Renda fixa começa o ano com captação Por Luciana Monteiro | De São Paulo O ano de 2012 começou e o que se vê é que os investidores mantiveram a preferência pelo conservadorismo, assim como fizeram durante todo 2011. Na primeira semana do ano, os fundos de renda fixa foram os que mais receberam recursos, com captação líquida (aplicações menos resgates) de R$ 2,255 bilhões até o dia 6. Isso representa nada menos do que 57% do total que ingressou em fundos de investimento, de R$ 3,941 bilhões, no mesmo período. Os números são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Em entrevista a jornalistas nesta semana, Demosthenes Pinho Neto, vice-presidente da Anbima, disse que acredita que a categoria renda fixa deve novamente concentrar as aplicações dos investidores neste ano. Para ele, as incertezas internacionais trazem impactos desproporcionais à renda variável, enquanto a remuneração do investidor com os juros continua atraente, mesmo diante da expectativa de baixa da Selic. Os mais otimistas, no entanto, acreditam que esse movimento de busca por aplicações mais conservadoras tende a se alterar no segundo trimestre do ano. Os primeiros três meses do ano realmente devem ser marcados por um aumento de volatilidade, já que há muita dívida europeia vencendo, avalia Otávio Vieira, sócio da Fides Asset Management. "Mas o senso de urgência para resolver a situação na Europa está aumentando entre as autoridades da zona do euro, e provavelmente haverá uma solução ainda no primeiro trimestre", diz ele. Esse "senso de urgência" maior, afirma o executivo, se deve ao fato de a situação na Itália estar cada vez mais parecida com a da Grécia. O Tesouro italiano tem vendido títulos soberanos de dez anos com rendimentos na faixa de 7%, marca vista por analistas como insustentável para a manutenção da dívida. "O superávit primário da Itália precisa crescer 6% para o país conseguir sustentar taxas de juros de longo prazo de 7%, o que se mostra inviável num país que cresce próximo de zero", afirma Vieira. "O mercado se mostra cada vez mais desconfiado com a Itália e o senso de urgência de um posicionamento das autoridades europeias está mais aguçado." Para ele, os governantes da zona do euro chegarão a acordo ainda no primeiro trimestre, com ajustes aos números fiscais italiano e medidas para estimular o crescimento. Isso passa, segundo ele, por uma desvalorização do euro. "E aí, os 'hedge funds', que estão com posições historicamente baixas em ações, assim como as empresas e investidores com dinheiro em caixa, vão procurar rentabilidades maiores, favorecendo a bolsa." Pelo menos por enquanto, os fundos de ações seguem perdendo recursos. Os dados da Anbima mostram que essa categoria registrou resgates líquidos de R$ 240,38 milhões na primeira semana do ano. Os multimercados, por sua vez, começaram o ano com um certo alívio, com ingresso de R$ 184,79 milhões até o dia 6, após amargarem os maiores resgates entre as todas as classes de fundos em 2011. Na avaliação de Vieira, o momento é de o investidor ir comprando ações aos poucos, pois a bolsa está barata. Ele vê oportunidades sobretudo em ações de bancos e no setor de petróleo e gás. Mas, apesar dos preços atrativos dos papéis, isso não quer dizer que a trajetória da bolsa será linearmente de alta. Pelos cálculos do executivo, o Índice Bovespa vem sendo negociada com desconto em relação a outros mercados emergentes, justamente num momento em que o Brasil vem se financiando a taxas cada vez mais baixas. Além dos renda fixa, os fundos DI (que aplicam em papéis pós-fixados) também receberam recursos na primeira semana do ano. A categoria registrou captação líquida de R$ 1,990 bilhão até o dia 6. Os carteiras curto prazo - que aplicam em títulos com vencimento de até 375 dias - também atraíram R$ 261,80 milhões no período. Vale lembrar que o início do ano costuma ser um período positivo para o setor de fundos de investimento. Isso ocorre porque há uma forte captação de recursos em fundos destinados ao segmento poder público (carteiras que recebem aplicações apenas de Estados e municípios). Essa sazonalidade se deve ao aumento de arrecadação, quando as prefeituras e governos recebem o dinheiro proveniente do pagamento de impostos. Campeões de rentabilidade no ano passado, com ganho médio de 15,23%, os fundos cambiais iniciaram 2012 com resgates. Segundo os dados da Anbima, essas carteiras registraram saques de R$ 12,22 milhões na primeira semana do ano. Na opinião de Vieira, o investidor não deve observar uma oferta de dólar em circulação no mercado tão abundante quanto aquela vista durante boa parte do ano passado - e que levou o governo brasileiro a adotar uma série de medidas para conter a valorização do real. Segundo ele, está mais difícil para as empresas rolar suas dívidas lá fora, o volume de investimento direto também deve ser menor, o preço das commodities está cedendo e o Brasil deve registrar uma piora no saldo de sua balança comercial. "Vai sobrar menos dólar no mercado, mas nada também que o Banco Central tenha de atuar vendendo dólar no mercado", diz. Com valorização de 3,64% ante o dólar neste início de ano até ontem, o real é destaque entre os emergentes. Mas o investidor não deve esperar apreciações da moeda brasileira num ritmo tão rápido quanto o verificado neste início de 2012. "Os gestores se mostram ressabiados de ficar vendidos [apostando na baixa] em dólar; o que vemos são exposições pequenas", diz Vieira. Se a situação europeia melhorar, entretanto, o real tende a se valorizar ainda mais.