Geração, Gênero e Sexualidade nas trajetórias de vida e saúde reprodutiva de mulheres jovens do Nordeste Marilia Silveira Cardoso Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP e-mail: [email protected] Florêncio Mariano da Costa Junior Universidade Sagrado Coração, Bauru/SP e-mail: [email protected] Pôster Pesquisa em andamento No âmbito das ciências da saúde, alguns estudos destacam a relevância de compreender as relações entre geração, gênero e modos de vida como multideterminantes à saúde (Barata, 2006). Partindo da análise da categoria geração é possível visualizar os contrastes e semelhanças geracionais que combinados com as categorias de classe social e gênero produzem mudanças significativas nas relações familiares e nas representações a cerca da juventude/adolescência e também da sexualidade (HEILBORN, 2012). Pesquisas no campo da educação que os processos socializadores incidem sobre um espaço fundamental de intersecção entre as gerações: a transmissão. Transmitir e herdar são duas facetas de um mesmo movimento que coloca as gerações diante do desafio de definir como devem se conduzir em relação à sua herança, que pode ir dos bens estritamente materiais aos totalmente simbólicos (TOMIZAKI, 2010, p. 329). Assim, embora educação, socialização e dinâmicas intergeracionais sejam processos diversos e complexos, eles se tratam de fenômenos sociais que se encontram intrinsecamente ligados em função da necessidade de cada geração transmitir aos seus sucessores aquilo que considera fundamental para a preservação e continuidade da sua herança social e cultural. Por outro lado, o próprio fenômeno geracional pode provocar mudanças tanto nos modos de se educar as novas gerações, quanto naquilo que será ou não ser transmitido de uma geração a outra (TOMIZAKI, 2010, p. 329-330). A 1 sexualidade na adolescência se relaciona ao momento de descobertas e novas experiências de um corpo e identidade que se modificam no processo maturacional em contato com um contexto socio-cultural. No campo de práticas sociais tem se tornado objeto de estudo, pois interfere nos processos de desenvolvimento social e nas trajetorias de vida dos indivíduos que via de regra, irão vivenciar esse período de seu desenvolvimento e a transição entre a infância e a vida adulta. Por ser forjada no âmbito das dimensões socioculturais a sexualidade está sob a influência das categorias gênero, classe social e geração, especialmente pelo fato de que, ser homem ou ser mulher, pertencer a um grupo etário/geracional e estar localizado em um grupo social, são condições que definem as expêriencias com a sexualidade e por sua vez com a saúde reprodutiva. Sobremaneira a dinâmica intergeracional também se configura como um contexto de socialização e aprendizado sobre esta sexualidade. A gravidez na adolescência tem uma estreita e inescapável relação entre a sexualidade e gênero. A ênfase sobre cenários socioculturais alude à premissa de que há características distintas entre os homens e mulheres no tocante a vida sexual e na interface desta com a esfera reprodutiva, elas devem-se a uma combinação de fenômenos que influenciam processos complexos de socialização dos gêneros (HEILBORN, AQUINO, BOZON, KNAUTH, 2006). O caráter gradual e acumulativo das experiências que constitui a vivência de cada um no domínio da sexualidade é passível de ser demonstrado através do conceito de trajetória, sendo uma série de episódios e estados que caracterizam uma dada esfera da vida. Ela obriga os cenários e atores envolvidos em cada evento e relação que aludem à moldura social que enquadra o exercício da sexualidade. O conceito é produtivo para demonstrar a sempre desafiadora ligação, na clássica formulação de Bourdie (1980 apud HEILBORN, AQUINO, BOZON, KNAUTH, 2006) entre as dimensões interiores e exteriores aos sujeitos, que se entrelaçam em cada acontecimento da vida. (HEILBORN, AQUINO, BOZON, KNAUTH, 2006, p. 38). Partindo do estudo sobre feminilidade e saúde reprodutiva, considerando a complexidade das categorias de geração e gênero, a presente pesquisa objetiva investigar como as trajetórias de gerações femininas na relação mães e filhas repercutem na saúde reprodutiva. Portanto no âmbito da dinâmica intergeracional, do gênero da e saúde reprodutiva, este estudo almeja verificar como se dá os processos de continuidade e descontinuidade nas trajetórias de vida de adolescentes grávidas e suas mães. Esta pesquisa é classificada de modo qualitativa e descritiva. Tal metodologia é 2 considerada por Minayo (2006) um meio eficaz para obter informações sobre fenômenos psicológicos e sociais na área da saúde. A pesquisa é parte de um estudo maior que visa investigar as relações entre geração, gênero e cuidados com a saúde. Foi utilizado um roteiro de entrevista semiestruturada, previamente elaborado pelos pesquisadores responsáveis. A entrevista semiestruturada pode ser constituída de questões abertas e/ou fechadas desde que tais questionamentos estejam pautados em teorias e hipóteses que se relacionem com o tema investigado (MANZINI, 2004; ROSA; ARNOLDI, 2006), através de uma análise comparativa em duas cidades distintas do Sudeste e Nordeste, se tratando da participação de 06 jovens entre 14 a 17 anos do sexo feminino, divididos em dois grupos regionais: 03 jovens do interior do estado de São Paulo e 03 jovens do interior do estado da Paraíba. A produção de dados no Estado da Paraíba foi feita como parte das atividades desenvolvidas pela aluna no Projeto Rondon, o qual, entre outras atividades, também compreende a intervenção junto a jovens de classes populares na localidade atendida. A pesquisa com as adolescentes do estado de São Paulo não foi finalizada até o momento. Os resultados iniciais deste estudo mostrou que as adolescentes da cidade de Bananeiras/PB com idades entre 15 e 17 anos, descrevem como acontecimento mais importante de suas vidas a gravidez e que após essa experiência ficaram mais maduras e responsáveis. Nesse período foi preciso deixar os estudos, tendo como planos futuros trabalhar ou fazer cursos. A cerca da influência no modo de ser das adolescentes, foi relatado que são com as suas mães que ocorre uma identificação, sendo que todas as mães das adolescentes tiveram filhos entre 16 e 20 anos. Com relação à concepção de sexualidade e saúde reprodutiva, as adolescentes entendem sexualidade como sexo em si, uma delas não soube responder a pergunta. Sobre saúde reprodutiva relataram que é a forma se prevenir, usar camisinha, tomar anticoncepcional, sabendo dessas informações com as mães e familiares. Todas as adolescentes tiveram o primeiro contato sexual com os parceiros atuais, com quem ficaram grávidas. Como podemos verificar nos resultados prévios, há uma semelhança entre as gerações, ocorrendo nos três casos uma repetição de trajetórias nas quais ocorreram a gravidez na adolescência nas duas gerações (mães e filhas), sendo assim a orientação sobre saúde reprodutiva precária. Dessa forma se faz necessário promover espaços de diálogo, com escuta dos sentimentos, desejos e dúvidas, propiciar informações claras, construção de conhecimentos e ações de promoção de 3 saúde sexual e reprodutiva, é um problema a ser estudado, entendido e administrado por meio de políticas públicas e práticas sociais que raramente consideram a complexidade desta questão. PALAVRAS-CHAVES: Geração; Gênero; Saúde Reprodutiva; Sexualidade. REFERÊNCIAS: BARATA, R. B. Desigualdades Sociais e saúde. In: CAMPOS, G. W. E. C. O. (Ed.). Tratado de saúde coletiva. Rio de Janeiro: HUCITEC/FIOCRUZ, 2006. p.p. 20130 HEILBORN, Maria Luiza et al . Gravidez imprevista e aborto no Rio de Janeiro, Brasil: gênero e geração nos processos decisórios. Sex., Salud Soc. (Rio J.), Rio de Janeiro , n. 12, Dec. 2012 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S198464872012000600010&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Mar. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S1984-64872012000600010. TOMIZAKI, Kimi. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educ. Soc., Campinas , v. 31, n. 111, June 2010 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302010000200003&lng=en&nrm=iso>. access on 14 Mar. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302010000200003. Heilborn ML, Aquino EML, Bozon M, Knauth DR, organizadores. O Aprendizado da Sexualidade: Reprodução e Trajetórias Sociais de Jovens Brasileiros. Rio de Janeiro: Editora Garamond/Editora Fiocruz; 2006. 536 pp. MINAYO M. C. S. Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec; 2006. MANZINI, E. J. Entrevista semi-estruturada: análise de objetivos e de roteiros. In: Anais do Seminário internacional sobre pesquisa e estudos qualitativos, 2, 2004, Bauru. A Pesquisa qualitativa em Debate. Bauru: USC, 2004. Cd-room. 4