O «problema oriental» do Ocidente (1)
• A ideia estabelecida entre nós de uma supremacia
europeia baseia-se nos avanços da Renascença, da
revolução científica do séc. XVII e do Iluminismo, que
permitem explicar, nesse sentido, a ênfase no
conhecimento, na razão, no poder e no comércio.
• Considerava-se tradicionalmente que as sementes
destes acontecimentos tinham origem num passado
remoto, na estrutura da própria cultura, na herança
dos Gregos e na adopção do cristianismo.
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1
O «problema oriental» do Ocidente (2)
• O contraste entre Ásia e Europa, com a respectiva
desvalorização do Oriente, tem uma origem antiga na
história do Ocidente.
• O conflito entre Gregos e Persas (década de 490 a. C.
e 480-79 a.C.) fez com que os asiáticos fossem
associados a uma autoridade despótica e «à imagem de
um esplendor bárbaro» [Goody].
• Na Política, Aristóteles considerou-os mais servis que
os outros povos e Montesquieu (1689-1755) opôs o
«génio da liberdade» europeu ao espírito da servidão
asiático.
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2
O «problema oriental» do Ocidente (3)
• No seguimento da expansão do comércio europeu,
nos sécs. XVII e XVIII, este antagonismo foi posto
em causa.
• O conhecimento mais aprofundado da realidade
Oriental permitido pelo contacto dos jesuítas com a
China e dos mercadores, viajantes e administradores
com a Índia não abalou, porém, a crença de
superioridade ocidental.
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3
O «problema oriental» do Ocidente (4)
• Com o advento da Revolução Industrial o contraste
político tomou um matiz mais económico, impulsionado
pelos grandes economistas britânicos.
• Adam Smith (1723-1790) considerava, n’ A Riqueza das
Nações que a pobreza das massas tem origem no facto de
a economia não se poder desenvolver ao mesmo ritmo que
o crescimento demográfico.
• A China «permanecia estacionária, negligenciando os
recursos naturais da liberdade em favor de regulações
artificiais que refreavam o progresso do comércio.» [Goody]
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O «problema oriental» do Ocidente (5)
• Karl Marx (1818-1883) igualmente realçou o estado
imóvel em que se encontrava a Ásia: uma economia
agrícola assente na irrigação e uma classe
camponesa servil dominada por um poder despótico.
• No entender de Marx, por motivos insondáveis, os
povos asiáticos não conseguiam acompanhar o
processo de desenvolvimento que os conduziria da
sociedade arcaica ao feudalismo, desta ao capitalismo
e, por fim ao socialismo.
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5
O «problema oriental» do Ocidente (6)
• Em finais do século XVIII, a Europa Ocidental encetou
um período de crescimento auto-sustentado, o que fez
com que, comparativamente, a Ásia parecesse
estática.
• Achou-se, portanto, que esta vantagem comparativa
consubstanciava uma diferença social de longa
duração.
• O Oriente não havia experimentado o crescimento do
feudalismo e o desenvolvimento dos centros de
comércio medievais, as comunas (cidade emancipada)
que se expandiram a partir do Norte de Itália e que
prenunciaram o surgimento de uma sociedade civil.
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O «problema oriental» do Ocidente (7)
• No século XIX, a ideia de Singularidade do
Ocidente consolidou-se com a expansão do
capitalismo competitivo.
• Julgava-se que a natureza estática da economia da
sociedade oriental se devia ao facto de ela carenciar
de sistemas apropriados de racionalidade, de
parentesco ou de capacidades empreendedoras,
consideradas características exclusivas do Ocidente.
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O «problema oriental» do Ocidente (8)
• Max Weber (1864-1920), sociólogo, pensava que a
Europa tinha sistemas próprios de racionalidade e
de ética económica que favoreceram o fomento do
capitalismo.
• Ainda segundo o mesmo autor, na Ásia o
desenvolvimento do capitalismo foi tolhido pelo
sistema de castas e de parentesco, bem como pela
ética religiosa.
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8
O «problema oriental» do Ocidente (9)
• Estes argumentos - que pretendem ser o Ocidente
possuidor de uma vantagem de longa duração - não
conseguiram, contudo, explicar porque é que na Idade
Média o Oriente se revelou superior ao Ocidente em
inúmeros domínios.
• Aliás recentemente o crescimento acelerado das
economias, da tecnologia e dos sistemas de
conhecimento primeiro no Japão e, na actualidade, em
vários países da região (e. g. China), vieram subverter
esta teoria.
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O «problema oriental» do Ocidente (10)
• A China nunca (até muito recentemente!) desenvolveu
o capitalismo, só conseguindo industrializar-se através
do comunismo que conseguiu libertá-la da
dependência do capitalismo externo.
• Mas o Japão é já há algumas décadas uma das
nações mais desenvolvidas do mundo…
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10
Fig. 7: A guerra do ópio
(1ª Guerra: 1839-42; 2ª Guerra:1856-60)
Fonte: ve.kalipedia.com
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11
O «problema oriental» do Ocidente (11)
• Tal singularidade era explicável, segundo alguns autores,
devido «às grandes orientações ético-religiosas do
Japão anterior à restauração Meiji» [Goody],
• Tais orientações constituíram um estímulo ao
desenvolvimento económico e social japonês comparável
ao do protestantismo no Ocidente.
• Outros autores consideraram que na Ásia Oriental, que era
incapaz de proceder à nossa maneira, se tinha formado um
tipo original de capitalismo (colectivista) característico de
regimes não democráticos e culturas não-individualistas.
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12
O «problema oriental» do Ocidente (12)
• Para Goody, as grandes realizações do Ocidente não
devem continuar a ser vistas como aspectos de longa
duração ou mesmo eternos das culturas ocidentais, mas
antes «movimentos pendulares que ao longo do último
milénio têm afectado essas sociedades.»
• Em consequência deste domínio, os sistemas
europeus nas áreas da produção industrial, da actividade
intelectual (escolas e universidades), da saúde, do
governo burocrático e - em alto grau - a cultura em geral,
estabeleceram-se com adaptações, pelo mundo inteiro.
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13
O «problema oriental» do Ocidente (13)
• Autores têm atribuído à Europa uma capacidade de
modernização que outras regiões teriam somente
copiado.
• Porém, a economia da Europa medieval floresceu devido,
não tanto à sua capacidade de invenção, mas pela sua
capacidade de aprender, de imitar, de dominar certas
utensílios e técnicas de outras regiões do mundo, de as
tornar mais eficazes ou de utilizá-las para fins diversos.
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14
O «problema oriental» do Ocidente (14)
• Nenhuma região do mundo dispõe de características
singulares e perenes que lhe permitam, por si só,
inventar ou adoptar as evoluções cruciais da
humanidade.
• As mesmas explicações devem ser usadas para
analisar quer a antiga superioridade do Oriente,
quer os sucessos mais recentes do Ocidente.
• Um certo etnocentrismo levou autores ocidentais a
empolar o papel das determinantes sócio-culturais
profundas, a despeito das provas existentes.
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15
O «problema oriental» do Ocidente (15)
• O confucionismo (sistema filosófico chinês) outrora
considerado um entrave ao progresso, é hoje visto
como um seu motor.
• Determinados elementos da tradição ocidental «um
activismo notável, uma capacidade racional de
inovação e um sentido de autodisciplina» são agora
tomados como pertencendo à civilização do
Extremo Oriente.
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16
O «problema oriental» do Ocidente (16)
• Por vezes existe a tendência (errada) de considerar
só dois tipos de sociedade: modernas e tradicionais,
avançadas e primitivas; sociedades que adoptaram o
capitalismo industrializado e aquelas que se
quedaram por um capitalismo pré-industrializado.
• De igual modo, não se deve incluir as grandes
sociedades asiáticas e africanas numa mesma
categoria, «tanto do ponto de vista do
desenvolvimento contemporâneo, como da história
das culturas.» [Goody]
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O Oriente no Ocidente (1)
• Uma análise comparativa falsa entre Oriente e Ocidente
pode prejudicar igualmente a compreensão que o
Ocidente tem de si próprio.
• Pode-se ver a história do território euroasiático de duas
maneiras: sublinhando a divisão entre os dois
continentes, com duas tradições eminentemente
diferentes: a ocidental e a oriental. Ou colocando a
tónica na herança comum da Idade do Bronze.
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O Oriente no Ocidente (2)
• A tradição ocidental deriva, como já vimos, da
herança clássica das sociedades mediterrânicas da
Grécia e de Roma, que terão sido sublimadas com o
Renascimento, a Reforma, o Iluminismo e a
Revolução Industrial da Europa Ocidental.
• Na Ásia, segundo os orientalistas, o tribalismo
prevaleceria arraigado nos povos.
• Porém, para Goody, pode-se valorizar uma herança
comum aos dois espaços da Eurásia desde a
revolução urbana da Idade do Bronze (3000 a.C.1300-700 a.C.).
•
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19
Fig. 8 – Eurásia
Fonte: wikipédia
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O Oriente no Ocidente (3)
• Nessa Era introduziram-se novos meios de
comunicação (a palavra escrita), novos meios de
produção (uma agricultura e um artesanato evoluídos
com a metalurgia, o uso do arado, etc.).
• Assim, ainda segundo Goody, a linha de separação
entre Europa e Ásia foi sobrevalorizada ocorrendo a
uma série de deformações e de distorções na
compreensão do Oriente e do próprio Ocidente.
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21
O Oriente no Ocidente (4)
• É impossível explicar o avanço temporário –
modernização - atribuindo vantagens permanentes a
cada um dos lados.
• O processo de modernização ocidental, como vimos,
teria ficado ligado à emergência de um modelo de
cidade politicamente organizada, que assegurou
algumas liberdades aos seus habitantes e distinguiu
esfera privada de esfera pública.
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O Oriente no Ocidente (5)
• Igualmente a cidade foi o lugar onde triunfou a
racionalidade, tanto a nível jurídico como económico.
Tendo-se preparado o caminho, na Idade Média, para
uma primeira forma de capitalismo.
• O primeiro modelo de cidade aqui aduzido estabeleceuse com a comuna do Norte de Itália no século IX, e foi
posteriormente difundido por toda a Europa Ocidental.
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23
O Oriente no Ocidente (6)
• Não obstante, na Índia, Ahmadabad, já possuía o
essencial das características supostamente exclusivas
das congéneres europeias.
• Algumas cidades indianas e chinesas ofereciam já um
ambiente adequado à expansão das trocas
comerciais e «um futuro terreno de aterragem para a
produção manufactureira e o saber
ocidentais»[Goody].
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24
O Oriente no Ocidente (7)
• No que diz respeito ao desenvolvimento protoindustrial, algumas regiões do extenso Império Chinês
estavam bem mais avançadas nos finais da Idade
Média do que a Europa.
• Quando Marco Polo, no séc. XIII, chegou à capital do
sul da China, julgou que Hang-chou era a maior
cidade do mundo, uma cidade onde o progresso
económico não era em nada comparável ao que era
conhecido na Europa.
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25
As viagens de Marco Polo
Fonte: wikipédia
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26
O Oriente no Ocidente (8)
• Na China, a horticultura estava muito desenvolvida,
bem como os rituais, os espectáculos e as artes em
geral, mas também as suas pesquisas técnicas e
científicas (e.g. invenção da bússola, pólvora,
imprensa).
• Ainda que tenham limitado a sua participação no
comércio marítimo depois das grandes viagens do
séc. XV (por todo o Oceano Índico e a África
Oriental), os Chineses beneficiavam de um mercado
interno mais vasto do que a Europa.
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27
O Oriente no Ocidente (9)
• A intensidade da produção de tecidos, sobretudo
rural, de uma mão-de-obra doméstica e assalariada é
representativa da riqueza chinesa.
• Assim sendo, a produção asiática estava longe de
passar por um momento de estagnação. Antes do
século XV já existiam oficinas e fábricas, muitas
delas organizadas pelo Estado.
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28
O Oriente no Ocidente (10)
• Durante a dinastia Tang (618-907) e Sung (960-1279),
era o governo que recrutava trabalhadores no
mercado livre.
• Enquanto indústrias como a do armamento estavam
nas mão do governo, outras como a da exploração
mineira e siderurgia eram amiúde privadas.
• A indústria têxtil chinesa que, no caso das sedas de
maior qualidade, era exercida por artesãos e
trabalhadores das cidades foi uma actividade sazonal
secundária exercida durante mais de 2000 anos.
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29
Pintura chinesa do século XII
mostrando mulheres fabricando seda
Fonte: wikipédia
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30
O Oriente no Ocidente (11)
• A cultura comercial do algodão foi introduzida na
China nos finais do séc. XII. A produção era desigual
de região para região.
• O mercado dos tecidos de algodão estava centrado
em Xangai, sendo posteriormente os produtos
distribuídos para as regiões mais remotas do país,
através de agentes locais e de mercadores itinerantes
que acumulavam um capital avultado.
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31
O Oriente no Ocidente (13)
• Cerca de 1730, as exportações de algodão
chegaram à Europa e à América do Norte e do Sul,
antes que a concorrência da indústria europeia, em
1833, redundasse no seu declínio drástico.
• De acordo com Goody, «os saberes e as artes da
China e do Japão estavam ao mesmo nível do
Ocidente, grosso modo até pelo menos ao século XV
e, em certos domínios, estavam mais desenvolvidos.»
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32
O Oriente no Ocidente (14)
• Assim, as realizações da Antiguidade não forneceram
ao Ocidente uma vantagem permanente até à época
contemporânea.
• Os mil anos que constituíram a Idade Média,
testemunharam um recuo da Europa em diversos
domínios: conhecimento, artes e economia.
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33
O Oriente no Ocidente (15)
• A longo prazo, verificou-se uma alternância nos
progressos (movimento pendular) ou evoluções
comparáveis (que podiam ser adoptadas ou ocorrer em
paralelo) decorrentes dos conhecimentos comuns
adquiridos nas duas regiões durante a Idade do Bronze.
• Existiam factores que impediam ou favoreciam os
avanços.
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34
O Oriente no Ocidente (16)
• Os obstáculos podiam ser: uma invasão exterior,
convulsões internas, interferência da Igreja ou Estado
ou, tão-só força da inércia.
• Os progressos podiam ser favorecidos por novos
meios de produção ou de comunicação, novos
avanços nos conhecimentos teóricos ou práticos,
novos recursos, etc.
• O movimento pendular continua ainda nos nossos
dias: o Oriente está na iminência de se tornar o farol
da economia mundial.
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35
O Oriente no Ocidente (17)
• A China testemunhou progressos a nível da botânica,
produzindo inúmeras espécies de plantas
ornamentais (que só posteriormente seriam
introduzidas no Ocidente), graças a técnicas de
horticultura intensiva.
• No séc. IV, a botânica chinesa era aproximadamente
igual (pelo menos em número de espécies
identificadas) à de Teofrasto, discípulo de Aristóteles.
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36
O Oriente no Ocidente (18)
• Na Alta Idade Média (410-1050), o conhecimento da
botânica no Ocidente estagnou e declinou, só chegando
ao nível oriental com os botânicos alemães do séc. XV.
• O estudo das estruturas matemáticas inicia-se com as
civilizações da Mesopotâmia, China e Índia. Como tal não
lhes faltava a mentalidade matemática!
• Na matemática registaram-se avanços paralelos, ainda
que distintos, no Oriente e no Ocidente que contribuíram
para o desenvolvimento de outras ciências.
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37
O Oriente no Ocidente (19)
• Quanto à geometria, o seu desenvolvimento inicial
aconteceu na Mesopotâmia e no Egipto, ainda que
esta disciplina só se tenha imposto e sistematizado no
mundo grego. A primeira geometria chinesa não
chegou ao apuro atingido pela civilização grega.
• Todavia, as matemáticas chinesas, nos primeiros
séculos da Idade Média, eram as mais avançadas do
mundo e o seu declínio posterior é um enigma.
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38
O Oriente no Ocidente (20)
• O que terá subjazido ao êxito do Ocidente terá sido «o
desenvolvimento de uma perspectiva científica única»
[Goody] ou mesmo possivelmente uma mentalidade.
• Existe alguma discussão quanto ao local e ao
momento da revolução do conhecimento na Europa.
• Os medievalistas ressalvam a importância do século
XIII, os historiadores da época moderna, valorizam o
Renascimento e períodos sequentes. Os filósofos
enfatizariam o desenvolvimento do ensino na Época
das Luzes.
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39
O Oriente no Ocidente (21)
• Até à aparição da ciência moderna, a China estava
muito mais avançada do que a Europa em domínios
como a matemática e a astronomia, a teoria das
marés, a geografia humana, a cartografia quantitativa
e a paleontologia.
• Na Europa, a Reforma implicou uma emancipação
dos actores sociais e culturais em relação aos
contrangimentos (explícitos: censura/ implícitos:
controlo dos sistemas de conhecimento) impostos
pelo regime estabelecido.
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40
O Oriente no Ocidente (22)
• A rejeição da autoridade papal, traduziu-se para a
Inglaterra e Holanda, na possibilidade de afrontar os
monopólios comerciais que o Papa tinha atribuído a
Espanha e Portugal, na África Ocidental e em outras
regiões.
• Os mercadores destes países deixaram de estar sob
tutela eclesiástica e ficaram livres para vender
qualquer mercadoria, não importando em que região.
Criou-se assim tanto na Ásia como na Europa uma
cultura mercantil específica.
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41
O Oriente no Ocidente (23)
• No século XIV, a China dispunha de máquinas de
fiar cânhamo que podiam ser accionadas pelo
homem, pelo animal ou por uma roda hidráulica.
• O facto da revolução industrial não ter sucedido antes
na China deve-se, segundo Elvin (apud Goody) à
«paralisia no ponto de equilíbrio do nível elevado
atingido.»
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42
O Oriente no Ocidente (24)
• Certos autores explicam também o sucesso do Ocidente
opondo a escrita alfabética grega (morfologicamente
mais desenvolvida) aos sistemas logográficos
chineses (menos flexíveis).
• Contudo, tanto uma escrita como a outra permitiram a
«acumulação, sintetização e a formalização de
saberes» [Goody].
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43
O Oriente no Ocidente (25)
• O facto de tanto na Europa, como na Ásia terem
prosperado, nas sociedades urbanas da Idade do
Bronze, a escrita, a agricultura e o artesanato,
contrasta com África.
• Este último continente não tinha neste período nem
agricultura avançada nem escrita (excepto nas
regiões sob a influência do Islão.)
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44
O Oriente no Ocidente (26)
• O aparecimento de culturas específicas permitido
pela diferenciação hierárquica que decorre da
obtenção de lucro numa economia excedentária e da
diferenciação de acesso aos recursos, levou a que a
sociedade se complexificasse (vd. Módulo 1).
• Estas contradições não ocorrem em sociedades sem
escrita, como em África, permanecendo implícitas,
enquanto que nas sociedades euro-asiáticas elas são
vertidas na palavra escrita «atingindo uma
proeminência e um poder reflexivo muito maiores.»
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45
O Oriente no Ocidente (27)
• A Renascença testemunha uma grande expansão da
actividade mercantil da Europa.
• Seguiu-se, no séc. XVIII, o desenvolvimento de um
capitalismo industrial de grande escala (i.e. uma
produção em massa baseada na utilização de máquinas
hidráulicas e a vapor) no Ocidente.
• Os historiadores, porém, situam o início do capitalismo em
Veneza, depois do século XII. Mas o comércio aí praticado
não diferia muito da actividade levada, durante séculos, a
cabo por outras comunidades (inclusive chinesas.)
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46
O Oriente no Ocidente (28)
• O fundamental da ciência dos Gregos, não se
prende com o facto de terem sido eles a inventar a
medicina, as matemáticas ou a astronomia (o que de
resto não é verdade).
• Os Gregos foram sim os primeiros no Ocidente, a
envolverem-se «numa reflexão sobre os estatutos, os
métodos e a fundação da investigação científica, os
primeiros a levantar questões de ‘segundo grau’.»
[Lloyd apud Goody]
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47
O Oriente no Ocidente (29)
• A reflexão científica foi promovida pela escrita que
favoreceu uma auto consciência e um processo de
explicitação do implícito.
• As dificuldades inerentes à escrita cuneiforme
mesopotâmica podem ter desencorajado reflexões
discursivas sobre os métodos anteriores à civilização
grega.
• A auto consciência tem, indubitavelmente, muitas raízes na
cultura grega. A argumentação explícita, vai ser
favorecida pelo uso da escrita, do alfabeto e do papiro.
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48
Fig. 9 – Escrita cuneiforme e alfabeto grego
Fonte: http://www.moodle.univ-ab.pt
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49
O Oriente no Ocidente (30)
• A noção de demonstração exacta, segundo Lloyd
(citado por Goody), pelo menos na geometria, foi uma
invenção grega.
• Os Indianos também desenvolveram uma geometria,
para erigirem os seus templos, actividade na qual
revelaram um verdadeiro domínio dos «problemas
relacionados com as superfícies dos quadrados, dos
rectângulos, dos trapézios e dos triângulos rectos.»
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50
O Oriente no Ocidente (31)
• Os sulbasutras (tratados indianos redigidos entre 500
a.C. e 100 a. C.), estavam preocupados com os
resultados práticos, pelo que não versaram os
métodos de demonstração;
• Os Indianos não conseguiram distinguir resultados
aproximativos de um resultado exacto.
• De acordo com Lloyd, os gregos teriam estabelecido
uma distinção explícita entre os enunciados
metafóricos e os enunciados literais.
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51
O Oriente no Ocidente (32)
• Os Egípcios, os Babilónios, os Indianos e os Chineses
teriam desenvolvido uma protociência.
• Platão e Aristóteles ao rejeitar a metáfora (através do
silogismo em Aristóteles) teriam fundado um novo estilo
de investigação.
• Outras diferenças seriam a ênfase dada pelos gregos à
dialéctica (arte do diálogo, da contraposição e contradição
de ideia que leva a outras ideias) «sobre a lógica formal
nos modos de argumentação, ou da investigação empírica
sobre a teorização especulativa abstracta.» [Goody]
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52
O Oriente no Ocidente (33)
• As diferenças espelhariam uma herança e uma
experiência politica diferentes.
• As similitudes entre China e Grécia: o mesmo grande
interesse pela moral, pela filosofia natural, pelas
matemáticas, medicina, astronomia, por certos aspectos
da lógica, da epistemologia e da crítica literária.
• Da história chinesa poderíamos também referir - com
Lloyd - outras semelhanças: os raciocínios derivados da
reflexão, o eclodir de tradições de pensamento críticas e
cépticas, e de uma procura explícita da inovação,etc.
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53
O Oriente no Ocidente (34)
• Tais similitudes resultarão do facto de ambas as
sociedades terem beneficiado das consequências da
revolução da Idade do Bronze. No âmbito intelectual
essas consequências derivam do desenvolvimento da
escrita.
• Do ponto em cima descrito decorreria a explicitação
do implícito levando o indivíduo a confrontar-se com
as suas próprias palavras.
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O Oriente no Ocidente (35)
• Como já vimos, as causas aduzidas pelos
investigadores para explicar as diferenças de
evolução destas sociedades foram atribuídas a uma
série de factores tidos como exclusivamente
ocidentais.
• Estes factores foram: o individualismo, uma
racionalidade específica, o espírito de iniciativa
empresarial e um determinado tipo de estrutura
familiar.
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O Oriente no Ocidente (36)
• Contudo, segundo Goody, uma boa parte do
desenvolvimento económico indiano deveu-se a
firmas familiares, o que levou a falar-se de um
capitalismo colectivista distinto do capitalismo
individualista ocidental.
• Para Goody porém a participação de um círculo de
parentesco alargado numa mesma empresa
económica revelou-se muitas vezes um trunfo.
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O Oriente no Ocidente (37)
• Porém, na sociologia germano-americana houve uma
forte tendência para considerar a família como uma
«realidade corroída da modernidade» [Goody].
• A modernidade teria testemunhado uma substituição
das redes de parentesco pelos laços fundados nas
trajectórias individuais.
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O Oriente no Ocidente (38)
• Para Goody, antropólogo, os avanços mais relevantes
da modernização económica, prenderam-se com uma
produção extensiva de mercadorias – daí derivando
as carências da África Negra, cujo volume de
produção sempre foi e continua a ser assaz limitado.
• Estes avanços estiveram ligados aos progressos da
informação e da tecnologia , eles próprios
dependentes de uma acumulação de conhecimentos,
permitida pelas mutações dos meios de comunicação
(i. e. representação gráfica das palavras)
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O Oriente no Ocidente (39)
• O capitalismo mercantil teve vários inícios: na China,
entre os Semitas (e.g. árabes e judeus), Indianos e
católicos italianos.
• Não se deve, contudo, confundir os elementos sociais e
culturais que permitiram uma industrialização avançada
(que aconteceu no Ocidente) e aqueles que autorizaram
o seu primeiro impulso.
• O factor decisivo é a capacidade de utilizar uma nova
tecnologia e não tanto a sua invenção (e.g. empréstimo
inglês da tecnologia do ferro alemã do séc. XVI.)
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