Em busca de uma nova Maré
O Rio Como Vamos acredita que o pessoal da Maré, quando vir esses números, vai
querer fazer alguma coisa para melhorar. Na verdade, as pessoas já estão se mexendo.
Muitas perguntas surgem quando se vê esses números. O Rio Como Vamos levanta
apenas duas que considera muito importantes:
• As autoridades públicas têm algum plano ou proposta para diminuir a violência na
Maré? Caso tenham, que tal mostrar para o
povo da Maré? Se não tiverem, que tal começar a preparar e executar?
• Como as organizações e a comunidade da
Maré podem usar esses números levantados
pelo Rio Como Vamos para se organizar, mobilizar e atuar contra toda essa situação dolorosa? Quem pode ser parceiro do pessoal da
Maré nessa luta?
O Rio Como Vamos quis mostrar esses números violentos achando que pode ajudar
a comunidade da Maré. Mas sabe que há mais coisas acontecendo e que não aparecem nesses números. Podemos lembrar algumas:
• Como está a violência
nas escolas da Maré? Quais
os principais tipos de violência que acontecem nas escolas, e contra quem?
• Mulheres e crianças são ví• Tem gente embriagada
timas de violência muitas vezes dirigindo pela Maré? Já feridentro da própria casa. E geral- ram ou mataram alguém?
mente não são feitas queixas ou
denúncias. Como é isso na Maré?
O Rio Como Vamos foi criado para juntar as informações sobre a cidade do Rio de
Janeiro e mostra-las à população. Mas não para por aí. Quer denunciar, quer cobrar e
quer ajudar a melhorar. A Maré é muito importante para nós.
Maré em números
Violência e Segurança Pública
Rio de Janeiro, junho de 2009
Números na mão, propostas em mente
Este informativo inédito, publicado pelo Movimento Rio Como Vamos,
apresenta um conjunto de
informações que ajudam
a conhecer melhor e entender mais a violência que atinge a a
Região Administrativa Maré. Ele se dirige especialmente a você, cidadão, morador de uma das 16 comunidades do
complexo, que com esses dados terá em
mãos um retrato, em branco e preto, das
ocorrências de violência no local onde
vive e poderá compará-lo com outros
bairros da cidade, ou mesmo com a média carioca da ocorrência desses crimes.
Espera-se que, com essas informações em mãos, os moradores tenham
um documento que prove, de forma
incontestável, sua dura realidade e que
sirva como um dos instrumentos de
uma forte mobilização e ação da comunidade, visando a diminuir os efeitos trágicos da violência na Maré.
O que se pretende com esse informativo:
Informação Conhecimento Ação
Os números são feios. Muito feios.
Eles retratam alguns aspectos da violência vivenciada pelos moradores da
Maré. Através deles, podemos entender
um pouco mais o que está acontecendo.
E se a gente conhece mais, pode cobrar
mais e melhor do poder público o de-
Vista de satélite
do Complexo
da Maré
senvolvimento de políticas e ações eficientes para a mudança desta realidade
tão ruim para a comunidade da Maré
A Região Administrativa da Maré (XXX
RA Maré) foi criada em 1986 e delimitada
dois anos depois. Em 1994 foi então criado o bairro da Maré, com a mesma área
da RA. Assim, quando falamos em RA
Maré, estamos nos referindo ao Bairro da
Maré, com sua população estimada para
2009 em 126.632 habitantes.
Os números aqui apresentados
foram tirados do livro RIO COMO VAMOS: Indicadores da Cidade, lançado
em setembro de 2008 e disponível no
site www.riocomovamos.org.br. Foram
fornecidos pelo Instituto de Segurança
Pública do Rio de Janeiro (ISP) e pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Entender esses números não é difícil. Os valores mais elevados mostram
as piores situações de violência; ou seja,
quanto maior o número, pior a realidade vivida pelos moradores do bairro.
Os dados são calculados para grupos
de cem mil habitantes. Por exemplo:
em 2007, para cada cem mil habitantes,
aconteceram 49 crimes que resultaram
em mortes. Como os delitos são registrados por delegacias, que atendem a
mais de um bairro ou Região Administrativa, as informações da Maré tiveram
que ser calculadas juntamente aos dados de Ramos.
Editorial
Rio Como Vamos
Presidência executiva: Rosiska Darcy de Oliveira; Coordenadoria executiva: Thereza Lobo; Assessoria técnica: Débora Santana
de Oliveira; Auxiliar técnica (estagiária): Julia Fontes; Assessoria de comunicação: Elaine Duim e Jaqueline Moraes; Assessoria
administrativa: Julia Proença. Endereço: Rua Anfilófio de Carvalho, nº. 29, sala 1212. Centro – Rio de Janeiro/RJ
CEP: 20030-901 – Tels: 55 21 2511-8435 / 2210-1215 / 2210-1219 – www.riocomovamos.org.br.
Desenvolvimento do sistema de indicadores do Rio Como Vamos: Kairós Desenvolvimento Social.
Produção gráfica deste informativo: Lionel Mota; Impressão: Tesouro Laser.
O Rio Como Vamos quer contribuir para melhorar a qualidade de vida dos cariocas. Nossos dados
sobre diferentes aspectos da vida de um bairro são
confiáveis e permitem, se os acompanharmos, saber
se a vida ali está melhorando ou piorando. São um
instrumento de ação que não tem vida se não for
utilizado pela população.
A segurança é essencial para uma boa qualidade
de vida. Como vai a segurança na Maré? Melhora?
Piora? Como pode melhorar? Este informativo apresenta os dados que colhemos e será útil àqueles que
quiserem construir uma vida melhor no lugar em
que moram. Esperamos que sejam muitos e desejamos que sejam todos.
Informação é poder.
Muitas vidas roubadas
A violência que cresce
A que tipo de violência os moradores da Maré estão mais sujeitos
em seu dia-a-dia? Que crimes mais
se repetem e, sobretudo, mais crescem nas comunidades do bairro? Os
números provam, sem deixar espaço para contestações, o que sentem
na pele aqueles que vivem essa realidade.
Estatísticas do Instituto de Segurança Pública do Estado (ISP), feitas
com base nos registros das delegacias, juntam a Maré e a Região Administrativa de Ramos num mesmo
pacote de dados. Nessa área, os chamados crimes violentos não-fatais
(lesão corporal e tentativas de homicídio) estão entre os principais tipos
de delitos. E o pior é que os índices
não param de crescer. Em 2007, 372
pessoas em cada grupo de 100 mil
moradores foram vítimas deles. Em
2008 esse número subiu para 383.
Os números dos chamados autos de resistência, as mortes em
confrontos com a polícia, também
aumentaram bastante nesses dois
anos. Em 2007, em cada grupo de
100 mil habitantes, 13 pessoas morreram em tiroteios com policiais. No
ano seguinte, foram 17. Os crimes
sexuais (estupro e atentado violento
ao pudor) também subiram, de 11
para 15 vítimas, em cada 100 mil
moradores.
Mas as pessoas não são atingidas apenas diretamente. Outros
tipos de crime que apresentaram
crescimento no período foram os
roubos a comércio ou residências
e o furto de veículos. E o impressionante é que, em 2007, esses delitos eram os que apresentavam,
na região Maré/Ramos, alguns dos
menores índices do estado. O que
explicará o crescimento desses números?
A violência que cai
Pelos dados levantados com base
nas estatísticas do ISP, vemos que
nem todos os tipos de crimes cresceram na região Maré/Ramos nos
últimos dois anos. De modo geral, os
números provam que os delitos que
apresentaram, na região, alguns dos
índices mais altos em 2007 tiveram
uma queda para 2008. Terá sido uma
maior atenção da polícia?
Em 2007, os crimes que mais
aconteciam na área eram os roubos a pedestres. Para cada cem mil
moradores, 706 foram assaltados.
Andar pela Maré não é fácil... O índice de Maré/Ramos estava entre os
piores comparando com as demais
regiões do município. Era maior,
inclusive, do que a média de toda a
cidade, que era de 640 pessoas assaltadas em cada grupo de cem mil.
Em 2008, os números desses crimes
caíram na região.
E não foi só este delito que regrediu. Os roubos de veículos (quando
o carro é levado com violência) passaram de 545 para cada cem mil habitantes para 456. Mas não dá para
comemorar, já que o índice de Maré/
Ramos continua acima da média da
cidade. Em 2007, em todo o Rio de
Janeiro, 363 motoristas em cada cem
mil moradores ficaram sem seus car-
ros. Ano passado, foram 304. Em 2007,
Maré/Ramos ficaram na incômoda
sétima posição entre as regiões com
mais casos deste delito. Outros dois
tipos de crime que também tiveram
as ocorrências reduzidas no período
foram os roubos dentro de ônibus e
os assassinatos.
Os números fornecidos pelo ISP
não são os únicos que nos permitem
avaliar os altos índices de violência
na Maré. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), retirados dos
atestados de óbito emitidos nos hospitais públicos, mostram como vidas
estão sendo roubadas pela violência.
E o que é mais triste: como os jovens
estão perdendo seu futuro, o futuro
do Brasil.
Com essa fonte, é mais fácil separar os casos exclusivamente relacionados aos moradores da Maré.
Porém, há um problema: como as
fichas nos hospitais às vezes ficam incompletas, sem endereço da vítima,
muitos casos se perdem na contagem, fazendo com que os números
sejam menores que a realidade.
Os dados da SMS se referem ao
ano de 2006. Por eles, vemos que a
taxa de assassinatos de jovens (sexo
masculino) de 15 a 25 anos moradores da Maré foi de 163 para cada 100
mil pessoas na faixa etária. O número
não está entre os mais altos do Rio,
mas ainda assim é acima da média carioca (152). Também quando a morte
do jovem foi por intervenção legal
– equivalente ao auto de resistência
da polícia – o número da Maré (27 por
cem mil) ficou acima da média.
Ao considerarmos todas as idades, os números de homens assassinados na Maré também são altos,
mas não estão entre os maiores da cidade. No Rio Comprido, por exemplo,
os moradores tiveram em 2006 quase quatro vezes mais riscos de morrer
por violências que os da Maré. Já em
São Cristóvão, houve três vezes mais
homicídios do que no complexo.
Download

Maré em números