PANORAMA SOBRE O (DES) USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA EDUCAÇÃO BÁSICA EM ESCOLAS PÚBLICAS DE ALEGRETE Mauricio Ramos Lutz1 Ana Carla Nicola Ferreira Gomes2, Débora da Silva de Lara3, Mariely Rodrigues Anger4, Silviana Izabel Freire Severo5, Jussara Aparecida da Fonseca6 1 Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete/RS, [email protected] 2 Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete/ RS, [email protected] 3 Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete/ RS, [email protected] 4 Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete/ RS, [email protected] 5 Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete/ RS, [email protected] 6 Instituto Federal Farroupilha – Câmpus Alegrete/ RS, [email protected] Resumo A informatização do homem moderno e a sua relação com as máquinas é inegável. No campo educacional esse avanço também está presente, pois há a necessidade de uma inclusão digital em todos os ambientes da escola. Um fato comprovado, tanto que a maioria das escolas já tem em suas dependências ambientes informatizados para uso dos alunos e dos professores. Para aqueles que já nasceram na era da informatização se torna mais imediata essa adaptação, porém percebemos que os docentes da escola, que já contam com anos de experiência em docência, formaram-se sob outra realidade, onde o acesso as tecnologias não eram tão disponibilizadas, tendo que acompanhar essa demanda. A fim de investigar como está sendo o uso ou não das Tecnologias de Informação e Comunicação por professores de Matemática do Ensino Básico em escolas públicas no município de Alegrete/RS, surgiu este projeto de pesquisa. O que se tornou mais preocupante na realidade é a hipótese de que apesar de equipadas para possibilitar um trabalho que envolva as Tecnologias da Informação e Comunicação, o ensino atual nas escolas ainda tem suas metodologias limitadas. Para obter informações precisas foi realizada uma pesquisa descritiva de caráter qualitativo através de entrevistas individuais aplicadas aos professores de matemática, onde foram investigados aspectos relacionados, principalmente, a formação acadêmica dos educadores, prática pedagógica, o uso ou não das Tecnologias da Informação e Comunicação em sala de aula e a disponibilidade/manutenção dos laboratórios de informática disponibilizados nas escolas. Palavras-Chave: Tecnologias da Informação e Comunicação, ensino e aprendizagem, matemática, educação básica. INTRODUÇÃO A matemática, muitas vezes, tem se apresentado como uma disciplina repleta de imaginários perversos, temida pelos alunos, principalmente na Educação Básica. Devido esse fato, muitas pesquisas no âmbito da Educação Matemática vêm sendo desenvolvidas com o intuito de propiciar uma educação de qualidade e eficaz a todos os atores do universo educativo. Os problemas no ensino e aprendizagem da matemática tem ocasionado alto índices de reprovação e retenção dos educandos nos diferentes níveis da Educação Básica. Tal cenário, tem contribuído também para altos índices de evasão escolar. Apesar deste cenário do ensino e aprendizagem da Matemática Escolar, o conhecimento desta área do saber é imprescindível para o desenvolvimento pleno do indivíduo. É possível observar que desde muito cedo se tem contato com situações em que o conhecimento matemático é necessário, como a orientação espacial ou cálculos realizados em uma compra de supermercado. Contudo, é possível observar na sociedade atual que outros conhecimentos têm-se apresentado imprescindíveis, como aqueles relacionados à informática. Cada vez mais cedo crianças e jovens tem acesso a recursos computacionais e ensiná-los a saber utilizar tais recursos de forma consciente tem sido um desafio para pais e professores. Diante dessas necessidades tem-se tornado cada vez mais necessário que professores estejam preparados para lidar com tais mecanismos em sala de aula. Mas isso nem sempre é uma tarefa fácil, pois exige estudo maior por parte do docente, incluindo dedicação e tempo de planejamento das atividades escolares. A partir deste contexto, professores, entre eles o de Matemática, tem um grande desafio à sua frente. Contudo, tal desafio também põe à sua frente um leque de opções, no qual pode encontrar alternativas que possibilitam tornar suas aulas mais atrativas para os educandos, estimulando a criatividade e o senso crítico. Frente a isso torna-se importante o professor buscar diferentes maneiras de utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação em sala de aula, de modo a proporcionar o desenvolvimento de conhecimentos matemáticos. Nesse sentido, procuramos neste trabalho analisar a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação em sala de aula por parte dos professores de matemática das escolas públicas de Alegrete/RS. A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO É cada vez mais crescente a necessidade da utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação nos diferentes setores da sociedade, entre eles nas escolas. Para as instituições educacionais e professores, existe uma necessidade crescente para o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, para tanto é necessário saber como e quando utilizar tais recursos em sala de aula, de forma a trazer melhorias para o processo de ensino e aprendizagem. Para que a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação realmente traga mudanças no processo de ensino e aprendizagem, é indispensável mudanças nos padrões atuais do ensino. Segundo Moran (2000, p.63), “ensinar com as novas mídias será uma revolução se mudarmos simultaneamente os paradigmas convencionais do ensino, que mantêm distantes professores e alunos. Caso contrário, conseguiremos dar um verniz de modernidade, sem mexer no essencial”. Tais mudanças são necessárias, pois a simples presença de Tecnologias da Informação e Comunicação na escola não é por si só uma garantia de maior qualidade na educação, pois a modernidade pode mascarar um ensino tradicional, baseado na recepção e na memorização de informações. Na mesma direção, Perrenoud (2000) aponta que, A verdadeira incógnita é saber se os professores irão apossar-se das tecnologias como um auxílio ao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem (p.138). Corroborando Vasconcelos (1998, p.29) ressalta que “a mudança de postura implica, pois, a mudança tanto das concepções quanto das práticas” e “a postura do educador não depende do nível de profundidade da teoria” (1998, p.22). Assim, a mudança depende do compromisso do docente, propiciadas pelas aproximações sucessivas entre a ação e a reflexão constante de sua prática pedagógica. É preciso valer-se das Tecnologias da Informação e Comunicação para implementar o planejamento educacional problematizando a realidade dos alunos. Para Moran (2000), o papel do professor é fundamental nas propostas de inovações, até mesmo porque a qualidade de um ambiente tecnológico de ensino depende muito mais de como ele é explorado didaticamente, do que de suas características técnicas. As Tecnologias de Informação e Comunicação quando utilizadas de forma adequada, ajudam no processo educacional, levando ao objetivo principal do processo educativo que é a aprendizagem dos alunos, conforme apronta Libâneo (2007, p. 309) “o grande objetivo das escolas é a aprendizagem dos alunos, e a organização escolar necessária é a que leva a melhorar a qualidade dessa aprendizagem”. A importância do uso de Tecnologias da Informação e Comunicação também é ressaltada nos documentos oficiais. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) "as tecnologias da comunicação e da informação e seu estudo devem permear o currículo e suas disciplinas" (BRASIL, 1999, p. 134). Do mesmo modo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) apontam que, É indiscutível a necessidade alunos como instrumento de estar atualizados em relação instrumentalizarem para as (BRASIL, 1998, p. 96). crescente do uso de computadores pelos aprendizagem escolar, para que possam às novas tecnologias da informação e se demandas sociais presentes e futuras Contudo, mesmo com tais orientações apontadas nos documentos oficiais, utilizar os recursos das tecnologias da comunicação e informação é ainda um grande desafio, pois os professores encontramos um grande número de professores relutantes quanto ao uso, principalmente pela sua formação acadêmica. Contudo, a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação em sala de aula, se transforma em uma ferramenta a favor da aprendizagem, trazendo para ambas as partes envolvidas, educador e educando, resultados positivos, o que para Bairral (2009, p.1) “nos remete a um novo horizonte pedagógico e a um vasto campo profissional”. Corroborando, Demo (2008 p.1) aponta que, Toda proposta que investe na introdução das Tecnologias da Informação e Comunicação na escola só pode dar certo passando pelas mãos dos professores. O que transforma tecnologia em aprendizagem, não é a máquina, o programa eletrônico, o software, mas o professor, em especial em sua condição socrática. Também as Tecnologias da Informação e Comunicação entrelaçam diversas formas de atuação e interação entre os indivíduos, pois “todo processo de aprendizagem requer a condição de sujeito participativo, envolvido, motivado, na posição ativa de desconstrução e reconstrução de conhecimento e informação, jamais passiva, consumista, submissa” (DEMO, 2008, p.1) Para Valente (1993), o computador não é um instrumento que ensina o aprendiz, mas ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo, e, portanto, a aprendizagem ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por meio do computador. Perante esse olhar, a educação básica precisa andar unida com as novas tecnologias que fazem parte do cotidiano das pessoas. Vivemos em uma sociedade informatizada. Cada vez mais se requer dos sujeitos o uso de forma consciente de recursos computacionais. Nesse sentido, a escola desempenha papel fundamental, pois tem como um de seus objetivos preparar os alunos para os desafios da sociedade. Para tanto, conforme aponta Borba e Penteado (2001, p.19), “o computador deve estar inserido em atividades essenciais, tais como aprender a ler, escrever, compreender textos, entender gráficos, contar, desenvolver noções espaciais, etc”. Todavia, não estamos querendo dizer que os recursos utilizados tradicionalmente como lápis e papel devam ser abandonados no processo de ensino e aprendizagem. Mas sim que outros recursos podem vir a ser incluídos em tal processo, de modo a tornar as aulas mais dinâmicas e participativas. Não podemos negar que a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação em sala de aula é um desafio para uma parcela significativa de professores, pois muitos não nasceram na era da informática, tampouco tiveram em suas formações iniciais instrumentalização necessária para o emprego de tais recursos, pois conforme aponta Perrenoud (2000, p.163), “educadores vivem com os conhecimentos de sua formação inicial e de sua experiência pessoal”. Por tal realidade, alguns docentes sentem-se intimidados em relação ao uso de recursos tecnológicos, pois sabem que seus alunos, muitas vezes, terão maior domínio sobre os instrumentos utilizados. Tal realidade faz com que haja uma inversão de papeis na sala de aula, possibilitando que além da aprendizagem sobre determinado campo do saber por parte do aluno, ocorra também a aprendizagem do professor acerca das ferramentas informáticas. Conforme Jahn (2014, p. 19): [...] outro fato a ser considerado é que, em geral, os jovens sabem mais e melhor utilizar as ferramentas informáticas do que os adultos. A possibilidade que se abre dessa maneira é a de os estudantes poderem vir a compartilhar conhecimentos com o professor. Em geral, tal situação pode ser muito prazerosa porque os estudantes se sentem valorizados por possibilitarem aos seus professores a aprendizagem: os papéis se invertem na sala de aula. Além da insegurança quanto ao domínio das ferramentas tecnológicas, alguns professores destacam que a inserção de tais recursos é muito trabalhosa. Tal fato é inegável, pois muitas vezes o tempo necessário para o planejamento de uma aula com utilização de tecnologias de informação e comunicação pode ser muito maior, pois é preciso encontrar o recurso que melhor se adapta aos objetivos da aula, investigá-lo para conhecer todas as suas disponibilidades e testá-lo de modo que verifique se a proposta a ser realizada é realmente possível. Desse modo, o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação deve ter seus objetivos bem estabelecidos, pois usar o computador só por usar não acrescenta nada para o aluno. Essa ideia é reforçada por Ponte et al (2008, p.59): Os recursos computacionais em si mesmos, quando amplamente dominado pelo professor, não são suficientes para garantir uma ação educacional diferenciada, se não estiverem claras e fundamentadas as teorias. Assim, além da necessidade de saber lidar com o computador, o professor deve entregar-se ao processo de construir para si mesmo um novo conhecimento. Entretanto, passada a fase de planejamento, o professor tem em mãos um recurso capaz de tornar suas aulas mais interessantes e participativas. Além disso, dentro do contexto social atual está praticamente impossível a escola e os professores fugirem da utilização de tecnologias da informação e comunicação. Dessa forma, a educação para as mídias digitais, em seus alcances de forma abrangente se faz necessário nos dias de hoje, pois os espaços educativos não podem mais ficam aquém da realidade de sociedade. Com isso, conseguiremos mudar o contexto da educação escolar apontado por Valente (1996, p.129), A educação escolar e o professor que a ministrar não tem, no geral um referencial de mundo que se compatibiliza com a realidade circundante e com seus possíveis avanços. O espaço educacional parece imune, preservado desses avanços, mantendo o velho, pela indiferença às mudanças do meio. Assim, enquanto educadores precisamos sair de nossa “zona de conforto” e nos aventurarmos com novos desafios de aprendizagem e o uso de tecnologias da informação e comunicação são uma boa opção. Em particular o uso do computador em sala de aula, apresenta-se como uma boa opção para o desenvolvimento de diferentes áreas do conhecimento escolar. Quanto a utilização do computador, os PCN afirmam que “[...] o computador favorece a transformação das aulas tradicionais, excessivamente diretivas e instrucionais, em ações cooperativas entre alunos e professores, nas quais todos se organizam como parceiros e aprendizes” (BRASIL, 1998, p. 33). Corroborando Pasqualotti e Freitas (2001, p. 80) apontam que, É necessária a disseminação da filosofia computacional nos centros de ensino para que a informática possa auxiliar no processo de ensino– aprendizagem e enriquecimento dos conhecimentos dos alunos, bem como no auxílio e aperfeiçoamento dos professores e pesquisadores. Na mesma direção, Penteado (1999, p. 309) ressalta que “o trabalho com o computador provoca mudanças na dinâmica da aula exigindo por parte do professor novos conhecimentos e ações”. Então porque muitas escolas não utilizam o computador como uma ferramenta para melhorar o processo de ensino aprendizagem? Esta pergunta fica para ser refletida. É compreensível assim, que como educadores preocupados com o processo de ensino e de aprendizagem de nossos alunos, validando as tecnologias como elementos pedagógicos problematizadores, reconheçamos que atualmente o Sistema de Ensino não é condizente com as reais necessidades dos alunos, portanto, não basta somente modernizálo, mas é necessário e de caráter urgente repensar o método educacional utilizado, de modo que o processo de construção do conhecimento seja estimulante, desafiador e adequado aos novos tempos. Por tudo que foi exposto, percebemos que professores precisam estar constantemente reavaliando e refletindo sobre o fazer pedagógico em sala de aula e verificar a importância do uso de metodologias diferenciadas fazendo com que suas aulas sejam mais dinâmicas, sendo que nesse sentido as tecnologias da comunicação e informação apresentam-se como uma boa opção. Assim, o uso do computador e de outras mídias digitais, pode contribuir para resolver e modificar a metodologia de ensino e aprendizagem fazendo com que tenham sentido os conteúdos trabalhados nas diversas disciplinas, em particular, nas aulas de matemática. Sabe-se que essas mudanças não ocorrerão de maneira rápida, mas é chegado o momento de começar a repensar nesta postura enquanto educadores, para que com um preparo pedagógico-tecnológico e infraestrutura adequada possa realizar verdadeiras transformações nas aulas. MATERIAIS E MÉTODOS O presente trabalho é o extrato de um projeto de pesquisa que teve por objetivo verificar a utilização (ou não) das Tecnologias da Informação e Comunicação por parte dos professores de matemática de escolas públicas de Alegrete/RS. A pesquisa realizada foi de cunho descritivo com caráter qualitativo por meio de entrevistas individuais aplicadas a professores de matemática atuantes na rede pública de ensino. Segundo Gil (2002, p.42) “as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”. Por isso, o estudo se norteou de acordo com esses padrões, isto é, buscou-se averiguar os problemas no intuito de melhorar as práticas por meio da observação e análise das entrevistas feitas com esses profissionais. Para obter uma pesquisa detalhada sobre esse meio, foi preciso separá-la em sete etapas que consistiam na definição do problema, na escolha do público alvo, na elaboração do questionário, no pré-teste do questionário, na aplicação do questionário, na organização dos dados e na análise e interpretação dos mesmos. Estima-se que na cidade oriunda das escolas participantes do projeto existam em torno de 80 professores de matemática atuantes em Escolas Básicas Públicas, porém contamos com uma amostra de 22 professores que responderam a pesquisa. Após a realização das entrevistas foram organizados os dados através de contagem e agrupamento, desse modo, obteve-se um conjunto de informações que conduziu o estudo do atributo estatístico. Com esses resultados obtidos a próxima fase foi a análise e interpretação, de acordo com Gil (2002, p.90), O processo de análise e interpretação é fundamentalmente iterativo, pois o pesquisador elabora pouco a pouco uma explicação lógica do fenômeno ou da situação estudados, examinando as unidades de sentido, as inter-relações entre essas unidades e entre as categorias em que elas se encontram reunidas. Ou seja, nesse processo, foi realizada uma análise dos dados buscando assim, dados estatísticos para verificar se existe o uso, bem como as concepções pedagógicas acerca das tecnologias da informação e comunicação por parte de professores de matemática participantes da pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÕES Quando buscou-se informações sobre a utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação Básica, referente à disciplina de Matemática, levamos em consideração alguns aspectos que seriam relevantes para montar um panorama geral da utilização dos recursos tecnológicos na educação pública, que são: formação dos professores atuantes, caracterização das escolas em que esses atuam e forma de utilização dos recursos disponibilizados pela escola. A primeira etapa da pesquisa consistiu no reconhecimento do público participante. Foram coletados dados através de um questionário, respondido por 22 professores de matemática. A partir das respostas coletadas foi possível observar que apenas um docente não tem sua graduação na área da matemática, o que é um bom número tendo em vista ser corrente nas escolas públicas professores lecionando em disciplinas diferentes de sua área de formação, e que a maioria destes profissionais realizaram sua graduação em instituições privadas. A maior parte dos entrevistados formou-se após a expansão tecnológica, que ocorreu no início do século XXI, porém, para termos dados mais gerais, no total de entrevistados conseguimos contemplar também a visão de professores mais experientes. Percebemos isso fortemente quando dez professores afirmaram que não tiveram em seus cursos de formação inicial disciplinas que abordassem as Tecnologias da Informação e Comunicação; sete professores disseram que as disciplinas que tiveram não se fizeram suficiente para uma boa formação, e entre todos, somente cinco acharam a sua formação completa nessa área, o que não é suficiente para um bom trabalho. Com tal dado, percebemos que a formação inicial da maioria dos docentes participantes da entrevista não contempla uma das demandas necessárias para o ensino de matemática apontada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Segundo os PCN, “a Matemática deve acompanhar criticamente o desenvolvimento tecnológico contemporâneo, tomando contato com os avanços das novas tecnologias nas diferentes áreas do conhecimento para se posicionar frente às questões de nossa atualidade (BRASIL, 1998, p. 18)”. As escolas em que os professores entrevistados atuam, de modo geral, possuem boas condições físicas para um trabalho com Tecnologias da Informação e Comunicação, apresentando laboratórios de informática equipados, na sua maioria, com número suficiente de computadores para os alunos. Além disso, percebemos através dos relatos dos professores que as escolas que possuem os laboratórios geralmente também possuem acesso à internet, facilitando pesquisas e contemplando vários fatores demandados pelas Tecnologias da Informação e Comunicação. Conforme destaca Pimentel (2007, p.91) destaca, De outra forma, a Internet será uma tecnologia a mais, que reforçará as formas tradicionais de ensino. Os ambientes telemáticos de aprendizagem permitem programar uma rede de informações interligadas, em que os sujeitos podem explorar diferentes mídias simultaneamente e integrá-las numa mesma atividade para o desenrolar das experiências interativas quanto às relações com a tecnologia, e cooperativas, quanto às relações interpessoais. Do grupo de professores participantes da pesquisa, somente dois afirmam não possuir nenhuma pós graduação, porém quando indagados da área em que os cursos foram realizados, descobrimos que somente dois deles contemplavam Tecnologias da Informação e Comunicação. Tendo em vista essa e as informações já explicitadas sobre a formação dos professores, entende-se uma das dificuldades apontadas por eles para preparar uma aula envolvendo essa metodologia, em que declararam que possuem dúvidas nesse pressuposto e não lhes é oferecido auxílio para sanar as mesmas. Desta forma, segundo Farias (2009, p. 6), A educação é uma tarefa complexa que exige uma formação sólida para desempenhá-la. As mudanças no mundo do trabalho geram transformações na organização do trabalho da escola, onde a inserção tecnológica no ensino tem trazido consequências contínuas à autonomia do trabalho docente. Ainda nessa linha de raciocínio percebemos que além dessa dificuldade, a falta de tempo para planejamento dificulta o trabalho do professor que deseja utilizar este tipo de metodologia. Constatamos que a maioria dos docentes participantes trabalham 40 horas semanais, mesmo assim, 50% dos entrevistados utilizam o laboratório de informática para complementar suas aulas com softwares e aplicativos referentes à matemática, outros cinco docentes fazem o uso do laboratório para incentivar pesquisas sobre os conteúdos da matemática e a totalidade dos professores fazem uso da internet para comunicação e planejamento de aulas. Ressaltamos ainda, que os professores sabem que o conceito de Tecnologias da Informação e Comunicação é amplo, no entanto, muitos deles, não fazem uso de todos os aspectos contemplados por esse devido às dificuldades já apresentadas acima, sendo lamentável, pois o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação, [...] pode contribuir para auxiliar professores na sua tarefa de transmitir o conhecimento e adquirir uma nova maneira de ensinar cada vez mais criativa, dinâmica, auxiliando novas descobertas, investigações e levado sempre em conta o diálogo. E, para o aluno, pode contribuir para motivar a sua aprendizagem e aprender, passando assim, a ser mais um instrumento de apoio no processo ensino-aprendizagem [...] (MERCADO, 2002, p. 131). Desse modo, percebemos que unanimemente os professores acreditam que a utilização das tecnologias da informação e comunicação pode melhorar o processo de ensino e aprendizagem de matemática, mesmo que muitas vezes não fazem uso de tal recurso em sua sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar o presente trabalho, percebemos que o processo de ensino e aprendizagem representa um desafio diário para o educador na medida em que ele tenta dar um significado e dinâmica em suas aulas, deixando-a mais atraente para o aluno. Sabemos que não é tarefa fácil, mas enquanto docentes é necessário estarmos sempre nos reformulando e buscando novos conhecimentos. Com o desenvolvimento da pesquisa, pode-se frisar, primeiramente, a satisfação pela participação dos professores, pois boa parte destes voluntariaram-se com disposição para responder a entrevista. Respostas as quais mostraram-se satisfatórias pela coerência das mesmas, pois contribuíram para a contagem e agrupamento dos dados. Percebeu-se que nas escolas nas quais os docentes participantes estão inseridos, existem computadores suficientes para os alunos, porém a manutenção e acompanhamento de profissionais para dar suporte nesta área não se fazem presentes. Também foi salientado que não existe um bom planejamento, pelas causas já apontadas: carga horária excessiva atribuída aos professores e a dificuldade das escolas em contemplar essas atividades propiciadas pelas tecnologias. Contudo, é relevante enfatizar que a maioria dos dados obtidos mostram-se positivos, pois mesmo com poucos recursos há o emprego de Tecnologias da Informação e Comunicação no meio escolar, através de aplicativos e softwares que vão ao encontro do que está sendo trabalhado em sala de aula, sendo essa uma prática em expansão. Aos demais dados de teor negativo, vale destacar Freire (1975, p. 51): A realidade não pode ser modificada, senão quando o homem descobre que é modificável e que ele pode fazê-lo. É preciso, portanto, fazer desta conscientização o primeiro objetivo de toda a educação: antes de tudo provocar uma atitude crítica, de reflexão, que comprometa a ação. Por isso, após coleta e análise dos dados, será estudado e providenciado uma proposta de formação pedagógica para os professores de matemática atendendo as demandas trazidas e apresentadas por este projeto de pesquisa. Ao finalizar esse projeto, percebemos o quanto é importante pesquisar. Muitas dúvidas, ideias, hipóteses, conjecturas, surgem ao longo do caminho e muitas vezes notamos que não daremos conta de responder a todas elas. Mas esse é nosso caminhar... uma formação continuada sempre. REFERÊNCIAS BAIRRAL, M. A. Análise das interações docentes em virtual Math Teams: Um estudo de caso. In: Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 4., 2009, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009. p. 1–21. BORBA, Marcelo Carvalho; PENTEADO, Miriam Godoy. Informática na Educação Matemática. 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