PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DO BAGAÇO DE CANA-DEAÇÚCAR: CENÁRIOS DE SUBSTITUIÇÃO NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS E BEBIDAS DO ESTADO DE SÃO PAULO1 Valeria Comitre Maristela Simões do Carmo RESUMO: A pesquisa analisa o potencial de cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar em substituição à energia elétrica na indústria de alimentos e bebidas do Estado de São Paulo para o ano de 2010. Os cenários de projeções de energia tendencial para o setor industrial de alimentos e bebidas do Estado de São Paulo, procurou determinar o comportamento apresentado pela demanda dos energéticos para este setor num horizonte de dez anos e o segundo, cenário eficiente, também chamado de potencial econômico buscou demonstrar comparativamente as vantagens ou não da substituição entre energéticos. Por fim, discutiu-se a expansão da área de cana-de-açúcar e alguns impactos sobre a agricultura paulista. O potencial energético produzido a partir da cana-deaçúcar pode subsidiar três questões fundamentais para o desenvolvimento do país: produção de energia de fonte renovável, geração de empregos temporários e, uma fonte alternativa ao consumo de energia, garantindo a autonomia do País para enfrentar possíveis crises futuras. Palavras-chave: energia de biomassa, cana-de-açúcar, cenários prospectivos. 1. INTRODUÇÃO A oferta de energia elétrica de origem hidráulica possibilitou, durante as últimas décadas, a expansão das atividades econômicas do país contribuindo para sua industrialização e desenvolvimento. O crescimento da demanda de energia aliado ao aumento da população associado às dificuldades do Estado de prover os investimentos necessários à atualização do parque energético nacional, são alguns dos fatores que contribuíram para o quadro da crise energética que culminou com o racionamento estabelecido pelo governo federal de junho de 2001 a março de 2002. Através de medidas governamentais foi criada a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, a fim de estabelecer diretrizes para programas de enfrentamento da crise de energia elétrica no país. Além disso, no sentido de se evitar um possível colapso do sistema de geração de energia elétrica a curto prazo, adotou-se o racionamento baseado num amplo programa de conscientização da população e dos principais setores da economia objetivando uma redução de 20% do consumo. Este esforço, aliado às chuvas ocorridas nos meses de verão (dezembro/2001 a março/2002), que aumentaram os níveis dos lagos das hidrelétricas, propiciaram a suspensão do racionamento. Desta forma, o Governo Federal vem empreendendo um conjunto de ações visando garantir as atividades econômicas e sociais do País. Dentre elas, o Programa de Apoio Financeiro a Investimentos Prioritários no Setor Elétrico, cujo objetivo principal é o de contribuir para o aumento de energia elétrica a curto prazo. Neste sentido, foi criada, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), uma linha de crédito destinada ao financiamento de projetos voltados à cogeração de eletricidade a partir do bagaço da cana-de-açúcar. 1 Este trabalho foi realizado com dados da pesquisa da primeira autora “Produção de Energia a partir da Cana-de-Açúcar: Perspectivas de Ação na Composição da Matriz Energética do Estado de São Paulo”, financiada pelo CNPq (Bolsa RD). O Programa, lançado em maio de 2001, foi dotado de R$ 250 milhões e destinou-se às usinas de açúcar e destilarias de álcool de qualquer região do País. O financiamento pode representar até 80% do valor aplicado na reestruturação da empresa, e ser amortizado em até dez anos, com pagamentos a serem efetuados durante os meses de safra. O Brasil é o principal produtor de cana-de-açúcar do mundo, e tem no Estado de São Paulo um complexo agroindustrial responsável por 60% da cana cultivada no País. Essa expressiva participação o coloca como um dos principais clientes desta nova carteira de crédito. No Estado de São Paulo, de acordo com CASTRO (2001), as 131 usinas e destilarias são auto-suficientes e empregam o bagaço de cana para gerar a energia que consomem durante o processo de produção do álcool e do açúcar. Destas, doze geram excedentes, estimados, para a safra 2001/2002, em 85 megawatts (MW), volume suficiente para abastecer cerca de 270 mil residências com consumo médio de 250 kWh/mês no período de safra da cana. Entre as quatro grandes concessionárias estaduais2, a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), cuja área de concessão atende um dos mercados mais desenvolvidos do País, tem contrato de compra de eletricidade excedente com nove destas usinas, e projeta essa capacidade para 200 MW em 2005, beneficiando 680 mil residências, o que equivale a uma comunidade de 2,5 milhões de habitantes, durante os meses de safra. Tomando-se a CPFL, como exemplo das ações governamentais, encontra-se no BNDES, em fase de carta-consulta ou de enquadramento, oito pedidos de financiamento para projetos de cogeração e ainda existem 30 usinas interessadas em investir nessa área em São Paulo. Em agosto de 2001 foram assinados os primeiros contratos de financiamentos para cogeração de energia, firmados entre o BNDES, a Companhia Energética Santa Elisa de Sertãozinho e a usina Cerradinho de Catanduva, ambas no Estado de São Paulo e a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), interessada na compra de energia elétrica (http://www.bndes.gov.br/notícias). Outro fator relevante, apontado pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda em relatório sobre os efeitos do racionamento de energia sobre a oferta agregada (SPE, 2001), consiste na transferência de energia elétrica entre os setores da economia como sendo uma alternativa fundamental para diminuir o impacto de um possível racionamento, bem como para preservar o crescimento da economia. É fundamental ressaltar que, além de utilizado nas usinas e destilarias, o bagaço é empregado como combustível em outras indústrias, como substituto dos derivados de petróleo e da lenha. A indústria de alimentos e bebidas paulista, em especial a cítrica e a da soja, são grandes consumidoras de bagaço, devido à proximidade de suas unidades de esmagamento com as regiões canavieiras, e pelo fato de sua sazonalidade coincidir com a safra da cana-de-açúcar. Portanto, um maior volume de bagaço, destinado a cogeração de energia elétrica, necessitaria de uma maior produção de cana, e conforme ressaltaram Veiga Filho & Yoshii apud CAMARGO et alii (1995), “o Estado de São Paulo não tem mais fronteira agrícola externa a ocupar, ou seja, não conta com grandes áreas devolutas ou extensos maciços florestais que poderiam ser utilizados para uso agrícola, de acordo com o processo de 2 No Estado de São Paulo existem treze distribuidoras de energia elétrica, sendo que quatro delas (Bandeirante, CPFL, Elektro e Eletropaulo) atendem 541 municípios dos 643 existentes, respondendo por 93% da energia fornecida à população. As outras concessionárias são: Caiuá - Serviços de Eletricidade S. A. (CSE), Companhia Luz e Força de Mococa (CLFM), Companhia Luz e Força Santa Cruz (CLFSC), Companhia Nacional de Energia Elétrica (CNEE), Companhia Paulista de Energia Elétrica (CPEE), Empresa Elétrica Bragantina S. A. (EEB), Empresa de Eletricidade Vale Paranapanema S. A. (EEVP), Companhia Jaguari de Energia (CJE) e Companhia Sul Paulista de Energia (CSPE). 1 evolução da agricultura que ocorreu no passado, feito por incorporação de áreas novas. Assim, qualquer expansão de área de atividades agrícolas que não ocorra por uso mais intensivo da terra, será feita por substituição de outras atividades”. Deste modo haveria o deslocamento de áreas de culturas alimentares de mercado interno e de produtos de exportação, provocado pelo aumento da área de produção de canade-açúcar. A partir disso, podem ser projetados efeitos na concentração de terras e de renda no meio rural, e também no aumento da sazonalidade da mão-de-obra. Não se pode esquecer ainda os impactos no ambiente advindos da perda da biodiversidade, e da queima na colheita manual, com a expansão da monocultura da cana. Há que se pensar, portanto, que se a cogeração de energia elétrica pelo bagaço de cana pode resolver, a curto prazo, os entraves no abastecimento energético, pode também estar aumentando os custos sociais e ambientais dessa alternativa na matriz energética estadual. É preciso ter em pauta nesses programas de incentivo quais parâmetros devem ser estabelecidos no sentido de não acirrar a questão agrária e suas conseqüências, o equilíbrio e produção entre as culturas alimentares, de exportação e energéticas, além da necessidade premente de se aplicar a legislação ambiental, para diminuir os impactos no meio natural. Nesse sentido, pesquisas sobre o emprego de fontes energéticas alternativas, e os impactos gerados por sua adoção, são de grande relevância, por apontar soluções, a curto prazo, para subsidiar o planejamento de políticas voltadas ao desenvolvimento econômico. 2. OBJETIVO Essa pesquisa analisa a cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana, capaz de suprir a demanda do setor industrial de alimentos e bebidas do Estado de São Paulo numa projeção para o ano de 2010. Para a projeção da demanda foram construídos cenários levando-se em conta as alternativas possíveis para atender esta expectativa. Foi feita uma abordagem sobre os impactos que a expansão da área cultivada provocaria na mão-de-obra agrícola e na composição da produção agropecuária paulitas. 3. METODOLOGIA 3.1. Modelos de Análise e Projeção da Demanda de Energia Dentre os diversos modelos de análise e projeção de demanda de energia os mais empregados pelas agências de planejamento, segundo JANNUZZI & SWISHER (1997), são os econométricos e os técnicos-econômicos, esses últimos também denominados por usos-finais. Os modelos econométricos foram aplicados em projeções da demanda de energia até meados da década de 70. No entanto, mostraram-se incapazes de captar mudanças significativas no quadro evolutivo do consumo, principalmente no que se refere aos serviços de energia (iluminação, refrigeração e transporte, dentre outros). Esses modelos, basicamente, utilizavam, para suas projeções, dados sobre o preço de energia e renda e, ao estimarem as elasticidades de energia a partir de dados do passado, não incorporavam outras variáveis, como mudanças na estrutura tecnológica da demanda de energia, no comportamento do consumidor, bem como em programas de economia de energia. Os modelos de usos-finais, por sua vez, desagregam o consumo de energia pelos seus serviços (força motriz, cocção de alimentos, etc), contemplando, assim, tanto o lado 2 da oferta quanto as possíveis alternativas de tecnologias para a realização desses serviços em seus usos-finais, que podem ser avaliados empregando-se a técnica de cenarização, do ponto de vista de seus desempenhos e custos. As equações usadas para projetar a demanda de energia por usos-finais apresentam formulações analíticas simples e, são passíveis de alterações conforme a disponibilidade dos dados e o resultado que se busca para o planejamento dos serviços de energia. Ao incorporar informações relacionadas ao crescimento desejável da economia brasileira e utilizá-las para projetar a demanda dos serviços de energia em dado setor, tem representado um instrumental importante e bastante consistente para análises prospectivas. Procurou-se, inicialmente, identificar as variáveis fundamentais para a realização destas projeções e caracterizar, tomando-se o ano de 2000 como referência, os aspectos sócio-econômicos e energéticos mais relevantes do complexo agroindustrial canavieiro, bem como da indústria de alimentos e bebidas do Estado de São Paulo. Algumas variáveis tiveram que ser adequadas ao propósito do trabalho, tendo em vista a indisponibilidade de dados específicos, tanto para o setor industrial quanto para o agrícola. As projeções para atender a demanda da indústria de alimentos e bebidas, no ano 2010, foram realizadas considerando-se dois cenários energéticos, construídos a partir do modelo discutido em JANNUZZI & SWISHER (1997), aqui denominados tendencial e eficiente. 3.2. Cenários de Projeções A técnica de cenarização vem sendo aplicada em diversas áreas do conhecimento, e basicamente consiste em uma sistematização das informações, devidamente relacionadas, e capaz de produzir elementos passíveis de análise. É também utilizada como instrumental de simulação em estudos de planejamento e avaliação da introdução/substituição de atividades. A escolha dos cenários deve atender a alguns requisitos, como plausibilidade, consistência interna, inclusão de todos os fatores críticos relevantes e similaridade com outros cenários, quando houver propósito de comparação (VIEIRA et alii, 1978). Seu emprego para a projeção da demanda de energia tem, à semelhança de estudos em outras áreas, o objetivo de avaliar diferentes alternativas, sejam elas tecnológicas, econômicas ou ambientais, capazes de proporcionar o mesmo nível de serviços de energia que estão sendo demandados. JANNUZZI & SWISHER (1997) definem cenário “como sendo um conjunto de hipóteses que descrevem as características sócio-econômicas, requerimentos de demanda de energia e estratégias de atendimento dessa demanda”. Os cenários projetados pelo modelo de usos-finais procuram comparar diferentes alternativas para satisfazer um determinado nível de serviços de energia, contemplando ainda informações sobre a evolução do crescimento econômico. Admitiu-se como hipótese básica, que, qualquer que seja a trajetória da economia brasileira até 2010, ela não sofrerá solução de continuidade ou transformações radicais em relação ao comportamento observado nos últimos anos. 3.2.1. Cenário Tendencial Este cenário supõe, para o horizonte temporal proposto (2010), que a oferta de bagaço de cana e de energia elétrica na indústria de alimentos e bebidas seja mantida nos 3 mesmos níveis atuais, portanto guardando as características observadas no ano base (2000), refletindo, assim, os níveis de crescimento historicamente observados. Neste cenário não se admitem alterações na composição do consumo de energia, seja em função da melhoria da eficiência dos usos finais, seja da conservação ou da substituição de energéticos. É portanto, uma projeção tendencial em que não existem alterações nas políticas para o setor energético. Logo, vai apresentar, de acordo com as evoluções da economia do período, um acréscimo em relação ao consumo final de energia do ano base, como conseqüência do crescimento das variáveis explanatórias utilizadas, como o PIB e a participação do consumo de energia nos diversos usos finais. As projeções das demandas dos consumos de energia utilizaram, como referência, a planilha de cálculo apresentada em JANNUZZI & SWISHER (1997). A projeção do consumo final requer que se tenha, para o ano base, o conhecimento das seguintes variáveis: Intensidade Energética (I) = fluxo de energia por unidade de serviço. No caso da indústria pode ser definida como a quantidade de energia por tonelada do produto em kcal/R$. Produto Interno Bruto (PIB) = o valor da produção, a preços de mercado, realizada dentro das fronteiras geográficas do País. Segundo UGAYA (1996), para se realizar um estudo sobre energia em um determinado setor é necessário relacionar o consumo de energia deste com algumas variáveis sócio-econômicas. A autora cita estudos realizados por Chateau (1982) e Goldemberg et alli (1988), que demonstram que, no caso do setor industrial, a demanda por energia está diretamente relacionada com o Produto Interno Bruto. Horas-ano de trabalho (M) = número de horas por ano (horas/ano) de funcionamento do setor, admitindo-se que as indústrias funcionem durante os 365 dias. Taxa de crescimento (TC) = estimativa de crescimento médio anual projetado para o setor em função de determinadas variáveis econômicas, em percentagem (%). A energia total do setor E(X) no ano base é calculada pela equação expressa em tEP/ano: E(X) = PIB * I * M A partir da obtenção do valor correspondente à energia consumida pelo setor no ano base é possível projetá-lo para o horizonte desejado, no caso, dez (10) anos, fazendo uso da equação3: E(X + 10) = PIB (X + 10) * I * M, onde PIB (X + 10) = PIB * (I + TC) Uma vez que o estudo procura enfocar somente a substituição entre os energéticos, considerou-se o consumo de todos os usos finais de energia elétrica a serem substituídos pela cogeração a partir do bagaço de cana, de acordo com a Agência para Aplicação de Energia - AAE (1990). 3 Os cálculos das projeções foram realizados utilizando-se o software Mathematica for Windows (versão 2.2.3) da Microsoft. 4 3.2.2. Cenário Eficiente No cenário eficiente pode se contemplar tanto a melhoria dos diversos usos finais, via reduções de consumo e de potência, como a possibilidade de substituição entre energéticos. Este pode ser construído em função da finalidade que se pretende atingir, em diversos tipos de cenários, dentre eles, o potencial técnico, o potencial econômico e o potencial de mercado. Nesta pesquisa são apresentados os resultados utilizando-se o cenário eficiente, contemplando o potencial econômico para avaliar a alternativa de cogeração de energia elétrica a partir do bagaço de cana. Assim, a redução do consumo da fonte substituída, em contrapartida com a fonte que deverá substituí-la, pode ser avaliada por meio de algumas variáveis econômicas e ambientais, como tipo de combustível, poder calorífico, eficiência do sistema de conversão e de uso-final, emissão de poluentes (CO2) e custos. Essa análise, portanto, avalia, além dos custos econômicos para a indústria, os efeitos que a implementação da substituição implicará em termos de custos ambientais e outras externalidades. Neste cenário compara-se os efeitos da substituição entre energéticos utilizados no processo produtivo levando-se em conta especificidades como emissões de carbono, eficiência tecnológica e custos, conforme JANNUZZI & SWISHER (1997): E = Carga/Ef TE = E * DEC/DE = (DEC/DE) * Carga/Ef CA = (Ccap * FRC) + (E * Ccomb), onde E = Uso de energia anual (tEP/ano). Carga (ou potência) = carga de energia útil anual (tEP/ano). Ef = Eficiência da tecnologia do uso final (%). TE = Taxa de emissão anual (t/ano). DEC/DE = intensidade de emissão do combustível (t/tEP) CA = Custo anual do serviço ($/ano) Ccap = Custo de capital da tecnologia de uso final ($). FRC = Fator de recuperação de capital4 = [r (1+r)n / (1+r)n - 1], onde r = taxa de retorno n = vida útil do equipamento Ccomb = custo unitário do combustível (R$/tEP). O cenário eficiente corresponde ao incremento da produção para fazer frente às metas de crescimento da demanda por bagaço da cana, pressupondo diversos desdobramentos. Excluindo-se o aumento do rendimento industrial haveria duas outras soluções possíveis, a expansão da produção da matéria-prima (área cultivada de cana) e a elevação da produtividade da lavoura. Destaque-se que a expansão da área da lavoura de cana pode provocar alterações no nível de emprego e mudanças na composição do setor agropecuário. 4 Fator de recuperação de capital é definido pela relação inversa entre o valor presente líquido e a sua distribuição em parcelas uniformes ao longo do fluxo de caixa (NORONHA, 1981). 5 3.3. Dados do Setor Agrícola no Ano 2000 Considerando-se as 46 principais culturas a SEADE (2001) calculou o equivalente em homens-ano (EHA)5 ocupados em cada atividade em 729.800 ou 145.960 homens-dia por ano (hd/ano). Destes, 212.882 EHA (42.576 hd/ano), ou seja, 29,17%, estavam ocupados na cultura da cana-de-açúcar (Tabela 1). Tabela 1. Área Cultivada e Demanda da Força de Trabalho Agrícola, segundo as Principais Culturas, 2000. Principais Culturas Área % Força de Trabalho % 1.000 ha EHA(1) Abacaxi 3,20 0,04 735 0,10 Algodão 65,80 0,91 9.606 1,32 Alho 0,30 0,00 319 0,04 Amendoim 76,60 1,06 6.429 0,88 Arroz 49,60 0,69 5.230 0,72 Banana 63,70 0,88 27.706 3,80 Batata 27,80 0,39 5.500 0,75 Café 366,40 5,08 136.588 18,72 Cana-de-Açúcar 2.727,00 37,82 212.882 29,17 Cebola 10,80 0,15 4.095 0,56 Chá 4,10 0,06 2.554 0,35 Eucalipto 720,50 9,99 30.994 4,25 Feijão 179,70 2,49 15.467 2,12 Figo 0,60 0,01 590 0,08 Fumo 0,20 0,00 139 0,02 Goiaba 3,90 0,05 2.982 0,41 Laranja 843,50 11,70 90.993 12,47 Maçã 0,40 0,01 209 0,03 Mamona 2,80 0,04 401 0,05 Mandioca 51,10 0,71 9.565 1,31 Maracujá 3,50 0,05 1.715 0,23 Melancia 5,60 0,08 1.969 0,27 Milho 1.081,90 15,01 25.385 3,48 Morango 0,90 0,01 6.445 0,88 Olerícolas(2) 86,30 1,20 79.180 10,85 Pêssego 3,40 0,05 2.720 0,37 Pinus 159,0 2,21 4.975 0,68 Seringueira 35,40 0,49 11.003 1,51 Soja 535,00 7,42 8.814 1,21 Sorgo 72,70 1,01 476 0,07 Tomate Rasteiro 3,60 0,05 590 0,08 Trigo 14,0 0,19 89 0,01 Uva 10,90 0,15 23.455 3,21 Total 7.210,20 100,00 729.800 100,00 (1) EHA – equivalentes-homens-ano. Um EHA corresponde a 0,2 dias de trabalho de 8 horas de um homem. (2) Incluem abóbora, abobrinha, alface, batata-doce, berinjela, beterraba, brócolis, cenoura, chuchu, couve, couve-flor, milho verde, mandioquinha, pepino, pimentão, quiabo, repolho, tomate envarado e vagem. Fonte: FUNDAÇÃO SEADE, 2001. 5 Equivalentes homens é uma medida de emprego com o intuito de se obter o número médio de trabalhadores convertendo também o trabalho de mulheres e crianças em equivalente homem. De acordo com GONÇALVES & SOUZA (1998), 1000 equivalentes-homem-ano corresponde a 200 dias de trabalho de 8 horas. 6 Os impactos sobre a demanda da força de trabalho podem ser calculados, seguindo a metodologia da fundação SEADE, cuja projeção conservadora se apóia na manutenção do número de equivalentes-homem-ano por hectare (EHA/ha). O efeito substituição, provocado pela ampliação da área com cana sobre as áreas de outras culturas foi estimado com base em pesquisas desenvolvidas por IGREJA & CAMARGO (1992) e CAMARGO et alii (1995) para o Estado de São Paulo. 3.4. Matriz Energética Paulista O consumo final de energia por setor de atividade no Estado de São Paulo, em 2000, correspondia a 510.045*109 kcal ou 70.131*103 tEP (Tabela 2). Tabela 2. Composição Setorial do Balanço Energético do Estado de São Paulo, 2000. Setores 109 kcal Consumo Final não Energético 77.387 Consumo Final Energético 432.658 Setor Energético 24.488 Residencial 43.192 Comercial 17.566 Público 8.673 Agropecuário 11.409 Transportes 150.977 Industrial 176.353 Total 510.045 Fonte: Balanço Energético do Estado de São Paulo, 2001. % 15,17 84,83 4,80 8,47 3,44 1,70 2,24 29,60 34,58 100,00 A matriz energética do Estado de São Paulo, no mesmo ano, apresentou a distribuição da Tabela 3. Tabela 3. Composição por Energético do Balanço Energético do Estado de SP, 2000. Energéticos Carvão Vapor Gás Natural Lenha Outras Primárias Energia Primária Óleo Diesel Óleo Combustível Gasolina GLP Nafta Querosene Gás Canalizado Gás de Coque Coque de Carvão Mineral Eletricidade Carvão Vegetal Álcool (Hidratado e Anidro) Bagaço de Cana Outras Secundárias Energia Secundária Total 109 kcal 364 13.286 10.863 7.364 31.877 76.649 42.639 45.768 22.494 22.146 15.839 4 2.433 10.633 90.098 1.276 16.994 58.116 73.079 478.168 510.045 % 0,07 2,60 2,13 1,44 6,25 15,03 8,36 8,97 4,41 4,34 3,11 0,00 0,48 2,08 17,66 0,25 3,33 11,39 14,33 93,75 100,00 Fonte: Balanço Energético do Estado de São Paulo, 2001. 7 Segundo dados do BEESP (2001) o consumo final de biomassa na matriz está presente de maneira significativa nos setores energético (22,4%), de transportes rodoviário (11,3%) e industrial (66,2%), destacando-se, neste último, a indústria de alimentos e bebidas (62,3%). Dentre estes energéticos, os produtos da cana-de-açúcar estão representados pelo álcool (hidratado utilizado como combustível em carros e anidro misturado à gasolina) no setor de transportes e bagaço nos setores industrial e energético. O consumo final de energia elétrica, por sua vez, contabiliza 90.098*109 kcal, em que se destacam os setores industrial com participação de 44,20%, sendo que o ramo de alimentos e bebidas responde por 13,06% deste consumo, e os setores residencial por 26,85% e o comercial com 15,13%. 3.5. O Consumo de Energia no Setor Industrial O consumo total de energia do setor industrial corresponde a 176.353*109 kcal ou 27.873*103 tEP. Deste total, 37.246*109 kcal referem-se ao consumo de eletricidade e 62.200*109 kcal ao de bagaço, respectivamente 21,12% e 35,27% do total de energia consumida pelo setor. Apresentam-se as participações do consumo de energia por usos-finais para o segmento de alimentos e bebidas, publicadas em estudo da Agência para Aplicação de Energia (Tabela 4). Tabela 4. Distribuição do Consumo de Energia por Usos Finais na Indústria de Alimentos e Bebidas, Estado de São Paulo, 2000. Usos Finais Energético Eletricidade (%) Óleo Combustível e Derivados(1) (%) Caldeira 28,00 40,00 Secador/Estufa 12,00 0,00 Força Motriz 0,00 48,00 Iluminação 0,00 3,00 Outros 60,00 9,00 Total 100,00 100,00 (1) Inclui óleo diesel, GLP e querosene. (2) Inclui lenha, carvão vapor e gás natural. Fonte: A partir dos dados da AAE (1990) e BEESP (2000). Bagaço de Cana e Outros(2) (%) 89,00 11,00 0,00 0,00 0,00 100,00 O consumo de bagaço neste ramo industrial destina-se à caldeira (89,00%) e ao secador/estufa (11%) como usos-finais. Já a eletricidade é empregada na caldeira (40%) e em motores (48%), além de servir à iluminação (3%) e demais usos (9%). Quanto ao consumo específico, ou seja, a intensidade energética na indústria de alimentos e bebidas estimada para o setor em São Paulo, representando a relação entre o consumo total de energia pelo produto interno bruto do setor, o valor foi de 5,15 kcal/R$ (BEESP, 2000). 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO 8 4.1. Cenário Tendencial A energia total estimada para a matriz energética do Estado de São Paulo, para o setor industrial e para o ramo de alimentos e bebidas, no ano base (2000), compreendeu a intensidade energética (I) calculada com dados do ano anterior (1999), admitindo-se que a mesma relação se mantivesse para a estimativa do total consumido de 2000, e correspondeu a 1,52 Kcal/R$ (matriz energética), 1,35 Kcal/R$ (setor industrial) e 5,15 Kcal/R$ (alimentos e bebidas), a partir do BEESP (2000). O Produto Interno Bruto (PIB), correspondente ao ano de 1998, foi obtido com os dados da SEADE (2001), como sendo R$ 324.012 milhões (Estado de São Paulo), R$ 121.346 milhões (setor industrial) e R$ 13.474 milhões (alimentos e bebidas). As horas/ano (M) de funcionamento das indústrias, 1.095, foi estimada por UGAYA (1996). A taxa de crescimento (TC) média anual estimada para o crescimento econômico foi de 4,5%, baseada em dados do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, publicada no relatório Perspectivas da Economia Mundial (WORLD ECONOMIC OUTLOOK, 2000), de setembro de 2000. Inicialmente, abordou-se o consumo energético total para o cenário tendencial da matriz energética considerando-se todos os energéticos que compõem a matriz. O consumo total de energia da matriz paulista, do setor industrial e do ramo de alimentos e bebidas, no ano base, bem como as projeções de energia para o cenário tendencial em 2010 encontram-se na Tabela 5. Tabela 5. Consumo Real e Calculado de Energia da Matriz Paulista, Setor Industrial e Ramo de Alimentos e Bebidas, Estado de São Paulo, 2000. Setores Estado de São Paulo Industrial Alimentos e Bebidas 2000 Real (tEP) 71.670.000 28.477.000 9.929.000 2010 Calculado (tEP) 108.147.000 44.223.900 15.419.400 Fonte: Dados da pesquisa. No caso das projeções dos consumos de energia elétrica e bagaço de cana para o setor industrial e para o ramo de alimentos e bebidas utilizaram-se os valores das variáveis [PIB, M, E(X), TC e I], descritas anteriormente, que resultaram nas projeções da Tabela 6. Tabela 6. Consumo Real e Calculado de Bagaço de Cana e Energia Elétrica, Setor Industrial e Ramo de Alimentos e Bebidas, Estado de São Paulo, 2000 e 2010. Setor Industrial Bagaço de Cana Energia Elétrica Alimentos e Bebidas Bagaço de Cana Energia Elétrica 2000 Real (tEP) 2010 Calculado (tEP) 7.473.000 12.836.000 11.605.300 19.933.900 7.416.000 1.677.000 11.516.800 2.604.330 Fonte: Dados da pesquisa. A energia elétrica demandada pela indústria de alimentos e bebidas foi de 1.677*103 tEP/ano e a projetada para 2010 de 2.604*103 tEP/ano. Esse valor, em 103 tEP, 9 convertido em bagaço de cana (103t) pelo fator 0,209 corresponde a 12.459*103 toneladas de bagaço. 4.2. Cenário Eficiente ou Cenário Potencial Econômico Para o cenário eficiente, onde se procuram verificar os efeitos da substituição entre energéticos utilizados no processo produtivo salientou-se a necessidade de se considerar novas formas de geração de energia a curto prazo e os efeitos que suas adoções provocariam junto aos setores envolvidos. A energia necessária ao aquecimento da caldeira foi de 11.105 * 103 tEP/ano (BEESP, 2001). Esse valor representa a soma de 89,00% de energia do bagaço (8.750*103) acrescido de 40,00% (2.355*103) de energia elétrica usados na caldeira. Admitiu-se uma caldeira mista onde o bagaço apresenta uma eficiência de 75% e a eletricidade 88%, cujo valor foi estimado em R$ 32 milhões6. Com respeito às emissões produzidas pelo ramo de alimentos e bebidas, constatouse que 0,74 mega toneladas de carbono por ano (MtC/ano) são lançados na atmosfera pela combustão de biomassa (BEESP, 2001), presumindo-se que as emissões relativas ao bagaço referem-se ao aquecimento da caldeira e ao secador/estufa. Além disso, a fuligem produzida pela utilização do bagaço de cana nas caldeiras industriais polui, à semelhança das queimadas, o entorno das indústrias, que necessitam de equipamentos retentores de fuligem para garantir uma eficiência de 98% (MANFRIM & SEVERI, 2001). O custo médio da energia gerada a partir do bagaço foi estimado em R$ 84,21/tEP e o da eletricidade em R$ 288,62/tEP (BEN, 2000). O fator de recuperação de capital foi calculado para duas situações distintas. Na primeira considerou-se a vida útil da caldeira em 15 anos, levando-se em conta a obsolescência técnica, e na segunda o sucateamento físico em 30 anos. Para a outra variável que compõe os cálculos, a taxa de desconto, admitiu-se a taxa de juro paga pelas instituições financeiras às aplicações em poupança, ou seja de 6% ao ano, resultando nos respectivos fatores: 0,10 e 0,073. Os resultados obtidos, usando-se as relações mencionadas para avaliar os custos anuais e as emissões de CO2 para a caldeira acionada à bagaço e a energia elétrica, podem ser observados na Tabela 7. Tabela 7. Custos Anuais, Emissões de CO2 e Custos de Energia para o Bagaço Eletricidade no Setor de Alimentos e Bebidas, 2000. Emissões Energético Custos Anuais (103 R$) Anuais de CO2 Vida Útil – 15 Vida Útil – 30 MtC/ano anos anos Bagaço de Cana 1.250.069 1.249.205 0,74 Energia Elétrica 3.645.387 3.644.523 --Fonte: Dados da pesquisa. de Cana e Custos de Energia R$/tEP 84,21 288,62 O tempo de vida útil do equipamento, parte integrante dos cálculos do fator de recuperação de capital, não representou um item de diferenciação importante, uma vez que 6 Informações fornecidas pelo representante de vendas da Ata- Combustão Técnica S.A., ao qual as autoras agradecem. 10 os valores das economias de custos anuais foram absolutamente iguais, bem como os preços da energia economizada7. O cenário eficiente mostra que as economias de custos anuais, obtidas pela diferença entre os custos dos energéticos, representaram R$ 2.395.318.133,00 para substituir a eletricidade pelo bagaço de cana na caldeira. Levando-se ainda em conta que a eletricidade tem um valor de energia primária 3,4273 vezes superior ao do bagaço ter-se-ía uma economia de energia primária na ordem de 28.443.521 tEP/ano, calculada como segue: EP = 3,4273 (12.619.318) – 14.806.667 = 28.443.521 tEP/ano O custo da energia elétrica economizada seria de R$ 98,80/tEP, obtido pela relação: [32*106 (0,10) + 14.806.667 (84,21) - 32*106 (0,10)]/ 12.619.318. Portanto, o custo calculado é inferior ao preço considerado para aquele energético de R$ 288,62/tEP e, do ponto de vista econômico, o custo da energia elétrica conservada substituída pelo bagaço de cana-de-açúcar representaria uma alternativa vantajosa. Já as economias de emissões anuais de CO2 apontam uma vantagem para a manutenção da energia elétrica. Do ponto de vista ambiental a comparação entre as emissões de poluentes, especificamente do CO2, um dos gases responsáveis pelo chamado efeito estufa, mostrou vantagem da eletricidade sobre o bagaço de cana. Ressalte-se, porém, conforme salientado no Balanço Energético do Estado de São Paulo, que as emissões produzidas pela combustão da biomassa “não contribuem para o efeito estufa, desde que sua utilização seja acompanhada da equivalente reposição da matéria-prima vegetal, pois o processo de fotossíntese retira da atmosfera, a quantidade correspondente de carbono liberada na combustão. Existe consenso de que o uso da biomassa como energético em um sistema efetivamente renovável, ou seja, com reposição da biomassa utilizada, o balanço de CO2 é nulo” (BEESP, 1996). Para que as emissões sejam compensadas pela fotossíntese é necessário haver uma proximidade entre a indústria e as áreas “absorvedoras”, visto que a importância está em se obter um equilíbrio entre emissão e assimilação de CO2, cuja mensuração é difícil de ser realizada. 4.3. Impactos na Agricultura Considerando que a área plantada com cana de açúcar representou cerca de 15% da área agrícola paulista, no ano base de 2000, a substituição total da energia elétrica pelo bagaço de cana na indústria de alimentos e bebidas, necessitaria de uma quantidade de cana que produzisse 12.459*103 toneladas de bagaço para cogerar energia elétrica. Isto significa 49.837.320 toneladas obtida pela relação produção de bagaço por tonelada de cana através da expansão da área em 684.264 hectares. Neste sentido, o cenário que se vislumbra, em função dos investimentos do setor energético, produzirá importantes reflexos sobre o setor agrícola paulista. Os impactos 7 Os cálculos utilizando-se o tempo de vida útil de 15 anos, por exemplo, foram os seguintes: Para a caldeira à bagaço de cana: E = 11.105.000/0,75 = 14.806.667 tEP/ano TE = 0,74 MtC/ano CA = 32*106 (0,10) + 14.806.667 (84,21) = R$ 1.250.069.428,00 Para a caldeira à eletricidade: E = 11.105.000/0,88 = 12.619.318 tEP/ano TE = 0 MtC/ano CA = 32*106 (0,10) + 12.619.318 (288,62) = R$ 3.645.387.561,00 11 decorrentes da expansão da área de cana-de-açúcar incorrerão, basicamente, em transformações na agricultura, na redistribuição regional da produção, no aumento da concentração fundiária, e ocupação da mão-de-obra agrícola, com efeitos no volume de emprego na agricultura. Utilizando-se os dados sobre a quantidade de hectares e de equivalentes homens ano ocupados em 2000, por atividade, calculou-se o deslocamento de área das principais culturas que tradicionalmente cedem espaço para a cultura da cana, de acordo com IGREJA & CAMARGO (1992) e CAMARGO et alii (1995), e da respectiva mão-de-obra empregada para o ano 2010 (Tabela 8). Tabela 8. Área Cultivada com as Principais Culturas Substituídas e Demanda da Força de Trabalho Agrícola Efetiva e Deslocada, Estado de São Paulo, 2000 e 2010. 2000 Cultura Área Deslocada (%) Força de Trabalho (EHA) (ha) Força de Trabalho Deslocada (EHA) 0.07 1.46 1.70 1.10 0.62 8.13 15.98 3.99 nd 0.06 1.13 24.00 37.85 3.53 0.08 0.30 100.00 735 9.606 6.429 5.230 5.500 136.588 30.994 15.467 nd 401 9.565 25.385 1.160 4.975 590 89 252.711 478 9.990 11.633 7.527 4.242 55.632 109.346 27.302 nd 411 7.732 164.223 258.994 24.154 547 2.053 684.264 109 1.457 976 793 839 20.737 4.703 2.349 nd 58 1.447 3.852 176 755 89 13 38.353 Área (ha) Abacaxi 3.200 Algodão 65.800 Amendoim 76.600 Arroz 49.600 Batata 27.800 Café 366.400 Eucalipto 720.500 Feijão 179.700 Mamão nd Mamona 2.800 Mandioca 51.100 Milho 1.081.900 Pastagem Natural 1.706.640 Pinus 159.000 Tomate Rasteiro 3.600 Trigo 14.000 Total 4.508.640 nd = dado não disponível. Fonte: A partir de SEADE (2001). 2010 Dos 684.264 hectares a serem incorporados pela cana-de-açúcar, 37,85% seriam provenientes de pastagem natural, 24,00% de milho, 15,98% do eucalipto, 8,13% de café, 3,99% de feijão, 3,53% do pinus, 1,70% do amendoim, 1,46% de algodão, e os 3,36% restantes distribuídos entre as culturas de abacaxi, arroz, batata, mamona, mandioca, tomate rasteiro e trigo. A expansão da área com cana-de-açúcar em 684.264 hectares representaria, no total, a perda de 38.353 equivalentes homens ano nas culturas que cederiam área , contra o emprego de 53.417 EHA, que teriam ocupação naquela atividade, portanto um aumento da demanda da força de trabalho de 15.064 EHA. 5. CONCLUSÕES Do ponto de vista do planejamento, pensar a médio e longo prazos é um desafio e uma necessidade. Nesse sentido, exercícios de cenários realçam a importância daquelas 12 que podem ser consideradas alternativas para se atingir metas de crescimento, identificando as variáveis fundamentais para a concretização destas projeções. Neste trabalho foram projetados e discutidos dois cenários para o consumo de energia elétrica na indústria de alimentos e bebidas do Estado de São para o ano 2010, diante de uma perspectiva de crescimento moderado da economia brasileira. Discutiu-se, ainda, a viabilidade da substituição da energia elétrica, no processo de produção industrial, contemplando aspectos sócio-econômicos e ambientais. Os resultados das projeções do consumo de energia para o setor, em 2010, bem como da análise do potencial econômico da substituição entre os energéticos, mostraram que o modelo utilizado é um instrumental importante e consistente para análises prospectivas. A análise econômica salientou os benefícios em se promover a substituição da energia elétrica nas caldeiras, pelo bagaço de cana-de-açúcar, devido à economia nos custos. O cenário eficiente ou potencial econômico demonstrou que, sob o ponto de vista dessas economias, existem benefícios em se substituir a energia elétrica pelo bagaço de cana nas caldeiras da indústria de alimentos e bebidas, seja como medida de conservação de energia primária ou como vantagem dos custos anuais para a indústria. Sob o enfoque ambiental, a substituição da energia elétrica pelo bagaço de cana, mostrou-se desvantajosa em virtude de seu maior impacto na taxa de emissão de CO2 que, no entanto, pode ser compensada pela maior área fotossintética proveniente dos plantios de cana adicionais. Apresenta-se também como uma medida de conservação dos recursos naturais ao promover uma importante economia de energia primária. Quanto aos impactos no setor agrícola se concluiu que a ampliação territorial das áreas com cana-de-açúcar devem intensificar o deslocamento das culturas que, historicamente, já vêem sendo substituídas por outras tão dinâmicas e rentáveis quanto ela. E, em relação à ocupação da força de trabalho tem-se um horizonte de aumento da demanda pela mão-de-obra temporária, ou seja, de aumento da oferta de emprego. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AAE – Agência para Aplicação de Energia. Uso Final de Energia nas Indústrias do Estado de São Paulo- 1986/1989. CESP/CPFL/ELETROPAULO/COMGÁS. SICEN, 1990. BEESP – Balanço Energético do Estado de São Paulo. Ano Base 1995. Secretaria de Estado de Energia. CESP. São Paulo. 1996. BEESP – Balanço Energético do Estado de São Paulo. Ano Base 1999. Secretaria de Estado de Energia. CESP. São Paulo. 2000. BEESP – Balanço Energético do Estado de São Paulo. Ano Base 2000. Secretaria de Estado de Energia. CESP. São Paulo. 2001. BEN – Balanço Energético Nacional. 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