INFLUÊNCIA E ELIMINAÇÃO DO COBRE E DO CHUMBO NA FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA Sofia CATARINO1,2*; M.M. BALEIRAS-COUTO1,3; R. BRAZ1; A.S. CURVELOGARCIA1 Resumo A presença de metais pesados nos mostos tem sido apontada como um dos factores na origem de paragens de fermentação alcoólica. No presente trabalho pretendeu-se avaliar o efeito do cobre e do chumbo, a diferentes níveis de concentração, na fermentação alcoólica. Estudou-se igualmente a eliminação dos dois metais pesados ao longo desta etapa tecnológica. Para tal, realizou-se um ensaio experimental com mostos adicionados de Cu (25, 40 e 65 mg/L) e de Pb (250, 500 e 700 µg/L), no total de sete modalidades de fermentação. Os teores de Cu e de Pb nos mostos e vinhos foram quantificados por espectrofotometria de absorção atómica com atomização electrotérmica (ETAAS). Os resultados obtidos demonstraram a influência do Cu em diversos parâmetros da fermentação alcoólica. O vinho resultante da modalidade com adição de 65 mg/L de Cu apresentou um teor alcoólico [10,0 % (v/v)] inferior ao do vinho testemunha [11,3 % (v/v)]. Aos níveis de adição estudados, o Pb não teve efeito assinalável na fermentação alcoólica. No final da fermentação verificou-se uma diminuição nos teores de Cu e de Pb, em função dos seus teores iniciais no mosto. Palavras-chave: mosto, Cu, Pb, fermentação alcoólica, vinho. 1. INTRODUÇÃO As paragens de fermentação alcoólica de mostos ocorrem com alguma frequência, conduzindo normalmente a perdas de qualidade dos vinhos, com consequente prejuízo económico. Como factores na origem deste problema são vulgarmente referidas deficiências nutritivas, a presença de compostos tóxicos produzidos pelas próprias leveduras e resíduos de pesticidas e metais pesados, embora na realidade o conhecimento sobre a influência destes últimos seja bastante deficitário. O cobre (Cu) e o chumbo (Pb) são dois metais pesados associados a contaminação, cujos teores no vinho são objecto de controlo legal. O Cu devido à sua relação com fenómenos de instabilidade físico-química, o Pb por razões de ordem toxicológica. A presença de Cu nos mostos deve-se essencialmente a tratamentos cúpricos antifúngicos (CURVELO-GARCIA e CATARINO, 1998; RIBÉREAU-GAYON et al., 1998; GARCÍA-ESPARZA et al., 2006). Os mostos apresentam normalmente teores de Cu na ordem dos 10 a 20 mg/L, originando vinhos com teores relativamente pequenos, na ordem 1 Estação Vitivinícola Nacional, 2565-191 Dois Portos, Portugal Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Departamento de Química Agrícola e Ambiental, Tapada de Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal. 3 Universidade do Minho, Centro/Departamento de Biologia, 4710-057 Braga, Portugal * Autor para correspondência: [email protected] 2 de 0,1 a 0,2 mg/L (CURVELO-GARCIA e CATARINO, 1998; CATARINO et al., 2006). O limite máximo actualmente estabelecido para a sua presença em vinhos é de 1 mg/L (OIV, 2005). A incorporação do Pb nos combustíveis tem sido particularmente responsável pela introdução de grandes quantidades deste metal no ambiente, reflectindo-se a sua presença no vinho (MÉDINA et al., 2000). Foi igualmente verificada a relação entre o teor de Pb das uvas e a sua proximidade a vias rodoviárias (TEISSÈDRE et al., 1993). De uma forma geral, os vinhos em final de fermentação alcoólica são menos ricos em Pb do que os mostos correspondentes, apresentando normalmente teores inferiores a 100 μg/L (CATARINO, 2000; LIMA et al., 2004; CATARINO et al., 2006). O limite máximo em vigor para a sua presença em vinhos é de 200 µg/L (OIV, 2005), diminuindo para 150 µg/L a partir da vindima de 2007 (Resolução OIV Oeno 13/2006). Devido a fenómenos naturais de estabilização do vinho, no decorrer das fermentações alcoólica e maloláctica, ocorre a eliminação parcial destes metais por precipitação sob a forma de sais orgânicos e sulfuretos, e por absorção e adsorção por leveduras e bactérias. Por outro lado, a capacidade de absorção e adsorção de metais pesados, particularmente do Cu e do Pb, por leveduras Saccharomyces cerevisiae e por bactérias, tem sido estudada (BRADY e DUNCAN, 1994; BRANDOLINI et al., 2002; SOARES et al., 2002; DOSTALEK et al., 2004). Estudos realizados no âmbito da cinética de crescimento de leveduras Saccharomyces cerevisiae demonstraram que o número de unidades formadoras de colónias em presença de metais pesados decresce com aumento da concentração do elemento (SOARES et al., 2002; DOSTALEK et al., 2004). Recentemente, FERREIRA et al. (2006) observaram que concentrações elevadas de Cu no mosto estavam relacionados com maiores teores de frutose e glucose no final da fermentação alcoólica, dependendo contudo da estirpe de leveduras. No entanto, os estudos realizados com mosto de uva, em condições experimentais próximas da prática enológica, são ainda muito escassos. Com o presente trabalho pretendeu-se avaliar a influência do Cu e do Pb, a diferentes níveis de concentração, na fermentação alcoólica de mosto, por medição de parâmetros microbiológicos e por caracterização dos vinhos obtidos. Dada a importância de minimizar os teores destes metais pesados no vinho, avaliou-se igualmente a sua capacidade de eliminação ao longo desta etapa tecnológica. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Ensaio Experimental Realizou-se um ensaio experimental de fermentação, utilizando mosto previamente pasteurizado (pH = 3,224; acidez total = 5,930; [SO2] = 20 mg/L; [Cu] = 2,4 mg/L; [Pb] < 12 µg/L). Em cada frasco de vidro de 1 L (tipo Schoh) foram colocados 800 mL de mosto, com rolha de algodão, seguindo-se a sua esterilização (121ºC / 20 min). De acordo com o esquema da Figura 1, procedeu-se à adição a três níveis de concentração de CuSO4.5H2O e Pb(NO3)2, e inoculação com uma suspensão de cultura pura da levedura Saccharomyces cerevisiae EVN 166 (QA23). Todas as modalidades foram preparadas em duplicado, totalizando 14 amostras. 2.2. Acompanhamento das fermentações Controlo do peso Foram realizadas curvas de perda de peso estabelecidas por pesagens diárias dos frascos de fermentação: 12 em 12 horas (até às 263,5 horas); 24 em 24 horas (desde as 277,5 até 491,6 horas). Contagem de leveduras na Testemunha (UFC) A quantificação de leveduras no mosto testemunha ao longo da fermentação foi realizada recorrendo a diluições sucessivas das amostras de mosto recolhidas diariamente (1 mL), de modo a obter entre 30 a 300 colónias por placa. A análise foi feita por espalhamento à superfície em meio YEPD (5 g/L extracto de levedura, 10 g/L peptona, 20 g/L glucose) em placas de Pétri. As placas foram incubadas em posição invertida em estufa a 25 ºC durante 3 a 5 dias, em aerobiose. Após o período de crescimento procedeu-se à contagem das colónias (UFC). Os resultados são expressos em UFC/mL (unidades formadoras de colónias por mL). Controlo da percentagem de sólidos em suspensão Foi realizada a leitura diária da percentagem de sólidos em suspensão nos mostos, por refractometria (Carl Zeiss 51542). 2.3. Determinação dos teores de Cu e Pb ao longo da fermentação Diariamente recolheram-se 10 mL de mosto de cada frasco de fermentação, seguindo-se a sua centrifugação (14000 rpm / 10 min). O sobrenadante foi recolhido e adicionado de 2,5 mL de HNO3, e 12 horas depois sujeito a um banho a 100ºC (4 horas) para destruição da matéria orgânica. A repetibilidade e taxas de recuperação desta metodologia foram previamente estudadas (Braz, 2006). A determinação analítica do Cu e do Pb no sobrenadante foi realizada por ETAAS, segundo os métodos descritos por Catarino et al. (2005) e Catarino (2000), respectivamente. Foi utilizado um Espectrofotómetro de Absorção Atómica com Câmara de Grafite Perkin Elmer 4110 ZL. Todo o material utilizado foi descontaminado numa solução de HNO3 a 20 % (V/V) e passado abundantemente por água ultra-pura. No final das fermentações, mediu-se o pH, acidez total, acidez volátil e o teor alcoólico volumétrico das amostras de vinho. Mosto testemunha Mosto Mosto Mosto Mosto Mosto Mosto + 25 mg/L Cu + 40 mg/L Cu + 65 mg/L Cu + 250 µg/L Pb + 500 µg/L Pb + 700 µg/L Pb Pesagem dos frascos de fermentação Recolha de 10 mL de mosto em cada frasco Leitura da % de sólidos em suspensão Centrifugação do mosto e recolha do sobrenadante Avaliação do nº de células viáveis Preparação do mosto para análise mineral (via húmida) Tempo de fermentação: 21 dias (25ºC) Determinação analítica do Cu e do Pb por ETAAS Figura 1 – Representação esquemática do ensaio experimental de fermentação e procedimentos para o seu acompanhamento. 3. RESULTADOS 3.1. Evolução das fermentações ao longo do tempo Dinâmica populacional As fermentações decorreram durante 21 dias, tendo a população de leveduras no mosto testemunha estabilizado aproximadamente ao 6º dia. No Quadro 1 apresenta-se a contagem total de leveduras nos mostos em duas fases da fermentação. Ao 5º dia de fermentação os mostos com adição de Cu apresentaram menor número de UFC/mL do que o mosto testemunha, com destaque para a modalidade com adição de 65 mg/L. Os mostos adicionados com Pb apresentaram sensivelmente o mesmo número de UFC/mL do que o mosto testemunha. Quadro 1 – Contagem total de leveduras nos mostos em fermentação (UFC/mL). UFC/mL Modalidade 1º dia de fermentação 5º dia de fermentação Mosto testemunha 2,3×107 1,1×108 Mosto + 25 mg/L Cu 2,3×107 8,9×107 Mosto + 40 mg/L Cu 2,3×107 8,8×107 Mosto + 65 mg/L Cu 2,1×107 6,8×107 Mosto + 250 µg/L Pb 2,0×107 1,1×108 Mosto + 500 µg/L Pb 2,0×107 1,1×108 Mosto + 700 µg/L Pb 2,0×107 1,0×108 de fermentação Perda de peso e percentagem de sólidos em suspensão Verificou-se que nos mostos adicionados com Cu, particularmente na modalidade com adição de 65 mg/L, a diminuição da % de sólidos em suspensão ao longo do tempo foi mais lenta do que no mosto testemunha (Figura 2). % de sólidos em suspensão 25 Test 20 Test + 25 mg/L Cu 15 10 Test + 40 mg/L Cu 5 Test + 65 mg/L Cu 0 0 5 10 15 20 25 Tempo (dias) Figura 2 – Evolução ao longo do tempo da percentagem de sólidos em suspensão nos mostos com adição de Cu. Não se observaram diferenças assinaláveis entre os níveis de adição de 25 mg/L e 40 mg/L. Estas observações foram confirmadas pela perda de peso ao longo do tempo nas diferentes modalidades de fermentação (resultados não apresentados). Não se verificaram diferenças assinaláveis na evolução ao longo do tempo do peso e da % de sólidos em suspensão, entre a testemunha e as modalidades com adição de Pb. Teor alcoólico dos vinhos No final da fermentação alcoólica as amostras com maior adição de Cu (40 e 65 mg/L) apresentaram um teor alcoólico inferior ao da testemunha. Nas modalidades com adição de Pb não se observaram diferenças assinaláveis relativamente à testemunha (Quadro 2). Quadro 2 - Teor alcoólico volumétrico dos vinhos (%V/V) (médias dos duplicados). Vinho TAV (%) Test 11,3 Test + 25 mg/L Cu 11,3 Test + 40 mg/L Cu 11,2 Test + 65 mg/L Cu 10,0 Test + 250 µg/L Pb 11,4 Test + 500 µg/L Pb 11,2 Test + 700 µg/L Pb 11,3 3.2. Evolução dos teores de Cu e Pb ao longo da fermentação alcoólica A evolução dos teores de Cu e Pb ao longo do tempo foi estudada em todas as modalidades de fermentação. Não foi possível quantificar o Pb no mosto testemunha devido ao seu baixo teor. Verificou-se um decréscimo bastante acentuado do teor de Cu no mosto testemunha nos primeiros dias de fermentação, sendo de aproximadamente 90% ao fim do 2º dia (Figura 3). O decréscimo nos mostos com adição de Cu foi mais lento, apresentando taxas de eliminação entre 29 e 60% no final da fermentação, em função da concentração inicial do elemento. Os teores de Cu observados no final das fermentações foram os seguintes: 0,3 mg/L (mosto testemunha); 8,8 mg/L (mosto + 25 mg/L); 18,8 mg/L (mosto + 40 mg/L) e 40,1 mg/L (mosto + 65 mg/L). 3000 [Cu] µg/L 2500 2000 1500 1000 500 0 0 5 10 15 Tempo (dias) Figura 3 – Evolução do teor de Cu ao longo da fermentação (mosto testemunha). A evolução do teor de Pb observada nos mostos com adição deste elemento foi muito semelhante nas três modalidades. A título de exemplo, na Figura 4 apresentam-se os resultados referentes ao mosto com adição de 500 µg/L Pb. 600 [Pb] ug/L 500 400 300 200 100 0 0 5 10 15 20 25 Tempo (dias) Figura 4 – Evolução do teor de Pb ao longo da fermentação (mosto + 500 µg/L Pb). Verificou-se um ligeiro aumento no 3º dia de fermentação, provavelmente relacionado com a libertação de Pb de complexos com polissacáridos pécticos do mosto (PELLERIN et al., 1997), e um decréscimo global até ao final da fermentação. As taxas de eliminação variaram entre 21 e 23%. Os teores de Pb observados no final das fermentações foram os seguintes: 133 µg/L (mosto + 250 µg/L), 373 µg/L (mosto + 500 µg/L) e 520 µg/L (mosto + 700 µg/L). 4. CONCLUSÕES Os resultados obtidos indicam um efeito inibidor do Cu, aos níveis de concentração estudados, no crescimento da população de leveduras. Verificou-se a influência deste metal pesado na evolução da percentagem de sólidos em suspensão e na perda de peso ao longo da fermentação, com reflexos no teor alcoólico dos vinhos. Por outro lado, o Pb não teve efeito assinalável na fermentação alcoólica. No decorrer da fermentação verificou-se uma diminuição nos teores de Cu e de Pb dos mostos, em função dos seus teores iniciais. A maior capacidade de eliminação do Cu relativamente ao Pb, poderá em parte ser explicada pela forma química em que estes metais se encontram no mosto. Agradecimentos As autoras M. M. Baleiras-Couto e Sofia Catarino agradecem à Fundação para a Ciência e a Tecnologia a bolsa de pós-doutoramento (BPD/18959/2004) e a bolsa de doutoramento (BD/17237/2004), respectivamente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRADY D., DUNCAN J.R., 1994. Bioaccumulation of metal cations by Saccharomyces cerevisiae. Applied Microbiology and Biotechnology, 41, 149-154. 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