agora quanto que dá as três dúzias e meia? E8: As três dúzias e meia...? Um! P: Fala. E8: Acho que é uma conta de mais. E9: Mas é com esse dois a conta de mais? P: É! E9: (O aluno faz o calculo, utiliza os dedos para contagem). E8: Oito mais oito é dezesseis. Dá 10! Não tem como soma, baixa o 10. P: É o um lá de baixo? Um mais um? E8 e E9: Dois. P: É baixa o um aqui. Você tem zero, um é um aqui, não é? Não e um real e oitenta, você não pode colocar em baixo do um. E9: A tá. P: Tá certo aqui. Aqui que tá errado que você fez. Zero é um e um da quanto? Apaga esse dois E9: Aqui vai dá um P: Porque vai dá um ai? E9: Ò vai dar zero. P: Porque que vai dar zero? E8: (o aluno pega folha para fazer o calculo) P: Esse um aqui, é aqui em baixo, ele colocou ao contrário. E8: Aqui e um. Se tinha subido o um e dois. P: Isso E9: Dois e um aqui também. E8: É dois. P: Porque dois? Não sobe nada aqui. E9: Um mais um é dois. E8: Ai, eu confundi aqui. P: Pronto! Três dúzias e meia custa quanto. E8: 12,60. P: Entenderam agora? E8 e E9: Uhu. Neste trecho do diálogo da dupla destacamos a Composição Hermenêutica: podemos observar as explicações e justificativas para os cálculos que estão realizando. Novamente temos o conceito em ação: o aluno selecionou as informações disponíveis para resolver o problema, integrado ao quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência: questões que estão vinculadas ao raciocínio do aluno sendo desenvolvidas por meio de cálculos e informações. Temos ainda os esquemas de numeração: o aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, encontra-se neste trecho também; temos questões relacionadas ao raciocínio do aluno que podem ser desenvolvidas por meio de cálculos e informações. 6.4.23 Observações sobre o comportamento dos alunos E8 e E9 Os alunos realizam a leitura, e, após o término, o aluno E8 faz a relação da “dúzia-12” e começa a contar os ovos da caixa do desenho. O aluno E8 toma a folha do colega E9, refaz a leitura faz a relação de “meia-6”. Eles apresentam dificuldades em alguns pontos do problema, e, para a realização dos cálculos utilizavam sempre os dedos. Os alunos apresentaram a questão central, mas não conseguiam entender como realizariam a conta. O aluno E10 fala para o E8 colocar 216 três, três e três e somar, ou seja, somar três vezes o valor da caixa de ovos. Para achar a meia dúzia o pesquisador trabalha com a composição do dinheiro para que eles entendessem o termo “meia”, até chegar à solução. A interação entre eles foi bem pouca, o aluno E8 participou mais das discussões. 6.4.24 Análise do grupo 3 (interação): Problema do campo multiplicativo Aluno E10 e Aluno E11 Aluno E10 Aluno E11 217 Figura 38 - Resolução do problema pelos alunos E10 e E11 Fonte: Acervo pessoal Transcrição da fala dos Alunos E10 e E11 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno E10 com o pesquisador P: Você vai fazer a leitura e resolver. E10: Três dúzia de ovos...três O terceiro tipo de invariantes <<argumentos>> destaca-se dúzias e meia...deixa eu ver... no diálogo do aluno: apresenta o argumento do tipo “dúzia...” informação importante contida no problema. E10: Pronto. P: Pronto? O que você fez ai? E10: Foi assim: - Uma dúzia de Segundo o autor caracterizamos Destaca-se o quarto ovos e vendida por 3,60, qual é o esse diálogo como uma componente de um esquema, preço de três dúzias e meia? Ai eu Particularidade Genérica, em a possibilidade de inferência, peguei esse número três vezes, ai que o aluno, em sua explicação, que são as questões que estão eu coloquei aqui e deu 10,60 e de apresenta suas tomadas de ligadas ao raciocínio do aluno e mais. decisões e verbaliza como desenvolvidas por meio de organizou seus esquemas em cálculos e informações busca da resolução. Observamos recolhidas após a leitura. também aqui a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico - científico uma vez que conseguimos notar o raciocínio lógico de E10. Transcrição do Aluno E11 com o pesquisador P: Você vai fazer a leitura e responder. Pronto? E11: Um P: Então conta para mim como você fez? E11: Eu fiz, 3,60 vezes 3. Particularidade Genérica, em Segundo o autor, temos 218 que o aluno em sua explicação apresentou sua tomada de decisão, apresentando a operação utilizada. presente o quarto componente dos esquemas, possibilidades de inferência que o aluno manifesta ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. Transcrição da Interação com o Aluno E10 e o Aluno E11 P: Vê como vocês fizeram ai, e faz a leitura do problema de novo para ver se não está faltando nada. Conversem vocês. Tá certo o que vocês fizeram? E11: Eu fiz, 3,60 vezes 3 é deu O aluno E11 apresenta para o Destaca-se o quarto 10,80. seu colega o cálculo que ele componente de um esquema, E10: Eu peguei três vezes o utilizou e como procedeu, a possibilidade de inferência, número 3,60 e deu 10,80. segundo as características de que são as questões que estão uma narrativa temos presente a ligadas ao raciocínio do aluno e Composição hermenêutica. desenvolvidas por meio de cálculos e informações recolhidas após a leitura. P: É vocês acham que tá certo? E10 e E11: (Balança a cabeça que sim). P: O que o problema tá Encontramos no diálogo dos perguntando? alunos, após o questionamento E10 e E11: Qual é o preço de três do pesquisador, as interpretações dúzias e meia? e observações do aluno em P: É vocês acharam o preço de relação à correspondência de cada valor, identificando a três dúzias e meia de ovos? E10 e E11 (Balança a cabeça que centralidade do problema, ao sim). contar que para resolver, P: Uma dúzia e quanto? deveriam saber o preço de três E10: 3,60. dúzias e meia. P: É três dúzias e meia, quanto A Ambiguidade de referência que é? aparece quando o pesquisador E10: 10,80? abre os questionamentos e P: 10,80 é o preço de três dúzias observa como os alunos vão se e meia? comportando diante de cada E10 e E11: Sim questão lançada a eles. O P: Quantas dúzias você utilizou ai pesquisador busca rever a em relação ao preço? interpretação que os alunos E10: 3. tiveram e vai esquematizando P: É a meia? Cadê a meia? Você com estes estruturam o problema também aluno E11. Não tá e o significado de algumas faltando à meia? palavras. E10 e E11 (Balança a cabeça que sim). P: Se uma dúzia...Uma dúzia e Os alunos vão sendo quantos ovos? Uma dúzia. Quanto questionados pelo pesquisador e que corresponde uma dúzia? Uma vão retomando todas as dúzia e quantos ovos? informações contidas no E11: 12. problema. Logo, temos a P: 12. E meia dúzia, vão ser negociabilidade inerente, quantos ovos? momento este no diálogo que o E11: 6. pesquisador e os alunos vão P: 6. É a metade de 12, né? Isso realizando discussões e a gente está pensando em esquematizando o problema para quantidade de ovos, certo? Agora, o entendimento dos alunos à vamos pensar em quantidade de resposta final. dinheiro? Uma dúzia é quanto? E10: 3,60. P: É meia dúzia? Tá entendendo o raciocínio ou não? Ó uma dúzia, são 12 ovos, meia dúzia vai ser... E10 e E11: Seis. P: Seis, que é a metade de 12, não é isso? Isso a gente tá 219 pensando em ovos, não é? Agora vamos pensar em dinheiro, no preço, uma dúzia é quanto? Três é...três e sessenta, não é? E10 e E11: É. P: Que são 12 ovos, não é? Três reais e sessenta. Meia dúzia vão ser seis ovos, vai ser a metade de 12, quanto que é em dinheiro? E11: Seis reais? P: Como pode ser mais que uma dúzia a metade? Não tem que ser menos? E11: Dois reais. P: Doze dúzias é proporcional ao valor, não é? Doze dúzias é três e sessenta, meia dúzia vai ser quanto? E10: 1,60? P: Porque um e sessenta? E10: Porque 3 é um pouco mais, ou menos que 2. Ai se 12 ovos, dá a cartela cheia, ela é custa 3,60, então é 1,60, seis ovos. P: Você concorda comigo, que se 6 ovos é 1,60, mais 6 ovos vai ser mais 1,60, não é? E10: (Balança a cabeça que sim) P: 1,60 mais 1,60 dá quanto? E11: 3,20. P: Não dá 3,60 que é a dúzia. Tem que dá 3,60, não é? E10: Sim. P: Então, está faltando mais uns centavinhos ai. E11: 2,...20. Falta 40 centavos. P: Vocês, estão entendendo o que eu to falando? E10 e E11 (Balança a cabeça que sim) P: Porque 1,60. Se cada meia dúzia vale 1,60, e eu tenho duas, tem que dá 3,60, não, é? Tá faltando uns centavos, ai. E11: 80..., 80. P: Um é... E11: 1,80. P: Um e oitenta, né? E10: (Balança a cabeça que sim). P: 1,80 mais 1,80 vai dá... três e sessenta. Então, quando vocês fizeram a continha ai, vocês acharam o valor de 3...dúzias. E a meia agora, o que é que eu faço? E11: Eu pego, 1,80... E10: 1,80 mais 1,80. P: Não! Se você for pegar 1,80 com 1,80 você está pegando uma dúzia. Você já descobriu o valor de meia dúzia, não é? Você que saber o valor de três dúzias e meia. É só fazer o que ai, agora? E11: Divisão? Menos? Mais. Nesta parte identificamos o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno que e desenvolvido por meio de cálculos e informações. O aluno verbaliza algumas relações entre as palavras “mais e menos” para justificar suas respostas, dessa maneira identificamos os esquemas da resolução, que são observáveis nessa discussão entre o pesquisador e os alunos. Novamente o pesquisador estabelece algumas maneiras de raciocinar mentalmente sobre o que está sendo solicitado no problema, realizando questionamentos para reorientar os alunos em busca da resolução; nessas discussões se apresenta a negociabilidade inerente. No diálogo percebemos um Teorema em Ação (falso), ou seja, uma relação matemática implícita escolhida por ele e que faz parte dos seus esquemas; 220 notamos aqui que o aluno apresenta várias operações para resolver o problema. P: Você vai somar mais 1,80, não é isso? O que você achou das 3 dúzias, os 10,80 centavos. Você entendeu aluna E10, ou não? E10: Sim. P: Só que é 10,80, colocar vírgula em baixo de vírgula. Quanto que deu ai? E11: 12,60. P: Vamos espera a aluna E10. Entenderam agora? E10 e E11 (Balança a cabeça que sim). P: E deixa eu te perguntar uma coisa aluna E10: - Você consegue observar que aqui, que desses 3,60, mais 3,60 e mais 3,60, você pode fazer uma outra operação? E10: (Balança a cabeça que sim). P: Qual? E10: Eu posso fazer de vezes também. O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, é identificado mediante as questões que são ligadas ao raciocínio do aluno, desenvolvidas por meio de cálculos e informações. No diálogo do aluno E10 destacamos a Composição Hermenêutica: podemos observar a interpretação e estratégia que o aluno utilizou para realizar o cálculo e o motivo das suas escolhas. Identificamos o terceiro componente de um esquema, os invariantes operacionais, que são informações necessárias para as aferições e a escolha das regras adequadas que o aluno possui para chegar à solução, por meio da operação de adição ou pela multiplicação. P: É, mas você prefere fazer assim? E10: Uhu P: Ou você tem dificuldade de fazer multiplicação? E10: É mais fácil. P: Então, tá. 6.4.25 Observações sobre o comportamento dos alunos E10 e E11 O aluno E9 inicia a leitura, realiza os cálculos e explica que pegou o número do valor da caixa e somou três vezes. Já o aluno E10 faz o cálculo por meio da multiplicação. Na interação os alunos perceberam, com o questionamento do pesquisador, que faltou calcular o valor de “meia dúzia”; então o pesquisador inicia a discussão pela composição do preço, para que os alunos entendessem a relação “meia dúzia”. Ao final os alunos conseguem compreender o problema. 221 Aluno E12 e Aluno E13 Aluno E12 Aluno E13 Figura 39 - Resolução do problema pelos alunos E12 e E13. Fonte: Acervo pessoal 222 Transcrição da fala dos Alunos E12 e E13 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno E12 com o pesquisador P: Você vai fazer a leitura e resolver. E12: Pronto!12,10. Invariantes operacionais P: Que número é esse? explícitos: traduzidos por meio E12: Esse aqui? 1,30. da linguagem natural e sentenças formais apresentadas pelo aluno. P: Tá. Transcrição do Aluno E13 com o pesquisador P: Lê o problema e ai você resolve. E13: É 3,60 vezes 3 e mais 6 pelo No diálogo do aluno destaca-se a O quarto componente de um Hermenêutica: esquema, a possibilidade de menos eu acho. Dá Composição 10,80...Terminei. podemos observar a explicação inferência, questões que estão do aluno e como este procedeu ligadas ao raciocínio do aluno para resolver o problema. sendo desenvolvidas pelos cálculos e informações. P: Como você fez? E13: Eu fiz 3,60 vezes 3, ai depois somei mais 1,80 que é a metade de 3,60, por causa que era três dúzias e meia. O terceiro tipo de invariantes <<argumentos>> do tipo “dúzia...” que está empregado no conceito em ação: o aluno seleciona as informações disponíveis para resolver o problema. Transcrição da Interação com o Aluno E12 e o Aluno E13 P: Conversem ai e cheguem ao consenso. E13: O meu deu 12,60. Eu fiz 3,60 No diálogo dos alunos O quarto componente de um vezes 3, ai deu 10,80, ai eu somei encontramos a Negociabilidade esquema, a possibilidade de mais 1,80 que é a metade, por inerente: os mesmos abrem o inferência, questões que estão causa que era três dúzias e meia, questionamento entre eles para ligadas ao raciocínio do aluno ai eu somei e deu 12,60. Deixa eu saber como resolveram o sendo desenvolvidas pelos ver o seu? problema. Outro destaque é a cálculos e informações. E13: 3,60, mais 3,60 mais 3,60. composição hermenêutica que Tá! Porque você não fez de podemos acompanhar na vezes, era mais fácil. explicação dos alunos e nos significados estabelecidos para os conceitos contidos no problema. E12: Deixa eu ver. (E13 ficou pensando). P: Tá, certo? Então, não tá certo? E13: Não, ele colocou 4,80, aqui. (O aluno E13 vai corrigindo o do aluno E12 junto com ele) E12: 1,80. O aluno apresenta os E13:É um. esquemas de numeração, E12: É, rsrs. quando inicia a exposição de P: Ai, deu quanto? sua tomada de decisão, e E13: Deu 12,10. Três e sessenta, Encontramos nessa Transcrição verbalmente, realiza as três e sessenta e três e sessenta do diálogo do aluno a passagem operações para solucionar o é 1,80 tá certo, zero e zero é zero, do Pensamento Narrativo para problema. o Pensamento Lógico – 6 mais 6 é 12 E12: mais 6,18 mais 8. Científico, uma vez que E13: 22, 26... conseguimos notar o seu P: Então, arruma ai. raciocínio lógico. E13: Há, já sei o que você errou. De vez você deixar o seis você deixou o 2. E12: Como assim? Os alunos vão sendo E13: O! deu 26 e você deixou o 2 questionados pelo pesquisador e O aluno apresenta os 223 aqui. Ai você deixou o 2 aqui e aqui é deu 22. Não deu 26. E12: Não eu errei aqui, aqui na conta! E13: Não você pois 2 e aqui também. E12: Não eu não coloquei dois, eu acho que eu somei errado. Seis, nove, dez, onze e doze. Entendeu? E13: Eu não entendi o que você fez aqui não. E12: Deixa eu ver aqui! P: Deixa eu ver. E13: Não dá para entender nada. P: Zero, zero é zero, seis e seis, doze com mais seis dezoito com mais oito... E12: dá...26. E13: 26. P: Então, seis vão 2. Ai, três com mais três seis, sete, oito, nove...com mais um doze, 12,60. E o seu? Tá certo, deu 12,60. E12: A gente tava se matando a toa sendo que tava certo. E13: Tá certo. P: Entenderam? E12 e E13: Uhu! vão retomando todas as informações contidas no problema, realizando as correções necessárias. Logo, temos a negociabilidade inerente, momento em que, na narrativa, o pesquisador e os alunos vão realizando discussões para se chegar à solução final. esquemas de numeração, quando inicia a exposição de sua tomada de decisão, e verbalmente, realiza as operações para solucionar o problema. 6.4.26 Observações sobre o comportamento dos alunos E12 e E13 Os alunos são muito participativos. O aluno E12 fez o cálculo apenas das “três dúzias”, já o aluno E13 resolveu o cálculo corretamente. Na interação os alunos confrontaram os resultados; neste momento, o aluno E12 percebeu que havia feito errado e corrigiu junto com o colega. 224 Aluno E14 e Aluno E15 Aluno E14 Aluno E15 Figura 40 - Resolução do problema pelos alunos E14 e E15 Fonte: Acervo pessoal 225 Transcrição da fala dos Alunos E14 e E15 Análise de acordo com Bruner Análise de acordo com Vergnaud Transcrição do Aluno E14 com o pesquisador P: Você vai fazer a leitura e resolver. O que você entendeu? E14: Tem que resolver 3 dúzias e Nesta fala do aluno, percebemos Identificamos o primeiro meia, esse aqui...e como dá o que ele identificou as questões componente dos esquemas, as resultado. centrais do problema logo, temos metas e antecipações, que o a Centralidade do Problema. aluno adota ao realizar a leitura do problema para proceder à resolução. P: O que ele quer saber? E14: Quanto que dá três dúzias. P:Tá, então coloca ai. E14: (O aluno utiliza os dedos Esquema de numeração, o para ajudar na contagem). Pronto. aluno utiliza os dedos para realizar os cálculos. P: Pode falar. No diálogo do aluno destacamos E14: Eu peguei essa coisa aqui... a Composição Hermenêutica: P: Que coisa, você pegou? podemos observar os E14: Esse da granja e coloquei 3 significados atribuídos para O quarto componente de um doze para somar 12 com... alguns conceitos presente no esquema, a possibilidade de P: Porque 12? problema bem como a explicação inferência, questões que são E14: Para ver se dá certo. acompanhada de sua ligadas ao raciocínio do aluno, P: Mas porque 12? De onde você interpretação. sendo desenvolvidas por meio tirou 12? de cálculos e informações. E14: Uma dúzia, deixa eu ver... P: Há, você tirou da dúzia, então? E14: É, ai eu somei tudo. P: A tá. Transcrição do Aluno E15 com o pesquisador P: Você vai fazer a leitura e resolver. O que você entendeu? E15: Deixa eu ler de novo...Se O segundo componente de um esquema, a regra de ação, uma meia dúzia é... busca de informação e controle dos resultados da ação, do tipo “se...então” que fazem parte dos esquemas. P: Pode falar. E15: Uma dúzia é isso, ai você vai Neste diálogo destaca-se a O quarto componente de um Particularidade Genérica, no esquema, a possibilidade de ter que somar, é vezes 3. qual o aluno apresenta sua inferência, questões que estão tomada de decisão, explicando ligadas ao raciocínio do aluno e seu raciocínio. são desenvolvidas por meio de cálculos e informações. P: Explica para mim o que você fez. E15: Se uma dúzia é isso, então Destacamos neste trecho a Temos novamente o segundo ele quer saber quanto é 3 dúzias, Composição Hermenêutica, em componente de um esquema, ai você faz uma dúzia mais 3, ai que podemos observar os a regra de ação, busca de soma eu acho que tá certo. significados atribuídos para informação e controle dos alguns conceitos presente no resultados da ação, do tipo problema, bem como as “se...então” que fazem parte explicações acompanhadas de dos esquemas dos alunos sua interpretação. P: Tá. Transcrição da Interação com o Aluno E14 e o Aluno E15 E15: Oche! ta errado o problema. P: O E15 vai contar como ele resolveu e você vai ver o seu. E15: Eu peguei aqui ó, se uma O quarto componente de um esquema, a possibilidade de dúzia é isso, ai você tem que vê 3 inferência, questões que estão dúzias e...i acho que eu errei. P: Por quê? ligadas ao raciocínio do aluno E15: Porque eu só fiz de 3 dúzias sendo desenvolvidas por meio 226 e não fiz da meia. P: E como faz da meia? E15: Meia tem que ser a metade disso aqui. (O aluno aponta o valor 3,60). P: Então pode fazer. E14: O meu faltou também. P: Você E14 fez errado, né? E15: O dele tá errado. E14: Isso. P: (Os alunos começam a refazer o calculo novamente) Pronto? Como foi? Você entendeu? E14: (Balançou a cabeça que sim). P: Aquela hora você tinha feito... E14: 12 mais 12. P: Você fez a quantidade de ovos que tinha dentro da caixa, não o valor de cada caixa. E14: Sessenta. P: Sessenta, certo? E ai agora você aqui você pegou... são 3 caixas não são, 3 dúzias? E14: Uhu! P: 3,60 mais 3,60 mais 3,60, só que eu tenho meia dúzia, que seria a metade dessa caixa, não é o que vocês falaram? E14: Uhu! P: Então, a metade de 3,60 não pode ser isso. 12,50! Qual é a metade de 3,60? Ó pensa assim, qual é a metade de dois reais? E15: Um. P: Um. Um real, um real mais um real é ... E15: Um e cinquenta. P: Não, de dois reais e um real. E15: Eu sei! E de três. Ai e um real e cinquenta. P: A tá! Só que aqui a gente vai decompor esse dinheiro. Então de três reais vocês falaram que é um... E15: 1,50. P: E de sessenta centavos? E15: É 30. P: Então, eu tenho 1,50... E15: 1,80! E14: Então... P: 1,50 mais 30 que é 1,80. Então no lugar de 1,50 é 1,80. E15: 1,80. (O aluno começa falar em voz alta o seu raciocínio, utilizando os dedos para contagem). O meu deu isso. P: Quanto que é isso, há você esqueceu de um 3,60 você havia feito certo. E15: Aé! P: Aluno E14 seis com mais seis e quanto? E14: 7,8...12 P: 12 com mais 6, e com mais 8. de cálculos e informações que foram extraídas do problema. A Ambiguidade de referência aparece quando o pesquisador abre os questionamentos de que a conta estava errada. O pesquisador busca rever a interpretação que os alunos tiveram e vai explicando o porquê do erro; no decorrer da conversa, os alunos conseguem entender, estabelecendo outra postura em relação ao raciocínio que tiveram anteriormente. O pesquisador realiza alguns questionamentos para tentar direcionar os dois alunos a compreender a estrutura do problema, destacando, no diálogo, a Negociabilidade inerente entre o pesquisador e os alunos. Observamos também aqui a passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico - científico. Ambiguidade de referência aparece novamente quando o pesquisador abre os questionamentos e observa como O quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e que são desenvolvidas por meio de cálculos e informações estabelecidas pelos alunos. Esquema de numeração, realizado por meio da linguagem, momento este que o aluno explica o cálculo realizado para se chegar à solução. Novamente presente o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno sendo 227 E14: 25. P: 25? E14: E isso. P: Ó! Seis com mais seis 12, põe 12 na cabeça e soma 6. Doze, treze,... E14: Dezoito. P: Põe 18 na cabeça, dezenove... E14: 19, 20.21,...,26. É 26! P: Não! Não é 26 ai. É zero, é um zero aqui, seis...não. E14: Zero... P: O seis que é dessa soma aqui, aqui do lado. E14: Aqui? P: Não do lado aqui. Em baixo da casa da...Não, não, não, não! Ó como é à conta de adição. Zero, mais zero, mais zero. E14: Zero. P: Aqui você não fez seis mais seis mais seis e mais oito? Deu vinte é ... E14: Vinte seis. P: Então coloca seis que é unidade, e dois vem aqui pra...isso E14: Ummm. P: Agora, como eu estou trabalhando com dinheiro, vírgula em baixo de vírgula...Certo? Quanto que deu no final? E14 e E15: 12,60. os alunos vão se comportando diante de cada questão lançada a eles. O pesquisador busca rever a interpretação que os alunos tiveram na intenção de esquematizar a estrutura do problema com eles e estabelecer os devidos significado de palavras contidas no problema. desenvolvidas por meio cálculos e informações. de Apresenta-se o quarto componente de um esquema, a possibilidade de inferência, questões que estão ligadas ao raciocínio do aluno e ao desenvolvimento o qual é estabelecido por meio de cálculos e informações. 6.4.27 Observações sobre o comportamento dos alunos E14 e E15 O aluno E14 faz a leitura, e fica pensando em como resolver, o pesquisador interage com o aluno para verificar se ele havia entendido, quando este apresenta a questão central; o aluno realiza os cálculos fazendo a contagem nos dedos e, na hora de explicar, diz que somou as dúzias, ou seja, ele usou o valor 12 e não o preço. O aluno E15 faz a leitura duas vezes, e emprega as três dúzias na operação de multiplicação, porém esquece de incluir a “meia dúzia”. Na interação, o aluno E15 já percebe que a conta do colega está errada, e que ele mesmo não calculou a “meia dúzia”; o aluno refaz e volta novamente a explicar para o colega E14. No decorrer da conversa, eles foram corrigindo juntos e participando das discussões com o pesquisador; quando tinham que realizar algum cálculo usavam os dedos. 228 6.4.28 Síntese Geral da segunda Etapa 4 – Campo Multiplicativo Essa atividade apresentou certo nível de dificuldade pelo termo “...dúzias e meia...” e as variáveis “quantidade de ovos e preço de ovos”. Dentre todos os participantes, apenas o aluno E12 conseguiu desenvolver a atividade corretamente após a sua primeira leitura. Os grupos G1 e G3 apresentaram, em suas narrativas, a característica da centralidade do problema, em que se busca no contexto do problema a questão central. Por meio dos diálogos dos alunos (E7 e E6) do grupo G2 identificamos o que ocasionou o não entendimento do problema: a relação do enunciado “metade de uma dúzia” com o “preço”. Os alunos, em sua solução, não conseguiam esquematizar a metade do valor representado em dinheiro, como afirmaram: “eles não haviam aprendido a calcular a metade de dinheiro”. Pudemos perceber o motivo que ocasionou a dificuldade, presente em seus diálogo, ou seja, a característica das ações têm motivos. Quanto às outras características, as temos presentes em todos os grupos (G1, G2 e G3): momentos em que os alunos, ao serem questionados em relação ao seu entendimento, explicaram as decisões, verificando a interpretação que eles obtiveram após a leitura, pelo modo de contar e a forma com que eles extraíram o sentido do texto. Além disso, verificamos nos grupos as metas e antecipações que fazem parte dos esquemas presentes quando eles esclarecem como vão proceder à resolução do problema e que operações utilizarão para realizar o cálculo. A ambiguidade de referência aparece quando o pesquisador precisou questioná-los, com a intenção de rever as interpretações dos alunos e o seus significados, de modo a direcioná-los a estruturarem os conceitos do problema e sua resolução, para que entendessem a relação da “dúzia e meia, quantidade e preços”, que são considerados também como invariantes do tipo <<argumentos>>. No momento em que o pesquisador sugere a decomposição do preço de ovos que era R$3,60 em cédulas de R$ 3,00 e R$ 0,60, percebemos a negociabilidade inerente, pois esta sugestão proporcionou uma discussão sobre a procedência do raciocínio e dos cálculos que deveriam ser realizados. Neste momento encontramos os componentes de um esquema, a possibilidade de inferência, que estão ligados às questões do raciocínio e desenvolvimento de cálculos e às informações dos alunos. Já a composição hermenêutica aparece apenas nos grupos (G2 e G3) e é observável nas interpretações feitas pelos alunos, nas estratégias utilizadas para a resolução, nas diversas interpretações 229 estabelecidas e os significados dados à história do problema. A passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico-científico aparece nos três grupos quando estes apresentam, por meio da linguagem, o seu raciocino lógico, ou seja, os teoremas em ação, os invariantes operacionais e os esquemas de numeração, assim como os esquemas de resolução,. Destacamos dois alunos E3 e E15 que apresentaram em suas narrativas os componentes de um esquema: regras de ação, busca de informações e controle dos resultados da ação que constituem parte dos esquemas do tipo “se...então”. 6.5 Síntese Final das Análises Finalmente, vamos rever os procedimentos que adotamos, os caminhos percorridos e os diálogos que surgiram na execução dos problemas, como subsídios para as respostas às questões de pesquisa que foram as norteadoras da nossa proposta. Lembrando a nossa primeira questão: - A identificação de algumas características do pensamento narrativo, nas manifestações dos alunos durante a resolução de problemas no campo aditivo e multiplicativo pode auxiliar o professor em sua prática educacional e no processo ensino aprendizagem do educando? pudemos verificar que o direcionamento das questões conduzido pelo pesquisador ajudou muito a perceber determinadas situações que não teríamos a possibilidade de ver em uma atividade feita apenas por meio do registro escrito. Julgamos a identificação de algumas características que destacamos em nossa análise importante para auxiliar o professor em sua prática em sala de aula e ao processo de ensino aprendizagem do educando. Vimos que é possível ao identificar, nos diálogos com os alunos, os aspectos da narrativa e observar as interpretações e as relações feitas com a situação apresentada, como fizeram para esquematizar o problema, o detalhamento de cada cálculo e como este se organiza mentalmente. Além disso, o destaque desses 230 aspectos narrativos favorece o professor quanto ao seu direcionamento na intervenção, quando julga necessário construir ou reconstruir significados por meio da manifestação verbal apresentada pelo aluno. O diálogo que destacamos em nossa pesquisa, sua condução nas aulas de matemática ou, mais especialmente, na resolução de problemas proporciona ao professor e norteia os caminhos que deve seguir seja para conduzir as questões em que os alunos apresentam dificuldades ou para avançar os conceitos propriamente presentes. Retomemos dois exemplos, o aluno A4 quando apresenta a sua dificuldade em “combinar”, sendo que o conceito combinar no texto resultava em um raciocínio combinatório e o aluno B2 “uma certa” que estava relacionado a uma quantidade sendo que, para aquele contexto, não era importante saber o valor total da coleção; foi possível identificar, assim, o obstáculo, em ambos os casos, impedia a compreensão do contexto do problema. Esses dois eventos que exibimos como exemplo, levam-nos a considerar a importância de destacar os aspectos do pensamento narrativo e lógico-científico nos diálogos em sala de aula. Em um segundo momento a prática do diálogo em sala de aula poderá propiciar o desenvolvimento de narrativas propriamente ditas, que auxiliem também as aulas de matemática e os professores nas mediações que deverão ser feitas, possibilitando a identificação das dificuldades e se constituir num efetivo progresso que possa vir a surgir a partir das verbalizações dos alunos, na passagem do pensamento narrativo para o pensamento lógico-científico. Destacamos a importância dos aspectos da narrativa para a evolução do pensamento do aluno na resolução de problemas, identificados por meio do diálogo dirigido onde conseguimos especificar os motivos que levaram os a proceder determinados cálculos e o que estava possibilitando ou não o seu desenvolvimento, quando estes apresentavam suas dúvidas quantos aos conceitos empregados no problema. Esses aspectos podem possibilitar ao professor a orientação das interferências que devem ser efetivadas para que o aluno busque a construção do significado por meio das características da narrativa. 231 Outro ponto a destacar é estabelecido por nossa segunda questão: - A identificação dos componentes dos esquemas mobilizados no encaminhamento da resolução dos mesmos problemas favorece a compreensão do professor enquanto mediador do processo ensino aprendizagem? Quando identificamos os componentes dos esquemas na resolução dos problemas, conseguimos observar os motivos dos erros e acertos dos alunos e, desta forma, pudemos identificar ou rever conceitos adquiridos por eles e propor novas situações que os levaram à uma melhor compreensão dos mesmos. Apontamos dois exemplos desse tipo de situação, a primeira trata do aluno A2 que destaca em seu diálogo o procedimento da realização do seu cálculo mental “Ah! Eu sempre pego os primeiros números eu fiz peguei o 40 o 20 e o, 10 e deu 80, ai peguei os outros números e deu 98, ai eu contei até 111.” ou seja, aqui o pesquisador pode perceber a estratégia que o aluno adotou para resolver o problema identificado como (esquema de numeração) no caso do aluno A5 “uma camisa com cada saia vai dar 5 combinações, mais 5 da 10, e só fazendo isso” temos aqui o componente de uma esquema, a possibilidade de inferência, o aluno apresenta a estrutura mental, detalhando o seu procedimento. Essas identificações dos componentes dos esquemas levaram o professor conhecer as dificuldades que seus alunos apresentam e os seus diversos motivos, desde um conceito pré-estabelecido por eles anteriormente ou dificuldades quanto à compreensão dos conceitos matemáticos e, muitas vezes, o uso de situações repetitivas que não fazem com que o aluno trabalhe seu raciocínio lógico ou desenvolva a habilidade de interpretação. Tivemos inúmeros casos, em destaque nas análises individuais de cada etapa, apontamos aqui apenas alguns pontos que podemos considerar comuns às duas questões. É importante destacarmos que essas identificações dos componentes direcionou nossas observações apoiadas no diálogo, o que foi a peça chave dessa nossa pesquisa e que elas estão ligadas às características da narrativa, sendo fundamentais para dar subsídios para respostas às nossas questões. 232 Destacamos também o elo entre as diversas representações, o enunciado verbal e os operadores utilizados. Isto ficou muito evidente no grupo 3, no momento da interação entre aluno-aluno, pois conseguimos identificar, nos diálogos, aspectos das narrativas quanto estes se manifestavam para explicar suas soluções para os pares e até mesmo, em alguns momentos, ajudar um ao outro para que pudessem chegar a solução. Temos a transcrição oral que o aluno faz de sua interpretação e das operações por ele escolhidas no momento em que estava resolvendo o problema. As atividades vivenciadas e as considerações feitas até o momento nos levam a enfatizar que os aspectos dos modos do pensamento narrativo e lógico científico e os esquemas que pudemos identificar nos diálogos nas aulas de matemática podem tornar-se ferramentas eficazes para que o professor tenha condições de realizar intervenções e até mesmo promover a troca de conhecimentos entre os alunos, de forma a ajudá-los a superar suas dificuldades e conseguir obter sucesso em suas tarefas. Acreditamos que isso favoreça o desenvolvimento cognitivo do aluno e que traga parâmetros para que o professor trabalhe o tema resolução de problemas, na intenção de fazer com que seus alunos busquem a construção do significado, tendo o professor como mediador desta ação. 233 CAPÍTULO VII 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo baseou-se na aplicação de problemas envolvendo os conceitos do campo aditivo e multiplicativo em um 5º ano (antiga 4ª série) do Ensino Fundamental I, observando os aspectos da narrativa e do pensamento narrativo e lógico-científico identificados nos diálogos dos alunos, enquanto ferramenta para nossa análise, na intenção de averiguar as interpretações e explicações que ocorreram durante a resolução de problemas. Utilizamos a Teoria dos Campos Conceituais de Vergnaud, (1990,1996,1998,2009) para a identificação dos componentes dos esquemas considerando as estruturas aditivas e multiplicativas, a teoria de Bruner (1991, 2001, 2002) para direcionamento da nossa análise identificando características da narrativa nos diálogos dos alunos, destacando os modos dos pensamentos narrativo e lógico-científico. Apresentamos algumas considerações quanto aos Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática e o novo Currículo de Matemática do Estado de São Paulo que orientaram a preparação das atividades propostas. As leituras de pesquisas correlatas a nossa, Mendonça et. al.(2007), Nunes (2011), Justo (2004), Cunha (1997), Sales (2008) e Santana (2010) trouxeram colaborações referentes aos tratamentos das narrativas e das resoluções de problemas. Nosso trabalho utilizou os diálogos e destacou alguns aspectos das narrativas nas manifestações dos alunos, sendo nossa análise instrumentada por essas verbalizações, buscando identificar as interpretações em relação ao enunciado do problema, a organização dos esquemas para resolução, a escolha das operações e seus motivos, os conceitos matemáticos que estavam em jogo e o entendimento dos alunos quanto ao contexto geral dos problemas, ou ainda, as ações de compreensão, planejamento, execução e reflexão sobre o processo. 234 No trabalho de Mendonça et. al.(2007), a autora destacou o domínio das estruturas aditivas, utilizando, para análise, procedimentos escritos e orais denominados como heurísticos; em nossa pesquisa julgamos um avanço a consideração dos procedimentos orais e também os tipos de problemas “complexos” que propusemos em nossa experiência. Trouxemos para a análise do nosso trabalho alguns elementos da narrativa que possibilitaram uma maior compreensão quanto à resolução dos problemas dos alunos e um desenvolvimento conceitual matemático quanto à abordagem dos problemas, possibilitado pelo fato de estarmos trabalhando com a série final do ensino fundamental I. Justo (2004), também enfatizou as operações aditivas, destacando, porém, a complexidade do emprego do conceito “mais ou menos”; observamos também no momento da aplicação dos problemas esses conceitos enraizados em nossos alunos. Porém, não realizamos uma discussão unicamente restrita ao conceito destacado pela autora, procuramos, por meio do diálogo, promover o direcionamento da compreensão do aluno em todos os conceitos apresentados pelo aluno. A nossa pesquisa enfatizou a ocorrência da passagem do pensamento narrativo ao lógico científico, ou seja, como se dá essa construção do pensamento e quais esquemas os alunos utilizaram para resolver os problemas propostos, para que pudéssemos fazer as devidas interferências, quando necessárias, no intuito de observar como o professor em sala de aula poderia conduzir tais dificuldades e até mesmo avançar no entendimento dos conceitos matemáticos, abrangendo as estruturas aditivas e multiplicativas. Já Silva (2010) realizou um estudo referente às estruturas multiplicativas no programa Ler e Escrever, observando as dificuldades que os alunos apresentavam quanto às classificações das estruturas multiplicativas permeadas no campo conceitual. Como já comentado, a nossa intervenção, a todo momento, trabalhou com os diálogos, dando-nos a possibilidade de destacar os conceitos que possibilitam que o aluno desenvolva a solução de determinados problemas e até mesmo a construção dos conceitos multiplicativos. Acreditamos que o desenvolvimento da prática do diálogo feito em nossa pesquisa, o levantamento de tais conceitos, e as considerações quanto aos aspectos da narrativa e dos esquemas, possibilitou a construção e a resignificação dos conceitos e o 235 entendimento dos mesmos, algo que não teríamos conseguido em um experimento escrito. Apesar de Sales (2008), ter realizado sua pesquisa em função e com alunos do ensino médio, seu trabalho auxiliou os nossos estudos a encaminhar uma possível produção das narrativas em resolução de problemas. Inicialmente, nossa perspectiva era de ter criado um contexto essencialmente narrativo para as resoluções de problemas, porém nosso trabalho tomou outros rumos, e apresentou o desenvolvimento dos diálogos, nos quais pudemos identificar e destacar alguns elementos de uma narrativa, possibilitando nossas observações quanto aos aspectos da passagem do pensamento narrativo e lógico científico. No trabalho de Santana (2010), seu objetivo foi de trabalhar as estruturas aditivas utilizando um suporte didático, o nosso trabalhou abordou as estruturas aditivas e multiplicativas levando em consideração os aspectos narrativos e os esquemas utilizados pelos alunos, identificados nos diálogos que ocorreram durante as atividades. Quanto à utilização do suporte didático da autora, utilizado para averiguar a influência do mesmo quanto ao desenvolvimento da aprendizagem, destacamos em nosso trabalho que, quando conseguimos identificar as dificuldades dos alunos em suas verbalizações, buscávamos objetos imediatos disponíveis naquele momento, até mesmo criando novas situações que pudessem levar o aluno ao entendimento dos conceitos. Ao analisarmos os diálogos dos alunos verificamos um desenvolvimento significativo das atitudes destes ao longo do trabalho nos grupos (G1,G2 e G3) em nas demais etapas. Destacamos na Etapa 1, referente ao grupo que realizou individualmente os problemas do campo aditivo e multiplicativo, as tomadas de decisões realizadas por eles no momento das resoluções e das explicações e como as circunstâncias culturais podem ser afetadas tanto no sentido positivo como negativo no momento da resolução. Os alunos vão descrevendo seus pensamentos em relação às tomadas de decisões, sugerindo soluções para os problemas; por meio da leitura eles vão desencadeando, em suas explicações, os detalhes extraídos dos textos. 236 Na Etapa 2, os alunos trabalharam em dupla destacando, em seus diálogos os motivos que levaram a determinadas ações produzidas ou verbalizadas no momento das resoluções por eles realizadas, sejam eles presentes por suas experiências extras escolares, ou pelas teorias e conceitos matemáticos préexistentes apresentados de maneira implícita ou explicita. As informações disponíveis em uma determinada situação, como a contagem, operações e relações; e as relações matemáticas implícitas escolhidas pelos alunos, quando estes optam por uma ou mais operações para resolver determinadas situações e que fazem parte dos seus esquemas, podem ser verdadeiras ou falsas, mediante o seu domínio conceitual, mas foram importantes no processo de resolução dos problemas. Já na Etapa 3, tivemos o trabalho individual e após a interação da dupla para a realização das discussões dos problemas, observamos, nos diálogos, as possibilidades que o professor tem para acompanhar os significados por eles atribuídos e interpretações e as estratégias utilizadas para a resolução. Destacamos, também nessa etapa, que os alunos vão retomando todas as informações contidas nos problemas, realizando as correções necessárias, para chegarem à solução final. Neste momento, a interação entre os alunos possibilitou, em nossa análise, verificar o quanto isso é importante em sala de aula para que os conceitos sejam estabelecidos não somente pelo professor, mas entre os alunos, por meio de cooperação e troca de informações. Com isso pudemos observar e analisar que na Etapa 4, quando da aplicação de dois problemas comuns para os grupos individuais, em dupla e de interação, que os pontos destacados anteriormente novamente foram observados. Entendemos que não há uma regra para os acontecimentos de aprendizagem e sim que o tipo de situação proposta aos nossos alunos dará a possibilidade de que o professor avalie para a organização ou reorganização de suas práticas. Julgamos que é de extrema importância destacar que nossa preocupação não foi delimitada ao “acerto ou erro” nas soluções dos problemas pelos alunos, e sim, voltada à condução de todo esse processo para um melhor entendimento do mesmo. Quando encontrávamos insucesso na realização do problema, recorríamos a outros exemplos, sejam abstratos ou concretos, retomávamos o enunciado ou tentávamos esquemas alternativos. Observamos a importância desta prática em sala 237 de aula, de maneira a dar condições ao professor de construir alternativas e reestabelecer os elementos da situação e das representações feitas pelos alunos por meio dos enunciados, esquemas entre outros. Ao analisarmos os diálogos dos alunos verificamos um desenvolvimento significativo das atitudes destes. Partindo desta constatação, neste primeiro momento, percebemos o quanto a análise dos modos de pensamento pode auxiliar os professores e alunos no trabalho em resolução de problemas, de maneira a desenvolver a compreensão dos processos e estruturas do campo aditivo e multiplicativo. Consideramos também que é de extrema relevância para a aprendizagem da matemática o desenvolvimento do pensamento narrativo juntamente com o lógico-científico, pois é a partir da explicitação do pensamento narrativo que podemos explorar os significados das estratégias utilizadas, bem como buscar a compreensão das representações simbólicas e incentivar as interações entre alunos e alunos – professores no trabalho em sala de aula. De modo geral, pudemos perceber, e observamos detalhadamente ao final de cada uma das etapas, que os alunos obtiveram um desenvolvimento satisfatório quanto às resoluções apresentadas, nos diversos níveis de classificação dos problemas por nós propostos. O diálogo construído possibilitou que o pesquisador pudesse retornar a vários pontos que estavam dificultando a resolução de problemas. Nos diálogos entre aluno e pesquisador e aluno-aluno, destacamos dois pontos essenciais na nossa pesquisa: - Ao incentivar o aluno a realizar a leitura e após fazer a releitura do problema, percebemos que eles conseguem observar o que é central, ou seja, a questão que irá nortear a resolução toda. - Quando este aluno verbaliza seu entendimento quanto ao problema, logo ele apresenta uma proposta de esquema, que, certo ou errado, um momento importante para que o professor faça a mediação dos conceitos que estão em jogos de modo a procurar meios para trabalhar com as dificuldades que possa a vir surgir e até mesmo favorecer o avanço de tais conceitos. 238 Levando em consideração esses pontos identificados nas manifestações dos alunos, nos perguntamos: se os alunos estivessem realizando uma atividade escrita ou uma avaliação em que não houvesse o diálogo ou a prática narrativa, como o professor poderia avaliar os conhecimentos que eles possuem e as dificuldades que, muitas vezes, não estão explicitas em um texto escrito? Neste sentido percebemos o quanto a análise das manifestações dos alunos pode auxiliar os professores e alunos na compreensão dos processos e estruturas do campo aditivo e multiplicativo, no trabalho em resolução de problemas. Esta pesquisa nos levou a uma estrutura de trabalho com resolução de problemas em que o pesquisador atuou como mediador das situações em sala de aula e o aluno como principal autor da construção do seu conhecimento. Essa dimensão do papel do professor enquanto mediador no processo de ensino e aprendizagem, é uma mudança na dinâmica da sala de aula, ou seja, o professor deixa de ser o transmissor de conhecimentos e ganha o espaço de orientador, que poderá transformar todo o processo de aprendizagem levando o aluno a construir o seu próprio conhecimento, ampliando as habilidades e competências que poderão influir no seu sucesso. Percebemos em nossa pesquisa que o professor, ao reger essa orientação no tema resolução de problemas, poderá trabalhar mais diretamente com os erros e acertos e com os significados atribuídos pelos alunos. No seu papel de mediador, poderá ajudar o aluno na organização do pensamento lógico no que se refere à interpretação dos dados, conceitos matemáticos, processo algorítmico e conclusão dos resultados. Essa condução no processo do educando favorece a postura reflexiva e investigativa colaborando na construção da autonomia do pensamento e das ações escolhidas por eles. Além disso, a prática do diálogo em sala de aula promove um ambiente que poderá incentivar o aluno a comparar, discutir, rever, perguntar e ampliar ideias no desenvolvimento da atividade de resolução de problemas e subsidiar o professor para a orientação no desenvolvimento do individuo, no desenvolvimento dos conceitos matemáticos, estabelecendo e reconstruindo os significados necessários para soluções dos problemas. 239 Referências BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática - Ensino de primeira à quarta série. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. 88 p. BROUSSEAU, G. Os diferentes papéis do professor. In: PARRA, C. e SAIZ, I. (Org.) Didática da matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. p. 48-72. BRUNER, J. A cultura da Educação. Tradução: DOMINGUES, M. A. G. – Porto Alegre: Artmed Editora, 2001,115 – 125 p. ______. Realidade mental, mundos possíveis. Tradução de: DOMINGUES,M. A. G. 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Ler e Escrever: PIC – Projeto intensivo no ciclo; material do aluno – 4ª série v.3 / Secretaria da Educação, Fundação para o Desenvolvimento da Educação; adaptação do material original, Claudia Rosenberg, Rosalinda Soares Ribeiro Vasconcelos. – São Paulo: FDE 2009. 171 p. SARESP 2008: Matrizes de referência para a avaliação: Matemática/Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini. – São Paulo: SEE 2009.152 p. SARESP 2008: Relatório Pedagógico: Matemática/Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês, Ruy Cesar Pietropaolo, Ligia Maria Vettorato Trevisan, Tânia Cristina A. Macedo de Azevedo– São Paulo: SEE 2009.176 p. SARESP 2009: Relatório Pedagógico: Matemática/Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês, Ruy Cesar Pietropaolo, Ligia Maria Vettorato Trevisan, Tânia Cristina A. Macedo de Azevedo– São Paulo: SEE 2009.260 p. 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Capitulo 7 – Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. 115 – 142 p. 244 Anexo I – Problemas utilizados Grupo 1 – Campo Aditivo 245 Grupo 1 – Campo Multiplicativo 246 Grupo 2 – Campo Aditivo 247 Grupo 2 – Campo Multiplicativo 248 Grupo 3 – Campo Aditivo 249 Grupo 3 – Campo Multiplicativo 250 Grupo 4 – Campo Aditivo 251 Grupo 4 – Campo Multiplicativo 252 Anexo II – Roteiro das Entrevistas ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA – 1º GRUPO 1. Relate a história do problema, sem realizar a leitura do texto. Conte com suas palavras o que aconteceu. 2. O que temos que resolver no problema? 3. Qual foi a(s) operação (es) que você utilizou? Por quê? 4. Explique a sua resolução. 5. Você conhece alguma operação que possa representar o seu desenho? ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA – 2º GRUPO 1. Relatem a história do problema, sem realizar a leitura do texto. Contem com as palavras de vocês o que aconteceu. 2. O que temos que resolver no problema? 3. Qual foi a(s) operação (es) que vocês utilizaram? Por quê? 4. Explique a resolução. 5. Você concorda com a ideia de seu colega? 6. Explique para o seu colega como você pensou. 7. Vocês tem alguma outra ideia para resolver esse problema? 8. Você conhece alguma operação (ões) que possa representar o seu desenho? 253 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA – 3º GRUPO 1. Relatem a história do problema, sem realizar a leitura do texto. Contem com as palavras de vocês o que aconteceu. 2. O que temos que resolver no problema? 3. Qual foi a(s) operação (es) que vocês utilizaram? Por quê? 4. Explique a resolução. 5. Você concorda com a ideia de seu colega? 6. Explique para o seu colega como você pensou? 7. Vocês tem alguma outra ideia para resolver esse problema? 8. Você conhece alguma operação (ões) que possa representar o seu desenho? 254 Anexo III – Termos TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título da Pesquisa: “OS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO-CIENTÍFICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO CAMPO CONCEITUAL ADITIVO E MULTIPLICATIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL I” Nome do (a) Pesquisador (a): Caroline Adjane Fiore Nome do (a) Orientador (a): Dra. Maria Elisa Esteves Lopes Galvão O sra (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta pesquisa que tem como finalidade de observar se “ O estímulo ao uso da narrativa contribui para que os alunos expressem seus pensamentos e organizem seus esquemas, frente à resolução de problemas do tipo aditivo e multiplicativo. Ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que a pesquisadora contribua com as investigações a trazer colaborações ao ensino da matemática no ensino fundamental. A sra (sr.) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra (sr.). Sempre que quiser poderá pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone da pesquisadora do projeto e, se necessário através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. Sobre as entrevistas: Serão propostos alguns problemas aos alunos e após a resolução o pesquisador fará algumas perguntas, quanto à resolução feita pelo aluno, de que modo ele pensou para realizar as soluções e outras questões que possam esclarecer tais soluções feitas pelo aluno. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução no. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientador terão conhecimento dos dados. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra (sr.) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes sobre o tema resolução de problemas no ensino fundamental, de forma que o conhecimento que será construído a partir desta pesquisa possa vir ajudar os professores, bem como acrescentar experiências e conhecimentos para área da Educação Matemática, onde a pesquisadora se compromete a divulgar os resultados obtidos. Pagamento: a sra (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. 255 Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem: Confiro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a execução do trabalho de pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. ________________________________ _______________________________ Nome do Participante da Pesquisa Nome do Responsável pelo participante __________________________________ Nome e Assinatura do Pesquisador ___________________________________ Nome e Assinatura do Orientador Pesquisador: Caroline Adjane Fiore, RG.: 27811004-6, tel.: 96987793 Orientador: Dra. Maria Elisa Esteves Lopes Galvão, RG.: 4 597 596-0 tel.: 9261 7755 Telefone da Comissão de Ética: (11) 2972-9000 E-mail: [email protected] 256 TERMO DE DIREITO DO USO DE IMAGEM Eu, ______________________________________________________________, portador(a) de cédula de identidade nº ______________________, responsável pelo aluno (a) _______________________________________ autorizo a Dra. Maria Elisa Esteves Lopes Galvão e a mestranda Caroline Adjane Fiore, do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UNIBAN, gravar em vídeo as imagens, tirar fotos e depoimentos do menor sob minha responsabilidade durante os encontros, na Escola Pedro Villas Boas, Dão, referentes ao desenvolvimento do Projeto de Pesquisa intitulada a dissertação “OS PENSAMENTOS NARRATIVO E LÓGICO-CIENTÍFICO NA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO CAMPO CONCEITUAL ADITIVO E MULTIPLICATIVO NO ENSINO FUNDAMENTAL I” e veicular em qualquer meio de comunicação para fins didáticos, de pesquisa e divulgação de conhecimento científico sem quaisquer ônus e restrições. Fica ainda autorizado, de livre e espontânea vontade, para os mesmos fins, a cessão de direitos da veiculação, não recebendo o menor sob a minha responsabilidade para tanto qualquer tipo de remuneração. São Paulo, _____ de __________________ de 20____ __________________________________________________ Assinatura do responsável ___________________________________ RG