Instituto de Matemática e Estatística da USP MPM5608 - Análise Real com aplicações - 2014 Gabarito dos Exercícios de Revisão 1. (1,5) Seja A um conjunto não vazio e limitado de números reais e seja k < 0 um número real fixado. Determine o supremo do conjunto {ka : a ∈ A}. Solução. Como A é não vazio, o conjunto B = {ka : a ∈ A} também é não vazio, já que, como existe um elemento a ∈ A então ka pertence a B. Como A é limitado, existem m e n reais tais que m ≤ a ≤ n, para todo a ∈ A. Multiplicando as desigualdades por k, que é negativo, obtemos kn ≤ ka ≤ km, para todo a ∈ A, ou seja, o conjunto B é limitado. Logo B admite um supremo s. Observemos que, sendo A não vazio e limitado, A admite supremo e ínfimo. Vamos provar que sup B = k inf A. Denotemos por s o supremo de B. (a) s é majorante de B: De fato, sabemos que se i = inf A, então i ≤ a, ∀a ∈ A. Logo, ki ≥ ka, ∀a ∈ A, ou seja, s = ki é um majorante de B. (b) s é o menor dos majorantes de B: Tomemos um número r tal que r < s. Vamos mostrar que r não pode ser majorante de B (ou seja, vamos provar que nenhum número menor do que s é majorante de B). s r Como r < s e k < 0, temos > = i. Como i = inf A, isto é, i é o maior dos minorantes k k de A, existe a ∈ A tal que i ≤ a < kr . Portanto, ki ≥ ka > r, ou, equivalentemente, r < ka ≤ ki. Isso significa que r não é majorante de B. De (a) e (b) concluímos que sup B = k inf A. Comentários. É interessante observar onde cada hipótese do enunciado foi usada e qual papel elas cumpriram na demonstração do resultado. Quais são as hipóteses, em que passagens elas foram usadas? Note que foi preciso garantir não apenas a existência do supremo de B, que era uma das perguntas do enunciado, como também a existência do ínfimo de A. 2. Considere a sequência dada por x1 = x2 = 1 e os demais termos dados por (a) (0,5) Calcule x3 , x4 e x5 . Solução. 1 1 1 1 1 = + = + = 2. Portanto, x3 = 12 . x3 x2 x1 1 1 1 1 1 = + = 2 + 1 = 3. Portanto, x4 = 13 . x4 x3 x2 1 1 1 = + = 3 + 2 = 5. Portanto, x5 = 15 . x5 x4 x3 1 1 xn+2 = 1 xn+1 + 1 . xn (b) (0,5) Prove que xn ≥ 0, para todo n. Solução. A demonstração será feita por indução. Mais precisamente, usaremos o resultado que diz: se uma afirmação envolvendo números naturais vale para um primeiro natural n0 e se, admitindo-se que a afirmação seja válida para todos os naturais entre n0 e n for possível provar que ela vale para n + 1, então ela vale para todos os naturais a partir de n0 . Nossa afirmação é que todos os termos xn (n ≥ 1) são positivos. Por hipótese, x1 = x2 = 1, logo positivos. Vamos supor que x3 , x4 , . . . , xn sejam todos positivos e provar que xn+1 é positivo: De fato, da hipótese de indução, podemos concluir 1 1 1 1 1 ≥0e ≥ 0, portanto, = + ≥ 0, o que implica que xn+1 ≥ 0. que xn xn−1 xn+1 xn xn−1 Assim, o princípio de indução permite concluir que xn ≥ 0, ∀n ∈ N. (c) (0,5) Prove que a sequência (xn )n é decrescente. Solução. 1 1 Sabemos que, para cada n, vale ≥ 0. Somando-se dos dois lados temos xn−1 xn 1 1 1 + ≥ + 0, xn xn−1 xn 1 1 . Portanto, xn+1 ≤ xn , ∀n ∈ N. xn+1 xn Observação. A mesma demonstração é válida para a desigualdade estrita. De fato, xn > 0 para todo n natural e, consequentemente, vale a desigualdade xn+1 < xn , para n = 2, 3, 4, . . . ou seja, ≥ (d) (1,0) Conclua que a sequência é convergente e determine o limite. Solução. A sequência (xn )n é monótona decrescente e limitada inferiormente por 0. Portanto, existe L = lim xn . Como cada xn é positivo, L é positivo (L ≥ 0). Suponhamos L > 0. n→∞ Como 1 xn+1 = 1 1 + vale para todo n ≥ 2, podemos fazer n crescer: xn xn−1 lim n→∞ Portanto, 1 xn+1 h1 1 i 1 1 + = lim + lim n→∞ xn n→∞ xn n→∞ xn−1 xn−1 = lim 1 1 1 = + , o que é absurdo. Logo, L = 0. L L L 2 ∞ X (n!)2 converge ou diverge? 3. (1,0) A série (2n)! n=1 Solução. Para cada n ≥ 1, considere an = cada an é positivo. Além disso, Sendo quociente de números inteiros positivos, [(n + 1)!]2 (2n)! [(n + 1)n!]2 (2n)! · · = lim n→∞ [2(n + 1)]! (n!)2 n→∞ [2n + 2]! (n!)2 [(n + 1)2 (n!)2 (2n)! (n + 1)2 = lim · = lim n→∞ (2n + 2)(2n + 1)(2n)! (n!)2 n→∞ (2n + 2)(2n + 1) 2 1 2 1 + n + n2 n + 2n + 1 1 = lim = = lim 6 2 n→∞ 4 + n→∞ 4n2 + 6n + 2 4 + n2 n an+1 = n→∞ an lim (n!)2 . (2n)! lim an+1 < 1, o critério da razão de convergência de séries nos garante que a série é n→∞ an convergente. Como lim 4. Decida se a série dada converge absolutamente, condicionalmente ou diverge: (a) (1,0) ∞ X 1 (−1)n √ n n=1 Solução. ∞ ∞ X X 1 n 1 √ . (i) Observemos primeiramente que (−1) √ = n n n=1 n=1 √ 1 1 Como, para cada n > 1, vale n < n, temos que < √ , ∀n > 1. n n ∞ X 1 Sabemos que a série é divergente. Portanto, pelo critério da comparação, a n n=1 ∞ X n 1 série (−1) √ é divergente. n n=1 (ii) A série dada é uma série alternada, do tipo ∞ X (−1)n an , sendo an = √1 n > 0, ∀n. n=1 Temos: √ √ (I) Para cada n vale que n < n + 1. Mas n < n + 1 ⇒ n < n + 1 ⇒ Portanto, an > an+1 , ou seja, a sequência (an )n é decrescente. (II) limn→∞ an = limn→∞ √1n = 0. √1 n > √1 . n+1 De (I) e (II), pelo critério de convergência de séries alternadas (Leibniz ), a série dada é convergente. De (i) e (ii), concluímos que a série dada é condicionalmente convergente. 3 (b) (1,0) ∞ X n=1 (−1)n 1 3 n2 ∞ ∞ X X 1 n 1 Solução. Observemos primeiramente que (−1) 3 = 3 . Mas há um teorema 2 2 n n n=1 n=1 ∞ X 1 (dado em aula) que diz que “se p > 1, a série do tipo converge”. Como, neste np n=1 ∞ X 1 3 caso, p = 2 , podemos concluir que a série 3 converge, ou seja, a série dada converge 2 n=1 n absolutamente. 5. (1,5) Para que valores reais de x a série ∞ X 2n n2 n=1 Solução. Fixado x real, defina an = 2n |x|n , n2 xn converge? para cada n. Então: n2 2n+1 |x|n+1 · n→∞ (n + 1)2 2n |x|n n2 = lim 2|x| 2 n→∞ n + 2n + 1 1 = 2|x| lim 1 = 2|x| 2 n→∞ 1 + + n n2 an+1 = n→∞ an lim lim P Pelo critério da razão, se 2|x| < 1, a série an será convergente. Portanto, se − 21 < x < 12 , a ∞ X 2n n série x será (absolutamente) convergente. n2 n=1 Se x = 1 , 2 a série dada fica ∞ X 2n 1 n n=1 n2 2 ∞ X 1 = , que é uma série convergente. n2 n=1 ∞ X 1 n (−1)n Se x = a série dada fica − = , que é uma série absolutamente n2 2 n2 n=1 n=1 convergente (por quê?), logo convergente (por quê?). − 12 , ∞ X 2n Portanto, a série dada é convergente para todo x no intervalo [− 21 , 12 ]. 4 6. (1,5) Prove que se f : [0, 1] → R é uma função contínua e f (x) = 0 para todo x racional, então f (x) = 0, para todo x ∈ [0, 1]. Solução. Seja x0 ∈ [0, 1] um número irracional. O valor de f (x0 ) pode, em princípio, ser maior do que 0, menor do que zero ou igual a 0 (tricotomia). (i) Suponhamos f (x0 ) > 0. Como, por hipótese, f é contínua em x0 , dado = f (x0 ), existe δ > 0 tal que f (x) ∈ ]f (x0 ) − , f (x0 ) + [, para todo x no intervalo ]x0 − δ, x0 + δ[, ou seja, 0 < f (x) < 2f (x0 ), para todo x no intervalo ]x0 − δ, x0 + δ[. (1) Entretanto, como o conjunto dos racionais é denso em R, existe um racional r no intervalo ]x0 − δ, x0 + δ[, logo f (r) = 0, o que não está de acordo com (1). Assim, concluímos que f (x0 ) não pode ser maior do que 0. (ii) Suponhamos f (x0 ) < 0. Neste caso, podemos tomar = −f (x0 ) e, de modo análogo, chegar a uma contradição. De (i) e (ii), concluímos que f (x0 ) = 0. 5