Investidor ainda desconhece caminho da diversificação
São Paulo, 15 de maio de 2013 – A indústria de fundos brasileira já é uma das dez
maiores do mundo, com mais de US$ 1 trilhão em ativos sob gestão, e sua
rentabilidade e crescimento superaram a média global nos últimos cinco anos. No
entanto, a continuidade deste avanço dependerá de esforços para ampliar a educação
financeira dos investidores, que não sabem por onde começar a diversificação dos seus
investimentos no cenário atual de juros baixos.
É o que revela pesquisa encomendada pela ANBIMA para a McKinsey, que foi
divulgada hoje no 7º Congresso ANBIMA de Fundos de Investimento, em São Paulo. A
consultoria realizou a pesquisa durante quatro semanas com investidores do Rio e São
Paulo, com idade média de 30 anos e investimentos superiores a R$ 50 mil.
A conclusão é que os investidores reconhecem a necessidade de buscar novas
alternativas de investimentos, mas têm uma insegurança muito grande. Eles se
informam muito, mas de forma superficial, e têm baixa tolerância ao risco. “Estes
investidores são muito influenciados pelas notícias da semana, mas como elas são
muito variadas, eles ficam perdidos e isso leva à inação”, afirmou Rodrigo
Mascarenhas, sócio da McKinsey.
O levantamento constatou ainda que os consumidores só reagem quando são
impactados diretamente pelas mudanças do cenário. O ponto positivo é que existe
uma correlação positiva entre conhecimento e tolerância a risco, sinal de que o
aumento da educação financeira terá efeitos positivos sobre a diversificação das
aplicações no futuro.
Segundo a consultoria, os brasileiros se queixam de que não existe uma cultura de
educação financeira nas famílias ou nas escolas. Por isso, estão dispostos a pagar por
aconselhamento financeiro, desde que este seja altamente qualificado e sejam pagos
mediante a obtenção de resultados.
Até o momento, a mudança do cenário macroeconômico não provocou uma mudança
significativa nas carteiras dos investidores. Os ativos totais sob gestão dos fundos
saíram de US$ 529 bilhões em 2006 para os atuais US$ 1,103 trilhão, mas os ativos
atrelados a DI continuam a representar cerca de 50% das carteiras dos fundos
brasileiros.
Atualmente, existem no Brasil US$ 1,5 trilhão alocados em investimentos de baixa
rentabilidade, sendo que em alguns casos o retorno é inferior à inflação. A tendência é
que, futuramente, no lugar de fundos DI e de ações, devem ganhar espaço produtos
como fundos imobiliários, de crédito privado, fundos de índice (ETF). Produtos
estruturados, carteiras de ações sob medida para perfil de risco e fundos de
participações também devem ser mais demandados.
“Hoje o mercado está passando por mudanças estruturais que devem alterar de forma
expressiva a natureza da demanda e da oferta por produtos de investimentos”, disse
Mascarenhas. Além dos juros mais baixos, a estabilidade econômica, a redução do
risco de crédito e o desenvolvimento do mercado de capitais favorece a diversificação
das carteiras. O aumento do acúmulo de capital e a profissionalização do mercado
também alimentam esta necessidade de mudança.
O único segmento do mercado que já despertou para a diversificação foi o de private
banking, que tem 47% da carteira alocada em fundos multimercado e 14% em ações.
No varejo, em contrapartida, estas fatias são de 11% e 7%, respectivamente.
Segundo o vice-presidente da ANBIMA, Carlos Massaru, devido ao alto volume de
recursos e flexibilidade de prazos de investimento, o setor de private banking está para
o setor financeiro como a Fórmula 1 está para o setor automotivo. “Com o tempo, o
que se faz ali se propaga para a indústria automotiva, mesmo que seja necessário
colocar oito airbags no carro”, disse.
Em sua visão, a mudança do investidor depende de uma transformação cultural, o que
demanda paciência. No entanto, o movimento é irreversível. “A gente se perguntava
se este futuro ia chegar um dia, ele chegou finalmente”, afirmou. Agora, tanto
investidores quanto gestores terão de sair de sua zona de conforto para dar um salto
qualitativo, segundo Massaru.
O sócio da Vinci Partners, representante dos comitês de Varejo e Private Banking da
ANBIMA, Rodrigo Xavier, foi ainda mais taxativo sobre o momento atual: “o almoço
grátis do CDI acabou”, disse. Apesar de o momento ser desafiador para os
investimentos, ele lembrou que a mudança deve ser favorável para o país, ao permitir
maiores investimentos.
Segundo ele, a indústria de fundos será “muito diferente” daqui a cinco anos, pois os
investidores já estão sendo impactados pelo novo cenário, mesmo que não tenham
esta consciência no momento. Para Xavier, a procura pela diversificação que já
começou no private banking tende a se espalhar por toda a comunidade de
investidores, e os fundos de pensão devem ser um dos primeiros a atentar para isso.
Aos gestores, a única alternativa que resta é de adequar ao novo cenário, sob o risco
de perder participação de mercado.
Sobre a ANBIMA
A ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais)
representa as instituições que atuam nos mercados financeiro e de capitais brasileiros.
Faz parte do quadro associativo um número heterogêneo de membros que atuam em
diversos segmentos. Dentre os mais de 330 associados figuram bancos comerciais e
múltiplos, de investimento, gestores e administradores de fundos, corretoras e
distribuidoras de valores mobiliários e gestores de patrimônio.
Com o objetivo de contribuir para o fortalecimento das instituições e do mercado, a
Associação organizou sua atuação em torno de quatro compromissos: representar os
interesses dos associados, autorregular as atividades dos mercados
representados, contribuir para a qualificação dos investidores e profissionais e prover
informações sobre os segmentos representados.
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Giselli Souza – [email protected]
Marcelo Billi - [email protected]
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