IV Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 05 a 07 de maio de 2015 - Rio de Janeiro - RJ PRODUÇÃO DE BIOETANOL DE PSEUDOCAULE DE BANANEIRA POR DIFERENTES ESPÉCIES DE MICRO-ORGANISMOS 1 2 3 3 3 Just, L.P.* ; Liebl, G.F. ; Montagnoli, M.S. ; Marangoni, C. ; Sellin, N. ; Souza, O. 1 2 3 3 Graduanda Engenharia Ambiental e Sanitária, Mestrando Engenharia de Processos, Professores Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE, Joinville, SC, Brasill. e-mail: [email protected] RESUMO: Desde 2008, a Univille vem estudando o uso das principais biomassas residuais da cultura da banana (cascas de banana, folhas e pseudocaule da bananeira) na geração de energia empregando os processos de metanização, combustão, pirólise e fermentação alcoólica. Neste trabalho foi avaliada a produção de bioetanol por Saccharomyces cerevisae ATCC 26603 e Pachysolen tannophilus ATCC 32691 empregando como biomassa o pseudocaule da bananeira previamente seco e triturado. O farelo (70 g/L) foi previamente tratado com ácido sulfúrico 2% em massa, 120 ºC/15 min, e então submetido à hidrolise enzimática em pH 5,5 durante 24 h empregando as enzimas comerciais Cellic CTec2 e HTec2 da Novozymes®. Os ensaios de fermentação foram conduzidos em frascos de Erlenmeyers contendo mosto hidrolisado com 40 e 80 g/L de açúcares redutores totais (ART) e concentração inicial de micro-organismos de 1,5 g/L em massa seca. Independentemente da espécie de micro-organismo utilizada, o emprego de 80 g/L de ART proporcionou a obtenção de rendimento médio em etanol (YP/ART = 0,49 g/g) da ordem de 96% do rendimento teórico que seria obtido na produção de etanol a partir da glicose (0,51 g etanol/g glicose). Esse valor foi 65% maior do que o rendimento máximo alcançado com ART de 40 g/L (YP/ART = 0,34 g/g). A maior produção de etanol (39,5±0,7 g/L) e respectiva produtividade volumétrica (1,60±0,03 g/L.h) foram alcançadas na fermentação de 80 g/L de açúcar empregando S. cerevisae como inóculo. Para P. tannophilus esses valores foram de 24,5 g/L e 0,97±0,14 g/L.h, respectivamente. Palavras-chave: biocombustível, biomassa, fermentação alcoólica. PRODUCTION OF BIOETHANOL FROM BANANA PLANT PSEUDOSTEM BY DIFFERENT SPECIES OF MICROORGANISMS ABSTRACT: Since 2008, Univille been studying the use of the main residual biomass culture banana (banana peels, leaves and pseudostem of banana) in power generation employing of methanation processes, combustion, pyrolysis and fermentation. In this study we evaluated the production of bioethanol by Saccharomyces cerevisiae ATCC 26603 and Pachysolen tannophilus ATCC 3269 employing biomass as the pseudostem of previously dried and ground banana. The bran (70 g/L) was pretreated with 2% sulfuric acid by weight, to 120 °C/15min, and then subjected to enzymatic hydrolysis at pH 5.5 for 24h using commercial enzymes Cellic CTec2 and the HTec2 Novozymes®. The fermentation trials were conducted in Erlenmeyer flasks containing the hydrolyzed product with 40 to 80 g/L of total reducing sugars (TRS), and the initial concentration of microorganisms of 1.5 g/L dry weight. Regardless of the species of microorganism used, employing 80 g/L TRS provided to obtain average ethanol yield (YP/TRS = 0.49 g/g) of the order of 96% of the theoretical yield which would be obtained on ethanol production from glucose (0.51 g ethanol/g glucose). This value was 65% higher than the maximum yield achieved with TRS 40 g/L (YP/TRS = 0.34 g/g). The highest yield of ethanol (39.5 ± 0.7 g/L) and its volumetric productivity (1.60 ± 0.03 g/Lh) were reached in the fermentation productivity of 80 g/L sugar using S. cerevisiae as inoculum. For P. tannophilus these values were 24.5 g/L and 0.97 ± 0.14 g/Lh, respectively. Key Words: biofuel, biomass, alcoholic fermentation IV Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 05 a 07 de maio de 2015 - Rio de Janeiro - RJ INTRODUÇÃO Atualmente, há grande interesse na produção de bioetanol a partir de biomassa lignocelulósica, principalmente aquela oriunda de resíduos agroindustriais pois, além de contribuir com o meio ambiente a partir do seu aproveitamento, pode agregar valor aos rejeitos e contribuir com a redução dos custos de produção da fonte geradora. Dentre as diferentes fontes geradoras de biomassa residual, a cultura da banana se destaca em função da enorme quantidade de resíduos gerados após a colheita da fruta. De acordo com Soffner (2001), um bananal conduzido de maneira convencional pode fornecer, aproximadamente, 200 t de rejeitos por hectare e por ano. Segundo Souza et al. (2012), em torno de 75% dessa biomassa é pseudocaule da bananeira. Para viabilizar a fermentação alcoólica desse tipo de material por micro-organismos convencionais é necessário realizar a sacarificação prévia da biomassa onde, além da glicose proveniente da hidrólise da celulose, outros açúcares redutores podem ser produzidos, principalmente a xilose formada a partir da despolimerização da hemicelulose. O principal objetivo desse trabalho foi avaliar o rendimento e a produtividade em etanol obtidos na fermentação do caldo hidrolisado de pseudocaule de bananeira empregando duas diferentes espécies de micro-organismos: Saccharomyces cerevisae e Pachysolen tannophilus; esta última, capaz de fermentar glicose e xilose. MATERIAL E MÉTODOS O pseudocaule de bananeira Musa cavendishii foi previamente seco a 60 C durante 24 h e moído em moinho de facas até tamanho das partículas menores que 0,6 mm. Esse farelo (75 g/L) foi submetido à hidrólise ácida com H2SO4 2% em massa/120 ºC/15 min e sacarificado em pH 5,5 durante 24 h com enzimas comerciais Cellic CTec2® e Cellic HTec2® da Novozymes Latin America Ltda. Os ensaios de fermentação foram conduzidos em frascos Erlenmeyer de 250 mL contendo 80% em volume (v/v) de caldo hidrolisado e 20% (v/v) de inóculo (concentração inicial de micro-organismos no meio de fermentação: 1,5 g/L em massa seca). Como inóculo foram utilizadas culturas puras de Saccharomyces cerevisae ATCC 26603 e Pachysolen tannophilus ATCC 32691. A temperatura de incubação e pH inicial do meio de fermentação foram específicos para cada micro-organismo avaliado: S. cerevisae, 30 C e 4,5; P. tannophilus, 30 C e 6,0. Como nutrientes foram utilizados extrato de levedura e sais inorgânicos conforme Souza et al. (2012) para ambos os micro-organismos. Duas diferentes concentrações de açúcares redutores totais (ART) foram avaliados com repetições: 40 g/L (caldo não-concentrado, Ensaios EP1 e EP2) e 80 g/L (caldo concentrado a 70 ºC, Ensaios EPc1 e EPc2). Durante os experimentos foram retiradas amostras periódicas para as determinações das concentrações de ART pelo método colorimétrico do cuproarsenato proposto por Somogy (1952) e Nelson (1944) e de etanol (P) por cromatografia gasosa. Os valores de rendimento (fator de conversão de substrato em etanol, YP/S) e produtividade (QP) foram calculados de acordo com Schmidell et al. (2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO As cinéticas do consumo de ART e produção de P específicas a cada um dos microorganismos avaliados são apresentadas na Figura 1. Para os ensaios com ART0 = 40 g/L (EP1 e EP2) o comportamento cinético de ambos os micro-organismos foi semelhante; no entanto, para ART0 = 80 g/L é possível observar uma maior redução na velocidade de consumo do substrato por P. tannophilus (EPc2) em comparação a S. cerevisae (EPc1). Resultado semelhante foi obtido por Sathesh-Prabu e Murugesan (2011) na fermentação de ART = 200 g/L. Em todos os experimentos é possível observar que não houve o consumo total dos açúcares presentes no meio, principalmente nas fermentações com maior ART inicial (ART0 = 80 g/L, Figura 1, Ensaios EPc1 e EPc2). Segundo Mood et al. (2013), durante IV Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 05 a 07 de maio de 2015 - Rio de Janeiro - RJ as etapas de hidrólise ácida e enzimática de materiais lignocelulósicos, diferentes açúcares podem ser produzidos, dentre os quais glicose, xilose, arabinose e manose. Conforme Chandel et al. (2011), S. cerevisae não metaboliza xilose e arabinose enquanto P. tannophilus não fermenta manose. A partir dos valores iniciais (ART0, P0) e finais (ARTf, Pf) de açúcares e etanol no caldo e do tempo final de fermentação (tf) definidos a partir das curvas ajustadas (Figura 1), foram calculados os parâmetros de rendimento (YP/S) e produtividade volumétrica (QP) em etanol para cada um dos ensaios realizados (Tabela 1). Entende-se por tf como o tempo de fermentação onde inicia o período que cessa o acúmulo de etanol no meio fermentado. Conforme demonstra a Tabela 1, a maioria dos valores de YP/S ficaram próximos ao valor estequiométrico de conversão de glicose em etanol (YP/S = 0,511), exceto para o caso do uso do caldo não-concentrado (Ensaios EP1 e 2), cujos valores foram em torno de 30% menores. Comportamento semelhante ocorreu com a produtividade. O uso de aquecimento (70 ºC) na etapa de concentração do caldo empregado nos ensaios EPc1 e EPc2 deve ter contribuído com a redução da concentração de inibidores da fermentação (ácido acético, furfural e hidroximetilfurfural, etc) normalmente presentes em caldos pré-tratados com ácidos (Mood et al., 2013). De uma maneira geral, S. cerevisae apresentou maiores valores de produtividade em etanol em comparação com P. tannophilus. CONCLUSÃO O uso do aquecimento prévio do caldo hidrolisado empregado para o aumento da concentração de açúcares fermentescíveis proporcionou aumento de até duas vezes no rendimento em etanol em comparação ao caldo não-concentrado. Em todas os experimentos realizados, Saccharomyces cerevisae ATCC 26603 apresentou produtividade volumétrica em etanol superior à obtida por Pachysolen tannophilus ATCC 32691, chegando a 65% maior no caso do uso de maior concentração inicial de ART (80 g/L). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHANDEL, A. K.; CHANDRASEKHAR, G.; RADHIKA, K. et al. Bioconversion of pentose sugars into ethanol: A review and future directions. Biotechnology and Molecular Biology Review, v. 6, n. 1, p. 8-20, 2011. MOOD, S. H.; GOLFESHAN, A. H.; TABATABAEI, M. et al. Lignocellulosic biomass to bioethanol, a comprehensive review with a focus on pretreatment. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 27, p. 77–93, 2013. NELSON, N. A photometric adaptation of Somogy method for determination of glucose. Biochemistry, v. 153, p. 375-380, 1944. SATHESH-PRABU, C.; MURUGESAN, A. G. Potential utilization of sorghum field waste for fuel ethanol production employing Pachysolen tannophilus and Saccharomyces cerevisiae. Bioresource Technology, v. 102, p. 2788–2792, 2011. SCHMIDELL, Willibaldo; LIMA, Urgel de Almeida; AQUARONE, Eugênio; BORZANI, Walter. Biotecnologia industrial: engenharia bioquímica. São Paulo: Edgard Blücher, 2001. SOFFNER, M. L. A. P. Produção de polpa celulósica a partir de engaço de bananeira. Dissertação de Mestrado, ESALQ/USP, Piracicaba, SP, 2001, 56p. SOMOGYI, M. Notes on sugar determination. Journal of Biologycal Chemistry, v. 195, p. 19, 1952. SOUZA, O.; SCHULZ, M. A.; FISCHER, G. A. A.; WAGNER, T. M.; SELLIN, N. Energia alternativa de biomassa: Bioetanol a partir da casca e da polpa de banana. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 16, n. 8, p. 915–921, 2012. IV Simpósio Internacional sobre Gerenciamento de Resíduos Agropecuários e Agroindustriais 05 a 07 de maio de 2015 - Rio de Janeiro - RJ Figura 1. Cinéticas de consumo de substrato (ART ■,□)* e produção de etanol (P ●,○)* por Saccharomyces cerevisae (EP1, EPc1) e Pachysolen tannophilus (EP2, EPc2) a partir de caldo hidrolisado de pseudocaule**. * Os símbolos sólidos e as linhas cheias corresponderam a um ensaio e os símbolos vazios e as linhas tracejadas à sua repetição. ** A letra “c” no título dos gráficos indica que o caldo hidrolisado foi previamente concentrado para aumentar a concentração inicial de ART. Tabela 1. Rendimento (YP/S) e produtividade volumétrica (QP) em etanol obtidos na fermentação de pseudocaule de bananeira por S. cerevisae (EP1, EPc1) e P. tannophilus (EP2, EPc2). Ensaios tf ART0 ARTf P0 Pf YP/S QP EP1 12 41,0 4,2 1,2 13,7 0,34 1,04 12 41,0 4,3 1,2 12,8 0,32 0,97 EP2 12 43,0 3,2 1,9 11,0 0,23 0,76* 12 36,0 2,4 1,7 12,0 0,31 0,86* EPc1 24 84,4 10,0 1,2 39,0 0,51 1,58 24 90,0 11,0 1,2 40,0 0,49 1,62 EPc2 24* 67,0 22,0 1,3 27,0 0,57 1,07 24* 68,0 17,0 1,2 22,0 0,41 0,87 * tempo final de fermentação (tf) correspondeu ao tempo máximo de ensaio e não ao tempo de fermentação relativo ao final do acúmulo de etanol no meio. como nos demais ensaios.