ANÁLISE DA APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO EM OBRAS DE EDIFICAÇÕES ATRAVÉS DO SISTEMA DE GESTÃO “LEAN CONSTRUCTION” – ESTUDO DE CASOS Fernanda Maria P. F. Ramos Ferreira*, Paulino Graciano Francischini** * Professora da FATEC-SP e Doutoranda em Eng. de Produção pela EPUSP. e-mail: [email protected]. ** Professor da EPUSP e Doutor em Eng de Produção pela EPUSP. E-mail: [email protected]. Resumo A origem de muitas das idéias representadas pelo JIT estão no trabalho de Taiichi Ohno da Toyota Motor Company. Segundo Ohno, a Toyota começou sua jornada de inovação em 1945, quando o presidente Toyoda Kiichiro exigiu que a companhia chega-se ao nível da indústria americana em três anos, sob pena de não sobreviver. Nessa época, a economia japonesa estava debilitada pela guerra, a produtividade da mão-de-obra 1/9 da americana e a produção automotiva era modesta. Foi reconhecido que o único caminho era diminuir a distância enorme de produtividade entre os dois países, através da eliminação de desperdício apontado pela diminuição dos custos. A Toyota não reduziria custos explorando economias de escala em instalações de produção de massa gigantescas como as indústrias americanas. O mercado japonês automobilístico era muito pequeno. Então, os gerentes decidiram que a estratégia tinha que possibilitar a produção de vários modelos em quantidades pequenas. O principal desafio do controle da produção era manter a suavidade do fluxo produtivo face à variedade no ‘mix’ dos produtos. Além disso, evitar o desperdício, sem criar grandes estoques. Os autores concluem que, entre o fim dos anos 40 até os anos 70, a Toyota instituiu os procedimentos e sistemas para implementação do “just-in-time” e autonomatização. O efeito global foi erguer a Toyota para uma das maiores fábricas automobilistas do mundo nos anos 90. [2] Neste trabalho, foram estudadas as aplicações das ferramentas de engenharia de produção na construção civil, mas precisamente no sistema de gestão denominado construção enxuta “lean construction”. Foram analisadas as contribuições para a melhoria do produto final e consequentemente a satisfação do cliente, além das dificuldades de implantação, em obras de edificações, realizadas na cidade de São Paulo. Palavras-chave: Construção civil, Ferramentas de qualidade, Construção enxuta. 1. Introdução Os processos de manufatura são definidos como sistemas produtivos que, através de uma operação básica transforma recursos em produtos, mudando suas formas ou composições (figura 1). Vários programas foram criados, visando à melhoria da produtividade desses sistemas, principalmente no setor automobilístico. Entre estes programas, o “lean production” revolucionou este setor, e ainda de certa forma, influenciou outros setores como o da construção civil. Neste trabalho, analisaremos o sistema de gestão “lean production” e sua influência no setor da construção civil, conhecida como sistema de gestão “lean construction”. Este sistema de gestão surgiu através do Sistema Toyota de Produção (TPS). Ambiente (mercado de fornecedores de mão-de-obra, materiais, equipamentos e consumidores). Recursos produtivos diretos (com características de qualidade e em certas quantidades) Mão-de-obra Relações entre Materiais Equipamentos O texto considera um único produto, com certa qualidade e quantidade. preços SISTEMA FÍSICO DE PRODUÇÃO (OPERAÇÕES) Tecnologia empregada Produto Produtos úteis com especificações e quantidades que satisfaçam os clientes Figura 1: Sistema físico global [1], com as categorias de itens físicos mais importantes, pelos autores. Também no Brasil o crescimento econômico retraído influencia a necessidade pela busca da redução dos desperdícios, em detrimento da sobrevivência das empresas, inclusive as de construção civil. Segundo Ferro apud Womack & Jones (1.998) [3], a difusão de técnicas de produção enxuta é fruto de um processo de criação e desenvolvimento de novos valores e premissas sobre como desenvolver, manufaturar e distribuir produtos. O Brasil é um país aberto a inovações como também para a disseminação de idéias testadas e aprovadas, advindas de culturas administrativas estrangeiras de origens distintas (americana, japonesa, alemã, inglesa, francesa, etc). Portanto, a mentalidade enxuta pode continuar a difundir-se no Brasil, principalmente no combate a preferência por proteção econômica, a falta de orientação para o futuro e a negligência na formação de recursos humanos capacitados. A Construção Civil Paulista Atual Neste trabalho, foram estudadas as aplicações das ferramentas de engenharia de produção na construção civil, com base no sistema de gestão “lean construction”, através de diversos casos reais ocorridos na cidade de São Paulo, em obras de edificações (categoria segundo ABNT NBR 8950 [4], 1985), analisando as contribuições para a melhoria do produto final e conseqüentemente a satisfação do cliente. Existem diversas características diferenciadas no setor, que dificultam o desenvolvimento dessas ferramentas de engenharia de produção e, conseqüentemente, retardam a melhoria dos sistemas de produtividade e qualidade. Entretanto, percebemos que também existe na atual construção civil paulista, uma crescente preocupação na melhoria dos processos construtivos, visando uma maior produtividade para enfrentar o aumento da competitividade do setor, e melhorando o atendimento aos clientes externos. Na opinião de Conte apud Contador et al. (1.997) [5], a indústria da construção civil passa atualmente por situações que exigem a cada instante melhores resultados a curto e médio prazo, sob pena de que as empresas participantes de sua cadeia produtiva, caso não alcancem o sucesso desejado, passem a ter dificuldades crescentes para manter a viabilização de seu negócio e mesmo a própria continuidade de suas atividades. Atualmente, segundo o mesmo autor, a vantagem competitiva de cada empresa surge com maior intensidade, não somente na definição do preço de venda ou da forma de pagamento da unidade executada, mas sim, na habilidade para gerenciar o dia-a-dia do empreendimento tendo em vista a garantia do desempenho operacional planejado, em face dos diversos imprevistos ocorridos. Além disso, segundo Jobim (2.000) [6], as empresas de construção civil, apesar do comportamento tradicional e conservador em grande número, encontram-se atualmente engajadas em programas de qualidade e preocupadas em promover melhorias, especialmente no que tange à padronização dos processos. O desenvolvimento de produtos, entretanto, baseia-se em critérios tradicionais e locais e o gerenciamento desse processo necessita de modelos adequados às características da indústria da construção. Lembra a mesma autora que, quando se trata do processo de desenvolvimento do produto edificação, este necessita ser repensado a partir dos métodos utilizados nos demais setores industriais, e que as mudanças devem iniciar no reconhecimento de que esta atividade não é simples e nem direta. Ao contrário, requer pesquisa, planejamento, controle e uso de métodos sistemáticos. De acordo com Oliveira apud Jobim (2.000), a participação de muitos intervenientes no processo de desenvolvimento do produto edificação gera um número elevado de interfaces, fazendo com que haja a necessidade de uma organização do fluxo de informação entre estes intervenientes e uma maior preocupação com a gestão das interfaces. O sistema de gestão “lean construction” Nos autores analisados é percebida a significativa contribuição da engenharia de produção à construção civil, principalmente na última década. As ferramentas de engenharia de produção encabeçaram o processo de racionalização da construção civil mundial, e hoje todo esse movimento leva a medida sistemática de redução de desperdícios. Alguns autores denominam esse movimento de “lean construction”, construção enxuta ou construção sem perdas. Scardoelli et al. (1994) [7] salienta que existe consenso entre as empresas da construção civil, de que existe a necessidade de planejar melhor a produção, definindo no planejamento operacional da produção, o seqüenciamento de determinadas operações, concentrando a produção em uma área relativamente pequena, de forma a estimular o trabalho em equipe, e facilitar o abastecimento de materiais; envolvendo não só o engenheiro da obra e o mestre de obras, mas também todos os operários. Para os mesmos autores, a rapidez do acesso às informações necessárias à realização de uma tarefa, contribui efetivamente para o aumento da produtividade. Um dos aspectos fundamentais para a agilidade dos serviços é reunir os equipamentos, materiais e instruções antes do início do trabalho. Nesse sentido, as empresas vêm desenvolvendo medidas que visam à organização da produção. Na opinião de Ceotto apud Andrade & Conceição (1998) [8], o processo de gestão em uma construtora é difícil, pela grande quantidade de itens e fatores que se tem de administrar, com um custo gerencial muito alto. Portanto, é preciso simplificar o processo construtivo, tirando as interferências. Parece que tudo vai se resolver no nível de planejamento e gestão. Analisando os autores, percebe-se a importância das ferramentas que viabilizam o planejamento da produção, através do aumento do processo de comunicação entre os intervenientes, com o principal objetivo de organizar a produção, fazendo mais com menos, ou como alguns autores dizem, ser mais produtivo. Conte lembra Koskela, apud Contador et al. (1997), que este modelo tem como fundamento considerar simultaneamente os seguintes aspectos da produção: (a) conversão: caracterizado pelo processamento de insumos com o objetivo de se alcançar o produto final esperado; (b) fluxos: definidos pela logística de insumos e informações durante a execução do empreendimento; (c) valor agregado: caracterizado pelo esforço sistemático em agregar valor ao produto entregue, sem que isso implique o aumento do respectivo custo da produção. Conceito de Perdas no sistema de gestão “lean production” mas não cria valor, como erros que exigem retificação, produção de itens que o cliente não deseja, e acúmulo de mercadorias em estoques, etapas de processamento que não são necessárias, movimentação de funcionários e transporte de mercadorias sem necessidade, grupos de pessoas em uma atividade posterior que ficam esperando porque uma atividade anterior não foi realizada dentro do prazo, e bens e serviços que não atendem às necessidades do cliente. O passo preliminar para a aplicação do TPS é identificar completamente os desperdícios: superprodução, tempo disponível (espera), transporte, processamento em si, estoque disponível (estoque), movimento e de produzir produtos defeituosos. As dificuldades de implantação das ferramentas da engenharia de produção Thomas (2002) [9] alerta sobre os cuidados e as dificuldades de aplicação das ferramentas de engenharia de produção à construção civil. Em seu texto são apresentadas algumas características críticas da construção civil (aspectos ou Princípios), que dificultam ou inviabilizam a utilização dessas ferramentas, ou as fazem cair em descrédito. A Tabela 1 é feita uma análise crítica dos conceitos aplicados à construção civil, com base nesse autor. Para Womack & Jones (1998), desperdício (muda em japonês) significa especificamente qualquer atividade humana que absorve recursos, Tabela 1: Aspectos ou Princípios da construção de edifícios e a indústria seriada. Aspectos/ Construção de edifícios Indústria seriada princípios Gerenciamento de processos, com foco Orientação Produção de produtos, com foco no produto acabado. nos métodos usados. Um único centro de e ponto de Vários centros de custo. custo. vista Utilizando-se de técnicas de programação CPM O processo de produção e a fabricação devido às atividades diferenciadas e simultâneas e do produto passam por múltiplas Natureza da levando à um número variado de trabalho por dia. A estações de trabalho, acrescentando valor integração natureza do trabalho muda diariamente devido às e com o mesmo número de pessoas na habilidades, informações, materiais e serviços de das mesma natureza de trabalho. Por isso, é suporte. As operações seqüenciais são consideradas atividades possível dar atenção ao método e à num nível macro. Mas usualmente, não são quando melhoria de desempenho. são feitas análises mais detalhadas. Tem a quantidade de produção fixada ao Desempenho medido com base nas horas de trabalho dia, tendo material e trabalho por unidades ou quantidades. Isto porque, cada essencialmente constante. A avaliação de atividade de construção está em um centro de custo. desempenho pode ser feita na saída. O A meta é usar um número mínimo de recursos para único caminho para melhoria de fazer o produto. O trabalho de cada recurso pode ser desempenho na fabricação seriada é Medidas de altamente variável e as horas de trabalho são fazer um método mais eficiente. O foco desempenho eqüalizadas da medida de desempenho. Os tempos de no método é a identificação e eliminação ciclo são muito diferentes, e são eqüalizados dentro de atividades desnecessárias como do possível através do método da linha de balanço. A transporte de materiais e espera. Outros melhoria de desempenho é feita no ambiente aonde o mecanismos de aumento de desempenho trabalho é realizado, buscando eliminar as são a redução do tempo de ciclo e do interrupções. número de trabalhadores. Ambiente de trabalho Nível de incerteza Diversidade de produtos Gerenciamento de recursos O ambiente de trabalho muda todos os dias. Recursos de vários tipos e em quantidades diferentes são necessários todos os dias. Melhorias no método são singelas, porque os componentes ou locais mudam freqüentemente. As questões ligadas ao ambiente dominam os assuntos relacionados aos métodos de trabalho. Ambiente muito instável. Distúrbios do clima afetam a produção e distúrbios de programação podem ser resultados de erros de projeto, quebra de equipamentos, de falta de materiais e outras situações. Congestionamentos também podem ser problemáticos como os causados por acessos restritos. O canteiro de obras modifica-se a todo tempo. Não é possível trabalhar com estoques e inventários reduzidos porque são medidas de segurança contra as incertezas. A mesma equipe executa atividades diferentes, as quais exigem qualificação e quantidade de recursos variada, conforme a necessidade. Materiais: São necessárias entregas diariamente. Muitas de um só tipo e que são especificadas em projeto. A programação das entregas deve ser coordenada e o local de estocagem e transporte deve ser cuidadosamente planejado. Os esforços de vendedores, projetistas, proprietários e contratantes devem ser sincronizados. O trabalho é estável. Os recursos estão disponíveis, a seqüência de operações é fixa e as áreas de trabalho não são congestionadas. Ambiente estável. Recursos prontamente disponibilizados, rotinas de trabalho estabilizadas e de total conhecimento da programação da produção, a qual é a mesma aplicada diariamente. Com a programação correndo suavemente, estoques e inventários podem ser mantidos em um mínimo para atender uma operação máxima. Trabalha com uma mínima diversidade, resultando numa mínima mudança de ambiente de trabalho ou rotina. Materiais: Está intimamente ligada ao gerenciamento das relações de venda. Entregas envolvem um grande número de itens. Se há menos diversidade de itens, a programação de entrega pode ser mais ajustada (precisa). Equipamentos: as linhas de montagem Equipamentos: São usados para múltiplos propósitos são usualmente estacionárias e com uma e por várias equipes. Não ficam estacionados em um única equipe de trabalho. O projeto é lugar fixo. Se ficam, é por pouco tempo. Ficam sob desenhado para desempenhar uma única condições severas de clima, e quebras são comuns. função. Informação: As iniciais são os planos e as Informação: a principal é a ordem do especificações. Entretanto, a programação do cliente, detalhando o que ele quer no trabalho, os desenhos, as responsabilidades e outras produto ou como deve ser produzido. são importantes formas de comunicação. A origem da Sem a ordem, o produto não é fabricado. comunicação ocorre nos diversos intervenientes do processo. Trabalho: A força de trabalho aumenta gradualmente Trabalho: O trabalho não requer um e há picos ao longo da execução da obra. As tarefas gerenciamento rigoroso (próximo) variam diariamente. O número de trabalhadores e de porque as estações de trabalho são horas de trabalho necessárias variam de acordo com o operadas pelo mesmo número de tarefa disponível (frente de trabalho). trabalhadores diariamente. Relações entre equipes de trabalho: A Relações entre equipes de trabalho: Muitas operações relação entre os grupos é seqüencial e o de construção também são seqüenciais, mas algumas time adiciona valor ao produto, o qual vezes as relações entre as equipes de trabalho são não irá mais retornar àquela estação de cooperativas ou simbióticas. Quando isto ocorre, as trabalho. As operações podem tornar-se equipes envolvidas devem buscar trabalhar no mesmo simbióticas, mas somente por um curto ritmo, almejando o mesmo tempo de ciclo. espaço de tempo. Resultados O Quadro 1 apresenta casos reais de empresas de construção civil, exemplificando os sete tipos de desperdícios levantados no sistema TPS. Quadro 1: Os tipos de desperdícios analisados na construção civil. 1. Desperdício de superprodução Na grande maioria das obras de edificações verticais, as atividades de execução possuem durações diferentes em função da viabilidade da produção, da quantidade de serviços atribuídos, da equipe dimensionada, além de fatores externos à execução, como por exemplo, o relacionamento com fornecedores, a localização da obra, etc. Quando uma atividade tem uma duração menor que sua sucessora, ela ocorre rapidamente terminando antes do início da sua sucessora, ocasionando o que chamamos de desperdício de superprodução, pois utilizamos recursos antes de realmente precisamos deles. Uma vez, em certa obra de edificações, uma atividade foi executada e gastou-se com base em um projeto desatualizado ou que foi modificado em função da sucessora. Conclusão, tiveram que refazer a atividade. Algumas empresas combatem o desperdício de superprodução, utilizando o conceito de linha de balanço entre as atividades, buscando um tempo de ciclo ideal e igual entre as mesmas. 2. Desperdício de tempo disponível (espera) Execução de edifício residencial, sem a definição do elemento construtivo de proteção das sacadas dos apartamentos. A obra literalmente parou a execução de fachadas e pisos de sacadas, até a definição desse elemento construtivo. 3. Desperdício em transporte Construção de um anexo na parte de trás de prédio existente e ocupado pelo cliente. A escolha do local de entrega do material foi a parte da frente do prédio, em vez do portão de trás. Todo material tinha de ser transportado da frente do prédio até a reforma por uns 100 metros de distância, consumindo horas da mão-deobra, além do transtorno aos usuários do prédio existente. 4. Desperdício do processamento em si O piso dos apartamentos de um edifício residencial teve com definição pelo arquiteto, assentamento cerâmico cinza e rodapiso de ardósia de 10 cm de largura, como também rodapé com o mesmo material. O processamento dessa atividade foi cercada de desperdício, pois os apartamentos são de aproximadamente 60m2, muito material teve de ser quebrado para o esquadro no piso, pois os cômodos eram pequenos e com cortes a 45o nas aberturas de portas, além do desperdício de horas de trabalho na quebra e assentamento do rodapiso de ardósia. 5. Desperdício de estoque disponível (estoque) O chefe do departamento de compras recebeu um elogio por fechar o material elétrico de várias obras em um único pedido. Conclusão, uma obra recebeu todo o material elétrico (inclusive luminárias) no início da execução. O mesmo material teve de ser estocado em vários locais diferentes até sua utilização. 6. Desperdício de movimento Em um prédio de escritórios, o projeto de implantação do canteiro de obras não analisou o processo de produção de serviços com a colocação de azulejos e piso cerâmicos. O acesso de descarga de material era afastado da posição da grua, provocando a movimentação de mão-de-obra para a descarga do material, e posterior transporte até a grua. A mesma mão-de-obra buscava ferramentas em um almoxarifado afastado do elevador de funcionários para chegarem aos andares onde seriam executados os serviços. 7. Desperdício de produzir produtos defeituosos Durante a execução do concreto armado de um prédio residencial, foi utilizado um projeto errado com o desenho da viga da sacada. No projeto correto, a mesma viga deveria ter um ‘dente’ para dar acabamento com forro de lambri de madeira e assim esconder a instalação hidráulica e elétrica. As vigas das sacadas foram concretadas sem o ‘dente’ na parte inferior, no prédio inteiro. Sem o dente na parte inferior, não foi possível o acabamento do forro em lambri de madeira. Refizeram os projetos de hidráulica e elétrica, ocasionando mudanças também no projeto de esquadrias, que também teve que ser refeito, por causa da porta de correr da sala de estar que dá acesso à sacada. Os resultados analisados pela pesquisa são apresentados na Tabela 2 que apresenta as principais características do sistema TPS comparadas a alguns casos reais em empresas de construção civil, devidamente denominadas por letras. Tabela 2: Principais Características do Sistema TPS comparadas à Construção Civil, com base nos autores analisados. Característica Comentários sobre a aplicação na Construção Civil Os produtos devem ser examinados por A empresa A, especialista em obras residenciais, busca consumidores desobrigados, onde o custo de analisar a satisfação de seus clientes através de manufatura de um produto não possui qualquer pesquisas que, avaliam o valor do produto percebido no importância, e sim a análise do valor agregado. pós-ocupação. Os operadores devem adquirir um grande número de A empresa B, especialista em obras comerciais, utiliza habilidades produtivas, percebendo o valor no seu um sistema de fechamento vertical feito por placas prétrabalho. É necessário um sistema de gestão total moldadas de concreto armado em telas soldadas que desenvolva a habilidade humana até sua mais (sistema “tilt-up”). Essas placas de concreto armado plena capacidade, a fim de melhor realçar a são moldadas na obra por uma equipe semi-autônoma, criatividade, para utilizar bem instalações e onde os operadores conhecem todo o processo máquinas. O trabalho em equipe é tudo. A idéia é o produtivo, habilitados em múltiplas atividades com a trabalho em equipe – não quantas peças foram mesma destreza, diminuindo o cansaço da atividade usinadas ou perfuradas por um operário, mas repetitiva e propiciando um ambiente de inovação, já quantos produtos foram completados pela linha com que o funcionário vê as atividades de uma maneira um todo. Fazer com que o processo precedente produza apenas a quantidade retirada pelo processo subseqüente. A força de trabalho e o equipamento em cada processo de produção devem estar preparados, para produzir as quantidades necessárias no momento necessário. As diferenças individuais nos tempos de operação causadas por condições físicas, deverão ser absorvidas pelo primeiro operário no processo, padronizando o tempo de ciclo e favorecendo a harmonia entre os operários. Para atender a diversificação do mercado e manter o nivelamento da produção em harmonia, é importante evitar o uso de instalações e equipamentos dedicados. Estudando cada processo dessa forma, podemos manter a diversificação e o nivelamento da produção em harmonia e ainda atender os pedidos dos clientes em tempo. As informações devem ser transmitidas apenas quando elas são necessárias. As informações enviadas à produção devem ser exatamente programadas no tempo. Muito do excesso de informações geradas por computadores não é de modo algum necessário para a produção. A identificação da cadeia de valor de um produto específico passa pelas tarefas gerenciais críticas em qualquer negócio: a tarefa de solução de problemas que vai da concepção até o lançamento do produto, do projeto detalhado à engenharia, a tarefa de gerenciamento da informação, que vai do recebimento do pedido até a entrega, seguindo um cronograma detalhado e a tarefa de transformação física, que vai da matéria-prima ao produto acabado nas mãos do cliente, mostrando os três tipos de ação: etapas que criam valor (percebidas pelo cliente), etapas que não criam valor, porém inevitáveis com as atuais tecnologias e ativos de produção, como os sistemas de desenvolvimento do produto, atendimento de pedidos etc, e etapas adicionais que não criam valor e devem ser evitadas. Conclusões Na utilização de ferramentas da engenharia de produção analisadas nos casos, percebeu-se uma forte adaptação ao ambiente desfavorável, e uma certa dificuldade na aplicação de algumas delas; dando margem a novas pesquisas, experiências e explorações, na tentativa de realmente aplicá-las, aumentando o valor agregado ao produto, e assim a satisfação percebida pelos clientes. Referências [1] Muscat, A. R. N., Produtividade e Gestão da Produção, Cadernos de Política e Gestão em C&T pelo NPGCT da USP, São Paulo, 1.987. [2] Hopp W. J. & Spearman M. L., The JIT Revolution. Factory Physics: foundations of manufacturing management. 2.ed., Boston, Irwin / McGraw-Hill, 2.000. sistêmica. A empresa C não executa nenhuma atividade em suas obras de edificações sem um estudo das possibilidades de realização da mesma, em um tempo de ciclo que a atenda a demanda, ou seja evitando o desperdício de superprodução. As atividades devem ocorrer com tempos de ciclos aproximados, nivelando a produção. A questão é sempre definir o tempo “takt” com precisão, em um determinado momento, em relação à demanda, e processar toda a seqüência de momento, precisamente com base no tempo “takt” (linha de balanço). Já há alguns anos, a empresa A possibilita aos seus clientes à escolha de acabamentos e disposição de ambientes em suas obras de edificações habitacionais, ou seja com os mesmos equipamentos e serviços oferecem diferentes produtos aos seus clientes. A empresa D, que é umas das maiores empresas de construção civil do Brasil, utiliza um sistema integrado entre departamentos, dispondo informações quando necessárias. É o caso da empresa E que, analisa a cadeia de valor em suas obras que, são basicamente comerciais, e onde existe um rígido controle do prazo de conclusão da mesma, inclusive envolvendo seus sub-empreiteiros e fornecedores, assumindo conjuntamente o desenvolvimento de finalização de seus produtos necessários para manter felizes os clientes, procurando desenvolver um relacionamento de longo prazo com seus clientes, para satisfaze-los em todas as obras encomendadas. [3] Womack & Jones, A mentalidade enxuta. Campus. Rio de Janeiro, 1.998. [4] ABNT. NBR 8950, Indústria da construção. Rio de Janeiro, 1.985. [5] Conte, A. S. I., Lean Construction: O Caminho para a excelência operacional na Construção Civil. In: CONTADOR J. C. et. al. Gestão de operações. São Paulo, Edgard Blücher, p.497-510, 1.997. [6] Jobim, M. S. S., Aplicação dos Conceitos de Desenvolvimento de produto à Construção Civil. In: 5o SEMINÁRIO SOBRE “LEAN CONSTRUCTION”, 1O SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE “LEAN DESIGN” E “LEAN BUILD”, São Paulo. Anais. São Paulo, Instituto de Engenharia, 2.000. [7] Scardoelli, L. S. et al. Melhorias de qualidade e produtividade: iniciativas das empresas de construção civil. Rio Grande do Sul, Serviço de Apoio às micros e pequenas empresas do Rio Grande do Sul, (Programa da Qualidade e produtividade da Construção Civil), 1.994. [8] Andrade & Conceição, Produtividade se Constrói, Qualidade na Construção Vol. 1, n.8, p. 16-27, 1.998. [9] Thomas, R. & Sinha, S. K., Are construction sites and manufacturing facilities the same? In: W65 Triennial Internacional Symposium do CIB – Internacional Council for Research and Inovation in Construction. Cincinnati, USA, 2.002.