GEOPOLÍTICA DO CONHECIMENTO E INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: COMO CONSOLIDAR UMA INTERNACIONALIZAÇÃO ATIVA? FABIO BETIOLI CONTEL DEPTO. DE GEOGRAFIA FFLCH/USP SETEMBRO DE 2015 O CONCEITO DE “GEOPOLÍTICA” E A “GEOPOLÍTICA DO CONHECIMENTO • A história da geopolítica e seu resgate crítico e progressista • Geopolítica: projeção de poder e organização dos territórios • A “geopolítica do conhecimento” atual • “Conhecimento é poder” • “Estudos pós-coloniais” (Walter Mignolo) • A “revolução técnico-científica” (1945) e o conhecimento como fator produtivo “estratégico” FATORES DETERMINANTES DA INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR • As principais mudanças recentes • Maior mobilidade dos fatores (Pessoas - docentes, pesquisadores, alunos, técnicos , e “Serviços” cursos, serviços, “conteúdos”) • Maior influência de Instituições/Acordos Multilaterais (OMC, OCDE, Banco Mundial, Processo de Bologna) • Dois tipos principais de internacionalização • Acadêmica ou “cooperativa” • “Mercantil” ou “competitiva” (instituições de ensino privadas/necessidades das empresas e dos Estadosnação do centro do sistema-mundo) AS POLÍTICAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO LIGADAS AS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL • Ideia de “cooperação acadêmica” (convênios, acordos bilaterais, programas conjuntos, iniciativas individuais ligadas à projetos, etc.) e a centralidade da pesquisa e formação de recursos humanos • O papel consolidado das Universidades Públicas e das instituições federais e estaduais de fomento(CNPq, CAPES, FAPESP, etc.) • Os diferentes graus de institucionalização da internacionalização segundo as universidades POLÍTICAS FEDERAIS RECENTES DE INTERNACIONALIZAÇÃO ATIVA • Criação das Universidades ligadas à integração continental • UNILA (Universidade Federal da Integração Latinoamericana) – Foz do Iguaçú (PR) • UNILAB (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) – Redenção (PA) • UNIAM (Universidade Federal da Integração Amazônica) – Santarém (PA) • Programa Ciência sem Fronteiras (2011) • 65% das bolsas destinadas à alunos de graduação • Previsão de 101.000 bolsas – 87.364 bolsas concedidas A INTERNACIONALIZAÇÃO EM MOLDES COMPETITIVOS: FATORES DETERMINANTES • A concentração das IESs de maior prestígio e das sedes das empresas (headquarters) e de seus laboratórios de pesquisa (P&D) • A influência na OMC para a liberalização dos investimentos externos na área da educação e livre trânsito de pessoas e serviços (GATS) • A expansão recente das IESs privadas dos países ricos • Compras, fusões/aquisições (Apollo Group, Laureate, De Vry) • Recurso ao ensino à distância e lógica contábil • A internacionalização/padronização dos conteúdos (indústria editorial) • O Processo de Bologna (1999) A EUROPA E O PROCESSO DE BOLOGNA (1999) • Contexto de aumento da competição internacional (EUA – Europa – URSS/Ásia) • Objetivo : criação de um sistema pan-europeu de educação superior competitivo “e atrativo para estudantes europeus e de países terceiros”(CATANI et alli, 2007, p.10) • A busca da “convergência normativa e estrutural” • Redução da duração dos cursos de graduação (três anos) • Adoção de políticas de avaliação standards e “internacionais” (rankings, relação aluno/professor, número de patentes registradas etc.) • Sistema de validação de créditos interinstitucional (European Credit Transfer and Accumulation System (ECTS)) • Promover maior mobilidade entre os atores dentro da União Européia (Programa Erasmus) • Aumentar a atratividade de “cérebros” de outros países (Erasmus Mundus e Programa Alban) QUADRO : AS PRINCIPAIS FORMAS RECENTES DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR SEGUNDO O GATS (OMC) Classificação segundo Tipo de mobilidade o GATS geográfica Exemplos Consumo do serviço no exterior Mobilidade estudantil internacional Cursos de língua fora do país; “estágios” na graduação/pósgraduação Prestação de serviço no exterior Mobilidade de “acadêmicos” (professores, pesquisadores e técnicos) Presença de pessoas físicas de um país para a execução do serviço em outro território Oferta transfronteiriça do serviço (crossboder supply) Mobilidade de programas de ensino Educação à distância; aplicação de testes e sistemas de avaliação Presença comercial Migração da instituição prestadora Instalação de campi (branch campus); jointventures com instituições locais) A MENSURAÇÃO DA MOBILIDADE ESTUDANTIL INTERNACIONAL Tabela: Evolução do número de alunos de 3º Grau matriculados fora de seu país (1975-2014) Ano No. de alunos 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2014 800 1.100 1.100 1.300 1.700 2.100 3.000 4.200 4.400 4.500 4.500 Fonte: OCDE. Education at a Glance. 2014; IIE. Atlas of Student Mobility . 2014. • Principais países hospedeiros (2012): EUA (16%), Reino Unido (13%), Alemanha (6%), França (6%), Austrália (6%), Canadá (5%), Rússia (4%), Japão (3%) e outros (41%) (OCDE, 2014) Tabela: Principais países de destino dos estudantes internacionais (2012-2013) 2012 Estados Unidos Grã-Bretanha China França Alemanha Austrália Canadá Japão Fonte: IEE. Atlas of Student Mobility. 2014 2013 % de estudantes internacionais no total 819.644 886.052 4 488.380 481.050 20 328.330 356.499 1 289.274 295.092 12 265.292 282.201 11 245.531 247.093 20 214.955 237.635 12 137.756 135.519 4 ESTADOS UNIDOS: 20 PRINCIPAIS PAÍSES DE ORIGEM DOS ESTUDANTES INTERNACIONAIS (2011/12 2013/14) % País de origem 2011/12 2012/13 2012/2013 % crescimento MUNDO (TOTAL) 1 China 2 India 3 Coréia do Sul 764.495 194.029 100.270 72.295 819.644 235.597 96.754 70.627 886.052 274.439 102.673 68.047 100 31 11,6 7,7 8,1 16,5 6,1 - 3,7 4 Arábia Saudita 34.139 44.566 53.919 6,1 21,0 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Canadá Taiwan Japão Vietnam México Brasil Turquia Irã Grã-Bretanha Alemanha França 26.821 23.250 19.966 15.572 13.893 9.029 11.973 6.982 9.186 9.347 8.232 27.357 21.867 19.568 16.098 14.199 10.868 11.278 8.744 9.467 9.819 8.297 28.304 21.266 19.334 16.579 14.779 13.286 10.821 10.194 10.191 10.160 8.302 3,2 2,4 2,2 1,9 1,7 1,5 1,2 1,2 1,2 1,1 0,9 3,5 - 2,7 - 1,2 3,0 4,1 22,2 - 4,1 16,6 7,6 3,5 0,1 16 17 18 19 20 Nepal Hong Kong Nigéria Indonésia Tailândia 9.621 8.032 7.028 7.131 7.626 8.920 8.026 7.316 7.670 7.314 8.155 8.104 7.921 7,920 7.341 0,9 0,9 0,9 0,8 0,8 - 8,6 1,0 8,3 3,3 0,4 Fonte: Institute for International Education. Open Doors. 2015 AS POLÍTICAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO EM MOLDES COMPETITIVOS: A RATIONALE DA MOBILIDADE ESTUDANTIL • A educação superior como “produto para exportação” e para o financiamento das IESs nacionais (EUA, Grã-Bretanha, Austrália, Nova Zelândia) • A demografia universitária nos países do centro do sistema-mundo • Sistemas nacionais de ensino superior consolidados • demanda em declínio + capacidade instalada ociosa + atração internacional • O impacto local dos gastos de estudantes estrangeiros nos países centrais: • Taxas de matrícula/manutenção • Gastos cotidianos (aluguel, alimentação, transporte, lazer etc.) • • • • Gastos de estudantes estrangeiros nos EUA (Open Doors, 2014): 2012: US$22,7 bilhões 2013: US$27,0 bilhões Origem do recurso: 73% é pago com recursos do país de origem • 65%: Família ou poupança pessoal • 8%: governo/universidade do país de origem O RETORNO DOS ESTUDANTES/PESQUISADORES E A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO • “Vantagens individuais” X “vantagens públicas” da maior mobilidade dos atores (docentes, pesquisadores e alunos) • Os estudantes retornados como “embaixadores informais” (incorporação de padrões políticos, culturais, ideologias, comportamentos de consumo etc.) • A difusão das línguas hegemônicas (consolidação do inglês como a nova língua franca) • A disponibilidade de mão-de-obra qualificada para o trabalho nas filiais das multinacionais do país do séjour • A influência na formação da “elite nacional” dos países periféricos (decisões estratégicas em órgãos públicos e empresas privadas) CONSIDERAÇÕES FINAIS • O conhecimento como um bem público e estratégico no período da globalização • A principal questão das universidades públicas: educação de excelência com democratização do acesso • O papel atual das universidades na internacionalização ativa • Estimular relações “sul-sul” • Criar polos de desenvolvimento na periferia do sistemamundo • Maior influência nas decisões que tangem a internacionalização (da competição à cooperação)