HISTÓRIA DAS MULHERES NA IDADE MÉDIA: ABORDAGENS E REPRESENTAÇÕES NA LITERATURA HAGIOGRÁFICA (SÉCULO XIII). André Candido da Silva1 RESUMO: O propósito deste trabalho é apresentar por meio dos discursos eclesiásticos que se refere à representação das mulheres na Idade Média, em especial, o século XIII, período em que a civilização medieval presenciou grandes avanços relacionados às práticas sociais e culturais. Abordaremos a temática por meio da filosofia, sociologia, e principalmente pelo viés da literatura, utilizando como fonte de pesquisa a obra do dominicano Jacopo de Varazze, a Legenda áurea. Na presente obra são apresentados os textos hagiográficos (escritura dos santos), que mencionam a figura das mulheres naquele contexto histórico, pois, no âmbito social, as mulheres sempre encaradas pelos modelos distintos como de Eva, responsável pelo pecado original, à Virgem Maria, o modelo do feminino a ser seguido e uma terceira via, a figura de Madalena, a pecadora que se arrepende de suas delinquências, criando, assim, representações por meio desses arquétipos, que se relacionam entre o poder e o imaginário. Nessa perspectiva, a representação das mulheres a partir dessa terceira via associa-se à sexualidade e à sedução, que, para a época, constituíam formas absolutamente repreensíveis pela sociedade, estruturada pela cultura patriarcal e religiosa. PALAVRAS-CHAVE: Hagiografia. Literatura. Mulheres. Período Medieval. Representação Nas últimas décadas do século XX, as mudanças na historiografia mediante as suas teorias e metodologias, resultaram em grandes avanços para os estudos sobre as temáticas relacionadas a grupos sociais que se encontravam fora do interesse das pesquisas nas ciências humanas. No entanto, a ausência dessas temáticas é especialmente marcante, no campo da história e que envolvem temas como: grupos étnicos raciais, camponeses, pessoas comuns e, em especial, as Mulheres. Esta temática recebeu por sua vez, uma forte influência mediante aos movimentos sociais, como os movimentos feministas iniciados a partir da década de 1960, que contribuíram para despertar o interesse de se estudar sobre a história das mulheres. Temos como objetivo neste estudo, refletir sobre o enfoque dado ao desenvolvimento sobre a representação das mulheres, mencionando o seu corpo, sua sexualidade e até sua invisibilidade ao longo da história. Neste sentido buscamos situar a Idade Média, em especial o viés da literatura hagiográfica como determinantes para a construção de um imaginário e um instrumento de persuasão aos ambientes urbanos. Entretanto, a história social e cultural veio contribuir para o desenvolvimento e estudos sobre as mulheres, apresentando um grande número de abordagens que ultrapassa as 1 Mestrando no Curso de Pós-Graduação em História pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Bolsista/Capes, sob a orientação do Prof. Dr. Jérri Roberto Marin e integrante do Laboratório de Estudos de Gênero, História e Interculturalidade – LEGHI. Dourados/MS – Brasil. E-mail: [email protected] fronteiras do conhecimento histórico, tais como: sexualidade, corpo, imaginário, relações sociais, ambiente público e privado, controle, poder, representações, entre outros enfoques que abrange esse objeto de estudo e alcança o campo da interdisciplinaridade. Por esse viés, o autor Michel de Certeau2 apresenta que, Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócioeconômico, político e cultural. Implica um meio de elaboração que circunscrito por determinações próprias: uma profissão liberal, um posto de observação ou de ensino, uma categoria de letrados, etc (CERTEAU, 1982, p. 66). Entretanto, Certeau acredita que, essa operação historiográfica articulando com o meio social e cultural, encontra-se submetida a determinadas imposições e privilégios, centrada a uma particularidade, juntamente com a produção desses documentos instaurados, ao longo da sua formação e organização. Michelle Perrot3, na introdução de sua obra, destaca a sua participação nas pesquisas e estudos sobre as mulheres, no início da década de 1970, desenvolvendo seus trabalhos no âmbito da história, debatendo sobre a ausência das mulheres e suas resistências, na narrativa historiográfica. No entanto, Perrot acredita que as mulheres encontram-se mediante a esse silêncio, em razão da desigualdade entre os sexos. Diante a perspectiva teórico-metodológica da autora, suas reflexões perpassam no campo da nova história, porém, coincidindo este campo com o movimento de libertação das mulheres, assim, novos sujeitos começam a surgir na escrita da história. Assim, a autora argumenta a respeito das fontes e as dificuldades em obter documentos para os estudos sobre as mulheres e os seus silêncios perante aos denominados documentos oficiais. Segundo Perrot, Este defeito de registro primário é agravado por um déficit de conservação de traços. Pouca coisa nos arquivos públicos, destinados aos atos da administração e do poder, onde as mulheres aparecem apenas quando perturbam a ordem, o que justamente elas fazem menos do que os homens, não em virtude de uma natureza rara, mas devido à sua hesitação também dar queixa quando elas são as vítimas. Consequentemente, os arquivos de polícia e de justiça, infinitamente preciosos para o conhecimento do povo, homens e mulheres, devem ser analisados até na forma sexuada de seu abastecimento (PERROT, 2005, p. 12). A análise de pesquisa sobre as mulheres, por meio de registros contemplativos, informados por sua condição de cristianização e religiosidade, fez gerar estereótipos e valores, deixando as mulheres “invisíveis” ao ambiente público. Por meio dessa cultura masculinizada, 2 Ver: CERTEU, Michel de. A Operação Historiográfica. In: _______. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 1982, p. 65-119. 3 PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, EDUSC, 2005, p.9-43. agregando uma desigualdade entre o masculino e o feminino, fica evidente e reforça os discursos eclesiásticos que caracterizam a inferioridade das mulheres, denominadas como responsáveis por atos de feitiços e magias, passando a serem representadas como detentoras do pecado. A influência das instituições eclesiásticas na sociedade medieval contribuiu para uma moral que definia os papéis sociais ligadas ao gênero, a partir dos discursos religiosos, surgindo então, a figura da mulher comparada a Eva, responsável pelo pecado original, e à Virgem Maria, a santa e modelo do feminino a ser seguido, criando, assim, representações por meio dessas figuras, que se relacionam entre o poder e o imaginário. Jacques Le Goff4 entende que o imaginário “pertence ao campo da representação mas ocupa nele a parte da tradução não reprodutora, não simplesmente transposta em imagem do espírito mas criadora, da poética no sentido etimológico da palavra” (LE GOFF, 1994, p. 12). Seguindo essa perspectiva, o autor Roger Chartier5 afirma que o entendimento do mundo e da sociedade é construído por meio das representações da cultura social em relação com o coletivo. Segundo este autor, “as representações impostas pelos que detêm o poder de classificar e de nomear e a definição, de aceitação ou de resistência, que cada comunidade produz de si mesma” (CHARTIER, 1991, p. 183). Mediante relação com o coletivo, o autor ainda apresenta a tentativa dos historiadores em apontar determinados fundamentos hierarquizados nas práticas e nas temporalidades, sejam elas, sociais e/ou culturais. Deste modo, A representação é o instrumento de um conhecimento mediato que revela um objeto ausente, substituindo-o por uma “imagem” capaz de trazê-lo à memória e “pintá-lo” tal como é. A relação de representação, assim entendida como correlação de uma imagem presente e de um objeto ausente, uma valendo pelo outro, sustenta toda a teoria do signo do pensamento clássico, elaborada em sua maior complexidade pelos lógicos de Port-Royal (CHARTIER, 2002, p. 74). Entretanto, Chartier expõe as evidencias que essa complexidade permite categorizar os signos prováveis ou estabelecidos, diferente do que é realmente representado, ou, ao menos a tentativa de representá-lo, identificando em condições necessárias em relação conhecimento dos signos, como questão fundamental e compreensível da representação. 4 Jacques Le Goff como pertencente a terceira geração da Escola dos Annales, em 1962 sucedeu Fernand Braudel no comando da École de hautes études ens ciences sociales. Especialista em Idade Média é um dos principais expoentes da História das Mentalidades, assim como defensor de uma nova problemática da história. 5 CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados, vol. 5, n.º 11, jan./abr. 1991, p. 173191._______. O mundo como representação. In: ______. A beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: EUFRGS. 2002, p. 61-79. Considerando o conceito de representação para nos auxiliar nos estudos que abordam sobre as mulheres no período medieval, pode-se articular com a categoria de gênero, sendo apresentadas como submissas e controladas pelo poder masculino, estabelece-se, assim, uma subjetividade nas práticas sociais, nas políticas culturais e nas diferenças entre os sexos. Um dos clássicos trabalhos da autora Joan Scott (1995) apresenta a seguinte afirmação: Uma maneira de indicar “construções sociais”- a criação inteiramente social de idéias sobre papéis adequados aos homens e às mulheres. É uma maneira de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas dos homens e das mulheres. O gênero é, segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre o corpo sexuado (SCOTT, 1995, p. 75). A autora vai fomentar questões relacionadas à ruptura paradigmática no campo histórico e sociológico, utilizando-se de abordagens da Literatura e História, na qual, serão levantadas para expor problemas relacionados a construção de identidades, gênero e história, colocando em questionamentos a essa possível categoria ligada ao feminismo mediante a política. Mediante a problemática relacionada a diferença sexual entre o masculino e feminino, contribuições de Michel Foucault e Jacques Derrida, serão pertinentes para dialogar sobre a categoria de gênero, considerando as questões culturais e sociais baseados na relação de poder e por uma perspectiva relacionada ao pós-estruturalismo, em meio a uma chamada organização social e as diferenças físicas com relação ao sexo, é pertinente debater essas desigualdades. A história das mulheres, nessa perspectiva, perpassa por uma desestabilização epistemológica, ou seja, uma crise mediante a representação do feminino diante a esses fatos, sendo necessário construir outros elementos, objetos para uma análise histórica. A contribuição de Chartier será de grande relevância, propondo que a representação construiu a imposição de uma identidade com a relação às mulheres (outro). Entretanto, a autora faz a seguinte citação e permite a uma reflexão: En consecuencia, el tratamiento de la historia social de las mujeres tiende a ser demasiado integracionista. ‘La historia de ellas’, em contraste, admite que el gênero explica las diferentes historias de hombres y mujeres, pero no teoriza acerca de cómo el gênero opera historicamente. Por esta razón, SUS relatos parecen ser únicamente sobre mujeres y pueden leerse de uma forma demasiado separatista (SCOTT, 2008, p. 42). Assim, a discussão pertinente a categoria de gênero, mediante a diferença entre homens e mulheres, persiste ainda uma separação bastante clara e consistente, partindo do pressuposto que podemos debater e relacionar pela perspectiva da representação do feminino. A sexualidade feminina no medievo era considerada como um ato desviante no meio social, pois, para a Igreja, a mulher deveria permanecer pura, ou manter relações sexuais após o casamento, com a finalidade de procriação. As mulheres não tinham o direito ao prazer sexual, uma vez que a sociedade masculina era incumbida de não deixá-las ter orgasmo. De acordo com a afirmação de Dalarun “O prazer é antes de mais, o prazer do homem” (DALARUN, 1993, p. 85). A Idade Média, na perspectiva de Le Goff, compreende um período conhecido como Idade das Trevas, como também a Idade da Luz. Com isso, o autor fala sobre a chamada “bela Idade Média”, criada por Lucien Febvre, que a apresenta como um período de perseguição pela Igreja Católica. Assim, ressalta a conquista da cristandade no século XII, que vai ter continuidade até o século XIII, definindo territórios, estabelecendo o casamento como forma de instituição, para “repelir tudo que pudesse perturbá-la, tudo que pudesse pôr em perigo sua pureza” (LE GOFF, 2008, p. 62). Le Goff acredita que a mulher sempre foi vista como inferior ao homem, devido a sua sexualidade e responsável por conduzir a humanidade ao pecado, e o cristianismo pouco fez para mudar essa situação; ele sempre confiou e propagou que a mulher deveria estar limitada ao domínio masculino. Somente no século XII ocorreu uma mudança de direção na espiritualidade cristã, quando se instituiu o culto a Maria, “que passa a sublinhar a redenção da mulher pecadora por Maria, a Nova Eva” (LE GOFF, 2005, p. 285), considerada por muitos uma maneira de promoção da mulher. Mesmo que a doutrina cristã tenha defendido esse conceito sobre as mulheres, Eva foi citada por muito tempo pela Igreja, principalmente a respeito do surgimento da humanidade e da criação de uma companheira para Adão, Uma das reflexões mais interessantes, no meu modo de sentir, é a de Tomás de Aquino. Foi mais ou menos o que ele disse: Deus criou Eva a partir de uma costela de Adão, não criou a partir da cabeça, nem do pé; se a tivesse criado a partir da cabeça, isso significaria que via nela uma criatura superior a Adão; inversamente, se a tivesse criado a partir do pé, ela seria inferior. A costela é o meio do corpo e esse gesto estabelece a igualdade entre Adão e Eva segundo a vontade de Deus. (LE GOFF, 2008, p. 122). Segundo Georges Duby (1989, p. 15) a Idade Média é um período masculino, uma “idade dos homens”. O que se percebe nesse momento histórico, é que os homens, pelas suas ações, pelos seus testemunhos, mesmo nas páginas dos textos literários, pertencem a um sexo superior. São as suas vozes que são ouvidas, são eles que chegam a superfície do rio dos tempos. E eles falam sobre várias coisas, inclusive sobre as mulheres e seus corpos. Em relação a essas mulheres eles podem demonstrar uma variável imensa de sentimentos: medo, desprezo, amor tímido, ou então amor louco, segundo as regras do amor cortês. Essa tentativa de explicar a presença das mulheres tanto no ambiente público, quanto no privado, decorre da insistência em continuar ouvindo o seu silêncio, que diz, por exemplo, que entre a alta nobreza questões envolvendo práticas como o contrato de casamento eram feitas de acordo com as necessidades das casas e não devido ao consentimento e amor mútuo entre as partes envolvidas. A definição do corpo feminino sob a óptica da Igreja Católica constrói uma moral que define os papéis sociais de gênero, surge então, uma dualidade feminina nos discursos da História Medieval, onde Eva é a pecadora e Virgem Maria é um exemplo a ser seguido, portanto, cria representações do corpo através de imagens que se relacionam com o poder e o imaginário6. Assim, a representação da mulher transmite práticas e virtudes quanto à castidade, submissão, comportamento e obediência à doutrina da Igreja. Entre avanços e recuos no campo da história, em especial, aqui tratado, na Idade Média, o século XIII foi um palco de grandes transformações na civilização ocidental, no qual a Igreja Católica encontrava-se toda-poderosa nos rigores de sua doutrina religiosa, iniciando a perseguição aos hereges, pecadores e demais populações considerados um perigo à instituição eclesiástica; dentre estes, as mulheres no espaço público, fora do considerado ambiente natural. Além da força que a Igreja estava adquirindo, as mudanças que esse período retrata encontram-se nas atividades agrícolas, no comércio, nas artes, no aparecimento da intelectualidade, no surgimento das universidades, consequentemente, no desenvolvimento e avanços da filosofia e literatura. Portanto, Algumas reflexões preliminares são necessárias ao estudioso que busca fazer a análise historiográfica de qualquer fenômeno literário. É necessário que ele estabeleça os pontos de vista que tornam claro o conjunto de valores que expressam da melhor forma possível àquilo que passará para o cânone literário e que acaba sendo considerado literatura. (MEDEIROS, 2009, p. 61). Na sua obra História e Memória, Le Goff cita Hayden White, no qual analisou a obra de historiadores do século XIX – Michelt, Ranke, Tocquevillek e Burckardt -, e filósofos da história- Hegel, Marx, Nietzsche e Crocce na qual concluiu que as explicações históricas produzidas por esses autores estavam mais sob o alicerce da moral do que da epistemologia do conhecimento, de maneira que suas obras estavam intimamente ligadas a literatura e No prefácio à primeira edição, Le Goff conceitua imaginário como “fenômeno coletivo, social e histórico”, por meio do qual a história se constitui e toma corpo, já que “é ir ao fundo [na] consciência e [na] evolução histórica” de uma sociedade. (LE GOFF, 1994, p. 16-7). 6 filosofia, e menos ligada à técnica e à ciência, por isso produziram discursos narrativos, uma poética, que sobre a aura da ciência disfarçava a preferência por esta ou aquela modalidade de conceitualização histórica. As reflexões propostas por Hayden White são utilizadas por Le Goff ao reafirmar suas críticas ao historicismo do século XIX, que ainda não tinham demarcado as fronteira da ciência histórica, confundindo-a com a filosofia e com a arte. A nova história, defendida por Le Goff, postula que o historiador não tem a mesma liberdade de criação, uma vez que seu trabalho está limitado pelos cânones da ciência. Sobre isso, o autor nos afirma: Nada aqui distingue, nem deve distinguir, o historiador dos outros homens de ciência. Ele deve trabalhar nos seus documentos com a mesma imaginação que o matemático nos seus cálculos, ou o físico e o químico nas suas experiências. É uma questão de estado de espírito e resta-nos aqui seguir Huizinga quando declara que a história não é apenas um ramo do saber, mas também "uma forma intelectual para compreender o mundo" [1936] (LE GOFF, 1992, p. 40) A partir dessa perspectiva, é necessário destacar a questão cultural na Idade Média, principalmente, tratando-se de documentos históricos que abordam fatores em relação à sociedade da época, na qual o desenvolvimento está em torno da burguesia, da sociedade patriarcal, das instituições eclesiásticas, dentre outros acontecimentos que vão oferecendo avanços e visibilidade à literatura. Hayden White, em sua obra7, faz uma abordagem a respeito do historiador e o seu papel, no que se refere à narrativa histórica, pois, calcula-se que esse processo é de constante exercício de interpretação. Assim, o historiador deve interpretar a fim de produzir imagens a que venha fornecer dados ao processo histórico. Todavia, compacto e difuso, ao mesmo tempo, por um lado, o historiador poderá incluir na suas representações narrativas para um segmento histórico, por outro lado, o empenho do historiador em reconstruir fatos ocorridos, deve ser incluso em sua narrativa, fatores relevantes, cujos acontecimentos permitam determinadas explicações. Nesse aspecto, White ainda afirma que: O “historiador propriamente dito” costuma-se afirmar, procura explicar o que aconteceu no passado mediante uma reconstrução precisa e minuciosa dos acontecimentos registrados nos documentos. Ele o faz presumivelmente reprimindo até onde for possível sua impulso para interpretar os dados, ou pelo menos indicando, em sua narrativa, onde está apenas representando os fatos e onde os está interpretando (WHITE, 1994, p. 66). Nesse contexto, acreditamos que, em relação à literatura medieval, além de tratar das abordagens do feminino empregadas pelos clérigos e pela sociedade na Idade Média, a 7 Ver: WHITE, Hayden. O texto histórico como artefato literário. In: _______. Trópicos do discurso; ensaios sobre a crítica da cultura. Trad. Alípio Correia de Franca Neto. São Paulo: Edusp, 1994, p. 65-95 hagiografia utilizada como fonte irá esclarecer que “as vidas de santos se tornaram um documento de excepcional riqueza para o conhecimento, principalmente da Idade Média, período de apogeu do gênero, e o valor historiográfico do texto hagiográfico não é mais discutido” (PEREIRA, 2007, p. 165). A autora relata Questões importantes sobre os meios culturais e sociais, as classes, a família, a educação, as comunidades, os hábitos sociais que acompanham estas instituições, sobre as formas específicas da santidade feminina, sobre as práticas devocionais, sobre os níveis de crença [...]. (PEREIRA, 2007, p. 166). Com a necessidade de se reunir fatos e acontecimentos em relação a essas transformações, a Literatura e/ou Iconografia Hagiográfica (escritas de santos) tornou-se presente, objetivando reunir o maior conteúdo de informações, totalmente distante dos preceitos heréticos, buscando acontecimentos que pudessem ser divulgados, principalmente sobre a vida dos santos. Assim, o desenvolvimento dessa literatura, a partir do século XII, vem para abordar essa produção, ressaltando detalhes e fatos históricos: [...] uma literatura especulativa, historiográfica (biografias e anais), hagiográfica e predicatória formava o conjunto de gêneros históricos pelo seu caráter objetivo; as formas subjetivas estavam representadas por uma literatura de semificção, que conseguiu chegar ao século XVI: as tragediae (tragédias), as comediae [comédias] sem o significado dramático-teatral, pois designavam obras narrativas. (SPINA apud MEDEIROS, 2009, p. 71). O autor Lloyd S. Kramer8 vai expor a posição de mediador entre a ciência e a arte, pretensamente ocupada pelo historiador, foi questionada. Como consequência, os historiadores modernos recorreram a outras disciplinas acadêmicas, como a antropologia, a economia, a psicologia, a sociologia e, mais recentemente, a crítica literária em busca de uma renovação intelectual, fato que levou a uma expansão e redefinição da orientação política da historiografia tradicional. Segundo o autor, a crítica literária exerce uma influência tão abrangente que consiste no “único traço verdadeiramente distintivo da nova abordagem cultural da história (...), pois tem ensinado os historiadores a reconhecer o papel ativo da linguagem, dos textos e das estruturas narrativas na criação e descrição da realidade histórica” (KRAMER, 1955, p. 131132). Chartier (2011, p. 48) aborda que seu objetivo no campo da história é tentar romper o obstáculo que consiste entre a história da cultura escrita e a história da literatura, 8 KRAMER, Lloyd S. Literatura, crítica e imaginação histórica: o desafio literário de Hayden White e Dominick Lacapra. In: HUNT, Lynn. A nova história cultural. Trad. Jefferson Luis Camargo. São Paulo. Martins Fontes, 1995, p. 131-173. compreendendo-se como um domínio particular de criações e experiências, na intenção de esclarecer a dupla historicidade, oriunda de práticas comuns, ligadas a modalidades materiais de suas difusões. A literatura hagiográfica surge aproximadamente entre os séculos IV e V, mas só a partir do século XII que as compilações começam a ser registradas pelos clérigos, em especial a Legenda áurea, do dominicano Jacopo de Varazze. Esses registros foram realizados em meio aos grandes acontecimentos no campo social e cultural na Idade Média, pois a Igreja Católica tinha o intuito de conter a heresia. A Legenda áurea foi idealizada para ser um documento de leitura simples por parte dos clérigos, um manual de apoio na comunicação com a população geral, pois, o respectivo documento aceito pela Igreja Católica, promoveria uma facilidade em conduzir os sermões. Hilário Franco Júnior9, em seu comentário, de caráter introdutório, apresenta que o material biográfico sobre a vida dos santos e das santas era recolhido por meio de fontes eruditas, textos bíblicos e tradições orais contribuíram substancialmente com as pesquisas e foram possíveis graças às condições da época, fornecedoras de vasto conjunto de elementos célticos e clássicos, recuperados através de dois importantes movimentos culturais: Reação Folclórica e de Renascimento do século XII10. Recorrendo ao Franco Junior: Assim como o século XIII realizava diferentes sumas em diferentes campos do saber – a teológica, de Tomás de Aquino, a poética, de Dante Alighieri (Commedia), a científica, de Vicente de Beauvais (Speculum maius), a artística, das catedrais góticas –, era preciso uma suma hagiográfica. Daí o surgimento da Legenda áurea. (FRANCO JUNIOR, 2003, p. 14). Todavia, com a necessidade de registrar fatos no que se refere aos avanços da literatura hagiográfica, notamos, na obra de Jacopo de Varazze (2003), que a abordagem referente à mulher, mesmo de maneira oculta, é mencionada, de um lado, com estranheza, submissa à sociedade patriarcal e vista como uma espécie de demônio, instituída pela doutrina religiosa, ou seja, responsabilizando-a pela perdição dos homens no pecado da carne. Por outro lado, aquelas que crêem nas escrituras religiosas e estão decididas a viver 9 Autor responsável pela tradução, apresentação e notas da obra de VARAZZE, Jacopo de. Legenda áurea: vida de santos. Tradução de Hilário Franco Junior. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 10 Le Goff apresenta que as folclóricas/populares são as manifestações dos iletrados e por clerical/erudito as manifestações culturais produzidas pelos letrados. Esta confissão sobre as fontes permite-nos identificar um esquema de transmissão em quatro fases, das quais as três primeiras são ainda do domínio da oralidade e a quarta passa à narração por escrito. Há primeiro, 1) tradição oral folclórica, depois 2) um “literatus”, um clérigo erudito, e depois 3) um “illiteratu”. Finalmente, um “escritor”, um “scriptor” anônimo da segunda metade do século XIII (LE GOFF, 1994, p. 136-137). enclausuradas, são notadas como um exemplo muito próximo ao modelo da santa Virgem Maria. Todavia, Varazze (2003) defende a ideia de concepção do verdadeiro em relação às compilações dos santos e das santas que não era a equivalência com o fato externo, prático e visível. Com aquilo que fugia da esfera humana, que expunha o surpreendente destino do santo, simbolicamente, divulgado por seu nome. O autor vai explicar que, para todo o período medieval, “examinar uma palavra era levantar um véu que permitiria alcançar a essência última da pessoa ou da coisa” (FRANCO JUNIOR, 2003, p. 17). Nas escrituras de santos, Varazze perpassa vários relatos dos santos em relação às mulheres e a sua representação mediante a Igreja, aos clérigos e a sociedade. Entretanto, nos relatos de Santo André, Varazze apresenta o caso de uma mulher que estava prestes a conceber seu filho e solicitou ajuda ao demônio: Uma mulher que vivia com um assassino ficou grávida, mas não conseguia parir. Gritando de dores, pediu à irmã: “Vá por mim invocar Diana, nossa deusa”. Enquanto a irmã rezava, o diabo disse-lhe: “Por que se dirigir a mim, que não sou capaz de socorrê-la? É melhor ir ver o apóstolo André, que poderá ajudar sua irmã”. Ela foi e levou-o à casa da irmã. O apóstolo disse então à parturiente: “É justo que você sofra, porque é mal casada, concebeu no mal e consultou demônios. Mas arrependa-se, creia em Cristo e dê à luz”. (VARAZZE, 2003, p. 60). O autor retrata que as mulheres são seres frágeis, vulneráveis e de fácil manipulação pelo demônio, devido à teoria empregada à imagem do feminino. No relato do mesmo santo, o autor comenta a situação de um bispo que vivia em vida santa e venerava Santo André, quando o demônio se disfarçou de mulher para atingi-lo e desviá-lo da conduta religiosa. Varazze apresenta o seguinte discurso: Desejoso de que nada faltasse à convidada, o bispo dedicou muita atenção a ela, olhava-a com frequência e não deixou de admirar sua beleza. O bispo já estava a ponto de ceder à tentação, já planejava dormir com aquela mulher assim que a possibilidade se apresentasse, quando de repente um peregrino bateu à porta com violência, pedindo aos berros que abrissem. [...] o bispo perguntou a mulher se ela queria receber esse peregrino. “Apresenta-lhe”, disse ela, “alguma questão difícil: se ele souber responder, faça-o entrar; se não for capaz, afaste-o como ignorante e como pessoa indigna de comparecer diante do bispo”. (VARAZZE, 2003, p. 66). Por intermédio da escritura do santo, é notável que a mulher é representada como um ser possuidor de grande sabedoria e inteligência; a eloquência dessa mulher deixa subentendida a participação da figura masculina, e tamanha habilidade se faz pela intervenção de um demônio. Na abordagem do dominicano, notamos que a imagem do bispo é de uma fortaleza dirigida pela santidade, mas a sua fraqueza encontrava-se no argumento ardiloso do inimigo. Na vivência dos clérigos no interior dos grandes muros dos monastérios, fazia-se necessário optar pela vontade de purificar o corpo e a alma, mediante o batismo. Este ensinamento está em torno do contato com Deus e as escrituras. Em meio à narrativa de Varazze em relação a São Bento, nota-se a prática de certos castigos ou penitências a que os clérigos eram obrigados a submeterem-se: O diabo trouxe-lhe diante dos olhos do espírito uma mulher que ele vira outrora, acendendo em seu coração tal paixão que, vencido pela volúpia, estava a ponto de ir embora do deserto. Mas, pela graça divina, recobrou subitamente o controle de si, tirou a roupa e rolou com tamanha violência sobre espinheiros e sarças que havia por ali, que seu corpo ficou todo ferido e desta forma, pelas chagas da carne, ele curou as chagas do pensamento. O ardor da penitência venceu o incêndio do pecado. (VARAZZE, 2003, p. 298). Partindo desse pressuposto, São Bento, diante os ensinamentos e sua devoção à vida religiosa, em presença do sentimento de paixão e desejos carnais, assume o castigo como forma de se redimir perante esse anseio, buscando o perdão do pensamento pecaminoso no sacrifício do seu corpo. Nas abordagens de Varazze, o relato não se restringe apenas às mulheres personificadas tentadas pelo espírito do demônio, objetivando mudar os pensamentos santos, mas ele comenta também os pecados cometidos pelas santas: Enganada pelas palavras da feiticeira, a moça disse-lhe para mandar o homem vir à sua casa à noitinha, que ela satisfaria a vontade dele. Exultante com isso, o homem foi à casa na hora combinada, teve relação com ela e retirou-se. Tendo caído em tentação em si, Teodora derramava lágrimas amaríssimas e batia na própria face dizendo: “Ai! Ai de mim! Perdi minha alma, destruí o que me tornava bela” (VARAZZE, 2003, p. 531). A citação acima denota que Santa Teodora sente-se culpada pelo pecado cometido; assim, corta os cabelos e veste-se de homem para adentrar o monastério. Na intenção de redimir-se, continua fazendo milagres ao povo, mesmo com a tentação por meio do demônio transvestido de feiticeira, na tentativa de enganá-la, mesmo assim, a santa persistiu nos seus objetivos. Entretanto, a relação de poder mencionado por Pierre Bourdieu11 é uma atividade de dominação simbólica por meio de elementos socialmente construídos, pois, o autor apresenta as determinações as quais as pessoas são submetidas a dominação, limitando-se ao exercício de instrumentos dependentes de vontades subjetivas e criadoras de símbolos. Assim, o autor afirma que o poder simbólico nada mais é que uma noção sociológica a serviço da interpretação da ação social humana efetuada por meio de razões práticas. 11 BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 3.ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil, 2000. Diante da dominação masculina sobre as mulheres e seu corpo, recorremos as abordagens de Michel Foucault, na qual ele considera que a relação de poder de um corpo que é exercida por meio de sujeito e objeto; produz não somente a desigualdade entre homens e mulheres, mas, sim, trata-se de uma relação de produção e não apenas de repressão, pois “de modo geral, eu diria que o interdito, a recusa, a proibição, longe de serem as formas essenciais do poder, são apenas seus limites, as formas frustradas ou extremas. As relações de poder são, antes de tudo, produtivas” (FOUCAULT, 1986, p. 133). Foucault assegura que: A humanidade não progride lentamente, de combate em combate, até uma reciprocidade universal, em que as regras substituiriam para sempre a guerra; ela instala cada uma de suas violências em um sistema de regras, e prossegue assim de dominação em dominação (FOUCAULT, 1979, p. 25). A sexualidade feminina diante a sociedade medieval, resulta da grande influência das doutrinas cristãs, nas quais os ensinamentos e discursos são dirigidos à mulher reclusa ao ambiente privado, no convívio de auxiliar do homem e submissa. No casamento, o único papel da mulher no meio social é cuidar do marido e dos filhos, e a sua relação sexual é basicamente para procriação, ou seja, com o surgimento do casal “homem e mulher” no século XII, o casamento será estabelecido no século XIII como a “instituição do casamento cristão, monogâmico e indissolúvel” (LE GOFF, 2008, p. 63). A representação do feminino diante o contexto social durante a Idade Média, consiste de heranças que retratam a inferioridade e submissão, desde os discursos proferidos pelos filósofos da antiguidade clássica, visto que as mulheres encontravam-se à beira da sociedade e sua contribuição era apenas de auxiliar aos homens, cuidar dos filhos e da família. Na Idade Média, a instituição católica apenas oficializou essas teorias, com o objetivo de estabelecer o seu poder na sociedade, principalmente sobre o feminino. A sexualidade feminina, em especial a partir do século XII, na esteira da representação do corpo feminino e de todo o seu percurso com relação às práticas sociais, culturais e de poder perante a sociedade medieval, é representada, de acordo com os discursos preconceituosos, impostos sobre a mulher com a legitimação da doutrina religiosa. Esses discursos que conceituam a imagem feminina têm como modelo a Virgem Maria, a santa assexuada, respeitada pelos clérigos e pela instituição cristã. Por meio da Legenda áurea, Varazze aborda claramente a Virgem Maria como modelo de mulher, pelo fato de ter concebido um filho sem intermédio da prática sexual, continuando em estado puro e fiel aos preceitos divinos da Igreja sobre a perpetuação de Deus. Assim, Maria torna-se diferente de Eva, cuja imagem é a de uma mulher comparada com o próprio diabo, uma serpente em forma de ser humano que não seguiu a ordem de seu Criador, causando toda a maldade (declínio, decadência) do homem e da humanidade. A princípio, Le Goff comenta que a figura de Eva permaneceu por muito tempo nos bancos religiosos da Igreja, quando se tratava do surgimento da humanidade (Adão e Eva). A maior preocupação dos clérigos vistos na obra Legenda áurea, de Franco Junior (2003), é com a preservação e o cuidado com as mulheres virgens, que eram castas, sem pecado, sem maldade, uma vez que poderiam se dedicar à religião e obter uma vida em clausura, diferentemente das casadas, pois estas, sim, tinham o dever de zelar pela sua casa, agradar o seu marido, gerar filhos e permanecer fiéis ao casamento. No entanto, para a Igreja, o refúgio para as mulheres solteiras e virgens são os Conventos, aparentemente, longe da sociedade, um lugar para uma boa qualidade de vida, com proteção, para obter uma vida longe da periferia e da tentação dos demônios, que também são comparados à figura feminina, e agarrar-se à vida religiosa, pois, assim, elas passariam a existir e ter importância. A vida de santos, Varazze (2003) representa uma fonte histórica rica em abordagens referentes ao meio social, à santidade de homens e mulheres, às suas relações com o meio coletivo. Podemos notar a figura do feminino associada ao demônio em vários acontecimentos naquele período histórico, pois, devido aos discursos já mencionados e empregados pelos clérigos e pela sociedade, toda maleficência ao masculino está relacionada ao pecado original. A partir do que propomos como objetivo de estudo, ou seja, mostrar como as mulheres, a sua representação na Idade Média, pode compreender, por meio da literatura hagiográfica, em especial na obra Legenda áurea, que a visão que se cria das mulheres é determinada pelo poder patriarcal e cristão. Assim, ela é vista como um ser dominado pelo homem, submissa e dedicada ao seu marido e sua família, ao contrário, pois, da mulher virgem, em relação à qual a preocupação da Igreja é deixar longe da sociedade para servir aos caminhos da religião. Referências Bibliográficas BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 3.ed Rio de Janeiro Bertrand Brasil, 2000. p. 7-16. CERTEAU, Michel de. A Operação Historiográfica. In: _______. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense, 1982. pp. 65-119. CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados, vol. 5, n.º 11, jan./abr. 1991, pp. 173-191. _______. O mundo como representação. In: ______. 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